THE PSYCHOMOTRICITY AS A THERAPEUTIC TOOL IN THE TREATMENT OF ASD FROM THE PERSPECTIVE OF PHYSIOTHERAPISTS
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202505220930
Leticia Minalli1
Rafaela Cristina Scherrer2
Eloeth Kaliska Piva3
RESUMO
Introdução: O Transtorno do Espectro Autista é uma condição do neurodesenvolvimento que afeta a interação interpessoal, social e a comunicação. A psicomotricidade é primordial no tratamento de crianças autistas, levando a benefícios no desenvolvimento, tanto motor, como comportamental, e a terapia psicomotora pode ser essencial para crianças com autismo. Objetivo: Este trabalho buscou investigar o conhecimento aplicado da psicomotricidade pelos fisioterapeutas no tratamento de crianças com autismo. Metodologia: A pesquisa foi realizada com fisioterapeutas, por meio de um estudo transversal e quantitativo, utilizando um formulário no Google Forms com perguntas específicas sobre o conhecimento e a terapêutica com a criança. Resultados: O estudo contou com 13 fisioterapeutas, gênero feminino (76,93%), idade média de 26,15 anos, e faixa salarial prevalente entre R$3.000,01 e R$5.000,00 reais para (53,86%) dos fisioterapeutas. Entre os fisioterapeutas (23,07%) atuavam no atendimento de crianças com autismo por mais de três anos, e quanto ao nível de instrução (38,46%) possuíam algum curso ou formação com abordagem da psicomotricidade. Para (84,6%) dos fisioterapeutas fazia parte de sua rotina de intervenção, realizar a avaliação das habilidades psicomotoras das crianças autistas, embora (53,86%) relataram não utilizar testes psicomotores padrões. Discussão: O fisioterapeuta é um facilitador do cuidado psicomotor de crianças com autismo, favorecendo um atendimento adequado às demandas e atualizações para a desordem e elevando o tratamento psicomotor para além do aspecto físico, conduzindo a intervenção de forma integrada, respeitando as múltiplas dimensões do desenvolvimento infantil. Conclusão: Dessa forma, este estudo ressalta a necessidade dos profissionais obterem formação contínua e especializada em psicomotricidade para oferecer um atendimento adequado às demandas e atualizações do transtorno para essas crianças. A fisioterapia envolve o uso de recursos lúdicos, sensoriais, adotando metodologias de adaptação motoras, cognitivas e comportamentais essenciais.
Palavras-chave: Autismo. Modalidades de Fisioterapia. Ludicidade.
ABSTRACT
Introduction: Autism Spectrum Disorder is a neurodevelopmental condition that affects interpersonal, social interaction, and communication. Psychomotricity is essential in the treatment of autistic children, leading to benefits in both motor and behavioral development, and psychomotor therapy can be essential for children with autism. Objective: This study sought to investigate the knowledge applied to psychomotricity by physiotherapists in the treatment of children with autism. Methodology: The research was conducted with physiotherapists, through a cross-sectional and quantitative study, using a Google Forms form with specific questions about knowledge and therapy with the child. Results: The study included 13 physiotherapists, female (76.93%), average age of 26.15 years, and prevalent salary range between R$ 3.000.01 and R$ 5.000.00 reais for (53.86%) of the physiotherapists. Among the physiotherapists (23.07%) they had been working with children with autism for more than three years, and regarding the level of education (38.46%) they had some course or training with a psychomotor approach. For (84.6%) of the physiotherapists, it was part of their intervention routine to assess the psychomotor skills of autistic children, although (53.86%) reported not using standard psychomotor tests. Discussion: The physiotherapist is a facilitator of the psychomotor care of children with autism, favoring adequate care for the demands and updates for the disorder and elevating psychomotor treatment beyond the physical aspect, conducting the intervention in an integrated manner, respecting the multiple dimensions of child development. Conclusion: Thus, this study highlights the need for professionals to obtain continuous and specialized training in psychomotricity to offer adequate care for the demands and updates of disorder for these children. Physiotherapy involves the use of playful, sensory resources, adopting essential motor, cognitive and behavioral adaptation methodologies.
