A SÍNDROME DO IMOBILISMO E SUAS REPERCUSSÕES NA FUNCIONALIDADE DE PACIENTES INTERNADOS NA UTI: UMA REVISÃO DA LITERATURA

THE IMOBILISM SYNDROME AND ITS IMPACT ON PATIENT FUNCTIONALITY IN THE ICU: A REVIEW OF THE LITERATURE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10483439


Ana Letícia Santos do Nascimento 1; Aretusa Lopes Cavalheiro 2; Carine Laura de Andrade 3; Juliana Araújo Brandão 4; Keyse Rafaela Nascimento dos Santos 5; Lilian Cristina Silva Santos Magri 6; Matheus Oliveira Nery de Freitas 7; Reisla Délis Silva de Almeida 8; Roberto Oliveira Guimarães 9; Samara Karine Carvalho Sena 10; Adriele Lins Silva 11


Resumo

Introdução: A Síndrome do Imobilismo pode ser definida como um descondicionamento ou redução da capacidade funcional de todos os sistemas do organismo, em decorrência de um período prolongado de imobilização no leito. Objetivos: O presente estudo objetiva realizar um levantamento bibliográfico sobre as principais repercussões da funcionalidade na Síndrome do Imobilismo e os benefícios da intervenção fisioterapêutica em pacientes internados na UTI. Materiais e Métodos: Esta revisão foi conduzida por meio de pesquisa nos bancos de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs), Scientific Electronic Library Online (Scielo), Medical Literature Analysis and Retrieval Sistem Online (MedLine/PubMed), Biomedical Answers (Embase) e Google Acadêmico Resultados: Foram encontrados 40 artigos potencialmente relevantes na primeira etapa, dos quais, após análise metodológica foram excluídos 30 por não atenderem aos critérios deste estudo. Discussão: A mobilização precoce como procedimento seguro e viável, reduz os efeitos deletérios do repouso prolongado no leito, proporcionando melhora na funcionalidade, acelerando o processo de recuperação, diminuindo o tempo total de permanência hospitalar. Conclusão: A análise metodológica realizada neste estudo comprovou que vários trabalhos abordam o tratamento fisioterapêutico de forma eficaz na prevenção da síndrome do imobilismo, dessa forma, a inclusão dessas práticas na UTI e maiores estudos nessa área se apresenta como a base para o início da recuperação funcional desses pacientes.

Palavras-chave: mobilização precoce, pacientes críticos, fisioterapia motora.

ABSTRACT

Introduction: The immobilism syndrome can be defined as a deconditioning or reduction of the functional capacity of all the systems of the organism, due to a prolonged period of immobilization in the bed. Objectives: This study aims to carry out a literature review on the main repercussions of the immobility syndrome and the benefits of the physiotherapeutic intervention in patients admitted to the ICU. Materials and Methods: This review was conducted through the Latin American and Caribbean Health Sciences (Lilacs), Scientific Electronic Library Online (Scielo), Medical Literature Analysis and Retrieval Sistem Online (MedLine / PubMed ), Biomedical Answers (Embase) and Google Scholar. We found 40 potentially relevant articles in the first stage, of which, after methodological analysis, 30 were excluded because they did not meet the criteria of this study. Discussion: Early mobilization as a safe and viable procedure reduces the deleterious effects of prolonged rest in the bed, improving the functionality, accelerating the recovery process, reducing the total time spent in hospital. Conclusion: The methodological analysis carried out in this study showed that several studies deal with the physiotherapeutic treatment in an effective way in the prevention of immobility syndrome, so the inclusion of these practices in the ICU and more studies in this area is presented as the basis for the beginning of recovery functional characteristics of these patients.

Keywords: early mobilization, critical patients, motor physical therapy.

1 INTRODUÇÃO

A Síndrome do Imobilismo pode ser definida como um descondicionamento ou redução da capacidade funcional de todos os sistemas do organismo, em decorrência de um período prolongado de imobilização no leito. (CAZEIRO, PEREZ, 2010, p. 149-167).

