A UTILIZAÇÃO DA OXIGENOTERAPIA POR CATETER NASAL DE ALTO FLUXO APÓS EXTUBAÇÃO DE PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA HIPOXÊMICA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7671364


André de Farias Leite¹
Abel da Silva Sousa¹
Jady Vitória Barjud Pereira Ferreira² 
Francisco Antônio Dourado Alves² 
Rodrigo Eugênio do Nascimento Matta²
Rafael Gomes de Castro Lima²
Rayssa Dourado Coêlho²
Layanne Sousa Bezerra²
Rodrigo Silva Sobral²
Me. Francisco Maurilio da Silva Carrias¹


RESUMO

Objetivos: Analisar se a oxigenoterapia de alto fluxo utilizada após a extubação reduz a necessidade de reintubação em pacientes críticos que evoluíram com insuficiência respiratória hipoxêmica. Metodologia: É uma revisão de literatura dos anos de 2020 a 2022, com abordagem quantitativa, sobre a utilização da oxigenoterapia por cateter nasal de alto fluxo após a extubação de pacientes hipoxêmicos. Usou-se os descritores “oxigenoterapia”, “extubação”, “insuficiência respiratória hipoxêmica” e “desmame do respirador”. Com base nos critérios de inclusão foram selecionados 09 trabalhos. Resultados: A utilização de oxigenoterapia por cateter nasal de alto fluxo, apósextubação de pacientes que apresentaram insuficiência respiratória hipoxêmica, mostrou-se eficaz na redução de reintubações. Conclusão: O uso de cateter nasal de alto fluxo apresentou boa resposta em pacientes hipoxêmicos, evitando a piora do quadro respiratório e a necessidade de reintubação. 

Palavras-chave: Oxigenoterapia; Extubação; Insuficiência respiratória hipoxêmica; Desmame do respirador. 

ABSTRACT

Objective: To analyze whether high-flow oxygen therapy used after extubation reduces the need for reintubation in critically ill patients who developed hypoxemic respiratory failure. Methodology: It is a literature review from the years 2020 to 2022, with a quantitative approach, on the use of oxygen therapy by high-flow nasal catheter after extubation of hypoxemic patients.The descriptors “oxygen therapy”, “extubation”, “hypoxemic respiratory failure” and “respirator weaning” were used.Based on the inclusion criteria, 09 works were selected. Results: The use of oxygen therapy through a high-flow nasal catheter, after extubation of patients who had hypoxemic respiratory failure, proved to be effective in reducing reintubations. Conclusion: The use of a high-flow nasal catheter showed a good response in hypoxemic patients, avoiding the worsening of the respiratory condition and the need for reintubation.

Keywords: Oxygen therapy; Extubation; Hypoxemic respiratory failure; Respirator weaning

INTRODUÇÃO

A ventilação mecânica invasiva (VMI) associada a intubação orotraqueal (IOT) consiste no amparo e suporte para o tratamento de pacientes críticos com insuficiência respiratória aguda ou crônica agudizada, com o objetivo de reduzir o trabalho dos músculos respiratórios e melhorar adequadamente as trocas gasosas, pois substitui total ou parcialmente a ventilação espontânea (MELO; ALMEIDA; OLIVEIRA, 2014). 

O uso da VMI aumentou consideravelmente e encontra-se entre as mais importantes modalidades terapêuticas em uma unidade de terapia intensiva (UTI). Porém, a VMI prolongada tem sido associada a diversas complicações,como pneumonia, disfunção diafragmática e polineuropatia do paciente crítico. Dessa forma, o tempo de VMI deve ser o mais breve, iniciando sempre que possível o processo de desmame, que pode ser considerado a retirada abrupta ou gradual do suporte ventilatório (ALVES et al., 2021; KAVATURO et al., 2020).