Keywords: Autism. Physiotherapy Modalities. Playfulness.
1. INTRODUÇÃO
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento que afeta a interação interpessoal e social, a comunicação, e pode incluir comportamentos repetitivos, de interesses e atividades restritas (Santos et al., 2025). Dados divulgados em 2023 pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC) indicam que 1 em cada 36 crianças de 8 anos nos Estados Unidos da América (EUA) são diagnosticadas com TEA, o que corresponde a 2,8% dessa população. Essa estatística reflete um aumento na prevalência do diagnóstico de autismo, sugerindo necessidade de conscientização, diagnóstico precoce, e potencialmente que fatores ambientais ou genéticos podem estar envolvidos (Maenner et al., 2023).
O TEA refere algumas divergências cerebrais, entre elas, alterações do corpo caloso que podem levar a déficits na coordenação motora, dificuldade na comunicação, socialização e desatenção. Há também a inadequação de tônus, na marcha, comprometimentos da motricidade fina e postura. Dessa forma, torna-se crucial o acompanhamento com profissionais de saúde, como um fisioterapeuta, permitindo a promoção da qualidade de vida (QV) e ressaltando as habilidades funcionais para o dia a dia (Azevedo; Gusmão, 2016). Entretanto, o resultado do tratamento está diretamente relacionado às características individuais de cada criança e à intensidade dos sinais e déficits. Dessa forma, é essencial que os fisioterapeutas elaborem programas terapêuticos personalizados e específicos, levando em consideração as particularidades e demandas de cada indivíduo (Rocha; Raimundo, 2024).
O autismo abrange diferentes níveis de comprometimento, sendo que o mais leve apresenta menor probabilidade de impactar as habilidades psicomotoras em relação aos níveis moderado e grave. Essa relação pode estar ligada às características cognitivas e comportamentais, mais evidentes nos casos com gravidade, que resultam em um desenvolvimento atípico. Esses casos geralmente apresentam atrasos e déficits nas habilidades psicomotoras, dificuldades no controle postural, alterações na marcha, limitações na interação social, problemas de linguagem e comunicação, além de padrões comportamentais restritos e repetitivos (Abreu; Santos; Pereira, 2024).
A psicomotricidade por meio do tratamento fisioterapêutico possibilita o desenvolvimento de habilidades motoras que relacionam o emocional e o cognitivo, assim, associam a imagem e o esquema corporal com seu próprio corpo para o domínio do mesmo, portanto, o ato de brincar tem sido utilizado com as crianças contribuindo no processo terapêutico e desenvolvimento dos autistas com o meio social, deixando a terapia mais lúdica para o indivíduo (Silva, 2018).
Como facilitadores o fisioterapeuta em sua terapia psicomotora precisa associar a brincadeira, assim, além de deixar lúdica, satisfatória e divertida para a criança, o processo terapêutico leva à interação social, melhora as habilidades motoras, sensoriais e cognitivas (Silva; Valenciano; Fujisawa, 2017). Com evidência de benefícios no desenvolvimento das crianças, tanto motor, como comportamental, a terapia psicomotora pode ser um grande mediador para crianças com TEA (Fernandes; Souza; Camargo, 2020). Além desse conhecimento gerado, contribuir para fins acadêmicos, profissionais e sociais sobre a temática abordada.
A psicomotricidade é primordial no tratamento de crianças autistas, e diante da conduta fisioterapêutica há evidências que salientam o questionamento sobre qual o conhecimento aplicado e a relevância do tratamento psicomotor, no tratamento de crianças com TEA, valendo-se da perspectiva do profissional fisioterapeuta. E assim, este trabalho teve por objetivo investigar o conhecimento aplicado da psicomotricidade pelos profissionais fisioterapeutas no tratamento de crianças com TEA.
