A SAÚDE DO HOMEM NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: AVANÇOS E FRAGILIDADES NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE BRASILEIRO 

MEN’S HEALTH IN PRIMARY HEALTH CARE: ADVANCES AND WEAKNESSES IN THE BRAZILIAN SINGLE HEALTH SYSTEM

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10019176


Sheyla Cristina Ferreira de Magalhães1
Milvea Franciane Ferreira Carneiro2
Odete Barbosa Vieira3
Adriele Cristine Jimenes Pereira4


RESUMO 

Este estudo tem o objetivo de discutir sobre o papel da consulta de enfermagem na promoção à saúde do homem no contexto da Atenção Primária à Saúde (APS). Estudo do tipo revisão narrativa da literatura, onde buscou-se analisar as evidências científicas mais atuais acerca da temática em artigos publicados entre 2013 a 2023, nas bases da dados de acesso aberto da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), LILACS, SciELO e Google Acadêmico. Verificaram-se aspectos sobre os desafios na promoção da saúde do homem, consulta de enfermagem à saúde do homem no contexto da APS e as estratégias de promoção à saúde do homem. Conclui-se que as ações de promoção da saúde direcionadas à população masculina, objeto da pesquisa, em conformidade com a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem. Ademais, constatou-se que o processo de trabalho dos enfermeiros está debilitado, que a política não está totalmente implantada e que os profissionais necessitam aprofundar seus conhecimentos sobre a temática. 

Palavras-chave: Saúde do Homem; Atenção Primária à Saúde; Enfermagem. 

ABSTRACT 

This study aims to discuss the role of nursing consultations in promoting men’s health in the context of Primary Health Care (PHC). A narrative literature review study, which sought to analyze the most current scientific evidence on the topic in articles published between 2013 and 2023, in the open access databases of the Virtual Health Library (VHL), LILACS, SciELO and Google Academic. Aspects about the challenges in promoting men’s health, nursing consultations on men’s health in the context of PHC and strategies for promoting men’s health were verified. It is concluded that health promotion actions aimed at the male population, the object of the research, are in accordance with the National Policy for Comprehensive Attention to Men’s Health. Furthermore, it was found that the nurses’ work process is weakened, that the policy is not fully implemented and that professionals need to deepen their knowledge on the subject. 

Keywords: Men’s Health; Primary Health Care; Nursing. 

INTRODUÇÃO 

O padrão de doenças que afetam os homens no Brasil e em todo o mundo apresenta características distintas que merecem atenção especial. De maneira geral, os homens têm maior propensão a desenvolver doenças crônicas não transmissíveis, incluindo condições como doenças cardíacas, diabetes, obesidade e câncer. No Brasil, as principais causas de óbito entre os homens são as doenças cardiovasculares, seguidas por neoplasias malignas, causas externas (como acidentes de trânsito e violência) e doenças respiratórias. Fatores de risco como tabagismo, consumo excessivo de álcool, estilo de vida sedentário, dieta inadequada e estresse contribuem para o desenvolvimento dessas condições (Batista et al., 2021). 

Globalmente, as principais causas de mortalidade entre os homens incluem doenças cardíacas, acidentes vasculares cerebrais, câncer, doenças respiratórias e doenças hepáticas. Além disso, os homens enfrentam maior vulnerabilidade a acidentes de trabalho e de trânsito (Marques et al., 2017). No que diz respeito à saúde sexual e reprodutiva, os homens têm maior propensão a contrair infecções sexualmente transmissíveis (IST) e a desenvolver problemas relacionados à saúde da próstata, como hiperplasia prostática benigna e câncer de próstata (Moura et al., 2022; Lopes et al., 2021). 

Em síntese, o padrão de saúde dos homens no Brasil e no mundo exibe particularidades que demandam atenção nas políticas de saúde pública. É crucial implementar iniciativas de promoção da saúde masculina, focalizando na prevenção de doenças crônicas não transmissíveis, melhoramento da saúde sexual e reprodutiva, além da redução dos riscos associados a acidentes e violência (Schwarz et al., 2012). 

A análise do contexto revela diversos fatores que explicam a relutância dos homens em buscar serviços de saúde em comparação às mulheres. Entre as principais razões estão as normas culturais e estereótipos de gênero. Muitos países valorizam a masculinidade associada à força, coragem e resistência à dor, levando os homens a considerar a ida ao médico como sinal de fraqueza ou falta de masculinidade (Vieira et al., 2020). 

