A SAÚDE BUCAL NO ENVELHECIMENTO: IMPACTO DAS ALTERAÇÕES BUCAIS PREVALENTES NA QUALIDADE DE VIDA DOS IDOSOS

THE IMPORTANCE OF ORAL HEALTH IN THE QUALITY OF LIFE OF ELDERLY PEOPLE: – GERIATRIC DENTISTRY

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102411131558


Ibrahim Ghazzaoui
Nahid Salam
Soraia Mayane Souza Mota


RESUMO

A redução das taxas de fecundidade, juntamente com o aumento na expectativa de vida devido à melhoria nos cuidados de saúde e nas condições socioeconômicas, tem acelerado o envelhecimento populacional no Brasil. O processo de envelhecimento é acompanhado por uma série de alterações fisiológicas e patológicas que afetam significativamente a saúde geral e a saúde bucal dos indivíduos idosos. Nesse contexto, o objetivo do estudo foi abordar as alterações bucais de maior prevalência entre os idosos e a necessidade urgente de intervenções odontogeriátrica eficazes no cuidado e na promoção da qualidade de vida dessa população. A pesquisa trata-se uma revisão bibliográfica da literatura, que utilizou artigos publicados entre os anos de 2000 à 2023, das bases de dados como PubMed, SciELO e BVSALUDE e Google Acadêmico. Foram selecionados 32 artigos utilizando como parâmetro a seguinte questão norteadora: “De que maneira a saúde bucal impacta e/ou interfere na qualidade de vida dos idosos?”. Os estudos selecionados atendiam ao critério de serem publicações gratuitas e com texto completo disponível. Os artigos foram revisados com foco especial nos métodos aplicados pelos autores e nos resultados alcançados. Os dados foram organizados sistematicamente para possibilitar uma análise crítica e comparativa. Os resultados indicaram que as doenças de maior prevalência nos idosos são as cáries de raiz, doença periodontal, xerostomia, estomatite protética e candidíase. E, que a prevenção e manutenção de uma boa saúde bucal está diretamente relacionada à melhoria da qualidade de vida.  Além disso, aspectos como a autoestima e a interação social dos idosos são significativamente afetados pelo estado de sua saúde bucal.  Conclui-se que é evidente que a saúde bucal está diretamente relacionada com a qualidade de vida dos idosos. Sendo essencial uma abordagem integrada e multidisciplinar na odontogeriatria, que inclua a promoção de práticas preventivas e o fortalecimento das políticas públicas de saúde. Não devendo apenas considerar os aspectos clínicos da saúde bucal, mas também os fatores sociais, emocionais e culturais que influenciam a percepção e o cuidado com a saúde bucal nessa população.

Palavras-chave: Saúde bucal; Qualidade de vida. Idosos; Odontogeriatria.

ABSTRACT

The reduction in fertility rates, along with the increase in life expectancy due to improvements in healthcare and socioeconomic conditions, has accelerated population aging in Brazil. The aging process is accompanied by a series of physiological and pathological changes that significantly affect the overall health and oral health of the elderly. In this context, the aim of the study was to address the most prevalent oral changes among the elderly and the urgent need for effective geriatric dental interventions in the care and promotion of this population’s quality of life. The research is a literature review, using articles published between 2000 and 2023 from databases such as PubMed, SciELO, BVSALUDE and “Google Scholar. A total of 32 articles were selected using the following guiding question as a parameter: “How does oral health impact and/or interfere with the quality of life of the elderly?” The selected studies met the criteria of being free publications with full text available. The articles were reviewed with a special focus on the methods applied by the authors and the results achieved. The data were systematically organized to allow for critical and comparative analysis. The results indicated that the most prevalent diseases among the elderly are root caries, periodontal disease, xerostomia, denture stomatitis, and candidiasis. Moreover, the prevention and maintenance of good oral health are directly related to improved quality of life. Additionally, aspects such as self-esteem and social interaction of the elderly are significantly affected by the state of their oral health. It is concluded that it is evident that oral health is directly related to the quality of life of the elderly. An integrated and multidisciplinary approach in geriatric dentistry is essential, including the promotion of preventive practices and the strengthening of public health policies. This approach should not only consider the clinical aspects of oral health but also the social, emotional, and cultural factors that influence the perception and care of oral health in this population.

Keywords: Oral health; Quality of life; Elderly; Geriatric dentistry.

