A SUCESSÃO ECOLÓGICA DA FAUNA CADAVÉRICA EM ESTÁGIOS AVANÇADOS DE DECOMPOSIÇÃO: UMA ANÁLISE DE CASO INDIRETA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202505151337


Flávio José Teles de Morais1
Marco Silva Leles2


RESUMO

A entomologia forense representa ferramenta valiosa na estimativa do intervalo post-mortem (IPM), particularmente através da análise da sucessão ecológica da fauna cadavérica. No entanto, em estágios avançados de decomposição, como a esqueletização, a interpretação dos achados entomológicos apresenta desafios específicos, incluindo a frequente ausência de fauna cadavérica evidente à macroscopia. Este estudo analisa a dinâmica da sucessão ecológica da fauna cadavérica em estágios avançados de decomposição, fundamentando-se em revisão da literatura especializada e análise crítica de caso pericial documentado na região do Cerrado brasileiro. A metodologia empregou abordagem analítica indireta, interpretando achados necroscópicos e entomológicos à luz de parâmetros ambientais específicos. Os resultados demonstram que a ausência de fauna primária (dípteros Calliphoridae, Sarcophagidae) e a presença apenas residual de fauna secundária e terciária em cadáveres esqueletizados não indicam necessariamente IPM prolongado, mas refletem fase específica da sucessão ecológica, particularmente acelerada em ambiente tropical com temperatura média de 35,4°C. A análise integrada permitiu estabelecer relação de compatibilidade entre o padrão de fauna cadavérica observado e intervalo de decomposição de aproximadamente três semanas, corroborando estimativas baseadas em outros parâmetros tanatológicos. Conclui-se que a interpretação adequada da fauna cadavérica em estágios avançados de decomposição exige compreensão específica dos ciclos de colonização e abandono do substrato, particularmente em condições tropicais, destacando a importância da abordagem integrada na análise entomológica forense.

Palavras-chave: Entomologia Forense; Fauna Cadavérica; Esqueletização; Sucessão Ecológica; Clima Tropical.

1. INTRODUÇÃO

A entomologia forense, definida como a aplicação do estudo dos insetos e outros artrópodes em contextos médico-legais e criminais, representa ferramenta investigativa de valor crescente nas ciências forenses contemporâneas. Sua principal aplicação consiste na estimativa do intervalo post-mortem (IPM) através da análise da sucessão ecológica da fauna cadavérica – a sequência previsível de colonização, desenvolvimento e substituição de comunidades de artrópodes que utilizam o cadáver como substrato ecológico (Amendt et al., 2011).

A colonização cadavérica por artrópodes segue padrão relativamente ordenado, com diferentes grupos taxonômicos aparecendo, dominando e sendo substituídos em intervalos temporais que, embora variáveis conforme condições ambientais, apresentam sequência característica. Esta sucessão ecológica tem sido amplamente estudada e documentada, fornecendo base científica para estimativas temporais em investigações médico-legais (Byrd & Castner, 2009).

Tradicionalmente, a fauna cadavérica é classificada em categorias ecológicas relacionadas a seu papel no processo de decomposição e ao momento de sua chegada ao cadáver. Smith (1986) estabeleceu classificação atualmente aceita que reconhece quatro grupos principais: (1) necrófagos – organismos que se alimentam diretamente do tecido cadavérico; (2) predadores e parasitas – que se alimentam de outros artrópodes presentes no cadáver; (3) onívoros – que consomem tanto o tecido cadavérico quanto a fauna associada; e (4) acidentais – organismos que utilizam o cadáver como extensão de seu habitat natural sem relação direta com o processo de decomposição.

Em perspectiva temporal, a colonização sucessional é frequentemente categorizada em ondas ou fases, refletindo a cronologia da chegada de diferentes grupos ao cadáver. Dípteros das famílias Calliphoridae e Sarcophagidae tipicamente representam os primeiros colonizadores (fauna primária), atraídos pelos odores cadavéricos iniciais e capazes de localizar o corpo em questão de minutos após a morte em condições favoráveis. Estes são seguidos por dípteros Muscidae e diversos coleópteros (fauna secundária), que predominam durante fases intermediárias da decomposição. Nas fases mais avançadas, coleópteros das famílias Dermestidae, Cleridae e Scarabaeidae, além de diversos lepidópteros e ácaros, compõem a fauna terciária, especializada em consumir tecidos desidratados, queratinizados e restos esqueletizados (Silva et al., 2022).

Enquanto as fases iniciais e intermediárias da sucessão entomológica têm sido extensivamente estudadas e documentadas, proporcionando parâmetros relativamente precisos para estimativas do IPM, os estágios avançados da decomposição, particularmente a fase de esqueletização, apresentam desafios interpretativos específicos. Nestes estágios, a fauna cadavérica frequentemente apresenta-se menos abundante, mais dispersa e, em muitos casos, ausente à observação macroscópica direta, criando cenário aparentemente contraditório: um cadáver em estágio avançado de decomposição com limitada evidência entomológica visível (Cockle-Hearne & Di Maggio, 2021).

Esta aparente contradição representa desafio significativo em análises periciais, particularmente em contextos tropicais como o brasileiro, onde a decomposição acelerada frequentemente resulta em rápida progressão para estágios avançados. Em tais cenários, a ausência de fauna cadavérica evidente pode ser erroneamente interpretada como indício de IPM extremamente prolongado (quando a colonização entomológica já teria completado seu ciclo há muito tempo) ou, alternativamente, como evidência de condições que impediram a colonização inicial – ambas interpretações potencialmente equivocadas (Cardoso et al., 2021).

A compreensão adequada deste fenômeno exige análise aprofundada da dinâmica de sucessão completa, incluindo não apenas as fases de colonização, mas também os processos de abandono do substrato cadavérico. Em perspectiva ecológica, o cadáver representa recurso nutricional temporário que, uma vez consumido ou significativamente transformado, torna-se progressivamente menos atrativo para a fauna associada. A fase de esqueletização, caracterizada pela remoção da maior parte da matéria orgânica mole, representa estágio em que o potencial nutritivo do substrato foi substancialmente reduzido, resultando naturalmente em declínio populacional e eventual abandono por grande parte da comunidade entomológica previamente estabelecida (Campobasso & Introna, 2021).

Em clima tropical, como o predominante em grande parte do território brasileiro, esta dinâmica de sucessão apresenta particularidades adicionais. A combinação de temperatura e umidade elevadas acelera tanto o metabolismo dos insetos quanto os processos de decomposição gerais, resultando em progressão mais rápida através das diferentes fases da sucessão ecológica. Silva et al. (2022) demonstraram que, em condições tropicais com temperatura média acima de 30°C, o ciclo completo de colonização e abandono pode ocorrer em período surpreendentemente curto – três a quatro semanas para cadáveres com exposição ambiental irrestrita.

