REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10465735
Henrique Cananosque Neto1
RESUMO:
Introdução: A representação das mulheres nas obras de Jane Austen e Virginia Woolf é um estudo fascinante que revela nuances da condição feminina em períodos históricos distintos. Este estudo busca explorar as vidas sociais, emocionais e intelectuais das mulheres, destacando suas lutas, aspirações e restrições dentro de contextos socioculturais específicos. Objetivo: O objetivo principal é analisar como as duas autoras retratam as mulheres em suas obras, destacando os desafios enfrentados por elas nas esferas social, emocional e intelectual. Pretende-se também identificar as semelhanças e diferenças nas abordagens de Austen e Woolf em relação à representação feminina. Metodologia: Este estudo bibliográfico emprega uma abordagem comparativa das obras “Orgulho e Preconceito” e “Emma” de Jane Austen e “Mrs. Dalloway” e “Ao Farol” de Virginia Woolf. São examinados aspectos como a construção das personagens femininas, suas interações sociais, a abordagem da busca por identidade e autonomia. Resultados: A análise revelou que tanto Austen quanto Woolf exploram as restrições enfrentadas pelas mulheres em suas respectivas épocas. Enquanto Austen foca nas limitações sociais e na busca pelo casamento dentro das convenções sociais, Woolf explora a complexidade emocional e intelectual das mulheres, buscando autonomia e liberdade de expressão. Considerações Finais: A comparação entre as representações femininas de Austen e Woolf destaca a evolução das perspectivas sobre as mulheres ao longo do tempo. Suas obras oferecem insights valiosos sobre as lutas, desejos e aspirações das mulheres em diferentes contextos históricos, contribuindo significativamente para a compreensão da condição feminina em sociedades passadas e presentes.
PALAVRAS-CHAVE: Jane Austen; mulheres na sociedade; representação das mulheres; restrições sociais e culturais; Virginia Woolf.
INTRODUÇÃO
Um tema comum entre Jane Austen e Virginia Woolf é a representação das mulheres e suas vidas sociais, emocionais e intelectuais em diferentes períodos históricos. Ambas as autoras exploram as restrições sociais e culturais enfrentadas pelas mulheres em suas épocas, embora de maneiras distintas.
Sendo assim, este estudo bibliográfico de abordagem comparativa tem por objetivo analisar como as duas autoras retratam as mulheres em suas obras.
Jane Austen, no início do século XIX, é conhecida por suas obras que abordam a posição das mulheres na sociedade, a busca pelo amor e casamento, e as restrições impostas pela sociedade patriarcal da época. Seus romances, como “Orgulho e Preconceito” e “Emma”, revelam a luta das mulheres por independência dentro das estruturas sociais limitadas.
Por outro lado, Virginia Woolf, uma escritora do século XX, explorou temas semelhantes, mas de maneira mais introspectiva e experimental. Em obras como “Mrs. Dalloway” e “Ao Farol”, Woolf examina a complexidade da mente feminina, a identidade, a busca pela liberdade intelectual e emocional, e critica as restrições impostas às mulheres na sociedade eduardiana e vitoriana.
Ambas as autoras desafiaram as normas de gênero de suas épocas e criaram personagens femininas complexas e multifacetadas, contribuindo para uma reflexão profunda sobre o papel das mulheres na sociedade e suas lutas por autonomia e expressão pessoal.
Neste estudo o desenvolvimento é apresentado em seis partes, sendo estas: Obras de Jane Austen, “Orgulho e Preconceito”, “Emma”, Obras de Virginia Woolf, “Mrs. Dalloway”, e “Ao Farol”. Deste modo, foram selecionadas duas obras de cada autora para aprofundar a discussão a respeito da temática proposta. Em seguida, são apresentados a metodologia, os resultados e as considerações finais.
OBRAS DE JANE AUSTEN
“Orgulho e Preconceito” e “Emma”, duas obras icônicas de Jane Austen, apresentam semelhanças marcantes nas representações femininas, apesar das diferenças individuais entre as protagonistas Elizabeth Bennet e Emma Woodhouse.
