A TRANSDISCIPLINARIDADE NO CAMPO DE ATUAÇÃO JORNALÍSTICO-MIDIÁTICO NA PERSPECTIVA DA BNCC

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11823305


Vanessa da Silva Oliveira1


RESUMO

O presente artigo faz uma abordagem de algumas aproximações conceituais   sobre a temática da transdisciplinaridade e o ensino dos gêneros textuais voltados ao campo de atuação jornalístico e midiático na perspectiva da Base Nacional Comum Curricular- BNCC, parte da apresentação teórica dos temas relacionados aos conceitos. A pesquisa apresenta alguns fundamentos da transdisciplinaridade e de como a BNCC busca atrelar às práticas de linguagens ao ensino desses gêneros. Dessa forma, o estudo aqui descrito pretende fazer uma reflexão sobre a importância da transdisciplinaridade entre as áreas do conhecimento para que de fato haja uma formação integral dos indivíduos como postula a BNCC. O trabalho apontou para discussão e reflexão ancorada nos preceitos da transdisciplinaridade, o que se evidencia nas abordagens teóricas aqui propostas, relacionadas às competências gerais da BNCC voltados ao ensino dos gêneros jornalístico-midiático, destacando um olhar específico ao tratamento dado a temática em questão.

Palavras-chave: Transdisciplinaridade; Gêneros Textuais; Base Nacional Comum Curricular

1- INTRODUÇÃO

Os desafios que envolvem o ensino dos gêneros textuais na perspectiva da formação integral do aluno e a necessidade da aprendizagem da leitura são imensuráveis, fator este, que é de responsabilidade da escola e de toda a sociedade. Nesse sentido, é de fundamental importância que os indivíduos ao aprender os diversos tipos de textos, se tornem de fato pessoas autônomas e que consigam atuar na sociedade aplicando seus conhecimentos de forma a garantir seus direitos.

Dessa forma, ao considerar essas premissas, este trabalho busca fazer uma abordagem que visa contribuir com as prerrogativas de tratar sobre a transdisciplinaridade como um movimento que indicam essa transformação no ensino de gêneros textuais no campo de atuação jornalístico e midiático, buscando promover a formação integral do indivíduo respeitando suas multidimensionalidades. Para isso, utilizaremos alguns autores como referencial teórico, sendo eles: Bakhtin, (1979) Morin (2011b), Nicolescu (1999), Base Nacional Comum Curricular (2018), dentre outros.

O termo transdisciplinaridade não é tão atual como se parece, no entanto, esse movimento há décadas vem sendo estudado e discutido por alguns teóricos, esse processo se torna relevante pela necessidade de mudança na educação com o propósito de entender que a ensino na atualidade busca uma nova maneira de compreensão da realidade, das pessoas, da cidadania e da ética, e que esteja a par de educar sujeitos capazes saber lidar com as diversas situações e que a educação de fato seja oportunizada de forma integral na perspectiva de garantia de direitos, respeitando o sujeito em sua totalidade. 

A Base Nacional Comum Curricular, norteia e prevê que as habilidades e competências sejam garantidas em sua totalidade ao longo da jornada estudantil, dessa forma, tratar da transdisciplinaridade como propulsora dessa garantia de direitos é enxergar as múltiplas possibilidades e impor sobre a fragmentação do conhecimento, abrindo os horizontes para um pensamento complexo. Segundo Morin (2011b) a complexidade é um dos caminhos para a educação do futuro. Para ele, as dicotomias do certo e incerto precisam ser superadas para dar lugar ao que é tecido junto, ou seja, elementos tidos como diferentes, tais como o econômico, o político, o mitológico, o afetivo, estão interligados em um conjunto. “Por isso, a complexidade é a união entre a unidade e a multiplicidade” (Morin, 2011b, p. 38).