O Cerrado brasileiro, segunda maior formação vegetal da América do Sul, apresenta características climáticas específicas que influenciam significativamente a dinâmica da fauna cadavérica. A sazonalidade marcante, com estação seca e chuvosa bem definidas, modula a composição, abundância e atividade da entomofauna regional. O período de transição entre estações (outubro-novembro) representa momento ecologicamente singular, caracterizado pelo aumento progressivo da temperatura e umidade, favorecendo explosão populacional de diversas espécies entomológicas, incluindo muitos dípteros e coleópteros de relevância forense (Oliveira-Costa, Antunes & Azevedo, 2021).

Esta combinação de fatores – decomposição acelerada em clima tropical, rápida progressão da sucessão entomológica, e abandono do substrato em fases avançadas – cria cenário interpretativo complexo para análises entomológicas forenses em casos de esqueletização. A ausência de fauna cadavérica evidente à macroscopia em tais casos não representa anomalia, mas fase específica e previsível do processo de sucessão, que deve ser interpretada no contexto das condições ambientais particulares do caso (Matuszewski & Mądra-Bielewicz, 2021).

Particularmente desafiadores são os cenários de análise indireta, onde o perito não participa da coleta inicial de materiais entomológicos, mas deve interpretar achados documentados em relatórios, fotografias e outros registros disponíveis. Nestes casos, a interpretação adequada da presença limitada ou ausência de fauna cadavérica evidente exige abordagem analítica específica, fundamentada em sólido conhecimento da dinâmica de sucessão completa e sua modulação por fatores ambientais (Gennard, 2023).

O presente estudo tem como objetivo principal analisar a dinâmica da sucessão ecológica da fauna cadavérica em estágios avançados de decomposição, com ênfase particular na interpretação da ausência ou presença limitada de evidência entomológica macroscópica em cadáveres esqueletizados. Busca-se compreender este fenômeno não como anomalia, mas como fase específica e previsível do processo de sucessão, particularmente em contextos tropicais como o Cerrado brasileiro.

Adicionalmente, pretende-se demonstrar a aplicabilidade deste conhecimento em análises periciais indiretas, onde a interpretação adequada dos achados entomológicos limitados deve ser contextualizada em parâmetros ambientais específicos e integrada a outros aspectos tanatológicos. Para tanto, será analisado caso documentado de cadáver encontrado em fase de esqueletização na região do Cerrado brasileiro, com temperatura média de 35,4°C durante o período relevante, discutindo-se a interpretação médico-legal da fauna cadavérica observada.

A relevância deste estudo fundamenta-se na necessidade de aprofundar a compreensão dos aspectos entomológicos da decomposição avançada em clima tropical, fornecendo subsídios para interpretações periciais mais acuradas e cientificamente fundamentadas. Em contexto mais amplo, contribui para o desenvolvimento de uma entomologia forense adaptada às realidades ecológicas brasileiras, superando a simples importação de parâmetros desenvolvidos em regiões temperadas.

2. MÉTODOS

O presente trabalho constitui uma revisão metodológica da literatura científica especializada sobre a sucessão ecológica da fauna cadavérica em estágios avançados de decomposição, complementada por análise crítica de caso pericial documentado. Por sua natureza de revisão metodológica, este estudo está dispensado de avaliação pelo sistema CEP/CONEP, conforme estabelecido no Art. 1º, Parágrafo Único, inciso VII da Resolução CNS 510/16.

2.1 Estratégia de Busca e Seleção da Literatura

Foi realizada busca sistemática nas principais bases de dados científicas, incluindo PubMed/MEDLINE, Scopus, Web of Science, SciELO e LILACS, abrangendo o período de 1985 a 2023. Adicionalmente, foram consultados livros-texto de entomologia forense, medicina legal e tafonomia.

Os descritores utilizados, em diferentes combinações, incluíram: “entomologia forense”, “fauna cadavérica”, “sucessão entomológica”, “esqueletização”, “decomposição avançada”, “clima tropical”, “Cerrado”, “análise indireta” e seus correspondentes em inglês (“forensic entomology”, “cadaveric fauna”, “entomological succession”, “skeletonization”, “advanced decomposition”, “tropical climate”, “Brazilian Cerrado”, “indirect analysis”).

Os critérios de inclusão abrangeram: (1) artigos originais, revisões sistemáticas, metanálises e capítulos de livros que abordassem a sucessão ecológica da fauna cadavérica; (2) publicações com foco específico em estágios avançados da decomposição; (3) estudos realizados em regiões tropicais, particularmente no Brasil; (4) trabalhos que discutissem metodologias para análise entomológica indireta.

Foram excluídos: (1) estudos focados exclusivamente em aspectos iniciais da colonização entomológica; (2) publicações sem fundamentação metodológica adequada; (3) trabalhos que não abordassem aspectos sucessão ecológica em clima tropical.

2.2 Caracterização Entomológica Regional

Para contextualização adequada, foram analisados estudos entomológicos realizados na região do Cerrado brasileiro, com foco particular no estado de Goiás e regiões adjacentes. Buscou-se identificar a composição específica da entomofauna cadavérica regional, sua dinâmica sazonal e padrões de sucessão típicos documentados em estudos de campo.

Especial atenção foi dedicada à caracterização da fauna entomológica durante o período de transição entre estação seca e chuvosa (mês de outubro), considerando suas particularidades relevantes para processos de colonização e abandono cadavérico. Este período representa momento ecologicamente singular, com mudanças significativas na disponibilidade de água, temperatura e recursos alimentares, influenciando diretamente a composição e atividade da entomofauna regional.

2.3 Análise de Caso Documentado

Foi realizada análise crítica de documentação pericial referente a caso de cadáver encontrado em estágio avançado de decomposição (esqueletização) na região do Cerrado brasileiro, com ênfase nos achados entomológicos documentados. Esta análise fundamentou-se em material documental proveniente de arquivos médico-legais despersonalizados, sem identificação de vítimas ou circunstâncias específicas que permitissem individualização do caso.

Foram documentados e analisados os seguintes elementos:

Características do estágio de decomposição observado, com ênfase no grau de esqueletização e decomposição diferencial de diferentes regiões corporais

Documentação da fauna cadavérica presente, incluindo presença ou ausência de diferentes grupos taxonômicos, evidências de atividade prévia (pupários vazios, galerias em tecidos, etc.), e padrões de distribuição no cadáver

Dados ambientais específicos do período relevante, incluindo temperatura média, umidade relativa do ar, precipitação e características do local de exposição

Intervalo cronológico entre o último contato documentado com a vítima e a descoberta do corpo, estabelecendo parâmetro referencial para validação das interpretações entomológicas

2.4 Metodologia de Análise Indireta da Fauna Cadavérica

A análise indireta da fauna cadavérica foi realizada seguindo metodologia adaptada de Byrd & Castner (2009) e Gennard (2023), adequada para interpretação de achados entomológicos em casos onde não houve coleta entomológica sistemática durante o exame necroscópico inicial. Esta metodologia fundamenta-se na triangulação de três elementos principais:

Documentação Visual: Análise de registros fotográficos disponíveis, buscando identificar (quando possível) grupos taxonômicos presentes, sinais de atividade entomológica prévia, e padrões de distribuição da fauna no cadáver. Particular atenção foi dedicada a evidências como pupários vazios, casulos, exúvias e galerias em tecidos, que documentam atividade entomológica mesmo na ausência dos organismos vivos.

