REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202502280752
Mariana Dias Da Silva
Orientador: Prof. Drª. Denise Faria
Resumo
Introdução: A fibrose é o resultado de uma quantidade excessiva de tecido conjuntivo fibroso, depositado no espaço da matriz extracelular de tecidos lesionados. A radiofrequência e a mobilização miofascial podem ser opções de tratamento para tal disfunção, liberando a rigidez e amenizando restrições do tecido lesionado através da elevação da temperatura local, técnicas de mobilização e deslizamento tecidual. Objetivo: Abordar dois recursos amplamente utilizados em fisioterapia Dermatofuncional para a diminuição dessas aderências teciduais e fibrose: a radiofrequência e mobilização miofascial. Metodologia: Esse estudo caracteriza-se de um estudo exploratório, por meio de uma pesquisa bibliográfica, utilizou-se dados provenientes de livros e artigos científicos, publicados entre os anos de 2006 e 2021, foram consultadas as bases de dados Lilacs, Pubmed e PeDro. Resultados: A radiofrequência irá diminuir a densidade do tecido colágeno, tornando-o pouco elástico, aquecendo os septos fibrosos, melhorando a fibrose na derme. Já a mobilização miofascial, com o estiramento do tecido, pode amenizar as aparências da fibrose, sendo capaz de reorganizar os feixes de colágenos. Conclusão: Concluiu-se que através de radiofrequência e mobilização miofascial, há redução ou eliminação da fibrose no pós-operatório de lipoaspiração.
Palavras Chaves: Fibrose, Radiofrequência, Mobilização Miofascial
1. Introdução
A Associação Brasileira de Cirurgia Plástica demonstra, nos últimos anos, um aumento considerável de cirurgias plásticas, tanto estética quanto reparadora realizadas no país. Colocando o Brasil, como o segundo no ranking em cirurgias plásticas no mundo, perdendo apenas para os EUA, onde há cerca de 800 mil procedimentos ao ano. No Brasil, a cada três anos, são realizadas mais de 1.000.000 de cirurgias estéticas. Contudo, a eficiência de uma cirurgia plástica não depende só do planejamento do ato cirúrgico e sim dos cuidados nos períodos pré e pós-operatório, prevenindo complicações e promovendo resultados mais satisfatórios.
Desde 2010, segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica (ISAPS), em média 217.481 brasileiros se submetem a lipoaspiração a cada 365 dias, quase 596 a cada 24 horas.
A lipoaspiração é um tipo de procedimento cirúrgico que realiza a retirada do excesso de gordura local, chamada lipodistrofia, em uma determinada área do corpo, com objetivo de melhorar o contorno corporal. Contudo, podem ocorrer complicações no pós-operatório, já que esse tipo de cirurgia ocasiona um trauma nos tecidos subjacentes a pele, formando a fibrose. (FRANCO et al, 2012) .
A fibrose é um processo cicatricial, que ocorre após um procedimento cirúrgico, como resposta defensiva do organismo, promovendo a manutenção da homeostasia. Logo após o sangramento inicial, decorrente da captura dos vasos sanguíneos durante o evento cirúrgico, inicia-se o processo de restauração, onde ocorre a formação de um coágulo inicial, que envolve diversas substâncias e células inflamatórias que são responsáveis pelo processo de reparação tecidual. Essas células lesionadas durante a lipoaspiração são reparadas por tecido cicatricial, rico em fibras de colágeno, que se reproduzem de forma desorganizada e desordenada, levando o tecido interno a produzir ondulações e líquidos, formando aderências e causando quadro álgico ao paciente. A fibrose pós-operatória leva a diversas disfunções estéticas e funcionais do tecido acometido, sendo necessário o acompanhamento por um fisioterapeuta especializado que terá a tomada de decisão sobre qual recurso utilizar. (ALTOMORE E MACHADO,2006)
O processo de cicatrização, é composto por três fases: fase inflamatória, que se inicia imediatamente após a lesão, com duração de 24 a 72 horas, tendo liberação de substâncias vasoconstritoras, apresentando sinais flogísticos (rubor, calor, edema, dor e perda de função); fase proliferativa, que dura de 3 a 21 dias, constituída por quatro etapas fundamentais: epitelização, angiogênese, formação de tecido de granulação e deposição de colágeno; e fase de maturação, essa fase é primordial, pois nela se tem a deposição de colágeno de maneira organizada (BORGES, 2006).
No decorrer deste trabalho, iremos abordar dois recursos amplamente utilizados em fisioterapia Dermatofuncional para a diminuição dessas aderências teciduais e fibrose: a radiofrequência e mobilização miofascial.
2. Metodologia
Esse estudo caracteriza-se de um estudo exploratório, por meio de uma pesquisa bibliográfica, utilizou-se dados provenientes de livros e artigos científicos, publicados entre os anos de 2006 e 2021, foram consultadas as bases de dados do Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs), US National Library of Medicine (Pubmed) e Physiotherapy Evidence Databse (PeDro). Os seguintes descritores foram aplicados: lipoaspiração, fibrose, pós operatório, complicações, inflamação, radiofrequência, mobilização miofascial. Em inglês: liposuction, fibrosis, post operative, complications, inflammation, radio frequency, myofascial mobilization. Serão abordados a atuação da dermatofuncional em radiofrequência e mobilização miofascial no pós- operatório de lipoaspiração. Após a busca foram selecionados 2 livros e 10 artigos onde 5 deles foram escolhidos por corresponder integralmente a pesquisa.