Além disso, os homens enfrentam receios ao realizar exames de rotina ou procurar ajuda médica, temendo um diagnóstico negativo que possa revelar uma doença grave, o que pode ser bastante assustador e desencorajador. Outro obstáculo é a falta de tempo, já que muitos homens trabalham longas horas ou têm compromissos familiares que dificultam a visita ao médico (Oliveira et al., 2015; Vieira et al., 2020). 

A falta de acesso, especialmente em regiões onde os serviços de saúde são limitados, também impede os homens de buscar atendimento médico. Além disso, muitos homens carecem de informações suficientes sobre os riscos à saúde que enfrentam ou sobre a importância da prevenção, o que reduz a probabilidade de procurarem cuidados médicos preventivos (Oliveira et al., 2015). 

Eles também têm dificuldade em reconhecer suas próprias necessidades de saúde, aderindo a uma mentalidade otimista que rejeita a possibilidade de adoecer. Adicionalmente, os serviços de saúde e as estratégias de comunicação frequentemente focam em ações para crianças, adolescentes, mulheres e idosos, deixando os homens em segundo plano (Silva et al., 2012). 

Com o objetivo de mitigar as vulnerabilidades do sistema de saúde, o Ministério da Saúde (MS) implementou a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem – PNAISH. Essa política visa aprimorar a assistência à saúde masculina por meio da implementação de linhas de cuidado que garantam a integralidade do tratamento, além de melhorar a atenção primária para que esta não se restrinja apenas à recuperação, mas também promova a saúde e previna o surgimento de doenças evitáveis (Silva et al., 2020). 

Nesse contexto, o papel do enfermeiro é crucial, pois a escassez de estudos que avaliam sua atuação na saúde masculina e a baixa procura dos homens pelos serviços de saúde são desafios que a profissão deve enfrentar e tentar solucionar, ou no mínimo, reduzir (Silva et al., 2020). Para estimular uma maior participação dos homens na promoção da saúde, é essencial que os serviços de saúde sejam acessíveis, acolhedores e forneçam informações claras sobre a importância da prevenção e do autocuidado com a saúde masculina. Além disso, é fundamental trabalhar para desmantelar estereótipos de gênero e promover uma cultura de saúde preventiva para todos (Moreira et al., 2016). 

O reconhecimento de que os homens acessam o sistema de saúde principalmente por meio da atenção especializada tem como resultado o aumento da morbidade devido ao atraso no atendimento, resultando em custos mais elevados para o Sistema Único de Saúde (SUS). É imperativo fortalecer e aprimorar a atenção primária para assegurar a promoção da saúde e a prevenção de agravos evitáveis. Estudos comparativos entre homens e mulheres têm consistentemente demonstrado que os homens são mais suscetíveis a doenças, especialmente aquelas graves e crônicas, e apresentam uma taxa de mortalidade prematura superior à das mulheres (Barreto; Arruda; Marcon, 2015). 

Dessa forma, este estudo tem por objetivo discutir sobre o papel da consulta de enfermagem na promoção à saúde do homem no contexto da Atenção Primária. 

METODOLOGIA 

Trata-se de uma revisão narrativa da literatura, onde buscou-se analisar as evidências científicas mais atuais acerca da temática. O objetivo principal dessa abordagem é obter um conhecimento aprofundado sobre um determinado assunto, utilizando estudos anteriores sobre a temática em questão por meio de uma análise crítica, o que permite sintetizar várias pesquisas bibliográficas em um único artigo, tornando os resultados mais acessíveis e práticos (Grant; Booth, 2009). 

Foram analisados textos publicados nos últimos dez anos (2013 a 2023), indexados nas bases da dados de acesso aberto da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), LILACS, SciELO e Google Acadêmico, disponíveis gratuitamente, na íntegra, no idioma português. Utilizou-se na busca, os descritores “Saúde do Homem”, “Atenção Primária à Saúde” e “Enfermagem”. As informações extraídas dos estudos foram organizadas, categorizadas e apresentadas na seção de resultados e discussão. 

RESULTADOS E DISCUSSÃO 

Desafios na promoção da saúde do homem 

Se De acordo com Berbel e Chirelli (2020), a saúde masculina enfrenta uma série de desafios em diversas áreas. Um desses desafios reside na baixa procura por serviços de saúde por parte dos homens, o que pode dificultar o diagnóstico precoce de doenças e o acesso a tratamentos adequados. Além disso, existem desigualdades regionais que afetam a saúde dos homens, incluindo disparidades no acesso a serviços de saúde, na qualidade do atendimento e nas condições socioeconômicas. 

