REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202503151515
Rita Bezerra Nunes1,
Maria Verônica Tavares Neves Cardoso2
RESUMO:
Este artigo tem como objetivo investigar as contribuições da pedagogia dos multiletramentos para a formação do estudante de Letras, com ênfase no ensino de Língua Inglesa. Considerando os desafios e possibilidades dessa abordagem no contexto contemporâneo, discute-se a aplicação dos multiletramentos como estratégia pedagógica, explorando sua relação com as multimodalidades atualmente presentes no contexto cotidiano e educacional. Os objetivos específicos incluem: (a) analisar a transição do letramento autônomo para o letramento ideológico e suas implicações no ensino de línguas (STREET, 2014); (b) discutir a interação entre multiletramentos e multimodalidade e suas aplicações práticas no ensino de Língua Inglesa (COPE; KALANTZIS, 2000 apud SILVA, 2016); (c) examinar a presença dos multiletramentos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2018) e suas repercussões para a formação de professores de Língua Inglesa; e (d) apresentar o uso da literatura adaptada, com foco nos conceitos de letramentos ficcional e literário (Zappone; Nascimento, 2019), como recurso didático no ensino de Língua Inglesa. O estudo foi conduzido por meio de pesquisa bibliográfica de caráter exploratório, fundamentada na análise de referenciais teóricos sobre multiletramentos, ensino de línguas e formação docente. Os resultados indicam que a abordagem dos multiletramentos tem sido amplamente discutida como um instrumento eficaz para o aprimoramento das práticas pedagógicas, contribuindo para um processo de ensino-aprendizagem mais dinâmico e significativo.
Palavras-chave: multiletramentos, ensino de Língua Inglesa, multimodalidade, formação docente, BNCC.
1. Considerações Iniciais
A pedagogia dos multiletramentos propõe um ensino de línguas que valoriza a diversidade cultural, os modos de comunicação multimodais e a relação entre linguagem e contexto social. No ensino de Língua Inglesa para futuros professores, essa abordagem torna-se essencial para formar profissionais capazes de lidar com os desafios das práticas letradas contemporâneas. Diante disso, este estudo busca responder à seguinte questão de pesquisa: como a pedagogia dos multiletramentos pode contribuir para a formação do estudante de Letras – Inglês, preparando-o para um ensino mais contextualizado e inclusivo?
O objetivo geral deste trabalho é investigar as contribuições da pedagogia dos multiletramentos para a formação do estudante de Letras – Inglês, considerando os desafios e possibilidades dessa abordagem no ensino da língua inglesa na contemporaneidade. Os objetivos específicos são: (a) analisar a transição do letramento autônomo para o letramento ideológico e suas implicações no ensino de línguas (STREET, 2014); (b) discutir a interação entre multiletramentos e multimodalidade e suas aplicações práticas no ensino de Língua Inglesa (COPE; KALANTZIS, 2000 apud SILVA, 2016); (c) examinar a presença dos multiletramentos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2018) e suas repercussões para a formação de professores de Língua Inglesa; e (d) apresentar o uso da literatura adaptada, com foco nos conceitos de letramentos ficcional e literário, como recurso didático no ensino de Língua Inglesa.
A escolha dessa temática se justifica pela necessidade de formar professores de língua inglesa que compreendam e utilizem práticas pedagógicas alinhadas às realidades sociais, tecnológicas e culturais contemporâneas. Com as rápidas transformações nos modos de comunicação, o ensino de língua estrangeira deve ir além da abordagem tradicional, incorporando os multiletramentos como estratégia para ampliar a competência comunicativa dos alunos. Apesar dos diversos benefícios, os multiletramentos também apresentam desafios, como a necessidade de formação contínua de professores para o uso eficaz de novas abordagens metodológicas e tecnológicas. Além disso, a BNCC, que é um documento norteador para os currículos da educação básica, reforça a importância de práticas pedagógicas que considerem a diversidade linguística e cultural, tornando essencial a reflexão sobre a formação docente nesse contexto.