3. Resultados
Borges (2006), diz que “os recursos fisioterapêuticos são utilizados na tentativa de proporcionar um meio adequado para que ocorra a reparação do tecido lesado.”
3.1 Radiofrequência
Denominam-se radiofrequência (RF) as radiações compreendidas no espectro eletromagnético entre 30 KHz e 3GHz, e as frequências mais empregadas em equipamentos utilizados em dermatofuncional, estão entre 0,5 MHz e 1,5 MHz. As radiofrequências atuam por conversão, já que há aplicação de uma radiação eletromagnética de comprimento de onda hectométrica, gerando um aumento da temperatura dos tecidos, transformando-se, assim, em calor. (BORGES, 2010, p. 609- 10)
A Radiofrequência, pode levar em diferentes dosagens, a elevação ou diminuição da densidade de colágeno. Portanto, o objetivo da radiofrequência é amolecer o tecido de colágeno e realizar a absorção do tecido fibroso. A dosimetria ideal é temperatura de 36° C a 38° C , proporcionando assim uma distensibilidade do colágeno. (BORGES, 2010).
A Radiofrequência realiza a contração das moléculas de colágeno e assim o aumento da produção de neocolágeno, que pode agir durante semanas ou até meses após a aplicação. Verifica-se um aumento da circulação sanguínea local e uma destruição dos adipócitos. A elevação da temperatura local gera a produção de colágeno, aumentando o metabolismo e provoca rapidamente a contração das fibras e a tonificação da pele. (Trentini, 2003).
3.2 Mobilização Miofascial:
A fáscia é o tecido conjuntivo, composto por uma estrutura fibrosa de colágeno disposta irregularmente. Diferente das fibras de colágeno, que são dispostas regularmente conectadas em músculos, tendões, ossos, ligamentos. (STANDRING, 2008).
A mobilização miofascial, é uma técnica de terapia manual, que envolve a aplicação de um alongamento e deslizamento de longa duração, profundidade e direção com pressão exercida no tecido miofascial, com isso requer o conhecimento anatômico dos trajetos e áreas de resistência e tensões. (SILVA, 2014). A técnica de mobilização miofascial, consiste em três movimentos primordiais: movimento tracional de deslizamento, fricção e amassamento. Esses movimentos são realizados de forma que venham a alongar, principalmente, toda a fáscia e sua musculatura, com o objetivo de restaurar o comprimento ideal e o relaxamento dos tecidos tensionados. (ANDRÉ, 2013).
3.3 Recursos na Fibrose:
A fibrose é uma das alterações mais encontradas no pós-operatório de lipoaspiração e pode levar a algia, diminuição da amplitude de movimento, além de poder gerar um aspecto inestético. O tratamento das fibroses vai depender do tipo de fibrose e do nível que ela se encontra, assim como o tempo de pós-operatório. Com isso, o tratamento deve ser iniciado a partir do momento em que a fibrose seja perceptível de forma tátil ou visual. (Lange, 2017, p.389).
A mobilização miofascial, está relacionada a tensão e força aplicada, onde libera diferentes tecidos musculares, articulares e subcutâneos. Sua intensidade ao estimulo, é proporcional a sua resistência. Essa tensão aplicada influencia na resposta favorável dos miofibroblastos e fibroblastos a fatores de crescimento, logo, se adapta a atividade contrátil da formação de tecido cicatricial”. (GABBIANI et al, 2010). Com isso o estimulo tecidual auxilia na composição dos feixes de colágeno, restaurando a função do tecido e orientando-o. Portanto, a mobilização miofascial, segundo estudos e pesquisas, pode amenizar a aparência das fibroses, e é capaz de reorganizar a produção de feixes de colágenos que foram produzidos de forma desorganizada pela fibrose. (SERRA et al, 2018).
Radiofrequência, é uma forma de energia eletromagnética, não invasiva, que produz um aquecimento por baixo da pele em curtos períodos de tempo (Diatermia). Essa energia eletromagnética, é não- ablativa, ou seja, não lesiva, sendo monopolar ou bipolar. Com isso, essa energia é aplicada na região onde se tem a formação de fibrose para se obter uma lesão térmica controlada até a derme com o estimulo subsequente, onde irá produzir a contração da pele, as fibras de colágeno e elastina em grande quantidade. (ZELICKSON et al, 2004). A técnica estimula a desnaturação do colágeno, com consequente contração das fibrilas e neocolagênese, além de aquecer os septos fibrosos e ter ação fibrinolítica, melhorando a fibrose na derme. (AGNE, 2009).
4. Conclusão
Concluiu-se que os recursos fisioterapêuticos, radiofrequência e mobilização miofascial, são muito utilizados no tratamento de fibrose, não havendo grandes discordâncias entre os autores em relação aos recursos. Destacamos, portanto, que a radiofrequência e mobilização miofascial, através das pesquisas deste estudo, obtém resultados satisfatórios na redução e, até mesmo, eliminação da fibrose no pós-operatório de lipoaspiração, sendo recursos indicados como tratamento.
5. Referências
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Altomare, M.; Machado, B. Cirurgia plástica: terapêutica pré e pós. In: Borges FS. Dermato-funcional: Modalidades Terapêuticas nas Disfunções Estéticas. São Paulo: Phorte. 2006
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