A RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO E SUICÍDIO NA COMUNIDADE LGBTQIA+ NO BRASIL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10249041258


Fabiane Peres Roriz[1]
Paulo Roberto Miranda Veras[2]
Marcelo Vinicius Costa Amorim[3]


Resumo: A comunidade LGBTQIA+ traz preocupações relevantes, com indicativos de altas taxas de depressão e suicídio quando comparados à população heterossexual. O objetivo geral deste trabalho é analisar a literatura científica disponível para avaliar a prevalência, fatores de risco e possíveis causas da depressão e do suicídio na população LGBTQIA+ no Brasil. Os objetivos específicos foram identificar fatores de risco associados à depressão e comportamento suicida; analisar os fatores de proteção nessa população; e analisar as estratégias de prevenção e intervenção que foram usadas em outros contextos. Foram realizadas buscas em análises críticas das literaturas científicas disponíveis baseadas em dados científicos e bibliotecas digitais. Foram considerados estudos publicados entre os anos de 2019 a 2023, buscando artigos que abordassem a relação entre depressão, suicídio e a comunidade LGBTQIA+ no Brasil. Alguns teóricos que embasaram este trabalho foram Durkheim (1897), citado por Stahel (2000), Freud (1917) traduzido por Carone (2013), Melo e Rodrigues (2022). Foram considerados relatórios de organizações de saúde e dados epidemiológicos. A falta de estudos detalhados e abrangentes dificultou a identificação de fatores de risco específicos e a compreensão das estratégias de prevenção e intervenção mais eficazes. A hipótese confirmou que a prevalência de transtornos mentais, como depressão, tem se destacado como uma questão de saúde pública, e a comunidade LGBTQIA+ enfrenta uma carga adicional de estigmatização, discriminação e exclusão social. Assim, a justificativa deste trabalho esteve em aprofundar a compreensão sobre a extensão desses desafios.

Palavras-chave: LGBTQIA+. Suicídio. Depressão. Estigmatização.

Abstract: The LGBTQIA+ community raises relevant concerns, with indications of high rates of depression and suicide when compared to the heterosexual population. The general objective of this work is to analyze the available scientific literature to assess the prevalence, risk factors and possible causes of depression and suicide in the LGBTQIA+ population in Brazil. The specific objectives were to identify risk factors associated with depression and suicidal behavior; analyze protective factors in this population; and analyze prevention and intervention strategies that have been used in other contexts. Searches were carried out in critical analyzes of available scientific literature based on scientific data and digital libraries. Studies published between 2019 and 2023 were considered, searching for articles that addressed the relationship between depression, suicide and the LGBTQIA+ community in Brazil. Some theorists who supported this work were Durkheim (1897), cited by Stahel (2000), Freud (1917) translated by Carone (2013), Melo and Rodrigues (2022). Reports from health organizations and epidemiological data were considered. The lack of detailed and comprehensive studies has made it difficult to identify specific risk factors and understand the most effective prevention and intervention strategies. The hypothesis confirmed that the prevalence of mental disorders, such as depression, has emerged as a public health issue, and the LGBTQIA+ community faces an additional burden of stigmatization, discrimination and social exclusion. Thus, the justification was to deepen understanding of the extent of these challenges.

Keywords: LGBTQIA+. Suicide. Depression. Stigmatization.

1  INTRODUÇÃO

LGBTQIA+ é um acrônimo que representa uma variedade de identidades de gênero e orientações sexuais. Cada letra corresponde a um grupo: Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Queers ou Questioning (Questionadores/as), Intersexuais e Assexuais. O símbolo “+” é adicionado para incluir outras identidades não mencionadas nas letras principais. É uma forma inclusiva de referir-se a pessoas que não se identificam com os padrões tradicionais de gênero ou orientação sexual. 

Assim, o referencial teórico que aborda a comunidade LGBTQIA+ deve considerar os elementos cruciais da estigmatização, discriminação e falta de apoio social e familiar que frequentemente percorre a experiência desses indivíduos. Ele deve, portanto, articular esses conceitos para criar uma compreensão que abrange as experiências da comunidade LGBTQIA+. 

Ao integrar teorias sobre estigma, discriminação e falta de apoio social e familiar, a pesquisa pode fundamentar-se em bases conceituais sólidas para explorar os desafios específicos enfrentados por essa população e, assim, orientar estratégias de intervenção e políticas públicas mais eficazes no sentido reduzir o estigma, fortalecer o apoio social, melhorar a saúde mental e promover igualdade de oportunidades, resultando em uma maior inclusão e bem-estar para todos os membros da comunidade LGBTQIA+. 

Dessa forma, esta pesquisa busca entender a incidência da depressão e do comportamento suicida na comunidade LGBTQIA+ no Brasil. A compreensão desses fatores é importante para orientar programas de prevenção e intervenção direcionados a essa população vulnerável, e conforme essa abordagem pergunta-se: Quais são as principais conclusões dos estudos sobre a junção da depressão e do comportamento suicida na comunidade LGBTQIA+ no Brasil. 

Investigar a incidência de eventos de depressão e suicídio na comunidade LGBTQIA+ se faz importante, pois há uma necessidade urgente de compreender e abordar as condições de saúde mental dessa parte da população. A comunidade LGBTQIA+ enfrenta desafios significativos em relação à saúde mental devido à discriminação, preconceito e falta de acesso a serviços de saúde adequados. 

Neste contexto, o estudo pode desempenhar um papel crucial ao fornecer insights e dados sobre a prevalência e os fatores associados à depressão e ao suicídio entre os jovens LGBTQIA+ no Brasil. Ao compreender melhor esses aspectos, será possível desenvolver estratégias de intervenção e políticas públicas direcionadas à comunidade LGBTQIA+ para ajudar a prevenir a depressão e o suicídio nesta comunidade, bem como melhorar o acesso a tratamento e apoio psicológico. 