Relatórios Descritivos: Análise das descrições verbais presentes em laudos e relatórios, interpretando terminologia não-especializada dentro de parâmetros entomológicos científicos (por exemplo, traduções de termos como “vermes”, “larvas” ou “pequenos insetos” para categorias taxonômicas compatíveis com as descrições apresentadas).

Contextualização Ambiental: Caracterização detalhada das condições ambientais específicas do período e local relevantes, permitindo inferências sobre a composição provável da entomofauna disponível para colonização, modulações sazonais de sua atividade, e efeitos da temperatura e umidade sobre a velocidade de desenvolvimento dos ciclos biológicos.

Esta triangulação permite, mesmo na ausência de coleta entomológica sistemática, estabelecer interpretações fundamentadas sobre o provável padrão de sucessão ocorrido e sua correlação temporal com o intervalo post-mortem.

2.5 Abordagem Interpretativa

A interpretação dos achados entomológicos foi realizada seguindo abordagem ecológica integrada, que reconhece:

A natureza dinâmica e completa do processo de sucessão, incluindo tanto as fases de colonização quanto de abandono do substrato

A modulação significativa deste processo por fatores ambientais, particularmente temperatura e umidade

As particularidades da fauna regional e sua resposta a variações sazonais

A interação entre condições do cadáver (traumatismos, exposição diferencial de tecidos) e padrões de colonização

A necessidade de interpretação integrada com outros achados tanatológicos

Esta abordagem visa superar limitações interpretativas comuns, particularmente a tendência a considerar apenas a fauna presente no momento do exame, sem considerar o ciclo sucessional completo e as evidências indiretas de colonização prévia.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Sucessão Ecológica da Fauna Cadavérica: Perspectiva Completa

3.1.1 Ciclo Completo: Da Colonização ao Abandono

A análise da literatura contemporânea revela compreensão progressivamente mais sofisticada da sucessão entomológica cadavérica, superando visões simplificadas que a limitavam a fases de colonização inicial. O ciclo de sucessão completo abrange não apenas a chegada e desenvolvimento das comunidades entomológicas, mas também sua eventual diminuição e abandono do substrato, criando padrão cíclico que corresponde ao potencial nutritivo do recurso cadavérico ao longo do tempo (Amendt et al., 2011).

Byrd & Castner (2009) documentam cinco fases principais neste ciclo completo:

Fase Inicial (Colonização Primária): Caracterizada pela chegada rápida de dípteros Calliphoridae e Sarcophagidae (moscas varejeiras e de carne), atraídos por compostos voláteis liberados nas primeiras horas após a morte. Em condições favoráveis, estes dípteros podem localizar e ovipositar no cadáver em questão de minutos a horas após a morte. Particularmente em clima tropical, esta colonização ocorre com extrema rapidez, frequentemente limitada apenas por condições de acessibilidade física ao cadáver.

Fase de Desenvolvimento Inicial: Periodo caracterizado pelo desenvolvimento das primeiras gerações de larvas de dípteros, que consomem ativamente os tecidos moles. A voracidade deste consumo é notável – Matuszewski & Mądra-Bielewicz (2021) documentaram que massas larvais de Calliphoridae podem consumir até 80% do tecido mole de um cadáver em período tão curto quanto 5-7 dias em temperatura de 30°C. Durante esta fase, predadores e parasitas dos dípteros (principalmente coleópteros Silphidae e Staphylinidae) começam a aparecer, atraídos não pelo cadáver em si, mas pela abundante fonte alimentar representada pelas larvas em desenvolvimento.

Fase de Transição: Marcada pela pupação da primeira geração de dípteros e pela chegada de colonizadores secundários, principalmente dípteros Muscidae e Piophilidae, além de coleópteros necrófagos como Cleridae e Dermestidae. Este período corresponde aproximadamente às fases inchada e de decomposição ativa descritas na literatura tanatológica tradicional. Em clima tropical, com temperatura média acima de 30°C, esta transição ocorre tipicamente entre o 5º e 10º dia após a morte.

Fase Avançada: Caracterizada pela dominância de coleópteros e pela redução progressiva da população de dípteros. Durante esta fase, os tecidos mais facilmente degradáveis foram consumidos, restando principalmente tendões, ligamentos, pele ressecada e cartilagens. Coleópteros especializados, particularmente Dermestidae e Cleridae, tornam-se predominantes, consumindo estes tecidos mais resistentes. Em clima tropical, esta fase tipicamente inicia-se entre 10-15 dias após a morte, dependendo das condições ambientais específicas.

Fase de Abandono: Representando o estágio final da sucessão, caracteriza-se pela diminuição progressiva e eventual ausência da maior parte da fauna cadavérica ativa. Com a remoção da maioria dos tecidos nutritivos, o substrato torna-se progressivamente menos atrativo para os colonizadores. Evidências da colonização prévia permanecem na forma de pupários vazios, exúvias, galerias em tecidos resistentes e modificações da superfície óssea, mas a fauna viva torna-se esparsa e frequentemente ausente à observação macroscópica casual. Em estudos realizados em clima tropical, Oliveira-Costa, Antunes & Azevedo (2021) documentaram que esta fase pode ser alcançada em período tão curto quanto 3-4 semanas após a morte, contrastando com os meses tipicamente necessários em climas temperados.

O reconhecimento deste ciclo completo é fundamental para a interpretação adequada da ausência ou presença limitada de fauna cadavérica em estágios avançados da decomposição. Esta ausência não representa anomalia no processo sucessão, mas fase natural e previsível, particularmente acelerada em clima tropical.

3.1.2 Cronologia Modificada em Clima Tropical

A cronologia da sucessão entomológica é significativamente modulada por fatores ambientais, particularmente pela temperatura. Em clima tropical, como o predominante em grande parte do território brasileiro, esta modulação resulta em aceleração pronunciada de todas as fases do ciclo de sucessão.

Silva et al. (2022) documentaram, em estudos realizados em diversas regiões brasileiras, modificações significativas na cronologia de sucessão quando comparada àquela observada em regiões temperadas:

Colonização Inicial: Em temperatura média acima de 30°C, a localização e oviposição inicial por dípteros Calliphoridae pode ocorrer em questão de minutos após a exposição do cadáver, contrastando com as horas tipicamente necessárias em temperaturas mais amenas. Particularmente relevante é a observação de que espécies tropicais como Chrysomya megacephala e Chrysomya albiceps, abundantes no Brasil, demonstram capacidade excepcional de localização rápida de recursos cadavéricos, mesmo em ambientes com vegetação densa.

Desenvolvimento Larval: A aceleração metabólica causada pela temperatura elevada resulta em desenvolvimento larval significativamente mais rápido. Enquanto em temperatura de 20°C larvas de Calliphoridae tipicamente requerem 10-14 dias para completar seu desenvolvimento até pupação, em temperatura de 35°C este mesmo desenvolvimento pode ser completado em apenas 4-6 dias. Esta aceleração não apenas afeta a velocidade do desenvolvimento individual, mas também a taxa de consumo tecidual coletivo, resultando em degradação muito mais rápida do substrato cadavérico.

