A PSICOLOGIA CLÍNICA NO BRASIL DIRECIONADA A PERSPECTIVA NA ABORDAGEM DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202408220730


Helane Brasil Arruda; Evanir de Freitas Maranhão; Joycilane Oliveira Aguiar; Stéfane Pacheco Moreira; Hugo Aragão Ximenes; Geison Marques da Silva; Carla Nágila Ripardo Sales; Cleisla da Costa Magalhães; Ana Cecília Lima Moura; Carlos Alcides Fernandes Rodrigues


RESUMO

A Psicologia Clínica é uma das áreas mais importantes da Psicologia, através de seu contexto histórico fica esclarecido suas mudanças no antes e após da Psicologia regulamentada enquanto profissão no Brasil, no dia 27 de agosto de 1962. Seu início foi marcada ainda pela influência de um modelo biomédico, que se destacava como essencial e importante, fazendo que a atuação do psicólogo (a) na clínica fosse voltado apenas para enquadrar e diagnosticar o indivíduo, principalmente o público infantil, pois na época existiam padrões de comportamentos adequados para a idade e, desviando-se deles não fazia parte de um enquadramento esperado, havendo mudanças a  partir de uma nova perspectiva de atuação da Psicologia, buscando entender o contexto e sua realidade. Além disso, é destaca-se a abordagem da Análise do Comportamento e sua contribuição para a atuação dos profissionais. A metodologia usada foi a pesquisa ou revisão bibliográfica a partir de artigos e textos disponíveis no Scielo e Pepsic. Os resultados obtidos durante as pesquisas mostram o quão importante e necessário foi a mudança de perspectiva dos profissionais da Psicologia diante sua atuação na clínica, necessária para compreender certos comportamentos correlacionando a realidade do sujeito, como também a necessidade de compreender as abordagens e, em especial a Análise do Comportamento, contribuindo para uma maior compreensão do comportamento humano.

Palavras chave: Psicologia Clínica. Abordagem. Análise do Comportamento.

Introdução

A presente pesquisa discorre sobre a Psicologia clínica direcionada a análise do comportamento do público adolescente, através da bibliografia brasileira disponível. Destaca-se que a pesquisa foi motivada a partir de um interesse pessoal pelo nicho de atuação clínica, como profissional, como também a colaboração das disciplinas ofertadas pela pós-graduação.

A Psicologia Clínica tem um percurso importantíssimo na mudança de percepção de que a Psiquiatria era a única importante no campo da psicoterapia. Assim, na cidade do Rio de Janeiro, entre os anos 1940 a 1960, o fazer da Psicologia Clínica, na qual tinha o objetivo corrigir possíveis desvios considerados como anormais na época citada (JACÓ-VILELA; MELLO, 2018, p. 78). 

Dessa forma, antes mesmo da regularização da Psicologia como profissão no Brasil, as mudanças estavam ocorrendo e com isso uma maior adequação a atuação dos profissionais, de acordo com o que era vivenciado na época, destacando-se que o mais importante era diagnosticar e enquadrar os indivíduos a um diagnóstico, como exemplo.

No Brasil, entre as décadas de 1940 e 1950, ocorreu uma ampliação da realização de psicodiagnósticos infantis, não mais sendo acompanhada somente de orientação às escolas, mas também aos pais e às crianças. E é nesse contexto que surgiram as clínicas de orientação no Rio de Janeiro, onde encontramos a presença de pessoas “qualificadas” como psicologistas (JACÓ-VILELA; MELLO, 2018, p. 81).

Com todo esse contexto histórico que envolve a Psicologia Clínica, pode-se observar que existiu uma aproximação com práticas baseadas e influenciadas pelo modelo biomédico da época, sendo assim os psicodiagnósticos fizeram-se mais presentes através de uma atuação destinada a esse objetivo.

A clínica psicológica é herdeira do modelo médico, no qual, como já dissemos, cabe ao profissional observar e compreender para, posteriormente, intervir, isto é, remediar, tratar, curar. Tratava-se, portanto, de uma prática higienista. Dessa maneira, a clínica psicológica esteve, por um bom tempo, distante das questões sociais (MOREIRA; ROMAGNOLI; NEVES, 2007, p. 613).