Considera-se repouso, a imobilidade no leito no período de 7 a 10 dias, a qual não traz grandes alterações sistêmicas para o indivíduo, de 12 a 15 dias corresponde à imobilização propriamente dita, podendo apresentar algumas alterações na funcionalidade do organismo e acima de 15 dias já são considerados decúbitos de longa duração e podem apresentar alterações sistêmicas irreversíveis, caso não tratadas corretamente. (FERNANDES, LEITE, 2009)

Diversos são os fatores que podem levar um paciente internado em um leito de uma unidade de terapia intensiva (UTI) adquirir a síndrome do imobilismo tais como, idade avançada, anormalidades metabólicas, uso prolongado de medicações (como corticoides, sedativos e bloqueadores neuromusculares), disfunção em dois ou mais órgãos, uso prolongado de ventilação mecânica, os quais podem elevar o tempo de internação e consequentemente resultar no surgimento de alterações musculoesqueléticas, pulmonares, cardiovasculares, tegumentares, geniturinárias, neurológicas, comprometendo a funcionalidade do paciente. (THOMPSON, KAUFFMAN, 2002, p. 265-269)

Segundo a literatura, o efeito mais óbvio da imobilização prolongada é a perda da força muscular e resistência. Para cada semana de imobilização completa no leito um indivíduo pode perder de 4 a 5% de seu nível inicial de força muscular. Os músculos mais afetados pelo repouso são os antigravitacionais. Além disso, há também alteração de volume e comprimento muscular. (SILVA., MAYNARD, 2010, p. 85-91).

A manutenção da morfologia e densidade ósseas depende de forças que atuam sobre o osso como o estresse muscular e a ação dos tendões, a imobilização gera perda de massa óssea em associação a hipercalciúria e balanço negativo de cálcio, podendo ocasionar osteoporose por desuso. Por 3 a 5 semanas de imobilização pode-se perder até metade da força muscular. Outras alterações incluem rigidez articular, encurtamentos, contraturas, deformidades, e mudanças no tecido conjuntivo. (AQUINO, FONSECA, 2005, p. 35-43).

Durante o repouso prolongado, há uma tendência para a formação de contraturas em posição de conforto (flexão de quadris e joelhos, tornozelos em flexão plantar, adução e rotação interna do ombro, flexão do cotovelo, punho e dedos). Embora as contraturas possam ter origem nas articulações, nas partes moles ou nos músculos, todos estes tecidos acabam por desenvolver limitações secundárias, o que dificulta a mobilidade e o cuidado com o paciente no seu leito e a sua deambulação. (HALAR., et al, 2005)

No que se refere ao sistema tegumentar, à permanência por longo período em uma mesma posição faz com que algumas áreas da pele sofram isquemia, levando a úlceras por pressão ou escaras. Estas são definidas como áreas localizadas de lesão tecidual causada por descarga sustentada de peso e se não tratada, a lesão pode atingir a pele, o tecido adiposo, tendões e ossos (SILVA., MAYNARD, 2010, p. 85-91).

Com relação ao sistema respiratório, podem ocorrer alterações no que se diz respeito a volume minuto, capacidade respiratória máxima, capacidade vital e capacidade de reserva funcional. Todas essas funções estariam diminuídas de 25% a 50% em decorrência do imobilismo. Fisiologicamente, ocorre diminuição do movimento diafragmático e da excursão torácica em decorrência do comprometimento da função muscular. Fator que associado ao déficit do mecanismo de tosse e do movimento ciliar causa um padrão respiratório superficial, diminuindo a eliminação de secreção e criando a condição propícia para o desenvolvimento de infecções e consequentemente de atelectasias. (CAZEIRO, PEREZ, 2010, p. 149-167).

As complicações afetam também o sistema cárdio circulatório levando a um aumento da frequência cardíaca, redução de reserva cardíaca, hipotensão ortostática, hipotensão arterial e tromboembolismo venoso. (CAZEIRO, PEREZ, 2010, p. 149-167)

No sistema gastrointestinal, observa-se perda de apetite, déficit nutricional, constipação e fecaloma (fezes endurecidas e impactadas). Embora a constipação decorra de diferentes fatores, podemos citar como possíveis causas a inibição da peristalse, a atonia muscular, a perda de volume plasmático, a desidratação, a evacuação em posição não fisiológica e o constrangimento social. (LEDUC, FREITAS, 2002, p. 645-653).