Ciclo de Sucessão Completo: O efeito cumulativo desta aceleração nas diferentes fases resulta em progressão extremamente rápida através do ciclo de sucessão completo. Estudos realizados no Cerrado brasileiro com temperatura média similar à observada no caso em análise (35,4°C) documentaram ciclo completo – da colonização inicial ao abandono substancial do substrato – em período tão curto quanto 21-25 dias para cadáveres com exposição ambiental irrestrita.

Particularmente relevante é a observação de que a fase de abandono, caracterizada pela ausência ou presença apenas residual de fauna ativa, pode ser alcançada em aproximadamente 3 semanas em clima tropical, coincidindo com o período em que o cadáver atinge esqueletização substancial. Esta correlação temporal cria o fenômeno frequentemente observado em perícias: cadáveres esqueletizados com limitada evidência entomológica macroscópica ativa.

3.1.3 Especificidades da Fauna Cadavérica no Cerrado Brasileiro

A região do Cerrado brasileiro apresenta características ecológicas específicas que influenciam significativamente a composição e dinâmica da fauna cadavérica. Estudos entomológicos realizados neste bioma, particularmente nas regiões centrais de Goiás (próximas à área do caso em análise), identificaram particularidades relevantes para a interpretação forense:

Composição Específica da Entomofauna: Oliveira-Costa, Antunes & Azevedo (2021) documentaram predomínio das seguintes espécies de relevância forense no Cerrado central:

Dípteros primários: Chrysomya albiceps, Chrysomya megacephala, Cochliomyia macellaria e Lucilia eximia (Calliphoridae); Peckia (Pattonella) intermutans e Oxysarcodexia thornax (Sarcophagidae)

Dípteros secundários: Musca domestica, Ophyra aenescens (Muscidae); Piophila casei (Piophilidae)

Coleópteros: Dermestes maculatus (Dermestidae), Necrobia rufipes (Cleridae), Hister sp. (Histeridae) e Scarabaeidae diversos

Esta composição difere significativamente daquela observada em regiões temperadas, tanto em diversidade quanto em predominância relativa de diferentes grupos. Particularmente notável é a dominância de espécies invasoras do gênero Chrysomya, que frequentemente superam competitivamente espécies nativas nas fases iniciais da colonização.

Sazonalidade Marcante: A sazonalidade climática pronunciada do Cerrado, com estação seca e chuvosa bem definidas, impõe variações significativas na abundância e atividade da fauna cadavérica ao longo do ano. Silva et al. (2022) documentaram que:

Durante a estação seca (maio a setembro), observa-se redução na diversidade e abundância de dípteros, com prolongamento dos intervalos de desenvolvimento devido à desidratação mais rápida do substrato cadavérico

O período de transição entre estações (outubro-novembro) representa momento de explosão populacional para muitas espécies de dípteros, coincidindo com aumento da umidade e manutenção de temperaturas elevadas

Durante o pico da estação chuvosa (dezembro-fevereiro), chuvas intensas podem interromper temporariamente a atividade de oviposição de dípteros, criando padrões de colonização intermitente

Interação com Microclimas Locais: A heterogeneidade espacial do Cerrado, com mosaico de formações vegetais de diferentes densidades, cria microclimas que podem influenciar significativamente a atividade entomológica. Áreas de vegetação mais densa mantêm umidade mais elevada mesmo durante a estação seca, funcionando como refúgios para populações de dípteros, que podem rapidamente colonizar cadáveres em áreas mais abertas quando as condições se tornam favoráveis.

O período específico relevante para o caso em análise (outubro) corresponde precisamente à transição entre estação seca e chuvosa, momento ecologicamente singular caracterizado pelo aumento progressivo da umidade, manutenção de temperaturas elevadas e explosão populacional de muitas espécies de dípteros e coleópteros de relevância forense. Esta combinação cria condições ótimas para colonização rápida e intensa, desenvolvimento acelerado e, consequentemente, progressão extremamente rápida através do ciclo de sucessão completo.

3.2 Interpretação da Ausência de Fauna Cadavérica em Estágios Avançados

3.2.1 Significado Ecológico da Ausência Aparente

A ausência ou presença apenas residual de fauna cadavérica ativa em cadáveres esqueletizados representa fenômeno frequentemente observado em perícias médico-legais, particularmente em climas tropicais. Esta observação, aparentemente contra intuitiva quando se considera a riqueza da entomofauna tropical, possui fundamentação ecológica sólida, relacionada à natureza dinâmica da sucessão e às características do substrato cadavérico em estágios avançados da decomposição.

Campobasso & Introna (2021) analisaram este fenômeno sob perspectiva ecológica, identificando múltiplos fatores contribuintes:

Esgotamento de Recursos Alimentares: A esqueletização representa estágio em que a maior parte dos recursos alimentares preferenciais dos principais grupos necrófagos foi consumida. Tecidos moles, fluidos corporais e mesmo grande parte das estruturas queratinizadas podem ter sido substancialmente removidos pela atividade combinada de microrganismos e artrópodes necrófagos, restando principalmente estruturas ósseas com limitado valor nutricional para a maioria dos grupos entomológicos.

Mudanças no Perfil Químico: A evolução de decomposição altera progressivamente o perfil de compostos voláteis emitidos pelo cadáver. Os compostos altamente atrativos para dípteros primários (sulfeto de hidrogênio, cadaverina, putrescina) diminuem significativamente em estágios avançados, reduzindo o poder de atração do substrato para novos colonizadores. Simultaneamente, a desidratação progressiva reduz a emissão geral de odores, tornando o cadáver mais “quimicamente discreto” no ambiente.

Competição e Predação Intensas nas Fases Anteriores: As fases intermediárias da decomposição frequentemente apresentam intensa competição entre espécies necrófagas e elevada pressão predatória por espécies carnívoras. Esta dinâmica pode resultar em consumo acelerado dos recursos disponíveis e redução populacional através de predação, contribuindo para a diminuição da fauna total quando o cadáver atinge estágios avançados.

Emigração Ativa: Muitos grupos entomológicos apresentam comportamento emigratório ativo quando o substrato se torna subótimo. Particularmente bem documentado é o comportamento de larvas maduras de dípteros Calliphoridae, que frequentemente abandonam o cadáver em busca de solo adequado para pupação. Similarmente, adultos emergentes após a pupação tipicamente dispersam-se em busca de novos recursos, não permanecendo no cadáver original.

O resultado desta combinação de fatores é um padrão previsível de colonização intensa seguida por declínio populacional significativo e eventual abandono substancial do substrato. Este padrão não representa anomalia no processo de sucessão, mas fase natural e ecologicamente esperada, particularmente acelerada em clima tropical devido ao metabolismo intensificado tanto dos insetos quanto dos processos microbianos que potencializam a degradação tecidual.

Matuszewski & Mądra-Bielewicz (2021) enfatizam que esta dinâmica cria cenário característico em cadáveres esqueletizados: a evidência de colonização prévia intensa (pupários vazios, galerias em cartilagens, modificações superficiais nos ossos) coexiste com ausência ou presença apenas residual de fauna ativa. Este contraste representa precisamente a expressão da fase de abandono no ciclo de sucessão completo.

