A SUBNOTIFICAÇÃO DOS CASOS DE HANSENÍASE NO PERÍODO PANDÊMICO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10700613


Eliane de Albuquerque Cozza1
Inês Maria Meneses dos Santos2
Alcione Matos de Abreu3
Davi da Silveira Barroso Alves4


RESUMO

Hanseníase está classificada pela a Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma Doença Tropical Negligenciadas (DTN) são um conjunto de doenças causadas por agentes infecciosos ou parasitas em populações da África, Ásia e América Latina, predominando em regiões tropicais em desenvolvimento, como o Brasil, e acometendo pessoas em situação de vulnerabilidade. Dentre os fatores associados às DTN, incluem a pobreza, acesso limitado à água limpa, condições precárias de higiene e de saneamento; tem atingido maior incidência nos últimos anos. Metodologia: Trata-se de um estudo comparativo que utilizou-se de dados coletados no Sistema Informação de Agravos de Notificação (SINAN) DATASUS referentes ao período de 2001 a 2022 disponibilizados. Resultados e discussão: No Brasil, ocorre desde 2017 ascensão das curvas de incidência, mantendo o país na liderança de casos no continente americano, com queda drástica no número de notificações de casos no ano de 2020, ano em que o mundo foi assolado pela pandemia SARSCoV-2, houve uma diminuição no número de notificações dos casos de Hanseníase, mas supõem-se que este fato se deve a uma subnotificação decorrente da restrição dos atendimentos de saúde no período da pandemia. Conclusão: a subnotificação do número de casos de hanseníase no período pandêmico favoreceu o aumento da taxa de mortalidade assim como as incapacidades físicas que poderiam ser evitadas, é de extrema importância a compreensão da doença, assim como de seu padrão epidemiológico,de tal forma não devendo ser negligenciada pelo poder público em nenhum momento. Palavras-chaves: subnotificação, Mycobacterium leprae, Pandemia.

ABSTRACT

Leprosy is classified by the World Health Organization (WHO) as a Neglected Tropical Disease (NTD). NTDs are a group of diseases caused by infectious agents or parasites in populations of Africa, Asia, and Latin America, predominantly in developing tropical regions, such as Brazil, affecting individuals in vulnerable conditions. Among the factors associated with NTDs are poverty, limited access to clean water, poor hygiene, and sanitation conditions; there has been an increased incidence in recent years. Methodology: This is a comparative study that used data collected from the Notifiable Diseases Information System (SINAN) DATASUS for the period from 2001 to 2022. Results and Discussion: In Brazil, there has been a rise in leprosy incidence curves since 2017, keeping the country at the forefront in the American continent. There was a dramatic drop in the number of case notifications in 2020, the year the world was struck by the SARS-CoV-2 pandemic. During this period, a decrease in leprosy case notifications was observed, which is assumed to be due to underreporting resulting from restricted health services. Conclusion: The underreporting of leprosy cases during the pandemic contributed to an increase in mortality rates and preventable physical disabilities. It is of utmost importance to understand the disease and its epidemiological pattern, which should not be neglected by public authorities at any time. Keywords: underreporting, Mycobacterium leprae, Pandemic.

1    INTRODUÇÃO

A hanseníase, também conhecida como lepra, é uma das doenças mais antigas da humanidade, com registros datados de mais de 600 a.C. Ela teve sua ocorrência documentada em várias partes do mundo, incluindo a Índia, a China e o Egito Antigo. Por muitos séculos, a doença foi associada a estigmas e preconceitos, o que levou a uma mudança significativa na nomenclatura no Brasil com a promulgação da lei n° 9.010 em 1995, buscando eliminar o estigma associado ao termo “lepra” (BRASIL, 2019). A história da hanseníase é fascinante e cheia de desafios. Ela foi mencionada nos textos médicos mais antigos, como os Vedas na Índia, e foi identificada em múmias egípcias. Ao longo dos séculos, essa doença misteriosa foi mal compreendida e muitas vezes associada a conceitos errôneos, como castigo divino. No entanto, somente no século XIX, o médico norueguês Gerhard Armauer Hansen identificou o bacilo responsável pela doença, o Mycobacterium leprae,

lançando as bases para o entendimento moderno da hanseníase. A hanseníase é uma doença infecciosa que afeta principalmente a pele e os nervos periféricos. Ela é transmitida de pessoa para pessoa por meio de secreções nasais e gotículas respiratórias, mas nem todas as pessoas expostas ao bacilo desenvolvem a doença. A maioria das infecções é assintomática ou paucibacilar, o que significa que os pacientes têm uma carga bacilar baixa e poucos sintomas visíveis. A forma multibacilar, com muitos bacilos, é mais contagiosa e pode causar deformidades e incapacidades se não for tratada a tempo. O diagnóstico precoce é fundamental para o controle da hanseníase.

