SEXUALITY IN WOMEN WITH AN OSTOMIZED
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7753555
Camilla Nascimento Santos1
Carolina Souza da Silva1
Gabriela de Souza Cabral1
Iasmim Nakata Oliveira1
Matheus Souza Santos do Nascimento1
Mauricio Marciel Oliveira Alves1
Alyne de Souza Dias2
Ewerton Naves Dias3
RESUMO
Introdução: Estoma significa a abertura de uma boca ou comunicação entre um órgão interno e o exterior, com a finalidade de suprir a função do órgão afetado, em diversos sistemas orgânicos. Essa abertura ou ostomia tem como propósito a realização de uma nova saída de efluentes, fezes e urina. Objetivo: Descrever sobre a sexualidade da mulher estomizada por meio de uma revisão de literatura. Método: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura realizado nas bases dados da Biblioteca Virtual da Saúde e Google Acadêmico. Resultados: ao final encontrou-se 13 artigos que atendiam os critérios de inclusão pré-estabelecidos. Das análises emergiram três temáticas: 1. A sexualidade humana, 2. A sexualidade feminina, 3. A sexualidade para a mulher estomizada. Conclusão: mesmo sendo de extrema importância a sexualidade da mulher estomizada é um assunto pouco abordado na literatura científica, portanto, novos estudos sobre essa temática são necessários, pois trata-se de uma parte essencial da vida que contribui para o crescimento psicossocial, assim como o fortalecimento da autoestima, e a ausência dela pode causar sentimentos de tristeza, baixa autoestima, autoimagem negativa, entre outros.
Descritores: Sexualidade, Mulheres, Estomas Cirúrgicas.
ABSTRACT
Introduction: Stoma means the opening of a mouth or communication between an internal and external organ, with the purpose of supplying the function of the affected organ, in several organic systems. This opening or ostomy has the purpose of creating a new outlet for effluents, feces and urine. Objective: To describe the sexuality of women with a stoma through a literature review. Method: This is an integrative literature review carried out in the databases of the Virtual Health Library and Google Scholar. Results: at the end, 13 articles were found that met the pre-established inclusion criteria. Three themes emerged from the analyzes: 1. Human sexuality, 2. Female sexuality, 3. Sexuality for women with a stoma. Conclusion: despite being extremely important, the sexuality of women with a stoma is a subject rarely addressed in the scientific literature, therefore, further studies on this topic are necessary, as it is an essential part of life that contributes to psychosocial growth, as well as the strengthening of self-esteem, and the absence of it can cause feelings of sadness, low self-esteem, negative self-image, among others.
Descriptors: Sexuality, Women, Surgical Stomas
INTRODUÇÃO
Estoma é uma palavra derivada de dois termos gregos, os e tomia, que significam abertura de uma boca ou comunicação entre um órgão interno e o exterior, com a finalidade de suprir a função do órgão afetado, em diversos sistemas orgânicos (1). Essa abertura ou ostomia tem como propósito a realização de uma nova saída de efluentes, fezes e urina (2). A sua confecção, sempre apresenta como foco principal o de salvar a vida e restabelecer a saúde de uma pessoa (3).
Existem diversos motivos que podem levar a essa intervenção cirúrgica, como o câncer colorretal, infecções perineais, câncer de colo do útero, trauma, entre outros. O câncer colorretal é um dos mais frequentes diagnósticos com indicação para o procedimento de ostomia (2).
Existem poucos dados referentes ao número de pessoas com estomias no mundo, porém, a International Ostomy Association (IOA) propõe que existe uma pessoa com estomia para cada 1.000 pessoas, com interferência no número dependendo do país e a assistência médica disponível, devendo ser inferior em países subdesenvolvidos. (4) Nos Estados Unidos, o número de pessoas com estomias está entre 650.000 e 730.000. No Reino Unido, um estudo feito mostrou que em 2002 havia cerca de 80.000 pessoas com estomias (5). No Brasil estima-se que, em 2018, havia cerca de 207.000 pessoas com estomias no Brasil, é importante ressaltar que os dados foram calculados com base em estomas de eliminação (4,5).