Outra questão importante é a falta de ênfase na prevenção de doenças por parte dos homens. Esse comportamento pode resultar em um aumento nos casos de doenças crônicas, como hipertensão, diabetes e câncer, que poderiam ser evitadas com medidas preventivas adequadas. Além disso, o estigma e o preconceito ligados a certas condições de saúde, como doenças sexualmente transmissíveis e transtornos mentais, podem impactar negativamente a busca por tratamento e apoio. 

As condições de trabalho também desempenham um papel significativo na saúde masculina, especialmente em setores que apresentam riscos à saúde, como a indústria e a construção civil. Exposições a substâncias tóxicas, condições laborais adversas e falta de medidas de segurança adequadas podem contribuir para problemas de saúde a longo prazo entre os trabalhadores do sexo masculino. 

Em resumo, os desafios enfrentados pela saúde dos homens são complexos e multifacetados, exigindo abordagens integradas e sensíveis ao gênero para melhorar o acesso aos cuidados de saúde, promover a prevenção de doenças e reduzir o estigma associado às condições de saúde específicas. 

Para enfrentar esses desafios, é fundamental que as políticas públicas de saúde estejam voltadas para a promoção da saúde do homem, com ações específicas para a prevenção e tratamento de doenças, bem como para a melhoria do acesso aos serviços de saúde e redução das desigualdades regionais. É necessário também combater o estigma e preconceito em relação a determinadas doenças, além de promover a saúde ocupacional e ações de conscientização sobre a importância da prevenção e cuidado com a saúde masculina. 

Consulta de enfermagem à saúde do homem no contexto da APS 

A consulta de enfermagem desempenha um papel fundamental na saúde masculina no contexto da Atenção Primária à Saúde (APS), sendo crucial para a prevenção e tratamento de problemas de saúde específicos em homens. Este tipo de consulta tem como objetivo principal promover o autocuidado, prevenir doenças e manter a saúde ao longo de todas as fases da vida (Julião; Weigelt, 2011). 

Durante a consulta, o enfermeiro realiza uma avaliação minuciosa da saúde do homem, analisando fatores de risco, histórico médico, estilo de vida e aspectos emocionais e psicológicos. Além disso, é essencial que o enfermeiro conduza um exame físico completo, incluindo medição da pressão arterial, peso, altura, circunferência abdominal e análise dos sinais vitais. O enfermeiro também aborda questões específicas da saúde masculina, como a prevenção do câncer de próstata e outras condições urológicas, além de oferecer orientação sobre prevenção e tratamento de doenças sexualmente transmissíveis, saúde sexual e reprodutiva, saúde mental e qualidade de vida (Vaz et al., 2018). 

Durante a consulta, o enfermeiro fornece orientações e aconselhamentos sobre hábitos saudáveis, incluindo uma dieta equilibrada, prática regular de atividade física e abandono de comportamentos prejudiciais, como fumar e consumir álcool. O profissional também promove a conscientização e a educação do paciente sobre a importância de realizar exames preventivos, como a avaliação regular da próstata e exames laboratoriais específicos (Assis et al., 2018). 

A consulta de enfermagem na saúde masculina representa uma estratégia crucial para prevenção e promoção da saúde, contribuindo significativamente para a melhoria da qualidade de vida e bem-estar dos homens em todas as fases de suas vidas (Aguiar; Santana; Santana, 2018). 

Promoção da saúde do homem: estratégias eficazes 

Segundo Moreira et al. (2016), diversas estratégias são fundamentais para promover a saúde masculina, incluindo campanhas educativas que informem sobre a importância da prevenção e autocuidado. Além disso, é crucial que os homens realizem consultas periódicas com profissionais de saúde para exames preventivos e avaliações abrangentes. Exames como o de próstata, análises de colesterol, glicemia e função renal são essenciais e devem ser feitos regularmente. Estimular a prática regular de atividades físicas é vital, pois ajuda a prevenir condições como diabetes, hipertensão e doenças cardíacas. 

A orientação sobre uma alimentação equilibrada é outra prioridade, com profissionais de saúde fornecendo informações sobre dietas balanceadas e opções de alimentos saudáveis. Além disso, é imperativo abordar o tabagismo e o consumo excessivo de álcool, destacando os riscos associados a esses hábitos e incentivando a busca por ajuda para superá-los (Moreira et al., 2016). 

Atividades em grupo, como caminhadas, esportes e grupos de apoio, também podem desempenhar um papel crucial. Essas atividades não apenas promovem hábitos saudáveis, mas também ajudam a criar vínculos sociais entre os homens. É fundamental notar que essas estratégias representam apenas algumas das possibilidades. A abordagem ideal deve ser personalizada, adaptada às necessidades e particularidades individuais de cada homem (Moreira et al., 2016). 