1 INTRODUÇÃO

A redução das taxas de fecundidade, juntamente com o aumento na expectativa de vida devido à melhoria nos cuidados de saúde e nas condições socioeconômicas, tem acelerado o envelhecimento populacional no Brasil. Embora, esse fenômeno seja global, no Brasil a transição demográfica ocorre de maneira mais rápida. Enquanto na França a população idosa levou 140 anos para dobrar de 10% para 20%, no Brasil, essa mudança deve acontecer em apenas 25 anos. Projeções indicam que, em 2060, mais de 25% da população brasileira terá mais de 60 anos (MREJEN; NUNES; GIACOMIN, 2023).                                                            

O envelhecimento populacional traz profundas mudanças nas capacidades e necessidades da população, impactando vários aspectos sociais e econômicos. A transição demográfica influencia na participação na força de trabalho e os custos com saúde, o que aumenta a pressão sobre os sistemas de previdência e saúde, responsáveis pela proteção social (BLOOM; LUCA, 2016; CAMARANO, KANSO; FERNANDES, 2014). Além disso, as doenças crônicas não transmissíveis afetam de maneira mais intensa a população idosa (NORTON, 2016).                                                                                                                     

Nesse sentindo, o processo de envelhecimento é acompanhado por uma série de alterações fisiológicas e patológicas que afetam significativamente a saúde geral e a saúde bucal dos indivíduos idosos. Essas mudanças, muitas vezes inevitáveis, demandam uma atenção especial no que diz respeito ao autocuidado e à promoção da saúde bucal, uma vez que a manutenção da saúde oral é importante para garantir a qualidade de vida nesta fase da vida (PAULINO et al., 2023).

A saúde bucal está intimamente interligada à saúde geral, e sua negligência pode agravar condições sistêmicas, como doenças cardiovasculares e diabetes, além de impactar negativamente a autoestima e a interação social dos indivíduos idosos. Nesse contexto, a odontogeriatria, um ramo da odontologia especializado na saúde bucal dessa faixa etária, torna-se cada vez mais crucial, especialmente diante do aumento da expectativa de vida e da crescente prevalência de doenças crônicas (DE AQUINO et al., 2020).                                                      

A perda dentária é uma das alterações mais prevalentes entre os idosos e pode ser atribuída a uma combinação de fatores, como doenças periodontais, cáries não tratadas e a falta de acesso a cuidados odontológicos regulares ao longo da vida. A ausência de dentes compromete diretamente a capacidade mastigatória, o que pode levar a deficiências nutricionais e a uma diminuição na qualidade de vida. Além disso, a perda de dentes leva a redução na altura vertical da face, podendo alterar a estética facial e impactar negativamente a autoestima do idoso (FERREIRA et al., 2024).                                                               

Outra alteração é a xerostomia, ou boca seca, comum entre os idosos e está frequentemente associada ao uso de múltiplas medicações, condição conhecida como polifarmácia. A redução na produção de saliva não só afeta a lubrificação da boca, mas também compromete a função de limpeza natural da saliva, aumentando o risco de cáries, infecções bucais e dificuldades na deglutição (REZENDE et al., 2022).

As alterações na mucosa oral, que incluem desde lesões atróficas até a presença de condições como a candidíase, também são frequentes entre os idosos. Essas mudanças podem ser atribuídas ao envelhecimento natural dos tecidos, à xerostomia, ao uso de próteses mal ajustadas e ao sistema imunológico enfraquecido, característico da idade avançada (DE ARAÚJO et al., 2024).

Além das condições doenças sistêmicas, como diabetes e doenças cardiovasculares, tem uma relação bidirecional com a saúde bucal: enquanto essas condições podem exacerbar problemas bucais e a má saúde bucal pode, por sua vez, agravar essas doenças (DA SILVA ARAÚJO; GONÇALVES, 2023).

Outro aspecto relevante é a limitação funcional que muitos idosos enfrentam, seja por causa de condições como artrite, doenças neurológicas ou deficiência motora. Essas limitações dificultam a realização de uma higiene bucal adequada, aumentando o risco de cáries, doenças periodontais e outras complicações orais. É fundamental que os profissionais de saúde estejam cientes dessas limitações e adaptem suas orientações e tratamentos de acordo com as necessidades individuais de cada idoso (DE SOUSA et al., 2023).                                                     

A odontogeriatria é uma especialidade odontológica que se dedica ao cuidado da saúde bucal dos idosos, levando em consideração as particularidades biológicas, psicológicas e sociais que acompanham o envelhecimento. Esse campo é fundamentado em princípios que orientam tanto a prática clínica quanto a comunicação entre profissionais de saúde e pacientes, promovendo um atendimento humanizado e eficaz (DA CRUZ et al., 2022).