Inúmeros são os impactos causados na vida das pessoas estomizadas. Após a sua confecção são evidenciados vários sentimentos, autoestima diminuída devido à alteração da imagem corporal, tendo que se adaptar a um novo corpo e uma nova forma de eliminação das fezes. Sentimentos como inutilidade, depressão, angústia, revolta, insegurança, desgosto, ódio, raiva, repulsa, agressividade, não aceitação, auto rejeição, luto, perda da identidade, restrição alimentar; convívio social e nas relações afetivas e amorosas (6).
Quando essa situação é vivenciada pelas mulheres, os sentimentos acabam sendo ainda mais intensos, pelo fato de que a imagem corporal está intimamente ligada ao aspecto do feminino, em que, a identidade e autoestima estão amplamente marcadas pela subjetividade construída socialmente, permeada por conteúdos que definem as representações sociais de gênero (6,7).
O estilo de vida das mulheres fica alterado após a cirurgia afetando o exercício de sua profissão e a forma de realizar atividades diárias, algumas vivenciam situações constrangedoras devido ao vazamento da bolsa coletora, preocupação com os gases, o odor de fezes e o desconforto físico. Desse modo, na tentativa de se adaptarem a um novo estilo de vida, as mulheres mudam seus hábitos alimentares buscando assim, controlar a evacuação, diminuir a eliminação de gases e o cheiro das fezes (8).
Além disso, muitas mulheres veem a bolsa coletora como símbolo de poluição e sujeira, além da invasão física. Elas se mostram muitas vezes abaladas com a presença do estoma, tendo dificuldades para auto aceitação e reinserção social. Como consequência, elas adotam uma postura de distanciamento e isolamento social, o que evidencia uma visão negativa de si mesmas (8).
Em relação às atividades sexuais, a maioria das mulheres não se sentem preparadas para retornar, muitas alegam problemas físicos, problemas com o dispositivo, vergonha, se sentirem menos sensuais ou não aceitação pelo parceiro. Isso é muito difícil de lidar pois a sexualidade ultrapassa a necessidade fisiológica e apresenta a simbologia do desejo, ela influencia a autoestima (8,9).
Diante desse contexto, esse estudo tem como propósito descrever sobre a sexualidade da mulher estomizada por meio de uma revisão de literatura. Com toda certeza este estudo poderá contribuir para um maior conhecimento sobre esse tema, assim, como referências para gestores e profissionais de saúde dessa área de atuação.
MÉTODO
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura sobre a análise de pesquisas já realizadas, sobretudo as principais conclusões encontradas no corpus da literatura sobre um determinado fenômeno estudado. Este tipo de estudo permite identificar as lacunas, bem como suas questões centrais, apontar marcos teóricos e conceituais e se há necessidade de futuras pesquisas sobre um determinado tema (10,11).
Para realização desse método de pesquisa seguiu-se um processo de análise sistemático e sumarizado da literatura composta por seis fases conforme observado em estudos dessa natureza, sendo elas: 1) identificação do tema e seleção da questão de pesquisa, 2) estabelecimento de critério de inclusão e exclusão, 3) identificação dos estudos pré-selecionados e selecionados, 4) categorização dos estudos selecionados, 5) Análise e interpretação dos resultados e 6) apresentação da revisão/ síntese do conhecimento (11,12).
1ª Fase: identificação do tema e seleção da questão de pesquisa: a primeira etapa foi a formulação de uma pergunta de pesquisa de forma clara e objetiva. A questão norteadora empregada foi: o que descreve a literatura científica sobre a sexualidade da mulher estomizada?
