THE MEDIA’S RELATION WITH EATING DISORDERS IN ADOLESCENCE
LA RELACIÓN DE LOS MEDIOS DE COMUNICACIÓN CON LOS TRASTORNOS ALIMENTARIOS EN LA ADOLESCENCIA
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ma10202408241446
Bruna Crespo Luiz Muylaert
Juliana Fernandes Pessanha
Thais Cordibelli Motta
RESUMO
A adolescência é uma fase marcada por mudanças físicas, comportamentais e psicossociais. Nela ocorre a formação da identidade, o que a torna uma fase muito complicada, em que o indivíduo está muito vulnerável a opiniões e críticas. O mundo virtual é uma realidade de adolescentes de todo o mundo e uma consequência disso é o alto risco para o desenvolvimento de transtornos alimentares. Nesse sentido, o presente artigo visou relacionar questões ligadas à mídia como indutora de comportamentos alimentares perigosos. Mais especificamente, foram citados dois casos similares com essa mesma causa, e observado como os padrões impostos pelas redes atuam na formação da imagem corporal adolescente, alterando suas escolhas nutricionais e resultando diversas vezes em distúrbios alimentares.
Palavras-chave: Mídia. Transtorno alimentar. Adolescência. Anorexia. Bulimia.
ABSTRACT
Adolescence is a phase marked by physical, behavioral, and psychosocial changes. In it, the formation of identity occurs, which makes it a very complicated phase, in which the individual is very vulnerable to opinions and criticism. The virtual world is a reality for teenagers all over the world, and a consequence of this is the high risk for developing eating disorders. In this sense, the present article aimed to relate issues related to the media as an inducer of dangerous eating behaviors. More specifically, two similar cases with this same cause were studied, and observed how the patterns imposed by the networks act in the formation of adolescent body image, altering their nutritional choices and resulting in eating disorders several times.
Keywords: Media. Eating disorder. Adolescence. Anorexia. Bulimia.
RESUMEN
La adolescencia es una etapa marcada por cambios físicos, conductuales y psicosociales. En ella se produce la formación de la identidad, lo que hace que sea una fase muy complicada, en la que el individuo es muy vulnerable a las opiniones y críticas. El mundo virtual es una realidad para los adolescentes de todo el mundo, y una consecuencia de ello es el alto riesgo de desarrollar trastornos alimentarios. En este sentido, el presente artículo tuvo como objetivo relacionar temas relacionados con los medios de comunicación como inductores de conductas alimentarias peligrosas. Más concretamente, se estudiaron dos casos similares con esta misma causa, y se observó cómo los patrones impuestos por las redes actúan en la formación de la imagen corporal de los adolescentes, alterando sus elecciones nutricionales y dando lugar a trastornos alimentarios en varias ocasiones.
Palabras clave: Medios de comunicación. Trastorno alimentario. Adolescencia. Anorexia. Bulimia.
INTRODUÇÃO
De acordo com a Sociedade Brasileira de Psiquiatria Clínica (SBPC), a cada ano milhares de pessoas desenvolvem graves distúrbios do comportamento alimentar, o que tende a ser crescente devido ao fato de que cada vez mais o conceito de beleza é imposto pela sociedade, sendo encaixado dentro de um padrão de magreza e relacionado ao sucesso e felicidade.
O corpo tem ganhado muito espaço e relevância em todas as áreas, mas, principalmente, nas redes sociais, influenciando, sobremaneira, adolescentes. Nessa faixa etária ocorre a estruturação da identidade, é uma fase complexa, em que a pessoa se julga, muitas vezes, na necessidade de se encaixar em padrões, sentindo-se pressionada a atingir uma perfeição inexistente que, quando não alcançada, favorece a insatisfação com o próprio corpo, a qual gera condutas de risco, como dietas desequilibradas ou restritivas, podendo futuramente ocasionar transtornos de imagem, levando aos transtornos alimentares.
Segundo a The Eating Disorders Foundation (2022), os transtornos alimentares são condições complicadas, devastadoras e, às vezes, fatais, tendo sérias complicações na vida de alguém. Por isso, é importante sempre ressaltar o dano à vida da pessoa que sofre com um distúrbio alimentar. Nele, a maneira pela qual o corpo obtém sua nutrição adequada é barrada. Assim, é impedido de ter suas necessidades básicas obtidas, prejudicando expressivamente a saúde do indivíduo e o bom funcionamento do corpo. Por conseguinte, a longo prazo é extremamente perigoso.