2. METODOLOGIA
Este estudo tratou-se de uma pesquisa transversal, quantitativa, em que participaram fisioterapeutas que trabalham com crianças autistas, na investigação do tratamento disponibilizado às crianças por meio da ciência da psicomotricidade. A coleta de dados ocorreu no período do mês de março do ano de 2025, na cidade de Cascavel-Paraná e região, após aprovação deste projeto pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP), sob parecer número 020681/2025.
A amostra deste estudo foi constituída por conveniência, de forma intencional, de acordo com a aceitação de participação dos sujeitos convidados. A população deste estudo foi composta por profissionais fisioterapeutas que trabalhavam com crianças com TEA e aplicavam técnicas psicomotoras com as crianças. Assim, como critério de inclusão dos sujeitos: os profissionais de fisioterapia que participaram da pesquisa deviam prestar atendimento às crianças autistas de 0 a 12 anos, e utilizar em sua prática clínica conhecimentos sobre a psicomotricidade. Além disso, aceitarem participar da pesquisa e assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Como critérios de exclusão, considerou-se a dificuldade dos profissionais em responderem o questionário de forma online.
Esta pesquisa contou com a aplicação de um questionário construído pelos próprios autores, aplicado de forma remota e online, por meio da ferramenta Google Forms, aos fisioterapeutas. Este formulário foi redigido com questões sobre a terapia e o conhecimento dos fisioterapeutas a respeito da psicomotricidade aplicada no tratamento de crianças autistas, a apresentação deste formulário aos fisioterapeutas ocorreu por meio de um link, gerado e enviado para grupos de whatsapp de fisioterapeutas que atuam com crianças, e encaminhado para clínicas que atendiam autistas em Cascavel-Paraná e região. Esse formulário abordou questões fechadas sobre o tema do tratamento com psicomotricidade no autismo. Além disso, contemplou questões relacionadas ao perfil sociodemográfico do público-alvo, possibilitando traçar o perfil dos fisioterapeutas para este estudo.
O TCLE foi disponibilizado de forma remota na primeira página junto do formulário aplicado, informando o objetivo da pesquisa, riscos do procedimento, a preservação da identidade dos sujeitos, como também, liberdade de interromper o preenchimento do formulário a qualquer momento.
Nesta pesquisa as respostas fornecidas pelos fisioterapeutas, foram organizadas em resultados a partir de uma planilha do Microsoft Office Excel 2010 e processados pelo software IBM SPSS®, versão 22.0. Os dados foram apresentados na forma descritiva de porcentagens, médias, mínimo e máximo, e desvio padrão mediante tabelas.
3. RESULTADOS
O estudo contou com a participação de profissionais fisioterapeutas, sendo que todos atuavam no atendimento de crianças de 2 a 12 anos e trabalhavam com crianças autistas na cidade de Cascavel e região Oeste do Estado do Paraná. O perfil dos fisioterapeutas contou com a prevalência do gênero feminino com 10 (76,93%) dos respondentes, enquanto 3 (23,07%) do gênero masculino. A idade média foi de 26,15 anos (D.P.= ±5,06 anos), variando entre a idade mínima de 22 e máxima de 37 anos. Quanto à etnia, a prevalência foi de participantes que se declararam brancos 11 (84,6%), e sobre a religião 6 (46,14%) dos participantes se declararam católicos. Perante o estado civil 9 (69,23%) dos profissionais eram solteiros.
No que diz respeito à escolaridade 7 (53,86%) dos participantes possuíam alguma pós-graduação e especialidade na área da fisioterapia. E a faixa salarial prevalente para os participantes ficou entre R$3.000,01 e R$5.000,00 reais para 7 (53,86%) dos fisioterapeutas. Tabela 1.
Tabela 1 – Perfil dos profissionais fisioterapeutas participantes da pesquisa. (n=13)

As principais características profissionais dos fisioterapeutas participantes envolveram, por exemplo, o tempo de atuação profissional, em que a maioria dos fisioterapeutas 7 (53,86%) trabalhava há mais de um ano. Em relação a estrutura do local de trabalho 10 (76,93%), relataram dispor de uma sala lúdica para atendimento das crianças.
