MESENCHYMAL STEM CELL THERAPY IN THE TREATMENT OF CONGENITAL CRANIOFACIAL DEFORMITIES: A LITERATURE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10250131461
Elisama Maia Rodrigues¹
Willyam Porfírio de Melo²
Ana Valéria Silva Ferreira³
Victória Cardoso Medeiros⁴
Michelle Aparecida de Medeiros Albano⁵
Gabriel Uzai da Silva⁶
Carlos Miguel Pereira Ribeiro⁷
Ester Garcia de Almeida⁸
Evellyn Julianne Rodrigues Silva⁹
Isabela Lopes de Araújo¹⁰
RESUMO
As deformidades craniofaciais congênitas, como fissuras labiopalatinas, craniossinostoses e hipoplasias maxilofaciais, apresentam desafios clínicos significativos devido à complexidade funcional e estética da região afetada. Recentemente, a terapia com células-tronco mesenquimais (CTMs) emergiu como uma abordagem promissora na regeneração óssea e tecidual. Esta revisão de literatura busca explorar as evidências científicas disponíveis sobre o uso de CTMs no tratamento de deformidades craniofaciais congênitas, com foco em sua origem (medula óssea, tecido adiposo e cordão umbilical), propriedades imunomoduladoras e osteogênicas, e aplicações clínicas.
Os estudos analisados destacam o papel das CTMs na aceleração da regeneração óssea, integração com biomateriais avançados e redução de complicações pós-operatórias. Além disso, são discutidos os desafios, como a padronização dos protocolos de cultivo celular, a escalabilidade clínica e os potenciais riscos associados ao uso dessas terapias. Concluímos que, embora as CTMs representem uma solução inovadora, estudos clínicos mais robustos são necessários para validar sua eficácia e segurança no contexto das deformidades craniofaciais congênitas.
DESCRITORES: Diferenciação Celular, Aplicações de Células-Tronco, Engenharia Tecidual, Células-Tronco Mesenquimais
INTRODUÇÃO
As deformidades craniofaciais congênitas compreendem um grupo diverso de alterações estruturais que afetam o desenvolvimento do crânio e da face, impactando funções vitais como respiração, mastigação, fala e visão, além de comprometerem a estética facial e a qualidade de vida dos pacientes. Exemplos comuns incluem fissuras labiopalatinas, craniossinostoses e hipoplasias maxilofaciais, que frequentemente exigem intervenções cirúrgicas complexas e abordagens multidisciplinares para garantir um tratamento eficaz (Kassam et al., 2020; Yu et al., 2022).
As técnicas reconstrutivas tradicionais, como enxertos ósseos autógenos e distração osteogênica, têm sido amplamente utilizadas no manejo dessas condições. No entanto, tais métodos apresentam limitações importantes, incluindo morbidade na área doadora, reabsorção óssea e incapacidade de regenerar grandes defeitos craniofaciais com eficácia (Marx & Garg, 2021). Além disso, complicações como infecções, rejeição de enxertos e reoperações ainda são desafios consideráveis no campo da cirurgia craniofacial (Javed et al., 2019).
Com os avanços na biotecnologia e na engenharia de tecidos, a terapia com células-tronco mesenquimais (CTMs) tem emergido como uma alternativa promissora para a regeneração óssea e tecidual. As CTMs, isoladas de fontes como medula óssea, tecido adiposo, cordão umbilical e polpa dentária, apresentam notável capacidade de diferenciação osteogênica, condrogênica e adipogênica, além de propriedades imunomoduladoras e angiogênicas (Pittenger et al., 1999; Caplan, 2019). Essas características tornam as CTMs candidatas ideais para aplicações em defeitos craniofaciais complexos, especialmente quando combinadas a biomateriais avançados, como scaffolds tridimensionais bioativos (Ghassemi et al., 2021).
Estudos experimentais e clínicos demonstram que as CTMs podem acelerar a regeneração óssea, reduzir a inflamação e melhorar a integração tecidual, especialmente em contextos de grandes perdas ósseas (Sharma et al., 2022; Li et al., 2023). No entanto, sua aplicação clínica enfrenta barreiras significativas, incluindo a padronização de protocolos de cultivo e diferenciação, a avaliação de riscos a longo prazo e os desafios relacionados à viabilidade econômica e regulamentar (Frye et al., 2020).
Esta revisão de literatura tem como objetivo explorar de forma abrangente as evidências científicas sobre o uso de células-tronco mesenquimais no tratamento de deformidades craniofaciais congênitas. Serão discutidos os avanços recentes, as fontes e métodos de aplicação das CTMs, os desafios técnicos e éticos, bem como as perspectivas futuras para o campo. Espera-se que esta revisão contribua para o entendimento mais profundo e para o avanço dessa abordagem terapêutica, que tem o potencial de transformar significativamente o manejo de deformidades craniofaciais.