Sendo assim, existia uma grande questão que envolvia apenas uma prática médica, individualista e encaixilhar. Todo o fazer profissional era demandado com um único objetivo e passou-se alguns anos até a importante mudança que cederia a abertura para um novo olhar sobre o sujeito, mesmo que ainda existisse suas limitações ou dificuldades.

Com todo esse histórico biomédico, de fato havia um afastamento do fazer psicológico da forma coerente, pois o modelo médico se fazia presente e de forma consistente. Desagregar de toda essa prática apenas biológica e com o objetivo de separar e enquadrar o indivíduo foi um passo importante.

Uma concepção mais individualista se faz como um ponto importantíssimo para o sujeito, assim é o ser é visto como algo único e, nesse caso, uma preocupação existe com um único pensamento de diagnosticar o sujeito, nesse caso o público maior foram crianças, no que se refere a todo a seguir todo um padrão em que o objetivo era curar.

Tendo sido o surgimento das ciências humanas vinculado aos interesses da classe dominante e estando a própria Psicologia aliada a práticas higienistas, fica evidente que o público de sua intervenção era aquele que não se enquadrava no projeto cartesiano do homem racional, e que uma de suas tarefas era sustentar e manter o individualismo. Dessa maneira, a terapia da alma se inspiraria no modelo da terapia do corpo, isto é, no modelo médico, a fim de ser reconhecida como ciência (MOREIRA; ROMAGNOLI; NEVES, 2007, p. 615).

As mudanças começam a ocorrer quando a observação é feita de uma forma mais cautelosa dentro daquela época. Isso devido ao entendimento de que o individualismo tem seus efeitos, denunciando então a prática que estava ocorrendo até então, na maneira que os psicólogos tratavam seus pacientes (MOREIRA; ROMAGNOLI; NEVES, 2007, p. 615).

Assim, os psicólogos buscaram sair do consultório, lugar até então tradicional da prática clínica e, foram em busca de compreender o que de fato era a realidade da população, em que contexto as pessoas vivem, ou seja, se engajando socialmente com o seu fazer (MOREIRA; ROMAGNOLI; NEVES, 2007, p. 615).

Há uma nova percepção da prática e atuação do psicólogo, acima de tudo observar e compreender o sujeito como um todo, pois existe um mundo social que é necessário na constituição do indivíduo. Com isso, a prática clínica é um campo importantíssimo para o olhar como um todo.

Com isso, atualmente as abordagens teóricas da Psicologia são essenciais para a atuação do profissional e sua visão de mundo. Dentre elas, a Análise do Comportamento ganha destaque e sua importante contribuição científica é importante para atuação no campo clínico, como também nas outras áreas da Psicologia.

A Análise do Comportamento surge a partir de uma posição behaviorista por Skinner, existindo assim uma maior observação para com o comportamento humano (TODOROV; HANNA, 2010, p. 144). Assim, é uma das principais abordagens da Psicologia e de suma importância para a observação e intervenção no contexto clínico.

Com isso, de uma forma mais diretiva e objetiva, de acordo com Todorov e Hanna, 2010, p. 143 “O behaviorismo é uma filosofia da ciência preocupada com o tema e métodos da psicologia. Análise do comportamento não é uma área da psicologia, mas uma maneira de estudar o objeto da psicologia.” Essa diferenciação é essencial para o nível de elaboração e estudos para essa perspectiva.

Ressalta-se a importância desta pesquisa para compreender a importância da atuação da Psicologia clínica a partir da perspectiva da Análise do Comportamento, buscando contribuir de forma bibliográfica para uma análise e discussão.

Desenvolvimento

A Clínica é uma das áreas mais importantes e atuantes da psicologia. Durante todo seu contexto histórico até o presente momento enquanto profissão e ciência. Conhecer toda a caminhada até aqui é essencial para entender o impacto em relação ao uma nova concepção do fazer nesse campo.

A Psicologia passou por mudanças em seus contextos, como em “seu processo de emergência e consolidação, por meio da construção de práticas cotidianas em diferentes instituições” (JACÓ-VILELA; MELLO, 2018, p. 82,). Sendo assim, até o momento de sua regulamentação como profissão.