2ª Fase: estabelecimento de critério de inclusão e exclusão: foram determinados de modo claro e objetivo, sendo eles: Artigos totalmente disponíveis online, na íntegra, publicados em português que abordassem o tema sobre a enfermagem no contexto dos serviços de radiologia. Em seguida, definiu-se quais bancos de dados e descritores seriam utilizados, as bases de dados determinadas foram: Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e Google Acadêmico. Os descritores utilizados para a busca dos artigos foram: Sexualidade e Estomia.
3ª Fase: identificação dos estudos pré-selecionados e selecionados: Após a leitura criteriosa dos títulos, resumos e descritores, foi identificado os artigos que se adequaram aos critérios de inclusão, os que não atenderam o objetivo desta revisão foram excluídos. Os artigos pré-selecionados foram ainda buscados na íntegra para uma leitura completa e análise mais aprofundada (11,12).
4ª Fase: categorização dos estudos selecionados: tem por objetivo documentar as informações extraídas dos artigos de forma concisa e fácil. É utilizado um instrumento que possibilite a síntese dos artigos demonstrando as suas diferenças e permitindo a extração e organização dos dados. Nesta etapa, foi elaborada o Quadro 1 e 2 como demonstrativo de forma sistemática e agrupada as informações encontradas nos artigos (12).
5ª Fase: Análise e interpretação dos resultados: A partir dos achados na literatura, foi realizada a interpretação e discussão dos artigos selecionados (12).
6ª Fase: apresentação da revisão/ síntese do conhecimento.
RESULTADOS
Foram identificados 13 estudos que atenderam os critérios de inclusão pré-estabelecidos. Na sequência as tabelas 1 e 2 apresentam os principais aspectos deles.
Tabela 1: Caracteristicas principais dos artigos
N | AUTOR (ES) | TÍTULOS | PERIÓDICOS | ANO |
1 | Cruz, NS; Taveira, LM. | COTIDIANO DE MULHERES COLOSTOMIZADAS E O IMPACTO NA SEXUALIDADE | Rev. Pró-univerSUS | 2020 |
2 | Albino, MP; Fernandes, FS; Perfoll, Ronaldo. | SEXUALIDADE DE MULHER OSTOMIZADAS SOB O OLHAR DA PSICOLOGIA CORPORAL. | Rev.Online Psicologia Corporal | 2018 |
3 | Silva, LS; Pelazza, BB; Silva, LA; Andrade, MM; Leite, GR; Paula,CR. | AS IMPLICAÇÕES SOCIAIS, EMOCIONAIS E SEXUAIS EXPERIMENTADASPOR MULHERES OSTOMIZADAS ATENDENTES NA ATENÇÃO PRIMÁRIA DE SAÚDE. | Portal de perióficos da UFU. | 2017 |
4 | Albuquerque, AF; Pinheiro, AK; Linhares, FM; Guedes, TG. | TECNOLOGIA PARA O AUTOCUIDADO DE SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA DE MULHERES ESTOMIZADAS. | Rev. Brasileira de enfermagem | 2016 |
5 | Gomes, GC; Silva, CD; Mota, MS. | VIDA E SEXUALIDADE DE MULHERES ESTOMIZADAS: SUBSÍDIOS À ENFERMAGEM | Rev. De Enfermagem do Centro Oeste Mineiro | 2016 |
6 | Marques, AD; Silva, JS; Nascimento, LC; Nery, IS; Luz, MH. | A VIVÊNCIA DA SEXUALIDADE DA MULHER ESTOMIZADA | Rev. Enfermagem em Foco | 2014 |
7 | Santos, SR; Medeiros, AL; Cabral, RW; Anselmo, MN; Souza, MC. | SEXUALIDADE DE PORTADORAS DE ESTOMA INTESTINAL DEFINITIVO: PERCEPÇÃO DE MULHERES. | Rev. Enferm. Foco | 2013 |
