THE USE OF BIOMATERIALS IN DENTAL SURGICAL PROCEDURES
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202410281211
Taiana dos Santos Carvalho¹;
Flávio Martins da Silva².
Resumo
A prática sustentável se faz necessária em todas as áreas, e na odontologia, essa necessidade se faz cada vez mais presente. Dessa forma, novas matérias e materiais passam a ser importantes nesse processo. Dentre esses materiais, destacam-se os biomateriais. Biomateriais são materiais naturais ou sintéticos utilizados em contato com sistemas biológicos cuja finalidade é reparar ou substituir tecidos, órgãos ou funções do organismo, com o objetivo de manter ou melhorar a qualidade de vida do paciente. Este trabalho de revisão de literatura tem como objetivo examinar e demonstrar a aplicação de biomateriais, destacando-os como uma opção viável na odontologia. Atualmente, na odontologia, destacam-se três categorias de biomateriais: metais, polímeros e cerâmicas, sendo considerado como inovação, o uso da pele da tilápia do Nilo na odontologia. Os biomateriais devem apresentar propriedades físicas e biológicas compatíveis com os tecidos biológicos do hospedeiro, de modo a estimular uma resposta adequada dos mesmos. Conforme demonstrado, a utilização de biomateriais nos procedimentos cirúrgicos torna-se necessária. Os biomateriais, sua utilização e suas inovações, como destacado ao longo desta revisão da literatura, emergem como uma ferramenta fundamental na promoção da qualidade, eficiência e sustentabilidade nos serviços de saúde bucal.
Palavras-chave: Odontologia. Biomateriais. Inovação. Cirurgia. Sustentabilidade.
Abstract
Sustainable practices are necessary in all areas, and in dentistry, this need is becoming increasingly present. Thus, new materials and materials become important in this process. Among these materials, biomaterials stand out. Biomaterials are natural or synthetic materials used in contact with biological systems whose purpose is to repair or replace tissues, organs or functions of the organism, with the aim of maintaining or improving the patient’s quality of life. This literature review aims to examine and demonstrate the application of biomaterials, highlighting them as a viable option in dentistry. Currently, in dentistry, three categories of biomaterials stand out: metals, polymers and ceramics, with the use of Nile tilapia skin in dentistry being considered an innovation. Biomaterials must present physical and biological properties compatible with the host’s biological tissues, in order to stimulate an adequate response from them. As demonstrated, the use of biomaterials in surgical procedures becomes necessary. Biomaterials, their use and innovations, as highlighted throughout this literature review, emerge as a fundamental tool in promoting quality, efficiency and sustainability in oral health services.
Keywords: Dentistry. Biomaterials. Innovation. Surgery. Sustainability.
1 INTRODUÇÃO
A prática sustentável se faz necessária em todas as áreas, e na odontologia, essa necessidade se faz cada vez mais presente. Dessa forma, novas matérias e materiais passam a ser importantes nesse processo. Dentre esses materiais, destacam-se os biomateriais. De acordo com BANERJE (2013) apud CARDOSO (2018) são materiais naturais ou sintéticos utilizados em contato com sistemas biológicos cuja finalidade é reparar ou substituir tecidos, órgãos ou funções do organismo, com o objetivo de manter ou melhorar a qualidade de vida do paciente.
Biomateriais são materiais naturais ou sintéticos utilizados em contato com sistemas biológicos cuja finalidade é reparar ou substituir tecidos, órgãos ou funções do organismo, com o objetivo de manter ou melhorar a qualidade de vida do paciente, afirma Guastaldi, (2020) e seu registro de uso datam de 4.000 a.C. e forma foram introduzidos há mais de um século na área da saúde.
Diariamente, novos produtos são lançados no mercado odontológico, tais produtos são utilizados em contato mais profundo com tecidos biológicos como osso, tecidos periodontal e outras áreas da boca. Há mais de um século, orientados por estudos clínicos e experimentais, os pesquisadores procuram desenvolver materiais com características adequadas para substituição total ou parcial dos tecidos biológicos presentes no corpo humano. (BORGES ET AL, 2017 apud CARDOSO, 2018) afirmam que com a evolução da odontologia, foi necessário o desenvolvimento de biomateriais sintéticos a serem empregados na cavidade bucal, a fim de devolver estética e função, além de visar à redução do tempo clínico de tratamento, proporcionando conforto para o paciente.