Baseado no significativo aumento da incidência desses casos, o presente estudo aborda os distúrbios alimentares mais presentes na adolescência, tendo como principal causa a influência das mídias sociais. Sendo assim, tem-se como objetivo contribuir para uma melhor compreensão desses transtornos, bem como alertar sobre a influência que a mídia possui sobre as pessoas e como as normas sociais difundidas nelas podem atuar como propagadores de transtornos entre os jovens.
Para isso, foi realizada uma revisão bibliográfica baseada em artigos científicos retirados de plataformas de dados, tais como Google acadêmico e SciELO. Junto a isso, foram demonstradas duas situações de transtorno alimentar que possuem como causa a influência da mídia, a fim de entender melhor a relação de vulnerabilidade na adolescência nas redes sociais. Os dois casos foram retirados da revista CNN Brasil (2021), onde duas adolescentes que já passaram por distúrbios alimentares contam como as redes sociais e a pressão estética passada por elas influenciaram para tal situação.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Distúrbio alimentar: uma abordagem explicativa
Transtornos alimentares (TAs) descrevem doenças que são caracterizadas por hábitos alimentares irregulares e sofrimento grave ou preocupação com o peso ou a forma do corpo, estando relacionados a conflitos emocionais. Neles, ocorre a ingestão inadequada ou excessiva de alimentos, que, futuramente, pode trazer consequências prejudiciais ao bem-estar e à saúde física de um indivíduo.
De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (2022), estima-se que mais de 70 milhões de pessoas no mundo sejam afetadas por algum transtorno alimentar, incluindo anorexia, bulimia, compulsão alimentar e outros, e esses transtornos comumente coexistem com outras condições, como casos de ansiedade, abuso de substâncias ou depressão.
Os distúrbios alimentares podem se desenvolver durante qualquer fase da vida, mas geralmente aparecem durante a adolescência ou na idade adulta jovem. Classificados como uma doença médica, o tratamento adequado pode ser altamente eficaz para muitos dos tipos específicos de distúrbios alimentares, porém, se não tratados, os sintomas e consequências podem ser prejudiciais e mortais.
Tipos de distúrbios alimentares
De acordo com a classificação do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – DSM IV (1994), os transtornos alimentares são divididos em dois principais tipos: anorexia nervosa e bulimia nervosa.
A Anorexia nervosa (AN) é um dos principais transtornos alimentares, tem natureza psiquiátrica e é caracterizado por uma alta perda de peso ou dificuldade em ganhar peso na fase de desenvolvimento humano. O indivíduo apresenta restrição persistente da ingestão de calorias, através de dieta, jejum ou exercício excessivo, faz uso de laxativos e indução ao vômito. De acordo com a American Psychiatric Association (doravante: APA, 2014), esses comportamentos são induzidos por um intenso medo de ganhar peso ou tornar-se obeso, e são acompanhados por uma perturbação na percepção do próprio corpo, resultando na distorção de imagem corporal e na amenorreia.
A Bulimia nervosa é caracterizada por grande ingestão de comida, gerando no indivíduo uma sensação de perda do controle dos alimentos que ingere e fazendo com que o afetado pratique métodos inadequados para o emagrecimento rápido, como o vômito induzido, o uso de medicamentos laxativos e diuréticos sem orientação médica, dietas e exercícios físicos inadequados (DOS SANTOS, 2017). Os sintomas começam com a preocupação excessiva em relação ao seu corpo, dessa forma, o indivíduo começa dietas sem orientação de um profissional capacitado e passa a sentir ainda mais fome, fazendo a ingestão excessiva dos alimentos. Assim, quando percebe, pratica atos de vômitos forçados, para que sinta satisfação e alívios momentâneos. No geral, pacientes com bulimia têm como objetivo evitar o ganho de peso para que não se sintam culpados.
É importante também ressaltar um terceiro transtorno no comportamento alimentar muito presente na realidade, a Compulsão alimentar, que apresenta características similares à bulimia nervosa e exige uma atenção especial.