8 | Sousa, AF; Queiroz, AC; Mourão, LF; Oliveira,LB;Marques, AD; Nascimento, LD. | A SEXUALIDADE PARA A MULHER ESTOMIZADA:CONTRIBUIÇÃO PARA A ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM. | Rev. De pesquisa cuidado é fundamental | 2013 |
9 | Calcagno, GG; Peres PB; Pizarro, RA; Pereira,AM; Silva, EC;Gomes, VL. | SER MULHER ESTOMIZADA: PERCEPÇÕES ACERCA DA SEXUALIDADE | Rev. Enfermeira global | 2012 |
10 | Ramirez, M; McMullen C;Grant, M; Alschuler,A; Hornbrook, MC; Krouse, RS. | DESCOBRINNDO O SEXO EM UM CORPO RECONFIGURADO:EXPERIÊNCIAS DE MULHERES SOBREVIVENTES DE CÂNCER DE COLO-RETAL COM OSTOMIAS. | Women Health | 2009 |
11 | Honkala, SI; Berterõ C. | VIVENDO COM UMA OSTOMIA:EXPERIÊNCIAS DE LONGO PRAZO DE MULHERES. | Vanden I norden | 2009 |
12 | Santos, FS. Poggeto, MT; Rodrigues, LR. | A PERCEPÇÃO DA MULHER PORTADORA DE ESTOMIA INTESTINAL ACERCA DE SUA SEXUALIDADE. | Rev. Min. Enferm | 2008 |
13 | Gomes, GC; Fonseca, AD; Gomes, VR. | CORPO, GÊNERO E SEXUALIDADE NO COTIDIANO DE OSTOMIZADAS | Rev. VITTALLE, rio Grande | 2005 |
DISCUSSÃO
Após leitura e análises dos estudos levantados foram identificados por meio deles três temáticas principais: 1. A Sexualidade humana, 2. A sexualidade feminina, e 3. A sexualidade para as mulheres estomizadas. A seguir os respectivos assuntos são apresentados.
A sexualidade humana
A sexualidade é inerente a todo indivíduo, a qualquer momento de sua vida, considerada singular a cada pessoa e, ao mesmo tempo, universal(13). É parte integrante e fundamental do processo de viver humano, sofrendo influência de diversos fatores que contribuem significativamente para o bem-estar das pessoas (14).
É concebida como parte central da nossa personalidade, por meio da qual nos relacionamos com outras pessoas, temos amor, prazer e procriação; é construída progressivamente, sendo influenciada pela história, pela sociedade e pela cultura, conforme os aspectos individuais e psíquicos de cada um (13).
A sexualidade permeia todas as etapas do viver humano. Ultrapassa a necessidade fisiológica e tem relação direta com a simbolização do desejo. Diz respeito à dimensão íntima e relacional que compõe a subjetividade das pessoas e suas relações com seus pares e com o mundo. Refere-se à emoção que o sexo pode produzir, transcendendo definições físicas. Possui significados complexos, multifacetados e que concentram grande carga de subjetividade. Envolve questões relativas à percepção e controle do corpo, o exercício do prazer/desprazer, bem como os valores e comportamentos afetivos e sexuais (8).
A sexualidade é a fusão de sentimentos simbólicos e físicos, como ternura, respeito, aceitação e prazer, entre um ser e outro (13).
Não é sinônimo de coito e não se limita a presença ou não do orgasmo. Sexualidade é muito mais do que isso, é a energia que motiva a encontrar o amor, o contato e a intimidade e se expressa na forma de sentir, na forma das pessoas tocarem e serem tocadas. A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações afetando tanto a vida física como a mental (8). Não é restrita ao quarto ou a áreas do corpo. É o que nós fazemos e o que somos. Não envolve somente a intimidade sexual, mas também a própria concepção sexual (13).