O estudo dos gêneros textuais vistos como habilidades e competências para atuação do indivíduo na sociedade a qual a BNCC tem em seus preceitos almejados a formação integral do educando, busca através dessa combinação as possibilidades para unir o que é desfragmentado e desconexo para uma visão unilateral buscando a transdisciplinaridade, estabelecido como critério pelo documento normativo, o qual possibilita a compreensão e a necessidade dessa abordagem como caminho para garantir as transformações necessárias na educação.

Dessa forma, objetiva-se com este trabalho, montar um aporte reflexivo sobre as possibilidades da abordar sobre os gêneros textuais no campo de atuação jornalístico e midiático, como uma ponte para esta compreensão, a partir da visão transdisciplinar, de modo a contribuir com os estudos desta temática e mostrar a importância da transdisciplinaridade na educação, em consonância com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), como forma de buscar uma transformação do paradigma educacional atual.

2- PERCURSO METODOLÓGICO

Todo percurso metodológico para a construção deste trabalho esteve atrelado a uma análise documental sobre a Base Nacional Comum Curricular em consonância a uma análise bibliográfica a respeito dos preceitos discutido sobre a transdisciplinaridade, por alguns teóricos como: Bakhtin, (1979) Morin (2011b), Nicolescu (1999) dentre outros que discutem o assunto aqui investigado.

Esse estudo, objetivou criar um aporte reflexivo sobre como a BNCC abordando a transdisciplinaridade em relação ao que é definido ou por hora discutido pelos teóricos analisados, na perspectiva do ensino de gêneros textuais do campo jornalístico-midiático.

Levando em consideração os pilares da cultura transdisciplinar apontada por Nicolescu (1999), que divide da seguinte forma:

A cultura transdisciplinar se sustenta em quatro pilares de um novo tipo de educação: a) aprender a conhecer – significa ter o entendimento do espírito científico numa distinção clara do real e do ilusório, com valorização das indagações constantes e da qualidade do procedimento científico como, também, ser capaz de estabelecer correlações entre os diversos saberes e significados; b) aprender a fazer – denota a flexibilidade diante das intensas mudanças ocorridas, na busca por uma maior criatividade no campo profissional de forma a estruturá-lo de acordo com as potencialidades interiores e necessidades externas; c) aprender a viver em conjunto – respeitando a coletividade e as normas que permeiam as relações de forma efetiva por meio da validação da experiência interior de cada ser e do reconhecimento de si mesmo na face do outro e d) aprender a ser – a dimensão transpessoal é valorizada de modo a descobrir se há harmonia ou a desarmonia entre a vida individual e a vida social, em constantes indagações acerca dos condicionamentos, respeitando aquilo que liga o Sujeito e o Objeto. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DO ENSINO MÉDIO (2002, P. 29-30)

Podemos assim, apontar a relação com a BNCC, quando se trata das múltiplas dimensões dos estudantes através das possibilidades de trabalhar com as competências e habilidades a serem desenvolvidas no processo de ensino e aprendizagem, a partir desta análise do documento normativo (BNCC) do Ensino Fundamental, anos finais contemplada em sua última versão, foi possível estabelecer esta conexão, que para Creswell (2007) este tipo de análise de documentos é:

[…] aquela em que o investigador sempre faz alegações de conhecimento com base principalmente ou em perspectivas construtivistas (ou seja, significados múltiplos das experiências individuais, significados social e historicamente construídos, com o objetivo de desenvolver uma teoria ou um padrão) ou em perspectivas reivindicatórias/ participatórias (ou seja, políticas, orientadas para a questão; ou colaborativas, orientadas para a mudança) ou em ambas. Ela também usa estratégias de investigação como narrativas, fenomenologias, etnografias, estudos baseados em teoria ou estudos de teoria embasada na realidade. O pesquisador coleta dados emergentes abertos com o objetivo principal de desenvolver temas a partir dos dados (CRESWELL, 2007, p. 35).