Compulsão alimentar é um transtorno alimentar que se caracteriza pela ingestão de uma alta quantidade de alimentos em curto intervalo de tempo, normalmente, entre um período de duas horas. O indivíduo ingere o alimento com rapidez, mesmo sem fome, até se sentir “desconfortavelmente cheio”. Existem muitos relatos de pacientes com sentimentos de vergonha e/ou culpa, devido à quantidade de comida que ingeriram e como perderam o controle sobre o ato de comer (APA, 2014, p. 350). Este transtorno pode estar relacionado com alguns distúrbios metabólicos, como diabetes mellitus tipo 2, síndrome metabólica ou alguns distúrbios psiquiátricos, como depressão e ansiedade (Dos Anjos et al., 2020).
Causas relacionadas ao distúrbio alimentar
Transtornos alimentares são distúrbios complexos, influenciados por uma faceta de fatores. Embora a causa exata seja desconhecida, geralmente, acredita-se que uma combinação de anormalidades biológicas, psicológicas e/ou ambientais contribui para o desenvolvimento dessas doenças.
Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), podem ser desencadeadores: fatores hormonais irregulares, causados por questões genéticas ou deficiências nutricionais, fatores psicológicos, como imagem negativa do corpo e baixa autoestima, e fatores ambientais, como a dinâmica familiar disfuncional e carreiras que promovem magreza e perda de peso.
Entre eles, sobressai-se a baixa autoestima e imagem negativa do corpo, levado diversas vezes pela necessidade de aprovação externa. A busca pela validação social ocorre quando se assume como verdade a magreza como padrão estético, e que a perda de peso está diretamente relacionada ao bem-estar emocional e social. Os adolescentes são influenciados por fortes tendências sociais e culturais que estimulam a busca pelo corpo ideal, e este perfil socialmente aceito pode levar a medidas resultantes em deficiências nutricionais que prejudicam o desenvolvimento. (Copetti et al., 2018)
Diante disso, podemos citar também o bullying alimentar. Podem ser comentários sobre o tipo de comida que o indivíduo ingere, por exemplo, quando está comendo seu prato favorito e alguém menciona como ele é estranho. Pode também ser um comentário sobre a qualidade da comida, contagem de calorias, gordura, carboidratos, ou apenas um comentário sobre o tamanho das porções. Esses tipos de comentários podem influenciar o emocional da pessoa fazendo com ela ache que está comendo errado e engordando, o que pode gerar um transtorno alimentar.
Esses julgamentos alimentares são muito comuns e ofensivos. Machucam e acabam com o prazer que a pessoa tem de comer e muitas vezes podem causar distúrbios alimentares. Quase metade das mulheres com Lipedema tem distúrbio alimentar e o bullying alimentar é muito comum. Esse comportamento crítico é gerado e moldado pelas tendências da época. Atualmente, parece que muitas dessas atitudes são influenciadas pelas redes sociais. Mas, a história da família, sua relação com os alimentos ou mesmo os padrões alimentares da infância podem desempenhar um papel importante nessa forma de bullying. Identificar e falar sobre o assunto é fundamental, tanto para quem faz, quanto para quem recebe. (Benitti, 2021).
Conforme o alerta do Dr. Daniel Benitti, supramencionado, cirurgião vascular médico especialista em Lipedema, muitas pessoas acreditam que têm o direito de julgar a aparência ou as escolhas alimentares de outras pessoas, o que pode causar danos emocionais graves e afetar negativamente a saúde mental e física da vítima.
É preocupante o fato de que muitas mulheres com Lipedema, uma condição de saúde que afeta o tecido adiposo e causa inchaço nas pernas e nos braços, sofrem com distúrbios alimentares. O bullying alimentar pode contribuir para esse problema e tornar ainda mais difícil para essas mulheres cuidarem de sua saúde e bem-estar.
Embora as redes sociais possam influenciar as atitudes das pessoas em relação à alimentação e ao corpo, a história familiar e os padrões alimentares da infância também podem desempenhar um papel importante nesse tipo de bullying. Portanto, é fundamental que as pessoas identifiquem e falem abertamente sobre o assunto, tanto para quem faz os julgamentos quanto para quem os recebe.
É preciso reconhecer que cada pessoa tem uma relação única com os alimentos e que não há uma única maneira “certa” de comer ou ter um corpo. As escolhas alimentares e o corpo de cada um devem ser respeitados, e comentários negativos ou críticos devem ser evitados. Afinal, a alimentação deve ser uma fonte de prazer e nutrição, não de estresse ou vergonha.