Por vezes, o conceito de sexualidade e o de instinto sexual são inadvertidamente confundidos, pois, de acordo com o Laplanche e Pontalis, o instinto sexual é comportamento fixo e pré estabelecido, enquanto sexualidade engloba o histórico de cada pessoa, desde a infância; possui grande plasticidade; não está exclusivamente relacionado ao aparelho genital; é polimorfo, polivalente, ultrapassa a necessidade fisiológica e tem a ver com a simbolização do desejo. Envolve muito mais que atos físicos de expressão sexual; envolve a totalidade do ser humano (13).
Se a saúde é um direito humano fundamental, a saúde sexual também deveria ser considerada um direito humano básico (8).
As dificuldades no funcionamento sexual devem ser entendidas a partir da estrutura da personalidade, bem como suas condições de vida social. “A vida de um indivíduo é a vida de seu corpo, o corpo engloba mente, espírito e alma” (2).
Em relação à sexualidade da mulher, observa-se que existe um contrassenso: a sociedade espera que a mulher seja sexualmente atraente, porém deve apresentar um comportamento passivo e expectante, o qual é influenciado pela cultura, que a incentiva a ser obediente, fazer sacrifícios, associar o sexo somente à reprodução, e não ao prazer sexual (13).
A sexualidade feminina
A sexualidade feminina foi e ainda é, apesar de que na atualidade ainda é vivida sobre outros padrões de moral, ética e comportamento, objeto de interdição em vários campos. Pois que o processo de formação da nossa sociedade recebeu forte influência da sociedade ocidental europeia que, pautada na ética e moral do Cristianismo, concebeu o corpo e a sexualidade como lugar de interditos, justamente a mulher, pela sua condição desigual em relação ao homem, por muitos anos viveu sob dependência em primeira instância do pai e em segunda do marido, com sua sexualidade normatizada pelos padrões Cristãos, legitimada pela instituição do casamento e pelo cumprimento da função reprodutora, sendo assim impossibilitada de usufruir livremente do seu bem estar sexual (13).
Mas apesar de sofrer ainda com essa interdição de uma sociedade machista é importante ressaltar que há também um avanço significativo no que se diz respeito a sexualidade da mulher, sua colocação no meio social e a sua devida representatividade, deixando as velhas primícias de subjetividade ao homem, e a partir daí desfazendo as imposições anteriormente predeterminadas (13). Pois como já dito a sexualidade é entendida e abordada como um direito e necessidade humana, uma categoria que se refere à totalidade de suas qualidades, e não apenas à genitália e seu funcionamento. Inclui todas as dimensões de uma pessoa como o biológico, psicológico, emocional, social, cultural e espiritual. Observa-se que, no que tese tal abordagem, é categorizado na transcendência à biologia das estruturas corporais e dos processos fisiológicos, que materializam e objetivam a partir do determinismo biológico de se ter nascido mulher. Neste sentido, ressalta-se a sexualidade feminina como expressão de comportamento, definido sócio culturalmente à luz de características de independência, vaidade e sensualidade, ou seja, a essência da mulher é mostrar-se empoderada frente a sociedade a qual é participante (15).
Então através deste empoderamento a sexualidade é representada pela mulher como um espectro íntimo e relacional que faz parte da vida e das suas necessidades, que impulsionado pela atração/afeto natural e necessidade fisiológica torna a representação do desejo mais vivo e transcende o campo físico das emoções, levando a dimensões variadas de realidade a partir do momento que nela é impulsionada, incitando múltiplas cargas subjetivas e desencadeantes de sentimentos, desejos, fantasias e ereções (16). Nisto é visto que cada mulher necessita de uma carga de emoções, que é intitulado integralmente ao seu modo de ser e viver, e que racionalmente liga-se inteiramente no que se diz respeito ao gênero, jeito adotado para ser mulher, ou seja, empoderamento da sexualidade dela, e que transforma o pensamento de como é visto esta questão. Então nota-se que é uma grande importância a sexualidade na vida da mulher, nisto é onde se constrói laços e fundamenta o autoconhecimento, que implica buscar a si próprio e de reconhecer os valores conforme as potencialidades que contribuem para o crescimento psicossocial e no fortalecimento da autoestima (13).