Sigmund Freud (1917 apud Carone, 2013) via a depressão como um estado de desamparo e desesperança surgido de um conflito interno. Nesse sentido, a depressão está relacionada à perda, luto e a uma reação à perda simbólica de um objeto amado ou da própria patologia do indivíduo. Já o suicídio, é o resultado de um conflito entre impulsos autodestrutivos e a incapacidade de lidar com esses impulsos. 

Assim, Freud (1917) interpreta que a pessoa que experimenta desejos de autodestruição está expressando uma luta interna entre a pulsão de vida e a pulsão de morte, conceito central em sua teoria. No entanto, Freud também enfatizava que o conhecimento dos complexos psicológicos e o apoio emocional adequado poderiam ajudar a pessoa a superar esses impulsos autodestrutivos. 

Considerando que o não enquadramento às normas histórica e socialmente estabelecidas contribuem para a manutenção de um ambiente hostil em relação à orientação sexual e identidade de gênero, constituindo a ausência de suporte familiar e social e à manifestação de práticas discriminatórias, como a homofobia, há um prejuízo à vida e à existência da pessoa, aumentando consideravelmente seu desejo de morte e alta nos índices de suicídio (Ramos, 2013 apud Roberto et al., 2022, p. 123). 

De acordo com Magalhães (2022), a prevalência de transtornos mentais, como depressão, tem se destacado como uma questão de saúde pública em relação aos altos índices destes transtornos e a comunidade LGBTQIA+ enfrenta uma carga adicional de estigmatização, discriminação e exclusão social. Consequentemente, aprofundar a compreensão sobre a extensão desses desafios é crucial para informar políticas públicas, estratégias de prevenção e intervenções clínicas que sejam culturalmente sensíveis e eficazes. Logo, ao formar as conexões entre depressão e suicídio na comunidade LGBTQIA+, este estudo visa contribuir para um entendimento mais profundo desses fenômenos, fornecendo subsídios para avaliar a prevalência, fatores de risco e possíveis determinantes da depressão e do suicídio dessa população vulnerável. 

Compreende-se que o suicídio na comunidade LGBTQIA+ é um problema a ser investigado. Dessa forma, a abordagem integrada sobre depressão, suicídio e comunidade LGBTQIA+ visa não apenas mapear a extensão do problema, mas também proporcionar insights valiosos para promover o bem-estar mental e prevenir os casos de suicídio nesse contexto particular. 

A partir dos problemas apresentados, compreende-se que o suicídio é um problema de saúde pública e que a comunidade LGBTQIA+ está particularmente vulnerável aos comportamentos suicidas. A depressão é uma das principais causas de suicídio, e os jovens LGBTQIA+ no Brasil estão enfrentando desafios que afetam significativamente sua saúde mental. 

Para tentar explicar as problemáticas relatadas nesse estudo, foi estabelecida a hipótese de que no Brasil existe prevalência de casos de problemas de saúde mental em pessoas LGBTQIA+, quando comparadas com pessoas heterossexuais. 

Assim, tem-se como objetivo geral analisar as publicações entre os anos de 2019 a 2023 sobre as principais conclusões dos estudos em relação à incidência da depressão e do comportamento suicida na comunidade LGBTQIA+ no Brasil. 

Junto aos objetivos gerais estão os específicos, a saber: realizar uma coleta sistemática de estudos com foco na depressão e suicídio na comunidade LGBTQIA+ no Brasil; identificar fatores de risco associados à depressão e comportamento suicida; analisar os fatores de proteção nessa população; e analisar as estratégias de prevenção e intervenção que foram usadas em outros contextos e que podem ser adaptadas na realidade da comunidade LGBTQIA+ no Brasil. 

Portanto, a condução de uma revisão bibliográfica sobre a prevalência, fatores de risco e possíveis determinantes da depressão e do suicídio na população LGBTQIA+ no Brasil, é justificada pela necessidade imperativa de compreender e abordar os desafios enfrentados por esse grupo específico. Os desafios incluem discriminação, preconceito, violência, exclusão social e falta de reconhecimento legal de seus direitos. 

Muitos enfrentam dificuldades em suas vidas pessoais, familiares e profissionais devido à falta de aceitação da sociedade em relação à sua identidade de gênero ou orientação sexual. Isso pode levar a problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, além de dificuldades de acesso a serviços de saúde adequados. 

A luta por direitos civis e igualdade de tratamento é uma questão central para essa comunidade, buscando garantir que todos tenham acesso aos mesmos direitos e oportunidades, independentemente de sua identidade de gênero ou orientação sexual. A escolha dessa temática é guiada pela urgência em atender às demandas de uma comunidade frequentemente marginalizada, cujas experiências podem ser únicas e, por vezes, mais suscetíveis a fatores de vulnerabilidade psicossocial.

2  DESAFIOS ENFRENTADOS PELA POPULAÇÃO LGBTQIA+

O eferencial teórico que aborda a comunidade LGBTQIA+ deve consideraroselementos cruciais da estigmatização, discriminação e falta de apoio social e familiar que frequentemente percorre a experiência desses indivíduos.

A estigmatização direcionada à comunidade LGBTQIA+ é uma realidade persistente que se manifesta em diversas formas, desde expressões verbais até práticas institucionais. A teoria do estigma, como desenvolvida por Goffman (1963 apud SILVA et al., 2021), fornece um olhar clínico valioso para entender como a identidade sexual e de gênero divergente pode ser transformada em um marcador social negativo, impactando a autoestima e a saúde mental desses seres humanos.

A discriminação, tanto individual quanto institucional, representa outro componente central. Magalhães (2022) destaca como a exposição crônica à discriminação contribui para o desequilíbrio mental na população LGBTQIA+. Portanto, a discriminação baseada na orientação sexual e identidade de gênero, frequentemente resulta em uma carga adicional de estresse psicossocial, aumentando o risco de desenvolvimento de transtornos mentais, incluindo depressão.