Os passos seguidos estão embrenhados a um estudo e análise bibliográfica, feito na perspectiva qualitativa “considerando que a abordagem qualitativa, enquanto exercício de pesquisa, não se apresenta como uma proposta rigidamente estruturada, ela permite que a imaginação e a criatividade levem os investigadores a propor trabalhos que explorem novos enfoques.” Godoy (1995). Assim a pesquisa bibliográfica tem a finalidade de aprimoramento do conhecimento, através de uma investigação de forma científica sobre materiais já publicadas, que para Fonseca (2002), pesquisa bibliográfica é efetivada:

 […] a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existem, porém, pesquisas científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas com o objetivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a resposta (FONSECA, 2002, p. 32).

Nessa perspectiva, Andrade (2010) complementa a ideia de que a pesquisa bibliográfica é indispensável para qualquer situação de pesquisa, sendo assim, ela pode ser compreendida como parte fundamental da investigação acadêmica, pois é o que a sustenta com referências teóricas, dessa forma, menciona que:

A pesquisa bibliográfica é habilidade fundamental nos cursos de graduação, uma vez que constitui o primeiro passo para todas as atividades acadêmicas. Uma pesquisa de laboratório ou de campo implica, necessariamente, a pesquisa bibliográfica preliminar. Seminários, painéis, debates, resumos críticos, monográficas não dispensam a pesquisa bibliográfica. Ela é obrigatória nas pesquisas exploratórias, na delimitação do tema de um trabalho ou pesquisa, no desenvolvimento do assunto, nas citações, na apresentação das conclusões. Portanto, se é verdade que nem todos os alunos realizarão pesquisas de laboratório ou de campo, não é menos verdadeiro que todos, sem exceção, para elaborar os diversos trabalhos solicitados, deverão empreender pesquisas bibliográficas (ANDRADE, 2010, p. 25).

Nessa perspectiva, foi apresentada na fundamentação teórica algumas discussões sobre a transdisciplinaridade, trazendo uma aproximação nas discussões que vivenciamos na prática docente atualmente. Este percurso também se une às observações percebidas na BNCC que apresenta como possibilidade de se abordar a transdisciplinaridade através do ensino de gêneros textuais no campo jornalístico-midiático.

3- FUNDAMENTOS E MARCOS DA TRANSDISCIPLINARIDADE

Os fundamentos para uma abordagem transdisciplinar perpassam pelo reconhecimento de que a ciência contemporânea seja vista na ótica de Morin (1996), o da complexidade. Essa nomenclatura teria surgido quase no mesmo lapso de tempo dos trabalhos de pesquisadores como Jean Piaget, Edgar Morin e Eric Jantsch “para traduzir a necessidade de uma jubilosa transgressão das fronteiras entre as disciplinas, sobretudo no campo do ensino e de ir além da “pluri” e interdisciplinaridade” (NICOLESCU, 1999, p. 09).

            As discursões entorno da transdisciplinaridade, tem seu marco histórico em 07 a 12 de setembro de 1970, com o impulso do pensamento interdisciplinar tanto na ciência, quanto na educação, discutido no I Seminário Internacional sobre “pluri” e interdisciplinaridade, realizado na Universidade de Nice na França que impulsionou em um dos momentos que segundo Santomé (1998), marca igualmente o momento de surgimento do termo ‘transdisciplinaridade’ que passará, juntamente com o de interdisciplinaridade, a representar um novo horizonte de possibilidades à superação dos limites do conhecimento centrado, de maneira exclusiva, no unidisciplinar.