Este estudo foi realizado por meio de uma pesquisa bibliográfica de caráter exploratório, fundamentada na análise de referenciais teóricos sobre multiletramentos, ensino de línguas e formação docente. Para embasar a investigação, foram consultados textos acadêmicos, artigos científicos, diretrizes da BNCC (2018) e outras fontes relevantes, permitindo uma compreensão mais aprofundada dos conceitos abordados.
Em relação ao objetivo desse tipo de pesquisa, Gil (2002, p. 41) esclarece que “a pesquisa exploratória é desenvolvida no sentido de proporcionar uma visão geral acerca de determinado fato”. Esse método justifica-se, especialmente, quando o tema escolhido ainda não foi amplamente estudado. A pesquisa bibliográfica e o levantamento de materiais consistem na identificação de obras fundamentais para o desenvolvimento do estudo.
O levantamento bibliográfico tem papel essencial na pesquisa exploratória, pois envolve a busca e a análise de fontes pertinentes, como livros, artigos científicos, teses, relatórios técnicos e periódicos acadêmicos. Durante esse processo, o pesquisador analisa criticamente as referências coletadas, destacando informações relevantes, sintetizando os principais pontos e identificando padrões e lacunas no conhecimento. Segundo Marconi e Lakatos (2003, p. 158), “nessa etapa, o pesquisador faz uma curadoria dos artigos científicos, livros, teses e outros materiais que falam a respeito do tema estudado”. Dessa forma, a análise criteriosa das fontes possibilita a construção de um referencial teórico consistente e alinhado aos objetivos da pesquisa.
2 Do letramento autônomo ao letramento ideológico: perspectivas para um ensino de língua mais contextualizado
Os estudos sobre multiletramentos apresentam dicotomias que colaboram para a compreensão e reflexão acerca dos contextos de ensino. Colaço (2012), citando Street (1995), distingue duas perspectivas de letramento: o modelo autônomo, que “refere-se às habilidades individuais do sujeito”, e o modelo ideológico, que se relaciona com “as práticas sociais que envolvem leitura e escrita em geral”. No modelo autônomo, incluem-se também as atividades de leitura que ocorrem de forma consciente e inconsciente na construção de sentido do texto.
Ambos os modelos apresentam visões distintas sobre a relação entre letramento e escolarização. Como a escola é atualmente a principal agência de letramento, os processos de ensino e aprendizagem frequentemente refletem essa dualidade. Segundo Kleiman (1995), citada por Rojo (2000), há ainda uma “não diferença” entre aquisição e desenvolvimento da escrita, pois o letramento e a escolarização são variáveis determinantes de diversas diferenças entre indivíduos letrados e iletrados, particularmente no que diz respeito a comportamentos cognitivos e estratégias de solução de problemas. Nesse sentido, Street (2014, p. 172) enfatiza:
[…] fiz a distinção entre um modelo autônomo de letramento, cujos expoentes estudavam o letramento em seus aspectos técnicos, independentes do contexto social, e um modelo ideológico, empregado por pesquisadores contemporâneos cuja preocupação tem sido ver as práticas letradas como inextricavelmente ligadas a estruturas culturais e de poder numa dada sociedade.
Quando a finalidade exclusiva da linguagem é separada de sua função interpessoal e o foco principal é a abordagem científica, temos o letramento autônomo. Já o modelo ideológico não busca modificar os aspectos cognitivos da leitura e da escrita no contexto histórico, mas considera as práticas de letramento como intimamente ligadas aos aspectos culturais e à estrutura de poder vigente.
No contexto escolar, o ensino tradicional tende, ao nosso ver, a seguir predominantemente o modelo autônomo, tratando a escrita como um processo neutro, independente de fatores sociais, e enfatizando a leitura e a escrita de textos descritivos e argumentativos, com ênfase na linguagem verbal escrita. No entanto, a escola pode ampliar as práticas letradas ao oferecer aos alunos atividades envolvendo diferentes gêneros discursivos e situações comunicativas, aproximando-se do modelo ideológico e preparando-os para contextos sociais diversos e contemporâneos.