Embora a popularização e a pesquisa sobre biomateriais tenham avançado nos últimos tempos, Pires ET AL (2015) destacam que a utilização desses materiais na medicina data de mais de quatro mil anos antes de Cristo. Os egípcios, por exemplo, produziam suturas com linho e ouro, mas frequentemente enfrentavam altos índices de insucesso devido à falta de conhecimento, resultando em infecções e reações biológicas não desejadas.
Segundo Tabata, (2009) há a necessidade de o Cirurgião-Dentista conhecer as características e propriedades dos biomateriais, pois, conhecimento é algo que aperfeiçoa o profissional cada vez mais, além de contribuir cada vez mais com a auto segurança na realização dos procedimentos. A ciência dos materiais dentários busca pesquisar e desenvolver biomateriais, principalmente a serem utilizados na cavidade bucal. Desta forma, o tema escolhido busca demonstrar a necessidade e importância da utilização dos biomateriais na odontologia.
Diante destas considerações, este trabalho de revisão de literatura tem como objetivo examinar e demonstrar a aplicação de biomateriais, destacando-os como uma opção viável na odontologia. Busca-se, assim, melhorar as abordagens e metodologias nesse setor, além de avaliar esses materiais para a recuperação de imperfeições, sejam elas de origem congênita ou causadas por lesões.
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
Fazer uma revisão bibliográfica sobre o uso de biomateriais na odontologia.
2.2 Objetivos Específicos
- Classificar os principais biomateriais utilizados na odontologia;
- Apontar o emprego de cada um deles;
- Demonstrar sua importância na odontologia
3 BIOMATERIAIS UTILIZADOS NA ODONTOLOGIA
Atualmente, na odontologia, destacam-se três categorias de biomateriais: metais, polímeros e cerâmicas, sendo considerado como inovação, o uso da pele da tilápia do Nilo na odontologia. A seguir, serão examinadas as propriedades físico-químicas e mecânicas desses biomateriais.
3.1 Metais
Os materiais metálicos são compostos por elementos metálicos que se unem através de uma ligação metálica. Para ASKELAND ET al. (1996) essa ligação é caracterizada pela presença de elétrons que não estão atrelados a átomos específicos, formando uma nuvem eletrônica que confere diversas propriedades aos metais, como a excelente condutividade elétrica e térmica. Além disso, os metais não permitem a passagem da luz visível, apresentam alta resistência mecânica e têm a capacidade de serem deformados.
Comparados a outros biomateriais, ROGERS GF e GREENE AK (2012) afirmam que os metais demonstram propriedades mecânicas superiores, suportando cargas significativas sem fraturar, o que os torna amplamente utilizados em restaurações parciais ou totais dentárias. BORGES ET al. (2017) sugerem que eles podem ser empregados em próteses como alternativas para articulações e implantes dentários, além de serem utilizados em lâminas para fixação de fraturas e em parafusos. Os metais mais comuns utilizados como biomateriais incluem ferro (Fe), cromo (Cr), cobalto (Co), níquel (Ni), titânio (Ti), tântalo (Ta), nióbio (Nb), molibdênio (Mo) e tungstênio (W) PARK e KIM (2000).
As ligas metálicas frequentemente utilizadas como biomateriais são os aços inoxidáveis, ligas de titânio e ligas de cobalto. Para ALEXANDER ET al. (1996) uma propriedade relevante dos materiais metálicos em certas restaurações odontológicas é sua habilidade de se aderir a revestimentos cerâmicos. Atualmente, o titânio puro é o metal mais utilizado segundo CECCONI (2002), especialmente na implantologia. O uso de titânio e suas ligas são principalmente atribuídos às suas características estruturais e à notável resistência à corrosão, em particular em ambientes fisiológicos agressivos além de possuir menor densidade em comparação com outras ligas metálicas usadas na biomedicina.
Ligas de cobalto e cromo são preferenciais na fabricação de estruturas metálicas para próteses fixas e removíveis BATH (2002). No entanto, os elementos metálicos apresentam algumas desvantagens como biomateriais na odontologia, incluindo: ● Diminuição da biocompatibilidade, podendo sofrer corrosão em meios fisiológicos; ● Altas densidades e módulos de elasticidade; ● Maior propensão a apresentar complicações como osteólise, inflamações, reações alérgicas e vasculites (PIRES ET al., 2015).