Referente à formação complementar 5 (38,46%) dos fisioterapeutas afirmaram ter realizado cursos de abordagem na área de Psicomotricidade, ao passo que 8 (61,54%) não possuíam essa formação. E com relação ao uso de recursos como game terapia com as crianças com TEA somente 4 (30,76%) afirmaram utilizar, e ter acesso à essa abordagem terapêutica.
Dos fisioterapeutas participantes 11 (84,60%) relataram que realizavam avaliação das habilidades psicomotoras das crianças atendidas. E sobre a utilização de testes avaliativos padronizados 6 (46,14%) dos profissionais utilizavam diferentes instrumentos, como BOT, Inventário de Avaliação Pediátrica de Incapacidade (PEDI), Teste de Desenvolvimento Motor Grosso (TGMD-2), Escala de Desenvolvimento Motor, Inventário Portage Operacionalizado (IPO), Bateria Psicomotora (BPM), Escala de Equilíbrio Pediátrica (PBS pediátrico), Conceito Bobath, Teste Neuropsicomotor e Escala de Comportamento Adaptativo de Vineland. Contudo, 7 (53,86%) relataram não utilizar nenhum teste padronizado. Tabela 2.
Tabela 2 – Características de condutas e atendimentos dos fisioterapeutas participantes da pesquisa. (n=13)

Os fisioterapeutas foram questionados sobre o conhecimento que dispunham e a prática clínica psicomotora nos atendimentos com a criança autista. Dentre os questionamentos havia sobre a característica que melhor representava o trabalho psicomotor com a criança TEA, e 13 (100%) dos profissionais reconheceram que o trabalho psicomotor envolve habilidades motoras, percepções sensoriais, emoções e pensamentos.
Sobre os benefícios sociais da psicomotricidade para crianças com TEA a maioria dos respondentes destacou a melhora da interação social 10 (76,93%) e a inclusão social 8 (61,54%), enquanto 5 (38,46%) relataram que há melhora no estado colaborativo da criança, e 3 (23,07%) afirmaram que a psicomotricidade permite o compartilhamento de experiências e vivências.
Quando questionados sobre a utilização de adaptações no atendimento com a criança autista para as alterações sensoriais 9 (69,24%) dos fisioterapeutas relataram que utilizam sim, sendo elencadas atividades e recursos como: sons, músicas e texturas variadas, adaptações de luzes e temperatura da sala, e recursos específicos como abafadores para ruídos e balanço. Em relação a realizarem orientações psicomotoras para as famílias para casa 13 (100%) dos fisioterapeutas relataram que fazem esse tipo de intervenção, sendo que a maioria 7 (53,86%) considerou as orientações como uma forma de complementar a terapia, enquanto 1 (7,7%) enfatizam a integração da família e 1 (7,7%) mencionaram a importância de adaptações no ambiente doméstico e escolar.
No que se refere à reavaliação do progresso terapêutico, a maior parte dos fisioterapeutas 8 (61,54%) dos profissionais afirmaram realizar essa reavaliação entre 3 a 6 meses dos atendimentos. Quando questionado aos fisioterapeutas sobre os principais desafios encontrados no tratamento psicomotor de crianças com TEA, destacaram-se os aspectos do comportamento repetitivo e interesses restritos com 3 (23,07%) e a regulação emocional com 3 (23,07%). Por fim, ao serem questionados sobre o principal objetivo do tratamento psicomotor com as crianças com TEA 10 (76,93%) dos participantes indicaram a busca por desenvolver a coordenação motora e a percepção corporal. Tabela 3.
Tabela 3 – Conhecimento dos profissionais e a prática clínica psicomotora no atendimento das crianças autistas. (n=13)


Os materiais psicomotores citados pelos fisioterapeutas que eram utilizados no atendimento com as crianças autistas no tratamento psicomotor foram: tapetes com texturas variadas, brinquedos sensoriais (massinhas, almofadas, painéis sensoriais), brinquedos com diferentes formas, cores, temperaturas e sons, cama elástica, bolas (suíça, terapêutica, cravada, coloridas), bambolês, cones, steps, escadas, degraus, cordas, circuitos funcionais com tarefas motoras específicas, pranchas de equilíbrio e discos de equilíbrio, brinquedos de montar, encaixe, argolas, blocos de empilhar, sala sensorial e circuitos espumados. Também foi relatado o uso de materiais na hidroterapia, como brinquedos flutuantes, cones e degraus adaptados ao ambiente aquático.