A escola tem um papel fundamental na formação de alunos capazes de interpretar criticamente o mundo ao seu redor, argumentar com base em fatos e utilizar informações de forma responsável. De acordo com Dias e Mont’ Alverne (2020, p. 7), a BNCC estabelece que “as habilidades expressam as aprendizagens essenciais que devem ser asseguradas aos alunos nos diferentes contextos escolares”. Dessa forma, repensar a prática pedagógica é essencial para garantir um ensino alinhado às demandas da sociedade contemporânea.
Uma estratégia importante para esse processo é a incorporação de textos que dialogam mais diretamente com a oralidade e com a vivência dos alunos, como propagandas, outdoors, rótulos de produtos, poesias, contos, fábulas, Graphic novels, animações, HQs, músicas, filmes entre outros. Esses gêneros textuais contribuem para uma aprendizagem mais significativa, pois se articulam com o conhecimento de mundo dos estudantes, tornando o ensino de línguas mais dinâmico e contextualizado.
2.1 A Pedagogia dos Multiletramentos e a Formação do Professor de Língua Inglesa
A Pedagogia dos Multiletramentos, proposta pelo Grupo de Nova Londres em 1996, surge como uma abordagem inovadora que amplia a concepção de letramento ao reconhecer a diversidade de linguagens e culturas na contemporaneidade. Fundamentada na ideia de que o conhecimento é incorporado, situado e social (Cope; Kalantzis, 2000 apud Silva, 2016), essa pedagogia valoriza a construção de sentidos de forma colaborativa, considerando a complexidade dos contextos sociais, culturais e tecnológicos nos quais os sujeitos estão inseridos.
Para Cope e Kalantzis (2000 apud Silva, 2016), a Pedagogia dos Multiletramentos se estrutura em quatro dimensões fundamentais: Prática Situada, Instrução Direta, Posicionamento Crítico e Prática Transformadora. A Prática Situada parte das experiências e necessidades dos alunos, promovendo um ensino contextualizado e significativo. A Instrução Direta busca sistematizar conhecimentos e processos, sem se limitar a uma transmissão mecânica. O Posicionamento Crítico incentiva a reflexão sobre os contextos de produção e circulação dos discursos, enquanto a Prática Transformadora propõe a aplicação do conhecimento de forma ativa e reflexiva para promover mudanças na sociedade.
Essa abordagem rompe com a visão tradicional de ensino, na qual os alunos eram considerados meros receptores de informações. Ao contrário, ela incentiva a autonomia e o protagonismo dos aprendizes, promovendo hierarquias horizontais e ressignificando o papel do professor como mediador do conhecimento. Para Kalantzis e Cope (2005 apud SILVA, 2016), essa pedagogia não se configura como um método fixo, mas sim como um conjunto de possibilidades pedagógicas que permitem a inclusão de diferentes perfis de alunos, respeitando seus modos diversos de aprendizagem.
No campo da formação de professores de língua inglesa, a Pedagogia dos Multiletramentos se torna essencial para atender às demandas do mundo globalizado e tecnologicamente interconectado. A BNCC, documento que orienta a educação básica no Brasil, reforça a necessidade de desenvolver competências que vão além da simples decodificação do código escrito. Ela destaca a importância dos multiletramentos na educação linguística, enfatizando a leitura e produção de textos multimodais (BNCC, 2018). Isso implica que os futuros professores de língua inglesa precisam estar preparados para trabalhar com diferentes formas de comunicação, como imagens, vídeos, sons e textos digitais, promovendo uma educação mais inclusiva e alinhada às realidades contemporâneas.