Exames clínicos, testes de pele e avaliações neurológicas são usados para identificar os casos. A análise dos indicadores epidemiológicos, como a taxa de detecção de novos casos, a prevalência e a proporção de casos multibacilares, ajuda a monitorar a situação da doença em diferentes regiões (BRASIL, 2020). Felizmente, a hanseníase é uma doença tratável e curável. O tratamento padrão envolve a administração de antibióticos, como a rifampicina, a dapsona e a clofazimina, em regimes específicos. A terapia multidrogas é altamente eficaz e, quando seguida adequadamente, interrompe a transmissão da doença e previne complicações. Além disso, é importante fornecer cuidados de reabilitação aos pacientes, especialmente àqueles que apresentaram deformidades. A fisioterapia e a reabilitação neurológica são fundamentais para melhorar a qualidade de vida dos afetados. A hanseníase não afeta apenas a saúde das pessoas, mas também tem um impacto significativo no plano socioeconômico. O estigma associado à doença frequentemente leva ao isolamento social e à discriminação, dificultando a inclusão dos pacientes na sociedade. Isso pode resultar na perda de oportunidades de emprego e educação, afetando o bem-estar econômico das famílias afetadas. A pandemia de SARS-CoV-2, que começou em 2019, trouxe desafios adicionais para o controle da hanseníase. Os sistemas de saúde em todo o mundo foram sobrecarregados pela resposta à COVID- 19, o que afetou o diagnóstico e o tratamento de outras doenças, incluindo a hanseníase. A interrupção dos serviços de saúde, a redução de visitas clínicas e o adiamento de campanhas de sensibilização afetaram negativamente a detecção e o tratamento da hanseníase. Além disso, a pandemia exacerbou as desigualdades sociais, impactando de forma desproporcional as populações mais vulneráveis, incluindo os pacientes com hanseníase. A falta de acesso a serviços de saúde adequados e a interrupção dos programas de controle da hanseníase podem resultar em um aumento nos casos não diagnosticados e, consequentemente, em uma maior transmissão da doença. A hanseníase é uma doença antiga, mas ainda presente em muitas partes do mundo, incluindo o Brasil. A luta contra o estigma e a discriminação associados a essa doença é contínua. Através de políticas de saúde pública, educação e conscientização, é possível controlar a hanseníase e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. A pandemia de SARS-CoV-2 representou um desafio adicional para o controle da hanseníase, destacando a importância de manter os serviços de saúde essenciais e a vigilância epidemiológica mesmo durante crises de saúde global. Garantir o diagnóstico precoce, o tratamento eficaz e o apoio social contínuo aos pacientes com hanseníase é crucial para combater essa doença milenar e prevenir suas consequências devastadoras.

1.2    OBJETIVOS

Avaliar e comparar por meio de visualização gráfica o impacto da pandemia SARS-CoV-2 os números de diagnósticos, taxa de mortalidade, classificação do números de lesões hansênicas e número de comunicantes para hanseníase) , tirando como ponto de partida os números destas mesmas variáveis registradas no SINAN/DATASUS, em anos anteriores, evidenciar a subnotificação dos casos de hanseníase no período da pandemia.

1.3  METODOLOGIA

Um estudo comparativo com objetivo de demostrar uma análise e interpletação dos dados disponibilizados na na plataforma do Ministério da Saúde, por meio do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e do DATASUS, abrangendo o período de 2001 a 2022. Para a elaboração de gráficos e análises estatísticas, utilizou-se o software RStudio 2022.02, versão 4.2.1.