Vulnerabilidade à mídia na adolescência
A mídia é um termo que usamos para se referir ao conjunto de meios de comunicação, que tem como objetivo divulgar informações e desempenha um papel importante, criando e propagando ideias e comportamentos (Bittar; Soares, 2020). Ela garante o anonimato e a livre expressão de pensamentos, sendo um importante meio de comunicação entre os adolescentes com transtornos alimentares (Copetti et al., 2018).
As escolhas alimentares tornam-se mais independentes na fase da adolescência, no entanto, normalmente são escolhidos alimentos inadequados. Segundo Fisberg (2000, apud Bertin et al., 2008), isto se dá pelos padrões impostos pelos grupos etários a que fazem parte, estimulando a ingestão de alimentos pobres em nutrientes e com alto valor energético, restrição de alimentos, além do consumo de álcool de forma precoce, práticas que podem contribuir para alterações em seu estado nutricional.
A adolescência é uma fase de transição, na qual ocorrem alterações fisiológicas e hormonais. É notável a insatisfação dos meninos, ao buscar um físico com maior definição muscular, e das meninas, por desejarem ser mais magras, que, portanto, deixam que as expectativas de uma mudança na imagem corporal influenciem seu comportamento. (Moreira et al., 2017).
A mídia promove a magreza como competência e atratividade sexual, atravessando todas as camadas sociais e discriminando todos os indivíduos que não seguem esse padrão, exercendo uma pressão na população, que afeta principalmente adolescentes que estão passando pelo momento de integração da sua imagem corporal (Gonçalves; Martínez, 2014).
A preocupação com o corpo assume papel central, pois a necessidade de ingressar no mundo do trabalho e da vida social desperta o sentimento de angústia e de despreparo para esse novo papel, sendo necessário reconstruir uma nova imagem corporal e conquistar uma imagem sexualizada. Nessa tentativa de atingir o padrão esperado é que os transtornos alimentares se desenvolvem. (Copetti et al., 2018).
As mensagens trocadas entre os usuários da internet incentivam os membros a realizarem a restrição alimentar, a praticarem técnicas anoréxicas e bulímicas, com o objetivo de alcançar um padrão corporal de magreza extrema (Copetti et al., 2018).
Importância da atuação da equipe multidisciplinar
O tratamento do transtorno alimentar ocorre de forma ambulatorial, a qual se trata de uma abordagem multidisciplinar integrada indispensável, devido ao grau de complexidade da doença. Isso inclui a participação de psiquiatras, psicólogos, médicos, nutricionistas, enfermeiros e profissionais de educação física, já que cada profissional desempenha um papel específico durante o tratamento (Manochio et al., 2018).
O enfermeiro é qualificado no processo de cuidado ao paciente, com habilidades e preparação para um atendimento humanizado de recuperação a partir da identificação de sinais e sintomas apresentados pelo paciente. Com sua atuação eficaz, é possível diagnosticar possíveis agravos, orientando e propondo intervenções, caso necessário (Souza; Pessa, 2016)
No que se refere à psicologia, é necessária a observação das diversas áreas afetadas. Assim, de forma acolhedora e sem julgamentos, forma-se um ambiente considerado seguro e protegido, para que o indivíduo se sinta confortável a manifestar seus sentimentos. No caso do psicólogo, utiliza-se a principal ferramenta, que é a escuta terapêutica e qualificada (Avellar; Iglesias, 2016).
Na perspectiva nutricional, o nutricionista atua orientando o sujeito no que está ocorrendo em seu corpo (distorção da autoimagem) e a contextualização da doença em si, possibilitando, assim, outras perspectivas, visões e contextos da complexibilidade que o envolve. Todavia, é de extrema importância o acompanhamento nutricional no ganho de peso no tratamento, por exemplo, de anorexia nervosa, sendo um componente basilar em seu tratamento, para evitar futuras complicações na doença.
No entanto, apenas o médico psiquiátrico tem domínio em concluir o diagnóstico preciso em identificar doenças associadas à mente, comportamento ou influências externas por um conjunto de sinais e sintomas. Assim, deve-se priorizar o cuidado por uma equipe multidisciplinar, visando a integralidade entre os profissionais citados, favorecendo as melhores condições de diagnóstico e tratamento do paciente (Souza et al., 2017).