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

O estudo realizado evidenciou a importância fundamental do enfermeiro na atenção primária. Dentre suas responsabilidades, destacam-se as ações de promoção da saúde direcionadas à população masculina, objeto da pesquisa, em conformidade com a PNAISH. Ademais, constatou-se que o processo de trabalho dos enfermeiros está debilitado, que a política não está totalmente implantada e que os profissionais necessitam aprofundar seus conhecimentos sobre a temática. 

Além disso, é necessário que a gestão municipal discuta e implemente ações de educação em serviço para efetivar a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem. É importante ressaltar a necessidade de modificar a forma de atender a população masculina, instruindo os profissionais a ampliarem sua visão do processo de adoecimento e a auxiliar na promoção de estratégias e ações que atraiam os homens para as unidades de saúde. 

REFERÊNCIAS 

AGUIAR, Ricardo Saraiva; DE CARVALHO SANTANA, Daniele; DE CARVALHO SANTANA, Patrícia. A percepção do enfermeiro da estratégia saúde da família sobre a saúde do homem. Revista de Enfermagem do Centro-Oeste Mineiro, 2015. 

DE ASSIS, Natália Oliveira et al. Atuação dos enfermeiros frente à política nacional de atenção integral a saúde do homem: um estudo exploratório. Arquivos de Ciências da Saúde da UNIPAR, v. 22, n. 3, 2018. 

BATISTA, Jallyne Viana et al. Perfil epidemiológico da mortalidade masculina no Brasil, 2014-2018. Research, Society and Development, v. 10, n. 5, p. e51710515248- e51710515248, 2021. 

DA SILVA BARRETO, Mayckel; DE OLIVEIRA ARRUDA, Guilherme; MARCON, Sonia Silva. Como os homens adultos utilizam e avaliam os serviços de saúde. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 17, n. 3, 2015. 

BERBEL, Catiane Maria Nogueira; CHIRELLI, Mara Quaglio. Reflexões do cuidado na saúde do homem na atenção básica. Revista Brasileira em Promoção da Saúde, v. 33, 2020. 

JULIÃO, Gésica Graziela; WEIGELT, Leni Dias. Atenção à saúde do homem em unidades de estratégia de saúde da família. Revista de Enfermagem da UFSM, v. 1, n. 2, p. 144- 152, 2011. 

LOPES, Emanuelle Ferrão et al. Eficácia da medida de antígeno prostático específico para rastreamento de carcinoma de próstata e seus impactos na saúde do homem. 
Revista Eletrônica Acervo Saúde, v. 13, n. 12, p. e9288-e9288, 2021. 

MARQUES, Sue Helen Barreto et al. Mortalidade por causas externas no Brasil de 2004 a 2013. Revista Baiana de Saúde Pública, v. 41, n. 2, 2017. 

MOREIRA, Martha Cristina Nunes; GOMES, Romeu; RIBEIRO, Claudia Regina. E agora o homem vem?! Estratégias de atenção à saúde dos homens. Cadernos de Saúde Pública, v. 32, p. e00060015, 2016. 

OLIVEIRA, Max Moura de et al. A saúde do homem em questão: busca por atendimento na atenção básica de saúde. Ciência & Saúde Coletiva, v. 20, p. 273-278, 2015. 

SCHWARZ, Eduardo et al. Política de saúde do homem. Revista de Saúde Pública, v. 46, p. 108-116, 2012. 

SILVA, Patricia Alves dos Santos et al. A saúde do homem na visão dos enfermeiros de uma unidade básica de saúde. Escola Anna Nery, v. 16, p. 561-568, 2012. 

VAZ, Cesar Augusto Mendes et al. Contribuições do enfermeiro para a saúde do homem na atenção básica. Revista de iniciação científica e extensão, v. 1, n. 2, p. 122-126, 2018. 


1Enfermeira. Pós-graduada em Administração dos Serviços de Saúde pela UNAERP, Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva pela UEPA e Gestão da Clínica nas Regiões de Saúde pelo Hospital Sírio Libanês. 

2Enfermeira pela UEPA. Pós-graduada em Gestão e Auditoria em Serviços de Saúde. 

3Enfermeira. Pós-graduada em Enfermagem em Nefrologia pela Faculdade Integrada de Goiás e Gestão e Auditoria em Enfermagem pela ISEAT. 

4Terapeuta Ocupacional pela Universidade do Estado do Pará.