Ambas as personagens principais são mulheres fortes e complexas, que desafiam as convenções sociais de suas épocas. Elizabeth Bennet é retratada como uma mulher inteligente, perspicaz e destemida, cuja personalidade firme desafia as expectativas sociais da sociedade aristocrática do século XIX (Austen, 2016). Emma Woodhouse, por sua vez, é retratada como uma jovem de classe alta, autoconfiante e determinada, embora às vezes seja ingênua em suas interpretações das relações sociais (Austen, 2019).
As duas heroínas são retratadas em seus respectivos ambientes sociais, onde a questão do casamento e da posição da mulher na sociedade é central. Elizabeth Bennet busca um casamento baseado no amor e na compatibilidade intelectual, resistindo às pressões sociais para garantir uma união estritamente por conveniência financeira. Emma, por sua vez, se envolve nos assuntos amorosos de outras pessoas, enquanto sua própria compreensão sobre o amor e os relacionamentos evolui ao longo da história.
Além disso, ambas as personagens têm suas falhas e cometem erros. Elizabeth Bennet, apesar de sua perspicácia, tende a fazer julgamentos precipitados, enquanto Emma, apesar de sua bondade subjacente, muitas vezes é arrogante e se intromete na vida dos outros. Esses defeitos humanizam as personagens, tornando-as mais reais e identificáveis para os leitores.
Outra semelhança é a maneira como Austen utiliza essas personagens para explorar questões mais amplas sobre a posição das mulheres na sociedade. Ela critica as limitações impostas às mulheres de sua época, enfatizando a importância da independência, da inteligência e da liberdade de escolha para as mulheres, características representadas tanto por Elizabeth quanto por Emma.
Apesar das semelhanças, as duas protagonistas também diferem em suas jornadas individuais e nos contextos específicos de suas histórias. Elizabeth Bennet, por exemplo, é parte de uma família menos abastada do que Emma, o que influencia suas interações sociais e perspectivas sobre o casamento.
No entanto, tanto Elizabeth quanto Emma são representações magistrais de mulheres que desafiam as normas sociais de suas épocas, personagens que continuam a cativar e inspirar leitores ao longo do tempo pela sua complexidade, inteligência e determinação em moldar seus próprios destinos.
ORGULHO E PRECONCEITO
“Orgulho e Preconceito” de Jane Austen apresenta uma variedade de representações femininas, desde a protagonista Elizabeth Bennet até as personagens coadjuvantes, cada uma contribuindo para uma visão multifacetada da sociedade e das mulheres do século XIX (Barros, 2013).
Elizabeth Bennet é a protagonista central, uma mulher inteligente, espirituosa e determinada. Ela desafia as normas sociais de sua época, recusando-se a se submeter à pressão social para fazer um casamento estritamente por conveniência financeira. Elizabeth busca um relacionamento baseado no amor, na afinidade intelectual e no respeito mútuo, o que a torna um exemplo de independência e discernimento feminino na literatura.
Outras personagens femininas, como Jane Bennet, irmã mais velha de Elizabeth, representam uma feminilidade mais suave e amável. Jane é retratada como uma mulher gentil, paciente e amorosa, cuja natureza benevolente contrasta com a determinação e vivacidade de Elizabeth. Sua representação reflete a ideia da feminilidade idealizada da época, caracterizada pela doçura e pela paciência.
Por outro lado, Lydia Bennet, a irmã mais jovem de Elizabeth, apresenta uma representação mais negativa das mulheres. Ela é impulsiva, superficial e negligencia as convenções sociais, o que resulta em consequências desastrosas para si mesma e para sua família. Lydia representa os perigos de uma feminilidade sem restrições ou responsabilidade, expondo as potenciais consequências da falta de orientação e moderação.
Personagens como Charlotte Lucas e Lady Catherine de Bourgh oferecem visões contrastantes sobre as expectativas sociais em relação às mulheres. Charlotte representa a mulher pragmática, que aceita um casamento por conveniência, priorizando a segurança e estabilidade sobre o amor romântico. Por outro lado, Lady Catherine personifica a aristocracia arrogante e dominadora, reforçando as estruturas patriarcais e a rigidez das normas sociais (Austen, 2016).