Após a retirada da pressão positiva contínua da VMI, alguns pacientes podem evoluir com insuficiência respiratória hipoxêmica, apresentando maior risco de falência respiratória e reintubação. Esses pacientes apresentam dispneia moderada ou severa com intensidade crescente, taquipneia, respiração paradoxal, cianose, hipercapnia, hipoxemia e/ou acidemia sanguíneas associadas, mostrando a incapacidade do seu sistema respiratório em manter os valores adequados da pressão arterial de oxigênio e de gás carbônico, o que pode resultar em um quadro de fadiga da musculatura respiratória (CORDEIRO et al., 2022). 

O tratamento inicial para a insuficiência respiratória hipoxêmica após a extubação é a oxigenoterapia, com o propósito de evitar uma hipóxia tecidual severa. A oxigenoterapia convencional depende de cateter nasal tipo óculos, máscaras faciais reinalantes e não reinalantes e cânulas. Entretanto, o uso destes dispositivos é limitado a apenas 15 litros/minutos, sendo insuficientes na hipoxemia grave (DRES; DEMOULE, 2017).

Uma alternativa superior a oxigenoterapia convencional que vem mostrando eficácia na hipoxemia moderada a grave é o cateter nasal de alto fluxo (CNAF), modalidade que pode oferecer oxigênio aquecido e umidificado com uma fração inspirada de oxigênio (FIO2) de 21% até 100% com fluxos elevados de até 60L/min, por meio de uma pronga ou cateter nasal. A terapia consegue realizar uma lavagem do espaço morto das vias aéreas superiores, redução da resistência das vias áreas e do trabalho respiratório e fornece pressões expiratórias positivas, que podem contrabalancear a pressão expiratória positiva final intrínseca na maior parte dos pacientes (YUSTE et al., 2019). 

O CNAF mostrou-se efetivo em pacientes com critérios de alto risco, idade > 65 anos, índice de massa corporal > 30, portadores de insuficiência cardíaca congestiva (ICC) e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), duas ou mais comorbidades, APACHE II > 12 no dia extubação, VMI prolongada, dificuldade em expectoração e disfunção de vias aéreas, para evitar reintubação após episódio de insuficiência respiratória hipoxêmica após extubação dentro das 48hr (BARBAS; OLIVEIRA, 2021).

Assim, o CNAF pode ser sugerido para tratamento de primeira linha e seguro em pacientes críticos pós extubação que evoluíram com insuficiência respiratória hipoxêmica moderada a grave, por conferir melhor oxigenação através da redução da frequência respiratória, do trabalho respiratório e da fadiga dos músculos respiratórios,que estão frequentemente associados a reintubação secundária a hipóxia (BOCCHILE, et al., 2018).

Portanto, o presente trabalho tem o objetivo de analisar se a oxigenoterapia de alto fluxo utilizada após a extubaçãoreduz a necessidade de reintubação em pacientes críticos que evoluíram com insuficiência respiratória hipoxêmica. A hipótese do estudo é a de que usando CNAF se associa com a diminuição da necessidade de reintubação em pacientes graves.

METODOLOGIA

Segundo Ferenhof e Fernandes (2016), a revisão de literatura serve para constatar a diversidade de textos existentes sobre o eixo temático e para que o pesquisador amplie e ramifique a sua análise interpretativa. Dessa forma, o presente estudo trata-se de uma revisão integrativa de literatura, com abordagem quantitativa, devido ao número significativo de trabalhos encontrados acerca da utilização da oxigenoterapia por cateter nasal de alto fluxo após extubação de pacientes hipoxêmicos. 

Diante disso, as bases de dados utilizadas foram Periódicos CAPES e Pubmed, pesquisada via Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), utilizando “oxigenoterapia”, “extubação”, “insuficiência respiratória hipoxêmica” e “desmame do respirador” como descritores e para a estratégia de buscas em inglês foi os descritores correlatos foram “oxygen therapy” and ”extubation” and ”hypoxemic respiratory failure” and “weaning from the respirator.

