REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102501281739
Renan J vencato
RESUMO
Este trabalho é um ensaio teórico e de caráter qualitativo, cujo propósito é formar uma opinião sobre determinado assunto. Na filosofia e na psicanálise, o suicídio e a morte são tópicos frequentes. Portanto, optei por um percurso único: comecei o texto com uma questão relacionada à proibição do suicídio, e finalizo com uma questão acerca da proibição deste. Faço algumas considerações com base em leituras filosóficas, elaboro algumas reflexões fundamentadas na psicanálise freudiana e, finalmente, analiso o filósofo do absurdo para finalizar o texto, argumentando que a revolta contra o absurdo da vida pode ser um meio de evitar o suicídio. …
Palavras-chave: Suicídio; Filosofia; Psicanálise.
APRESENTAÇÃO
Suicídio consiste em provocar deliberadamente a própria morte. Indivíduos com distúrbios mentais e/ou psicológicos, tais como depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia e dependência de substâncias, como álcool e uso excessivo de benzodiazepínicos, estão em maior risco. Outros suicídios ocorrem devido a ações impulsivas provocadas por estresse e/ou problemas financeiros, problemas de relacionamento ou bullying. Indivíduos com antecedentes de suicídio têm maior probabilidade de realizar novas tentativas. As ações de prevenção ao suicídio englobam limitar o acesso a instrumentos como armas de fogo, facas, substâncias químicas ou venenos, tratar distúrbios mentais e dependência de substâncias, divulgar com exatidão os casos de suicídio na mídia e aprimorar as condições econômicas da população. Apesar das estratégias diretas de prevenção ao suicídio serem comuns, não existem informações suficientes para fundamentar tais estratégias os métodos mais comuns de suicídio diferem de país para país e estão parcialmente relacionados à disponibilidade de meios. Eles incluem enforcamento, envenenamento por pesticidas e armas de fogo. Em 2015, 828.000 pessoas cometeram suicídio em todo o mundo, um ligeiro aumento de 712.000 em 1990. Em 2015, o suicídio foi a décima principal causa de morte no mundo. O suicídio é responsável por aproximadamente 0,5% das mortes. A cada ano, 12 em cada
100.000 pessoas morrem por suicídio. Três quartos das mortes por suicídio acontecem em nações em crescimento. Normalmente, as taxas de suicídio entre os homens são superiores às das mulheres. Nos países em desenvolvimento, os homens se suicidam 1,5 vezes mais do que as mulheres, enquanto nos países desenvolvidos, o número é 3,5 vezes maior. Na maior parte dos países, a taxa de suicídio é maior entre pessoas com mais de 70 anos. Contudo, em certos países, a idade mais arriscada é entre 15 e 30 anos. Prevê-se que anualmente ocorram entre 10 e 20 milhões de tentativas de suicídio não fatais em todo o planeta. Atentados suicidas – ações não letais de autodestruição – podem resultar em lesões e incapacidades duradouras. No mundo desenvolvido, as pessoas tendem a se comportar de maneira diferente. No Ocidente, as tentativas de suicídio são mais frequentes entre jovens e mulheres. As perspectivas acerca do suicídio foram moldadas por questões existenciais como fé, filosofia, psicologia, honra e o sentido da existência. Por exemplo, as religiões abraâmicas veem o suicídio como uma afronta a Deus, devido à sua fé na santidade da vida. No período samurai no Japão, existia uma modalidade de suicídio chamada seppuku Harakiri, vista como uma forma de expiação pelo insucesso ou como um ato de protesto ou pena capital diante da humilhação causada por um delito, contravenção ou qualquer outro motivo de vergonha. sati é um costume antigo proibido pelo monarca britânico, em que uma viúva se sacrifica na pira funerária de seu marido, por vontade própria ou sob a pressão de sua família e/ou das leis locais. Embora antes fossem considerados ilegais, o suicídio e a tentativa de suicídio deixaram de ser na maioria dos países ocidentais, mesmo que em algumas jurisdições ainda possam ser considerados delitos. Nos séculos XX e XXI, o suicídio foi frequentemente empregado como meio de protesto, ou sob a forma de ataques suicidas e atentados suicidas como estratégia militar ou terrorista. A palavra deriva do latim suicidium. Provavelmente, a maioria das pessoas se arrepende de ter tentado o suicídio. A maioria se sente grata por não ter se matado. A grande parte dos indivíduos encontra uma resposta para suas questões, mais cedo ou mais tarde. A maioria das pessoas descobre um propósito em suas vidas e retoma o entusiasmo pela vida. Apesar da pequena probabilidade de melhorias, quem pode assegurar que isso não irá ocorrer no seu caso, mais cedo ou mais tarde? Contudo, antes de tudo, é necessário viver para testemunhar o dia em que isso pode ocorrer, é necessário sobreviver para testemunhar esse dia nascer e, a partir desse momento, a responsabilidade da sobrevivência nunca mais o abandonará. O nome já diz tudo: o instante em que estamos é um presente. Creio que todos que vivenciaram essa circunstância puderam perceber o quão valioso é esse presente conhecido como vida, se soubermos aproveitá-lo.
A finalidade desta teoria é detalhar a minha perspectiva pessoal sobre o suicídio, e, como resultado, desenvolver um método terapêutico mais eficiente para prevenir e solucionar essa questão.
1. POR QUE NÃO PODEMOS COMETER SUICÍDIO?
Por que razão não podemos tirar a própria vida? Esta é a questão que sempre surge quando penso ou tenho uma chance de discutir suicídio, e este texto é uma tentativa de responder a essa questão: um ensaio teórico e qualitativo que busca formular e formular algumas considerações sobre o suicídio e a questão do suicídio. A morte da filosofia e da psicanálise. Por que edificar algo sobre a ausência de sentido que marca toda a trajetória humana? Porque, no final das contas, essa ação é apenas um dos vários caminhos possíveis de uma existência. Este ato é um dentre as ações permitidas na ordem natural. Esta decisão, possivelmente, é uma das mais atraentes entre as adversidades de uma existência. Portanto, por que é proibido ou inadequado discutir sobre suicídio? E, novamente, por que não podemos tirar a própria vida? Porque constitui pecado! “Pecado” é a primeira resposta que surge na minha cabeça. É o primeiro argumento, não por crenças religiosas, mas porque sempre foi o pioneiro entre as considerações filosóficas. É Sócrates quem, no instante final de sua existência, recorre à heresia. Suicídio é o término inesperado da existência, e colaborar para o suicídio de alguém também constitui uma falta séria. A Igreja entende que as razões para o suicídio podem ser intrincadas. Não se pode afirmar que a pessoa que se mata esteja condenada por Deus. “Transtornos psicológicos severos, angústia ou medo intenso de provação, dor ou tortura podem reduzir a responsabilidade do suicida. Como sinônimo de suicídio. Não porque eu realmente acredite em deuses, uma pergunta sempre válida, mas porque compreendo que, apesar de imperfeitos, nós, humanos, não temos o controle sobre nossas vidas. Ou porque é um direito dos deuses determinar o momento de nossa morte, ou porque as leis não permitem tal escolha. Permitimo-los e, ao aceitá-los como organizadores da nossa breve viagem sob o sol, não podemos, de maneira alguma, contradizê-los – leia ou releia.
