REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7421764
Igor Pastor de Freitas Quinelato1
Leonardo Guimarães de Andrade2
RESUMO
Segundo a Organização Mundial de Saúde, a polifarmácia é o uso de 4 ou mais
medicamentos de maneira simultânea pelo mesmo paciente. Está prática pode acarretar
interações e reações adversas, principalmente em pacientes idosos onde o consumo de mais
de um medicamento é comum, gerando problemas mais graves pelo fato dos mesmos
estarem mais propícios a esse ato, pois conforme com o avanço da idade o surgimento de
doenças crônicas induz o paciente idoso ao uso de medicamentos já receitados e também ao
ato da automedicação aumentando o risco de gerar consequências mais graves.
Palavras-chave: Automedicação, Idosos, Riscos, Atenção Farmacêutica, Polifarmácia.
ABSTRACT
According to the World Health Organization, polypharmacy is the use of 4 or more drugs
simultaneously by the same patient. This practice can lead to interactions and adverse
reactions, especially in elderly patients where the consumption of more than one drug is
common, generating more serious problems because they are more prone to this act, as with
advancing age the emergence of diseases chronic conditions induces elderly patients to use
already prescribed drugs and also to self-medication, increasing the risk of generating more
serious consequences.
Keywords: Self-medication, Elderly, Risks, Pharmaceutical Care, Polypharmacy.
1. INTRODUÇÃO
Com o aumento da expectativa de vida, a proporção de idosos vem crescendo
mundialmente, juntamente com esse perfil o Brasil está passando por acelerado processo
de envelhecimento populacional. Estima-se que o país possui hoje uma população de
idosos com 32.2 milhões de indivíduos, com estimativa de ultrapassar o número de jovens
na faixa etária de (0-14) até 2031, onde a estimativa é que haverá 42.3 milhões de jovens
e 43.2 milhões de idosos (IBGE,2018).
Sendo envelhecimento um processo biológico natural de caráter progressivo e
dinâmico, é um dos fenômenos mais complexos e multifacetado, onde envelhecer é um
processo natural de todos os indivíduos e cada um envelhece no seu tempo e de forma
diferente, se compararmos a mesma idade cronológica (TRON BR. The biology of againg.
Mt Sinai J Med., 2003).
As alterações intrínsecas ao corpo do idoso são sutis e conduzem a progressivas
alterações em suas funções bioquímicas, fisiológicas, morfológicas e psicológicas
somando-se a isso a uma maior fragilidade, fazendo com que o indivíduo perca a
capacidade de se adaptar ao ambiente e ao afastando do convívio de parentes e interações
sociais (RODRIGUES;OLIVEIRA,2016).
Este processo, conduz a progressivas alterações que podem apresentar
desvantagens no dia a dia do idoso levando a um incorreto “auto diagnóstico” e
consequentemente a uma terapia equivocada, incapacitando o reconhecimento das
interações medicamentosas e reações adversas, mascarando ou escondendo doenças
possivelmente gaves, impedindo a um diagnóstico correto e rápido, com uso excessivo e
prolongado de fármacos com dosagens inadequadas favorecendo assim o surgimento de
vários outros problemas, como a polifarmácia que traz o aumento inadequado da
utilização de “drogas” levando à uma subutilização de medicamentos importantes para o
apropriado controle de doenças crônicas relacionadas com a idade (NEGRÃO JAS,2019).
Sendo assim, o envelhecimento da população se destaca como um fenômeno de
caráter mundial onde a prática da polifarmácia se torna uma ação de risco para os
pacientes, principalmente os idosos, pois tal prática favorece o surgimento de interações
medicamentosas, reações adversas a medicamentos, doenças iatrogênicas e também
hospitalizações mais longas, podendo causar complicações mais graves que possam
induzir à morte do paciente (JACOB FILHO W, GORZONI M. L., 2008).
2. OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Contribuir na promoção do uso racional de medicamentos, através da
educação dos pacientes especialmente da faixa etária que engloba as pessoas da
terceira idade, informando sobre os riscos e gravidade envolvidos na
polifarmácia.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Discorrer sobre o envelhecimento populacional
• Conceituar a Polifarmácia
• Discorrer sobre as possíveia causas e o uso inapropriado de medicamentos por
idosos.