Com relação ao sistema geniturinário, o impacto de alterações metabólicas (como o aumento da excreção de cálcio), da estagnação urinária e do esvaziamento incompleto da bexiga (em decorrência da fraqueza da musculatura abdominal e da micção em posição deitada), pode levar a um aumento na incidência de cálculos e infecções. (LEDUC, FREITAS, 2002, p. 645-653).

Alguns autores afirmam ocorrer alterações no sistema nervoso em decorrência da privação sensorial, da falta de estimulação e do isolamento social, tais como, ansiedade, depressão, insônia, desorientação tempo espacial, comprometimento do equilíbrio e da coordenação motora, diminuição da tolerância à dor e diminuição da capacidade intelectual. Essas alterações podem ser mais significativas em pessoas com deficiência cognitiva e idosas. Também podem ocorrer neuropatias por compressão, devido a um posicionamento inadequado. (LEDUC, FREITAS, 2002, p. 645-653).

Tendo em vista que a síndrome do imobilismo afeta múltiplos sistemas e seus efeitos podem atingir pessoas de qualquer idade, e mais rapidamente pessoas com deficiência física, doenças crônicas e idosas, o presente estudo objetiva realizar um levantamento bibliográfico sobre as principais repercussões da funcionalidade na síndrome do imobilismo e a importância da intervenção fisioterapêutica em pacientes internados em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

2 METODOLOGIA

O estudo consiste em uma revisão da literatura sobre as principais repercussões da funcionalidade em pacientes com a Síndrome do Imobilismo e a importância da intervenção fisioterapêutica na UTI.

Esta revisão foi conduzida por meio de uma pesquisa nos bancos de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Medical Literature Analysis and Retrieval Sistem Online (MedLine/PubMed), Biomedical Answers (EMBASE) e Google Acadêmico, sendo selecionados artigos publicados entre 2002 e 2017, escritos em Português ou Inglês, utilizando os seguintes termos: mobilização precoce, “early mobilization”, unidades de terapia intensiva, “intensive care units”, cuidados críticos, “critical care”, pacientes críticos, “critical illness”, fisioterapia motora, “motor physical therapy” e “physiotherapy”.

Os artigos com títulos e/ou palavras-chave que continham tais descritores foram selecionados para a segunda etapa do estudo que consistiu da leitura dos resumos. Aqueles que abordavam indivíduos portadores de doenças consideradas graves e com potencial para admissão em UTI, técnicas utilizadas e/ou os efeitos mobilização precoce foram lidos na íntegra e acrescentados a este trabalho.

Foram excluídos deste artigo relatos de caso, cartas, trabalhos de conclusão de curso, dissertações, teses, estudos que tratavam da mobilização precoce fora da UTI e estudos que utilizaram modelos animais.

3 RESULTADOS

Foram encontrados 40 artigos potencialmente relevantes na primeira etapa, dos quais, após análise metodológica foram excluídos 30 por não atenderem aos critérios deste estudo.

Assim, foram incluídos 10 trabalhos que analisaram os benefícios da fisioterapia em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), utilizando a mobilização precoce, onde as principais afecções encontradas foram: déficit da força muscular, doenças neuromusculares, insuficiência respiratória aguda, doença pulmonar obstrutiva crônica, pós-operatório de cirurgias cardíaca e abdominal.

Os ensaios clínicos que contemplaram o rigor metodológico exigido para análise do desfecho proposto encontrados durante o levantamento bibliográfico, que discutem os efeitos da mobilização precoce em pacientes internados na UTI estão relacionados na tabela 1.

Tabela 1 – Características metodológicas dos estudos selecionados sobre o efeito da mobilização precoce em pacientes internados na UTI.