Além disso, a falta de apoio social e familiar é uma dimensão crítica a ser considerada. Fernandes (2022) evidencia em seus estudos como a falta de aceitação familiar pode ser um agravante significativo de dificuldades psicológicas na comunidade LGBTQIA+. A ausência de suporte social e familiar pode contribuir para sentimentos de isolamento, solidão e desamparo, piorando ainda mais os impactos negativos na saúde mental.

2.1  LGBTQIA+: Conceitos, particularidades e diferenças

A sigla LGBTQIA+ engloba uma diversidade de identidades de gênero e orientações sexuais, representando a multiplicidade de experiências vividas por indivíduos que não se enquadram nas normas tradicionais de heterossexualidade e cisgeneridade que, segundo Hining e Toneli (2023), refere-se à condição em que a identidade de gênero de uma pessoa está alinhada com o sexo que lhe foi atribuído ao nascer.

De acordo com Moreira (2022), o acrônimo inicia-se com “L” para lésbicas, mulheres que sentem atração romântica e/ou sexual por outras mulheres. Em seguida, temos o “G” para gays, homens que sentem atração por outros homens. O “B” refere-se a bissexuais, pessoas que experimentam atração por mais de um gênero. O “T” engloba transexuais, aqueles cuja identidade de gênero difere do sexo atribuído ao nascer, e também transgêneros, que não se identificam exclusivamente com o gênero associado ao seu nascimento.

Ainda Moreira (2022), a letra “Q” abrange tanto queer quanto questioning. Queer é um termo em inglês que inclui diversas identidades não heteronormativas, enquanto questioning refere-se a indivíduos que estão explorando sua identidade de gênero ou orientação sexual. O “I” representa intersexo, pessoas cujas características biológicas não se encaixam nas definições tradicionais de masculino ou feminino, e a letra “A” representa assexual, que são pessoas que não sentem atração sexual por outras pessoas.

O símbolo “+”, segundo Moreira (2022), indica inclusão de outras identidades e orientações que podem não estar explicitamente representadas na sigla. A diversidade dentro da comunidade LGBTQIA+ destaca a importância de reconhecer as particularidades de cada experiência. É crucial respeitar e compreender as diferenças individuais, promovendo inclusão e aceitação, contribuindo para uma sociedade mais igualitária e respeitosa com a diversidade de expressões de gênero e orientações sexuais.

Dessa forma, aprofundar-se nos conceitos e particularidades da comunidade LGBTQIA+ é essencial para contextualizar os desafios enfrentados por esses indivíduos, e um dos aspectos mais preocupantes é a vulnerabilidade ao suicídio. A compreensão das identidades de gênero e orientações sexuais diversas é o ponto de partida para explorar as complexas dinâmicas sociais que contribuem para a estigmatização enfrentada por membros dessa comunidade.

2.2  ESTIGMA NAS PESSOAS LGBTQIA+

O estigma, uma força social complexa e penetrante, ultrapassa barreiras culturais e abrange diversos âmbitos da vida. Ele se manifesta, segundo Magalhães (2022), como uma marca social negativa atribuída a indivíduos ou grupos com base em características percebidas como diferentes, desviantes ou estigmatizadas. O estigma pode se enraizar em aspectos como a orientação sexual, identidade de gênero, condições de saúde mental, raça, classe social e muitos outros atributos que discordam da norma social dominante.

Um estudo de Silva et al. (2021) realizado com nove adolescentes LGBTQIA+, na faixa etária entre 14 e 18 anos identificou-se que a estigmatização durante a adolescência pode ter um impacto profundo na autoestima e no bem-estar emocional dos jovens LGBTQIA+. Portanto, a falta de apoio social e a sensação de não pertencimento podem aumentar os sentimentos de solidão e desesperança.

Logo, percebe-se que esses fatores combinados podem levar à depressão, um transtorno mental sério que afeta a qualidade de vida e o funcionamento diário dos jovens LGBTQIA+. Além da depressão, a estigmatização pode aumentar significativamente o risco de ideação suicida, tentativas de suicídio e suicídio entre esses adolescentes LGBTQIA+.

Compreende-se que a sensação de desesperança e desamparo resultante do estigma pode levar os jovens a acreditar que não têm perspectivas de melhoria ou de alcançar uma vida plena e autêntica. O isolamento social e a falta de apoio emocional podem agravar esses sentimentos, levando a comportamentos autodestrutivos.

De acordo com Magalhães (2022), a constante exposição a mensagens negativas sobre sua identidade de gênero ou orientação sexual pode levar a sentimentos de vergonha, isolamento e baixa autoconfiança. Esses jovens podem se sentir excluídos de suas famílias, amigos e comunidade, enfrentando o dilema angustiante de aceitar quem são ou esconder sua verdadeira identidade para evitar o estigma.

Assim, é crucial reconhecer a gravidade do impacto do estigma na saúde mental dos adolescentes LGBTQIA+ e tomar medidas para enfrentar essa questão de maneira eficaz. A criação de ambientes seguros e inclusivos, tanto em casa quanto na escola, é fundamental para proteger o bem-estar desses jovens.

Isso inclui promover a aceitação, a diversidade e a compreensão, bem como fornecer acesso a recursos e apoio emocional. Ao combater o estigma e criar comunidades mais solidárias, podemos ajudar a proteger a saúde mental e o bem-estar de todos os adolescentes LGBTQIA+.

2.3         VULNERABILIDADE DA COMUNIDADE LGBTQIA+ EM RELAÇÃO AO SUICÍDIO

A exposição a estigmas, preconceitos e falta de aceitação pode criar um ambiente propício para a vulnerabilidade emocional, levando a taxas alarmantes de problemas de saúde mental, incluindo o risco elevado de suicídio. Portanto, ao discutir a vulnerabilidade da comunidade LGBTQIA+ em relação ao suicídio, é crucial considerar a interseção entre fatores sociais, culturais e psicológicos, que demanda uma abordagem abrangente, inclusiva e sensível para abordar essa questão de maneira eficaz, humanitarista e nobre.