• Salientar os possíveis riscos e as reações adversas aos medicamentos e
precipitação das interações medicamentosas.
• Destacar a importância do profissional farmacêutico na orientação da
população da terceira idade ao uso correto dos medicamentos.
3. METODOLOGIA
Este artigo trata-se de um estudo de revisão bibliográfica qualitativa referente à
polifarmácia em idosos, enfatizando os ricos e as reações adversas e as interações
medicamentosas.
As informações foram coletadas por meio de bases de dados eletrônicos: SciELO,
Google Acadêmico, Revistas eletrônicas PubMed e Ministério da Saúde (MS). E
para a seleção dos artigos foram escolhidos estudos publicados em português, inglês
e espanhol no período que datam de 2012 a 2022.
4. JUSTIFICATIVA
Justificar-se por esse artigo sobre a polifarmácia e a prática entre idosos, com destaque para os riscos, alertando sobre o uso indiscriminado de medicamentos, descrevendo os principais motivos que levam à sua realização. Orientando sobre as causas e consequências acarretadas com o uso de medicamentos sem as devidas orientações.
5. DESENVOLVIMENTO
5.1 O ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO
É considerado idoso, a pessoa que possuir 60 anos ou mais, quando habitante de
paises em desenvolvimento e pessoa acima de 65 anos, em caso de habitante de países
desenvolvidos, segundo a OMS. Nos últimos anos, foi observado em todo o mundo,
importantes alterações sociodermográficas e de morbimortalidade. Houve redução da taxa
de mortalidade e de fecundidade por doenças infecciosas, e com isso, aumento da
expectativa de vida e de mortes por doenças crônicas. (PEREIRA et al.,2017).
À medida que a população envelhece, a resposta do organismo às influências
ambientais enfraquece gradualmente e naturalmente, o que afeta a qualidade de vida.
Nessa perspectiva, as alterações cutâneas, metabólicas e cardiovasculares aumentam e
tornam-se mais graves com a idade. (LOUZEIRO, 2020).
Apesar do envelhecimento não significar a dependência física e doença, o
envelhecimento está diretamente relacionado a doenças crônicas, deficiências físicas,
cognitivas e mentais que levam ao aumento do uso de fármacos (CORREIA, 2020). Além
disso, o envelhecimento também afeta alterações na farmacocinética e farmacodinâmica
dos medicamentos no organismo (SILVA, 2013).
O uso continuado de fármacos já é considerado uma epidemia entre os idosos.
Isso se deve ao rápido crescimento das doenças crônicas e aos problemas associados à
idade, à comercialização de medicamentos e à influência da indústria farmacêutica e à
prática do uso generalizado de medicamentos, que é muito comum (SECOLI, 2010).
Entre as principais doenças que acometem os idosos, podemos citar: problemas
cardiovasculares, diabetes tipo 1 e 2, depressão e problemas renais. A má alimentação e
práticas não saudáveis ao longo da vida, além do sedentarismo, contribuem para o
surgimento de doenças, o que ocorrem geralmente ao mesmo tempo, fazendo com que
ocorra a prática da polifarmácia, pois para cada tipo de patologia é utilizado um
medicamento específico e de classe diferente (RIBEIRO et al., 2019).
5.2 CONCEITO DE POLIFARMÁCIA
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a polifarmácia pode ser
definida como o consumo de múltiplos medicamentos, de quatro ou mais medicamentos,
embora não haja consenso em literaturas com relação à quantidade. (STUCHI, 2017).
A Polifarmácia pode ser classificada em três categorias, de acordo com o consumo
de medicamentos distintos: pequena (de 2 a 3 medicamentos), moderada (de 4 a 5
medicamentos diferentes), grande (mais de 5 medicamentos) (PAULA et al., 2013).
A polifarmácia está associada ao aumento dos riscos de hospitalização, de declínio
funcional, de deficiência cognitiva, de não adesão ao tratamento, de reações adversas e
de interações medicamentosas (PIO, 2021).
Um estudo mostrou que em países mais desenvolvidos, aproximadamente 30% da
população com 65 anos ou mais faz uso de múltiplas drogas (KIM, 2017).