AutorCaracterísticas da amostraIntervençãoPrincipais variáveis avaliadasResultados significativos
Zanotti et aln=24 (GE: 12; GC: 12)DPOC crônico, sob VMI, acamados por mais de 30 dias, com atrofia periférica graveGE: exercícios ativos e EENM em MMII (30 minutos) GC: apenas exercícios ativos; Tempo: 5 vezes por semana durante 4 semanasForça muscular, função cardiorrespiratória e número de dias necessários para transferir do leito para a cadeira.Aumento da FMP em ambos os grupos, mais expressiva no GE; o GE conseguiu transferir-se da cama para a cadeira em menos dias
Chiang et al.,9 pcts em VM por mais de 14 dias ‘Terapia padrão para a doença subjacente + treinamento 5 X por semana por 6 semanas: exercícios de fortalecimento dos MMSS e MMII, na beira do leito, treino de transf., de ambulação e atividades funcionaisForça dos músculos esqueléticos e respiratóriosForça dos músculos esqueléticos e respiratórios (significante) em relação ao grupo controle, além de melhora do estado funcional

n: número de pacientes; VMI: Ventilação mecânica invasiva; GC: grupo controle; GE: grupo estudo; FM: força muscular; MMSS: membros superiores; MMII: membros inferiores.

Continuação da Tabela 1.

Thomsen et al104 pacientes com Insuficiência Respiratória em mais de 4 dias em VM
Atividades progressivas: sentar- se à beira do leito s/ encosto, transferência da cama para cadeira, deambulação c/ ou s/auxílio, c/ andador e/ou apoio do pessoal duas X ao dia
Capacidade de deambulação no leito
55% dos pacientes teve aumento de atividades após 24h da transferência% de pacientes que deambulavam passou de5% para > 40% após48 h da transferência
Burtin et aln=67 (GE: 31; GC: 36)Com expectativa de estadia na UTI maior ou igual a sete diasFisioterapia respiratória, mobilização passiva ou ativa de membros superiores (MMSS) e MMII e de ambulação, cicloergômetro de MMII por 20 minutos.Teste de Caminhada de seis minutos (TC6), a funcionalidade (SF- 36), a preensão manual, força de quadríceps (dinamômetro), tempo de desmame, internação e mortalidade após altaMaior força muscular isométrica de quadríceps, melhor desempenho no TC6 e no SF36 no GE.

n: número de pacientes; VM: Ventilação mecânica; GC: grupo controle; GE: grupo estudo; MMSS: membros superiores; MMII: membros inferiores.

Continuação da Tabela 1.

Morris et aln=330Pcts com diagnóstico de insuficiência respiratória aguda (IRpA), possuindo até três dias de admissão e até 48h de intubação.

No GE foi aplicado um protocolo em quatro níveis contendo exercícios passivos, ativos e resistidos, sedestação, transferências e deambulação por sete dias na semana. No GC exercícios passivose mudança de decúbito.
Capacidade Funcional e Força MuscularNo GE houve redução do tempo de internação na UTI e no hospital e dos consequentes custos hospitalares.
Bailey et alPacientes de diagnósticos variados, n=103 em VM há mais de 4 diasAtividades progressivas, desde controle de tronco à deambulação, iniciadas precocementeMobilidade ativa progressiva do sentar na cama, sentar na poltrona e deambular.4,7% dos pacientes sentaram à beira do leito, 15,3% sentaram na cadeira, 8,2 % deambularam menos de 100 feet (3048 cm) e 70% foram capazes de caminhar mais de 100 feet (3048 cm) até a alta.

n: número de pacientes; VM: Ventilação mecânica; GC: grupo controle; GE: grupo estudo; MMSS: membros superiores; MMII: membros inferiores

Continuação da Tabela 1.

Soares et al.91 pacientes submetidos a VM com tempo de permanência na unidade de terapia intensiva de 07 diasExercícios para as extremidades superiores e inferiores, movimentos passivos e ativos, com pesos leves, treinamento funcional à beira do leito, focando em mudança e transferências para fora da cama; de ambulação. Treinamento respiratórioForça dos músculos esqueléticos periféricosObservou-se que os pacientes que foram retirados do leito possuíam menor gravidade clínica. A taxa de mortalidade foi de 29,7%, sendo que o grupo que não foi retirado do leito apresentou maior mortalidade real e prevista.
Schweickert et alPacientes em UTI, sob VMI <72 horas e independência funcional pré-admissão (índice de Barthel ≥70)GE: fisioterapia motora e TO desde o início da inclusão no estudo; GC: terapia apenas após a liberação médicaMIF, índice de Barthel, número de AVDs realizadas de forma independe, distância caminhada sem assistência, força muscular(MRC), força de preensão, marcos funcionais.O GC não realizou terapia durante o período de VMI. Melhora na funcionalidade e aumento na distância caminhada no GE. OGE saiu antes da cama, ficou em pé, transferiu-se para a cadeira e deambulou antes que o GC