3.2.2 Evidências Indiretas de Colonização Prévia

A ausência de fauna cadavérica macroscopicamente evidente em cadáveres esqueletizados não significa ausência de colonização prévia. Diversos indicadores indiretos permitem identificar e caracterizar esta colonização, mesmo em análises realizadas após seu pico de atividade. Gennard (2023) categoriza estas evidências indiretas em:

Evidências Físicas: Incluem modificações na superfície e estrutura dos tecidos resistentes resultantes da atividade entomológica prévia. Entre estas, destacam-se:

Galerias e tunelamentos em cartilagens, particularmente nas regiões auricular, nasal e costal, frequentemente produzidas por larvas de Dermestidae

Sulcos superficiais em tecidos queratinizados como unhas e cabelos, característicos da alimentação de Dermestidae adultos e larvas

Perfurações agrupadas em padrões característicos em tecidos adipocerosos, frequentemente atribuíveis a larvas de Piophilidae

Alterações na textura superficial de ossos expostos, particularmente em áreas previamente ocupadas por massas larvais de dípteros

Evidências Estruturais: Compreendem estruturas remanescentes da atividade entomológica prévia, que podem persistir por períodos prolongados após o abandono do substrato. Incluem:

Pupários vazios de dípteros, frequentemente encontrados no solo circundante ou em cavidades naturais do cadáver esqueletizado

Exúvias (cutículas descartadas durante a muda) de larvas de coleópteros, particularmente Dermestidae, que podem permanecer aderidas a regiões protegidas do esqueleto

Casulos pupais de coleópteros predadores como Histeridae e Silphidae, frequentemente encontrados em cavidades naturais ou no substrato circundante

Acúmulos de frass (material fecal e restos alimentares) de larvas de coleópteros, particularmente características em colonizações por Dermestidae

Evidências Microambientais: Alterações no ambiente imediatamente circundante ao cadáver, resultantes da intensa atividade biológica prévia. Incluem:

Alterações na composição química do solo subjacente, particularmente enriquecimento com nitrogênio e fósforo derivados da decomposição acelerada e atividade entomológica

Modificações na vegetação circundante, incluindo áreas de vegetação morta (devido à toxicidade de fluidos decomposicionais) circundadas por anéis de vegetação exuberante (beneficiada pelo enriquecimento nutricional)

Presença de predadores secundários que, embora não diretamente associados ao processo de decomposição, são atraídos pelo histórico de intensa atividade biológica na área

Estas evidências indiretas podem persistir por períodos significativamente mais prolongados que a fauna cadavérica ativa, fornecendo indicadores valiosos da colonização prévia mesmo quando a análise ocorre durante a fase de abandono. Sua identificação e caracterização exigem exame detalhado e sistemático, frequentemente com auxílio de instrumentação óptica, e conhecimento específico dos padrões de modificação associados a diferentes grupos taxonômicos.

3.2.3 Fatores que Influenciam o Abandono do Substrato

A fase de abandono, caracterizada pela diminuição significativa ou ausência da fauna cadavérica ativa, apresenta variabilidade temporal considerável, sendo influenciada por múltiplos fatores ambientais e circunstanciais. Campobasso & Introna (2021) identificam os principais moduladores deste processo:

Fatores Climáticos: A temperatura exerce influência preponderante, acelerando tanto o desenvolvimento e metabolismo dos insetos quanto os processos microbianos que degradam o substrato. Em temperatura média de 35,4°C, como a documentada no caso em análise, a aceleração metabólica pode resultar em consumo e abandono do substrato em período até três vezes mais curto que o observado em regiões temperadas.

Acessibilidade e Exposição: Cadáveres com exposição ambiental irrestrita, permitindo colonização simultânea por múltiplos grupos entomológicos, tipicamente apresentam consumo mais rápido do substrato e, consequentemente, abandono mais precoce. Contrariamente, cadáveres parcialmente protegidos (enterrados superficialmente, envolvidos em materiais, ou em ambientes fechados) podem manter recursos por períodos mais prolongados, retardando a fase de abandono.

Tamanho e Constituição do Cadáver: A proporção entre massa corporal e superfície exposta influencia significativamente a velocidade do consumo entomológico. Cadáveres de menor massa com grande superfície exposta (como observado em vítimas de constituição magra) tendem a apresentar esqueletização e abandono mais rápidos que cadáveres de maior massa com superfície exposta proporcionalmente menor.

Traumatismos: Lesões que rompem barreiras anatômicas naturais, particularmente traumatismos cranioencefálicos, facilitam acesso precoce a tecidos internos, potencializando a colonização e acelerando o consumo do substrato. Byrd & Castner (2009) documentaram que cadáveres com traumatismos extensos podem apresentar esqueletização e abandono em período até 40% mais curto que cadáveres sem traumatismos comparáveis, em condições ambientais similares.

Competição Interespecífica: A diversidade e abundância relativa de diferentes grupos entomológicos influenciam a eficiência do consumo e, consequentemente, a velocidade do abandono. Silva et al. (2022) observaram que, no Brasil, a dominância de espécies invasoras altamente eficientes como Chrysomya albiceps e Chrysomya megacephala, frequentemente resulta em consumo particularmente rápido do substrato quando comparado a regiões onde espécies nativas menos eficientes predominam.

A análise destes fatores no contexto específico do caso em estudo – temperatura média de 35,4°C, exposição ambiental irrestrita, presença de traumatismos cranioencefálicos extensos (múltiplos orifícios por projétil de arma de fogo), período de transição entre estações no Cerrado brasileiro (outubro) – revela combinação particularmente favorável à progressão rápida através do ciclo de sucessão completo, culminando em abandono do substrato em período consistente com o intervalo documentado de aproximadamente três semanas.

3.3 Análise da Fauna Cadavérica em Contexto Tropical

3.3.1 Particularidades da Entomologia Forense em Clima Tropical

A aplicação da entomologia forense em climas tropicais, como o brasileiro, apresenta particularidades significativas em comparação com regiões temperadas, onde grande parte da literatura científica foi desenvolvida. Estas particularidades exigem adaptações metodológicas e interpretativas específicas, particularmente relevantes na análise de casos avançados como o presente (Oliveira-Costa, Antunes & Azevedo, 2021).

Aceleração Metabólica Generalizada: A temperatura constantemente elevada dos ambientes tropicais resulta em aceleração metabólica significativa em todos os organismos envolvidos no processo de decomposição, desde microrganismos até artrópodes. Esta aceleração não apenas aumenta a velocidade do desenvolvimento individual, mas potencializa sinergicamente a decomposição através da interação intensificada entre diferentes processos degradativos.

Maior Diversidade Taxonômica: Ambientes tropicais caracterizam-se por biodiversidade significativamente maior que regiões temperadas, incluindo maior diversidade de espécies de relevância forense. No Brasil, Silva et al. (2022) documentaram mais de 120 espécies de dípteros e 80 espécies de coleópteros associadas a cadáveres, contrastando com as 60-80 espécies de dípteros e 30-40 espécies de coleópteros tipicamente documentadas em estudos europeus ou norte-americanos. Esta maior diversidade cria padrões de sucessão mais complexos, com maior número de interações ecológicas.