Dessa forma, a adoção da Pedagogia dos Multiletramentos na formação docente é de fundamental importância para desenvolver professores críticos e reflexivos, capazes de integrar novas tecnologias e práticas pedagógicas inovadoras em suas salas de aula. Além disso, essa abordagem contribui para desconstruir visões hegemônicas e estereotipadas sobre o ensino, combatendo ideias naturalizadas, como a de que alunos de escola pública não gostam de estudar ou que a aprendizagem de línguas estrangeiras é inacessível a determinados grupos sociais.
Em síntese, a Pedagogia dos Multiletramentos se configura como uma proposta essencial para a formação de professores de língua inglesa, pois permite a ampliação do conceito de letramento e a adaptação do ensino às necessidades da sociedade atual. Ao incorporar princípios como prática situada, instrução direta, posicionamento crítico e prática transformadora, essa abordagem possibilita a formação de educadores preparados para atuar em contextos diversos, promovendo um ensino dinâmico, inclusivo e socialmente engajado.
2.2 Multiletramentos, Multimodalidade e o Ensino de Língua Inglesa
A concepção de multiletramentos está diretamente relacionada à diversidade de práticas sociais de linguagem e à necessidade de compreender e produzir significados em diferentes contextos e modalidades. O conceito, proposto pelo Grupo de Nova Londres (1996), amplia a noção tradicional de letramento ao incluir a variedade de textos e linguagens presentes na sociedade contemporânea, como os discursos orais, escritos, visuais, sonoros e digitais. Essa perspectiva se articula com o conceito de multimodalidade, que se refere à interação entre diferentes modos semióticos na construção de significados, como texto, imagem, som e gestos.
No ensino de língua inglesa, os multiletramentos e a multimodalidade desempenham um papel fundamental para tornar a aprendizagem mais significativa e alinhada às demandas do mundo globalizado. A BNCC (2018) destaca que a proficiência em línguas estrangeiras deve ir além da decodificação textual, envolvendo a compreensão crítica e a produção de diferentes gêneros discursivos multimodais. Assim, o ensino da língua inglesa precisa incorporar recursos variados, como vídeos, músicas, memes, redes sociais e plataformas interativas, possibilitando aos alunos o desenvolvimento de habilidades de comunicação em múltiplas linguagens.
Além disso, a BNCC (2018) enfatiza que o ensino de línguas deve promover a cidadania global, incentivando os estudantes a interagirem criticamente com diferentes culturas e contextos sociocomunicativos. A abordagem dos multiletramentos permite que os professores trabalhem com temas contemporâneos e reais, favorecendo a análise e a produção de discursos autênticos, essenciais para a participação ativa dos alunos na sociedade.
Dessa forma, a integração dos princípios de multiletramentos e multimodalidade ao ensino de língua inglesa possibilita uma formação mais dinâmica e contextualizada, preparando os alunos para atuar em um mundo cada vez mais digital e interconectado. Para que isso ocorra, é essencial que a formação dos professores inclua o desenvolvimento dessas competências, garantindo que estejam preparados para explorar os diferentes modos de comunicação e promover uma aprendizagem significativa e crítica em suas práticas pedagógicas.
2.3 O Letramento Ficcional e Letramento Literário: Ampliando a Noção de Literatura
No contexto atual, os textos literários vêm sendo cada vez mais abordados a partir da perspectiva dos letramentos literários, conforme proposto por Zappone (2008), que compreende a escrita literária como um gênero do discurso. Nessa abordagem, o letramento literário pode ser definido como um conjunto de práticas sociais que envolvem a escrita literária, caracterizada principalmente por seu aspecto ficcional. A autora argumenta que é necessário ampliar essa visão, reconhecendo diferentes práticas de letramentos literários. Isso se justifica pelo fato de que, embora diversos tipos de literatura sejam apreciados pelos alunos, muitos desses textos ainda não são legitimados no meio acadêmico e escolar (Cardoso, 2021).