3.2 Polímeros
Os polímeros apresentam uma estrutura composta por macromoléculas organizadas em longas cadeias flexíveis, segundo Dantas (2011) com o carbono como seu elemento principal. Esses materiais têm a característica de serem biodegradáveis, decompondo-se de forma natural sem deixar resíduos nocivos no organismo do paciente. Na odontologia, existe uma ampla gama de materiais à base de polímeros, como fios de sutura em cirurgias, confecção de dentes, próteses artificiais e aparelhos ortodônticos.
Sua baixa densidade favorece seu uso como uma alternativa para substituição de tecidos moles na cavidade bucal. Pacurar ET AL (2016) sugere que entre suas principais características, destacam-se a flexibilidade elevada, a excelente adesão e a capacidade de adaptação, além de serem resistentes à corrosão.
O Poliéter-Éter-cetona (PEEK), também conhecido como BioHP, é o polímero mais utilizado atualmente na odontologia. Ele é um homopolímero linear termoplástico semicristalino de alta performance, derivado do poli-aril-éter-cetona (PAEK) e apresenta unidades repetitivas similares segundo AL-RABAB’AH ET al. (2019). O PEEK é um biomaterial radio lúcido, permitindo a realização de imagens radiográficas dos tecidos periimplantares e é passível de revestimento com materiais estéticos, como compósitos. Ademais, o PEEK possui uma elasticidade comparável à do osso, o que se revela benéfico em termos de biocompatibilidade. É comum sua utilização em implantes e diversas próteses fixas ou removíveis.
Entretanto, apesar das várias vantagens, Bechir ET AL (2016) afirma que o uso de polímeros como biomateriais na odontologia apresenta desvantagens, como o alto custo de produção, a agressividade em relação ao meio ambiente (especialmente durante o processamento) e a inviabilidade de reciclagem. Além disso, outras desvantagens incluem a possibilidade de deformação sobtensão e a solubilidade, bem como a absorção de água das resinas de revestimento, influenciada pela umidade da cavidade bucal.
3.3 Cerâmicas
Os materiais cerâmicos são formados pela combinação de elementos metálicos e não metálicos, para ASKELAND ET al. (1996), que ocorre por meio de ligações iônicas ou covalentes. Suas características principais incluem uma resistência elevada a altas temperaturas, isolamento térmico e elétrico, além de uma grande resistência ao desgaste. Em termos mecânicos, os cerâmicos se destacam por sua dureza extrema e por serem bastante frágeis.
Avanços recentes na pesquisa levaram à melhoria das propriedades mecânicas e regenerativas desses materiais, afirma Azevedo, ET AL (2007) ampliando seu uso nas áreas de odontologia e ortopedia. Isso se deve à sua alta estabilidade química biocompatibilidade superior em comparação a metais em diversas aplicações e excelentes propriedades tribológicas.
As cerâmicas utilizadas no corpo humano se classificam em três tipos de biomateriais: inertes, biodegradáveis e bioativos. Os materiais inertes (ou quase inertes), segundo Burstein (2008) não geram reações nos tecidos; no entanto, essa noção é considerada ultrapassada, pois é sabido que qualquer material provoca algum tipo de resposta do organismo. Já os materiais ativos favorecem a interação com tecidos adjacentes, estimulando o crescimento ósseo, enquanto os biodegradáveis podem ser absorvidos completamente pelo organismo após um determinado período.
Para Abukawa ET AL (2006) as cerâmicas podem ser naturais ou sintéticas e apresentam várias vantagens na regeneração do tecido ósseo: são estruturalmente semelhantes ao componente inorgânico do Os cimentos de ionômero de vidro também se enquadram como cerâmicas relativamente bioinertes, com diversas aplicações na odontologia, existindo os tipos convencionais e os modificados por resina.
