A SAÚDE BUCAL NA POPULAÇÃO IDOSA: REVISÃO INTEGRATIVA

ORAL HEALTH IN THE ELDERLY POPULATION: AN INTEGRATIVE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10155668


Matheus Ricardo Lemos de Araújo Carvalho, Edney Souza Serra, Nice Souza de Castro, Cláudia Valéria Morais Lobo, Orientador: Saul Alfredo Antezana Vera.


RESUMO

O objetivo geral desta revisão de literatura é analisar a literatura existente sobre saúde oral em idosos com o objetivo de compreender o estado atual do conhecimento nesta área e identificar lacunas na investigação. A realização de um inquérito sobre a saúde oral dos idosos, no âmbito de uma revisão de literatura, é um processo abrangente e ordenado que implica uma investigação aprofundada do estado atual do conhecimento científico neste domínio específico. Esta metodologia envolve uma análise crítica e síntese de pesquisas anteriores, o que permite uma compreensão mais profunda das tendências, discrepâncias e descobertas pertinentes relativas à saúde bucal dos idosos. A justificativa para explorar este tópico é que a saúde bucal é fundamental para a qualidade de vida dos idosos. À medida que envelhecemos, a nossa saúde oral torna-se mais suscetível a uma série de problemas, tais como perda de dentes, doenças gengivais e outras condições orais, que podem afetar a capacidade de comer, comunicar de forma eficaz e manter uma boa saúde geral.

Palavras-Chave: Odontologia; Idosos; Hospitalizados; Saúde.    

ABSTRACT

Keywords: The general objective of this literature review is to analyze the existing literature on oral health in the elderly with the aim of understanding the current state of knowledge in this area and identifying gaps in research. Carrying out a survey on the oral health of the elderly, as part of a literature review, is a comprehensive and orderly process that involves an in-depth investigation of the current state of scientific knowledge in this specific field. This methodology involves a critical analysis and synthesis of previous research, which allows for a deeper understanding of trends, discrepancies and pertinent findings relating to the oral health of older adults. The rationale for exploring this topic is that oral health is fundamental to the quality of life of the elderly. As we age, our oral health becomes more susceptible to a range of problems, such as tooth loss, gum disease and other oral conditions, which can affect the ability to eat, communicate effectively and maintain good health. general.

Keywords: Dentistry; Elderly; Hospitalized; Health.

INTRODUÇÃO 

A população idosa vem tendo destaque nos últimos tempos, e concentrando destaque e desafios que a acompanham, bem como garantir seu acesso aos cuidados de saúde bucal. A taxa de ocorrência de cáries e doenças periodontais nessa população é alta, causando danos irreversíveis nos dentes, caso não tratadas, podem ter a necessidade da extração dentária, afetando negativamente a qualidade de vida (Silva et. al. 2005; Liu et al. 2021). A fim de evitar tais resultados, é importante garantir que os idosos recebam serviços de cuidados dentários preventivos e curativos.

Em tempos passados, a obtenção de atendimento odontológico era dificultada devido a diversos obstáculos no setor de saúde. A falta de recursos e práticas desatualizadas frequentemente levaram à realização de procedimentos rápidos e decrescentes de procedimentos, mesmo que estes sejam atualmente simples. Uma vez que, as pessoas idosas possuem preocupações específicas que surgem com o avanço da idade, incluindo seu estado de saúde, higiene e condição geral, os quais podem variar. Isso se aplica principalmente às pessoas com afecções crônicas e outras condições que podem dificultar sua capacidade de manter a higiene oral adequada ou torná-las dependentes de cuidadores. Assim, a capacidade funcional poderá ser influenciada (Barbe et al. 2017).

Com o avançar da idade da população, a relevância do bem-estar ganha destaque progressivamente. Nesse meio, a saúde bucal, em particular, tem uma importância significativa, uma vez que pode afetar a ingestão de nutrientes, bem como o bem-estar físico e mental. Sendo que esta faixa etária é formada heterogeneamente e multifacetada, cada uma com suas experiências de vida singulares. Desta maneira, abrangendo os idosos com variados históricos, classes sociais, culturais e de saúde, assim como distintos graus de motivação na manutenção da sua saúde bucal (Liu et al. 2021).