Os idosos são mais propensos a serem expostos a vários tratamentos
medicamentosos na sociedade. A média de medicamentos utilizados por esse grupo
variou de 2 a 5. Idosos de 65 a 69 anos consomem em média 13,6 medicamentos por ano,
enquanto os de 80 a 84 anos consomem em média 18,2 medicamentos por ano (SILVA,
2013)
Considerando as manifestações naturais dos sintomas decorrentes das
comorbidades apresentadas nessa idade, o uso de medicamentos pelos indivíduos
aumenta significativamente em decorrencia da idade e do envelhecimento. (ARAUJO,
2012).
5.3 POSSIVEIS CAUSAS QUE INFLUENCIAM A POLIFARMÁCIA
É importante destacar os fatores que influenciam a polifarmácia em idosos. O
surgimento de múltiplas doenças e sintomas acabam aumentando e levando a prescrições
repetidas e efeitos adversos não diagnosticados do tratamento nesses idosos. A repetição
geralmente ocorre porque a maioria dos idosos tem dificuldade em lembrar qual
medicamento está tomando, então outro especialista pode prescrever um medicamento
que tenha o mesmo efeito farmacológico (SOUZA, 2013).
Acredita-se que 80% da população idosa é acometida com doenças crônicas,
sendo que 37% chega a sofrer com três doenças diferentes (OLIVEIRA, 2021). Sem
dúvidas este é o maior motivo que leva a utilização de múltiplos medicamentos ao mesmo
tempo, por idosos, seguido do uso irracional e sem orientação de um profissional de saúde, através da automedicação com medicamentos isentos de prescrição médica (MIPs), para
realizar o tratamento de sintomas já conhecidos e considerados comuns a população
(OLIVEIRA et al., 2018)
As interações medicamentosas e os fatores relacionados à baixa adsorção
medicamentosa também podem ser decorrentes de pacientes idosos que se esquecem de
tomar seus medicamentos ou os utilizam incorretamente. Esse esquecimento é comum
entre as pessoas em seus anos avançados. Esse esquecimento pode resultar de uma
variedade de fatores, incluindo fatores emocionais, declínio da função cognitiva,
problemas clínicos ou até mesmo efeitos colaterais dos medicamentos prescritos
(PINHEIRO, 2021).
Foi entrevistada uma população de idosos e de acordo com os resultados dessa
entrevista, os pacientes relataram que frequentemente esquecem de tomar seus
medicamentos ( 37,5% ), que alguns deles sempre os tomam na hora errada ( 37,5 %), e
que alguns deles nunca param de tomar seus medicamentos, quer se sintam bem ou mal
(82,5% ou 77,5%). Entre os pacientes com a adesão moderada ou baixa, conclui-se que
os principais fatores relacionados a ela são o esquecimento com maior frequência e o
descuido com o horários dos medicamentos. (PEREIRA, 2017).
5.4 REAÇÕES ADVERSAS E INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA
Assim como um medicamento pode beneficiar um paciente, ele pode também
prejudicar na saúde por meio das reações adversas, o que ocorre muitas vezes devido a
interações medicamentosas (DA SILVA, et al, 2021). O objetivo da farmacovigilância e
do estudo sistemático das Reações Adversas a Medicamentos (RAM) é identificar e
prevenir o risco de efeitos adversos que podem ser causados por um determinado
medicamento (CHAVES et al, 2020). A RAM é a resposta a um medicamento que seja
prejudicial, não intencional e que ocorre em doses normalmente utilizadas no ser humano
(SECOLI, 2010).
Interações medicamentosas acontecem quando se utiliza mais de um medicamento
ao mesmo tempo, e um principio ativo interage com o outro, causando efeitos
desagradável ao paciente. Entendendo que a polifarmácia contribui justamente para este
tipo de ocorrência, os profissionais da saúde devem realizar um sólido acompanhamento
do paciente para que essas alterações não ocorram. (GODOI et al, 2021)
Há idosos que consomem mais de 10 medicamentos diferentes por dia, o que contribui para o aumento dos riscos de intoxicação e ainda, a possibilidade de ineficácia do tratamento. (CARVALHO et al, 2012).
