A PRÁTICA DE EXERCÍCIO FÍSICO ASSOCIADA AO TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL EM IDOSOS HIPERTENSOS: UMA REVISÃO DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10427809


Kariny Cristina Pires Corrêa1
Juliana Ribeiro Gouveia Reis2
Juliana Lilis da Silva2
Natália de Fátima Gonçalves Amâncio2


Resumo:

A hipertensão arterial é uma doença crônica de caráter multifatorial e é diagnosticada quando o paciente apresenta um aumento sustentado nos valores pressóricos sistólicos 140 mmHg e diastólicos 90 mmHg. Nos últimos anos, análises alegam que o número de pessoas idosas no Brasil está aumentando, o que representa um fator de risco para o aumento do desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis entre idosos.  O objetivo desse estudo é identificar como a prática de exercícios físicos pode contribuir na redução dos valores pressóricos de pacientes idosos hipertensos. Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, utilizando como critérios de inclusão artigos em todos os idiomas, publicados entre 2019 e 2023, encontrados nas bases de dados BVS, SciELO, PubMed e EbscoHost. Os estudos avaliados sugerem que a prática de exercícios contribui de forma eficiente na redução dos valores pressóricos, por meio de alterações fisiológicas, o que proporciona uma melhor qualidade de vida para o indivíduo idoso hipertenso. Dessa forma, conclui-se que a prática física é efetiva no tratamento da hipertensão arterial sistêmica proporcionando inúmeros benefícios para os praticantes.

Palavras-chaves: Exercício físico. Idosos. Hipertensão arterial.

Abstract:

Arterial hypertension is a chronic, multifactorial condition diagnosed when a patient exhibits sustained increases in systolic blood pressure values ≥ 140 mmHg and diastolic values ≥ 90 mmHg. In recent years, analyses suggest that the number of elderly individuals in Brazil is on the rise, posing a risk factor for the increased development of non-communicable chronic diseases among the elderly. The objective of this study is to identify how the practice of physical exercise can contribute to reducing blood pressure values in elderly hypertensive patients. This is an integrative literature review, using inclusion criteria for articles in all languages, published between 2019 and 2023, found in the databases BVS, SciELO, PubMed, and EbscoHost. The evaluated studies suggest that exercise contributes efficiently to lowering blood pressure values through physiological changes, providing a better quality of life for hypertensive elderly individuals. Thus, it is concluded that physical activity is effective in the treatment of systemic arterial hypertension, offering numerous benefits for practitioners.

Keywords: Physical exercise. Elderly. Arterial hypertension.

1 INTRODUÇÃO

A hipertensão arterial (HA) é classificada como uma doença crônica não transmissível (DCNT) de caráter multifatorial. A HA é diagnosticada quando há um aumento dos valores pressóricos, sendo a pressão arterial sistólica maior ou igual a 140 mmHg e a pressão arterial diastólica maior ou igual a 90 mmHg. Ademais, a doença contribui com o risco cardiovascular e por esse motivo representa uma das principais causas de morte, hospitalização e atendimento ambulatorial no Brasil (DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO ARTERIAL, 2020).

  As Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial de 2020 mencionam a idade avançada como um fator de risco para a hipertensão arterial, pois com o envelhecimento, os vasos sanguíneos perdem a sua complacência e se tornam rígidos, o que faz com que o sangue exerça uma maior pressão sobre as grandes artérias, tendo em vista que essas não possuem mais a sua capacidade de distensão para acomodar o volume sanguíneo.

   Nos últimos anos tem se observado um crescimento notável no número de pessoas idosas do país, dado esse que influencia diretamente no desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, como a hipertensão, sendo essa uma das principais causas de mortalidade em idosos. Alguns epidemiologistas estimam que até 2025 o Brasil irá estar na sexta posição no que diz respeito ao número de idosos no país (ZIERO ET AL., 2020). 