Contudo, se não podemos nos matar porque nossa vida não é nossa, o que você entende, homem? A vida é um momento na história do universo em que um grupo de matéria cósmica se compreendeu, ou se iludiu de ser, levando a um grande sofrimento pelo reconhecimento de sua finitude. A cada passo, avaliamos se vale a pena tentar esse sofrimento que denominamos vida. Sem dúvida, “Não!” Seria a resposta na cabeça de um suicida, pois viver não é a melhor opção para a vida, afirma o adepto da morte. Por que deveríamos existir? Onde a vida começou e para onde caminha? Bem, ela chegou até aqui e, onde quer que vá, estará nesse local, certo? Qual é a finalidade de tudo isso? Talvez essa questão seja a origem de tudo, pois a cada instante a vida encontra um meio de responder a essa questão. Este instante é a resposta a essa questão, pois tudo se baseia na existência desse instante que se dá aqui e agora. Se isso não fosse verdadeiro, então esse instante não poderia existir! Sem solicitar qualquer outro objetivo além do que está prontamente disponível. Qual seria o propósito de viver? Estamos no presente! Este é o cerne deste instante. A morte somente ocorre naquele instante. Não, você não deseja tirar a própria vida. O que nos leva a considerar essa opção é a necessidade de justificação que experimentamos enquanto humanos. Por exemplo, imagine-se como um gato de rua. A sua vida se restringe a escavar o lixo em busca de alimento e escapar dos cães. Porém, ao adentrar uma residência, observa-se que existem diversos gatos bem nutridos vivendo em paz. A noção de que “minha existência é tão miserável, talvez eu deva cometer suicídio” simplesmente não estaria em sua mente. Ao invés disso, você pensaria em como subtrair a comida deles e vasculharia a casa para verificar se consegue se alimentar novamente no futuro.
No entanto, com os humanos, existe uma necessidade de justificação. Exemplo. É evidente que você deseja viver, caso contrário, você não estaria aqui. Contudo, ocasionalmente você se sente deprimido ou irado. Se você fosse um felino, logo que a causa da sua irritação desaparecesse, você se sentiria melhor e continuaria com sua vida. No entanto, nós humanos questionamos se a vida é um lixo, por que viver?” Portanto, a possibilidade de nos matarmos se transforma em uma ameaça. Quando nossa parte animal se sente ameaçada, ficamos ansiosos. Se nos sentimos assim, as razões para nos matarmos aumentam no equilíbrio da decisão.
Além disso, pode ocorrer de estarmos bem em todos os aspectos da vida e, em seguida, questionarmos “qual é o propósito da vida?” e, sem encontrá-lo, nossa natureza animal sente-se novamente ameaçada, o que provoca angústia e, consequentemente, mais razões para desistir da vida. No entanto, na minha perspectiva, a questão não é se existem ou não razões para viver. O questionamento é: por que estamos presumindo que a noção de sentido tem algum significado inicialmente? Para mim, isso simplesmente não é eficaz. Faça o que seu corpo pede e isso resultará em prazer, o que é o bastante para continuar a viver.
Em resumo, “O significado da vida” é uma investigação filosófica que procura compreender o sentido e a finalidade da existência humana. A resposta a essa questão pode variar conforme as convicções, princípios e vivências pessoais de cada indivíduo. Há diversas perspectivas sobre o sentido da vida, tais como: Freud O sentido da vida está ligado à satisfação dos desejos e à superação dos conflitos psicológicos.
Wittgenstein
O sentido da vida é alcançado quando contemplamos o mundo como um todo.
Nietzsche
O sentido da vida é reconhecer que a vida não tem sentido, porque a sorte determina o sucesso ou o fracasso.
A questão “Por que devemos existir?” é uma das experiências mais profundas e intrincadas que a humanidade já experimentou. Não há uma resposta única e inalterável, pois cada indivíduo descobre seu próprio sentido na vida. Contudo, é possível investigar algumas das motivações que fazem as pessoas desejarem continuar vivendo:
Conexões Humanas: Amor: O amor pela família, amigos e parceiros pode ser fonte de grande alegria e propósito.
Amizade: O relacionamento com os outros proporciona-nos apoio, companheirismo e sentimento de pertença.
Comunidade: Fazer parte de uma comunidade permite-nos contribuir para algo maior do que nós próprios e encontrar um sentido de propósito.
Experiências: Conhecimentos ou lições adquiridos através da prática ou da vivência. Testes, experimentos ou ensaios também podem ser considerados. Incluem-se entre as experiências: Experiência de vida, Experiência profissional, Experiência acadêmica e Experiência única.
Aprendizagem: A vida é uma viagem de aprendizagem constante, e a oportunidade de crescer e desenvolver-se intelectual e emocionalmente é um grande motivador. Novas experiências: Explorar o mundo, experimentar coisas novas e sair da zona de conforto pode trazer muita alegria. Criação: A capacidade de criar, seja através da arte, da música, da escrita ou de qualquer outra forma, pode ser fonte de grande satisfação.
Finalidade: Deixe um legado, muitas pessoas encontram um propósito em deixar a sua marca no mundo, seja através das suas ações, das suas ideias ou das suas criações. Contribua para a sociedade: Ajudar o próximo, fazer a diferença na vida de alguém e contribuir para um mundo melhor pode dar um grande sentido à vida.
Descobrir-se: A viagem de autodescoberta pode ser uma busca fascinante e gratificante.