Um dos pilares da odontogeriatria é a comunicação eficaz com os pacientes idosos, que muitas vezes enfrentam barreiras cognitivas e físicas que dificultam a compreensão das orientações de saúde. A comunicação clara e empática é essencial para o sucesso do tratamento, especialmente considerando que muitos idosos podem apresentar dificuldades auditivas, visuais ou cognitivas (DA CRUZ et al., 2022).

A prática odontogeriátrica também requer uma compreensão profunda das alterações fisiológicas e patológicas que ocorrem com o envelhecimento e como elas impactam a saúde bucal. O envelhecimento é acompanhado por uma série de mudanças, como a diminuição da capacidade regenerativa dos tecidos, a presença de comorbidades e o uso de múltiplas medicações (polifarmácia), que podem exacerbar problemas bucais (CAMPOSTRINI; KALLÁS, 2024).

A integração de uma abordagem multidisciplinar é outro aspecto fundamental na odontogeriatria. A saúde bucal dos idosos está intimamente ligada a outros aspectos da saúde geral, como a nutrição, a saúde mental e a mobilidade física. Por exemplo, a perda de dentes e a dificuldade em mastigar podem levar à desnutrição, que por sua vez pode agravar doenças sistêmicas como a diabetes e a hipertensão (MENEGON et al., 2023).

O atendimento domiciliar também é uma prática relevante dentro da odontogeriatria, especialmente para aqueles pacientes que possuem mobilidade reduzida ou condições de saúde que dificultam o deslocamento até o consultório (DE ALMEIDA COSTA et al., 2022).

Outro elemento importante na prática odontogeriátrica é o uso de práticas integrativas e complementares em saúde, como a acupuntura, fitoterapia e terapias manuais, que podem ser aliadas no controle de dor, ansiedade e outros sintomas comuns entre idosos (LUCAS et al., 2022).

Em termos de formação profissional, a odontogeriatria requer uma educação continuada e específica para capacitar os cirurgiões-dentistas a lidarem com as particularidades dos pacientes idosos. Infelizmente, a formação em odontogeriatria ainda é insuficiente em muitos currículos de graduação em odontologia, o que pode resultar em uma prática clínica inadequada ou incompleta (DE AQUINO et al., 2020).

A saúde bucal é um componente essencial na qualidade de vida, especialmente entre os idosos, que enfrentam diversas mudanças fisiológicas e sociais com o passar dos anos. No contexto da odontogeriatria, o conceito de percepção pessoal sobre a saúde bucal torna-se central. Esse conceito refere-se à maneira como os indivíduos avaliam sua condição de saúde oral com base em suas experiências, crenças e expectativas. Essa percepção, embora subjetiva, tem um impacto significativo nas atitudes e comportamentos relacionados ao cuidado com a saúde bucal (NOVAIS et al., 2022).

A percepção da própria saúde bucal está intimamente ligada ao senso de coerência, um conceito desenvolvido por Aaron Antonovsky, que descreve a capacidade de um indivíduo em ver a vida como compreensível, manejável e significativa. Em termos de saúde, um forte senso de coerência sugere que o indivíduo possui uma visão positiva sobre sua capacidade de lidar com problemas de saúde, o que inclui o manejo da saúde oral (DAVOGLIO et al., 2020).

A forma como os idosos percebem sua saúde bucal pode ser influenciada por uma série de fatores sociais, econômicos e culturais. Por exemplo, o nível de escolaridade e a renda são fatores que afetam diretamente essa percepção. Indivíduos com maior escolaridade tendem a ter uma visão mais positiva, possivelmente devido a um melhor acesso à informação e aos serviços de saúde (DE JESUS et al., 2020).

A avaliação que o idoso faz de sua saúde bucal também envolve a maneira como ele interpreta as limitações físicas e funcionais causadas por problemas orais. A capacidade de mastigar adequadamente, a dor oral e a estética dentária são fatores que podem afetar essa percepção. Uma visão negativa sobre sua saúde bucal muitas vezes resulta em diminuição da autoestima e isolamento social, uma vez que os indivíduos podem sentir-se constrangidos em interações sociais devido a problemas bucais visíveis ou dolorosos (REIS et al., 2021).