De acordo com Corrêa, Ogasawara (2006) os cimentos ionoméricos convencionais requerem apenas a reação ácido-base para cura e possuem benefícios como a liberação contínua de fluoreto, efeito anticariogênico, além de boa adesão a estruturas dentárias e ligas. No entanto, apresentam desvantagens como vulnerabilidade à desidratação e baixa resistência à tração e fratura. Por outro lado, os cimentos de ionômero de vidro modificados por resina podem substituir os convencionais, oferecendo vantagens como maior resistência, menor sensibilidade à variação de líquidos e liberação de flúor sem comprometer a adesão, prevenindo assim cáries e manchas no esmalte. A desvantagem desses materiais reside em sua fragilidade, tornando-os suscetíveis a rachaduras sob altas cargas.
3.4 Pele de Tilápia do Nilo
No Brasil, de acordo com Manfredini (2021) o estudo de xenoenxertos de origem pisciniana originou-se da necessidade de substituto cutâneo temporário para tratamento de queimados. A realidade da rede pública de saúde ate então era o tratamento de queimaduras de segundo grau com banhos diários com clorexidina a 2% e realização de curativos com sulfadiazina de prata a 1%.
Manfredini (2021) apud Alves (2015) afirma que este tratamento provoca muita morbidade aos pacientes, e outros tratamentos, como uso de biomateriais como curativos biossintéticos, peles artificiais e peles de origem Porcina ou de rã, tornam-se inviáveis devido ao seu alto custo. Deste modo, a pele de tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus) (PTDN) surgiu como biomaterial nacional para uso como curativo biológico oclusivo para queimados, devido ao seu baixo custo e possuindo grande disponibilidade de material e promovendo resultados muito satisfatórios.
4 METODOLOGIA
A metodologia deste trabalho é uma pesquisa descritiva de análise bibliográfica, através de uma revisão de literatura, caracterizando-se por abordar artigos, livros, revistas eletrônicas e toda produção literária que diz respeito ao tema de estudo.
A pesquisa buscou abordar o tema nos últimos anos, de acordo com Marconi e Lakatos (2002) a pesquisa bibliográfica abarca toda a produção literária que diz respeito ao tema de estudo, e afirmam que a finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com o assunto abordado. A leitura integral dos artigos selecionados teve como finalidade compreender quais os aspectos consensuais sobre o tema, principalmente através de dados obtidos qualitativos.
Para melhor compreensão e integração dos dados, os artigos selecionados serão aglomerados no Quadro I, organizados de forma cronológica, com o objetivo de cada um exposto, para a análise posterior.
As analises serão feitas através das pesquisas já realizadas em relação à utilização de biomateriais. Para elaboração da presente revisão descritiva, serão seguidos os seguintes passos: identificação do problema, pesquisa na literatura, avaliação e análise dos dados coletados e apresentação. A identificação do problema se dará através de leituras conectadas ao tema, especificamente abordando questões sobre o uso de biomateriais na odontologia.
Figura I – Síntese dos principais achados sobre biomateriais e sua importância nos procedimentos cirúrgicos na odontologia
Autores | Principais trabalhos encontrados |
APCD – Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas. | Matéria sobre biomateriais e sua utilização e importância na odontologia. |
CARDOSO, Breno (2018) | A metodologia deste trabalho apresenta-se como uma pesquisa descritiva de analise bibliográfica através de uma revisão de literatura. Caracteriza-se por selecionar artigos que discorram sobre o tema selecionado. |
BANERJEE ET AL, (2013) | Estudo qualitativo. Por meio de uma revisão de literatura busca mostrar a importância de uma nova abordagem da odontologia restauradora, através da preservação do máximo possível da estrutura remanescente e o uso |
adequados dos biomateriais restauradores. Concluiu-se que as técnicas restauradoras minimamente invasivas são possíveis, exceto quando há uma cavidade muito profunda. Os materiais restauradores devem ser escolhidos de acordo com cada caso e necessidade e a remoção do biofilme é primordial para a manutenção da saúde bucal e como prevenção de cáries secundária. | |
BORGES S, ET AL. (2017) | Estudo quantitativo que busca avaliar o tipo de material restaurador utilizado por cirurgiões dentistas nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) do Município de Carmo do Paranaíba- MG. Pode-se concluir que o amálgama ainda é o biomaterial mais frequente nas UBS desta cidade, a quantidade de dentes na região posterior e o tipo de dentição podem estar relacionados com o tipo do material utilizado, devendo o cirurgião dentista manter-se preparado para as atualidades do mercado, mas ter o conhecimento sobre todo tipo de material restaurador. |
