THE RELATIONSHIP BETWEEN THE USE OF PSYCHOTROPIC DRUGS AND STRESS IN MEDICAL STUDENTS: AN INTEGRATIVE LITERATURE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202502241512
Eduarda Klering Dias1
Luan Estrela Pietro2
Resumo
O artigo retrata a associação entre o uso de substâncias psicoativas e o estresse no ambiente acadêmico com foco em estudantes de medicina. A universidade, como um ambiente que reforça o fato social, molda a vida dos estudantes, promovendo conhecimento, mas também gerando um ciclo exaustivo que reduz a qualidade de vida devido à carga horária excessiva e cobranças desproporcionais, o que intensifica o estresse vivido por esse público. Estudos indicam que a maioria dos estudantes de medicina sofre de estresse, levando muitos a recorrerem a substâncias psicoativas para lidar com essa pressão. A presente revisão integrativa da literatura, utilizando bases de dados como LILACS e PubMed, selecionou 10 artigos que destacam o sofrimento psíquico e sua relação com o uso de psicotrópicos entre estudantes. Resultados mostram que médicos e estudantes apresentam taxas elevadas de sofrimento psíquico, com sintomas de depressão e ansiedade prevalentes. O uso de psicotrópicos é mais comum entre mulheres e estudantes dos últimos anos do curso, com ansiolíticos e antidepressivos sendo os mais consumidos. Embora a conscientização sobre saúde mental nas disciplinas do curso seja positiva, o uso de medicamentos ainda é alarmante. Por fim, o estudo conclui que o estresse é um problema de saúde pública que requer atenção, especialmente entre futuros profissionais de saúde, e destaca a necessidade de novas pesquisas para implementar soluções eficientes na realidade acadêmica.
Palavras-chave: Estresse acadêmico. Psicofármacos. Revisão de literatura. Saúde mental. Estudantes de Medicina.
1. INTRODUÇÃO
Segundo Durkheim (1895), o fato social consiste em fenômenos externos aos indivíduos, mas que exercem poder coercitivo, influenciando ações e pensamentos. Nesse contexto, a Universidade atua como um ambiente que efetivamente reforça o fato social, moldando a vida dos estudantes. Embora promova a aquisição de conhecimento, também gera um ciclo exaustivo que reduz a qualidade de vida devido à carga horária excessiva e às cobranças desproporcionais ao tempo disponível. A sociedade, ao normalizar esse processo, perpetua um ciclo nocivo, onde os estudantes são constantemente submetidos ao estresse, mesmo após alcançarem objetivos irreais estipulados pelos currículos.
Moretti e Hübner (2017) observam que, entre 102 estudantes de Medicina, apenas um não sofria de estresse, enquanto 90% dos demais apresentavam níveis potencialmente perigosos. Isso leva muitos estudantes a recorrerem a substâncias psicoativas para lidar com as pressões acadêmicas. Medeiros e Bittencourt (2017) apontam que o consumo dessas substâncias aumenta em ambientes de alta demanda, como universidades, onde a busca por alívio rápido para sintomas de ansiedade e fadiga promove o uso frequente de estimulantes e ansiolíticos. Além disso, Oliveira et al. (2020) alertam que essa prática pode causar dependência e piorar o estresse, criando um ciclo vicioso que prejudica a saúde dos estudantes.
Por fim, com base em toda a análise feita, o presente estudo visa explorar os dados atualizados sobre a associação do uso de substâncias psicoativas e o estresse no ambiente acadêmico, visto a importância da referida temática.
2. METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura com a utilização da técnica em seis etapas: identificação do problema, busca na literatura, avaliação crítica dos estudos incluídos, extração dos dados, análise e síntese dos resultados e apresentação da revisão. As palavras “Medical Students” AND “Stress” AND “Psychotropic drugs”, foram inseridas na Biblioteca
Virtual em Saúde (BVS), integrada pelas bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Literatura Internacional em Ciências da Saúde (MEDLINE), bem como na biblioteca Scientific Electronic Library Online (SciELO) e no PubMed, resultando em 78 artigos. Após a inserção dos critérios de inclusão (artigos dos últimos 10 anos, com o texto disponível na íntegra e abordando o tema escolhido) e exclusão, foram selecionados 10 artigos para compor a amostra, que foram expostos em um quadro sintético no estudo completo.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Segundo Filho, Machado e Maia (2022), médicos e estudantes de medicina apresentam taxas elevadas de sofrimento psíquico, esgotamento e ideação suicida em comparação à população geral, manifestando-se ainda durante a formação acadêmica. Além disso, as principais causas reconhecidas são a extensa carga horária e extenso conteúdo didático e a insegurança quanto ao mercado de trabalho.