Esperança no futuro: A esperança de um futuro melhor, seja pessoal ou coletivo, pode ser um grande motivador para continuar a viver. Mudança: A vida está cheia de mudanças e esperar que as coisas melhorem pode ajudar-nos a ultrapassar momentos difíceis. Possibilidade: A vida oferece infinitas possibilidades, e a esperança de experimentar coisas novas e alcançar os nossos objetivos pode ser inspiradora.
É mais importante lembrar que: A dor é temporária: embora os tempos difíceis pareçam intermináveis, a dor emocional é muitas vezes temporária. Existe ajuda disponível: Se se sentir sobrecarregado ou sem esperança, procure ajuda profissional. Não está sozinho: Muitas pessoas passam por momentos difíceis e não tem de os enfrentar sozinho.
O SUICÍDIO E A PSICANÁLISE
Viver envolve experimentar prazer e sofrimento. Atualmente, a medicina nos oferece alívio para qualquer dor física. Em relação à dor psicológica, a angústia intrínseca às nossas perdas, frustrações, decisões, imperfeições e restrições, a natureza nos concedeu o sono para evitar a confrontação constante com a realidade. O sonho nos auxilia a estruturar e atribuir significado às experiências prazerosas, enigmáticas ou dolorosas vivenciadas ao longo do dia. Embora estejamos acordados, não temos que estar constantemente em contato com a realidade. Podemos fantasiar, ou seja, “sonhar acordado. O suicídio é uma noite sem sonhos da qual não se consegue despertar. Algumas pessoas acreditam que apenas o sono e os sonhos são suficientes; outras procuram as alternativas impostas pela sociedade: álcool, drogas, psicofármacos; para 3 mil pessoas, diariamente, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, o suicídio é considerado a única saída. Motivo? Porque a habilidade de gerir emoções dolorosas sem desintegrar o Eu é extremamente diversa entre indivíduos e também dentro de uma mesma pessoa ao longo da existência. Aparentemente, cada pessoa realiza o ato suicida por motivos únicos. Os sentimentos de vingança, ira, autopunição, culpa, desespero, vergonha, humilhação e inferioridade são frequentemente relatados por indivíduos com pensamentos suicidas. No entanto, por trás desses sentimentos existem outros que, no momento, não estão ao alcance da pessoa. Esses sentimentos vão se tornando insuportáveis, surgem pensamentos suicidas, as preparações para o ato começam a ser elaboradas e, em um ponto específico, o controle egóico falha e o ato se concretiza.
A psicanálise revela que em cada acontecimento psíquico existe um conflito, uma dualidade: no caso do suicídio, o conflito se dá entre o desejo de eliminar o próprio corpo e a necessidade de sobreviver. O suicida acredita que alcançará um “estado de não dor”, quando na verdade não haverá tal “estado”, apenas um corpo inerte. A lógica do suicida difere da lógica convencional, mas para ele faz total sentido. A pessoa deve ser considerada em suas concepções. Quanto mais cedo forem identificadas, maior a chance de auxiliar a pessoa a se reconciliar com seu lado que deseja sobreviver, proporcionando sentido à dor de viver neste mundo que ela deseja abandonar e, quem sabe, alterar sua convicção suicida. O anseio pela morte pode ser entendido como um anseio inconsciente de morrer, que se expressa em atitudes autodestrutivas ou arriscadas. Do ponto de vista psicanalítico, o suicídio pode ser interpretado como uma condição psicótica em que a pessoa precisa “sair de si” para poder atacar a própria existência.
Segundo a psicanálise, a perda da esperança pode acontecer quando a pessoa se vê incompleta e não transfere suas queixas para terceiros. A esperança é um conceito e uma convicção emocional que se expressa em estilos de vida, isto é, em formas de ser, estar e interagir no mundo. Ela é uma emoção que pode favorecer a saúde, pois nos habilita a agir para aliviar a dor, mesmo sem termos controle sobre quando e como isso irá ocorrer. Frequentemente se afirmar que o mundo atual é um mundo desprovido de ideais, pois nele, convivemos com as ilusões da Modernidade e as decepções da Pós- modernidade.
A esperança desempenha um papel crucial no planejamento dos cuidados, uma vez que auxilia na gestão de situações de crise, na preservação da qualidade de vida e na definição de metas. A psicanálise tem como meta principal auxiliar o paciente a entender a causa de seus comportamentos disfuncionais, traumas e ideias errôneas.
De fato, a ideia suicida é vista como uma representação mental que considera e planeja tirar a própria vida, sem, contudo, concretizá-la. Esta questão tem suscitado debates importantes no ambiente acadêmico, especialmente em relação às suas motivações, métodos de prevenção e gestão clínica. Contudo, há pouca discussão durante a formação de psicólogos no Brasil, o que justifica a realização deste estudo. Cada escola de psicologia vê o ser humano a partir de um ponto de vista particular. A psicanálise vê-o como um indivíduo com desejo, singularidade, cujos atos são moldados por conteúdos inconscientes. Em relação ao indivíduo que pensa em cometer suicídio, a psicanálise compreende que, na realidade, o anseio é eliminar uma dor insuportável para a qual não se vislumbra uma solução. Por que alguns indivíduos veem a morte como a única opção? Quem é esse indivíduo que opta pela morte? Como psicanalista, como agir diante do anúncio de suicídio de um paciente? Pode a morte aguardar? vamos fazer uma avaliação. O homem suporta a vida através da opção de se matar. A morte é o que possibilita a existência. A vida é concreta e a morte simbólica, e se a realidade é o inalcançável, viver é a prática da inalcançável. E a opção pelo suicídio pode conferir um sentido à vida quando ela atinge o limite da inviabilidade.
Bem, a psicanálise proporciona uma visão complexa e diversificada sobre o suicídio, procurando entender os processos psicológicos que estão por trás deste ato extremo. É crucial enfatizar que a psicanálise não procura identificar uma única razão para o suicídio, mas sim investigar os vários elementos que podem favorecer sua ocorrência em cada pessoa. Incluem-se entre as principais perspectivas da psicanálise acerca do suicídio:
A pulsão de morte e o inconsciente: Segundo a psicanálise, há uma pulsão de morte que coexiste com a pulsão de vida. Em certas situações, a vontade de morrer pode se expressar de maneira intensa, fazendo com que a pessoa deseje a própria ruína. No ato suicida, essa pulsão alcança uma expressão extrema. Conflito psicológico: O suicídio é comumente interpretado como o desfecho de um intenso e insuportável conflito interno. Este embate pode abranger vários aspectos, tais como a culpa, a perda, a angústia existencial, a depressão e a sensação de não ser aceito. Relação com o objeto de amor: A ausência de um objeto de amor relevante pode ser um gatilho para a perda do interesse em viver. A psicanálise explora como a intensidade desse vínculo e a forma como a perda é vivenciada podem influenciar o desejo de morrer.