As condutas que comumente eram realizadas na terapia psicomotora correspondiam a intervenções voltadas ao desenvolvimento global da criança com TEA, abrangendo aspectos motores, sensoriais, cognitivos e comportamentais. Dentre as práticas mais mencionadas pelos fisioterapeutas 7 (53,86%), destacaram-se os circuitos psicomotores, amplamente utilizados como estratégia central no atendimento, integrando atividades de coordenação motora ampla e fina, equilíbrio, força muscular e integração sensorial.
Os fisioterapeutas também relataram condutas com exercícios de consciência corporal, lateralidade, noção de espaço e tempo, além de práticas respiratórias e tônicas voltadas à melhora do tônus muscular, postura e regulação corporal. Muitos terapeutas utilizavam estímulos táteis e sensoriais, como o uso de texturas em mãos, pés e costas, com o intuito de promover adaptação às alterações sensoriais frequentemente observadas em crianças com autismo.
As atividades lúdicas foram bastante citadas, como: jogos, brincadeiras de imitação, danças e a utilização da game terapia, com o objetivo de tornar o atendimento mais atrativo e favorecer o engajamento da criança no processo terapêutico. Alguns profissionais salientaram a frequente adaptação dos exercícios de acordo com as necessidades individuais de cada paciente, demonstrando a importância de uma abordagem personalizada no tratamento psicomotor.
Os fisioterapeutas quando questionados sobre sua experiência, diante do trabalho de fisioterapia utilizando a ciência da psicomotricidade, elencaram os resultados encontrados para as crianças autistas como positivos. Destacando melhoras clínicas significativas nos aspectos como: coordenação motora ampla e fina, equilíbrio, marcha, tônus muscular, lateralidade e consciência corporal. Com evoluções diante da regulação sensorial, no engajamento dessas crianças em atividades e na interação social, sendo que os profissionais apontaram que os ganhos psicomotores das crianças impactam diretamente em outras áreas do desenvolvimento, como a comunicação, a autonomia e as habilidades sociais. Entretanto, alguns relataram a dificuldade de evolução terapêutica em contextos como a pouca participação familiar, enquanto outros, destacaram que a colaboração da família fortalece os resultados dentro e fora do ambiente terapêutico.
4. DISCUSSÃO
Este estudo ao investigar o conhecimento aplicado da psicomotricidade pelos profissionais fisioterapeutas no tratamento de crianças com TEA, contou com um perfil de profissionais do gênero feminino com (76,93%), com idade média de 26,15 anos, declarados brancos (84,6%), e sobre a religião, (46,14%) católicos, com estado civil solteiro para (69,23%) dos profissionais, e a faixa salarial prevalente entre R$ 3.000,01 e R$ 5.000,00 reais para (53,86%) dos fisioterapeutas. Os resultados demonstraram que apenas (23,07%) atuavam profissionalmente no atendimento de crianças com TEA por mais de três anos, e quanto ao nível de instrução (38,46%) possuíam algum curso ou formação com abordagem da psicomotricidade voltada para o atendimento do TEA.
Esses dados revelam um déficit significativo na formação psicomotora dos fisioterapeutas que trabalham com crianças, déficit esse para além do período da graduação. Mesmo a literatura quando retrata o tratamento da criança autista não enfatiza os sinais motores do TEA, principalmente em referência à condição de hipotonia e desorganização dos movimentos, que levam ao atraso no desenvolvimento (Azevedo; Gusmão, 2016). Dessa forma, contribuindo para menos notoriedade ao trabalho psicomotor desenvolvido no tratamento do TEA.