Uma revisão de literatura abrangendo 43 países (Rotenstein et al., 2016) encontrou uma prevalência média de sintomas de depressão entre graduandos de medicina de 27,2%, significativamente superior à taxa observada na população geral do Brasil, estimada em 5,8% (Who, 2017). Vale ressaltar que a estatística encontrada é semelhante à prevalência da pesquisa de Souza et al. (2022), feita com estudantes paulistas, a qual demonstrou que cerca de um em cada cinco estudantes desenvolveram sintomas durante o curso.
Porém, Castaldelli-Maia et al. (2019) revelou que, em sua amostra, a maior parte das queixas de ansiedade tinham início antes do contexto universitário, diferindo dos achados dos demais estudos.
Sob outro prisma, é possível inferir que os níveis de estresse psicológico e Síndrome do Esgotamento Emocional são alarmantemente elevados entre estudantes de medicina, com o último prevalente em 80% dos casos, conforme demonstrado ainda por Castaldelli-Maia (2019). Essas evidências reforçam a necessidade de atenção às condições psicológicas dos estudantes de medicina, dado o impacto que a formação acadêmica exerce sobre a saúde mental.
Complementando esse pensamento, em outro estudo foi exposto que aproximadamente metade dos estudantes (49,9%) pesquisados relataram desconforto físico, incluindo náuseas, diarreia, suor excessivo, falta de apetite e tremores, todos atribuídos às atividades acadêmicas. Além disso, 41,6% dos participantes indicaram que a demanda do curso foi o fator precipitante para o uso de psicotrópicos (Araújo; Ribeiro; Vanderlei, 2021).
Quanto ao uso dessas formulações medicamentosas, quase metade dos indivíduos relatou utilizá-las em algum momento de suas vidas (49,62%), com predominância entre o sexo feminino (67,16%), conforme Filho, Machado e Maia (2022). No entanto, Souza et al. (2022) encontraram resultados diferentes em uma pesquisa com 449 estudantes de medicina no interior de São Paulo, pois apenas um quarto dos participantes afirmou usar antidepressivos e/ou ansiolíticos. De forma semelhante, Luna (2018) revelou que 23% dos participantes usavam psicofármacos durante a coleta de dados, sendo 70% do sexo feminino.
Em relação à maior prevalência no público feminino, há algumas teorias que sugerem que o fato de que as mulheres costumam ser a maioria entre os estudantes de medicina, e também que as mesmas tendem a procurar mais por algum tipo de atendimento psicológico do que o sexo masculino (de Luna, 2018).
Quanto à classe de fármacos, os ansiolíticos foram mais consumidos (42,7%), seguidos pelos antidepressivos (32,3%) e psicoestimulantes (20,1%). Os principais objetivos do uso desses medicamentos foram conciliar o sono, alcançar um melhor rendimento em atividades cotidianas e nos estudos, bem como minimizar a ansiedade e preocupação (Araújo; Ribeiro; Vanderlei, 2021). Ainda, o referido trabalho revelou que os estudantes de medicina apresentaram o dobro de chances de fazer uso de psicoestimulantes em comparação aos estudantes de odontologia.
Ao analisar, inclusive, o período da faculdade, segundo Filho, Machado e Maia (2022), a maior incidência foi entre os alunos do 4º ano (31,34%). Contudo, Luna et al. (2018) observaram que os estudantes do 6º ano usavam mais psicofármacos em comparação aos do 1º ano, sugerindo que a evolução no curso está intimamente relacionada com o maior uso desses medicamentos. Entre os estudantes do 6º ano, 50% faziam esse uso, e 62% desses eram do sexo masculino, diferindo do padrão visto. Não obstante, o curso foi apontado como o principal fator desencadeante por 48% dos participantes do 1º ano e 62% do 6º ano. A classe dos psicoestimulantes foi a mais utilizada, representando 65% no 1º ano e 34% no 6º ano.
Outra justificativa que existe para o aumento do uso desse tipo de fármacos durante a faculdade é porque se sugere que há uma conscientização sobre a saúde mental que ocorre nas disciplinas do curso, o que é positivo, visto que embora hajam taxas alarmantes do uso desses medicamentos, Souza et al. (2022) afirmaram que os estudantes que faziam esse uso tinham probabilidade três vezes maiores de realizarem terapia em relação aos que não utilizavam (β=1,12, OR=3,07, p<0,001).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base em todas as discussões desenvolvidas, há fortes indícios de que os estudantes de medicina sofrem de estresse em uma taxa bem maior do que a da população geral brasileira e com uma maior manifestação de sintomas, sendo iniciados principalmente durante o início do curso.