Para tanto, a busca realizada baseou-se em critérios de inclusão e de exclusão. Sendo assim, foram incluídos os estudos publicados entre os anos de 2020 a 2022, cujos idiomas fossem inglês, português e espanhol. Por outro lado, após a análise dos trabalhos, foram excluídos da pesquisa aqueles artigos que fugiam do tema do presente estudo, assim como os que não tivessem seus textos disponíveis na íntegra. 

Por se tratar de uma pesquisa didática, este estudo não provoca nenhum dano físico ou psíquico a quem estiver envolvido. Mas traz resultados benéficos, pois atualizará a comunidade acadêmica sobre o assunto. Os resultados foram distribuídos em quadro, mostrando a quantidade de estudos encontrados, os seus títulos, autores, tipos de estudos e os seus resultados. 

RESULTADOS

Ao realizar a busca nas bases de dados científicas, utilizando os descritores selecionados e os critérios já supracitados, foram encontrados 24 estudos, sendo 7 na Pubmed (via BSV) e 17 no Períodicos CAPES.  Após leitura dos títulos e resumos, excluiu-se 12 artigos por fuga ao tema e mais 3 trabalhos repetidos entre as supracitadas bases de dados cuja descrição se encontra no Fluxograma abaixo. Logo, restaram 9 artigos que foram inseridos no presente estudo, os quais podem ser apreciados no Quadro 1. 

Fluxograma 1- Fluxograma da aplicabilidade dos critérios para inclusão e exclusão para os descritores nas bases de dados

Quadro 1: Artigos selecionados após a estratégia de busca submetida, 2022

TÍTULOAUTORTIPO DE ESTUDORESULTADO
Clinical outcomes of high-flow nasal cannula in COVID-19associated postextubation respiratory failure.A single-centre case seriesSIMIOLI et al. 2020Estudo de caso transversal e observacional Na insuficiência respiratória grave, o CNAF é uma opção válida para apoiar a oxigenação no período pós-ventilação, reduzindo o risco de reintubação. 
Closed-loop oxygen control improvesoxygen therapy in acute hypoxemic respiratoryfailure patients under high fow nasal oxygen:a randomized cross-over study (the HILOOPstudy)ROCA et al. 2022Estudo randomizado, cruzado, unicêntrico e cegoEm pacientes com insuficiência respiratória hipoxêmica, oxigênio nasal de alto fluxo (HFNO) tem váriosbenefícios fisiológicos e seu uso pode reduzir a necessidade de intubação e reintubação.
Efectos fisiológicos de las terapias de soporterespiratorio no invasivo y su potencial rolpostextubaciónBASOALTO, et al. 2021Estudo de revisão narrativa Terapias não invasivas de suporte respiratóriodesempenham um papel fundamental durante a transição da ventilação comsuporte respiratório invasivo à ventilaçãoespontâneo sem suporte adicional, sendo capaz de reduziresforço respiratório, dispneia e FR.
Efects of high-fow oxygen therapyon patients with hypoxemia after extubationand predictors of reintubation: a retrospectivestudy based on the MIMIC-IV databaseLIU, ZHAO e DU 2021Estudo retrospectivo O CNAF mostrou-se ser uma terapia efetiva em pacientes gravemente hipoxêmicos após o desmame do ventilador 
High-Flow Nasal Cannula OxygenTherapy Can Be Effective for Patients inAcute Hypoxemic Respiratory Failurewith Hypercapnia: a Retrospective,Propensity Score-Matched Cohort StudyBAE et al. 2020Estudo de coorte observacional e retrospectivoA eficácia da terapia CNAF em pacientes com IRA hipoxêmica ou hipercapnia, reduzindo o trabalho respiratório e FR.
High-Flow Nasal Cannula Versus Standard Oxygen Therapy After Extubation in Liver Transplantation: A Matched Controlled StudyGASPARI, et al. 2020Estudo observacional  controlado pareadoAutilização de oxigenoterapia com CNAF apósextubação nos indivíduos com transplante de fígado nãoreduzir a incidência de hipoxemia, não diminuiu a taxa de falha de desmame, tempo de permanência na UTI e mortalidade em 28 dias.
Non-invasive ventilation versus high-fownasal oxygen for postextubation respiratoryfailure in ICU: a post-hoc analysisof a randomized clinical trialTHILLE et al. 2021Estudo multicêntrico, randomizado e controladoO oxigênio nasal de alto fluxo diminuiu o impulso respiratório pós-extubação e pode ajudar a reduzir o trabalho respiratório e evitar a reintubação. 
Post-extubation oxygenation strategiesin acute respiratory failure: a systematic reviewand network meta-analysisYASUDA et al. 2021Estudo de revisão sistemática com metanálise As estratégias de suporte respiratório não invasivo podem não reduzir o risco de mortalidade a curto prazo, porém o CNAF está associado a uma menor taxa de reintubação. 
Prolonged Weaning: S2k GuidelinePublished by the German RespiratorySocietySCHONHOFER et al. 2020Diretriz A terapia por CNAF mostrou-se mais vantajosado que o oxigênio de baixo fluxo em desmame da VMI em pacientes críticos