Cada personagem feminina em “Orgulho e Preconceito” contribui para a complexidade do retrato das mulheres na sociedade da época, mostrando uma variedade de perspectivas, escolhas e restrições enfrentadas pelas mulheres do século XIX. Através dessas representações, Austen oferece uma análise rica e multifacetada das experiências femininas, destacando a diversidade de papéis e personalidades dentro de uma sociedade patriarcal.
EMMA
“Emma” de Jane Austen apresenta uma variedade de representações femininas, lideradas pela protagonista Emma Woodhouse, oferecendo um retrato complexo das mulheres na sociedade do início do século XIX.
Emma Woodhouse é retratada como uma jovem de classe alta, autoconfiante e determinada, porém, às vezes, sua autoconfiança beira a arrogância. Ela é inteligente, perspicaz e possui uma visão própria do mundo. No entanto, sua ingenuidade em entender as complexidades das relações humanas e seu hábito de se intrometer na vida dos outros são traços que contribuem para a profundidade de sua personagem. Emma é uma representação de uma mulher independente, mas também mostra suas falhas, o que a torna uma personagem complexa e cativante (Austen, 2019).
Harriet Smith, uma das personagens coadjuvantes, representa uma visão contrastante da feminilidade. Ela é dócil, influenciável e carece de autoconfiança, o que a torna facilmente manipulável por Emma e por outras pessoas ao seu redor. Harriet é usada como um instrumento por Emma para suas experiências sociais, refletindo a falta de independência e direção própria de algumas mulheres da época.
Jane Fairfax oferece outro aspecto da feminilidade em “Emma”. Ela é retratada como uma mulher talentosa, reservada e independente, cujas circunstâncias a forçam a depender de outros para seu sustento. Jane representa uma mulher que, apesar de suas habilidades e virtudes, é limitada pelas expectativas sociais e pela falta de recursos financeiros, destacando as restrições enfrentadas pelas mulheres de classe média na época.
Mrs. Elton é uma personagem que ilustra um estereótipo da mulher socialmente ambiciosa e pretensiosa. Ela busca ascender socialmente e impor sua vontade sobre os outros, evidenciando a busca por status e reconhecimento na sociedade da época.
Ao retratar essa variedade de personagens femininas, Austen oferece uma visão panorâmica das mulheres e de suas experiências na sociedade do início do século XIX. Cada personagem traz consigo uma perspectiva única, mostrando as diferentes facetas das mulheres da época, suas virtudes, limitações e lutas por identidade e autonomia dentro das restrições sociais da sociedade patriarcal.
OBRAS DE VIRGINIA WOOLF
“Mrs. Dalloway” e “Ao Farol”, obras marcantes de Virginia Woolf, compartilham semelhanças nas representações femininas, embora abordem as experiências das mulheres de maneiras distintas.
Ambos os livros exploram a complexidade das experiências femininas, destacando a vida interior e os pensamentos das personagens principais, Clarissa Dalloway em “Mrs. Dalloway” e Lily Briscoe em “Ao Farol”. Ambas são mulheres profundamente introspectivas, cujos pensamentos e emoções são explorados de forma detalhada ao longo das narrativas. Clarissa busca reconciliar seu passado e presente (Woolf, 2020), enquanto Lily lida com sua identidade como artista e suas relações interpessoais (Woolf, 2013).
As duas personagens são confrontadas com as expectativas sociais e as normas de gênero da época. Clarissa Dalloway, uma mulher da alta sociedade londrina, enfrenta a pressão social para se adequar ao papel de esposa e anfitriã perfeita. Lily Briscoe, por sua vez, desafia as convenções femininas ao buscar uma carreira artística, enfrentando dilemas sobre a arte e sua própria identidade como mulher e artista.
A temática da passagem do tempo e da memória também é central em ambas as obras. Tanto Clarissa quanto Lily refletem sobre o passado e o impacto que ele tem em seus presentes. Essa reflexão sobre a passagem do tempo e as escolhas feitas ao longo da vida é uma característica compartilhada entre as duas personagens.