METODOLOGIA
Esta revisão de literatura foi conduzida para avaliar as evidências disponíveis sobre o uso de células-tronco mesenquimais (CTMs) no tratamento de deformidades craniofaciais congênitas. O processo metodológico seguiu as diretrizes do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA). As etapas realizadas são descritas a seguir:
1. Estratégia de Busca
Realizou-se uma busca abrangente nas bases de dados PubMed, Scopus, Web of Science, e ScienceDirect. Foram utilizados os seguintes descritores controlados e palavras-chave, combinados por operadores booleanos:
- “Mesenchymal stem cells” AND “Craniofacial abnormalities”
- “Stem cell therapy” AND “Congenital craniofacial defects”
- “Regenerative medicine” AND “Craniofacial tissue engineering”
- “Bone regeneration” AND “Maxillofacial surgery”
2. Critérios de Inclusão e Exclusão
- Os critérios de inclusão foram:
- Estudos que abordassem o uso de CTMs em regeneração óssea e tecidual no contexto de deformidades craniofaciais congênitas.
- Ensaios clínicos, estudos experimentais em modelos animais e revisões sistemáticas relevantes para o tema.
- Artigos publicados em revistas indexadas e de impacto reconhecido.
- Foram excluídos:
- Estudos que não envolvessem deformidades craniofaciais congênitas, mas apenas condições adquiridas (ex.: trauma).
- Trabalhos teóricos sem base experimental ou clínica.
- Artigos duplicados e estudos com metodologia insuficientemente descrita.
REVISÃO DA LITERATURA
O uso de células-tronco mesenquimais (CTMs) no tratamento de deformidades craniofaciais congênitas é uma área de intensa pesquisa, com avanços notáveis, mas também com desafios persistentes. As CTMs demonstraram um grande potencial terapêutico na regeneração óssea e tecidual, especialmente nas áreas de reconstrução de ossos da face e maxilares, áreas afetadas por condições como fissuras labiopalatinas, craniossinostoses e hipoplasias craniofaciais. As evidências sugerem que essas células são capazes de promover osteogênese e angiogênese, facilitando a regeneração dos tecidos afetados e contribuindo para a melhoria funcional e estética dos pacientes (Sharma et al., 2022; Ghassemi et al., 2021).
Um dos pontos críticos é a diversidade nas fontes das CTMs, que incluem medula óssea, tecido adiposo, cordão umbilical e polpa dentária. Cada uma dessas fontes apresenta características e vantagens distintas, como facilidade de coleta, capacidade de proliferação e diferenciação celular, e a possibilidade de modulação imunológica. No entanto, a escolha da fonte de CTMs pode influenciar significativamente os resultados clínicos, o que evidencia a necessidade de protocolos padronizados para garantir a consistência e segurança nos tratamentos (Frye et al., 2020).
Adicionalmente, a associação das CTMs a biomateriais, como scaffolds tridimensionais, tem mostrado melhorar a eficiência da regeneração tecidual, proporcionando um suporte estrutural para as células. O uso de biomateriais também favorece a organização dos tecidos regenerados, o que pode ser crucial em áreas delicadas, como o tecido ósseo da face, onde a arquitetura anatômica precisa ser restaurada de forma precisa. Contudo, os desafios relacionados à escolha dos biomateriais e à interação entre as CTMs e esses materiais ainda precisam ser melhor compreendidos para otimizar os resultados (Caplan, 2019).
Apesar do progresso, a literatura revela que a maioria dos estudos sobre CTMs em deformidades craniofaciais é realizada em modelos experimentais ou em ensaios clínicos de pequena escala. A falta de estudos de longo prazo e com maior número de participantes impede a conclusão definitiva sobre a eficácia clínica real das CTMs. Além disso, ainda existem questões éticas e regulatórias associadas ao uso de terapias celulares, o que limita a disseminação dessa tecnologia para a prática clínica mais ampla.
Os efeitos adversos, como a possibilidade de rejeição imunológica e a formação de tumores, também são aspectos que exigem mais investigação. A utilização de CTMs não é isenta de riscos, e a compreensão dos mecanismos de resposta do organismo a essas células é crucial para garantir a segurança dos pacientes. Dessa forma, é necessário que futuros estudos se concentrem não só na eficácia do tratamento, mas também na avaliação de possíveis complicações a longo prazo (Javed et al., 2019).
Em suma, embora o uso de células-tronco mesenquimais no tratamento de deformidades craniofaciais ofereça perspectivas promissoras, a literatura atual ainda aponta para a necessidade de mais pesquisas clínicas robustas e mais bem controladas. A superação dos desafios técnicos e regulatórios será essencial para a implementação bem-sucedida desta terapia regenerativa no contexto clínico de deformidades craniofaciais congênitas.
DISCUSSÃO
O uso de células-tronco mesenquimais (CTMs) no tratamento de deformidades craniofaciais congênitas apresenta-se como uma estratégia inovadora e promissora, oferecendo alternativas à medicina tradicional, como os enxertos autógenos e as técnicas de distração osteogênica. Estudos clínicos e experimentais recentes apontam para a capacidade dessas células de promoverem regeneração óssea e tecidual, o que é crucial em áreas delicadas, como a face e os maxilares, que exigem um alto grau de precisão funcional e estética. No entanto, apesar dos avanços, a implementação clínica das CTMs ainda enfrenta vários desafios, que precisam ser discutidos e compreendidos para avaliar adequadamente o potencial dessa terapia.