n: número de pacientes; VMI: Ventilação mecânicaI invasiva; GC: grupo controle; GE: grupo estudo; MMSS: membros superiores; MMII: membros inferiores; TO: terapia ocupacional, MIF: medida de independência funcional.

Continuação da Tabela 1.

Porta et al.Pacientes em UTI intermediária, sob VMI prolongada, com desmame > 48 horas e < 96 horasGE: fisioterapia geral (45minutos) + ciclo ergômetro de MMSS (20minutos); GC: apenas fisioterapia geralTeste incremental e de endurance; percepção de dispneia e de fadiga muscular
Melhora no teste incremental e no teste de endurance, quando comparado aos controles. Diminuição na percepção de dispneia em ambos os grupos. Redução na percepção de fadiga no GE
Dantas et al.59 pacientes.
GC (n=14) GE (n=14).
GC: 5 vezes por semana, incluindo mobilização passiva, exercícios ativo- assistidos.GE: 2 vezes ao dia, todos os dias, envolvendo alongamento, mobilização passiva, posicionamento articular, exercícios ativo assistido e ativo, resistido, transferências, cicloergometria para MMII, ortostatismo, treino de equilíbrio e deambulação. .Força muscular periférica por meio do MRC e a Força muscular respiratória pelo manovacuô- metroOs pacientes submetidos ao protocolo de MP apresentaram ganho da força muscular periférica e inspiratória..

n: número de pacientes; VMI: Ventilação mecânica invasiva; GC: grupo controle; GE: grupo estudo; FM: força muscular; MMSS: membros superiores; MMII: membros inferiores.

4 DISCUSSÃO

Sabendo-se que a Síndrome do Imobilismo pode acarretar em diversas alterações no organismo, surge a mobilização precoce, como procedimento seguro e viável com o intuito de reduzir os efeitos deletérios do repouso prolongado no leito, proporcionando melhora na função pulmonar e muscular, acelerando o processo de recuperação, diminuindo o tempo de ventilação mecânica (VM), internação na UTI e o tempo total de permanência hospitalar. (BORGES, et al, 2009 p. 446-52)

Thomsen et al, 2008 analisaram pacientes com insuficiência respiratória aguda em um estudo que determinava se a transferência desses pacientes para a UTI respiratória melhorava a deambulação. Foram selecionados 104 pacientes com insuficiência respiratória que necessitaram de ventilação mecânica (VM), por mais de quatro dias e que foram submetidos a um protocolo de atividade precoce, que consistia em sedestação e transferências a beira leito, sedestação em poltrona, deambulação com ou sem auxílio.

Assim, foi observado melhora substancialmente da deambulação (aumento de três vezes mais quando comparado às taxas de pré- transferência), independente da fisiopatologia subjacente. Assim concluíram que os cuidados intensivos de saúde podem contribuir para a imobilização durante a evolução da doença e que sedativos, mesmo de forma intermitente, reduzem substancialmente a deambulação.

Muitas vezes, nas UTIs, o uso de sedação e de ventilação mecânica (VM), é considerado obstáculos para os programas de reabilitação, pois muitos profissionais ainda se mostram receosos em mobilizar pacientes sob VM, e acabam por restringir esses sujeitos à inatividade.