Uma vez que a população vai envelhecendo, a saúde oral entre eles é um tema cada vez mais relevante, Motivo este o propósito de investigar esse assunto é o fato de que a saúde bucal desempenha um papel crucial na qualidade de vida dos idosos (Burks et al. 2017). em razão de a saúde oral se tornar mais propensa a uma variedade de problemas, como perda de dentes, doenças gengivais e outras condições orais, que podem afetar a capacidade de ingerir, comunicar de maneira eficaz e manter uma boa saúde geral. 

Portanto, promover a saúde bucal em idosos é uma importante medida preventiva que ajuda a manter o bem-estar, a independência e a dignidade desse grupo. O objetivo geral desta revisão de literatura busca descrever as dificuldades que existem sobre saúde oral em idosos, e compreender o estado atual do conhecimento nesta área e identificar lacunas na investigação. Com isso, a finalidade deste estudo, é fornecer uma perspectiva abrangente e atualizada sobre a saúde oral dos idosos para orientar futuras pesquisas e políticas de saúde para esta população. E para atingir os objetivos, foram propostas: 1) Avaliar a prevalência e os principais fatores de risco de problemas de saúde bucal em idosos; 2) Analisar estratégias de prevenção e intervenção existentes para promover a saúde bucal em idosos; 3) Determinar o impacto dos desafios e barreiras ao acesso ao atendimento odontológico na população idosa e recomendações para melhorar o atendimento odontológico para essa faixa etária. 

MATERIAIS E MÉTODOS

Para realizar uma revisão abrangente da literatura científica, foram examinados artigos de diversas bases de dados on-line, como Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Bibliografia Brasileira de Odontologia (BBO), SciELO, Lilacs, Medline e Cochrane. Para busca nas Bibliotecas Virtuais em Saúde (BVS), foram utilizados Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), utilizando as palavras-chave “tratamento em idoso”, “saúde bucal em idoso” e “odontologia hospitalar” na estratégia “idosos e saúde bucal em hospitais”. Os artigos foram selecionados segundo o seu rigor científico e interesse para o tema, foram selecionados trabalhos que demonstravam maior relevância para o tema. 

Os critérios de inclusão neste estudo foram os seguintes: o texto deveria estar disponível em português e inglês, publicado entre 2005 a 2021, e deveria reconhecer a prática odontológica hospitalar conforme sancionada pela Comissão Odontológica Federal (CFO). A exploração foi realizada na Biblioteca Virtual em Saúde, resultando na descoberta de um total de 29 trabalhos. Destes trabalhos, foram escolhidos e 13 foram também incorporados devido ao seu significativo contributo para a informação sobre o bem-estar oral dos idosos em ambiente hospitalar. A Figura 1 apresenta o passo a passo do procedimento utilizado para realizar uma análise minuciosa da literatura científica. 

Figura 1 – Fluxo da revisão integrativa da literatura científica.

   

REVISÃO DE LITERATURA

Atualmente, os idosos que frequentam regularmente o dentista, estão mais satisfeitos com a saúde de seus dentes do que aqueles que não tem uma certa frequência. Demonstrando assim que, o número de consultas realizadas aos profissionais de odontologia pode ter um impacto significativo na qualidade de vida geral vivenciada por esses indivíduos (Rigo et al. 2015).

A aquisição de dados relativos e à autopercepção é uma componente crucial, pois proporciona uma perspectiva sobre as condições de saúde oral e as necessidades de tratamento, tendo em conta o ponto de vista do indivíduo, particularmente da população idosa (Bernardes et al. 2019). Uma avaliação objetiva da autopercepção em relação a fatores clínicos, como o número de dentes cariados, perdidos ou restaurados (CPO), tem sido demonstrada por meio de estudos. Enquanto isso, a autopercepção subjetiva abrange sintomas de doenças, capacidade de sorrir, falar e mastigar, e é influenciada por fatores como classe social, idade, renda e gênero (Silva e Fernandes, 2001). 

Estudos têm demonstrado consistentemente que os idosos possuem um certo nível de precisão na avaliação do seu próprio bem-estar oral, embora estes critérios sejam obtidos do cirurgião dentista. Uma vez que, que estes profissionais avaliam o estado clínico da cavidade oral com base na ausência de efeitos negativos, priorizando os sintomas, as funções das doenças bucais (Silva e Fernandes, 2001). Segundo Silva et al. (2005) afirmam que a maioria das avaliações da saúde oral são baseadas em indicadores clínicos da doença. Deste modo, a análise de como a saúde bucal afeta o bem-estar dos idosos vem ganhando força. Não se limitando apenas às implicações físicas, mas também abrange ramificações psicológicas e sociais. Visto que, a avaliação clínica da saúde bucal realizada pelo cirurgião dentista, pode não fornecer as mesmas informações obtidas nas avaliações de autopercepção realizadas pelo indivíduo (Silva et. al. 2005).