Primeiramente, a grande diversidade nas fontes de CTMs, como medula óssea, tecido adiposo, cordão umbilical e polpa dentária, gerou um amplo espectro de resultados nos estudos revisados. Enquanto algumas fontes demonstram melhores propriedades osteogênicas e maior capacidade de diferenciação celular, outras apresentam limitações em relação à quantidade e qualidade das células obtidas. A falta de padronização entre os protocolos utilizados para o isolamento, expansão e diferenciação das células é uma limitação significativa, que dificulta a comparação direta entre os resultados e a replicabilidade dos estudos. A padronização dos métodos de cultivo e diferenciação das CTMs é, portanto, um aspecto crucial que deve ser abordado para garantir a eficácia e segurança dessa terapia.
Adicionalmente, a combinação de CTMs com biomateriais, como scaffolds tridimensionais, tem mostrado resultados positivos, principalmente em termos de integração tecidual e regeneração óssea. No entanto, os desafios relacionados à escolha adequada desses biomateriais ainda são evidentes. A interação entre as células-tronco e os biomateriais deve ser cuidadosamente estudada, pois isso influencia diretamente a qualidade do tecido regenerado. A falta de consenso sobre os melhores materiais e as melhores técnicas para essa combinação ainda é uma área de pesquisa em desenvolvimento, que pode impactar a implementação clínica de forma significativa.
Outro ponto importante é que, apesar das promessas observadas em estudos experimentais, a literatura clínica ainda carece de ensaios mais robustos e com maior número de pacientes. A maioria dos estudos disponíveis são de pequena escala e realizados em modelos animais, o que limita a aplicação prática dos resultados. A falta de estudos clínicos randomizados de longo prazo impede uma avaliação precisa sobre a eficácia e a durabilidade dos resultados, além de não fornecer uma visão completa sobre os efeitos adversos a longo prazo, como a rejeição imunológica ou a formação de tumores.
Além disso, as questões éticas e regulatórias envolvidas na manipulação de CTMs são um fator que contribui para a lentidão na transição dessa terapia para a prática clínica generalizada. A regulamentação estrita no uso dessas células, devido aos riscos potenciais, limita sua adoção em larga escala. Também existe o desafio do custo elevado dos tratamentos com CTMs, que pode restringir o acesso dos pacientes a essa tecnologia, especialmente em países em desenvolvimento.
Por fim, a utilização de CTMs para o tratamento de deformidades craniofaciais ainda está em uma fase exploratória, mas os avanços são encorajadores. O futuro das terapias com células-tronco está atrelado à melhora nos protocolos de cultivo celular, à otimização das técnicas de combinação com biomateriais e à realização de estudos clínicos mais robustos. Com a superação desses desafios, as CTMs têm o potencial de transformar o tratamento de deformidades craniofaciais, oferecendo uma alternativa mais eficaz e menos invasiva às abordagens convencionais.
CONCLUSÃO
O uso de células-tronco mesenquimais (CTMs) no tratamento de deformidades craniofaciais congênitas se apresenta como uma alternativa promissora e inovadora, com o potencial de transformar a abordagem terapêutica dessas condições. A literatura revisada aponta para benefícios significativos, como a capacidade das CTMs de promoverem regeneração óssea, angiogênese e redução da inflamação, aspectos fundamentais para a reabilitação funcional e estética das estruturas faciais comprometidas. A combinação das CTMs com biomateriais, como scaffolds tridimensionais, também mostrou resultados positivos na melhoria da integração celular e da funcionalidade dos tecidos regenerados.
No entanto, embora os resultados experimentais e pré-clínicos sejam promissores, a aplicação clínica das CTMs ainda enfrenta desafios substanciais. A variabilidade nos protocolos de isolamento, expansão e diferenciação das células, bem como a falta de padronização nas técnicas utilizadas, são obstáculos significativos para a replicação dos resultados e a implementação prática dessa terapia. Além disso, a escassez de estudos clínicos de grande escala e com seguimento de longo prazo impede uma avaliação mais precisa sobre a eficácia e segurança a longo prazo do uso de CTMs em deformidades craniofaciais.
A falta de consenso quanto à escolha das fontes de CTMs e a interação com os biomateriais, além das questões éticas e regulatórias, também representam barreiras que precisam ser superadas para garantir que essa terapia se torne uma prática clínica segura, eficaz e acessível. É fundamental que a pesquisa científica se concentre no desenvolvimento de protocolos padronizados, na realização de estudos clínicos randomizados e de maior escala, e na avaliação contínua dos efeitos adversos a longo prazo.
Em síntese, embora o potencial das CTMs no tratamento de deformidades craniofaciais seja evidente, é necessário que mais estudos clínicos sejam realizados para confirmar sua eficácia e segurança. Com o avanço da pesquisa e a superação das barreiras atuais, a terapia com células-tronco mesenquimais pode se tornar uma ferramenta essencial na regeneração craniofacial, oferecendo aos pacientes novas possibilidades de tratamento menos invasivas e com resultados mais duradouros.
REFERÊNCIAS
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