Apesar disso, deve-se considerar que podem ser utilizadas técnicas que não requeiram cooperação do paciente, como a eletroestimulação neuromuscular, que, mesmo quando aplicada nos músculos periféricos, tendem a promover ativação periférica e ativação cortical. (SKINNER., et al,2008 p. 220-9)

Pôde-se constatar que, dos estudos que utilizaram a eletroestimulação, obtiveram resultados satisfatórios aqueles realizados tardiamente, com pacientes mais crônicos e debilitados, visando ao aumento da massa muscular. (HODGIN., et al, 2009 p. 6-8)

Zanotti., et al, 2003 compararam um protocolo de exercícios ativos apendiculares à eletroestimulação, em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica grave (DPOC), acamados e sob VM prolongada, e constataram que o grupo que recebeu a eletroestimulação conseguiu um aumento significativamente maior da força muscular quando comparado a participantes do grupo controle.

Dentre os estudos que utilizaram atividades com cicloergômetro, um abordou a técnica em membros superiores tardiamente e um para membros inferiores precocemente, sendo que ambos demonstraram desfechos positivos nos indivíduos que realizaram o treino em cicloergômetro, como o aumento na capacidade de exercício e da força muscular de membros inferiores.

Porta., et al, 2005 demonstraram que a adição de exercícios de cicloergômetro de membros superiores à fisioterapia convencional, em pacientes sob VM prolongada, aumenta a capacidade de exercício, e reduz a sensação de fadiga muscular e percepção de dispneia. Na população estudada a força muscular respiratória basal foi associada a uma maior probabilidade de melhora na capacidade de exercício, demonstrando os benefícios da intervenção precoce em pacientes críticos internados em UTIs.

A pesquisa de Burtin., et al, 2009 investigou se a realização diária de exercícios em cicloergômetro para membros inferiores iniciada precocemente seria eficaz na prevenção ou atenuação da perda da performance funcional, do status funcional e da força de quadríceps.

Os pesquisadores observaram um aumento significativo da capacidade de exercício, da autopercepção do estado funcional e da força de quadríceps dos indivíduos que realizaram o tratamento fisioterapêutico, quando comparados a sujeitos controles. Os dados obtidos demonstraram ainda que a força muscular apresenta correlação positiva com a autopercepção do estado funcional do paciente e com a distância deambulada na alta hospitalar, sendo a deambulação independente maior no grupo que realizou cicloergômetro.

A fisioterapia motora em pacientes críticos não promove apenas benefícios funcionais, mas também estimula a ativação cognitiva. (PINHEIRO., et al, 2012 p.188-196)

Chiang., et al, 2006 avaliaram 39 pacientes com o intuito de verificar a hipótese de que um programa de treinamento físico de pacientes em VM prolongada poderia melhorar a força muscular respiratória, aumentar o tempo fora da VM e melhorar o estado funcional. Os pacientes foram divididos em dois grupos, intervenção e controle.

Pacientes do grupo intervenção foram submetidos a sessões supervisionadas por fisioterapeutas, cinco vezes por semana por seis semanas. As sessões consistiam em exercícios de fortalecimento na beira do leito para os membros superiores (MMSS) e (membros inferiores) MMII, treinamento de atividades funcionais e deambulação, assim que os pacientes suportassem. A intensidade dos exercícios foi determinada de acordo com a classificação da escala de Borg.

O grupo controle recebeu terapia padrão para a doença subjacente, apoio nutricional e cuidados que incluíam posicionamento adequado e assistência nas atividades de vida diária.

A mobilização física poderia ser encorajada verbalmente, mas não era rotineiramente realizada pela equipe. Os autores observaram aumento significativo da força dos músculos esqueléticos (p<0,05), da musculatura respiratória (p<0,01), do tempo livre fora do respirador (p<0,01) e do estado funcional (p<0,001) nos pacientes submetidos à reabilitação precoce, enquanto pacientes do grupo controle apresentaram deterioração da força dos músculos esqueléticos e respiratórios e uma diferença não significativa do tempo fora do respirador. Os autores concluíram que os benefícios proporcionados pelo treinamento físico possivelmente acentuaram a melhora funcional desses pacientes.

Schweickert., et al, 2009 investigaram a eficácia da interrupção diária da sedação com a fisioterapia precoce sobre a funcionalidade de pacientes críticos submetidos à VM comparados a um grupo controle. O retorno ao estado de independência funcional na alta hospitalar foi significativamente maior no grupo da intervenção, sendo a idade, ausência de sepse e fisioterapia precoce variável associada com o sucesso na aquisição de funcionalidade.