Uma breve síntese analítica dos casos relatados
A.T., sexo feminino, 20 anos, esportista australiana. Aos 14 anos chegou a estar internada devido à anorexia, pesando 38 quilos, e tendo o coração parado duas vezes. Segundo ela, sempre procurava ter o corpo o mais atlético que conseguisse, e os corpos considerados “ideais” apareciam em sua linha do tempo todos os dias, com curtidas e comentários, que cada vez mais incentivavam-na a buscar o que via nas imagens. Destaca que naquela época só queria ser “amada e admirada como elas, e sentir como era viver aquilo.”
Com o tempo e a pressão imposta tanto por comentários negativos quanto por si mesma, a esportista começou a se odiar. Desde então, em algum ponto, ela deixou de comer. Afirma lembrar que os pais faziam de tudo para ela se alimentar, até mesmo o conselho tutelar foi chamado para ajudar, mas ela se recusava, até que foi parar no hospital.
Assim como afirma o psicólogo Marco Antônio de Tommaso, a anorexia infelizmente não é perceptível aos olhos de quem está doente, que se sente constantemente em estado de grandes dimensões corporais, apesar de apresentar peso bem abaixo do mínimo considerado saudável de acordo com o biotipo e a altura (SIDNER; JONES, 2021).
O caso, então, aborda sobre uma jogadora que desenvolveu distúrbios alimentares causados pela pressão que sofria para obter o corpo “perfeito” tão apresentado e imposto em suas redes. A adolescente era constantemente influenciada pelas redes sociais e sites, se negava a aceitar ajuda, já que não enxergava a situação em que estava, até que se viu no hospital entre a vida e a morte. Desde então, ela dedica sua vida para alertar meninas, crianças e adolescentes sobre o risco da pressão estética imposta nas redes.
A.V., sexo feminino, australiana, sobrevivente de distúrbios alimentares, diz ter início dos problemas devido ao vício no Instagram. Segundo ela, foi atraída por imagens de mulheres com corpos esculpidos e abdominais perfeitos, e quanto mais tonificados os corpos, pior ela se sentia em relação a si mesma. Alega ter sido bombardeada por mensagens sobre fazer exercícios todos os dias, os tipos de exercícios e dietas a serem feitos e alimentos a serem evitados. Além disso, ela alega que as redes sociais colocaram vidas em perigo não apenas por não reprimir os relatos que promoviam dietas extremas e distúrbios alimentares, mas por promover ativamente esses discursos (SIDNER; JONES, 2021).
Nesse caso, ocorre uma situação semelhante à anterior. A adolescente, ao passar tanto tempo no Instagram, onde se exige um padrão totalmente inalcançável, começou a se sentir mal consigo mesma, sendo assim influenciada a seguir dicas e imposições extremamente rigorosas, colocando sua saúde em risco.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como foi observado, em meninos e meninas, os transtornos alimentares se manifestam da mesma maneira: distorção da imagem corporal, comportamentos alimentares inadequados, como dietas restritivas, jejuns prolongados, episódios de compulsão alimentar, vômitos induzidos, uso exacerbado de laxantes e diuréticos, excesso de exercício físico, entre outros métodos. Todas essas medidas acarretam sérios riscos à saúde, que podem ser fatais se não forem intervindas a tempo
O mundo contemporâneo encontra-se em um grande desenvolvimento tecnológico, de disseminação de informações e opiniões, o que acarreta uma grande exposição à mídia, que influencia toda a população suscetível às suas publicações, em cujo contexto os adolescentes se tornam mais vulneráveis, devido ao imaginário simbólico que permeia esta fase, em que a imaturidade e a necessidade de aceitação, bem como de se encaixar em um padrão, torna-se uma meta que pode custar sua saúde.
No remate deste estudo, através da literatura revisitada, pode-se concluir que a influência das redes sociais, de fato, aumenta consideravelmente os casos relacionados a transtornos alimentares. Dessa forma, é necessário entender como se dá a influência causada nas pessoas a partir de opiniões e fotos distorcidas na mídia, e se deve, cada vez mais, aumentar o número de estudos sobre a relação entre as redes e esses transtornos, podendo trazer uma maior conscientização social das consequências graves de se estabelecer um padrão único de beleza.
REFERÊNCIAS
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