Além disso, ambas as obras exploram a ideia de como as mulheres se veem em relação aos homens e à sociedade patriarcal. Tanto Clarissa quanto Lily confrontam a ideia do papel da mulher na sociedade, as restrições impostas e a busca por voz e identidade dentro dessas limitações (Oliveira, 2013).
No entanto, as narrativas e os contextos são distintos. “Mrs. Dalloway” concentra-se mais na vida social e nos círculos aristocráticos de Londres, enquanto “Ao Farol” mergulha nas complexidades das relações pessoais e criativas durante uma viagem à costa inglesa. Essas diferenças oferecem contextos únicos para as reflexões femininas apresentadas por Woolf.
Apesar das nuances nas histórias e contextos, as representações femininas em “Mrs. Dalloway” e “Ao Farol” compartilham a profundidade da introspecção, a exploração das experiências femininas e a análise crítica das restrições sociais impostas às mulheres na sociedade do início do século XX.
Mrs. DALLOWAY
“Mrs. Dalloway” de Virginia Woolf apresenta uma série de representações femininas complexas e profundas, com foco na protagonista Clarissa Dalloway e nas personagens coadjuvantes, cada uma contribuindo para uma visão multifacetada das mulheres na sociedade do início do século XX (Silva, 2007).
Clarissa Dalloway, a protagonista, é retratada como uma mulher da alta sociedade londrina, profundamente sensível e reflexiva. Ela enfrenta as expectativas sociais de seu papel como esposa e anfitriã perfeita, enquanto suas próprias reflexões internas revelam uma busca por identidade e significado em meio à vida socialmente restrita. Clarissa representa uma mulher que lida com as complexidades de sua própria mente e sentimentos, enquanto também enfrenta as expectativas impostas pela sociedade.
Septimus Warren Smith, embora não seja a protagonista, desempenha um papel significativo na história, refletindo indiretamente a experiência feminina por meio de sua esposa, Rezia. Rezia é uma personagem que ilustra o impacto das pressões sociais na saúde mental e emocional das mulheres da época. Sua preocupação com a deterioração da saúde mental de Septimus revela as dificuldades enfrentadas pelas mulheres para cuidar de seus entes queridos em um ambiente social que não compreende ou apoia questões de saúde mental.
Outras personagens femininas, como Miss Kilman e Lady Bruton, oferecem perspectivas contrastantes sobre as expectativas sociais em relação às mulheres. Miss Kilman é retratada como uma mulher reprimida e ressentida, refletindo a falta de autonomia e liberdade para as mulheres que não se encaixam nas normas sociais da época. Enquanto isso, Lady Bruton representa uma mulher influente, mas limitada pelas restrições sociais impostas às mulheres de sua posição (Woolf, 2020).
As representações femininas em “Mrs. Dalloway” exploram as complexidades das experiências das mulheres em uma sociedade patriarcal, destacando suas lutas, desejos e as restrições impostas pela sociedade. Woolf oferece uma visão rica e multifacetada das mulheres, revelando suas preocupações, emoções e dilemas dentro de uma sociedade que muitas vezes as limita a papéis predefinidos e expectativas sociais rígidas.
AO FAROL
Em “Ao Farol” de Virginia Woolf, as representações femininas são intrincadas, explorando as experiências da protagonista, Lily Briscoe, e das personagens coadjuvantes, cada uma oferecendo uma perspectiva única sobre a vida das mulheres no início do século XX (Oliveira, 2013).
Lily Briscoe, embora não seja a figura central no sentido tradicional, é uma personagem fundamental e profundamente complexa. Como artista, ela busca encontrar sua voz criativa, desafiando as expectativas de gênero da época ao perseguir sua carreira. Lily representa a busca por identidade e expressão artística, enfrentando dilemas sobre sua arte e sua posição no mundo como mulher e artista independente.
Mrs. Ramsay, embora não seja a protagonista, é uma figura central que influencia a história. Ela personifica a figura materna idealizada, gentil, compassiva e protetora. Mrs. Ramsay também mostra a habilidade de compreender profundamente as emoções e necessidades dos outros, refletindo o papel das mulheres como cuidadoras e provedoras de apoio emocional.