Segundo Barros Neto et al. (2023), os dados sobre o suicídio ou a tentativa de suicídio entre a população LGBTQIA+ são escassos devido a subnotificação, a falta de inclusão de identidades de gênero e orientações sexuais diversas nos registros oficiais de saúde e a relutância de muitos indivíduos LGBTQIA+ em relatar suas experiências devido ao medo de estigma e discriminação, o que pode impossibilitar uma compreensão abrangente dos desafios enfrentados por esse grupo. Além disso, a invisibilidade estatística prolonga a marginalização, já que políticas públicas e intervenções eficazes muitas vezes dependem de dados sólidos, e a falta de informações detalhadas sobre as circunstâncias que cercam o suicídio entre pessoas LGBTQIA+ impede a formulação de estratégias preventivas específicas e direcionadas.

No entanto, o Grupo Gay da Bahia (OLIVEIRA; MOTT, 2020) realizou uma pesquisa sobre o suicídio de LGBTQIA+ em 2019 no Brasil. Segundo a pesquisa, os dados (tabelas 1 e 2) são alarmantes e que é preciso haver políticas públicas que abordem a prevenção a este tipo de fenômeno social, como intitulou Émile Durkheim em seu livro O Suicídio, publicado em 1897 (STAHEL, 2000).

Tabela 1 – Suicídio de LGBTQIA+ no Brasil, em 2019, por orientação sexual
Orientação sexualQuantidade%
Gay1237,5
Transexual931,25
Lésbica721,87
Travesti39,38
Total31100

Fonte: Oliveira e Mott (2020, p. 75).

Ao interpretar esses dados, fica evidente uma desigualdade nas taxas de suicídios entre diferentes subgrupos da população LGBTQIA+. Os números indicam que os gays apresentam a maior proporção, representando 37,5% dos casos de suicídios, seguidos pelas pessoas transexuais, que registram 31,25%. Surpreendentemente, as lésbicas aparecem com uma taxa de 21,87%, e travesti com 9,38% demonstrando uma vulnerabilidade significativa diante à morte voluntária em comparação com outros grupos. Este dado contrasta com as taxas de suicídios, que para a população LGBTQIA+ que em geral representam 9,7% da população brasileira.

Com base nos dados, compreende-se que os fatores para a maior porcentagem de suicídio entre as pessoas gays incluem a maior exposição a estressores sociais, como o estigma, a discriminação e o isolamento social, em comparação com outros subgrupos da comunidade LGBTQIA+.

Tabela 2 – Faixa Etária dos LGBTQIA+ vítimas de suicídio, Brasil, 2019
Faixa etáriaQuantidade%
14-19515,62
20-2439,38
25-29515,62
30-3439,38
35-3913,12
40-4426,25
Sem informação1340,63
Total32100

Fonte: Oliveira e Mott (2020, p. 76).

Esses dados revelam que a faixa etária mais impactada pelos casos de suicídios dentro da comunidade LGBTQIA+ é predominantemente composta por pessoas entre 14 e 34 anos, representando 50% do total. Essa faixa etária mais jovem apresenta uma vulnerabilidade aparentemente mais elevada, sugerindo que questões específicas relacionadas à identidade de gênero e orientação sexual podem ter um impacto significativo durante esse período crucial de desenvolvimento. 

É notável que, entre 35 a 44 anos, há uma diminuição nas taxas de suicídio, indicando uma possível mudança de padrão nessa faixa etária, equivalente a 9,37% de vítimas. No entanto, a ausência de informações para 40,63% das ocorrências impõe restrições significativas na formação de uma análise mais sólida sobre o fenômeno no interior da comunidade LGBTQIA+. Dessa forma, a falta de dados nessas porções consideráveis dificulta a identificação de padrões específicos, bem como a compreensão aprofundada dos fatores de risco e proteção em grupos etários mais diversos. Embora os dados sejam de 2019, acredita-se que esses resultados possam ser maiores, não foi encontrada nenhuma atualização sobre isso. E segundo Barros Neto (2023), a ausência de dados epidemiológicos recentes relacionados ao suicídio dentro da população LGBTQIA+ representa uma omissão, ou seja, uma falha significativa na compreensão e no enfrentamento dos desafios encarado por esse grupo.

Subentende-se que a coleta de dados específicos sobre orientação sexual e identidade de gênero muitas vezes é negligenciada em estudos epidemiológicos tradicionais, o que limita a capacidade de compreender plenamente a extensão dos fatores de risco e proteção para a saúde mental dessa comunidade.

2.4         A DEPRESSÃO COMO FATOR DE RISCO DE SUICÍDIO ENTRE A POPULAÇÃO LGBTQIA+

A depressão é uma alteração psicopatológica do humor, caracterizada principalmente por tristeza persistente, depressão, baixa autoestima, perda de interesse e diminuição das funções mentais, que persistem por pelo menos duas semanas. Uma quantidade significativa de pesquisas documentou que os membros da comunidade LGBTQIA+ tendem a apresentar sintomas psiquiátricos, principalmente depressão, segundo explica Silva, E. e Silva, D. (2023). A partir desse conceito pode-se notar que a depressão emerge como um fator de risco substancial para o suicídio dentro da população LGBTQIA+. O encontro entre a orientação sexual e identidade de gênero diversificadas e os desafios frequentemente enfrentados por esses indivíduos pode contribuir para a prevalência elevada de depressão. A discriminação, o estigma social, a falta de aceitação e a violência baseada na orientação sexual são fatores externos que impactam negativamente a saúde mental dessa comunidade. 