2    REFERENCIAL TEÓRICO

A hanseníase é uma doença infecciosa crônica causada pelo bacilo Mycobacterium leprae, que se caracteriza pela sua lenta multiplicação e afinidade por tecidos cutâneos e nervos periféricos. Esta doença, historicamente associada à marginalização e à pobreza, continua a ser um desafio significativo para a saúde pública, especialmente em países em desenvolvimento (NERY JS, et al., 2019). A transmissão da hanseníase é um processo complexo, ocorrendo principalmente através do contato direto e prolongado com pacientes infectados, especialmente nas formas mais contagiosas da doença. O mecanismo de transmissão não se limita à mera presença física do paciente infectado, mas envolve a exposição prolongada a secreções nasais e gotículas respiratórias do indivíduo doente (BRASIL, 2020). O tratamento atual da hanseníase é centrado na Poliquimioterapia (PQT), que é determinada pela classificação do paciente em duas categorias: paucibacilares, com até cinco lesões, e multibacilares, com mais de cinco lesões. Enquanto os pacientes paucibacilares geralmente completam o tratamento em seis meses, aqueles com formas multibacilares necessitam de um tratamento mais prolongado, estendendo-se por 12 meses (BRASIL, 2019). Além dos desafios do tratamento, os pacientes com hanseníase podem enfrentar reações hansênicas. Estas reações imunológicas ocorrem principalmente em pacientes com formas multibacilares da doença e podem levar a incapacidades físicas e deformidades se não forem tratadas corretamente (BRASIL, 2019). A hanseníase é fortemente influenciada por fatores socioeconômicos, com sua prevalência estando intimamente relacionada às condições de vida dos pacientes e suas famílias. As barreiras no acesso a recursos básicos, como insumos de higiene e alimentação, exacerbam o risco de adoecimento, além de agravar condições de saúde preexistentes (UNITED NATIONS HUMAN RIGHTS, 2020). A pandemia de COVID-19 trouxe desafios adicionais no manejo da hanseníase no Brasil. Os pacientes de hanseníase, particularmente aqueles em tratamento de reações hansênicas com corticoides, foram considerados parte do grupo de risco para COVID-19. Além disso, a alta demanda por corticoides para tratar pacientes com COVID-19 levou à escassez desses medicamentos nas unidades de saúde, prejudicando o tratamento de pacientes com hanseníase e outras comorbidades (SOUZA ACM, et al., 2020). Embora a Organização Mundial da Saúde (OMS) tenha proposto a eliminação da hanseníase até o ano 2000, o Brasil enfrentou dificuldades em atingir essa meta. O Plano Nacional de Eliminação da Hanseníase, implementado no Brasil, incluiu a adoção da Poliquimioterapia, campanhas de sensibilização e diretrizes para o controle da doença, com um foco especial no diagnóstico precoce. Contudo, a meta de eliminação teve que ser estendida para 2010 e posteriormente para 2020, sendo ainda mais desafiada pela pandemia de COVID-19 (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1991; RIBEIRO MDA, et al., 2018). Dados do