Outras personagens femininas, como Mrs. Ramsay e Carmichael, oferecem visões contrastantes sobre as experiências femininas. Mrs. Ramsay representa a mulher tradicional, centrada na família e nas relações interpessoais, enquanto Carmichael, embora mais discreta na narrativa, apresenta uma mulher intelectual e independente, desafiando algumas expectativas sociais ao levar uma vida mais solitária e contemplativa (Woolf, 2013).
As representações femininas em “Ao Farol” exploram questões de gênero, identidade e a busca por autonomia e voz dentro de uma sociedade patriarcal. Woolf examina as complexidades das experiências das mulheres, destacando suas lutas internas, desejos, medos e as restrições impostas pelas normas sociais. Por meio dessas personagens, Woolf oferece uma visão perspicaz das realidades das mulheres da época, suas aspirações, frustrações e a busca por significado e autenticidade em um mundo que muitas vezes as limita a papéis convencionais e expectativas sociais rígidas.
METODOLOGIA
A metodologia deste artigo constitui um estudo bibliográfico com base em quatro obras literárias, sendo duas de Jane Austen e duas de Virginia Woolf. A análise comparativa foi realizada seguindo a seleção das obras, a análise das personagens femininas, a contextualização histórica e social verificando semelhanças e contrastes.
As obrasselecionadas de Jane Austen, foram “Orgulho e Preconceito”, “Emma” e de Virginia Woolf, foram “Mrs. Dalloway”, “Ao Farol”. A escolha dessas obras se baseou em sua representatividade na construção das personagens femininas e na expressão das vidas sociais, emocionais e intelectuais das mulheres.
Cada obra foi analisada para identificar características e complexidades das personagens femininas. Aspectos como personalidade, interações sociais, desafios enfrentados, papéis na sociedade e busca por identidade e autonomia foram considerados. Foram examinados o desenvolvimento das personagens, suas ambições, relações interpessoais e a maneira como são afetadas pelo contexto histórico e social.
Foi realizada uma contextualização das obras no período histórico em que foram escritas. Para Austen, a análise considerou o contexto da era georgiana e as normas sociais do século XIX na Inglaterra. Para Woolf, foi abordado o contexto eduardiano e vitoriano, incluindo as mudanças sociais e intelectuais da virada do século XX.
Foram identificadas semelhanças e diferenças nas representações femininas de Austen e Woolf. Isso envolveu a análise de como cada autora aborda as vidas sociais, emocionais e intelectuais das mulheres, considerando o tratamento das questões de gênero, a evolução das personagens ao longo da narrativa e a forma como as autoras refletem as normas e restrições sociais da época.
A análise comparativa buscou destacar interseções de temas, visões de mundo e reflexões sobre a condição feminina entre Austen e Woolf. As conclusões foram fundamentadas na síntese das análises individuais e comparativas, oferecendo percepções sobre as diferentes representações femininas e suas relevâncias nos respectivos contextos históricos e literários.
RESULTADOS
A análise comparativa das representações femininas nas obras de Jane Austen e Virginia Woolf revela nuances significativas sobre as vidas sociais, emocionais e intelectuais das mulheres em diferentes períodos históricos, oferecendo compreensões acerca das complexidades das experiências femininas.
Em obras como “Orgulho e Preconceito” e “Emma”, as representações femininas refletem as restrições sociais do século XIX na Inglaterra. Austen retrata mulheres enfrentando um contexto social altamente estratificado, onde a busca pelo casamento e a posição na sociedade eram cruciais. As protagonistas, como Elizabeth Bennet e Emma Woodhouse, desafiam as normas ao buscar autonomia, amor baseado na afinidade intelectual e independência dentro das limitações sociais impostas às mulheres da época.
Por outro lado, Virginia Woolf, em obras como “Mrs. Dalloway”, “Ao Farol” e outras, oferece representações mais introspectivas das mulheres no início do século XX. Suas personagens femininas, como Clarissa Dalloway e Lily Briscoe, exploram não apenas as restrições sociais, mas também as complexidades emocionais e intelectuais das mulheres. Woolf destaca a busca por identidade, a luta contra as limitações impostas pelo patriarcado e a exploração da psique feminina, desafiando as convenções literárias da época.