A maneira como os idosos avaliam sua saúde bucal pode servir como um indicador importante na prática clínica e na pesquisa em odontogeriatria. Entender essas avaliações pode ajudar os profissionais a adaptarem suas abordagens de tratamento, melhorando a adesão ao tratamento e os resultados de saúde. Essa abordagem centrada no paciente, que leva em consideração a percepção individual de saúde, é fundamental para a promoção de um envelhecimento saudável e para a melhoria da qualidade de vida dos idosos (NOVAIS et al., 2022).                              

No contexto da saúde pública, entender como os idosos percebem sua saúde bucal é fundamental para desenvolver políticas e programas que atendam às suas necessidades. Essa percepção pode ser um indicativo valioso de quais intervenções são necessárias e como elas podem ser moldadas para melhorar não só a saúde oral, mas também a qualidade de vida dos idosos. Isso reforça a importância de abordar a saúde bucal dos idosos de forma holística, considerando os aspectos emocionais e sociais, além dos físicos (MUSSOLIN et al., 2020).   Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi abordar as alterações bucais de maior prevalência entre os idosos e a necessidade urgente de intervenções odontogeriátrica eficazes no cuidado e na promoção da qualidade de vida dessa população. Limitações físicas, falta de acesso a cuidados odontológicos especializados e o uso de múltiplas medicações são fatores que dificultam a manutenção de uma boa higiene bucal nessa população (MAIERON et al., 2023). A relevância dessa investigação é evidente, dado o envelhecimento acelerado da população e as implicações desse processo para os sistemas de saúde,                                          

A saúde bucal não se limita à ausência de cáries ou doenças periodontais; envolve a preservação de funções essenciais, como a mastigação e a comunicação, que impactam diretamente na qualidade de vida dos idosos (OLIVEIRA et al., 2022).

2 METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão narrativa da literatura, fundamentada na análise e discussão de estudos pertinentes ao tema, com o objetivo de sintetizar informações (ROTHER, 2007).
           

A busca foi realizada nas bases de dados “BVSALUD”, “SciELO” e “Google Acadêmico”, utilizando os descritores e termos-chave “Saúde bucal”, “Qualidade de vida”, “Idosos” e “Odontogeriatria”. Como parâmetro, foi utilizada a seguinte questão norteadora: “De que maneira a saúde bucal impacta e/ou interfere na qualidade de vida dos idosos?”. Os estudos selecionados atendiam ao critério de serem publicações gratuitas e com texto completo disponível, abrangendo o período de 2000 a 2024.
          

Os critérios de inclusão consideraram estudos relacionados à correlação entre saúde bucal, funcionalidade e qualidade de vida de idosos, que fossem completos, de acesso livre e publicados entre 2000 e 2024. Dessa forma, buscou-se identificar as práticas, desafios e benefícios descritos na literatura, proporcionando uma compreensão mais aprofundada do tema. A variedade das fontes e o extenso intervalo temporal garantiram uma revisão ampla e sólida, essencial para futuras análises críticas.
          

Foram excluídos os estudos publicados antes de 2000, por potencialmente comprometerem os resultados, bem como aqueles que não estavam disponíveis na íntegra.
         

A pesquisa inicial resultou na identificação de aproximadamente 130 artigos nas bases de dados mencionadas, dos quais 50 foram selecionados para análise e discussão. Os artigos escolhidos incluíam (17) da SciELO, (18) da PubMed e (20) do Google Acadêmico.
          

Após a triagem, 32 artigos foram selecionados para análise final. Esses textos foram revisados com foco especial nos métodos aplicados pelos autores e nos resultados alcançados.
          

Os dados foram organizados sistematicamente para possibilitar uma análise crítica e comparativa. As considerações finais sintetizaram os principais achados, enfatizando novas políticas, além de implicações teóricas e práticas relacionadas aos cuidados paliativos em odontologia, sugerindo caminhos para futuras pesquisas.
    