Ministério da Saúde do Brasil revelam que, em 2019, foram notificados 23.612 novos casos de hanseníase no país. A maioria desses casos foi classificada como multibacilar, indicando uma maior prevalência da forma contagiosa da doença. Além disso, aproximadamente 10% dos casos foram diagnosticados com grau 2 de incapacidade física, um indicativo de possíveis deformidades permanentes (BRASIL, 2020). Para combater efetivamente a hanseníase, o Brasil necessita de uma abordagem abrangente que inclua detecção precoce, tratamento adequado com PQT, prevenção de incapacidades e acompanhamento rigoroso dos contatos domiciliares dos pacientes. A organização de uma rede de atenção especializada, que se estenda do nível primário ao terciário, é crucial para o manejo eficaz da hanseníase e para alcançar uma redução significativa nos níveis endêmicos da doença no país. A atenção especializada deve ser acompanhada de campanhas de sensibilização e educação para a saúde, visando desmistificar a doença e reduzir o estigma associado a ela. Além disso, é necessário garantir o acesso contínuo a medicamentos e serviços de saúde para todos os pacientes, independentemente de sua localização ou condição socioeconômica (BRASIL, 2016; BRASIL, 2019). A pandemia de COVID-19 exacerbou os desafios existentes no controle da hanseníase, interrompendo serviços de saúde essenciais, atrasando diagnósticos e tratamentos, e impactando negativamente no acompanhamento dos pacientes. Essa situação ressalta a importância de manter e adaptar os serviços de saúde para continuar a oferecer atendimento aos pacientes com hanseníase, especialmente em tempos de crise sanitária (SOCIEDADE BRASILEIRA DE HANSENOLOGIA, 2020). A relação entre a hanseníase e a pobreza é uma constante na história da doença. A falta de recursos e acesso limitado a serviços de saúde contribuem para a persistência da hanseníase como um problema de saúde pública. Portanto, é imperativo que políticas públicas e intervenções de saúde sejam implementadas de forma a abordar não apenas os aspectos clínicos da doença, mas também suas determinantes socioeconômicas. A eliminação da hanseníase como um problema de saúde pública no Brasil requer um compromisso contínuo do governo e de organizações de saúde. Isso envolve a implementação de estratégias eficazes de prevenção, detecção precoce e tratamento, além da garantia de acesso a cuidados de saúde de qualidade. Investir em programas de educação e sensibilização pública é igualmente crucial para combater o estigma associado à doença e promover uma compreensão mais profunda da hanseníase entre a população geral. A hanseníase, com sua complexa interação entre fatores epidemiológicos, socioeconômicos e de saúde, permanece um desafio significativo no Brasil. A pandemia de COVID-19 destacou ainda mais a necessidade de abordagens integradas e resiliência nos sistemas de saúde para lidar com a doença de maneira eficiente e humanitária. Garantir o acesso a tratamentos adequados e recursos de saúde é essencial para melhorar a qualidade de vida dos pacientes com hanseníase e para avançar em direção à meta de eliminação dessa doença como um problema de saúde pública no país.

O agente etiológico responsável pela infecção da hanseníase é o bacilo Mycobacterium leprae que possui afinidade por células cutâneas, nervos periféricos e se multiplica de forma lenta no organismo, acometendo principalmente pessoas em situação de pobreza e grupos sociais vulneráveis e marginalizados (NERY JS, et al., 2019). O contágio acontece através do contato direto e prolongado com um indivíduo infectado nas formas multibacilares, e que não esteja em tratamento (BRASIL, 2020). O seu tratamento é realizado através da Poliquimioterapia (PQT) baseado no número das lesões apresentadas pelo paciente sendo classificada quanto a seu manejo operacional em: paucibacilar, até cinco lesões e com duração de 06 meses de tratamento,e multibacilar, mais de cinco lesões e 12 meses de tratamento. Entretanto, durante ou após o tratamento o indivíduo pode desenvolver as reações hansênicas ou estados reacionais que são reações imunológicas que acometem principalmente aqueles que apresentam as formas multibacilares, sendo capazes de desenvolver incapacidades e deformidades (BRASIL,2019). Essas características evolutivas da hanseníase associada à baixa condição socioeconômica do doente e sua família geram dificuldades no cumprimento de medidas preventivas, seja pela busca da sobrevivência, aglomeração domiciliar ou restrição de insumos de higienização e alimentares (UNITED NATIONS HUMAN RIGHTS, 2020). A ausência de condições de vida digna pode aumentar as chances para o adoecimento e agravo de doenças pré-existentes, onde há séculos na humanidade, existe uma relação entre pobreza e adoecimento por hanseníase.

Pessoas com hanseníase enquadraram-se dentro das comorbidades, para COVID-19 principalmente quando submetidas ao tratamento da reação hansênica com corticóides, esse medicamentos foram usados em larga escala por pessoas acometidas por COVID-19, tendo seu estoque reduzido na unidade básica de saúde, desta forma prejudicando outros pacientes com outras patologias que faziam uso destes medicamentos. (SOUZA ACM, et al., 2020).

A OMS em 1991 propôs a eliminação da hanseníase até o ano 2000, a partir daí iniciou o Plano Nacional de Eliminação da Hanseníase, onde foram implantadas várias ações a nível municipal e estadual, tais como implementação de políticas de tratamento ambulatorial com oficialização da Poliquimioterapia (PQT), campanhas e diretrizes para controle da doença, diagnóstico e tratamento para todos os casos novos, com ênfase no diagnóstico precoce (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1991).