Os estudos de Chiang., et al, 2006 e Schweickert., et al, 2009 mostraram melhoras da função cognitiva nos pacientes que realizaram fisioterapia motora. No estudo de Chiang todos os sujeitos submetidos à fisioterapia obtiveram melhora nos escores cognitivos, enquanto que, no estudo de Schweickert o tempo na UTI com delirium foi menor.

Em uma pesquisa realizada por Soares., et al, 2010 foi analisada a frequência de retirada do leito em pacientes submetidos à VM, com o intuito de verificar a repercussão na mortalidade e no tempo de permanência dos pacientes na UTI. Os pacientes foram submetidos às sessões diárias, sendo avaliadas as variáveis clínicas e epidemiológicas, condutas motoras relacionadas à retirada do leito, tempo de permanência e mortalidade.

Em relação ao procedimento de retirada do leito, considerou-se a sedestação beira leito e na poltrona, marcha estacionária e deambulação. Os pesquisadores observaram que ao considerar a retirada ou não do leito, não foi encontrada diferença entre os grupos quanto ao tempo de permanência na UTI e que os pacientes que foram retirados do leito possuíam menor gravidade clínica. A taxa de mortalidade foi de 29,7%, sendo que o grupo que não foi retirado do leito apresentou maior mortalidade real e prevista. Desse modo, os pacientes retirados do leito após a descontinuação da VM apresentaram menor mortalidade.

O estudo encontrado com o maior número de participantes foi o de Morris., et al, 2008, um estudo de coorte, que contou com 330 pacientes, sendo distribuídos igualmente em dois grupos, intervenção e controle.

Os pacientes incluídos deram entrada na UTI por quadro de insuficiência respiratória aguda (IRpA), possuindo até três dias de admissão e até 48h de intubação. No grupo intervenção foi aplicado um protocolo em quatro níveis contendo exercícios passivos, ativos e resistidos, sedestação por 20 minutos três vezes por dia, transferências e deambulação por sete dias na semana. O grupo controle foi submetido a apenas exercícios passivos e mudança de decúbito a cada 2 horas durante cinco dias na semana.

Esse foi o único estudo que mostrou que no grupo de intervenção houve redução do tempo de internação na UTI e no hospital e dos consequentes custos hospitalares e concordou com outros estudos que demonstraram menor número de dias para primeira saída do leito

5 CONCLUSÃO

A análise metodológica realizada neste estudo comprovou que vários trabalhos abordam o tratamento fisioterapêutico de forma eficaz na prevenção da síndrome do imobilismo, possibilitando benefícios, como o aumento da força muscular global, melhora da capacidade funcional respiratória, diminuição da mortalidade, do tempo de desmame em VM, aumento da independência funcional durante a alta hospitalar, minimizando o tempo de internação e gerando menores custos hospitalares. Dessa forma, a inclusão dessas práticas na UTI e maiores estudos nessa área se apresenta como a base para o início da recuperação funcional desses pacientes.

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1 Fisioterapeuta do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH, e-mail: leticiasantosphb@hotmail.com
2 Fisioterapeuta do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH, e-mail: aretusalc@hotmail.com
3 Fisioterapeuta do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH, e-mail: cariine.andrade@hotmail.com
4 Fisioterapeuta do Hospital de Clínicas de Universidade Federal de Uberlândia, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH, e-mail: juliana.abrandao@hotmail.com
5 Fisioterapeuta do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH. e-mail: rafaeladrk@gmail.com
6 Fisioterapeuta do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH, e-mail: lilian_magri@hotmail.com
7 Fisioterapeuta do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH, e-mail: matheusnery_6@hotmail.com
8 Fisioterapeuta da Universidade Federal de Uberlândia, e-mail: reisladelis@gmail.com
9 Fisioterapeuta do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH, e-mail: roberto_rog@hotmail.com
10 Fisioterapeuta do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH, e-mail: samarakarinecs@yahoo.com.br
11 Fisioterapeuta do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH, e-mail: adri.linsh@gmail.com