Com isso, a Psicologia Clínica demonstrava sua forma de trabalho de acordo com a época, destacando-se os anos de 1940 a 1950. De acordo com sua condução, observou-se que existia um modelo a ser seguido, marcando diretamente a percepção de sua atuação.

Também é relevante o modo como ocorriam seus procedimentos, pautados, principalmente, na divisão do trabalho entre a equipe, cabendo aos psicologistas a realização de psicodiagnósticos, com o objetivo, primeiro, de identificação e classificação de desvios, para, em seguida, realizar a orientação – e, posteriormente, a psicoterapia – que serviria, basicamente, ao objetivo de redução ou cura desses males (JACÓ-VILELA; MELLO, p. 82, 2018).

Com base na citação acima, fica evidente o quão elitista e modeladora era o perfil de atuação na clínica naquela época, na qual o principal intuito era apenas diagnosticar quem buscava o serviço, existindo como um dos públicos alvos: as crianças.

Considera-se por todo o histórico uma atuação mais baseada e influência de um modelo biomédico, pautado em apenas diagnosticar a partir da queixas abordadas pelos pais. Dessa forma, se fazia necessário que houvesse uma maior abordagem do sujeito como um todo.

Com a valorização de um modelo intimista, a Psicologia recém-regulamentada foi fortemente requisitada para o cuidado dessa intimidade. É nesse momento que se observa um recuo da Psicologia Clínica do espaço institucional, público, no qual emergiu e se desenvolveu uma grande proliferação do atendimento psicológico clínico em consultórios particulares (JACÓ-VILELA; MELLO, p.85, 2018).

Assim, faz-se necessário na época devido à recente regulamentação da Psicologia enquanto profissão uma maior reflexão ao modelo anterior adotado, mais biomédico retirando uma oportunidade de reflexão acerca do contexto dos indivíduos que buscavam a ajuda adequada.

Com a ditadura militar instalada e a legitimação do regime, a Psicologia Clínica, hegemonicamente, serviu ao silenciamento do espaço público e ao esvaziamento político. Entretanto, segundo Soares (2003), a Psicologia, tida até então pelos movimentos de esquerda como uma corrente subjetiva elitizada pertencente à burguesia, começou aos poucos, durante os anos de 1970, a se aproximar de movimentos de resistência. Saindo cada vez mais dos consultórios, ganhou as ruas (JACÓ-VILELA; MELLO, p. 85, 2018).

Durante muito tempo persistiu esse modelo, porém a partir da regulamentação da Psicologia, que ocorreu no ano de 1962, com a percepção de que “A clínica individual é fundamental, mas não podemos nos perder no individualismo” (MOREIRA, ROGAMINOLLI; NEVES, p. 615, 2007).

Com esse novo pensamento diante a própria atuação, os profissionais buscaram uma nova concepção e observação a favor da clínica, na qual a realidade em que estavam inseridos é de muita importância para seu trabalho, através da crítica em relação as vivências dos sujeitos.

Mas a relação entre a Psicologia e o individualismo é marcada por uma ambigüidade: se, por um lado, o individualismo foi condição sine qua non para o surgimento da Psicologia como ciência, por outro, ele tomará uma forma tal que denunciará a necessidade de que essa mesma Psicologia reflita sobre seus efeitos, o que mudará completamente a relação entre ambos (MOREIRA, ROGAMINOLLI E NEVES, p. 615, 2007).

Assim, compreender essa mudança na perspectiva de atuação é essencial. “Vale pontuar aqui como um fator que contribui para esse engajamento dos psicólogos e preocupação com os rumos e usos da profissão, a criação do Conselho Federal de Psicologia, em 1973, e do Código de Ética Profissional, em 1975.” (JACÓ-VILELA; MELLO, p. 86, 2018).

Através da criação de conselhos voltados para uma maior percepção de atuação da categoria de profissionais da Psicologia, entende-se que a atuação na área clínica tem apoio e é embasada de forma teórica na busca por uma prática mais acessível.

Nesse espaço, vamos nos deparar com modos de produção, de subjetivação e de construção, formas de se criar a si mesmo e o mundo, que também incidem no espaço social. Nesse contexto, é necessário que os profissionais que atuam nessa área reflitam acerca dos desdobramentos de suas práticas no campo social. Nem que seja através dos sintomas de seus clientes que adentram os consultórios, mantidos e sustentados pelo momento contemporâneo, o social se faz presente e se faz notar nas mudanças que emergem nesse cenário, criando focos enunciativos frente à padronização das subjetividades. (MOREIRA, ROGAMINOLI E NEVES, p. 617, 2007).

