REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202501180645
Jordânia Souza Lins de Vasconcelos; Analicy Silva Souza Campos Cabral; Antônio de Pádua Arruda Neto; Camila Lopes Franklin Bezerra; Karen Natyara Palitot Bandeira; Lóide Ferreira Miranda; Maria Eduarda Silva de Aguiar; Marianne Adelina Seixas de França Lavor; Rita de Cassia Aranha da Silva; Rita de Cássia Soares de Paula Cunha
RESUMO
INTRODUÇÃO: A violência sexual contra crianças gera consequências duradouras, afetando sua saúde mental e capacidade de construir relacionamentos saudáveis. Este estudo visa explorar os impactos, identificar os fatores de risco e sugerir intervenções para melhorar a saúde mental das vítimas. METODOLOGIA: A metodologia consiste em uma revisão bibliográfica utilizando a plataforma BVS e MEDLINE, em inglês no ano de 2024, totalizando 92 artigos para avaliação inicial. RESULTADOS E DISCUSSÕES: Após análise criteriosa, foram incluídos 9 artigos. Nesse contexto, os resultados destacam que a violência sexual na infância está associada a sérios impactos na saúde mental, como ideação suicida, automutilação e dificuldades emocionais. Como também, podem ocorrer uma diversa gama de problemas psicológicos durante relacionamentos na vida adulta. CONCLUSÃO: Diante dos agravos causados pela violência, especialmente a sexual, na infância, este estudo conclui a importância do apoio familiar voltado para o resgate emocional da vítima em consonância a políticas públicas e programas de prevenção a serem implementados para mitigar os efeitos e promover a recuperação. PALAVRAS-CHAVE: Abuso infantil; Abuso sexual; Desenvolvimento infantil; Pediatria.
1. INTRODUÇÃO
A violência sexual contra crianças é uma realidade devastadora, cujas consequências reverberam ao longo de toda a vida. As vítimas desse tipo de abuso frequentemente enfrentam desafios emocionais e sociais profundos, que afetam não apenas sua saúde mental, mas também sua capacidade de construir relacionamentos saudáveis e seguros (Vahed et al., 2024; Silverman et al., 2024). Compreender os efeitos desse trauma é essencial, pois, como afirmam Dworkin et al. (2024), para que se desenvolvam intervenções eficazes, é preciso entender profundamente os fatores de risco e as consequências psicossociais do abuso sexual infantil.
Este estudo se justifica, tanto em nível acadêmico quanto social. Partindo do ponto de vista acadêmico, ele visa preencher uma lacuna importante na literatura ao explorar como o abuso sexual infantil afeta o desenvolvimento interpessoal das vítimas ao longo da vida, o qual é um tema ainda pouco abordado de forma profunda. Além disso, ao investigar os fatores de risco e as formas de enfrentamento mais comuns, a pesquisa busca fornecer subsídios para a construção de intervenções mais eficazes. Já do ponto de vista social, este trabalho se torna relevante uma vez que visa contribuir com a formulação de políticas públicas e estratégias de apoio psicossocial que possam, de fato, ajudar as vítimas a superarem os efeitos devastadores do abuso, especialmente em contextos de vulnerabilidade social, onde o ciclo de sofrimento é agravado pela falta de apoio adequado (Dworkin et al., 2024).
Dessa forma, os objetivos desta pesquisa são investigar os impactos do abuso sexual infantil no desenvolvimento interpessoal de sobreviventes na vida adulta, identificar os fatores de risco mais comuns e os mecanismos de enfrentamento que utilizam, além de sugerir estratégias de intervenção que possam melhorar a saúde mental e os relacionamentos desses indivíduos.
2. METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão bibliográfica, elaborada mediante a pergunta norteadora “Quais os impactos da violência sexual sofrida na infância em adultos?”, como também uma mais detalhada, objetivando delinear a especificidade da temática, sendo “As experiências adversas e traumáticas vivenciadas durante a infância podem ou não influenciar negativamente e/ou positivamente na vida adulta. Levando isso em consideração, como e quais são os impactos da violência sexual no desenvolvimento da criança ao longo da vida adulta?”. Empregamos a busca de estudos pela plataforma Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), incluindo artigos indexados na base de dados Medical Literature Analysis and
Retrieval System Online (MEDLINE), os descritores selecionados foram “sexual violence”, “Childhood” e “Adverse Experiences”, associado ao operador booleano “AND”. A busca foi realizada com os seguintes filtros: texto completo disponível, idioma em inglês e ano de 2024.