A criança com TEA tem dificuldade para a inclusão e receber o tratamento especializado que necessita, seja no setor público ou privado. Há uma negligência quanto ao acesso a avaliações e ao tratamento específico, desenvolvido por equipe multidisciplinar de profissionais de saúde com formação apropriada e atualizada, mesmo quando se trata de profissionais com atuação em vigilância do desenvolvimento infantil. Fica notável a falta de uma abordagem individual, com estimulação precoce e intervenções aplicadas de forma clara e estratégica, sobretudo, diante da área motora que inclui a psicomotricidade (Fernandes; Souza; Camargo, 2020; Montenegro et al., 2019).
Para (84,6%) dos fisioterapeutas deste estudo, fazia parte de sua rotina de intervenção realizar a avaliação das habilidades psicomotoras das crianças autistas, embora (53,86%) relataram não utilizar testes psicomotores padrões. Para Carichio (2017) as atividades que se utilizam de ludicidade podem estar inseridas no processo avaliativo, assim como, na terapêutica do profissional fisioterapeuta, sendo utilizadas de forma intencional e com planejamento estratégico diante dos objetivos desejados. E para uma evolução satisfatória da criança com TEA é essencial que o profissional tenha conhecimento sobre a desordem e suas especificidades (Segura, Nascimento; Klein, 2011), sobretudo, a respeito de métodos e testes avaliativos que possam ser empregados.
Em relação à reavaliação do progresso terapêutico, a maior parte dos fisioterapeutas (61,54%) afirmou realizá-la entre 3 a 6 meses dos atendimentos. Assim, torna-se fundamental ainda, que os profissionais realizem reavaliações constantes da terapia psicomotora empregada, não apenas para esclarecer os resultados alcançados ao longo do processo terapêutico, mas também, para adaptar e aperfeiçoar as estratégias utilizadas. Por meio da modificação dos exercícios e atividades propostas, de acordo com a resposta individual da criança, torna-se possível potencializar os ganhos psicomotores e alcançar resultados mais significativos ao final do tratamento (Santos; Mascarenhas; Oliveira, 2021).
Na terapêutica da criança com TEA é essencial trabalhar com a aprendizagem cognitiva, social e a comunicação, permitindo adequações quanto a rigidez e a expressividade de estereotipias quando presentes, estimulando comportamentos adaptativos. O tratamento voltado para esses aspectos é associado à experiência e ao conhecimento dos profissionais sobre o TEA, oportunizando ênfase nas habilidades dos fisioterapeutas em trabalhar com a equipe multidisciplinar e com os familiares das crianças (Segura; Nascimento; Klein, 2011). Na pesquisa realizada os fisioterapeutas destacaram a importância do trabalho psicomotor no TEA diante de aspectos como: a melhora da interação social na percepção de (76,93%) dos fisioterapeutas, e na inclusão social para (61,54%), enquanto que (38,46%) relataram a percepção de que há melhora no estado colaborativo da criança.
Diante do ambiente de trabalho (76,93%) dos fisioterapeutas possuíam uma sala lúdica para trabalhar com as crianças com TEA, e (30,76%) relataram utilizar a gameterapia como recurso. As características de um ambiente educativo e inclusivo para estas crianças dependem de adaptações para o cenário de acordo com a individualização e a necessidade da criança, favorecendo os atendimentos para promover uma evolução terapêutica (Chicon; Oliveira; Rocha, 2019). E o brincar é uma forma da criança trabalhar o desenvolvimento físico, emocional e mental, portanto, utilizar recursos lúdicos na intervenção promove a expressividade, a comunicação, a coordenação motora e a autonomia funcional de crianças com TEA (Silva, 2018).