A tentativa de comunicação: Em alguns casos, o suicídio pode ser entendido como uma forma de comunicação desesperada, uma tentativa de expressar uma dor insuportável que não encontra outra forma de se manifestar.
A busca por alívio: O suicídio pode ser visto como uma tentativa de escapar da dor psicológica, de encontrar alívio no sofrimento. No entanto, a psicanálise enfatiza que a morte não é a solução definitiva para os problemas psicológicos.
É essencial ressaltar que a psicanálise não reduz o suicídio a uma causa única, mas sim considera a complexidade dos fatores que podem estar envolvidos em cada caso. A análise psicanalítica busca compreender a história de vida do indivíduo, suas relações objetais, seus conflitos internos e suas defesas, a fim de oferecer uma compreensão mais profunda das motivações que levaram ao ato suicida.
É importante ressaltar que a psicanálise não é a única abordagem do suicídio e que outras perspectivas, como a biológica, a social e a cultural, também contribuem para a compreensão desse fenômeno. É evidente que o suicídio é um assunto que vem ganhando destaque nos tempos modernos. Frequentemente coberto pelo véu do tabu, instiga de diversas formas o imaginário social. Caracterizado pela variedade de pontos de vista e posições, ele apresenta uma variedade de interpretações que variam conforme os períodos e regiões envolvidas. Existe uma visão adotada por Roosevelt Casola, que é mais um ponto de vista. Psicanalista e médico no Brasil, em 2021, ele aborda o suicídio de forma instigante. O último acontecimento onde uma série de elementos (genéticos, biológicos, psicológicos, sociais e culturais) se entrelaçam e interagem ao longo da vida do indivíduo, tornando-se, portanto, uma questão psicossocial complexa. A busca incessante por respostas e esclarecimentos sobre este desafio tem sido uma questão para as religiões, filosofias e ciências. Atualmente, o suicídio também é considerado um problema na área da saúde mental. Saúde pública, afetando não apenas a esfera pessoal e familiar, mas também a econômica e social. Além disso, atrai atitudes preconceituosas e estigmas, o que pode complicar consideravelmente abordagens científicas livres de preconceitos.
Bem, acredito que já ficou evidente que o ato de tirar a própria vida constitui um sério problema de saúde. Segundo informações da OMS (Organização Mundial da Saúde), é a segunda principal causa de óbito entre indivíduos de 15 a 29 anos. Em média, anualmente, aproximadamente 800 mil indivíduos tiram a própria vida. um indivíduo a cada 40 segundos, considerando que 1,4% de todas as mortes ocorrem a cada dia. As mortes ocorridas globalmente em 2016 foram causadas pelo suicídio. Levada em conta por pesquisas como a 18a causa de óbito global. Como mencionado anteriormente, há uma variedade de razões para o suicídio que podem interagir entre si, e que estão relacionadas entre si. sustentáveis em sistemas socioculturais e históricos. Suicida-se devido a um ato desonroso, como o ritual haraquiri; suicida-se para se vingar de um rival, gerando nele sentimento de culpa; suicida-se para proteger certos princípios. entre outras coisas. Ainda precisamos argumentar que um traço comum aos suicídios seja considerado. Está ligado ao fato de que o suicida não quer morrer, pois sua intenção é escapar do sofrimento e substituí-lo por uma ‘vida’ após a morte, prazerosa, muitas vezes como recompensa ou compensação pelos seus sofrimentos ou sacrifícios terrenos. E isso não está ligado a crenças ou não. Crenças espirituais. Portanto, existe uma ideia de que o indivíduo deseja se libertar de uma dor. Intolerável, que o impede de ver outra alternativa para sua angústia.
De acordo com a perspectiva psicanalítica, o termo suicídio está repleto de estigmas e preconceitos que as pessoas empregam para julgar, desacreditar e reduzir o sofrimento de quem considera essa opção. As razões que fazem uma pessoa procurar a morte são diversas e altamente subjetivas. Contudo, o anseio pela morte pode ser entendido como um anseio inconsciente de morrer, que se expressa em atitudes autodestrutivas ou arriscadas. Na visão psicanalítica, o suicídio pode ser visto como uma condição psicótica, onde a pessoa precisa “sair de si” para atacar a própria existência. No entanto, o indivíduo não está necessariamente passando por um estado psicótico ou exibindo sintomas semelhantes, já que basta um instante de declínio na capacidade de autoproteção do ego para que o impulso suicida se manifeste de maneira devastadora na consciência, revelando os núcleos conflituosos da vida intrapsíquica em ação. Frequentemente, observa-se a coexistência ambígua entre anseios e comportamentos opostos, conduzindo a pessoa a um impasse, o que demonstra sua incerteza em relação à vida. Ele deseja morrer e, simultaneamente, deseja ser resgatado ou salvo.
Em Sobre a psicopatologia do dia a dia (Freud, 1901/1996a), Freud menciona pela primeira vez o comportamento suicida. Neste texto inicial, o escritor dedicou um capítulo à descrição de “erros de ação”, que, de acordo com ele, se assemelham aos lapsos linguísticos. Ambos apresentam um desvio em relação ao que foi originalmente planejado. Freud elenca situações onde as ações realizadas pelo indivíduo indicam determinações inconscientes ocultas sob a forma de erros e falhas, como pequenos incidentes domésticos, uso impróprio de objetos, quedas, tropeços, passos errados e autolesões. Freud defende que o suicídio não deve ser descartado como uma possível solução para um conflito psicológico (Freud, 1901/1996a, p. (pág. 181. Tentativas de suicídio ou tentativas de suicídio bem-sucedidas podem indicar uma intenção inconsciente, que se manifesta como um incidente imprevisto, um erro de percurso, um tropeço ou um deslizamento seguido de queda. Essa conclusão seria, na verdade, o resultado de uma inclinação para a autodestruição, que também pode se manifestar de outras formas.