ROGERS GF e GREENE AK (2012) | Estudo qualitativo. Através de uma revisão de literatura, apresenta os biomateriais em duas classes distintas: biológicos e sintéticos, tendo este último como materiais mais utilizados os metais, os polímeros e as cerâmicas. Concluiu-se que a utilização de biomateriais sintéticos apresenta algumas vantagens, tais como a não coleta do material, a diminuição do tempo de trabalho e biocompatibilidade, portanto é importante que se conheça o comportamento dos mesmos, para que se faça a escolha correta. |
SINHORETI, M. A. C, VITTI, R. P, SOBRINHO L. C. | Estudo descritivo sobre biomateriais, sua evolução e importância na área da odontologia. |
MANFREDINI, GUSTAVO GONÇALVES DO PRADO | Utilização de pele de tilápia para o reparo e proteção do palato após remoção de enxertos |
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram necessários bilhões de anos para que se criasse a biosfera de que nós desfrutamos, com sua incrivelmente rica diversidade de plantas, animais e processos. É nosso dever e responsabilidade agir agora para preservá-la para as gerações futuras, dessa forma, a sustentabilidade se faz necessária em todas as áreas do conhecimento e na odontologia, essa necessidade vem crescendo de forma constante, principalmente em relação aos materiais utilizados, dessa forma, os biomateriais passam a ter um papel de destaque, afirma a Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas (APCD, 2023) que sugere ainda que o trabalho do profissional de Odontologia depende muito da disponibilidade e da qualidade dos materiais que ele utiliza na sua rotina. E dentre as melhores alternativas, existem os biomateriais odontológicos, tema de estudo cada vez maior entre os especialistas da área.
Biomateriais são materiais naturais ou sintéticos utilizados em contato com sistemas biológicos cuja finalidade é reparar ou substituir tecidos, órgãos ou funções do organismo, com o objetivo de manter ou melhorar a qualidade de vida do paciente, afirma Guastaldi, (2020) e seu registro de uso datam de 4.000 a.C. e forma foram introduzidos há mais de um século na área da saúde.
Os maiores avanços na área do desenvolvimento dos biomateriais ocorreram nos períodos pós-guerra, segundo a APCD, (2023) na tentativa de evitar a amputação ou promover a recuperação de membros, que tiveram suas funções comprometidas. Sem contar que, com o avanço das práticas odontológicas e a introdução da nanotecnologia, o biomaterial tem sido modificado e aprimorado, expandindo seu uso para além da medicina tradicional, sendo cada vez mais pesquisado e aplicado no contexto odontológico.
Os biomateriais devem apresentar propriedades físicas e biológicas compatíveis com os tecidos biológicos do hospedeiro, de modo a estimular uma resposta adequada dos mesmos. Sendo assim, Guastaldi, (2020) continua sugerindo que para se utilizar um biomaterial com segurança, o mesmo deve apresentar três características básicas: (1) biocompatibilidade, não induzindo respostas biológicas adversas, como reações alérgicas e inflamatórias não toleráveis pelo organismo; (2) alta osteocondutividade, estimulando o crescimento de células ósseas; e (3) bioatividade, que é a capacidade do material em se unir com tecido biológico.
Conforme Júnior e Garrafa (2007), o conceito de biomaterial abrange qualquer substância que, sendo farmacologicamente neutra, é capaz de interagir com um ser vivo sem causar reações negativas na área de inserção ou no organismo como um todo. Na odontologia, a aplicação de biomateriais em relação aos tecidos gengivais, mucosas e estruturas ósseas envolvem riscos terapêuticos que só podem ser mitigados com um conhecimento profundo das características, concentrações e propriedades dos materiais por parte do profissional. O uso inadequado desses materiais, sem as precauções necessárias de biossegurança, pode resultar em problemas clínicos, como insucesso no tratamento, além de levantar questões éticas.
Diariamente, o setor odontológico recebe uma gama de novos produtos, muitos dos quais apresentam uma interação significativa com os tecidos biológicos, como os ossos e as estruturas periodontais, além de outras áreas da boca. De acordo com Borges ET al. (2017), o avanço da odontologia requer o desenvolvimento de biomateriais sintéticos para aplicação na cavidade bucal, visando restaurar tanto a estética quanto a funcionalidade, além de reduzir o tempo dos tratamentos clínicos, proporcionando um maior conforto ao paciente.