Os dados obtidos pela pesquisa com os fisioterapeutas apontaram uma larga utilização de recursos psicomotores na intervenção com crianças com TEA. Isso confirma a importância da psicomotricidade no contexto terapêutico. Dentre os materiais com maior relato, estão os tapetes com texturas diversas, brinquedos sensoriais, bolas terapêuticas, cama elástica, pranchas de equilíbrio, brinquedos de montar, blocos de empilhar, argolas, circuitos espumados, além de materiais adaptados à hidroterapia, como brinquedos flutuantes e degraus. Para Caricchio (2017) a brincadeira terapêutica quando estruturada e facilitada pelo profissional conhecedor da psicomotricidade, promove o bem-estar físico e emocional da criança diminuindo a ansiedade nas vivências das experiências, aliviando tensões, expressando sentimentos, permite à criança saber o que esperar. E o atendimento fisioterapêutico com uma diversidade de materiais e equipamentos aplicados com ludicidade, tornam a fisioterapia mais atrativa, motivadora e aumentam a eficácia da abordagem para a criança.
Outro aspecto relevante neste estudo foi quanto a promoção da saúde por meio de orientações aos pais e responsáveis, em que (100%) dos fisioterapeutas relataram realizar orientações às famílias, com foco no reforço das atividades fisioterapêuticas no ambiente domiciliar. Quando os pais compreendem a importância do envolvimento no processo terapêutico, tornam-se agentes ativos na busca por uma abordagem multidisciplinar, essencial no cuidado de crianças autistas. Esse envolvimento familiar pode resultar em maiores progressos no tratamento, uma vez que o ambiente doméstico passa a oferecer estímulos consistentes e alinhados às metas terapêuticas. A atuação dos pais, ao incentivar e interferir positivamente no comportamento motor da criança, aumentam as chances de generalização dos comportamentos em outros ambientes, o que contribui para uma melhora significativa na qualidade de vida do indivíduo e na efetividade das intervenções fisioterapêuticas (Barbosa et al., 2023; Mendonça et al., 2020).
No entanto, os fisioterapeutas identificaram a necessidade de uma maior contribuição por parte da família. A falta de intervenção familiar foi relatada como um desafio para o avanço terapêutico, e os pais foram considerados como parte fundamental do processo terapêutico, especialmente no reforço das atividades no ambiente domiciliar e na busca por suporte multidisciplinar. Assim, para Dias; Lima (2024), os fisioterapeutas enfrentam dificuldades para manejar os comportamentos atípicos no TEA, e necessitam de conhecimento e aplicação de técnicas adequadas, que devem ser incentivadas por meio de ações governamentais, garantias financeiras para realização de pesquisas na área, e investimento na capacitação dos profissionais e familiares de crianças com TEA.
Os fisioterapeutas revelaram que os principais desafios encontrados no tratamento psicomotor de crianças com TEA eram os aspectos do comportamento repetitivo e interesses restritos para (23,07%), e a regulação emocional das crianças para (23,07%). O tratamento psicomotor da criança com TEA possibilita fortalecer a interiorização do indivíduo por meio do movimento em torno de si mesma, havendo melhora no padrão motor, na marcha e no equilíbrio da criança (Oliveira et al., 2019). Tratamentos adequados são necessários para promover uma melhor integração e desenvolvimento social no TEA (Santos et al., 2025).
No estudo de Segura; Nascimento; Klein (2011), os fisioterapeutas tiveram dificuldades de demonstrar conhecimento em relação às condutas e objetivos do tratamento de crianças autistas. No entanto, na presente pesquisa com os profissionais, as condutas psicomotoras empregadas foram amplamente voltadas ao desenvolvimento global, incluindo aspectos motores, sensoriais, cognitivos e comportamentais. Os circuitos psicomotores destacaram-se como prática central nas sessões, promovendo o desenvolvimento da coordenação motora grossa e fina, equilíbrio, força muscular e integração sensorial. Além disso, foram relatadas intervenções voltadas à consciência corporal, lateralidade, noção espacial e temporal, e à regulação tônica e postural, demonstrando a abrangência da abordagem psicomotora no enfrentamento das dificuldades específicas do TEA.
A fisioterapia na área pediátrica abrange avaliar e planificar a intervenção de forma individualizada. Os objetivos do tratamento para crianças com TEA buscam diminuir os déficits e as deficiências associadas, tornando essencial a independência funcional e minimizando comportamentos difíceis que possam interferir nas habilidades de funções (Silva; Valenciano; Fujisawa, 2017).