Em relação a ferimentos auto infligidos. De acordo com Freud, as lesões auto infligidas resultam de um acordo entre o impulso de autodestruição e as forças que ainda resistem à sua expressão plena na consciência. Dito de outra forma, elas surgem de um conflito intenso entre o impulso inconsciente que persiste e a barreira consciente que se opõe. A realidade é que manter a esperança é a primeira etapa para vencer a adversidade. Afinal, por que devemos viver? Nas palavras de Sigmund Freud, a morte em si pode não ser uma exigência biológica. Possivelmente, os homens se matam porque desejam morrer. Da mesma forma que o amor e o desprezo pela mesma pessoa coexistem em nós, a vida é uma combinação do anseio de viver e do anseio ambíguo de morrer. Assim como um elástico tende a retornar ao seu formato original, toda matéria viva, consciente ou não, anseia pela inércia total e absoluta da existência inorgânica. Os anseios de morrer e de viver coexistem em nosso interior. O Amor é o companheiro da Morte. Em conjunto, eles administram o mundo. A mensagem do meu livro, Além do princípio do prazer, é essa. Inicialmente, a psicanálise acreditava que o Amor era a emoção mais relevante. Atualmente, reconhecemos que a Morte possui a mesma relevância. Biologicamente, todo indivíduo, independentemente da intensidade do seu anseio de existência, aspira ao Nirvana, ao término da febre da vida, ao seio de Abraão. O anseio pode ser camuflado por artifícios. No entanto, a meta final da vida é a própria morte!
No entanto, a humanidade não opta pelo suicídio, pois as leis da sua natureza recusam o caminho direto para o seu objetivo final. A vida precisa encerrar seu ciclo de vida. Em qualquer indivíduo normal, o anseio de viver é suficiente para equilibrar o anseio de morrer, mesmo que, no final, o anseio de morrer prevaleça. Podemos admitir a ideia de que a morte nos atinge por iniciativa própria. Se não fosse pelo aliado que ela possui em nós mesmos, poderíamos ter vencido a morte. Portanto, pode-se afirmar que cada morte é um suicídio disfarçado.
Em suma, é importante salientar que a psicanálise de Sigmund Freud sustenta que o sentido da vida está ligado à concretização de aspirações e à solução de conflitos internos. Freud defendia que o inconsciente constitui o elemento mais vital dos processos mentais e que a supressão de anseios e impulsos pode causar prejuízos à saúde mental. Assim, de acordo com Freud, a vida consiste em um misto do desejo de viver e de um desejo impreciso de morrer. Então, para prosseguir, basta descobrir a sua principal motivação para se levantar e seguir em frente, com o que você se importa mais intensamente? Outra coisa, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche afirmou há muito tempo: se você possui um propósito para viver, pode tolerar praticamente qualquer coisa. Neste cenário, uma vida repleta de propósito pode ser imensamente recompensadora, mesmo diante de adversidades, enquanto uma vida sem propósito é um tormento terrível, independentemente de estar repleta de conforto. Várias pessoas questionam como atingir esse objetivo? Frequentemente, a questão vem acompanhada de ansiedade e apreensão, já que querem garantir que suas ações estão alinhadas com seus propósitos e que estão contribuindo de maneira positiva para a humanidade. Creio que a solução é exatamente essa: oferecer algo positivo às pessoas. Ser uma pessoa com qualidades positivas. são um propósito bastante ambicioso, algo que proporciona um profundo sentido à vida.
O valor da vida pode ser discutido de várias maneiras, incluindo a relevância de apreciar a vida, a função dos valores individuais e a avaliação do valor da existência humana. É fundamental valorizar a vida, pois ela nos proporciona a experiência da totalidade da vida e da gratidão. Este é um gesto de consciência que nos possibilita contemplar a beleza do caminho que percorremos, além de oferecer a oportunidade de formar lembranças dolorosas. Apreciar a vida pode proporcionar benefícios para quem dá, recebe e testemunha, uma vez que: Torna as pessoas mais receptivas e receptivas Eleva a capacidade de identificar a beleza nos outros e em nós mesmos proporciona uma sensação de energia e entusiasmo.
Para valorizar a existência, podemos: Apostar no autoconhecimento. Comemore as ocasiões simples. Pratique a empatia. Mantenha um estilo de vida equilibrado. Preserve a sua mente. Aproveite momentos preciosos ao lado das pessoas que você ama.
Os valores pessoais são convicções que direcionam as ações e escolhas dos indivíduos, espelhando o que eles acreditam. São fundamentais para as relações, uma vez que direcionam ações, metas, anseios e interações pessoais e profissionais. Valores pessoais podem ser empregados como um instrumento para as decisões cotidianas. Durante a tomada de decisões, pode ser vantajoso conferir se seus valores pessoais fundamentais estão presentes. Manter-se em sintonia com seus valores pessoais traz benefícios para a sua vida diária, assegurando que seus sentimentos correspondam às suas ações.
A apreciação do valor da vida humana pode ser realizada sob diversas perspectivas filosóficas, tais como o existencialismo e a ética deontológica de Kant. Segundo os existencialistas, a vida humana é edificada sobre decisões pessoais, que só são possíveis devido à liberdade sem limitações. O indivíduo é o único responsável pelas suas decisões e, consequentemente, a existência humana é fundamentada na angústia, no absurdo e na náusea. Kant e a ética deontológica: Kant sustentava que todos os indivíduos possuem uma dignidade inata e inatacável, simplesmente por serem racionais. A razão habilita os humanos a tomar decisões independentes e agir conforme a moralidade. A existência é a característica de tudo o que é real ou real, além de ser a fundação para todas as outras coisas. Os seus principais campos de estudo são a metafísica e a ontologia.
Cada indivíduo estabelece suas próprias metas de vida, que podem variar conforme os valores, interesses e metas individuais. Estabelecer objetivos de vida é crucial, pois contribui para: Manter uma orientação precisa, evitar distrações que não auxiliam nos objetivos e manter a disciplina e a persistência. Para estabelecer objetivos de vida, é possível seguir algumas etapas: Refletir sobre os resultados desejados. Examinar se o objetivo está em consonância com os valores e outros objetivos estabelecidos. Estabelecer quais objetivos são mais relevantes, registrar as metas e mantê-las em um local de fácil acesso. Desenvolver um plano de ação. Analisar o avanço. No entanto, perceba que a construção de tudo isso só será viável se você não renunciar repentinamente à vida, pois somente dessa forma poderá encontrar talvez algo melhor. Se abandonar tudo, nunca saberá se poderia alcançar a melhoria e viver de maneira mais gratificante, temos a chance, basta saber aproveitá-la.