Para Magalhães (2022), A orientação sexual refere-se aos padrões de atração emocional, romântica ou sexual de uma pessoa em relação a outras pessoas. Ela se manifesta em uma variedade de formas, como atração por pessoas do mesmo sexo (homossexualidade), do sexo oposto (heterossexualidade) ou de ambos os sexos (bissexualidade). A identidade de gênero, por outro lado, é a percepção interna e profunda que uma pessoa tem de seu próprio gênero, que pode ou não corresponder ao sexo atribuído no nascimento.

Em um estudo qualitativo, Oliveira e Vedana (2020) identificaram que as causas que podem levar essa população à depressão e, consequentemente ao suicídio, podem ser multifatoriais. A pesquisa teve como metodologia a análise de 916 postagens em blogs pessoais LGBTQIA+. Os resultados podem ser percebidos na Tabela 3.

Tabela 3 – Causas da depressão na população LGBTQIA+

CausasQuantidade%
Sofrimento intenso e comportamento autodestrutivo15016
Vulnerabilidade Emocional20022
Rejeição e autodepreciação56662

Fonte: Oliveira e Vedana (2020, p. 4).

Os dados fornecidos revelam uma análise das causas associadas a problemas emocionais e comportamentais entre os participantes estudados. Eles foram categorizados em três grupos principais: sofrimento intenso e comportamento autodestrutivo, vulnerabilidade emocional e rejeição e autodepreciação.

Observa-se que a categoria com o maior número de casos é “Rejeição e autodepreciação”, representando 62% do total, com 566 casos. Isso sugere que uma proporção significativa dos participantes experimentou sentimentos de rejeição e baixa autoestima, o que pode estar associado a uma série de questões emocionais e comportamentais.

Em seguida, a categoria “Vulnerabilidade Emocional” compreende 22% dos casos, totalizando 200. Isso indica que uma parcela considerável dos participantes demonstrou ser emocionalmente vulnerável, o que pode envolver dificuldades em lidar com emoções negativas ou situações estressantes.

Por fim, a categoria “Sofrimento intenso e comportamento autodestrutivo” representa 16% do total, com 150 casos. Isso sugere que uma parte dos participantes enfrentou sofrimento emocional significativo, possivelmente acompanhado por comportamentos autodestrutivos, como automutilação ou abuso de substâncias. Essa análise dos dados destaca a importância de compreender e abordar as questões emocionais e comportamentais dos participantes, visando oferecer suporte adequado e intervenções eficazes para promover seu bem-estar mental e emocional.

Repensando Durkheim (1897), Melo e Rodrigues (2022) fazem contribuições específicas em relação ao trabalho seminal de Durkheim sobre o suicídio. O psicólogo e sociólogo francês, em seus estudos, classificou o suicídio de acordo com a tipologia social dos suicidas, ou seja, suicídio egoísta, altruísta e anômico, ou seja, desorganizado.

O suicídio egoísta, conforme a interpretação de Melo e Rodrigues (2022), ocorre quando a integração social é fraca. Indivíduos nessa condição experimentam uma falta de conexão com a sociedade, resultando em isolamento e solidão. Durkheim argumenta que, em sociedades individualistas, como as industrializadas, as taxas de suicídio egoísta tendem a ser mais altas, pois a ausência de laços sociais fortes pode levar a sentimentos de desesperança e desamparo.

Ainda Melo e Rodrigues (2022), por outro lado, o suicídio altruísta está associado a uma integração social excessiva. Nesse contexto, os indivíduos estão tão profundamente integrados nas normas e valores sociais que podem sacrificar suas vidas em prol do coletivo. Exemplos históricos incluem práticas culturais onde o indivíduo coloca os interesses do grupo acima de sua própria existência.

O suicídio anômico, segundo Sapunaru e Castro (2022), está relacionado à falta de regulação social em momentos de mudança rápida ou perturbação social. Durkheim observou que períodos de transição, como crises econômicas ou revoluções, podem levar a uma anomia, onde as normas sociais tornam-se vagas ou ausentes. Isso pode resultar em um aumento das taxas de suicídio, pois os indivíduos enfrentam uma falta de orientação social e normativa.

Essas categorias fornecem uma estrutura sociológica para entender o suicídio como um fenômeno profundamente enraizado em fatores sociais e culturais. Elas destacam a importância das conexões sociais, normas e regulações na prevenção do suicídio e apontam para a complexidade das relações entre indivíduos e sociedade no entendimento desse fenômeno sensível.

Logo, a relação entre a depressão e a classificação do suicídio de Durkheim pode ser analisada à luz das categorias que ele propôs. Embora Émile Durkheim não tenha utilizado explicitamente termos como depressão, suas categorias: egoísta, altruísta e anômico ou seja, desorganizado, oferecem uma estrutura para entender a interação entre fatores sociais e a predisposição para o suicídio.

De acordo com Sapunaru e Castro (2022), a depressão pode ser associada principalmente ao tipo de suicídio egoísta. Durkheim descreve o suicídio egoísta como resultado da fraca integração social, onde indivíduos se sentem isolados e desconectados. A depressão, muitas vezes, está ligada a uma sensação de desesperança, solidão e falta de apoio social.

Dessa forma, em sociedades onde predominam valores individualistas e há uma ênfase na autonomia, os casos de suicídio egoísta podem aumentar, especialmente quando a depressão não é reconhecida e tratada adequadamente.

2.5         INCIDÊNCIA DA DEPRESSÃO E DO COMPORTAMENTO SUICIDA NA COMUNIDADE LGBTQIA+ NO BRASIL

A incidência da depressão e do comportamento suicida na comunidade LGBTQIA+ no Brasil revela uma realidade complexa e preocupante. De acordo com Moura et al. (2022), essa população enfrenta desafios únicos, marcados por discriminação, estigma e falta de compreensão. A pressão social, muitas vezes resultante de normas tradicionais e preconceitos, contribui para um ambiente propício ao desenvolvimento de condições de saúde mental adversas, especialmente a depressão.