A partir disso, foram totalizados 92 artigos para avaliação inicial. Seguimos as orientações do autor SOUZA et al., (2010) para a realização da triagem dos artigos encontrados, alterando-os conforme necessário para a pesquisa, portanto, dividindo-os em uma tabela com 5 tópicos: 1) Número e título do artigo, 2) Autores, 3) Ano de publicação e Digital Object Identifier (DOI), 4) Incluído ou excluído, anexando a justificativa, 5) Pontos relevantes do artigo. Dessa forma, com o objetivo de identificar quais pesquisas serão importantes para este estudo. Foram retirados artigos que se apresentaram como indisponibilidade na íntegra, duplicidade e fuga ao tema. E, incluídos os que responderam as perguntas norteadoras já citadas anteriormente.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Utilizamos o protocolo Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) 2020 como guia para o processo de seleção dos estudos, sendo representado, portanto, na figura 1. Para uma maior análise dos dados, foram realizadas duas seleções, ambas com revisores e momentos diferentes, na qual eliminaram ao total 42 artigos por fuga ao tema, 20 artigos por duplicidade e 21 artigos por texto completo indisponível, totalizando um corpus final de 9 artigos incluídos neste trabalho.
Com isso, identificamos que os impactos da carga internalizada de violência emocional e sexual na saúde mental são diversos. Vahed et al. (2024) conclui em seu estudo que a violência emocional nas mulheres, em relação àquelas não exposta, teve associação a maiores probabilidades de pensamentos suicidas, automutilação e sofrimento psíquico, assim como, a violência sexual foi associada a pensamentos suicidas e automutilação.
A pesquisa de Bahali et al. (2023) revelou que todos os tipos de traumas infantis são mais comuns em pessoas com comportamento autolesivo não suicida na adolescência (NSSI) em comparação com aqueles sem esse comportamento. Assim, concluiu que pacientes com NSSI tiveram maior exposição ao trauma, especialmente em casos de abuso sexual. Outros estudos longitudinais também associaram o NSSI a históricos de abuso emocional e sexual entre adolescentes. As diferenças entre estudos podem ser atribuídas a variáveis como percepção pessoal de trauma e fatores de proteção (GARISCHA; WILSON, 2015, apud BAHALI et al. 2023).
A experiência de maus-tratos e especialmente abuso emocional e/ou sexual, parece estar associada a um maior risco de desenvolver comportamento autolesivo na adolescência. Portanto, a identificação e detecção precoces de crianças que sofreram ou estão sofrendo essas formas de maus-tratos são de vital importância para instigar tratamentos psicoterapêuticos que possam minimizar o risco de desenvolver NSSI na adolescência (FERRAJÃO et al., 2024). Além disso, os traumas na infância incluindo a violência sexual e apego inseguro estão implicados no risco de suicídio em adultos. As intervenções destinadas a mitigar os efeitos negativos do trauma infantil e do apego inseguro também devem incorporar componentes que visem fatores de risco modificáveis, como derrota, aprisionamento e estresse (LANDA-BLANCO et al., 2024).
O abuso sexual infantil muitas vezes resulta em problemas de saúde mental e dificuldades de relacionamento na vida adulta, como ansiedade, ideação suicida, fantasias de comportamento sexual violento, dificuldades de concentração, impulsividade e evitação, dificuldades sexuais, problemas em relacionamentos íntimos e familiares entre outros. No entanto, há poucas pesquisas sobre as vivências e desafios de saúde mental enfrentados por essas pessoas. No sul da Ásia, os tratamentos disponíveis para sobreviventes adultos de abuso sexual infantil abordam principalmente terapias cognitivo-comportamentais. Entretanto, ainda não existem estudos que avaliem a eficácia e a acessibilidade dessas abordagens na região, e nenhum tratamento baseado em evidências foi desenvolvido especificamente (SHIVANGI et al., 2024).