POR QUE O SUICÍDIO NÃO TEM LÓGICA E NEM SENTIDO?
Então, chegamos ao cerne dessa teoria, o porquê do suicídio não possuir lógica e nem sentido. Bem, vejo o suicídio como uma ação desprovida de sentido ou lógica, apoiada em uma estrutura de egoísmo, absurdo e tolice sem fim. Depois disso, devo explicar por que penso dessa forma. Inicialmente, é comum que indivíduos que tiram a própria vida tenham famílias e dependentes que realmente precisam de sua presença para prover sustento e suporte emocional e afetivo. Se eles cometem suicídio, isso resulta em um efeito dominó que cria um ambiente extremamente melancólico para aqueles ao seu redor, além de um desequilíbrio na sinergia financeira da família, resultando no colapso desse sistema. Outro aspecto crucial a ser destacado é o completo descaso com seus vínculos emocionais. Seu parceiro, filhos, amigos e pais certamente sofrerão com sua ausência por um longo período de tempo. Portanto, é como se você estivesse simplesmente dando o dedo do meio, focando apenas em si mesmo e em seus interesses, sem considerar mais nada. Isso soa apropriado para você? E para aqueles que são deixados para trás? Lembre-se, se você tem dependentes que se importam com você, não adote uma atitude tão insensata ou irracional, baseada em um arcabouço de egoísmo, absurdo e inutilidade como o suicídio. Há muito mais em jogo do que apenas sua dor pessoal e aqueles com sangue inocente não devem arcar com as consequências de seus fracassos. Também é importante considerar que, mesmo que você tenha conflitos com sua família, após o seu falecimento, eles terão que lidar com diversos desafios, como uma investigação sobre o ocorrido, gastos inesperados com funeral e enterro, além de questionamentos e críticas acerca da negligência com sua saúde mental e emocional. Ademais, você demonstrará que todos que o classificaram como um fracasso estavam corretos, uma vez que nem mesmo você acreditava em si. E mais uma vez, mesmo durante as tempestades, o sol sempre encontra um meio de ressurgir. Portanto, reflita: se sua vida está repleta de problemas, como se livrar da mesma irá ajudar a resolvê-los? Ao agir dessa maneira, você deixará de lado algo mais precioso em sua vida, algo que vale a pena possuir, algo que vale a pena aguardar. Na verdade, cada um cria seu próprio objetivo na vida, então vá criar o seu. Finalmente, gostaria de enfatizar: A esperança é um sentimento que pode nos auxiliar a manter a concentração e a motivação para alcançar nossos objetivos, mesmo diante de circunstâncias imprevisíveis. Também pode auxiliar na gestão da dor física e emocional, pois a esperança nos proporciona a certeza de que tudo passa e se transforma. A esperança é uma ferramenta contra o desânimo e o egocentrismo. A esperança é contagiante e tem o poder de inspirar e estimular vínculos. A esperança pode auxiliar na redução das preocupações e na percepção de novas perspectivas. A esperança é uma fonte de energia para a vida, pois reflete o anseio individual por alegria. A esperança representa uma postura realista que não se fundamenta em ilusões ou promessas enganosas. A esperança ativa representa uma “paciência inquieta” que incorpora pensamento e ação conscientes. O oposto da esperança é o desespero, que tem o potencial de destruir o coração.
Aqui proponho um conjunto de questões que podem ser bastante úteis para quem deseja compreender mais profundamente sua vida e descobrir um propósito para a vida. Estes questionamentos são:
- Quem você é, de fato?
- Quais realizações você considera mais importantes?
- Quais são suas competências?
- Se a vida não tivesse restrições, o que você escolheria fazer?
- Quem são seus principais modelos de vida?
- Quais características suas você mais aprecia?
- Quais foram as conquistas mais notáveis que você conseguiu até agora?
- Quais tarefas você executa com maior rapidez?
Ao esclarecer as duas principais vertentes dessa teoria – por que não devemos tirar nossa própria vida e por que o suicídio não possui sentido ou lógica – aliada à entrevista centrada na procura por um propósito de vida, que já abordei anteriormente, temos a certeza de que conseguiremos aprimorar a abordagem terapêutica para prevenir e tratar o suicídio. Isso, consequentemente, auxiliará o paciente a ter uma percepção mais nítida de seu objetivo de vida. Tudo ocorre por um motivo; a sorte pode não existir, mas existe um sentido oculto em cada pequeno gesto, que pode não parecer imediatamente claro, mas logo se tornará claro.
Para aplicar eficazmente o método de prevenção ao suicídio, é imprescindível que você inicie apresentando e elucidando os dois elementos essenciais desta estratégia: primeiro, as razões pelas quais não devemos tirar nossa própria vida; e segundo a compreensão de que o suicídio é uma ação sem sentido e lógica. Empregue a persuasão na comunicação para tornar o entendimento do paciente mais fácil e compreensível. Logo após, realize as questões da entrevista, com o objetivo de auxiliar a pessoa a descobrir um novo sentido para a sua existência e aprofundar seu autoconhecimento. Você deve destacar o tópico “por que o suicídio não possui lógica e nem sentido?” para fortalecer sua defesa contra a possibilidade de suicídio que o paciente possa estar considerando.
FILOSOFIA E O SUICÍDIO.
Bem, observamos que, tanto na ética quanto em outras áreas da filosofia, o suicídio levanta questões complexas, que são abordadas de maneiras distintas por diversos filósofos. Albert Camus (1913-1960), famoso ensaísta, romancista e dramaturgo francês, iniciou seu ensaio filosófico O Mito de Sísifo com a célebre declaração “Só existe um problema filosófico verdadeiramente grave e esse é o suicídio”. Mas quais são as razões contrárias ao suicídio?
