A PREVALÊNCIA DA MORTALIDADE INFANTIL POR DOENÇAS NÃO TRANSMISSÍVEIS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10160190


Victória Régia Ferreira da Silva Ribeiro
Thayna Peres Costa
Rayanne Teixeira Brito
Francisca Cadidja Ribeiro de Almeida
Marcelle Fialho Oliveira Alencar da Silva
Carlos Daniel Spindola Melo
José Felipe Modesto Cordeiro
Marcos Vinícius de Meneses Gomes
Isabela Francisca Monteiro
Professora Orientadora: Vanessa Cristina de Castro Aragao Oliveira


RESUMO

INTRODUÇÃO: As Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs) representam a principal causa de mortalidade em todo o mundo, constituindo um desafio significativo para a saúde pública, sendo a obesidade infantil um dos fatores de risco para a hipertensão arterial, diabetes mellitus, bem como câncer infantil. OBJETIVO:  Analisar os índices de mortalidade infantil relacionados às DCNTs, bem como as estratégias de gestão adotadas para a redução dos casos de morbidade. METODOLOGIA: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura que emprega uma abordagem exploratória e descritiva. Foi realizada por meio de estudos elegíveis em várias bases de dados, incluindo o Scientific Electronic Library Online (SciELO), a Literatura Latino- Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e o Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), através dos descritores”Mortalidade na Infância”, “Mortalidade” e “Doenças não Infecciosas”, “Obesidade”, “Diabetes Melitus”, “Neoplasia ”, combinados usando o operador booleano “AND”, com utilização da estratégia PICO tendo como questão norteadora: “Quais os índices de mortalidade infantil por Doenças Não Transmissíveis (DCNT)?”. Os critérios de inclusão para a seleção dos artigos foram os seguintes: publicação nos últimos seis anos (2017-2023) e disponibilidade nos idiomas inglês e português. Os artigos duplicados e aqueles que não abordaram a pergunta orientadora ou que, após a leitura do resumo, não estavam relacionados ao tema foram excluídos. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Foi possível adquirir informações sobre a prevalência e o impacto das doenças crônicas não transmissíveis na saúde das crianças, além de identificar as principais medidas que contribuem para a melhoria desse cenário, pois há uma maior prevalência de sobrepeso e obesidade, bem como uma menor participação em atividades físicas entre jovens de famílias de baixa renda e com baixa escolaridade, aumentando a vulnerabilidade dessa população, sendo essencial atuar na redução das desigualdades em saúde e garantir o acesso aos cuidados a toda a população, especialmente aos grupos mais vulneráveis, dada a maior concentração de doenças crônicas não transmissíveis e seus fatores de risco na população de baixa renda e escolaridade. CONCLUSÃO: As DCNTs, podem causar complicações graves em crianças e adolescentes devido à sua natureza persistente e aos danos resultantes da dificuldade no controle dessas doenças ao longo da vida. Dessa forma, é fundamental enfatizar a importância da atividade física e da prevenção e controle do consumo de álcool, tabaco e outras substâncias ilegais na infância, como medidas essenciais para prevenir o surgimento das DCNTs. Com isso, espera-se conter o avanço da epidemia das DCNTs, que atualmente afeta os indivíduos em nosso país, promovendo cuidados eficazes e impulsionando a saúde.

Palavras-chave/Descritores: Doenças não Infecciosas, Obesidade,  Diabetes Melitus, Neoplasia.

INTRODUÇÃO

Atualmente, as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs) representam a principal causa de mortalidade em todo o mundo, constituindo um desafio significativo para a saúde pública. Caracterizadas pelo aumento alarmante da obesidade, diabetes mellitus e neoplasias em crianças, tais problemas são atribuídos a hábitos alimentares inadequados, exposição excessiva a telas desde pouca idade e sobrecarga emocional. Essas enfermidades em indivíduos com menos de 18 anos têm sido associadas a um risco elevado de mortalidade prematura.

A obesidade na infância está ligada a complicações físicas, como resistência à insulina, doença hepática e hipertensão. Além disso, as crianças obesas frequentemente enfrentam desafios emocionais e psicológicos, que muitas vezes persistem na idade adulta, acompanhados de altas taxas de condições médicas concomitantes. (LINDBERG et al, 2020).