Austen e Woolf abordam as vidas sociais das mulheres de maneiras distintas. Austen enfoca as interações sociais e as pressões sociais que moldam as escolhas das mulheres, enquanto Woolf mergulha nas esferas emocionais e intelectuais, explorando os pensamentos internos e as complexidades das relações pessoais das personagens femininas.
Ambas as autoras convergem ao mostrar a luta das mulheres por autonomia e expressão pessoal. Enquanto Austen retrata as tentativas de suas personagens de se destacarem dentro das estruturas sociais existentes, Woolf desafia e desconstrói essas estruturas, oferecendo visões mais profundas sobre a psicologia feminina e a busca por liberdade intelectual e emocional.
Esta análise comparativa ressalta a evolução das representações femininas na literatura, evidenciando a transição das preocupações sociais e emocionais das mulheres ao longo do tempo. Ambas as autoras contribuem significativamente para a compreensão das experiências femininas, oferecendo perspectivas multifacetadas sobre as vidas sociais, emocionais e intelectuais das mulheres em diferentes contextos históricos e sociais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise das representações femininas nas obras de Jane Austen e Virginia Woolf revela um panorama rico e multifacetado das vidas sociais, emocionais e intelectuais das mulheres em períodos históricos distintos. Austen, representando o século XIX, e Woolf, o início do século XX, oferecem perspectivas que transcendem as barreiras temporais, iluminando as lutas, aspirações e desafios enfrentados pelas mulheres ao longo do tempo.
Jane Austen, em suas obras como “Orgulho e Preconceito” e “Emma”, apresenta protagonistas femininas que desafiam as convenções sociais, buscando independência, amor baseado na afinidade intelectual e voz dentro de uma sociedade estratificada. Suas personagens refletem a luta das mulheres por autonomia e reconhecimento em um ambiente altamente prescritivo.
Por outro lado, Virginia Woolf, com obras como “Mrs. Dalloway” e “Ao Farol”, mergulha nas profundezas da psicologia feminina, explorando a complexidade emocional e intelectual das mulheres. Woolf desafia as limitações narrativas de sua época, oferecendo representações mais introspectivas e mostrando a busca por identidade e liberdade dentro de uma sociedade em transição.
Ambas as autoras destacam as restrições sociais impostas às mulheres, mas o fazem de maneiras distintas. Enquanto Austen enfoca as interações sociais e as pressões para o casamento e adequação às normas, Woolf mergulha na psique feminina, explorando os dilemas internos e a busca por autonomia intelectual e emocional.
Enfim, as obras dessas autoras não apenas oferecem uma visão da condição feminina em seus respectivos períodos, mas também ecoam a universalidade das aspirações, desafios e a busca incessante das mulheres por autenticidade e liberdade em todas as esferas de suas vidas.
REFERÊNCIAS
AUSTEN, Jane. Emma:Emma, Portuguese edition. [s.l.] Sunflower Press, 2019.
AUSTEN, Jane. Orgulho e Preconceito. Tradução: Lucio Cardoso. North Charleston, SC, USA: Createspace Independent Publishing Platform, 2016.
BARROS, Samira Alves de. Representações das personagens femininas de Orgulho e Preconceito de Jane Austen. 2013. 93 f. Dissertação (Programa de Mestrado Acadêmico em Letras) – Universidade Estadual do Piauí, Teresina, 2013.
OLIVEIRA, Maria Aparecida. A representação feminina na obra de Virginia Woolf: um diálogo entre o projeto político e o estético. Tese (Programa de PósGraduação em Estudos Literários) – Faculdade de Ciências e Letras – UNESP, Araraquara, 2013.
SILVA, Carlos Augusto Viana da. Mrs. Dalloway e a reescritura de Virginia Woolf na literatura e no cinema. 2007. 242f. – Tese – Universidade Federal da Bahia, Instituto de Letras, Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística, Salvador, 2007.
WOOLF, Virginia. Ao Farol. Tradução: Tomaz Tadeu. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013.
WOOLF, Virginia. Mrs. Dalloway. Tradução: Sheila Koerich. [s.l.] Independently Published, 2020.
1UNESP