Atividade Contínua ao Longo do Ano: Enquanto em regiões temperadas a atividade entomológica apresenta sazonalidade pronunciada, com períodos de dormência durante estações frias, nos trópicos a atividade mantém-se relativamente constante ao longo do ano, modulada principalmente por variações na umidade. Esta continuidade permite colonização efetiva em qualquer período, eliminando os intervalos sazonais de baixa atividade entomológica típicos de climas temperados.

Predominância de Espécies Invasoras Eficientes: No Brasil, espécies invasoras do gênero Chrysomya (C. albiceps, C. megacephala), introduzidas na década de 1970, estabeleceram-se como colonizadores dominantes em grande parte do território. Estas espécies caracterizam-se por eficiência excepcional na localização de recursos cadavéricos, desenvolvimento acelerado e voracidade larval acentuada, frequentemente superando competitivamente espécies nativas. O resultado é colonização particularmente intensa e consumo acelerado do substrato cadavérico.

Importância da Umidade como Modulador: Enquanto em climas temperados a temperatura representa o principal modulador da atividade entomológica, em ambientes tropicais, onde a temperatura mantém-se consistentemente elevada, a umidade emerge como fator modulador preponderante. Períodos de transição entre estações secas e úmidas (como outubro no Cerrado) representam momentos de atividade entomológica particularmente intensa, combinando temperatura elevada com aumento progressivo da umidade.

Estas particularidades convergem para padrão característico: em clima tropical, o ciclo de sucessão completo ocorre em período significativamente mais curto que em climas temperados, com transições mais rápidas entre as diferentes fases e abandono mais precoce do substrato esqueletizado. A interpretação adequada dos achados entomológicos nestas condições exige reconhecimento explícito desta aceleração generalizada e suas implicações para a estimativa do IPM.

3.3.2 Cronologia Modificada da Sucessão Ecológica em Temperatura Elevada

A temperatura exerce efeito profundo sobre todos os aspectos da sucessão ecológica da fauna cadavérica, influenciando tanto o metabolismo dos organismos individualmente quanto as interações ecológicas entre diferentes grupos. Em condições de temperatura constantemente elevada, como as observadas na região de Abadiânia/GO durante outubro (média de 35,4°C), esta influência resulta em modificação significativa da cronologia de sucessão.

Matuszewski & Mądra-Bielewicz (2021) analisaram sistematicamente o efeito da temperatura sobre diferentes aspectos do desenvolvimento e sucessão entomológica, documentando as seguintes modificações cronológicas em temperatura acima de 30°C:

Detecção e Colonização Inicial: A localização do recurso cadavérico por dípteros Calliphoridae pode ocorrer em questão de minutos após a exposição, com oviposição inicial frequentemente observada dentro da primeira hora. Em temperatura de 35°C, o desenvolvimento embrionário nos ovos completa-se em apenas 6-8 horas (versus 24 horas em 20°C), resultando em eclosão larval e início do consumo tecidual ainda no primeiro dia.

Desenvolvimento Larval Acelerado: O desenvolvimento das larvas de dípteros através de seus três instares é drasticamente acelerado. Em temperatura de 35°C, larvas de Chrysomya megacephala podem completar seus três estágios larvais em apenas 3-4 dias (versus 10-12 dias em 20°C). Este desenvolvimento acelerado não apenas reduz o tempo de presença larval, mas também intensifica seu impacto sobre o substrato devido ao aumento da taxa metabólica e consumo alimentar.

Pupação Precoce: A pupação das primeiras gerações de dípteros, que em temperaturas moderadas tipicamente ocorre após 7-10 dias, em temperatura de 35°C pode ser observada já no 4º-5º dia após a colonização inicial. Esta aceleração reduz significativamente a janela temporal em que grandes massas larvais são observáveis no cadáver.

Mudanças na Dominância: A transição na dominância entre diferentes grupos taxonômicos (de dípteros primários para secundários e destes para coleópteros) ocorre em intervalos mais curtos e frequentemente com maior sobreposição. Em temperatura elevada, coleópteros necrófagos como Dermestidae podem estabelecer-se enquanto dípteros primários ainda completam seu ciclo, criando padrão de colonização mais simultâneo que sequencial.

Ciclo Completo Acelerado: O efeito cumulativo destas acelerações resulta em progressão extremamente rápida através do ciclo de sucessão completo. Em temperatura constante de 35°C, Oliveira-Costa, Antunes & Azevedo (2021) documentaram que o ciclo completo – da colonização inicial ao abandono substancial – pode ser completado em apenas 21-25 dias para cadáveres com exposição ambiental irrestrita.

Esta cronologia modificada tem implicações diretas para a interpretação forense. A ausência de fauna cadavérica ativa em um cadáver esqueletizado após aproximadamente três semanas de exposição em temperatura elevada não representa anomalia no processo de sucessão, mas o resultado esperado da progressão acelerada através do ciclo completo, culminando naturalmente na fase de abandono.

3.3.3 Indicadores Entomológicos em Estágios Avançados da Decomposição

Embora a fauna cadavérica ativa possa estar significativamente reduzida ou ausente em estágios avançados da decomposição, diversos indicadores entomológicos específicos fornecem informações valiosas para análises forenses. Estes indicadores, quando adequadamente interpretados, podem contribuir substantivamente para estimativas do IPM mesmo em casos de esqueletização avançada (Cockle-Hearne & Di Maggio, 2021).

Pupários de Dípteros: Estruturas quitinosas resistentes que protegem a pupa durante a metamorfose, pupários vazios de dípteros podem persistir no ambiente por períodos prolongados após a emergência dos adultos. A identificação taxonômica destes pupários, associada à análise de seu estado de preservação e alterações post-emergência, pode fornecer informações relevantes sobre a colonização inicial. Pupários de Calliphoridae, particularmente, indicam colonização durante as primeiras fases da decomposição, enquanto pupários de Muscidae ou Piophilidae sugerem fases mais avançadas.

Exúvias de Coleópteros: As exúvias (cutículas descartadas durante a muda) de larvas de coleópteros necrófagos, particularmente Dermestidae, preservam características morfológicas que permitem identificação taxonômica e, em alguns casos, determinação do instar larval. A presença destas estruturas em cadáveres esqueletizados indica colonização por besouros necrófagos durante fases intermediárias a avançadas da decomposição.

Galerias e Modificações em Tecidos Resistentes: Diferentes grupos entomológicos produzem padrões característicos de modificação em tecidos resistentes à decomposição. Larvas de Dermestidae criam galerias características em cartilagens, enquanto larvas de Piophilidae frequentemente produzem conjuntos de perfurações em padrões reconhecíveis em tecidos adipocerosos. A identificação destas modificações permite inferências sobre a colonização mesmo após o abandono do substrato pelos organismos responsáveis.