Embora, que a história da Transdisciplinaridade tenha como marco o colóquio de Veneza ganha destaque no congresso “Ciência e Tradição: perspectivas transdisciplinares para o século XXI”, em 1991, a qual as epistemologias e fundamentos teóricos, servem de elementos norteadores das reflexões sobre transdisciplinaridade até a atualidade. Nicolescu (2005)  

Ao distinguirmos o conceito de transdisciplinaridade, Nicoslescu (1999) esclarece que:

“A transdisciplinaridade como o prefixo “trans” indica, diz respeito àquilo que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, Através das diferentes disciplinas e além de qualquer disciplina. Seu objetivo é a compreensão do mundo presente para o qual um dos imperativos é a unidade do conhecimento.” (NICOLESCU 1999, p.16)

Para Nicolescu (1999) a transdisciplinaridade está ancorada em três pilares “os níveis de Realidade, a lógica do terceiro incluso e a complexidade determinam a metodologia da pesquisa transdisciplinar”. Corrobora da mesma ideia SUANNO (2015, p.110), afirmando que “[…] O primeiro elemento, o Terceiro Incluído, rompe com a lógica clássica e admite a interação entre os opostos, fazendo emergir uma lógica ternária”

Nessa visão, se tratando dos níveis de realidade, o qual o sujeito é parte integrante dessa construção em sua interação com objeto, levando em consideração vários aspectos que envolvem os níveis de realidade, neste sentido, Suanno (2015) aponta que:

 […] A realidade, constituída em níveis de realidade, se constrói pelo sujeito (que não é sujeitado, mas pessoa e ao mesmo tempo indivíduo, espécie sociedade) em sua interação com o objeto. De tal modo, o conhecimento, enquanto construção do humano caracteriza-se por ser aberto, provisório, frutos das relações e das percepções do sujeito que o constrói nas interações com o fenômeno entre os níveis de realidade há uma zona de não resistência entre as experiencias, representações, descrições, imagens e formulações matemáticas […] A limitação dos nossos corpos e dos nossos órgãos dos sentidos nos possibilita, ou percepção de outro nível de realidade (SUANNO, 2015, p. 113).

A relação que se faz ao nível de realidade está atrelada a percepção do ser, desse modo essa interpretação perpassa também ao abstrato, nesse desdobrar de ideias Nicolescu conceitua e enfatiza que para haver mudança nos níveis de realidade deve-se haver rupturas, para Germano (2011) ruptura é “A negação de um conhecimento estabelecido em benefício de uma explicação mais complexa e abrangente”.

Deve-se entender por nível de Realidade um conjunto de sistemas invariantes sob a ação de um número de leis gerais: por exemplo, as entidades quânticas submetidas às leis quânticas, as quais estão radicalmente separadas das leis do mundo macrofísico. Isto quer dizer que dois níveis de Realidade são diferentes se, passando de um ao outro, houver ruptura das leis e ruptura dos conceitos fundamentais (como, por exemplo, a causalidade) (NICOLESCU, 1999 p. 7).  

Ao compreender tais níveis de realidade, cabe ressaltar que “a lógica deixa de ser “ou isso, ou aquilo” e passa a ser “e isso e aquilo” ou “nem isso, nem aquilo” (Nicolescu, 2009). Como também o mesmo princípio da contradição que está compreendido na noção de dialogia, de Morin (2008), que nos direciona para a possibilidade de transitar entre diferentes níveis de realidade, possibilitando avanços significativos.

Na lógica sobre o terceiro incluído os questionamentos ou as situações que são contraditórias às verdades instituídas pela sociedade são considerados ao mesmo tempo não contraditório e está fundamentada naturalmente como parte do raciocínio humano, instigando a necessidade de um conhecimento pautado na contradição, ao qual, Nicolescu (1999) esclarece:

Para se chegar a uma imagem clara do sentido do terceiro incluído, representemos os três termos da nova lógica – A, não- A e T – e seus dinamismos associados por um triângulo onde um dos ângulos situa-se em um nível de Realidade e os dois outros em outro nível de Realidade. Se permanecermos num único nível de Realidade, toda manifestação aparece como uma luta entre dois elementos contraditórios (por exemplo: onda A e corpúsculo não -A). O terceiro dinamismo, o do estado T, exerce-se num outro nível de Realidade, onde aquilo que parece desunido (onda ou corpúsculo) está de fato unido (quantum), e aquilo que parece contraditório é percebido como não-contraditório (NICOLESCU, 1999, p. 38-39).