Também se nota que cada vez mais a mulher tem ido em busca desta autoimagem e da estética do padrão auto corporal que é resultante da sua sexualidade, demonstrado no dia a dia como por exemplo no modo de vestir-se e maquiar-se, no namoro com o parceiro entre outros, ou seja, vai além do ato sexual e do simples prazer, mas propicia uma melhor qualidade de vida, e aumenta o ego dessa mulher, onde ela se sente mais firme e poderosa para tomar decisões na vida social, familiar e amorosa, nisto é visto que é bem enfatizada pelas mesmas esta importância (17).
A sexualidade para mulheres estomizadas
A realização de uma estomia acarreta diversas mudanças no cotidiano da mulher, e dentre essas mudanças está a sexualidade, que é um assunto difícil de ser abordado pelos profissionais de saúde e também pelos próprios pacientes. Nessas condições, muitas mulheres estomizadas veem a questão da sexualidade como algo secundário em suas vidas, pois acreditam que a presença do estoma é motivo de vergonha em frente aos parceiros, o que pode ocasionar em perda ou redução do desejo sexual, dor durante o ato sexual, entre outros sintomas (14).
A sexualidade da mulher estomizada está ligada, muitas vezes, a sentimentos de inferioridade, causados por uma baixa autoestima e problemas de autoimagem, fazendo com que haja alterações significativas no modo da mulher vivenciar sua sexualidade. Nessa condição, muitas mulheres apresentam medo e ansiedade, uma percepção corporal alterada, sentem uma inabilidade do corpo funcionar como antes, assim como a sensação de não serem atraentes ao sexo oposto. Esses sentimentos também estão presentes na população masculina, porém se acentuam na população feminina (13).
A presença da bolsa/estoma no corpo da mulher, é também um problema quando se trata das vestimentas, pois, nesse aspecto, muitas mulheres relatam que passaram a usar roupas mais largas, com intenção de esconder o uso da bolsa, pois sentem vergonha da sua condição, o que afeta diretamente a autoestima dessas mulheres, de forma que elas se sintam menos atraentes (14).
Além dos sentimentos experimentados pelas mulheres com estoma, existem também limitações físicas relacionadas ao estoma, como potenciais sons, odores e vazamentos que podem ocorrer durante o ato sexual.
O estoma pode provocar disfunções fisiológicas, como a diminuição e a perda da libido. Após cirurgias de ressecção de reto, pode haver estenose vaginal, dispareunia, e fístulas perianais. A dispareunia pode ocorrer também por alterações anatômicas, perda da elasticidade vaginal, ou por diminuição da lubrificação vaginal, dada a diminuição de suprimento sanguíneo (13).
Há uma necessidade da abordagem da sexualidade para a mulher estomizada pela equipe multidisciplinar, em especial o enfermeiro, para uma educação em saúde focada na paciente e em sua condição, buscando auxiliá-la a retomar suas atividades diárias de forma inclusiva, participativa e empoderadora, e para isso é fundamental que o profissional tenha um olhar sensível e humanizado a respeito da saúde sexual e reprodutiva da paciente. Existem métodos educativos que facilitam esse diálogo e o processo educacional dessas mulheres, tais como cartilhas educativas, que devem conter apresentação de conteúdo e linguagem de fácil entendimento e assimilação. É essencial que as orientações não foquem somente no manuseio da bolsa coletora, mas que abordem também a sexualidade (18).
É de extrema importância que as mulheres estomizadas recebam apoio da família e do parceiro, caso tenham um, pois assim o processo de recuperação e aceitação do estoma são mais rápidos e eficazes, fazendo com que a mulher consiga retomar sua vida diária, e também sua vida sexual, respeitando seus limites e condições atuais (19).