Fonte:Leite, Sousa e Carrias, 2022.

Legenda: CNAF – cateter nasal de alto fluxo; HNFO – oxigênio nasal de alto fluxo; FR – frequência respiratória; UTI– unidade de terapia intensiva; IRA – insuficiência respiratória aguda; VMI – ventilação mecânica invasiva

DISCUSSÃO

A ocorrência de reintubação é sabidamente uma importante condição associada ao aumento da morbimortalidade em pacientes críticos, por isso o uso de recursos de suporte ventilatório tem sido amplamente discutidos e experimentados em estudos de modo a reduzir a incidência de falha na extubação. Segundo Casey e seus colaborares (2021), o uso do sistema de alto fluxo pode ser utilizado com o objetivo de otimização das trocas gasosas e reduzir o esforço respiratório do paciente, reduzindo assim a chance de falha na extubação. 

Da mesma forma, Basoalto et. al investigaram, por meio de uma revisão narrativa, os vários efeitos fisiológicos induzidos pela VNI e CNAF a fim de verificar se essas terapias seriam capazes de prover adequado suporte ventilatório para pacientes recentemente extubados. Ambas as técnicas foram capazes de reduzir o esforço ventilatório e a dispneia, bem como a FR; anda assim, o estudo apontou uma maior e tolerância dos pacientes que utilizavam CNAF em relaçao ao que utilizavam VNI devido as características favoráveis como maior conforto da interface, temperatura e umidade entregues pelo mesmo.

Ainda estabelecendo paralelos para estabelecer o melhor suporte ventilatório, Yusuda et al. (2021) realizou uma metanálise para comparar a eficácia de três dispositivos de suporte respiratório pós-extubação (CNAF, VNI e suporte de O2 convencional) na redução da mortalidade e risco de reintubação. Foi avaliado em pacientes com idade ≥16 anos, submetidos a procedimentos invasivos ventilação mecânica por > 12 h por insuficiência respiratória aguda. Após avaliação de 4.631 prontuários, 15 estudos e 2.600 pacientes foram incluídos. A principal causa de hipóxia aguda insuficiência respiratória foi pneumonia. Como resultado viu-se que, embora o uso de VNI e CNAF não tenha diminuído signifcativamente o risco de mortalidade, o uso de CNAF reduziu significativamente o risco de reintubação  em comparação com o uso de oxigenioterapia convencional. As associações de mortalidade com o uso de VNI e CNAF em relação a qualquer resultado também não diferiu significativamente.

A Sociedade Respiratória Alemã, em conjunto com outras sociedades científicas envolvidas em desmame ventilatório, baseando-se nos mais recentes estudos sobre o tema, elaboraram uma diretriz sobre desmame prolongado sendo um dos tópicos abordados: estratégias de tratamento no desmame. Tendo obtido como conclusão que, de acordo com estudos randomizados em pacientes adultos, a CNAF mostrou-se mais vantajosa que o oxigênio de baixo fluxo, mas igualmente tão eficaz quanto a VNI (Schönhofer  et al, 2020).