Desde a modernização, a visão filosófica do suicídio tem sido amplamente difundida nas crenças culturais das sociedades ocidentais de que o suicídio é moralmente condenável e antiético. Um ponto de vista comum sugere que muitos motivos para o suicídio, como depressão, sofrimento emocional ou problemas financeiros, são passageiros e podem ser aprimorados através de terapia e alterações em certos aspectos da vida de uma pessoa. Tem um ponto adicional que eu gostaria de fazer aqui: um ditado frequentemente usado no discurso de prevenção ao suicídio resume essa perspectiva: “O suicídio é uma solução duradoura para um problema passageiro”. No entanto, a defesa contra isso é que, embora a dor emocional possa parecer temporária para a maioria das pessoas, em algumas situações pode ser extremamente difícil ou mesmo intransponível de resolver, mesmo por meio de aconselhamento ou mudanças no estilo de vida, dependendo da gravidade do sofrimento e da capacidade do indivíduo de controlar sua dor. Doenças incuráveis ou transtornos mentais que se manifestam mais tarde na vida são exemplos disso. Mas consideremos algumas visões sobre isso.
Segundo o Absurdíssimo, obra de Albert Camus, um escritor e filósofo franco-argelino, o objetivo do absurdismo é determinar se o suicídio é uma resposta necessária a um mundo que parece surdo, tanto na questão da existência de Deus (e, consequentemente, o que essa existência pode responder) quanto na nossa procura por sentido e propósito no mundo. Segundo Camus, o suicídio representava a recusa da liberdade. Ele acreditava que escapar do absurdo da realidade através da ilusão, fé ou morte não é uma opção. Ao invés de fugir do vazio existencial, devemos abraçar a vida com entusiasmo. Sartre, um filósofo existencial, descreve a situação de Meursault, o personagem principal de O Estrangeiro de Camus, que é sentenciado à morte da seguinte maneira:
“O homem absurdo não cometerá suicídio; deseja viver, sem abrir mão de nenhuma de suas certezas, sem futuro, sem esperança, sem ilusões… e também sem aceitar a resignação.” Ele olha para a morte com um olhar intenso e esse encanto o liberta. Ele vivencia o “erro divino” do condenado.
De acordo com Aristóteles, em sua ‘Discussão sobre a coragem’, o suicídio é um ato de covardia. Em um capítulo subsequente da Ética a Nicômaco, ele sustenta que o suicídio é ilícito e uma ação praticada contra os interesses públicos.
Filosofia inspirada no cristianismo.
É amplamente reconhecido que a teologia cristã, em sua quase totalidade, considera o suicídio como um delito contra Deus. Giro G. K K K. Chesterton caracteriza o suicídio como “o maior e mais absoluto mal, a falta de interesse pela vida”. Ele defende que um indivíduo que tira a própria vida destrói o mundo todo (parecendo reproduzir exatamente a perspectiva de Maimônides). Maimônides, de fato, afirma que quem tira a própria vida é culpado de assassinato e será julgado na Corte Celestial. A partir deste princípio, assim como não é permitido matar alguém, a pessoa está proibida de se matar. Ao tirar a própria vida, a morte se converte em um ato de pecado, ao invés de trazer redenção. Assim, a pessoa “desperdiçou” essa chance. Além disso, o ato de cometer suicídio sugere que a pessoa se autoproclama “deus”, digamos assim, e, portanto, representa uma negação implícita da soberania divina. O ato suicida também sinaliza que a pessoa está negando que a alma ainda vive e será julgada na Corte Celestial, rejeitando, portanto, de maneira implícita a imortalidade da mesma”. No entanto, agora sob uma visão mais filosófica, existem diversas outras questões que fazem do suicídio um ato de reprovação distinta.
Inicialmente, o ato de suicídio é, por definição, um pecado sem possibilidade de arrependimento. Ademais, a morte, tanto de alguém quanto de si próprio, pode proporcionar expiação, em alguns casos alcançando-a quando não é possível. Discutindo filosoficamente para discutir argumentos contra o suicídio. A ideia de que um homem que não quer mais viver para si mesmo deve continuar existindo apenas como um instrumento para ser utilizado por outros é uma exigência exagerada. Na realidade, essa exigência não é totalmente verdadeira, já que também existem posições neutras e situacionais em relação aos que abandonam a própria vida. É neste ponto que o Utilitarismo se apresenta como uma justificativa ou argumento contra o suicídio. Por exemplo, com base no cálculo hedonista de Jeremy Bentham, é possível inferir que, mesmo que a morte de um indivíduo deprimido termine seu sofrimento, a família e os amigos dessa pessoa também podem experimentar dor, que pode ultrapassar a liberação da depressão do indivíduo através do suicídio. No entanto, há outra perspectiva que afirma que o idealismo, em certas ocasiões, declara que quando a vida é tão árdua, a morte se torna um refúgio almejado pelo homem. Nesse cenário, eles afirmam que o suicídio é o ato mais covarde, que o suicídio é inaceitável, quando é bastante evidente que não há título no mundo mais inquestionável do que a própria vida e identidade pessoal.
Como tenho tentado enfatizar, o suicídio assombra nossas existências. E as tentativas de justificá-lo ou desmenti-lo parecem se manter no âmbito conceitual, teórico, sem atingir aqueles que realmente se encontram em uma situação arriscada, particularmente os segmentos mais jovens da população, para os quais os obstáculos da vida autodeterminada podem parecer excessivamente difíceis. Onde posso obter respostas sobre o verdadeiro significado da vida? Como atribuir significado à nossa trajetória? Como lidar com essas perguntas sem sucumbir a um desespero que pode se tornar insuportável? É conhecido que a psicologia e a psiquiatria, durante o século XX e as primeiras décadas do século XXI, procuraram fornecer explicações adicionais às filosóficas com o objetivo de entender, prevenir e também tratar aqueles que se encontram nessa fronteira. No entanto, ao lidar com uma pessoa que está em estágio de ideação suicida, ou seja, alguém para quem a vida parece ter perdido o sentido e que vê a morte como a única saída para esse sofrimento intenso que consome seu espírito, é imprescindível levar em conta sua dor e suas necessidades psicológicas frustradas que levaram à perda de interesse pela linguagem cotidiana, palavras cotidianas, incertezas e desafios que provocam o que Shneidman (1998) denomina psychache, a angústia psicológica. Shneidman destaca que, para prevenir o suicídio, não é preciso analisar a estrutura cerebral, nem se apoiar em estatísticas sociais ou doenças mentais, mesmo que elas ainda estejam presentes no cenário. A ênfase recai sobre as emoções humanas. Para acolher alguém com pensamento suicida, é preciso reconhecer, respeitar e buscar minimizar sua dor psicológica. O objetivo principal do suicida é encontrar uma saída para esse desconforto que parece intransponível: necessidades psicológicas não atendidas, uma resposta solitária e desesperada para quem sofre e parece não ver outras opções. É o instante em que o vazio existencial se expande completamente. Isso parece estar alinhado com a minha proposta fundamental, já que a questão continua sendo nossa habilidade de avaliar o significado da vida. Não somente em um âmbito teórico-reflexivo, mas também em um pragmático, atuante. A busca por um propósito na vida e a capacidade de alcançá-lo constituem nosso maior desafio existencial. Para ser honesto, penso que o desejo de sermos quem somos expressos na formulação inspirada no panteísmo, reflete a convicção de que tudo e todos compõem um Deus vasto e imanente. Esta sensação é resumida e aponta para uma alternativa possível, talvez a única que temos: a autotranscedência. Essa é a habilidade humana de superar-se, de transcender-se e se dedicar a algo além de si mesmo: refere-se a uma característica de personalidade que implica na ampliação dos limites pessoais. Este pode auxiliar na descoberta de um propósito na vida, no aumento da resiliência frente às adversidades, no autoconhecimento e na saúde emocional. No entanto, também há a procura pela realização pessoal. Trata-se do processo de obter o que se almeja na vida, isto é, obter uma vida completa. A procura pela realização pessoal e profissional. Ao longo da vida, todos nós nos deparamos com decisões que definem nossa trajetória, nossos princípios e nossos anseios. Para alcançar isso, devemos persistir até o final da jornada.