O Diabetes Mellitus (DM) é uma das principais causas de mortalidade por doenças crônicas, afetando cada vez mais grupos etários mais jovens. No Brasil e em outras regiões das Américas do Sul e Central, estima-se que haja 118.600 pessoas com menos de 20 anos portadoras de DM1. Destas, aproximadamente 88.300 residem no Brasil, com 9.600 novos casos anualmente, o que coloca o país como o terceiro com maior número de crianças com DM1 no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia. (HAN CHO, 2014).

O câncer infantil desponta como a principal causa de morte por doença em crianças com mais de 1 ano de idade, representando também uma fonte importante de enfermidade. Os diagnósticos mais frequentes englobam leucemias, linfomas e neoplasias reticuloendoteliais, além de tumores do sistema nervoso central (SNC), considerados particularmente os mais letais. (MILLER et al, 2021)

Esses dados revelam a prevalência alarmante dessas doenças na sociedade atual. No entanto, é possível reverter o impacto na saúde infantil por meio de intervenções abrangentes na promoção da saúde, com o intuito de reduzir os fatores de risco, bem como por meio de melhorias no cuidado médico, detecção precoce e tratamento oportuno. Neste contexto, este trabalho busca analisar os índices de mortalidade infantil relacionados às DCNTs, bem como as estratégias de gestão adotadas para a redução dos casos de morbidade.

METODOLOGIA

Este estudo atual é uma revisão integrativa da literatura que emprega uma abordagem exploratória e descritiva. A busca por estudos elegíveis foi realizada em várias bases de dados, incluindo o Scientific Electronic Library Online (SciELO), a Literatura Latino- Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e o Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE).

Com base na temática em foco e nos objetivos da pesquisa, a pergunta central foi formulada seguindo a estratégia PICO da seguinte maneira: ” Quais os índices de mortalidade infantil por Doenças Não Transmissíveis (DCNT)? “. A partir disso, foram selecionados descritores específicos disponíveis nos Descritores em Ciências da Saúde/Medical Subject Headings (DeCS/MeSH), que abrangem “Mortalidade na Infância”, “Mortalidade” e “Doenças não Infecciosas”, “Obesidade”, “ Diabetes Melitus”, “Neoplasia”, esses termos foram combinados usando o operador booleano “AND”.

Os dados coletados durante a revisão da literatura foram organizados para identificar estudos relacionados à temática. Os critérios de inclusão para a seleção dos artigos foram os seguintes: publicação nos últimos seis anos (2017-2023) e disponibilidade nos idiomas inglês e português. Artigos duplicados e aqueles que não abordaram a pergunta orientadora ou que, após a leitura do resumo, não estavam relacionados ao tema foram excluídos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O levantamento das bases de dados resultou em um montante de 881 artigos, incluindo todos os tipos de documentos, sendo 341 na base PubMed (38,7%), 7 na Scielo (0,79%), 32 na LILACS (3,6%), e 501 na Medline (56,8%). Após a primeira análise e triagem 876 artigos foram excluídos, obtendo-se agora 2 artigos em PubMed, 1 na Scielo e 2 na LILACS.

Os estudos apresentados nesta pesquisa foram agrupados em uma tabela com algumas informações pertinentes para auxiliar na organização e compreensão dos dados (Tabela 1).

Tabela 1: Informações sobre os artigos selecionados para a construção da revisão integrativa: autores, título, ano, metodologia, plataforma de acesso e resultados.