A percepção da própria saúde, ou autopercepção de saúde, é determinada pela forma de como entendem e interpretam suas experiências diárias de saúde. Esta compreensão é influenciada por diversas fontes de conhecimento, como o conhecimento empírico, tácito, teológico, filosófico ou científico, e é moldada por normas sociais e culturais (Lewandowski, 2014). Embora a autoavaliação da saúde oral não possa substituir uma avaliação de um cirurgião dentista, é crucial reconhecer a importância do relato pessoal do paciente idoso sobre quaisquer problemas funcionais e sociais que tenham surgido da sua saúde oral. Isto é necessário para obter uma compreensão genuína do estado atual do paciente (Bernardes et al. 2019).

Conforme pesquisa realizada por Lima et al. (2013), é evidente que o envolvimento dos profissionais de saúde seja crucial no desenvolvimento, implementação e supervisão de programas que visam melhorar a qualidade de vida geral e o bem-estar das populações-alvo. Assim, é crucial avaliar a própria percepção da saúde oral do paciente, uma vez que esta influência no comportamento (Bernardes et al. 2019). Frente a essa necessidade, foram desenvolvidos indicadores sócio-dentais com a tentativa de complementar os indicadores clínicos comumente utilizados (Lewandowski, 2014). 

Em razão deste, foram criados questionários para avaliar aspectos funcionais, sociais e psicológicos relacionados a doenças bucais. Um exemplo disso é o Oral Health Impact Profile (OHIP), desenvolvido por Slade e Spencer em 1994. O questionário OHIP consiste em 49 perguntas, com o objetivo de determinar se o paciente experimentou algum tipo de distúrbio nos últimos 12 meses devido a questões relacionadas à saúde bucal, dentes ou prótese dentária (Silva e Fernandes, 2001). Esta ferramenta, permite uma avaliação abrangente do impacto social das disfunções orais (Rigo et al. 2015). Visto que, muitas vezes os pacientes subestimam ou superestimam sua condição de saúde bucal, o que impacta diretamente nas práticas de promoção da saúde bucal dos idosos (Lima et al. 2013).

Neste estudo, na Tabela 1 são descritos os principais estudos analisados, que ressaltam a importância da inclusão do cirurgião dentista e da realização de novos estudos da odontologia hospitalar.