Muitos países conseguiram erradicar a doença, porém, o Brasil está entre os países que fracassaram na eliminação da Hanseníase, mesmo tendo se empenhado bastante, estendendo a proposta para o ano de 2010 e posteriormente para 2020, porém com o cenário de pandemia pela COVID-19 trouxe ainda mais dificuldades para alcançar tal objetivo (RIBEIRO MDA, et al., 2018). Dados divulgados pelo Ministério da Saúde mostram que no ano de 2019 foram notificados 23.612 casos novos de hanseníase no Brasil, destes, 78,2% foram classificados como multibacilares e 21,8% como paucibacilares, apresentando maior frequência da forma mais contagiosa. Ainda do total de casos novos, 82% foram avaliados de acordo com o Grau de Incapacidade Física (GIF), onde 10% dos casos foram diagnosticados como grau 2, 29,3% como grau 1 e 60,7% não apresentaram nenhum GIF (BRASIL, 2020). Em virtude das possíveis consequências ocasionadas pela patologia e das intervenções que visam o controle nos serviços da Atenção Primária à Saúde (APS), como: detecção oportuna de novos casos, tratamento com o esquema poliquimioterápico, prevenção de incapacidades e acompanhamento dos contatos domiciliares, a medida primordial para atingir a meta de diminuição dos níveis endêmicos da hanseníase no Brasil possui como fundamento a organização de uma rede de atenção através da manutenção da atenção especializada nos níveis secundário e terciário (BRASIL, 2019).

A hanseníase constitui uma doença que requer tratamento completo e sem interrupção, evitando assim, deformidades e incapacidades físicas permanentes. O enfrentamento de tal doença é prioridade para o Ministério da Saúde, visando sua eliminação como problema de saúde pública, através de estratégias de ação como a detecção precoce de casos e o exame de contatos,prevenindo a evolução da patologia (BRASIL, 2016).

Com a pandemia por COVID-19 houve mudanças na vida das pessoas para adequação da nova realidade vivenciada mundialmente, no intuito de conter a disseminação da doença o que em demasiadamente afetará também, outros agravos, inclusive a estratégia de eliminação da hanseníase (UNIVERSIDADE ABERTA AO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE, 2020). Assim, o

distanciamento social e redução dos atendimentos em Saúde em virtude da pandemia, fez com que muitos pacientes tivessem seus tratamentos cancelados ou até adiados aumentando a taxa de contaminação da doença (FACCHINI NETO E, 2020).

Segundo informações fornecidas pela (SOCIEDADE BRASILEIRA DE HANSENOLOGIA, 2020) , durante a pandemia, surgiram denúncias referente a escassez de medicamentos para a continuidade dos tratamentos já iniciados, no qual após esse início o paciente deixa de transmitir a doença, mas caso ocorra a interrupção do uso da medicação o mesmo voltará a transmitir acarretando também em piora e complicações. Avanços nos estudos e trabalhos científicos acerca do novo coronavírus possibilitaram a identificação de grupos na população que são mais vulneráveis para desenvolver formas graves da doença, dentro deste grupo estão idosos, pessoas com comorbidades e imunossuprimidos, considerando que grande parte das pessoas acometidas pela hanseníase são idosos, possuem outras doenças crônicas, utilizam medicamentos que levamà imunossupressão, sendo enquadradas no grupo de risco e necessitam de atenção especial (SOCIEDADE BRASILEIRA DE HANSENOLOGIA, 2020). Desta forma, a assistência a essas pessoas deve ser integral, durante a pandemia da COVID-19.

Diagnósticos de – Hanseníase (por ano)

Lesões cutâneas – Hanseníase (por ano)

Contatos registrados – Hanseníase (por ano)

Taxa de mortalidade – Hanseníase (por ano)