De acordo com a citação acima, se faz importante compreender a sujeito de forma subjetiva, abordando todo o seu contexto, sua realidade. Uma atuação pautada apenas com a intenção de diagnosticar, com uma percepção biomédica já não é vista como uma opção.

Nesse contexto, a Psicologia Clínica conquistou novos espaços de atuação em seu retorno às instituições, bem como novos caminhos de aplicação, como a área da Saúde Mental. Aliás, nesse momento, o termo “aplicação”, um indicativo do predomínio da teoria sobre a intervenção, começou a ser substituído pela noção de “prática”. A ideia era a de que não é possível uma tradução imediata da teoria para a prática e de que as práticas também produzem conhecimento (JACÓ-VILELA; MELLO, p. 86, 2018).

A importância das relações em nossa sociedade é inegável, já que o indivíduo é incluso como um todo e sua participação é essencial, como também a forma que vive e transforma no mundo. A expressão do sujeito como visto como um todo é novo diferencial de inúmeras mudanças.

Mediante essas ideias, acreditamos que o estado de potência da vida, inerente à subjetividade, pode atualizar-se na experiência clínica e pode atuar como dispositivo para sustentação de modos de existência que se criam, de maneira singular, e que emergem como resistência à reprodução, à massificação, à gerência da vida. Na verdade, a Psicologia se dedica à subjetividade em suas mais variadas aparições, mas devemos pensar não somente no sujeito individual, pois este sempre é fruto de um encontro social. Para tal, é preciso tomar a clínica como plano de produção do coletivo, como sustentação da alteridade: clínica social (MOREIRA, ROGAMINOLLI E NEVES, p. 617, 2007).

Dessa forma, é indispensável reconhecer as abordagens utilizadas no campo profissional, em especial na clínica. Essas abordagens contribuem para a Psicologia enquanto ciência, na qual cada profissional utiliza em seu trabalho, entendendo a sua perspectiva de mundo associando-a ao seu fazer clínico.

Independentemente das tensões que se instauraram diante desse novo projeto, ocorreu o surgimento de um novo cenário, possibilitando uma nova área de atuação, do profissional da saúde. Com o desenvolvimento dessa área, surgiram também discussões objetivando diferenciar a Psicologia Clínica da Psicologia da Saúde (JACÓ-VILELA; MELLO, p. 86, 2018).

Essas novas mudanças foram essenciais para um novo olhar e atuação da Psicologia Clínica, já que na época se fazia presente uma concepção enraizada com o objetivo de enquadrar os indivíduos. Toda uma passagem de concepções até o momento desenvolvidas influenciaram, mais tarde, em uma nova oportunidade de enxergar a clínica com outra perspectiva.

Neste trabalho a abordagem a ser discutida dentre tantas outras é a Análise do Comportamento. Sendo assim, é importante compreender que é uma forma de atuação dentro da Psicologia, buscando estudar seu objeto de estudo, ou seja, não é uma área (TODOROV; HANNA, p. 148, 2010).

A análise do comportamento origina-se de uma posição behaviorista assumida por Skinner (e.g., 1961, 1953/1967, 1974, 1957/1978, 1969/1980) por motivos mais históricos que puramente lógicos. Skinner parte da constatação de que há ordem e regularidade no comportamento. Um vago senso de ordem emerge da simples observação mais cuidadosa do comportamento humano. Estamos todos continuamente analisando circunstâncias e predizendo o que os outros farão nessas circunstâncias, e nos comportamos de acordo com nossas previsões. Se as interações entre os indivíduos fossem caóticas, simplesmente não estaríamos aqui. O estudo científico do comportamento aperfeiçoa e completa essa experiência comum quando demonstra mais e mais relações entre circunstâncias e comportamentos e quando demonstra as relações de forma mais precisa (TODOROV; HANNA, p. 144, 2010).

Skinner contribuiu imensamente para o entendimento sobre o comportamento humano. Ao longo do tempo houve diversos encontros acerca de discussões que envolvesse o comportamento e, Skinner foi e é um dos principais nomes da Psicologia enquanto ciência.