Fechando os três pilares da transdisciplinaridade, é possível estabelecer uma relação com o tratar de situações de forma isolada, o qual as problemáticas estão inseridas de forma multidimensional, ao qual abrange todos os campos da ciência e não desfragmenta o saber, como também não caracteriza como mais ou menos importante, nessa ótica a complexidade é conceituada por Petraglia (2008) da seguinte maneira:

Enquanto a visão holística explica que o todo é mais importante que a soma das partes, a epistemologia da complexidade pressupõe que o todo é mais e menos importante, simultaneamente, que a soma das partes. É essa ideia-chave que entendemos diferenciar os dois termos. Trata-se, todavia, de agregar e articular os operadores da complexidade no cérebro humano hologramático, recursivo e dialógico, promovendo, assim, a transdisciplinaridade.  (PETRAGLIA, 2008, p. 39).

A transdisciplinaridade pode ser descrita como sistema de níveis compreendidos multiplamente como uma metodologia que busca compreender a realidade dos campos duvidosos da ciência ou da epistemologia dominada que se situa nos campos, ora já identificados, reunindo o conhecimento e dando sentido aos campos do saber, ou seja, procurando a integração do todo.

O vocábulo transdisciplinaridade, por mais que seja uma discussão que está em pauta por décadas, tem em sua essência, no olhar de Piaget e Edgar Morin, na perspectiva de atender a complexidade, desse modo em busca unir as a compreensão das mais variadas disciplinas para que seja possível a efetivação da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade, conforme Morin (2005) descreve:

Sabemos cada vez mais que as disciplinas se fecham e não se comunicam umas com as outras. Os fenômenos são cada vez mais fragmentados, e não se consegue conceber a sua unidade. É por isso que se diz cada vez mais: “Façamos interdisciplinaridade”. Mas a interdisciplinaridade controla tanto as disciplinas como a ONU controla as nações. Cada disciplina pretende primeiro fazer reconhecer a sua soberania territorial e, desse modo, confirmar as fronteiras em vez de desmoroná-las, mesmo que algumas trocas incipientes se efetivem. […] É necessário ir mais longe, e é aqui que aparece o termo transdisciplinaridade (MORIN, 2005, p. 52).

Através da reflexão de Menezes e Vaccari (2005) que a transdisciplinaridade deve perpassar a formação e a atitude enquanto formador. Corresponde a uma reforma de pensamento e não apenas a uma reforma estrutural e institucional. Nesse sentido, para a produção de conhecimento significativo com foco na evolução do conhecimento é preciso haver uma quebra de paradigmas. Nessa perspectiva, a BNCC como documento normativo, traz de modo transdisciplinar as tratativas a serem tomadas no currículo com foco na multidimensionalidade do conhecimento. Dessa forma, inclui no currículo os diferentes campos do conhecimento, possibilitando o processo de ensino e aprendizagem situados na ciência, a pesquisa e a tecnologia, como fatores importantes na produção do conhecimento.

Ao tratar os aspectos linguísticos na perspectiva da transdisciplinaridade, observa-se que a “mais nova, mais fascinante, ao menos na ordem linguística, é a noção de transdisciplinaridade; ela enuncia a ideia de uma instância científica capaz de impor sua autoridade às disciplinas particulares”. Gusdorf (1977). Para o autor em discussão a transdisciplinaridade da forma como é exercida ainda há bastante o que se analisar como se posiciona criticamente:

Ela designa talvez um espaço de convergência, uma perspectiva de olhar que juntaria ao horizonte do saber, conforme uma dimensão horizontal ou vertical, as intenções e preocupações das diversas epistemologias. […] A transdisciplinaridade tal como é praticada é uma poltrona vazia, na qual todos ambicionam se sentar. Ela corresponde a um dos principais desafios da feira de vaidades intelectuais”. (GUSDORF, 1977, p. 635-636)

Nota-se que a BNCC projeta caminhos para a transdisciplinaridade, para Nicolescu (2000), a abordagem transdisciplinar procura transformar a organização do currículo em redes a serem exploradas de forma a transcender as disciplinas, respeitando o exercício da disciplinaridade, a prática da multidisciplinaridade, da interdisciplinaridade.