Também comparando o CNAF com a VNI, Trille et al (2021) comparou a mortalidade entre pacientes tratados com VNI alternando com oxigênio ou oxigênio nasal de alto fluxo sozinho por meio de um estudo multicêntrico, randomizado e controlado com foco em pacientes que sofreram insuficiência respiratória pós-extubação nos 7 dias após a extubação. Os pacientes foram classificados no grupo VNI ou o grupo de oxigênio nasal de alto fluxo de acordo com a estratégia de oxigenação utilizada após o início da respiração pós-extubação. Entre 651 pacientes extubados, 158 apresentaram insuficiência respiratória e 146 foram incluídos no análise. Em pacientes que apresentaram sintomas respiratórios pós-extubação, VNI alternando com oxigênio nasal de alto fluxo alto não aumentou o risco de morte na UTI em comparação com oxigênio nasal de alto fluxo sozinho. Pacientes com hipercapnia no início da insuficiência respiratória tiveram menor taxa de reintubação do que as demais.

Da mesma maneira, investigar as indicações da terapia com cânula nasal de oxigênio de alto fluxo (CNAF) em pacientes com hipoxemia durante o desmame ventilatório e explorar os preditores de reintubação quando o tratamento falha foi o objetivo do estudo de Liu, Zhao e Du (2021). Pacientes adultos com hipoxemia em desmame da ventilação mecânica foram identificados no Banco de dados do Information Mart for Intensive Care IV (MIMIC-IV). Os pacientes foram designados para o grupo de tratamento ou grupo controle de acordo com se estavam recebendo CNAF ou ventilação não invasiva (VNI) após a extubação. Foram selecionados 524.520 prontuários e 801 pacientes com hipoxemia moderada ou grave quando submetidos ao desmame da ventilação mecânica foram incluídos (100 < PaO2/FiO2 ≤ 300 mmHg), incluindo 358 pacientes que receberam terapia CNAF após a extubação no grupo de tratamento. Havia 315 pacientes com hipoxemia (100 < PaO2/FiO2 ≤ 200 mmHg) antes da extubação, e 190 pacientes permaneceram no grupo de tratamento. Não houve diferenças signifcativas nos 28 dias taxa de reintubação ou mortalidade em 28 dias entre os dois grupos com hipoxemia moderada ou grave (todos P>0,05). Então A FC/SpO2 foi formulada como um preditor para reintubação em 48 horas de acordo com as características importantes que predizem o desmame falha. De acordo com os valores em 4 h após a extubação, a AUC da FC/SpO2 foi de 0,657, maior que a da ROX índice (0,583). Quando a FC/SpO2 atingiu 1,2 em 4 h após a extubação, a especificidade para predição de reintubação em 48 h foi de 93%, demonstrando a eficácia do alto fluxo.

Roca et al (2022) avaliou a eficácia do CNAF em pacientes adultos críticos com à insuficiência respiratória hipoxêmica aguda grave em um estudo cruzado, randomizado, unicêntrico, duplo-cego utilizando os seguintes parâmetros: taxa de fluxo ≥ 40 L/min com FiO2 ≥ 0,30. Foram aleatoriamente designados para começar com um período de 4 horas período de controle de oxigênio em circuito fechado ou período de 4 h de titulação manual de oxigênio, após o qual cada paciente foi trocado para a terapia alternativa. Quarenta e cinco pacientes foram incluídos. Os pacientes passaram mais tempo na faixa ideal de SpO2 com circuito fechado controle de oxigênio em comparação com titulações manuais de oxigênio. Os pacientes passaram menos tempo na faixa subótima durante controle de oxigênio em circuito fechado, acima e abaixo dos limites da faixa ideal de SpO2 e menos tempo acima a faixa abaixo do ideal. Menor número de ajustes manuais por hora foram necessários com controle de oxigênio em circuito fechado. O número de eventos de SpO2<88% e<85% não foi significativamente diferente entre os grupos demonstrando que o alto fluxo melhora a administração de oxigênio em pacientes com IRA, aumentando a porcentagem de tempo na faixa de oxigenação ideal e diminuindo o carga de trabalho dos profissionais de saúde.