Frass e Produtos Metabólicos: O material fecal (frass) de larvas de coleópteros, particularmente Dermestidae, apresenta características específicas que permitem identificação mesmo após o abandono do substrato. Acúmulos deste material em cavidades naturais do esqueleto ou no substrato circundante fornecem evidência de colonização prévia por estes organismos, tipicamente associados a fases intermediárias a avançadas da decomposição.

Alterações Microbiológicas Associadas: A atividade entomológica intensa modifica significativamente a microbiota associada ao cadáver e ao substrato circundante. Análises metagenômicas podem identificar assinaturas específicas destas modificações, fornecendo indicadores indiretos da atividade entomológica mesmo após seu término.

A análise integrada destes indicadores, considerando as particularidades da fauna regional e as condições ambientais específicas, permite reconstrução substancial da história de colonização do cadáver, mesmo quando a observação ocorre durante a fase de abandono. Esta reconstrução, por sua vez, fornece elementos valiosos para estimativas do IPM em casos de decomposição avançada como o presente.

3.4 Análise de Caso: Interpretação da Fauna Cadavérica em Cadáver Esqueletizado

3.4.1 Contexto do Caso e Achados Entomológicos Documentados

O caso em análise refere-se a cadáver encontrado em estado avançado de decomposição (fase de esqueletização) na região de Abadiânia/GO, durante o mês de outubro, com documentação de temperatura média de 35,4°C durante o período relevante. O corpo apresentava múltiplos traumatismos cranioencefálicos causados por projéteis de arma de fogo e havia permanecido com exposição ambiental irrestrita em área de vegetação característica do Cerrado brasileiro. O intervalo entre o último contato documentado com a vítima e a descoberta do corpo foi de aproximadamente 21 dias.

A documentação disponível registra os seguintes achados entomológicos:

Fauna Ativa Limitada: Ausência de larvas vivas de dípteros em qualquer estágio de desenvolvimento. Presença apenas residual de coleópteros adultos, identificados preliminarmente como pertencentes às famílias Dermestidae e Cleridae, em número significativamente reduzido e concentrados principalmente em áreas onde persistiam pequenos fragmentos de tecido ressecado.

Evidências de Colonização Prévia: Documentação fotográfica evidenciando:

Numerosos pupários vazios de dípteros, majoritariamente compatíveis com Calliphoridae, encontrados no solo circundante e em cavidades naturais do esqueleto

Exúvias de larvas de coleópteros, compatíveis com Dermestidae, aderidas a regiões protegidas do esqueleto, particularmente na base do crânio e região pélvica

Galerias características em remanescentes cartilaginosos, particularmente nas cartilagens costais e região auricular, compatíveis com atividade de larvas de Dermestidae

Alterações na textura superficial em áreas ósseas previamente cobertas por tecidos moles, sugestivas de atividade de massas larvais de dípteros

Alterações no Ambiente Circundante: O registro documenta ainda:

Área de solo com coloração alterada e vegetação rasteira morta imediatamente sob o cadáver, circundada por anel de vegetação mais exuberante que o entorno, padrão característico de Island of Decomposition (Ilha de Decomposição)

Concentração de predadores secundários, particularmente aranhas, na vegetação circundante, sugestiva de prévia abundância de presas (insetos associados ao cadáver)

Estes achados, embora inicialmente interpretados como potencialmente inconsistentes com o intervalo documentado de 21 dias devido à limitada presença de fauna ativa, representam na realidade padrão característico da fase de abandono do ciclo de sucessão, particularmente acelerado pelas condições ambientais específicas do caso.

3.4.2 Interpretação no Contexto da Sucessão Ecológica em Clima Tropical

A interpretação adequada dos achados entomológicos documentados exige contextualização nas condições ambientais específicas e fundamentação no conhecimento da sucessão ecológica completa em clima tropical, incluindo a fase de abandono do substrato.

Análise da Ausência de Dípteros Ativos: A ausência de larvas vivas de dípteros, quando contextualizada na temperatura constantemente elevada (média de 35,4°C), é consistente com progressão acelerada através do ciclo de desenvolvimento. Em tais condições, larvas de Calliphoridae podem completar seu desenvolvimento e abandonar o cadáver para pupação em apenas 4-5 dias após a oviposição inicial. Considerando o intervalo de 21 dias, múltiplas gerações de dípteros poderiam ter completado seu ciclo e abandonado o substrato antes da descoberta do corpo.

Interpretação da Presença Residual de Coleópteros: A presença apenas residual de coleópteros adultos, concentrados em áreas com fragmentos remanescentes de tecido ressecado, é característica da fase final da sucessão. Dermestidae e Cleridae tipicamente permanecem por períodos mais prolongados que dípteros, mas também eventualmente abandonam o substrato quando os recursos alimentares tornam-se escassos. Sua presença residual, restrita a áreas específicas com tecido remanescente, é consistente com estágio final da colonização por estes organismos.

Evidências de Colonização Intensa Prévia: A abundância de evidências indiretas da colonização prévia – pupários vazios numerosos, exúvias, galerias em cartilagens – demonstra que o cadáver experimentou colonização entomológica intensa antes de atingir o estágio de abandono. Estas evidências são particularmente valiosas por fornecerem registro da colonização mesmo após seu término ativo, permitindo inferências retrospectivas sobre a história de decomposição.

Ilha de Decomposição: As alterações documentadas no ambiente circundante, incluindo modificações no solo e vegetação, são consistentes com processo de decomposição acelerado por intensa atividade entomológica. O padrão de “ilha de decomposição” – área central com solo alterado e vegetação morta circundada por anel de vegetação exuberante – representa assinatura característica de cadáver que experimentou decomposição acelerada com significativa mediação entomológica.

A análise integrada destes elementos, considerando as particularidades climáticas regionais e as características específicas do caso (exposição ambiental irrestrita, traumatismos cranioencefálicos extensos, período de transição entre estações), permite interpretação coerente: os achados entomológicos documentados representam expressão característica da fase de abandono do ciclo de sucessão, atingida após progressão acelerada através das fases anteriores devido às condições ambientais excepcionalmente favoráveis à decomposição rápida.

Esta interpretação é consistente com o intervalo documentado de aproximadamente 21 dias entre o último contato com a vítima e a descoberta do corpo, período suficiente para progressão completa através do ciclo sucessão em temperatura média de 35,4°C, culminando na fase de abandono caracterizada precisamente pelos achados documentados.

3.4.3 Integração com Outros Achados Tanatológicos

A interpretação dos achados entomológicos deve ser integrada aos demais aspectos tanatológicos documentados, buscando análise holística do processo de decomposição. No caso em estudo, diversos elementos convergem para interpretação coerente:

Estado de Esqueletização: O avançado estado de esqueletização documentado, quando contextualizado na temperatura média de 35,4°C, é consistente com intervalo de decomposição de aproximadamente três semanas. Estudos realizados em condições climáticas comparáveis demonstram que a esqueletização pode ser alcançada em período similar quando há exposição ambiental irrestrita, particularmente em casos com traumatismos extensos como os documentados.