Skinner parte da constatação de que há ordem e regularidade no comportamento. Um vago senso de ordem emerge da simples observação mais cuidadosa do comportamento humano. Estamos todos continuamente analisando circunstâncias e predizendo o que os outros farão nessas circunstâncias, e nos comportamos de acordo com nossas previsões (TODOROV; MELLO, p. 144, 2010).

Compreender todos os conceitos abordados por Skinner durante seus estudos e pesquisas a partir do behaviorismo radical foram fundamentais para a abordagem enquanto ciência do comportamento, contribuindo diretamente com a atuação para além da clínica.

Assim como o ambiente pode ser analisado em diferentes níveis, comportamento pode ser entendido em diferentes graus de complexidade. Não é a quantidade ou a qualidade de músculos ou glândulas envolvidas, ou os movimentos executados, o que importa. O comportamento não pode ser entendido isolado do contexto em que ocorre (TODOROV; MELLO, p. 145, 2010).

Com isso, é importante entender que o comportamento humano é o ponto principal para a análise do comportamento, independente da espécie estudada, ou seja, a compreensão do comportamento é essencial para a espécie humana e assim seus estudos feitos (SÉRIO, MICHELETTO; ANDERY, p. 18, 2007).

A análise do comportamento é uma linguagem da psicologia que tem como seu objeto o estudo de interações comportamento-ambiente. Interessa-se, especialmente, pelo homem, mas estuda também interações envolvendo outros animais sempre que houver algum motivo para supor que tais estudos possam ajudar no esclarecimento de interações homem-ambiente (TODOROV; HANNA, p. 145, 2010).

O ambiente em que estamos contribui diretamente para a constituição do sujeito. Assim, de acordo com Todorov e Hanna, p. 145, 2010:

O conceito de ambiente é decomposto em histórico, biológico, físico e social apenas como um recurso de análise útil para apontar os diversos fatores que, indissociáveis, participam das interações estudadas pelo psicólogo. Sem a decomposição necessária para a análise, o todo é ininteligível; por outro lado, a ênfase exclusiva nas partes pode levar a um conhecimento não relacionado ao todo. O jogo constante de ir e vir, de atentar para a intercalação das partes na composição do todo, é essencial para o entendimento das interações organismo-ambiente.

A partir da citação acima, é importante destacar como o ambiente soma para nossa constituição. Essa interação entre organismo-ambiente retrata a importância do sujeito e a forma que ele se comporta no mundo, sendo necessário estabelecer uma relação coerente entre ambos.

Aqui se estabelece, segundo Skinner, um segundo tipo de seleção por consequências. Este novo modelo de seleção por consequências permite que membros individuais de uma espécie sejam capazes de operar sobre o mundo de modos que não estão pré-determinados, e também, que esta operação seja na direção agora não mais da sobrevivência da espécie, mas da aquisição de comportamento individual que permite a obtenção de consequências que são importantes para o indivíduo durante sua vida particular (ANDERY, p. 202).

Relacionando ao âmbito particular, vale destacar a importância dos comportamentos individuais do sujeito, já que existe toda uma interação do sujeito com o ambiente, porém o indivíduo vai ter suas próprias experiências a partir do contato com o mundo, com o outro.

É a partir dessas experiências que ambos se modificam e a interação entre si contribui para um padrão de comportamentos em específico, sendo necessário uma percepção e entendimento de seu contexto, como pode impactar diretamente em suas ações cotidianas.

A análise do comportamento tem algumas características que a distinguem de outras linguagens que prosperam na psicologia. Dentre essas características, pode-se citar a análise experimental do comportamento de organismos individuais (n = 1). Entretanto, essa análise, quer seja realizada no laboratório, quer no consultório clínico, não seria sua marca mais distinta; sua linguagem teórica o seria. De fato, a linguagem teórica da análise do comportamento é o cimento que une todos os tipos de atividades compreendidas sob essa rubrica (TODOROV; HANNA, p. 146, 2010).