4 GÊNEROS TEXTUAIS DO CAMPO DE ATUAÇÃO JORNALÍSTICO E MIÁTICO NA PESPECTIVA DA TRANSDISCIPLINARIDADE

O estudo dos gêneros textuais no campo atuação jornalístico-midiático na visão transdisciplinar é imprescindível na contemporaneidade, pois abre um leque de possibilidade para tratar das competências gerais que o documento apresenta como fatores a serem desenvolvidos: a argumentação, a comunicação, a cultura digital, o pensamento criativo e crítico, autonomia, autoconhecimento, dentre outros,  para que o ensino e a aprendizagem sejam tratados de forma a conceber uma visão ampla das possibilidades diversas de aprender.

Dessa forma, a BNCC aponta que no decorrer da escolarização os estudantes desenvolvam competências gerais e específicas por área de conhecimento, sendo que:

Ao longo da Educação Básica – na Educação Infantil, no Ensino Fundamental e no Ensino Médio –, os alunos devem desenvolver as dez competências gerais da Educação Básica, que pretendem assegurar, como resultado do seu processo de aprendizagem e desenvolvimento, uma formação humana integral que vise à construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. (BRASIL, 2018 p.25)

Assim sendo, ao tratar das competências gerais, pontua-se que as relações do sujeito consigo mesmo e com o mundo, possibilita ao professor trabalhar a postura crítica dos alunos através dos gêneros textuais fortalecendo o olhar respeitoso conforme as relações sociais de cada indivíduo, levando em consideração a integração dos saberes de forma que a aprendizagem seja significativa, o psicólogo americano David Ausubel (1980), defende a ideia de que a aprendizagem ocorre de forma significativa quando um novo conceito (teoria, proposição ou ideia) é incorporado às estruturas de conhecimento do aluno e adquire significado a partir de sua relação com os conhecimentos prévios.

O campo jornalístico-midiático ao ser abordado como objeto de conhecimento pode se aproximar com as discussões da transdisciplinaridade, pois a partir da ampla possibilidade de ensinar e aprender com diversos recursos disponíveis na atualidade e temáticas diversas, considerando que o campo de discussão é imensurável. É possível favorecer que os estudantes tenham possibilidade de interação e participação das discussões, promove-se assim uma mudança de visão sobre o que é educar na perspectiva da transdisciplinaridade. Dentre outras é possível promover o protagonismo dos alunos e proporcionando uma mudança de consciência.   

A estrutura da BNCC documento normativo, aponta os gêneros textuais divididos no por Campo da vida cotidiana, Campo das práticas de estudo e pesquisa, Campo jornalístico-midiático e Campo de atuação na vida pública. Apesar da especificidade disciplinar, todos os campos devem e podem ser tratados em conformidade com os valores, apoiando os princípios da dignidade, da justiça, respeitando a multidimensionalidade dos indivíduos. A interlocução entre todas as disciplinas dadas as condições e interesses do momento, devem acontecer de forma gradativa e permanente, refletindo a autonomia humana. Dessa maneira o documento aponta que:

É preciso considerar, então, que os campos se interseccionam de diferentes maneiras. Mas o mais importante a se ter em conta e que justifica sua presença como organizador do componente, é que os campos de atuação permitem considerar as práticas de linguagem – leitura e produção de textos orais e escritos – que neles têm lugar em uma perspectiva situada, o que significa, nesse contexto, que o conhecimento metalinguístico e semiótico em jogo – conhecimento sobre os gêneros, as configurações textuais e os demais níveis de análise linguística e semiótica – deve poder ser revertido para situações significativas de uso e de análise para o uso.(BRASIL,2018 P.85)

As abordagens relacionadas aos gêneros textuais de forma transdisciplinar devem “romper com a centralidade das disciplinas nos currículos e substituí-las por aspectos mais globalizadores e que abranjam a complexidade das relações existentes entre os ramos da ciência no mundo real” (Parecer CNE/CEB nº 5/2011). Sendo assim, é possível estabelecer um planejamento para as tratativas sobre os gêneros no campo de atuação jornalístico-midiático para que de fato os sujeitos envolvidos garantam a integração do todo.