Para finalizar, todas as considerações que fiz anteriormente apontam para o grande desafio da vida: entendermo-nos como componentes de um contexto maior, com o qual interagimos todos os dias e do qual não conseguimos nos isolar completamente. Significa que, mesmo que pareça absurdo viver em meio a objetos, pessoas e valores que não satisfazem ou não podem satisfazer completamente nossas necessidades, ainda assim vale a pena o empenho na busca de uma auto constituição que nos possibilite uma conexão entre o propósito que atribuímos às nossas vidas e as chances reais de atingi-lo. Portanto, posso resumir em três palavras o que aprendi até agora sobre a vida: a vida deve sempre seguir adiante. No decorrer da vida, a tragédia surge e avalia o ser humano, sendo então a visita esquecida e a vida segue adiante. Contudo, o que é realizado é realizado de forma silenciosa. E a vida segue e desistir é simplesmente inacreditável. Lembre-se que cada pessoa estabelece seus próprios objetivos na vida, portanto, vá em frente e estabeleça os seus.
CONSIDERAÇÕES E CONCLUSÕES FINAIS.
A finalidade desta teoria foi expor minuciosamente a minha perspectiva pessoal sobre o suicídio, e, como resultado, desenvolver um método terapêutico mais eficiente para prevenir e solucionar essa questão. Para compreender o sentido da vida, é crucial aceitar quem você é no presente. Autoaceitação é o início da transformação e não implica complacência. É crucial investir no autoconhecimento, já que é o alicerce de tudo. A frase “a esperança morre por último” originou-se da lenda de Pandora, que fechou a caixa de Pandora e deixou a esperança no seu interior. Esperança é a convicção de que a vida vai se aprimorar, que podemos agir para afastar a dor e que o futuro reserva oportunidades. O pensamento popular “a esperança é a última coisa que morre” expressa a ideia de que a esperança é um instinto ou uma natureza, e a mentalidade cristã, que vê a esperança como um mérito ou uma moralidade. A explicação para a essência da nossa teoria é que: O ditado popular “a esperança é a última coisa que morre” já expressa a noção de que a esperança é algo que persiste até o derradeiro instante. A expressão que realça a eternidade da esperança é “a última coisa que morre”. Bem, acredito que seria complicado encontrar uma justificativa para o suicídio ser considerado moralmente aceitável. Você pode se deparar com um argumento que afirma que ele não é incorreto ou que é aceitável, mas isso não se confunde com ser moralmente adequado. Se o suicídio fosse moralmente aceitável, o indivíduo teria a responsabilidade de buscar realizá-lo e também de motivar outros em circunstâncias parecidas a seguirem o mesmo caminho. Acredito que não seja possível apresentar um argumento que aponte uma escolha mais “boa” do ponto de vista filosófico do que a nossa existência contínua. Novamente, mesmo que o suicídio seja uma opção válida, pode não ser a mais acertada. Penso que seria complicado identificar uma circunstância onde o suicídio seja a escolha mais adequada. Como resultado de tudo, penso que devemos continuar vivendo para obter a alegria do momento e acumular vivências que farão do nosso eu atual algo mais amplo. Portanto, ao morrer, você saberá que deu o seu melhor, simplesmente por ser quem é. Exatamente porque tudo que inicia termina. Pense em assistir a um filme com tempo indeterminado. Ou viver uma vida onde seu fim nunca chegaria. A essência da vida é desfrutar de cada instante, realizando nossos desejos e nos permitindo descobrir novos conhecimentos e prazeres até o fim. O suicídio é uma solução permanente para um problema que pode ser algo do momento. Quando você morre, nada mais importa, você veio ao mundo para viver e o tempo é o bem mais precioso que você tem, lembre-se disso. O tempo é considerado um bem precioso por sua escassez e impossibilidade de recuperá-lo. Além disso, cada momento da vida traz consigo repercussões, e é o tempo que permite a formação da vida. A valorização do tempo é fundamental para o sucesso, pois ajuda a fazer escolhas mais acertadas e a ter uma maior consciência das opções e prioridades.
REFERÊNCIAS
Luto e melancolia . Livro por Sigmund Freud Acesso em: 16/11/2024 acessível: em: https://www.amazon.com.br/s? k=luto+e+melancolia+freud&adgrpid
Menções honrosas ao psiquiatra e médico brasileiro Roosevelt Casola, camus, Aristóteles e Schopenhauer, que já estudaram o suicídio (nenhum trabalho específico foi citado neste texto).
No entanto, o objetivo principal desta teoria foi apresentar detalhadamente a minha visão pessoal sobre o suicídio, resultando na criação de um método terapêutico mais eficaz para prevenir e resolver esse problema. O suicídio não é a resposta para a dor, mas sim um resultado dessa dor. É crucial desconstruir essa concepção e evidenciar que há outros métodos para enfrentar os desafios. A existência é um constante processo de aprendizado e desenvolvimento, sendo possível ultrapassar qualquer barreira. Atenciosamente, Renan J Vencato, psicanalista e terapeuta