Os fisioterapeutas respondentes dessa pesquisa elencaram seus principais objetivos no desenvolvimento do tratamento psicomotor, destacando a importância de promover avanços nas áreas afetiva, mental e motora da criança. Para (76,93%) dos fisioterapeutas o principal objetivo estava em desenvolver a coordenação motora e percepção corporal. Diante disso, salienta-se que o tratamento psicomotor vai além do aspecto físico, conduzindo a intervenção de forma integrada e respeitando os diferentes aspectos do desenvolvimento infantil. Essa abordagem favorece não apenas a funcionalidade motora, mas também, a adaptação interiorizada e exteriorizada, a socialização, a autoestima e o equilíbrio emocional, fundamentais para a evolução da criança com TEA (Silva; Souza, 2021).
Além dos ganhos a nível motor, os fisioterapeutas questionados no presente estudo concordaram com o fato de que a psicomotricidade era benéfica na comunicação, na autonomia e nas habilidades sociais, todos eles com repercussões claras na qualidade de vida da criança e da sua família. Para Silva; Valenciano; Fujisawa (2017) a aplicação do lúdico nas atividades terapêuticas promove a humanização, melhora o relacionamento terapeuta-paciente e garante a adesão ao tratamento com melhora cognitiva, motora, sensorial e social para as crianças com TEA.
Por fim, mesmo entre os profissionais que trabalham com crianças sem um diagnóstico de TEA laudado, a psicomotricidade é vista, como uma ferramenta importante para alcançar diversos objetivos funcionais, podendo-se inferir que, não apenas o tratamento de quadros de TEA, mas mesmo o desenvolvimento infantil ganha em relevância com a abordagem. Neste sentido, mais uma vez o atendimento fisioterapêutico de abordagem em psicomotricidade tem relevância e significativas contribuições quando planejado, adaptado e integrado ao universo da criança.
Diante do exposto, este estudo retratou contribuições quanto ao conhecimento e aplicação da psicomotricidade no tratamento de crianças com TEA, ampliando reflexões da relevância da psicomotricidade para essas crianças. Dessa forma, torna-se necessário e cada vez mais notório o desenvolvimento de pesquisas que avaliem e retratem os conhecimentos dos profissionais fisioterapeutas que trabalham com as crianças autistas, e com a ciência psicomotora. Visto que, salientam-se os benefícios e efeitos positivos da aplicação desse tratamento no TEA.
5. CONCLUSÃO
Na investigação do conhecimento aplicado da psicomotricidade pelos profissionais fisioterapeutas no tratamento de crianças com TEA, evidenciou-se o déficit significativo na formação psicomotora dos fisioterapeutas após a graduação, indicando a necessidade de aperfeiçoamentos, pós-graduações e cursos de formação para esses profissionais em sua prática clínica.
A fisioterapia envolve o uso de recursos lúdicos, sensoriais, adotando metodologias de adaptação motoras, cognitivas e comportamentais da criança. Dentre os maiores desafios relatados pelos profissionais, sobressaem o comportamento repetitivo, a interação restrita e dificuldades de interação social, assim, levando o profissional a ter um ajuste contínuo das atividades terapêuticas, o que demanda uma combinação de sensibilidade, criatividade e conhecimento técnico. Dessa forma, este estudo ressalta o papel fundamental do fisioterapeuta no cuidado psicomotor de crianças com TEA, salientando a necessidade de os profissionais obterem formação contínua e especializada em psicomotricidade para oferecer um atendimento adequado às demandas e atualizações do TEA para essas crianças.
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1Discente do Curso Superior de Bacharelado em Fisioterapia do Centro Universitário Univel.
E-mail: Minalli.leticia02@gmail.com
2Discente do Curso Superior de Bacharelado em Fisioterapia do Centro Universitário Univel.
E-mail: rafaelascherrer376@gmail.com
3Docente do Curso Superior de Fisioterapia do Centro Universitário Univel. Mestre em Biociência e Saúde (PPGBCS/UNIOESTE). E-mail: kaliska_fisio@hotmail.com