Para tornar a situação mais delicada, a população idosa sofre de múltiplas doenças, que GORZONI et al. (2011) definem como “a coexistência de duas ou mais doenças crônicas no mesmo indivíduo, sem relação causal, e nenhuma das quais pode ser acredita-se ser a principal causa”, que foi associada à diminuição da qualidade de vida, mobilidade e capacidade funcional, bem como aumento da hospitalização, sofrimento psíquico e
mortalidade (PIO, 2021).
Assim, os pacientes mais expostos à polifarmácia e suas possíveis complicações
são idosos obesos com múltiplos diagnósticos (comorbidades), síndromes de fragilidade
e baixa qualidade de vida relacionada à saúde. O número de medicamentos prescritos é o
mais determinante da ocorrência de iatrogenias e RAM, havendo também uma relação
exponencial entre polifarmácia, probabilidade de prescrição inadequada e interações
medicamentosas. (Williams, 2022).
5.5 O PAPEL DA ATENÇÃO FARMACÊUTICO NA AUTOMEDICAÇÃO DE IDOSOS
Devido a essas complicações na saúde do idoso, os profissionais de farmácia
devem colaborar com outros profissionais de saúde de forma interdisciplinar para
melhorar a qualidade de vida do idoso, mantendo maior foco em medicamentos, riscos e
eventos adversos, por meio de novas pesquisas, conhecimento e conscientização dos
profissionais para ampliar o conhecimento e tomar medidas preventivas para reduzir a
ocorrência desses incidentes (OLIVEIRA, 2019).
Portanto, é necessário um trabalho coletivo para potencializar a assistência
farmacêutica, que inclui uma gama de procedimentos, tanto individuais quanto coletivos,
centrados nos medicamentos para alcançar, restaurar e promover a saúde (CORTEZ,
2014).
O cuidado com a medicação é muito importante para a sociedade, principalmente
para os idosos, pois são eles que mais utilizam medicamentos, razão pela qual são mais
propensos a se automedicar ou usar múltiplos medicamentos, o que pode levar a
interações indesejadas. Os farmacêuticos possuem amplo conhecimento sobre
medicamentos e seu conhecimento técnico é superior ao de qualquer outro profissional.
Assim, os farmacêuticos são treinados para intervir em qualquer questão envolvendo
medicamentos e, por meio de um processo bem documentado, podem orientar os
pacientes e até intervir na prescrição para evitar erros de prescrição e dosagem de
medicamentos. Para aumentar a adesão à medicação e, assim, melhorar os resultados
clínicos, são necessários serviços de rastreamento de medicamentos (OLIVEIRA, 2019).
Com o auxílio do farmacêutico, essa prática pode ser reduzida por meio de
educação sobre os riscos associados ao uso de múltiplos medicamentos, bem como
informações sobre interações medicamentosas e reações adversas a medicamentos ,
reduzindo os danos causados à saúde dos idosos (OLIVEIRA, 2021).
CONCLUSÃO
O presente estudo teve como obejetivo identificar a relação do paciente idoso e
prescrição medicamentosa, onde a polifarmácia é uma prática frequente entre os
indivíduos desse grupo populacional e tal ato vem aumentando ao decorrer dos anos.
Sendo esta prática prejudicial à saúde, podendo causar interações medicamentosas que
venham a prejudicar as funções fisiológicas e metabólicas do idoso.
Uma das principais razões para a utilização da polifarmácia no idoso foram a idade
avançada, múltiplas comorbidades (diabetes tipo 1e 2), obesidade, doenças
cardiovasculares e baixa qualidade de vida relacionada à saúde aumentando o risco de
hospitalização.
Portanto, a fim de garantir ao idoso uma prescição segura a orientação dos
profissionais de saúde se faz de extrema impotâcia, principalmente o papel do
farmacêutico que neste cenário é o único profissional com formação e conhecimento dos
aspectos e propriedades de um fármaco, proporcionando a utilização correta dos fármacos
na função de assistência farmacêutica onde tal prática venha a contribuir para uma
redução da polifarmácia, garantindo uma terapia de sucesso com redução dos danos e com
menos ricos à saúde do idoso.
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1Graduação em Farmácia na Universidade Iguaçu
2Mestre em Ciências do Meio Ambiente na Universidade Veiga de Almeida (2016). Graduação em
Enfermagem na Universidade Nova Iguaçu. Faz parte do corpo docente da Universidade Iguaçu no
Estado do Rio de Janeiro.