A pesquisa em materiais odontológicos visa desenvolver e analisar biomateriais sintéticos para aplicação na cavidade bucal. Segundo Rogers (2012), optar por biomateriais sintéticos em vez de naturais apresenta várias vantagens, como: a eliminação da necessidade de extração de materiais autógenos ou do uso de alógenos provenientes de Bancos de Tecidos; a redução do tempo de tratamento; a diminuição do alcance da cirurgia, o que previne eventuais complicações, como danos a nervos e vasos sanguíneos, sangramentos ou inflamações, resultando em maior comodidade para o paciente; além de assegurar que os biomateriais sintéticos sejam fabricados em ambientes controlados, com composições químicas e propriedades físicas claramente definidas, sempre disponíveis em quantidades adequadas.
Um fator relevante a ser avaliado é a biossegurança ligada ao uso de enxertos ósseos. Apesar de ser uma prática bastante usual, cerca de 96% dos dentistas acreditam que é fundamental um controle mais rigoroso por parte das agências de saúde em relação aos biomateriais empregados na odontologia, conforme ressaltado por Júnior e Garrafa (2007), o que evidencia a importância de investigações mais aprofundadas. Ademais, a influência da mídia nesse cenário, da mesma forma que ocorre nas campanhas de doação de órgãos, poderia se revelar uma estratégia vantajosa para ampliar a disponibilidade de tecido ósseo humano doado, que ainda é escassa nos bancos públicos no país, proporcionando assim um melhor atendimento para casos de perdas ósseas orofaciais. Segundo Gomes e Esteves (2012) são importantes que o cirurgião dentista esteja sempre atualizado, desta forma, buscar novos aprendizados e tecnologias, a exemplo da utilização da pele de tilápia do Nilo na odontologia. De acordo com Tabata (2009, p. 1), a engenharia de tecidos representa uma nova abordagem e técnicas dentro da biomedicina, destinada a facilitar e apressar a recuperação e o conserto de tecidos que estão comprometidos ou feridos, aproveitando as capacidades inatas de cicatrização dos próprios indivíduos.
Conforme demonstrado, a utilização de biomateriais nos procedimentos cirúrgicos torna-se necessária. Rogers e Greene (2012) sugerem que atualmente os três tipos de biomateriais mais utilizados e aplicados na odontologia são os metais, cerâmicos e resinas. Desses três, o metal é considerado a classe menos biocompatível em relação aos biomateriais, uma vez que, são propensos a apresentar corrosão quando expostos a meios fisiológicos.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os biomateriais, sua utilização e suas inovações, como destacado ao longo desta revisão da literatura, emergem como uma ferramenta fundamental na promoção da qualidade, eficiência e sustentabilidade nos serviços de saúde bucal. Este trabalho explorou diversos aspectos relacionados à utilização de biomateriais na odontológica, abrangendo sua definição, importância e aplicação em diferentes contextos. Sendo fundamentais para o avanço da odontologia moderna. Cada uma dessas áreas desempenha um papel crucial na melhoria da qualidade dos cuidados odontológicos e na promoção da saúde bucal de forma mais eficaz e responsável.
O futuro da odontologia está intrinsecamente ligado à pesquisa e desenvolvimento de biomateriais sustentáveis e inovadores. A intersecção entre esses três aspectos não apenas melhora a prática clínica, mas também promove um compromisso com a saúde global e o meio ambiente. A adoção de práticas que priorizam a biocompatibilidade, a sustentabilidade e a inovação pode levar a um incremento significativo na qualidade dos serviços prestados, beneficiando tanto os pacientes quanto o planeta.
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¹Discente do Curso Superior de Odontologia do Centro Universitário Aparício Carvalho – FIMCA Campus Porto Velho/RO. E-mail: carvalho.taiana2015@gmail.com
²Docente do Curso Superior de Odontologia do Centro Universitário Aparício Carvalho – FIMCA Campus Porto Velho/RO. Doutorado em Odontologia (Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo Facial) pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). E-mail: bucofacial@gmail.com