Traumatismos Cranioencefálicos: Os múltiplos orifícios por projétil de arma de fogo na região craniana representam fator adicional significativo, facilitando acesso precoce de insetos necrófagos a tecidos internos ricos em nutrientes. Esta facilitação potencializa a colonização inicial e acelera o processo de decomposição como um todo, contribuindo para a rápida progressão à fase de esqueletização e subsequente abandono entomológico do substrato.

Ausência de Fenômenos Putrefativos Evidentes: A documentação descreve ausência de fenômenos putrefativos iniciais como mancha verde abdominal. Esta ausência, quando interpretada isoladamente, poderia sugerir IPM extremamente prolongado; no entanto, quando contextualizada nas condições climáticas específicas, reflete simplesmente a progressão extremamente rápida através destas fases iniciais, rapidamente sobrepujadas pela decomposição avançada e esqueletização.

Período Climático Específico: O mês de outubro representa momento de transição entre a estação seca e chuvosa no Cerrado, caracterizado por aumento progressivo da umidade enquanto se mantêm temperaturas elevadas. Esta combinação cria condições particularmente favoráveis tanto para atividade microbiológica quanto entomológica intensificadas, potencializando significativamente a decomposição.

A integração destes diferentes aspectos revela convergência notável: todos os elementos analisados – entomológicos, tanatológicos, traumatológicos e ambientais – são consistentes com processo de decomposição acelerado devido às condições específicas do caso, resultando em progressão rápida à fase de esqueletização e abandono entomológico do substrato em período compatível com o intervalo documentado de aproximadamente 21 dias.

Esta convergência analítica fortalece substancialmente a interpretação proposta, demonstrando como a análise integrada permite conclusões significativamente mais fundamentadas que a consideração isolada de aspectos específicos, particularmente em casos complexos como o presente.

4. CONCLUSÃO

A análise da sucessão ecológica da fauna cadavérica em estágios avançados da decomposição, particularmente no contexto de clima tropical, revela a importância fundamental de compreender o ciclo de sucessão completo, incluindo não apenas as fases de colonização, mas também o eventual abandono do substrato cadavérico. Esta compreensão é crucial para a interpretação adequada da ausência ou presença apenas residual de fauna cadavérica ativa em cadáveres esqueletizados, fenômeno frequentemente observado em perícias médico-legais, particularmente em regiões de clima quente como o Cerrado brasileiro.

A revisão da literatura científica especializada demonstra consistentemente que a sucessão entomológica representa processo dinâmico caracterizado por colonização intensa seguida por declínio populacional significativo e eventual abandono substancial do substrato quando os recursos nutritivos se tornam escassos. Em clima tropical, com temperatura média acima de 30°C, esta dinâmica é significativamente acelerada, resultando em progressão extremamente rápida através do ciclo de sucessão completo – da colonização inicial ao abandono – em período tão curto quanto 3-4 semanas para cadáveres com exposição ambiental irrestrita.

O caso analisado ilustra convincentemente esta dinâmica. A ausência de dípteros ativos e a presença apenas residual de coleópteros no cadáver esqueletizado descoberto após intervalo de aproximadamente 21 dias, longe de representar anomalia no processo de sucessão, constitui expressão característica da fase de abandono, alcançada após progressão acelerada através das fases anteriores devido às condições ambientais excepcionalmente favoráveis à decomposição rápida. As abundantes evidências indiretas da colonização prévia intensa – pupários vazios numerosos, exúvias, galerias em cartilagens – demonstram que o cadáver experimentou atividade entomológica significativa antes de atingir o estágio de abandono.

A interpretação   contextualizada destes achados entomológicos, considerando as particularidades climáticas regionais (temperatura média de 35,4°C, período de transição entre estações) e as características específicas do caso (exposição ambiental irrestrita, traumatismos cranioencefálicos extensos), permite estabelecer relação de compatibilidade entre o padrão de fauna cadavérica observado e intervalo de decomposição de aproximadamente três semanas. Esta interpretação converge notavelmente com análises baseadas em outros parâmetros tanatológicos, fortalecendo substancialmente a estimativa temporal proposta.

Particularmente relevante é a observação de que, em clima tropical, a ausência de fauna cadavérica ativa em cadáveres esqueletizados após intervalo de 3-4 semanas representa padrão esperado, não excepcional. Esta compreensão modifica substantivamente a interpretação forense de tais achados, permitindo estimativas temporais significativamente mais precisas e fundamentadas que aquelas baseadas em parâmetros desenvolvidos em regiões temperadas, onde o ciclo de sucessão completo tipicamente demanda meses.

As implicações para a prática médico-legal são substanciais. Peritos envolvidos na análise de casos em estágio avançado de decomposição, particularmente em perícias indiretas onde não foi realizada coleta entomológica sistemática, devem estar familiarizados com o ciclo de sucessão completo, incluindo a fase de abandono. Devem também buscar ativamente evidências indiretas da colonização prévia, mesmo quando a fauna ativa está ausente ou significativamente reduzida, reconhecendo o valor tanatocronológico destas evidências quando adequadamente interpretadas.

A abordagem analítica integrada emerge como metodologia fundamental, combinando a interpretação dos achados entomológicos com outros aspectos tanatológicos e contextualização ambiental rigorosa. Esta integração permite estimativas temporais significativamente mais confiáveis que a consideração isolada de aspectos específicos, particularmente em casos complexos como o analisado, onde a decomposição avançada e a limitada presença de fauna ativa poderiam facilmente induzir a interpretações equivocadas se analisadas fora de contexto.

Estudos futuros devem priorizar a caracterização detalhada da fase de abandono em diferentes condições   ambientais brasileiras, documentando sistematicamente os marcadores entomológicos indiretos que persistem após o término da colonização ativa. Especial atenção deve ser dedicada às particularidades regionais da entomofauna forense e suas interações ecológicas, desenvolvendo parâmetros específicos para diferentes biomas e condições climáticas do país.

A implementação destas recomendações contribuirá para o desenvolvimento de entomologia forense genuinamente adaptada às realidades ecológicas brasileiras, superando a simples importação de parâmetros desenvolvidos em regiões temperadas. Esta adaptação é particularmente crucial na análise de estágios avançados da decomposição, onde as diferenças entre padrões tropicais e temperados tornam-se especialmente pronunciadas, com implicações diretas para a interpretação médico-legal.

Por fim, a validação da análise entomológica contextualizada em casos concretos, como o apresentado neste estudo, demonstra seu valor prático na resolução de questões médico-legais complexas. A convergência entre as interpretações entomológicas e outras estimativas tanatocronológicas reforça a robustez desta abordagem, consolidando-a como metodologia cientificamente fundamentada e juridicamente válida para a estimativa do IPM em cenários desafiadores como cadáveres em avançado estado de decomposição em clima tropical.

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1Professor de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás), Médico Legista do quadro da Polícia Técnico-Científica de Goiás, Mestre em Ciências Ambientais e Saúde pela PUC Goiás.
2Perito Criminal do quadro da Polícia Técnico-Científica de Goiás e Chefe do Posto de Atendimento de Polícia Técnico-Científica em Morrinhos, Goiás.Currículo do autor