AUTOR (ES)TÍTULOANOMETODOL OGIAPLATAFOR MA DE ACESSORESULTADO
Louise Lindberg; Pernilla Danielsso n; Martina Persson; Claude Marcus; Emilia Hagman.Association of childhood obesity with risk of early all-cause and cause- specific mortality: A Swedish prospective cohort study2020Estudo de coorte prospectivoPUBMEDO risco de mortalidade no início da idade adulta pode ser maior para indivíduos que tiveram obesidade na infância emcomparação com um grupo de comparação populacional.
José Francisco Kerr Saraiva; Tatiana Slonczew ski; Isabella Maria Machado Clisnei.Estratégias interdisciplin ares naabordagem do risco cardiovascul ar paracombate à obesidade infantil2017Revisão BibliográficaLILACSA adoção de ações estratégicas paraenfrentamento dasdoenças nãotransmissíveis no Brasil, como adoção de hábitos alimentares saudáveis, ampliação das atividades físicas e redução de outros fatores de risco, com atividades voltadas ao público infantil/adolescente, deve se dar conforme condições decompreensão e
participação, eequivale amultiplicadores da saúde nos contextos escolar/intrafamiliar.
Maria de Fátima Garcia Lopes Merino; Rosana Rosseto de Oliveira; Paloma Luana de Azevedo Ramos da Silva; Maria Dalva de Barros Carvalho; Sandra Marisa Pelloso; Ieda Harumi Higarashi.Internação e mortalidade por diabetes mellitus na infância: análise de séries temporais.2019Estudo de séries temporaisSCIELOOcorreu decréscimo da mortalidade na infância, porém, com aumento das internações.
FabianaIncidence,2023EstudoLILACSA incidência de câncer
Morosini; Anaulina Silveira; Vanessa Arias; Luis CastilloMortality and Survival of Pediatric Cancer in Uruguay 2011-2015retrospectivo, descritivo e observacionalinfantil no Uruguai é semelhante à dos países desenvolvidos. Os avançosno diagnóstico e no atendimento melhoraram substancialmentea sobrevida, mas os esforços devem continuar para se obter melhores resultados.

Deborah Carvalho Malta; Silvânia Suely Caribé de Araújo Andrade; Taís Porto Oliveira; Lenildo de Moura; Rogério Ruscitto do Prado;Maria  de
Probabilidad e de morte prematura por doenças crônicas não transmissívei s, Brasil e regiões, projeções para 20252019Análise de série temporalPUBMEDDada a tendência de queda, prevê-se que o Brasil atinja a meta global de redução das DCNTs de 25% até 2025.
Fátima Marinho de Souza.

Com base nos resultados obtidos, foi possível adquirir informações sobre a prevalência e o impacto das doenças crônicas não transmissíveis na saúde das crianças, além de identificar as principais medidas que contribuem para a melhoria desse cenário.

Lindberg et al, (2020), por meio de um estudo prospectivo de coorte que envolveu 41.359 indivíduos entre 3 e 17 anos residentes na Suécia, analisaram a taxa de mortalidade por diversas causas. Eles constataram que mais de um quarto das mortes nessa coorte de obesidade infantil tiveram a obesidade registrada como causa principal ou contribuinte, e que crianças com histórico de obesidade apresentam um risco elevado de mortalidade no início da vida adulta em comparação com um grupo de base populacional.

Seguindo essa linha de raciocínio, Saraiva et al, (2017), em uma revisão bibliográfica, indicaram que os dados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL) apontam uma maior prevalência de sobrepeso e obesidade, bem como uma menor participação em atividades físicas entre jovens de famílias de baixa renda e com baixa escolaridade, aumentando a vulnerabilidade dessa população.

Merino et al, (2019), em seu estudo longitudinal que analisou as internações hospitalares e a mortalidade relacionada ao diabetes mellitus em crianças e adolescentes no Brasil entre 2005 e 2015, observaram 1.120 óbitos e 87.100 internações e que embora as taxas de mortalidade nesse grupo tenham permanecido estáveis ao longo do período, as maiores prevalências foram observadas em crianças com idades entre 15 e 19 anos, com um aumento de 0,43 em 2005 para 0,46 em 2015. Além disso, ao analisarem a tendência de mortalidade por diabetes mellitus, observaram que as taxas médias de mortalidade eram mais altas no sexo feminino em todas as regiões, em comparação com o sexo masculino.

No que diz respeito à prevalência de mortalidade por neoplasias na infância, o estudo retrospectivo e observacional de Morosini et al, (2023), que incluiu todos os casos de câncer diagnosticados em crianças de 0 a 14 anos no Uruguai entre 2011 e 2015, concluiu que a leucemia é o câncer mais comum nessa faixa etária em todo o mundo, e que os tumores do sistema nervoso central é a principal causa de morte nesse contexto. Além disso, observaram que as taxas de mortalidade por câncer pediátrico em crianças menores de 15 anos no Uruguai são as mais baixas entre os países latino-americanos, enquanto Chile e Argentina têm resultados semelhantes da taxa dessa mortalidade de 34 e 36 por milhão, respectivamente, e Brasil, Equador e Colômbia têm taxas mais altas, 40, 47 e 46 por milhão.