Sob essa ótica, a definição de literatura se expande, alinhando-se a novas formas de compreender os letramentos, especialmente os multiletramentos, conceito desenvolvido pelo Grupo de Nova Londres, nos Estados Unidos. Para abarcar todas as práticas que envolvem a leitura e a escrita de formas ficcionais, é pertinente o uso do termo “letramento ficcional”, conforme proposto por Zappone e Nascimento (2019). Esse conceito engloba tanto os usos de textos literários canônicos, em âmbito escolar e não escolar, quanto os usos sociais de textos ficcionais não canônicos. Além disso, inclui a produção e a recepção de formas ficcionais multimodais ou multissemóticas, ampliando significativamente a compreensão das práticas de letramento literário.
No que se refere ao letramento ficcional e literário no ensino de Língua Inglesa, é essencial considerar as formas de contato dos alunos com essa literatura. Muitas vezes, esse acesso ocorre por meio de adaptações presentes em livros simplificados, produções cinematográficas, séries, músicas, animações, graphic novels, entre outros. Como esses textos da literatura inglesa circulam amplamente no Brasil, geralmente adaptados para a língua materna, para o inglês facilitado, para outras mídias e/ou artes, pressupõe-se que os estudantes já estabelecem relações com eles como leitores e espectadores, podendo trazer essas experiências para o contexto escolar. No entanto, para que isso aconteça de forma produtiva, é necessário que as instituições de ensino estejam preparadas para incorporar esses materiais, que frequentemente são ignorados nos currículos tradicionais.
A BNCC (2018) enfatiza a importância de um ensino de Língua Inglesa que valorize a diversidade linguística e cultural, promovendo práticas pedagógicas que conectem os estudantes a contextos reais de uso da língua. Nesse sentido, os conceitos de multiletramentos e multiculturalidade tornam-se centrais, pois permitem a construção de um ensino mais dinâmico e alinhado às demandas da sociedade contemporânea.
A multimodalidade e a adaptação de textos literários podem desempenhar um papel essencial nesse processo. Linda Hutcheon (2011) define adaptação como uma recriação de um texto que dialoga com diferentes meios e contextos, permitindo novas interpretações e acessibilidade a diferentes públicos. No ensino de Língua Inglesa, as adaptações literárias, como filmes baseados em romances clássicos, recontagens contemporâneas de obras tradicionais e versões ilustradas de contos, podem ser utilizadas para aproximar os alunos da literatura em língua estrangeira, tornando o aprendizado mais significativo.
Dessa maneira, a escola precisa adotar uma abordagem que contemple os letramentos sociais ou ideológicos, conforme discutido por Street (2014), ampliando a perspectiva predominante do letramento autônomo, que já é amplamente praticado no ambiente escolar. A inclusão de textos na perspectiva de práticas sociais contribui para expandir as expectativas do leitor, tornando a experiência de leitura mais significativa (MONTE MOR, 2015). Nessa direção, a pedagogia dos multiletramentos se mostra adequada, pois valoriza tanto a diversidade cultural dos estudantes quanto às diferentes linguagens, mídias e semioses envolvidas na construção de significado nos textos multimodais contemporâneos, incluindo os literários.
As novas formas de circulação dos textos literários, que vão além do suporte impresso, desempenham um papel fundamental na continuidade e difusão da literatura. Segundo Marins e Wielewicki (2015), a presença de múltiplas modalidades textuais possibilita que a literatura alcance um público mais amplo, superando as limitações impostas pelo formato exclusivamente impresso. Isso é especialmente relevante no ensino de uma língua estrangeira, pois permite o envolvimento de alunos que ainda não possuem certo domínio da leitura e da escrita no novo idioma. No campo dos estudos literários, a multimodalidade se manifesta na disseminação de textos em diversos meios, conforme apresentamos anteriormente, como o cinema, a música, a televisão e a internet, tornando a literatura mais acessível e conectada às práticas culturais contemporâneas (CARDOSO, 2021). A seguir, apresentamos algumas sugestões de atividades nessa perspectiva.