Ademais, é possível depreender que o uso de psicotrópicos também se dá em uma taxa preocupante, e que tem como principal fator precipitante a demanda da faculdade. Nesse sentido, é possível inferir, como resultado geral, uma maior ocorrência do uso destes medicamentos entre os indivíduos do sexo feminino, aqueles dos últimos anos do curso, e que os fármacos mais utilizados foram os ansiolíticos e os antidepressivos.
Não obstante, percebe-se que, embora ainda exista uma série de divergências nos dados apresentados, é possível entender a urgência de tal temática, e a importância do presente estudo, visto que o estresse é um problema de saúde pública que deve ter a necessária atenção, ainda mais quando se trata da futura classe de agentes promotores de saúde.
Por fim, é nesse contexto que também se insere a necessidade de elaborar novas pesquisas que abordem essa pauta na nossa Universidade, visando implementar soluções voltadas para a realidade acadêmica.
REFERÊNCIAS
ARAUJO, Aida Felisbela Leite Lessa; RIBEIRO, Mara Cristina; VANDERLEI, Aleska Dias. Automedicação de psicofármacos entre estudantes universitários de odontologia e medicina. Revista Internacional de Educação Superior, Campinas, v. 7, p. e021037, fev. 2021. Disponível em: https://doi.org/10.20396/riesup.v7i0.8659934. Acesso em: 31 ago. 2024.
CASTALDELLI-MAIA, João Mauricio et al. Stressors, psychological distress, and mental health problems amongst Brazilian medical students. International Review of Psychiatry, UK, v. 31, n. 7-8, p. 603-607, 15 out. 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1080/09540261.2019.1669335. Acesso em: 31 ago. 2024.
LUNA, Ilanna Sobral de ; et al. Consumo de psicofármacos entre alunos de medicina do primeiro e sexto ano de uma universidade do estado de São Paulo. COLLOQUIUM VITAE, Presidente Prudente, v. 10, n. 1, p. 22-28, 29 jan. 2018. Disponível em: https://doi.org/10.5747/cv.2018.v10.n1.v216. Acesso em: 31 ago. 2024.
DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. 8. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
WHO – World Health Organization. Depression and Other Common Mental Disorders: Global Health Estimates. Geneva, 2017, p. 23. Disponível em: https://iris.who.int/bitstream/handle/10665/254610/WHO-MSD-MER-2017.2-eng.pdf?sequen ce=1 Acesso em: 31 ago. 2024.
FILHO, João Maria Corrêa; MACHADO, Juliana Leal Pinheiro; MAIA, Renata Carvalho Lopes. O uso de psicofármacos por estudantes de medicina no estado do Piauí contexto da COVID-19. Brazilian Journal of Health Review, Paraná, v. 5, n. 6, p. 22683-22693, 14 nov. 2022. Disponível em: https://doi.org/10.34119/bjhrv5n6-067. Acesso em: 31 ago. 2024.
MEDEIROS, Palloma Prates; BITTENCOURT, Felipe Oliveira. Fatores Associados à Ansiedade em Estudantes de uma Faculdade Particular. Id online Revista de Psicologia, v. 10, n. 33, p. 42-55, jan. 2017. Disponível em: https://doi.org/10.14295/idonline.v10i33.594. Acesso em: 30 ago. 2024.
MORETTI, F. A.; HÜBNER, M. M. C. O estresse e a máquina de moer alunos do ensino superior: vamos repensar nossa política educacional? Revista Psicopedagogia, São Paulo, n.34 v. 105, p. 258-267, set. 2017. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862017000300003. Acesso em 24 ago. 2024.
OLIVEIRA, E. S.; et al. Estresse e comportamentos de risco à saúde entre estudantes universitários. Revista Brasileira de Enfermagem, n. 73, v. 1, 2020, p. 1-8. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0035. Acesso em 25 ago. 2024.
ROTENSTEIN, Lisa S. et al. Prevalence of Depression, Depressive Symptoms, and Suicidal Ideation Among Medical Students. JAMA, v. 316, n. 21, p. 2214, 6 dez. 2016. Disponível em: https://doi.org/10.1001/jama.2016.17324. Acesso em: 31 ago. 2024.
SOUZA, Giovanna Calixto Rossi Marques de; et al. Uso de ansiolíticos e antidepressivos entre estudantes de medicina de uma universidade. Psico, v. 53, n. 1, p. e38105, 25 nov. 2022. Disponível em: https://doi.org/10.15448/1980-8623.2022.1.38105. Acesso em: 31 ago. 2024.