Segundo Carone (2013), Freud destaca que a depressão é o resultado de conflitos internos não resolvidos e como uma manifestação do superego, a parte da mente que internaliza normas sociais e morais. A partir disso, compreende-se, sem afirmar, que a depressão, em conjunto com estado de melancolia, é um fator de risco que pode levar ao suicídio.

Um estudo revisional de Roberto et al. (2021), identificou a depressão como um dos fatores que pode desencadear em suicídio. O que vai ao encontro com os fatores predispostos ao autoextermínio relatados por Durkheim (1897) e, posteriormente, por Freud (1917), esses dois dos maiores pensadores das áreas da psicologia e da sociologia, respectivamente, ofereceram perspectivas distintas sobre a depressão e o suicídio.

Outro estudo, o de Magalhães (2021), identificou a depressão como um dos fatores no comportamento suicida entre a população LGBTQIA+. Na mesma trilha, Ferreira et al. (2022) coordenaram uma pesquisa de caráter observacional e transversal, constituindo um estudo de inquérito. Nele, os autores abordaram a depressão e a ansiedade, no entanto, não houve correlação com suicídio.

Embora a pesquisa de Ferreira et al. não tenha encontrado correlação direta entre depressão e ansiedade com o suicídio, isso não diminui a importância de compreender a complexidade desses fatores na saúde mental da comunidade LGBTQIA+. Portanto, a ausência de correlação direta sugere a necessidade de investigações mais aprofundadas para compreender os fatores específicos que contribuem para o comportamento suicida nesse grupo, enfatizando a importância contínua de pesquisas e intervenções sensíveis às nuances da saúde mental LGBTQIA+.

2.6    ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO E INTERVENÇÃO AO SUICÍDIO: ações adaptadas à realidade da comunidade LGBTQIA+ no Brasil

A prevenção e a intervenção ao suicídio na comunidade LGBTQIA+ no Brasil exigem uma abordagem sensível e adaptada à realidade desses indivíduos. Dada a prevalência elevada de problemas de saúde mental e o estigma associado à identidade de gênero e orientação sexual, é essencial implementar estratégias específicas que abordem as necessidades dessa população de maneira eficaz.

Segundo Roberto et al. (2021, p. 126),

De acordo com o ranking global de suicídio, divulgado pela OMS, o Brasil se destaca como o oitavo país em índices de suicídio. Um número assustador que pode ser justificado pelo fato de que as Diretrizes Nacionais para Prevenção do Suicídio e o Plano Nacional de Prevenção do Suicídio são limitadas na sua efetividade. Estas limitações são explicadas pela dificuldade de identificação da demanda para determinar a elaboração do cuidado.

A citação destaca o ranking global de suicídio divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que coloca o Brasil como o oitavo país em índices de suicídio. Esse dado alarmante sugere uma questão de saúde pública significativa que merece atenção urgente. A citação também aponta para as Diretrizes Nacionais para Prevenção do Suicídio e o Plano Nacional de Prevenção do Suicídio como instrumentos limitados em sua efetividade. Isso sugere que há desafios significativos na implementação de políticas e estratégias eficazes de prevenção ao suicídio no Brasil, destacando a necessidade de uma abordagem mais abrangente e orientada para as necessidades específicas da população LGBTQIA+.

Magalhães (2021) é de acordo quando diz que uma das estratégias é promover a conscientização e a educação sobre saúde mental dentro da comunidade LGBTQIA+ e em toda a sociedade. Isso pode incluir campanhas de sensibilização e divulgação de recursos de apoio emocional. Ao reduzir o estigma em torno da saúde mental e do suicídio, é mais provável que os indivíduos LGBTQIA+ procurem ajuda quando necessário.

Nessa assertiva, Fernandes (2022) defende que a presença da figura parental na prevenção ao suicídio em pessoas LGBTQIA+ é significativa e pode desempenhar um papel primordial no bem-estar emocional e na resiliência desses indivíduos. Pais e responsáveis desempenham um papel relevante na vida de seus filhos, especialmente durante a adolescência, um período em que muitos jovens LGBTQIA+ enfrentam desafios únicos relacionados à sua identidade de gênero e orientação sexual.

Além disso, é fundamental fornecer acesso a serviços de saúde mental culturalmente competentes e sensíveis à diversidade de gênero e sexualidade. Isso inclui a capacitação de profissionais de saúde mental para entender e abordar as questões específicas enfrentadas pela comunidade LGBTQIA+, bem como a criação de espaços seguros e acolhedores onde esses indivíduos possam buscar apoio sem medo de discriminação ou julgamento.

Um estudo de Tavares (2023) indicou que o psicólogo atua como um facilitador do processo de ajuda, oferecendo um espaço seguro e confidencial para que os indivíduos LGBTQIA+ possam expressar suas emoções, enfrentar seus desafios e explorar estratégias de enfrentamento. Por meio da terapia individual, de grupo ou familiar, o psicólogo pode ajudar os clientes/pacientes a desenvolver habilidades de resiliência e autocuidado, fortalecendo sua capacidade de lidar com o estresse e as dificuldades da vida.

Ademais, o psicólogo pode desempenhar um papel ativo na defesa dos direitos e necessidades da comunidade LGBTQIA+. Isso pode envolver o engajamento em atividades de advocacia, lobby político, participação em grupos de trabalho e colaboração com outras organizações da sociedade civil para promover políticas públicas inclusivas e acessíveis.

De acordo com Avanci et al. (2023), as ações de prevenção ao suicídio são escassas no Brasil, e que a maioria dos textos é de revisão bibliográfica e pouco aborda a prevenção ou a intervenção. Essa descoberta aponta um sinal amarelo para a importância de pesquisas consistentes sobre o tema.