Autores/AnoTítuloObjetivosResultados Encontrados
Macedo et al. (2020)Aspectos do atendimento odontológico aos pacientes internados na Clínica Médica do Hospital Universitário.Descrever as características sistêmicas e bucais de pacientes atendidos em clínicas médicas de hospitais universitários do sistema público de saúde brasileiroOs resultados indicam a necessidade de prática odontológica e atividades preventivas em ambientes hospitalares
Maeda e Mori (2020)Má saúde bucal e mortalidade entre pacientes idosos em hospitais de cuidados agudos: um estudo observacionalA mortalidade intra-hospitalar foi determinada avaliando-se a saúde bucal precária em pacientes idosos em um hospital de cuidados intensivos.A mortalidade intra-hospitalar foi determinada avaliando-se a saúde bucal precária em pacientes idosos em um hospital de cuidados intensivos.
Macedo et al. (2019)Opções de cuidados clínicos para prevenção de mediastinite após cirurgia de revascularização do miocárdio: uma iniciativa de melhoria da qualidade em um hospital privadoDescrever a eficácia de um protocolo de atendimento clínico padronizado na prevenção de mediastinite em pacientes submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio (CRM)A implementação de um protocolo padronizado foi associada a uma redução significativa na incidência de mediastinite pós-CRM e a uma redução na mortalidade no grupo de pacientes com mediastinite
Shiraishi et al. (2019)O estado de saúde bucal prejudicado na admissão está associado a resultados clínicos adversos em pacientes hospitalizados de forma aguda: um estudo de coorte prospectivoInvestigar o impacto do estado de saúde bucal comprometido nos resultados clínicos e funcionais da reabilitação hospitalar agudaPara garantir uma saúde oral ideal, é imperativo que os problemas sejam detectados e resolvidos precocemente. Isto pode ser alcançado através da intervenção oportuna de profissionais de odontologia ou de um esforço conjunto entre especialistas médicos e odontológicos no ambiente hospitalar. Isto é especialmente crucial para pacientes que recebem reabilitação pós-aguda, pois pode ter um impacto significativo na sua saúde geral e recuperação.
Fonseca (2019)Cuidados com a saúde bucal do idoso hospitalizadoAnalisar como realizar cuidados com a saúde bucal de idosos hospitalizadosDetectar deficiências na prestação de cuidados de enfermagem aos pacientes idosos hospitalizados foi viável
Martín et al. (2018)Efeitos de uma intervenção mínima em larga escala em idosos hospitalizados com disfagia orofaríngea: um estudo de prova de conceitoO objetivo deste estudo é avaliar o impacto de uma Intervenção Mínima Massiva (IMM) na mitigação de problemas respiratórios e nutricionais em pacientes geriátricos hospitalizados com disfagia orofaríngeaO MMI em pacientes idosos hospitalizados por disfagia orofaríngea melhora o estado nutricional e a função e reduz readmissões, infecções respiratórias e mortalidade.
Júnior et al. (2018)Construção e validação de um guia educativo para cuidadores de idosos em contexto hospitalarDesenvolva um guia completo para cuidadores de idosos que recebem cuidados hospitalares, descrevendo práticas básicas para manter a higiene bucal. O guia deve incluir instruções sobre como usar corretamente os materiais necessários para a higiene bucal diária, bem como orientações sobre como cuidar de suas próteses e garantir uma saúde bucal idealO guia foi escrito para facilitar a implementação de cuidados aos idosos, minimizando as dificuldades das ações de higiene bucal e cuidados com próteses, melhorando assim a qualidade de vida.
Van de Rijt et al. (2018)Saúde bucal e dor orofacial em pessoas com demência internadas em enfermarias de hospitais agudos: estudo de coorte observacionalInvestigar a prevalência de dor orofacial em pacientes com demência em hospitais de urgência no Reino UnidoMelhorar a higiene oral em pacientes hospitalizados com demência, especialmente aqueles que não conseguem relatar dor, poderia reduzir significativamente a dor e o sofrimento nesta população.
Kim et al. (2017)Efeito duradouro de um programa de higiene bucal para pacientes com acidente vascular cerebral durante a reabilitação hospitalar: um ensaio clínico randomizado de centro único.Implementar um plano de cuidados de higiene oral (PCHB) para pacientes internados com AVC e avaliar a sua persistência após a alta.PCHB administrado durante a recuperação hospitalar melhora efetivamente a saúde bucal e o controle do biofilme em pacientes com AVC, com efeitos ainda observados três meses após a alta.
Steel (2017a)Higiene oral e cuidados com a boca para idosos em hospitais agudos: parte 1Explorar a higiene oral e prestar cuidados orais a idosos em hospitais de urgência.Os idosos internados em hospitais de cuidados intensivos têm uma elevada prevalência de doenças orais e dentárias e necessitam de cuidados orais, mas os serviços de cuidados no Reino Unido são sub-ótimos.
Steel (2017b)Higiene oral e cuidados com a boca para idosos em hospitais agudos: parte 2Explorando serviços de higiene bucal e cuidados bucais para idosos em hospitais de cuidados intensivos: recomendações clínicasExiste um enorme potencial para inovar e desenvolver novas formas de cuidar de idosos em hospitais de cuidados intensivos
Higashiguchi et al. (2018)Eficácia de uma nova intervenção pós-flush (“flush” mais suplementos nutricionais orais) na prevenção de pneumonia por aspiração em adultos mais velhos: um ensaio multicêntrico comparativo randomizado.Avaliar a eficácia de uma nova intervenção de higiene oral: “enxágue” mais um suplemento nutricional oral na prevenção de pneumonia por aspiração em idososUma intervenção que “descontamina e fornece suplementos nutricionais orais” parece ajudar a prevenir a pneumonia por aspiração e, assim, reduzir o risco de morte
Burks et al. (2017)Fatores de risco para desnutrição entre adultos mais velhos no departamento de emergência: um estudo multicêntrico.Identificar fatores de risco modificáveis associados à desnutrição em pacientes idosos.Os fatores de risco que têm maior impacto na alimentação são problemas de saúde bucal, insegurança alimentar e falta de transporte

DISCUSSÃO

O objetivo da Odontologia Hospitalar é otimizar a qualidade de vida e a saúde geral das pessoas, independentemente da gravidade do seu estado de saúde. Para atingir esse objetivo, uma equipe de profissionais de diversas disciplinas deve trabalhar em colaboração para oferecer aos pacientes um atendimento integral. Entre esses profissionais, o cirurgião dentista desempenha um papel crucial em colaboração estreita com os profissionais, médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas e assistentes sociais. As intervenções odontológicas ocorrem em diversas fases da jornada do paciente, desde a internação até a pós-alta e em conjunto com outros tratamentos (Gaetti-Jardi et al. 2013; Martín et al. 2018; Fonseca 2019; Macedo et al. 2019).