Diante disso, não é possível tratar dos gêneros de forma descontextualizada, uma vez que os gêneros tendem a surgir cada vez mais, considerando a contemporaneidade e a velocidade das mudanças tecnológicas, a escola não pode ficar para trás, deve-se haver políticas públicas para incrementar as discussões sobre as metodologias ativas para se garantir um trabalho com os gêneros midiáticos considerando-os também como importantes.

Nesta concepção, Bakhtin (1976) afirma que:

“O enunciado que, segundo índices gramaticais (sintáticos) e composicionais, pertence a um único falante, mas onde, na realidade, estão confundidos dois enunciados, dois modos de falar, dois estilos, duas ‘linguagens’, duas perspectivas semânticas e axilógicas. Repetimos que entre esses enunciados, estilos, linguagens, perspectivas, não há nenhuma fronteira formal, composicional e sintática: a divisão das vozes e das linguagens ocorre nos limites de um único conjunto sintático, frequentemente nos limites de uma proposição simples, frequentemente também um mesmo discurso pertence simultaneamente às duas línguas, às duas perspectivas que se cruzam numa construção híbrida, e, por conseguinte, tem dois sentidos divergentes, dois tons” (Bakhtin, 1979 p. 110)

Os conhecimentos sobre a esfera jornalística, para que haja aprendizagem significativa voltada para formação integral do cidadão deve partir das práticas de leitura, discussão, reflexão e produção textual, sem fugir do foco na investigação, levando em consideração o olhar crítico e a compreensão da produção de Fake News. As práticas de linguagem no campo jornalístico-midiático, são voltados para o exercício das informações levando em consideração o desenvolvimento do pensamento crítico com temas contemporâneos.

Dentre os gêneros midiáticos híbridos e contemporâneos, podemos citar alguns que veem se destacando tais como: blog, reality show, chat, talk show, desenho animado, telejornal, e-mail, telefonemas, entrevista, torpedos, filmes, videoclipes, fotoblog, videoconferência, home page, game play, detonado, enzine, trailer honesto, pastiche e ciberpoema, reportagem multimidiática, documentário, enciclopédia digital colaborativa, vlog e podcast noticioso e cultural, vídeo-minuto, fanfic, fanclipe dentre outros. Tais gêneros emergem sentidos o qual outrora não eram considerados como objeto de estudo, contudo hoje se tornam tão importantes quanto outros gêneros de outas esferas de circulação.

É importante ressaltar que a esfera jornalística remete as distintas circunstâncias comunicativas, podendo atuar como emissores ou receptores o qual por meio das notícias, reportagens, editoriais, artigos de opinião, carta de leitor, entre outros, que neste processo fazem com que a comunicação haja interação com as opiniões diversas sobre matérias publicadas, e assim a interação do sujeito acontece de forma dialógica, o qual (Bakhtin 2006) explica como acontece na vida:

Natureza dialógica da consciência, natureza dialógica da própria vida humana. A única forma adequada de expressão verbal da autêntica vida do homem é o diálogo inconcluso. A vida é dialógica por natureza. Viver significa participar do diálogo: interrogar, ouvir, responder, concordar, etc. Nesse diálogo o homem participa inteiro e com toda a vida: com os olhos, os lábios, as mãos, a alma, o espírito, todo o corpo, os atos. Aplica-se totalmente na palavra, e essa palavra entra no tecido dialógico da vida humana, no simpósio universal. (BAKHTIN, 2006 [1979], p. 348).