3  METODOLOGIA

De acordo com a abordagem do problema e objetivo da revisão da literatura o presente estudo foi aplicado, sendo, consequente, apenas a pesquisa bibliográfica pura e de abordagem qualitativa. A posição do conhecimento sobre o tema baseia-se na análise das publicações sobre a relação entre depressão e suicídio na comunidade LGBTQIA+ no Brasil, em que a informação obtida foi objeto de análise, crítica e reflexão com o propósito prático de aumentar o conhecimento sobre a temática em questão.

Em relação ao tipo de pesquisa, o estudo foi de tipo documental onde se baseou na coleta, seleção, interesse e interpretação de pesquisa e relatórios elaborados por outros pesquisadores em fontes documentais, impressas e eletrônicas, sobre depressão e suicídio com o recorte do tempo entre 2019 e 2023. De acordo com a natureza do problema, reuniu as características de um estudo detalhado pelo seu nível.

As variáveis do estudo foram: suicídio; depressão; comunidade LGBTQIA+; e estigmatização. As dimensões do estudo referentes à depressão estiveram limitadas a conceitualizações, enquanto no suicídio, comunidade LGBTQIA e estigmatização, as dimensões do estudo se estenderam aos conceitos, prevenção, incluindo a relação entre depressão e suicídio, em que é necessário destacar a escassez de trabalhos nessa ordem.

Uma vez que o desenho e o nível de pesquisa foram delimitados, é necessário expor as técnicas de coleta de informações. A técnica utilizada para obter a informação na revisão da literatura foi a técnica de uso da leitura e checklist.

Os critérios de seleção e análise das fontes consultadas, de acordo com sua natureza, foram de natureza documental, fornecidos por dados secundários extraídos do trabalho de outros pesquisadores. Em termos de tipos de documentos foram impressos e tipo eletrônico publicados em revistas científicas.

Nesse sentido, as fontes impressas foram selecionadas como: livros e trabalhos de mestrado. E fontes eletrônicas, tais como: periódicos online e banco de dados como Redalyc, Scielo, PubMed, a fim de proporcionar confiabilidade e validade à análise e discussão do problema.

Os instrumentos de coleta de dados utilizados para a realização deste trabalho, foi o fichamento de artigos, leitura de livros, pesquisa em sites e reportagens, que depois, transformados em citações foi dando origem a um texto discursivo reflexivo, alicerçado ainda nas vivências pessoais da realizadora do trabalho. 

Essa revisão permitiu uma contextualização mais ampla do tema, oferecendo uma visão panorâmica das principais teorias, conceitos e descobertas já existentes na área. A síntese das informações obtidas por meio dessa revisão contribuiu significativamente para embasar as discussões e argumentações apresentadas neste trabalho, garantindo sua fundamentação teórica e científica.

Quanto à metodologia deste trabalho, Elizabeth Minayo (2009) ensina que pode ser conceituada de três perspectivas principais: abordagem, objetivo e método. Em relação à abordagem, a mesma Minayo (2009) destaca a importância de uma abordagem qualitativa, que busca compreender e interpretar os fenômenos em sua complexidade e profundidade. Segundo a autora, a abordagem qualitativa permite explorar a subjetividade, as relações sociais, os significados e as experiências dos sujeitos envolvidos.

É uma abordagem que valoriza a compreensão contextualizada e a análise interpretativa dos dados coletados.

Minayo (2009) afirma:

Metodologia da pesquisa, quanto à abordagem, se relaciona com a forma de apreensão do objeto e sua compreensão. Trabalhamos com metodologia qualitativa, que é a possibilidade de buscar a compreensão em profundidade dos fenômenos estudados.

Quanto ao objetivo da pesquisa, Minayo (2009) enfatiza a importância de uma abordagem descritiva e explicativa. Ela destaca que a pesquisa deve buscar descrever e analisar os fenômenos estudados, buscando compreender suas características e dinâmicas. Além disso, a pesquisa deve buscar explicações para os fenômenos, investigando as causas e os contextos em que ocorrem.

No que diz respeito ao método, Minayo (2009), defende uma abordagem multidisciplinar e integradora. Ela destaca a importância de utilizar diferentes métodos e técnicas de coleta de dados, como entrevistas, observação participante e análise documental, de acordo com as especificidades do objeto de estudo, ressalta que a escolha do método deve ser coerente com os objetivos da pesquisa e permitir uma análise aprofundada e contextualizada dos fenômenos investigados. Minayo (2009), afirma que quanto ao método, defendemos a pesquisa multidisciplinar, que seja capaz de se aproximar da complexidade dos fenômenos estudados. Assim, ela não pode ser unilateral, apenas quantitativa, apenas qualitativa, apenas documental ou apenas de campo. Precisa ser uma pesquisa que integre diversas abordagens, técnicas e olhares. 

Como escolha do percurso investigativo, optou-se pela pesquisa de abordagem qualitativa, exploratória e bibliográfica, procurando explicar as observações sobre o fenômeno proposto. Segundo Gil (2007, p. 41) a utilização desse percurso de pesquisa “proporciona maior familiaridade com o problema”.

Quanto aos procedimentos recorreu-se a pesquisa bibliográfica (GIL, 2007) com a leitura de livros, artigos, sites que pesquisam o assunto abordado e essa revisão da literatura proporciona um embasamento teórico sólido, permitindo compreender as características, valores e expectativas dentro do assunto proposto para compreender as questões discutidas no trabalho, com relação entre depressão e suicídio na comunidade LGBTQIA+ no Brasil.

Segundo (GUERRA, 2014), a abrangência de informações, bem como a releitura de dados com inúmeras publicações com uma abordagem qualitativa, o que permite aprofundar a compreensão dos fenômenos estudados – ações de indivíduos, grupos ou organizações em seu ambiente ou contexto social -, interpretando-os de acordo com a perspectiva dos próprios sujeitos que participam da situação.