3  RESULTADOS E DISCUSSÕES

Analisando os dados de notificações de casos de hanseníase entre os anos de 2001 e 2020, observamos uma tendência de declínio nos números. Essa queda é especialmente evidente nos três primeiros gráficos, que representam a notificação de casos, busca ativa de comunicantes e o tipo de hanseníase encontrada com base no número de lesões. Cabe ressaltar que, na nomenclatura utilizada para classificar os pacientes portadores de hanseníase, temos os paucibacilares, com menos de cinco lesões, e os multibacilares, com mais de cinco lesões. Essa aparente redução no número de casos notificados pode ser interpretada como uma “pausa” nos serviços de atendimento aos pacientes portadores de hanseníase pelo SUS. Durante o período de pandemia, o SUS concentrou seus esforços e recursos na resposta emergencial à crise sanitária, o que pode ter afetado a detecção e notificação de casos de hanseníase. No entanto, um dado preocupante emerge no último gráfico analisado: acentuou-se o aumento na taxa de mortalidade por hanseníase em território nacional durante o mesmo período da pandemia. Esse aumento indica que, mesmo com uma possível redução na notificação de casos, os pacientes que já estavam em tratamento ou que foram diagnosticados com hanseníase durante a pandemia enfrentaram uma situação mais grave da doença, resultando em óbitos. Essa elevação na taxa de mortalidade pode ser atribuída a diversos fatores, incluindo a interrupção ou adiamento de tratamentos devido às restrições e limitações impostas pela pandemia. Além disso, a escassez de medicamentos e recursos de saúde direcionados à hanseníase pode ter contribuído para esse cenário preocupante. A análise dos dados evidencia que a pandemia de COVID-19 teve um impacto significativo na dinâmica dos procedimentos relacionados à hanseníase no âmbito do SUS no Brasil. A queda na notificação de casos pode representar uma interrupção temporária nos serviços de atendimento aos pacientes com hanseníase devido à centralização dos esforços na resposta à pandemia. No entanto, o aumento alarmante na taxa de mortalidade por hanseníase durante o mesmo período é um indicador de que a pandemia afetou de forma negativa o tratamento e o controle da doença. A interrupção de tratamentos, a falta de medicamentos e o adiamento de cuidados médicos podem ter contribuído para essa situação preocupante. Portanto, é crucial que as autoridades de saúde revelem atenção especial à continuidade do tratamento e ao acesso a medicamentos dos pacientes com hanseníase, Além disso, estratégias de prevenção, detecção precoce e tratamento eficaz devem ser priorizadas para evitar agravos e óbitos relacionados à hanseníase no Brasil.

4-CONSIDERAÇÕES FINAIS

A diminuição significativa no número de notificações de diagnósticos de casos de hanseníase, assim como outros indicadores abordados graficamente, é um alerta importante para as consequências da subnotificação durante o período da pandemia de COVID-19. Esse fenômeno suscita a necessidade de realizar novos estudos que investiguem as possíveis sequelas de uma coinfecção entre o Mycobacterium leprae (agente causador da hanseníase) e o SARS-CoV-2 . A subnotificação de casos de hanseníase, bem como de outras condições de saúde, representou uma preocupação crítica que se originou da restrição dos atendimentos nas redes de saúde durante a pandemia. A priorização dos recursos e esforços no combate à COVID-19 pode ter levou a uma redução na detecção e notificação de casos de hanseníase, . Para compreender plenamente os efeitos dessa subnotificação e das possíveis interações entre a hanseníase e a COVID-19, é necessário conduzir estudos adicionais. Essas pesquisas podem explorar questões como a influência da COVID-19 na progressão da hanseníase, as complicações resultantes da coinfecção e a eficácia das medidas de controle da hanseníase durante a pandemia. Além disso, é fundamental avaliar o impacto da subnotificação de casos de hanseníase nas estratégias de saúde pública e nas metas de eliminação da doença. O acesso a tratamento adequado e o diagnóstico precoce são elementos cruciais na prevenção de incapacidades e deformidades associadas à hanseníase.

Portanto, novos estudos que investiguem as consequências da subnotificação e da possível coinfecção entre M. leprae e SARS-CoV-2 serão necessários para um melhor entendimento dos desafios enfrentados pela população acometida por hanseníase durante a pandemia a fim de desenvolver estratégias eficazes de controle da enfermidade no contexto da COVID-19. Essas pesquisas podem fornecer insights valiosos para orientar políticas de saúde e ações destinadas a mitigar os impactos negativos sobre a saúde da população afetada.

REFERÊNCIAS

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ANEXOS

Mapeamento dos indicadores epidemiológicos de hanseníase no Brasil


1Mestranda em Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), enfermeira no ambulatório de dermatologia do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle

2Orientador(a): Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ

3Orientador(a): Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal Fluminense/UFF

4Orientador(a): Doutor em Epidemiologia em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca/ENSP.