As mulheres que sofreram abuso infantil têm mais comportamentos de risco sexual, múltiplos parceiros, sexo sem proteção e gravidez na adolescência, além de usarem anticoncepcionais de forma inconsistente. É sugerido que o abuso infantil pode levar ao desenvolvimento de autoimagem negativa e dificultar a comunicação de necessidades na vida adulta, o que pode afetar a autonomia na tomada de decisões sobre contracepção. A influência do abuso na infância e o comportamento controlador dos maridos na idade adulta pode limitar a capacidade das mulheres abusadas de controlar a fertilidade, resultando em gravidez indesejada (ISLAM, 2024). Nesse contexto, Andresen et al. (2024) também afirma que mulheres que relataram experiências adversas na infância categorizadas como Abuso ou Negligência tiveram maiores chances de assumir riscos sexuais na fase adulta do que as que não relataram. Outros estudos também indicam que o abuso sexual na infância foi direto e positivamente associado ao início precoce da vida sexual (ERGA et al., 2024).
Assim, percebe-se que os impactos da violência sexual no desenvolvimento interpessoal da criança a longo da vida adulta são diversos. Portanto, entender a extensão do problema da violência sexual na infância ajudará a buscar intervenções precoces para diminuir a exposição infantil aos abusos ou mitigar o impacto prejudicial dessa experiência adversa na infância (AMEME et al., 2024).
4. CONCLUSÃO.
A violência sexual sofrida na infância representa um desafio significativo para a saúde mental e o bem-estar ao longo da vida, com impactos profundos que se estendem para a fase adulta. Os estudos revisados neste trabalho evidenciam que experiências traumáticas, como o abuso sexual infantil, estão fortemente associadas a uma série de transtornos psicológicos, comportamentais e emocionais em adultos.
Entre os efeitos mais prevalentes estão os problemas de saúde mental, como ideação suicida, automutilação, transtornos de ansiedade e dificuldades de relacionamento interpessoal, destacando a complexidade das consequências de tais traumas. Além disso, os estudos revisados indicam que a violência sexual na infância, influencia comportamentos como práticas sexuais de risco, dificuldades de comunicação e escolhas reprodutivas, como a gravidez indesejada e o uso inconsistente de anticoncepcionais.
Nesse sentido, as intervenções psicoterapêuticas voltadas para a infância e adolescência são cruciais para minimizar os danos psicológicos e reduzir a reincidência de comportamentos de risco na vida adulta. Embora terapias cognitivas-comportamentais sejam comumente utilizadas no tratamento do abuso sexual infantil, é fundamental que se desenvolvam novas abordagens mais eficazes e acessíveis, adaptadas às necessidades individuais dos sobreviventes e contextos socioculturais.
Portanto, a compreensão dos impactos da violência sexual na infância deve ser central para políticas públicas e intervenções voltadas para a proteção de crianças e adolescentes. A implementação de programas de prevenção, apoio psicossocial e tratamento especializado é essencial para minimizar os efeitos dessa violência e promover o bem-estar das vítimas ao longo da vida. Somente com uma abordagem integrada e precoce será possível interromper o ciclo de sofrimento causado e garantir um futuro mais seguro para as crianças afetadas.
REFERÊNCIAS
(65) DWORKIN, E. R.; et al. What are the Experiences of and Interventions for Adult Survivors of Childhood Sexual Abuse in South Asia? A Systematic Review and Narrative Synthesis. Journal of Interpersonal Violence, v. 38, p. 75-90, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.1177/15248380241231603.
(63) ISLAM, M. M.; et al. The Relationship Between Childhood Abuse and Unintended Pregnancy Among Married Women of Reproductive Age in Bangladesh. Children, v. 11, n. 5, p. 512-524, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.1080/10538712.2024.2314283.
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(20) SILVERMAN, J.; et al. The impact of parental acceptance and childhood maltreatment on mental health and physical pain in Burundian survivors of childhood sexual abuse. Child Abuse & Neglect, v. 151, p. 40-55, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.chiabu.2024.106906.
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