Espera-se que a metodologia utilizada para explorar e analisar os dados, como já ilustrado, permita uma compreensão mais profunda sobre o tema estudado, fornecendo informações que podem ser úteis para leitores e leitoras que vivem desafios semelhantes.

4  RESULTADOS

Os resultados encontrados nas análises dos textos referenciados indicaram escassez de estudos que abordam em conjunto a depressão e o suicídio, e isso pode dar-se por uma série de razões. Primeiramente, a pesquisa em saúde mental, como enfatizam Moura et al. (2022), embora tenha progredido significativamente ao longo dos anos, ainda enfrenta desafios em termos de financiamento e recursos disponíveis. Isso pode limitar o número de estudos que investigam especificamente a interseção entre a depressão e o suicídio.

Além disso, a natureza complexa e variada desses fenômenos pode tornar difícil para os pesquisadores conduzir estudos abrangentes que examinem todas as variantes envolvidas. A depressão e o suicídio são influenciados por um amplo conjunto de fatores biológicos, psicológicos, sociais e ambientais, e compreender sua relação exige uma abordagem completa e interdisciplinar.

Concorda-se com Roberto et al. (2021) quando especificam que outro desafio é a estigmatização em torno da saúde mental e do suicídio, que pode dificultar a coleta de dados precisos e a participação em estudos por parte daqueles que são afetados. Muitas pessoas que enfrentam depressão ou pensamentos suicidas podem relutar em buscar ajuda ou em participar de pesquisas devido ao medo de julgamento ou discriminação.

Ademais, questões éticas também podem surgir ao estudar a relação entre a depressão e o suicídio, especialmente em relação à proteção dos participantes da pesquisa e à abordagem sensível das questões envolvidas.

Tendo como base o estudo realizado por Tavares (2023) quanto a intervenção e prevenção ao suicídio, o autor observa que a maioria das iniciativas revisadas tem um tom de oferecer dicas sobre como lidar com situações, em vez de entrar em detalhes sobre a implementação de programas. Isso sugere que as iniciativas podem ser mais voltadas para a prestação de conselhos práticos do que para o desenvolvimento de estratégias abrangentes e argumentáveis.

O autor aponta que poucas iniciativas fornecem detalhes específicos sobre como implementar um programa, o que dificulta sua argumentação eficaz em outros contextos. Isso sugere que há uma falta na literatura em termos de orientações práticas para a implementação de intervenções de prevenção ao suicídio.

Apesar desses desafios, é essencial para a comunidade científica e os formuladores de políticas reconhecer a importância de estudar a relação entre a depressão e o suicídio, a fim de desenvolver intervenções eficazes de prevenção e tratamento. Isso requer um compromisso contínuo com a pesquisa, a colaboração adequada e uma abordagem incentivadora entre pesquisadores, profissionais de saúde mental e pessoas afetadas pelos distúrbios.

5  CONCLUSÃO

As considerações finais deste estudo destacam a importância de analisar publicações sobre a incidência da depressão e do comportamento suicida na comunidade LGBTQIA+ no Brasil, entre os anos de 2019 a 2023. Ao longo da pesquisa, realizou-se uma coleta sistemática de estudos com foco nessa temática, visando identificar fatores de risco e de proteção associados à depressão e ao comportamento suicida nessa população. No entanto, é importante ressaltar que nem todos os objetivos foram plenamente atingidos devido à escassez de trabalhos publicados nesse período.

As publicações analisadas revelaram uma lacuna significativa na literatura sobre suicídio e depressão na comunidade LGBTQIA+ no Brasil. A falta de estudos detalhados e abrangentes dificultou a identificação de fatores de risco específicos e a compreensão das estratégias de prevenção e intervenção mais eficazes. Isso destaca a necessidade urgente de mais pesquisas nessa área, a fim de melhor entender e abordar as necessidades de saúde mental dessa população vulnerável.

Diante dessas limitações, algumas recomendações podem ser feitas para futuras pesquisas e intervenções. Primeiramente, é essencial realizar mais estudos extensos e abrangentes que investiguem os determinantes sociais, culturais e individuais da depressão e do suicídio na comunidade LGBTQIA+ no Brasil. Além disso, é fundamental desenvolver e adaptar estratégias de prevenção e intervenção específicas para atender às necessidades dessas pessoas, levando em consideração sua diversidade e experiências únicas.

É necessário também promover a capacitação de profissionais de saúde mental para fornecer um atendimento delicado e culturalmente competente à comunidade LGBTQIA+, e garantir o acesso justo a serviços de saúde mental de qualidade. A criação de redes de apoio e grupos de suporte dentro da comunidade também pode desempenhar um papel crucial na promoção do bem-estar emocional e na prevenção do suicídio.

Embora este estudo tenha contribuído para lançar luz sobre a importância de abordar a depressão e o suicídio na comunidade LGBTQIA+ no Brasil, há muito trabalho a ser feito para preencher as lacunas na pesquisa e implementar estratégias eficazes de prevenção e intervenção. É essencial que a comunidade acadêmica, profissionais de saúde e formuladores de políticas, se unam para enfrentar esse desafio complexo e garantir que todos tenham acesso a cuidados de saúde mental adequados e culturalmente sensíveis.

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[1] Graduada em Psicologia (INTEGRA-GO), graduada em Gestão de Recursos Humanos (ATOS-MG). E-mail: pereseroriz@gmail.com

[2] Mestre em Educação Linguam e Tecnologias (UEG-GO), graduado em Psicologia (PUC-GO), graduado em Pedagogia (FSJ-SP). E-mail: pauloveras@outlook.com

[3] Mestre em Estudos da Linguagem (UFCAT), graduado em Psicologia (UFG).E-mail: morimpsi@gmail.com