Bae e seus colaboradores (2020) verificou a eficácia de Terapia CNAF para pacientes com IRA hipercápnica em comparação com aqueles sem hipercapnia. Todos os pacientes consecutivos recebendo terapia CNAF entre janeiro de 2012 e junho de 2018 em um hospital universitário foram matriculados e classificados em não hipercápnicos e grupos hipercápnicos. Um total de 862 pacientes foram inscritos, dos quais 202 foram incluídos no grupo hipercápnico. As taxas de sucesso de desmame da CNAF foram maiores e a unidade de terapia intensiva (UTI) e a mortalidade hospitalar foi menor no grupo hipercápnico do que no grupo não hipercápnico, indicando que a terapia por alo fluxo pode ser favorável para essa população.

Em seu estudo de caso transversal, Simioli et al (2020) observou a eficácia e segurança do CNAF no desmame de pacientes que apresentaram insuficiência respiratória aguda em consequência da COVID-19. Nove pacientes Após ventilação mecânica utilizaram CNAF (parâmetros: 3 temperatura de 34–37°C, fluxo de 50 a 60 L min e a FiO2 foi ajustado para atingir SpO2 apropriada. Imediatamente após o início da CNAF (2 horas), PaO2 /FiO2 foi de 254 ± 69,3 mm Hg. O índice ROX médio em duas horas foi de 11,17 (intervalo: 7,38-14,4). Foi consistente com baixo risco de falha de CNAF. Não foi observada diferença em lactato. Após 48 horas de oxigenoterapia CNAF (dia 3), a PaO2 média /FiO2 aumentou a 396 ± 83,5 mm Hg. Todos os pacientes se recuperaram da insuficiência respiratória após 7 ± 4,1 dias demonstrando que o alto fluxo pode ser útil no desmame da insuficiência respiratória por COVID-19. Os resultados clínicos, oxigenação e índice ROX foram satisfatórios, impedindo a necessidade de intubação.

Em contrapartida ao exposto, Gaspari e seus colaboradores (2020) realizaram um estudo controlado estudo com o objetivo de comparar o uso preventivo de oxigenoterapia administrada por CNAF versus via máscara de entrada de ar (O2 padrão) após extubação em indivíduos adultos com transplante de fígado para redução da hipoxemia pós extubação. Divididos em dois grupos, 29 pacientes utilizaram CNAF após a extubação (grupo CNAF) e outros 29 compuseram o grupo que utilizou O2. O desfecho primário do estudo foi a incidência de hipoxemia em 1 h e 24 h após extubação. Os desfechos secundários foram a taxa de falha de desmame, tempo de permanência na UTI e 28 dias mortalidade. Após a análise dos dados, foi possível observar que a incidência de hipoxemia não foi significativamente diferente entre os Grupos CNAF e O2 padrão em 1 h e 24 h após a extubação. No grupo CNAF, houve um tendência para uma menor taxa de falha de desmame em comparação com o grupo O2 padrão; concluindo que: a aplicação precoce de CNAF nos indivíduos com transplante de fígado não reduziu a incidência de hipoxemia após a extubação comparado com O2 padrão e não modificou a incidência de falha no desmame, tempo de permanência na UTI, e mortalidade em 28 dias nesta população de indivíduos de alto risco.

CONCLUSÃO 

Conclui-se que o uso da cânula nasal de alto fluxo foi eficaz e apresentou boa resposta nesses pacientes, sugerindo ser um possível adjuvante para o tratamento, evitando-se a piora do quadro respiratório e da necessidade de reintubação, porém é  necessário mais pesquisas sobre o tema afim de enriquecer mais o tema.

REFERÊNCIAS

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¹Hospital São Marcos – Associação Piauiense de Combate ao Câncer Alcenor Almeida, Núcleo de Ensino e Pesquisa, Teresina, Piauí, Brasil.