Por se tratar de uma revisão de literatura, este trabalho não requer aprovação do Comitê de Ética.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

As doenças bucais são altamente prevalentes entre os idosos, impactando significativamente sua qualidade de vida. A cárie radicular, por exemplo, é uma das condições mais comuns, resultante da recessão gengival e da maior exposição das superfícies radiculares ao ambiente bucal. Este quadro é agravado por fatores como má higiene oral e o uso inadequado de próteses. Estudos mostram que a prevalência dessas condições aumenta com a idade, e a falta de cuidados preventivos agrava o problema (MURRAY THOMSON, 2014; CHEN et al., 2013).

Estudos realizados por Andrade et al. (2019), mostraram que a prevalência de cárie em idosos pode atingir mais de 60%, destacando-se como uma das principais causas de perda dentária nessa população. Além disso, doenças periodontais, como a gengivite e a periodontite, são frequentes, e sua gravidade aumenta com a idade devido à diminuição da capacidade imunológica (SILVA; PEREIRA, 2020).

Outra condição amplamente observada entre os idosos é a xerostomia, ou sensação de boca seca, frequentemente associada ao uso de medicamentos que afetam a produção salivar. Essa redução do fluxo salivar favorece o desenvolvimento de cáries, infecções fúngicas, como candidíase, e dificuldades na mastigação e deglutição (OLIVEIRA et al., 2018).                             De acordo com Costa et al. (2021), cerca de 30% a 40% dos idosos apresentam xerostomia, o que reforça a necessidade de um acompanhamento odontológico regular para a prevenção e tratamento de suas complicações. Ademais, o edentulismo, ou ausência total de dentes, permanece uma realidade em muitos países, sendo uma consequência direta da falta de acesso a cuidados preventivos ao longo da vida.

Além disso, pacientes que fazem uso de múltiplos medicamentos (polifarmácia) requer cuidados no atendimento odontológico. A polifarmácia traz como consequência a xerostomia e o aumento do risco de interações medicamentosas adversas. Os autores defendem a necessidade de uma abordagem cuidadosa e integrada, que considere os riscos específicos e adapte os tratamentos odontológicos para garantir a segurança e a eficácia no cuidado dos idosos (MAIERON et al. 2023).

Outras doenças comuns em idosos, além da xerostomia e perda dentária é a síndrome do envelhecimento precoce bucal e a dor crônica que impactam negativamente a nutrição, a autoestima, bem como, traz implicações para os transtornos psiquiátricos. Necessitando de uma abordagem integrada, o manejo dessas condições deve ser multidisciplinar, envolvendo tanto dentistas quanto psiquiatras e outros profissionais, para oferecer um cuidado mais completo aos pacientes proporcionando-os qualidade de vida (FERREIRA et al., 2024; DE ARAÚJO et al., 2024).

Reforçando a pesquisa anterior, Mussolin et al. (2020), examinaram o impacto da saúde bucal e mental na qualidade de vida de idosos em uma unidade de saúde da família, e evidenciou que a saúde mental e a saúde bucal estão intimamente relacionadas.

Estudos de Oliveira et al. (2022), realizado em idosos assistidos em uma clínica escola de odontogeriatria, revelou que, condições como lesões e inflamações na mucosa bucal são frequentes entre os idosos, o que pode ser exacerbado pelo uso de próteses mal ajustadas e pela falta de higiene bucal adequada. A pesquisa destaca a importância do monitoramento regular e da intervenção precoce para prevenir complicações e melhorar a saúde bucal desses pacientes.

Nesse sentido, De Aquino et al. (2020), enfatizam a necessidade de uma abordagem multidisciplinar e personalizada para o cuidado com a saúde bucal dos idosos. Eles sugerem que a prática odontológica para essa faixa etária deve considerar as múltiplas condições de saúde dos pacientes, como a polifarmácia, que pode influenciar diretamente na saúde bucal.

Lucas et al. (2022) analisaram a associação entre práticas integrativas e complementares em saúde e o uso de serviços odontológicos por idosos no Brasil. O estudo revela que o uso de práticas como acupuntura e fitoterapia está associado a uma maior procura por cuidados odontológicos, sugerindo que essas práticas podem complementar os tratamentos convencionais e promover uma melhor saúde bucal. A integração dessas práticas no atendimento odontológico aos idosos, oferece um cuidado mais holístico.

A odontogeriatria sob uma visão multidisciplinar, com foco no cuidado da saúde bucal dos idosos deve envolver diferentes áreas do conhecimento, como a nutrição, a psicologia e a fisioterapia dentre outras. A abordagem integrada é necessária para tratar as complexidades da saúde bucal na terceira idade, oferecendo um cuidado mais completo e eficaz (CAMPOSTRINI; KALLÁS, 2024).