É importante mencionar que a Análise do Comportamento é fundamental nos cursos de Psicologia. De acordo com Todorov e Hanna, p. 148, 2010:

A análise do comportamento permanece na formação do aluno de graduação nas disciplinas de Psicologia da Aprendizagem e Psicologia Geral Experimental, que faziam parte do currículo mínimo. A análise do comportamento é também ensinada em contextos aplicados, como nas disciplinas de Psicologia do Excepcional e Psicologia Clínica, mas isso ocorre em um número menor de instituições de ensino superior. 

Além disso, vem sendo importante para a evolução diante alguns temas como ensino-aprendizagem, sobre autismo, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, psicologia do esporte, organizacional, saúde, social e entre outros vêm sendo valorizado (Todorov e Hanna, p. 148, 2010).

Em muitas instituições, as informações sobre análise do comportamento, durante os cinco anos do curso de psicologia, ainda hoje se restringem aos conceitos básicos de reforçamento, punição e esquemas. Utiliza-se com frequência apenas os primeiros capítulos de Ciência e Comportamento Humano, juntamente com alguns capítulos de Princípios de Psicologia ou de algum de seus sucedâneos (Baum, 1994/1999; Catania, 1998/1999; Millenson, 1967), em um curso de um semestre apenas (TODOROV; MELLO, p. 148, 2010).

Diante da citação acima, as diversas áreas da Psicologia tem sua individualidade, pois são campos diferentes de atuação, sendo assim faz-se importante compreendê-las para intervir de maneira coerente, impactando o contexto e espaço de forma ética e científica.

Todas as áreas da Psicologia são importantes e exigem a participação de abordagens significativas. Dessa forma, a análise do comportamento busca contribuir de forma imensurável com todas elas, em suas particularidades, compreendendo o contexto envolvido.

Conclusão

Neste trabalho, foram utilizados artigos voltados para a compreensão acerca do tema da “Psicologia Clínica direcionada a Análise do Comportamento”. Assim, foi abordado o quão importante foi o contexto histórico de uma das diversas áreas da Psicologia no Brasil.

A área da Psicologia Clínica passou por mudanças decisivas no seu modelo de atuação, quebrando paradigmas e ao longo do tempo sendo menos elitizada, apesar de uma base mais voltada ao modelo biomédico, principalmente nos seus primeiros anos de atuação.

Diante um cenário histórico que estava sendo vivenciado, a Psicologia teve inúmeras mudanças a partir da atuação do profissional. Sendo assim, os questionamentos foram observados como importantes para essa nova visão de profissionalismo que até então era pouco compreendida.

Todo o modelo voltado apenas para o diagnóstico e enquadramento do sujeito, em notoriedade o público infantil, pois buscava-se organizar e mudar certos comportamentos observados como anormais naquela época. Tudo isso foi mudando, aos poucos, até que maiores investigações foram sendo feitas.

A partir disso, uma maior percepção dos profissionais foi necessária para que mudanças fossem feitas, como por exemplo, conhecer todo o contexto/realidade que envolviam as pessoas que buscassem apoio da Psicologia, sendo decisivo e importante, até o momento da profissão ser legitimada em 27 de agosto de 1962.

Soma-se a isso a contribuição das abordagens para essa ciência e, aqui em específico a Análise do Comportamento, reforçando a importância do comportamento humano. Em todas as áreas da Psicologia, a Análise do Comportamento se faz presente e a Psicologia Clínica é umas das principais, pois é utilizada a partir da perspectiva de mundo do profissional da Psicologia.

REFERÊNCIAS

JACO-VILELA, Ana Maria e MELLO, Daiane de Souza. Por uma história local: a psicologia clínica no Rio de Janeiro. Rev. Psicol. Saúde [online]. 2018, vol.10, n.1, pp. 77-89. ISSN 2177-093X.  http://dx.doi.org/10.20435/pssa.v10i1.627.

MOREIRA, J. DE O.; ROMAGNOLI, R.C.; NEVES, E. DE O. O surgimento da clínica psicológica: da prática curativa aos dispositivos de promoção de saúde. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 27, n. 4, p.608-621, dez. 2007.

TODOROV, J.C.; HANNA, E. S. Análise do comportamento no Brasil. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 26, n. spe, p. 143-153, 2010.

SÉRIO, T.M.; MICHELETTO, N.; ANDERY, M.A. O comportamento como objeto de estudo. Campinas: Editora Livro Pleno, 2011.