2.3.1 Sugestões de Atividades com Adaptações Literárias
Para tornar o ensino de Língua Inglesa mais engajado e significativo, algumas atividades podem ser propostas com base em adaptações literárias, alinhando-se aos princípios dos multiletramentos e da multiculturalidade:
- Análise Comparativa entre Texto Literário e Adaptação – Os alunos podem ler um trecho de uma obra clássica da literatura inglesa, como Pride and Prejudice (Jane Austen) ou Romeo and Juliet (William Shakespeare), e comparar com uma de suas adaptações cinematográficas ou modernas, analisando mudanças de contexto, linguagem e estilo.
- Criação de Podcasts Literários – Grupos de alunos podem produzir podcasts discutindo diferentes adaptações literárias, explorando como cada versão do texto escolhido pode transmitir a história de maneira única, considerando aspectos culturais e linguísticos.
- Reescrita Criativa de Contos Clássicos – Inspirados por adaptações contemporâneas, os alunos podem recontar um conto clássico em um novo contexto, como um ambiente futurista ou a partir de suas próprias realidades culturais.
- Storyboards e Graphic Novels – Utilizando ferramentas digitais ou materiais tradicionais, os estudantes podem transformar trechos de romances em histórias em quadrinhos, explorando a relação entre linguagem verbal e visual.
- Debates sobre Representação Cultural nas Adaptações – Os alunos podem mediados pelo(a) professor(a) debater como diferentes culturas interpretam uma mesma obra literária e como as adaptações refletem valores e contextos sociais distintos.
Essas atividades não apenas fortalecem a competência linguística dos alunos, mas também promovem uma abordagem mais dinâmica e interativa do ensino de literatura, alinhando-se aos princípios dos multiletramentos e da BNCC, tornando a aprendizagem mais contextualizada e significativa.
3.Considerações Finais
A pesquisa realizada permitiu compreender a relevância da pedagogia dos multiletramentos para a formação do estudante de Letras – Inglês, demonstrando que essa abordagem amplia as possibilidades de ensino e aprendizagem da língua ao integrar diferentes práticas semióticas e considerar a diversidade cultural e tecnológica da contemporaneidade. Ao longo do estudo, foi possível analisar a transição do letramento autônomo para o ideológico, evidenciando que a concepção tradicional de ensino de línguas, centrada exclusivamente na codificação e decodificação do texto escrito, já não atende às demandas de um mundo globalizado e digitalmente interconectado. Nesse contexto, os multiletramentos se apresentam como um caminho necessário para promover um ensino de Língua Inglesa mais contextualizado, crítico e socialmente engajado.
Além disso, a relação entre multiletramentos e multimodalidade mostra-se necessária para a formação docente, pois permite que os futuros professores compreendam e utilizem diferentes modos semióticos na construção do significado, indo além da comunicação verbal e escrita. A BNCC reforça essa necessidade ao estabelecer a importância do desenvolvimento de competências e habilidades ligadas à leitura e à produção de textos multimodais, exigindo, portanto, uma formação docente que contemple essas novas demandas. No entanto, a implementação efetiva da pedagogia dos multiletramentos ainda enfrenta desafios, como a necessidade de formação continuada dos professores e a adequação dos currículos escolares a essa nova perspectiva.
Outro ponto relevante discutido foi o papel da literatura adaptada no ensino de Língua Inglesa, que se configura como um recurso didático fundamental para a promoção do letramento ficcional e literário. A introdução de textos ficcionais em diferentes formatos, como graphic novels, filmes e adaptações simplificadas, contribui para tornar a experiência literária mais acessível e significativa para os estudantes, aproximando a literatura do cotidiano dos alunos e incentivando a leitura crítica e a interpretação de múltiplos discursos.
Diante dessas considerações, acreditamos que a pedagogia dos multiletramentos representa uma abordagem indispensável para a formação do professor de Língua Inglesa, pois possibilita um ensino mais dinâmico, interativo e alinhado às transformações sociais e tecnológicas. Para que essa abordagem seja plenamente incorporada às práticas docentes, faz-se necessário um investimento contínuo na formação inicial e continuada dos professores, bem como uma reformulação dos materiais didáticos e metodologias empregadas, como já vem ocorrendo. Assim, espera-se que este estudo contribua para fomentar reflexões sobre a importância dos multiletramentos na formação docente e para incentivar novas pesquisas que aprofundem essa temática no campo do ensino de línguas.