A sexualidade faz parte da vida de todos, é o que nos movimenta, ela é saúde, afetividade, faz parte de todos e como nós nos relacionamos. As mulheres que precisaram se submeter a uma estomia na maioria das vezes chega de uma forma inesperada, muitas não tem noção de como será a sua nova vida daqui pra frente. É um novo começo que não foi escolhido, muitas têm a sensação de luto como: A negação, isolamento, a raiva, depressão. Dando os exemplos: com a negação e o isolamento a mulher se recusa a confrontar – se com a situação, a raiva seria a revolta que estão sentindo, já a depressão seria o momento delas ficarem mais quietas, repensando todo o processo que está ocorrendo nas suas vidas (20).
Muitas delas têm uma visão negativa da sua nova imagem corporal assim afetando a sua sexualidade. Se a mulher antes da estomização já tinha uma percepção ruim sobre si, após a confecção do estoma o modo como ela irá lidar com a sexualidade vai influenciar diretamente em seu exercício na sua sexualidade tudo isso vai se tornar uma forma muito mais intensa (13).
Depois do procedimento as mulheres estomizadas vivenciam sua sexualidade repleto de sentimentos como: Dúvidas, vergonha (14), receio do parceiro não aceitar sua nova condição (8), quando estiverem se relacionando ocorrer o vazamento da bolsa, ter sons desagradáveis, odores, (13) se sentem incapazes, frustradas, se isolam, sentem repulsa de si (7), auto estima prejudicada, a não aceitação. Devido a todos esses sentimentos muitas não reassumem a atividade sexual (8).
Em estudo realizado por Notter e Burnard com mulheres submetidas à cirurgia de ileostomia, foi observado que a primeira visão que as pacientes tiveram de seu corpo foi um choque do qual elas nunca se recuperaram verdadeiramente (13).
Mulheres que já vinham de um relacionamento abalado, todos esses processos serão mais difíceis de lidar. Tendem a gerar angústia e insegurança no pós-operatório; já casais que possuíam relacionamento mais estável sofrem apenas as inconveniências estabelecidas pelo estoma. A aceitação e o apoio do companheiro reforçam a auto aceitação da nova realidade, enquanto aqueles que não têm ligação emocional sólida sofrem com o medo da rejeição e de que a cirurgia afete de uma forma desfavorável o desenvolvimento de sua relação (13).
Sempre antes do procedimento cirúrgico a equipe que irá cuidar dessa paciente deve inserir o companheiro junto nessa discussão, explicar todas as etapas, como será a sua nova vida daqui pra frente para que não haja um grande choque para ambos. Caso esse relacionamento acabe depois da estomia, a mulher não deve se culpar pois isso só foi a gota d’água para um relacionamento que já vinha abalado.
A aceitação dessa nova imagem corporal leva bastante tempo, as mulheres primeiramente precisam trabalhar sua autoestima, trabalhar os pensamentos ruins que tem sobre si pra poder se adaptar, e muitas não conseguem lidar com tudo isso sozinhas, o ideal é a procura de ajuda profissional, como médicos, enfermeiros, psicólogos, uma equipe multiprofissional.
Existem várias formas de tornar a atividade sexual mais confortável e prazerosa como: Usar faixas que escondem a bolsa, tomar banho antes, esvaziar a bolsa, evitar posições que possam romper a bolsa e o mais importante sempre ter um bom diálogo com o seu parceiro.
CONCLUSÃO
A sexualidade da mulher estomizada é um assunto pouco abordado no Brasil, mesmo sendo de extrema importância para essas mulheres, pois é uma parte essencial da vida e contribui para o crescimento psicossocial, assim como o fortalecimento da autoestima, e a ausência dela pode causar sentimentos de tristeza, baixa autoestima, autoimagem negativa, entre outros.