Diante disso, é crucial continuar a dedicar esforços para priorizar o câncer infantil, garantindo acesso gratuito a cuidados de qualidade no diagnóstico, tratamento e acompanhamento em longo prazo, bem como facilitando a implementação de tratamentos inovadores necessários para melhorar os desfechos (MOROSINI et al., 2023).

Os estudos revelaram ainda que, embora as tendências de redução da mortalidade prematura por doenças crônicas não transmissíveis no Brasil sejam encorajadoras, ainda há muito a ser feito. A adoção de ações estratégicas para enfrentar essas doenças, como a promoção de hábitos alimentares saudáveis, o estímulo a atividades físicas e a redução de outros fatores de risco por meio de atividades educativas voltadas para o público infantil e adolescente, deve ser implementada levando em consideração as condições de compreensão e participação, e por meio de agentes multiplicadores de saúde nos ambientes escolares e familiares, (SARAIVA et al, 2017).

Além disso, é necessário investir na atenção básica e no acesso a tecnologias de média e alta complexidade, quando necessário, visando ao cuidado integral dos portadores de doenças crônicas não transmissíveis. Essas doenças têm um curso prolongado e requerem uma abordagem longitudinal e abrangente, com investimento no autocuidado e no fortalecimento dos vínculos. É essencial atuar na redução das desigualdades em saúde e garantir o acesso aos cuidados a toda a população, especialmente aos grupos mais vulneráveis, dada a maior concentração de doenças crônicas não transmissíveis e seus fatores de risco na população de baixa renda e escolaridade (MALTA et al, 2019).

CONCLUSÃO

Os resultados deste estudo evidenciam que as DCNTs, podem causar complicações graves em crianças e adolescentes devido à sua natureza persistente e aos danos resultantes da dificuldade no controle dessas doenças ao longo da vida. Essas complicações podem levar a internações e, até mesmo ao óbito. Tais descobertas têm potencial para informar a elaboração de estratégias preventivas e educacionais para essa população, envolvendo profissionais de saúde, familiares e pacientes, a fim de reduzir os riscos de complicações, considerando as características de longo prazo das doenças crônicas.

No que se refere ao câncer, é crucial que os profissionais de saúde estejam vigilantes em relação ao diagnóstico precoce, visando identificar a doença em estágios iniciais, e encaminhar prontamente os pacientes a centros especializados em oncologia pediátrica.

Além disso, é fundamental enfatizar a importância da atividade física e da prevenção e controle do consumo de álcool, tabaco e outras substâncias ilegais na infância, como medidas essenciais para prevenir o surgimento das DCNTs. Com isso, espera-se conter o avanço da epidemia das DCNTs, que atualmente afeta os indivíduos em nosso país, promovendo cuidados eficazes e impulsionando a saúde.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

HAN CHO, N. International Diabetes Federation (IDF). IDF Diabetes Atlas. 2014. LINDBERG, Louise et al. Association of childhood obesity with risk of early all-cause and cause-specific mortality: A Swedish prospective cohort study. PLoS medicine, v. 17, n. 3, p. e1003078, 2020.

JÚNIOR, Aloísio de Freitas Jorge et al. Doenças crônicas não transmissíveis na infância. SAÚDE DINÂMICA, v. 2, n. 2, p. 38-56, 2020.

MALTA, Deborah Carvalho et al. Probabilidade de morte prematura por doenças crônicas não transmissíveis, Brasil e regiões, projeções para 2025. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 22, p. e190030, 2019.

MERINO, Maria de Fátima Garcia Lopes et al. Internação e mortalidade por diabetes mellitus na infância: análise de séries temporais. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 72, p. 147- 153, 2019.

MILLER, Kimberly D et al. Brain and other central nervous system tumor statistics, 2021. CA: a cancer journal for clinicians, v. 71, n. 5, p. 381-406, 2021.

MOROSINI, Fabiana et al. Incidence, Mortality and Survival of Pediatric Cancer in Uruguay 2011-2015. Revista Brasileira de Cancerologia, v. 69, n. 1, 2023.

SARAIVA, José Francisco et al. Estratégias interdisciplinares na abordagem do risco cardiovascular para combate à obesidade infantil. Revista da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, v. 15, n. 3, p. 214-220, 2017.

SILVA, Denise Bousfield da; PIRES, Maria Marlene de Souza; NASSAR, Silvia Modesto. Câncer pediátrico: análise de um registro hospitalar. Jornal de pediatria, v. 78, p. 409-414, 2002.