É importante observar que determinadas regiões da boca são mais propensas à fixação de microrganismos, o que pode levar à criação de biofilme. A quantidade e gravidade do biofilme podem aumentar na ausência de higiene bucal adequada, especialmente durante internações hospitalares prolongadas, potencialmente instigando ou agravando doenças bucais, além de transmitir patógenos nocivos que podem causar infecções nosocomiais (Gaetti-Jardi et al. 2013; Kim et al. 2017; Van de Rijt et al. 2018; Macedo et al. 2019; Macedo et al. 2020). 

O estudo descrito por Steel (2017b) revelou que a incidência de doenças dentárias e orais entre pacientes idosos internados em hospitais de emergência é elevada e que as suas necessidades de cuidados orais não são satisfatórias. Demonstrando que é necessário melhorias na qualidade dos cuidados bucais para idosos em hospitais, que possam focar na higiene bucal e considerar diversas condições de saúde bucal, determinando as formas mais eficazes de identificar e tratar problemas orais em populações idosas, bem como promover e restaurar a sua saúde oral enquanto estão no hospital (Steel, 2017b; Maeda e Mori, 2020).

Macedo et al. (2020) descrevem ao estabelecerem as características sistêmicas e orais de indivíduos tratados em hospitais, observaram em pacientes com idade entre 60 e 75 anos que apresentavam algum tipo morbidade, observaram a ausência de uma higiene bucal inadequada, com menos de três limpezas por dia e sem uso de fio dental. com presença de biofilme, cálculo dentário, próteses mal conservadas e estomatite protética também foram registradas.

Fonseca (2019) evidencia a deficiência na qualidade da assistência de enfermagem prestada aos idosos nos hospitais. A inclusão de profissionais de odontologia ou a cooperação entre profissionais médico e cirurgião dentista deve ser levada em consideração, uma vez que, podem acelerar o tempo da reabilitação do paciente no ambiente hospitalar (Shiraishi et al. 2019). Segundo Kim et al. (2017) à implementação de um programa de cuidados de higiene oral para pacientes com AVC durante o período de reabilitação hospitalar provou ser uma estratégia bem sucedida para melhorar a saúde oral e gerir a eficácia do biofilme. esse logro não foi perceptível apenas durante o período de hospitalização do paciente, mas também por um período de três meses após sua alta.

Higashiguchi et al. (2017) realizaram uma avaliação de uma nova abordagem com o intuito preventiva contra pneumonia aspirativa em idosos, incorporando após a na suplementação nutricional oral com uma intervenção de higiene oral. Durante o período de intervenção, foram usados lenços umedecidos comerciais para limpar a boca diariamente, além de suas práticas habituais de higiene bucal. O estudo descobriu que esta intervenção suplementar de higiene oral desempenhou um papel crucial na prevenção da pneumonia por aspiração, levando à redução das taxas de mortalidade. Assim reduzindo os fatores de risco que podem ser modificados para prevenir a desnutrição em pacientes idosos (Burks et al. 2017).

De acordo com Steel (2017) desenvolveu um guia prático clínico que visa fornecer aos profissionais de saúde recomendações clínicas que incidem na higiene oral e nos cuidados aos pacientes idosos internados em hospitais de urgência. Além disso, Júnior et al. (2018) propuseram a criação de um manual educativo para cuidadores de pacientes idosos em ambiente hospitalar, com instruções que contém informações sobre os materiais usados para cuidados bucais de rotina, manutenção adequada de dentaduras e formas de promover uma boa saúde bucal. Segundo os autores, a utilização desses manuais pode melhorar a qualidade de vida dos pacientes idosos, tornando a higiene bucal mais gerenciável e reduzindo os desafios associados à manutenção de próteses dentárias.