Percebeu-se que as mulheres com estomas, em muitos casos, colocam a sexualidade em segundo plano em sua vida, por vergonha da presença da bolsa, de modo que procuram esconder o estoma o máximo que podem, evitando seus parceiros, e escondendo-se por baixo das roupas. Em muitos casos ocorrem sintomas fisiológicos relacionados ao estoma, como a perda da libido.
A presença da bolsa não altera somente a vida sexual, mas provoca alterações de modo geral, alterando diversos aspectos da vida da pessoa estomizada. O processo de aceitação do estoma pode ser muito doloroso, podendo provocar sensações como raiva, negação, isolamento e até mesmo depressão.
Em todo o processo de aceitação e adaptação da nova vida e da sexualidade, suporte e estímulos por parte do parceiro, da família, e da equipe multidisciplinar são essenciais para a mulher. Nesse aspecto, destaca-se a importância do enfermeiro para auxiliar e instruir as mulheres a como retomar suas vidas de forma geral, e também focando na sexualidade.
Nota-se a necessidade de uma maior abordagem da sexualidade para mulheres estomizadas, a fim de que esse assunto deixe de ser um tabu e seja visto de forma natural e humanizada pelas pessoas, visando maior entendimento e discernimento do assunto, e consequentemente provocando melhoras na qualidade de vida das pessoas com estomas.
REFERÊNCIAS
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4- SIRIMARCO, Mauro; MORAES, Buno Henrique; OLIVEIRA, Denise; OLIVEIRA, Alfreu; SCHLINZ, Patricia Aparecida. Trinta anos do serviço de atenção à saúde da pessoa ostomizada de Juiz de Fora e região. Revista Bras Coloproct, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rcbc/a/Fcxyz4Q4yxFPpqBzbdNLzsr/?format=pdf&lang=pt / Acesso em: 01 de novembro de 2022.
5-PAULA, Maria Angela; MORAES, Juliano. Consenso brasileiro de cuidados ás pessoas adultas com estomias de eliminação. Segmentos Farma editores, 2020. Disponível em: CONSENSO_BRASILEIRO.pdf (sobest.com.br) / Acesso em: 01 de novembro de 2022.
6- Teles A, Eltink C, Martins L, Lenza N, Sasaki V, Sonobe H. Mudanças físicas, psicossociais e os sentimentos gerados pela estomia intestinal para o paciente: revisão integrativa. Revista de Enfermagem UFPE on line [Internet]. 2017 Jan 23; [Citado em 2022 Nov 20]; 11(2): 1062-1072. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/13477. Acesso em: 30 de novembro de 2022.
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8- Calcagno Gomes, G., Peres Bitencourt, P.,Pizarro, A da R., Pereira Madruga, A., Silva de Castro, E., De Oliveira Gomes, VL. Ser mulher estomizada: percepções acerca da sexualidade. Revista electrónica trimestral de enfermería, Nº 27 Julio 2012. Enfermería Global. Disponível em: https://scielo.isciii.es/pdf/eg/v11n27/pt_clinica2.pdf. Acesso em: 31 de novembro de 2022.
9-Braga Rodrigues Cardoso, Danyelle; Almeida, Camilo Eduardo; de Santana, Mary Elizabeth; Seabra de Carvalho, Dione; Megumi Sonobe, Helena; Okino Sawada, Namie. De Enfermagem do Nordeste, vol. 16, núm. 4, julio-agosto, 2015, pp. 576 -585 Universidade Federal do Ceará Fortaleza, Brasil. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/3240/324041519015.pdf. Acesso em: 01 de novembro de 2022.
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1 Acadêmicos de enfermagem na Universidade de Guarulhos, Ung.
2 Acadêmica de Psicologia na Universidade de Mogi das Cruzes, Umc.
3 PhD em Psicologia pela Universidade do Porto, Portugal. Docente nas Universidades de Guarulhos e de Mogi das Cruzes. Contato: ewertonnaves@yahoo.com.br