Diante disso, pode-se perceber que a BNCC busca tratar da formação integral do aluno abordando a necessidade de garantir que sejam desenvolvidas as competências, dentre as competências gerais se destaca a argumentação como essencial para a vida em sociedade, para Rojo (2000) significa dizer que:

A construção dos próprios currículos para o Ensino Fundamental, adequados às necessidades e características culturais e políticas regionais, deverá ser feita pelos órgãos educacionais de estados e municípios e pelas próprias escolas, com base na reflexão fomentada por estes referenciais, pautados essencialmente no processo de construção da cidadania. (ROJO, 2000, p. 28).

Dessa forma podemos dizer que os gêneros textuais são produtos sociais, Vygotsky destaca a importância das relações entre o indivíduo e a sociedade, e afirma que as características humanas não são conclusivas no nascimento, mas sim são resultados das relações em que o homem transforma o meio na busca de atender suas necessidades básicas, transformando também a si mesmo. Com isso, é possível fazer uma relação sobre a BNCC e as necessidade de um olhar transdisciplinar voltado para o ensino dos gêneros.

Portanto, de acordo com Bakhtin (1999), “as relações entre linguagem e sociedade são indissociáveis”, é preciso promover nas escolas uma análise junto aos professores sobre a necessidade de trabalhar os gêneros textuais deste campo de atuação supracitado, visando promover um aprendizado significativo. Com isso, busca-se ressignificar o ensino destes gêneros para o desenvolvimento linguístico e social.

5 CONSIDERAÇÃO FINAIS

Em análise ao documento normativo, Base Nacional Comum Curricular, foi possível compreender que a proposta expressa em suas entrelinhas, há uma aproximação entre as prerrogativas relacionadas às discussões que Bakhtin, (1979) Morin (2011b), Nicolescu (1999) e outros teóricos apontam sobre as discussões da transdisciplinaridade.

No decorrer deste estudo, buscou-se compreender as prováveis correlações em uma mudança de paradigma contemporâneo, que podem ser estabelecidas entre o ensino dos gêneros no campo jornalístico-midiático. Assim, aconteceu tomando como base a tais gêneros mediante as premissas expostas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), sendo assim a visão, transdisciplinar perpassa o que a BNCC apresenta como proposta de formação integral.

A partir das abordagens tratadas no ensino destes gêneros é possível fazer um trabalho que não seja apenas o exercício de um direito do cidadão, mas uma prática política não partidária de cidadania, do indivíduo em particular e de forma coletiva, respeitando as especificidades de cada um dos envolvidos.

Assim, os preceitos que envolvem o estudo dos gêneros jornalístico-midiático pela perspectivada da BNCC como citado na introdução, efetivou-se mediante uma revisão documental analítica, fundamentada na perspectiva de conceitos a partir de aportes e referenciais teóricos com abordagem qualitativa. Dessa maneira, foi possível identificar, analisar e compreender que é possível tratar dos gêneros textuais no campo de atuação jornalístico-midiático na perspectiva da transdisciplinaridade, desde que tratados dentro das competências e habilidades expressas pela BNCC.

Dessa maneira, a transdisciplinaridade como forma de integração que perpassa as disciplinas e vista como uma mudança ampla na visão de uma aprendizagem significativa o qual os principais desafios que normalmente se observam com maior frequência no ensino dos gêneros no campo de atuação jornalístico-midiático está no modo de tratar as habilidades e competências propostas pela BNCC, respeitando a formação integral dos indivíduos, dessa forma as competências gerais podem ser desenvolvidas estabelecendo uma concretização de gestão deste saber transdisciplinar.

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[1] mestranda em Linguística e literatura pela UFNT, licenciada em letras e pedagogia, pós-graduada em Língua Inglesa; Coordenação e Orientação Escolar. Desenvolve projeto na linha de pesquisa Práticas discursivas em contexto de formação. Link do currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/5912262990936498