Baseando-se em experiências práticas de atendimento, De Sousa et al. (2023), destacam ainda que, além dos cuidados técnicos, é fundamental considerar o aspecto humanizado no atendimento aos idosos, reconhecendo suas limitações e valorizando sua autonomia. Os autores ressaltam que a construção de um vínculo de confiança entre o dentista e o paciente idoso é essencial para o sucesso do tratamento e para a adesão às práticas de autocuidado.

Os autores Da Cruz et al. (2022), sugerem que a comunicação deve ser clara, empática e adaptada às limitações cognitivas e sensoriais dos idosos. A compreensão e o respeito pelas particularidades de cada paciente são essenciais para construir uma relação de confiança e promover a adesão ao tratamento odontológico.

A equipe multidisciplinar deve promover o autocuidado, como estratégia fundamental para a manutenção da saúde bucal na terceira idade (PAULINO et al., 2023).

Rezende et al. (2022), analisam a população de idosos com deficiência motora e limitação funcional nos estados da Região Sudeste do Brasil, e identificou que esses idosos enfrentam barreiras adicionais para o autocuidado bucal, como a dificuldade de realizar a higiene diária, o que agrava o risco de desenvolver doenças bucais. Os autores defendem a necessidade de adaptações nos cuidados odontológicos, incluindo suporte técnico e humano para garantir que esses idosos recebam o cuidado necessário.

Além disso, Paulino et al. 2023, afirma em seus estudos que muitos idosos não têm acesso às informações e aos serviços de saúde adequados. Sugerindo fortemente que a atenção primária deve ser fortalecida com programas específicos para idosos, incluindo ações de prevenção e educação em saúde bucal

Corroborando com o resultado anterior, Da Silva et al. (2020), destacam que a falta de acesso a cuidados odontológicos especializados, aliada à limitação do autocuidado, resulta em uma alta prevalência de doenças bucais como cáries e periodontites. A falta de supervisão adequada agrava esses problemas, evidenciando a necessidade de intervenções específicas e contínuas para melhorar a qualidade de vida desses pacientes.       

Nesse contexto, pesquisas mostram que embora a população idosa esteja crescendo rapidamente, os serviços odontológicos disponíveis ainda não atendem de forma adequada às necessidades desse grupo. Destacando a carência de políticas públicas eficazes e a falta de formação específica dos profissionais. Sugerindo a ampliação do acesso aos cuidados odontológicos para idosos e incentivando a formação de especialistas em odontogeriatria (DA SILVA ARAÚJO; GONÇALVES, 2023).

Uma estratégia que está sendo muito utilizada e recomendada no atendimento à idoso é o atendimento domiciliar. A literatura destaca as vantagens e os desafios dessa modalidade de atendimento. Os autores sugerem que o atendimento domiciliar deve ser considerado como parte integrante dos serviços odontológicos para idosos, especialmente em contextos em que o acesso aos consultórios é limitado. O atendimento domiciliar pode ser uma solução eficaz para idosos com mobilidade reduzida, mas exige uma preparação específica dos profissionais e a adaptação dos equipamentos utilizados (DE ALMEIDA COSTA et al., 2022).

4 CONCLUSÃO

Diante disso, é evidente que a saúde bucal está diretamente relacionada com a qualidade de vida dos idosos. Sendo essencial uma abordagem integrada e multidisciplinar na odontogeriatria, que inclua a formação adequada dos profissionais, a promoção de práticas preventivas e o fortalecimento das políticas públicas de saúde. Para isso não devendo apenas considerar os aspectos clínicos da saúde bucal, mas também os fatores sociais, emocionais e culturais que influenciam a percepção e o cuidado com a saúde bucal nessa população.

Embora a odontogeriatria esteja se consolidando como uma especialidade essencial, ainda há lacunas significativas no acesso aos cuidados, na formação dos profissionais e na implementação de políticas públicas eficazes.

Portanto, é fundamental promover uma abordagem integrada na odontogeriatria, que contemple a formação contínua dos profissionais, o fortalecimento da atenção primária, e a criação de políticas públicas que garantam o acesso universal e de qualidade aos cuidados odontológicos para a população idosa. Somente através dessas ações coordenadas será possível enfrentar os desafios identificados e assegurar uma velhice mais saudável e digna para todos.

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