A imunossenescência, conforme descrita por Goronzy e Weyand (2019), é um processo natural que altera as respostas imunológicas em indivíduos mais velhos. Esse processo aumenta a possibilidade de infecções sistêmicas, inclusive aquelas que podem colonizar a cavidade oral. Embora algumas bactérias na cavidade oral sejam tipicamente não patogênicas, podem tornar-se patogênicas à medida que a função imunitária do hospedeiro enfraquece, ou podem auxiliar na colonização de novos microrganismos patogênicos. Além disso, microrganismos orais têm sido associados a endocardites bacterianas e doenças adquiridas em hospitais, como pneumonia (Gaetti-Jardi et al. 2013; Mothibe e Patel, 2017; Burks et al. 2017; Macedo et al. 2020). 

Os idosos hospitalizados comumente apresentam cáries, cálculos dentários, falta de dentes, má nutrição, má limpeza da língua, doenças gengivais e mucosa oral seca e vermelha. Pacientes com saúde tão fragilizada necessitam de uma boa higiene bucal para reduzir a bacteremia, que muitas vezes é realizada por familiares ou cuidadores (Bueno et al. 2012; Gaetti-Jardi et al. 2013; Higashiguchi et al. 2018; Júnior et al. 2018; Macedo et al. 2020). A ausência de informações sobre higiene bucal em unidades de terapia intensiva (UTI) aponta uma deficiência na integração dos profissionais de odontologia nesse cenário, que pode resultar na falta de atendimento odontológico obrigatório para pacientes hospitalizados no Brasil (Simões et al. 2019).

É importante notar que muitos pacientes internados em hospitais apresentam condições bucais pré-existentes que requerem tratamento antes da admissão. Para garantir o bem-estar do paciente, é crucial que tanto os profissionais de saúde como a família do paciente abordem estes problemas orais, como a doença periodontal, que são alvo de microrganismos que têm efeitos sistémicos. Esses microrganismos desencadeiam a liberação de citocinas inflamatórias, que podem causar maiores danos ao paciente (Bueno et al. 2012; Hajishengallis, 2015; Steel 2017a).

É importante ressaltar que os estudos em análise não especificam para qual Unidade de Terapia Intensiva (UTI) se refere. Contudo, é fundamental enfatizar que nesta enfermaria hospitalar específica, procedimentos padronizados podem facilitar a transferência de microrganismos da cavidade oral para outras áreas do corpo. As bactérias presentes na cavidade oral e na orofaringe podem se espalhar para os pulmões através da ventilação mecânica, causando o desenvolvimento de pneumonia adquirida no hospital. Isso pode resultar em internações hospitalares prolongadas e resultados potencialmente fatais (Amaral et al. 2013). Portanto, é imprescindível a avaliação da saúde bucal dos pacientes internados na UTI para controle de infecções no ambiente hospitalar. Esses pacientes necessitam de atenção minuciosa devido ao seu quadro clínico, o que os torna suscetíveis a infecções orais e sistêmicas. Estas infecções podem deteriorar ainda mais a sua saúde geral.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As análises e estudos apresentados demonstram a importância fundamental da higiene bucal no atendimento ao paciente geriátrico em ambientes hospitalares. A frágil saúde bucal desses pacientes foi considerada um preditor distinto de mortalidade hospitalar, ressaltando a necessidade premente de intervenções e políticas de cuidados bucais mais abrangentes e eficazes em hospitais de cuidados agudos. Além disso, a escassez de informações específicas sobre Unidade de Terapia Intensiva (UTI) indica uma lacuna na assistência odontológica neste cenário crítico, enfatizando a urgência de maior integração da Odontologia neste contexto, bem como a necessidade de formação suficiente para os cirurgiões-dentistas.

É imperativo que os próximos estudos se concentrem na aplicação prática de políticas relativas aos cuidados bucais à escala global, com a intenção de integrar perfeitamente os cuidados dentários como um aspecto fundamental das práticas de saúde abrangentes. Pesquisas que exploram a educação e formação de profissionais de saúde, bem como a conscientização de cuidadores e familiares sobre a importância da higiene bucal para pacientes geriátricos hospitalizados, são áreas que apresentam potencial de desenvolvimento. Assim, priorizar pesquisas que abordem esses tópicos é essencial para promover uma abordagem abrangente e eficiente aos cuidados bucais de pacientes geriátricos em ambiente hospitalar, melhorando, em última análise, sua qualidade de vida e minimizando as complicações relacionadas.

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