4.Referências
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Ministério da Educação. Brasília, 2018.
CARDOSO, M. V. T. N. A literatura em Língua Inglesa, via adaptações, no Ensino Médio público: leituras plurais e (multi) letramentos literários. Tese (Doutorado) – Universidade Estadual de Maringá, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Programa de Pós-Graduação em Letras, 2021.
COLAÇO, Silvania Foccin. Práticas Pedagógicas de Letramento: Uma visão Ideológica. IX ANPED Sul 2012. Disponível Em: http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper/viewFile/2148/ 589 Acesso em 09 de Set. 2020.
DIAS, Rutineia Silva Oliveira; MONT’ ALVERNE, Clara Roseane da Silva Azevedo. Letramento e a existência de práticas letradas no ambiente escolar. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 06, Vol. 02, pp. 52-71. junho de 2020. ISSN: 2448-0959 link de acesso:
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2002.
GRUPO DE NOVA LONDRES. pedagogy of multiliteracies: designing social futures. The Harvard educational review, v. 1, n. 66, p. 60-92, 1996.
HUTCHEON, Linda. Uma Teoria da Adaptação. Tradução: André Cechinel. Florianópolis: Ed. UFSC, 2011.
MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed, São Paulo: Atlas 2003.
MARINS, Liliam Cristina. Letramento multimodal via tradução e ensino de literatura na terceira idade. In: ZACCHI, V. J.; WIELEWICKI, V. H. G. Letramentos e Mídias: música televisão e jogos digitais no ensino de língua e literatura. Maceió, Al: EDUFAL, 2015.p.p. 35- 56.
MONTE MÓR, W. Crítica e Letramentos Críticos: Reflexões Preliminares in C H Rocha e R F Maciel (Orgs) Língua Estrangeira e Formação Cidadã: Por entre Discursos e Práticas. Campinas: Ed Pontes, p 31-50, 2.Ed, Edição Expandida, 2015.
ROJO, Roxane Helena Rodrigues. Letramento escolar: construção dos saberes ou de maneiras de impor saber? July 16 to 20, 2000, Campinas, São Paulo, Brasil. https://www.fe.unicamp.br/eventos/br2000/trabs/1890.doc. Acesso em 08 de Set. de 2020.
SILVA, Themis Rondão Barbosa da Costa. Pedagogia dos multiletramentos: principais proposições metodológicas e pesquisas no âmbito nacional. Letras, Santa Maria, v. 26, n. 52, p. 11–23, 2016. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/letras/article/view/25319/14659.Acesso em: 22 set. 2020.
SILVA, S. B. Da técnica à crítica: contribuições dos letramentos críticos para a formação de professores de língua inglesa. Porto Alegre: Editora da Oficina, 2012.
STREET, B. V. Letramentos sociais: abordagens críticas do letramento no desenvolvimento, na etnografia e na educação. Trad.: Marcos Bagno. São Paulo: Parábola Editorial, 2014.
ZAPPONE, Mirian H. Y. Fanfics – um caso de letramento literário na cibercultura? Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 43, n. 2, p. 29-33, abr./jun. 2008. Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fale/article/view/4749. Acesso em: 20 jun. 2024.
ZAPPONE, Mirian Hisae Yaegashi; NASCIMENTO, Stéfanny Barranco do. Letramento ficcional e letramento literário: reflexões sobre usos de textos ficcionais a partir dos estudos de letramento. Veredas: Revista da Associação Internacional de Lusitanistas, n. 32, p. 165–188, jul./dez. 2019
1Aluna orientanda concluinte do curso de Letras Inglês da UNEAL, Campus III
2Professora Dra. do Curso de Letras da UNEAL, Campus III.