   Durante o processo de envelhecimento, a população idosa apresenta uma redução na sua capacidade física e funcional, o que dificulta a realização de simples atividades rotineiras. (FIGUEIREDO et al., 2021). Sendo assim, associa-se diretamente com o sedentarismo, devido aos hábitos de vida adquiridos ao longo dos anos e ao comodismo proporcionado pela modernidade, como exemplo, pode- se mencionar o hábito recorrente de passar horas em frente a televisão.  (BRASIL, 2006).

   Nesse viés, a prática de atividades físicas é recomendada como uma forma de tratamento não medicamentoso para a hipertensão arterial, de modo a proporcionar bem-estar e principalmente autonomia para que a população idosa consiga realizar atividades diárias, o que está intimamente relacionado com a melhora da qualidade de vida (CASSIANO, 2020).

  Diante disso, é de extrema importância a produção de estudos científicos que busquem evidenciar os benefícios que os exercícios físicos, realizados por pessoas idosas, podem proporcionar ao tratamento de HA para reduzir os valores pressóricos e, consequentemente, reduzir o risco cardiovascular. Além disso, o incentivo ao tratamento não medicamentoso busca fornecer melhor qualidade de vida para o idoso hipertenso, o qual geralmente, já faz uso de uma série de fármacos.

  Assim, o presente estudo tem como objetivo identificar e analisar como a prática de exercício físico consegue contribuir para a redução dos valores pressóricos de pacientes idosos hipertensos.

2 METODOLOGIA

O presente estudo consiste em uma revisão exploratória integrativa de literatura. A revisão integrativa foi realizada em seis etapas: 1) identificação do tema e seleção da questão norteadora da pesquisa; 2) estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos e busca na literatura; 3) definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados; 4) categorização dos estudos; 5) avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa e interpretação e 6) apresentação da revisão.

Na etapa inicial, para definição da questão de pesquisa utilizou-se da estratégia PICO (Acrômio para Patient, Intervention, Comparation e Outcome). Assim, definiu-se a seguinte questão central que orientou o estudo: “Como a prática de exercícios físicos pode contribuir com o tratamento da hipertensão arterial sistêmica em idosos? ” Nela, observa-se o P: idosos; I: exercício físico; C: não se aplica; O: tratamento da hipertensão arterial.

 Para responder a esta pergunta, foi realizada a busca de artigos envolvendo o desfecho pretendido utilizando as terminologias cadastradas nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCs) criados pela Biblioteca Virtual em Saúde desenvolvido a partir do Medical Subject Headings da U.S. National Library of Medcine, que permite o uso da terminologia comum em português, inglês e espanhol. Os descritores utilizados foram: exercício físico, idosos e hipertensão arterial. Para o cruzamento das palavras chaves utilizou-se o operador booleano “and”.

Realizou-se um levantamento bibliográfico por meio de buscas eletrônicas nas seguintes bases de dados: Google Scholar; Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Scientif Eletronic Library Online (SciELO), National Library of Medicine (PubMed) e EbscoHost.

A busca foi realizada no mês de outubro de 2023. Como critérios de inclusão, limitou-se a artigos escritos em todos os idiomas, publicados nos últimos 5 anos (2019 a 2023), que abordassem o tema pesquisado e que estivem disponíveis eletronicamente em seu formato integral, foram excluídos os artigos em que o título e resumo não estivessem relacionados ao tema de pesquisa, pesquisas que não tiverem metodologia bem clara, e que posteriormente, na leitura íntegra, não agregaram ao tema.

Após a etapa de levantamento das publicações, encontrou 102 artigos, dos quais foram realizados a leitura do título e resumo das publicações considerando o critério de inclusão e exclusão definidos previamente. Em seguida, realizou-se a leitura na íntegra das publicações pré-selecionadas, atentando-se novamente aos critérios de inclusão e exclusão, sendo que 3 artigos não foram utilizados devido aos critérios de exclusão. Foram selecionados 20 artigos para análise final e construção da revisão.

Posteriormente a seleção dos artigos, realizou um fichamento das obras selecionadas afim de selecionar a coleta e análise dos dados. Os dados coletados foram disponibilizados em um quadro, possibilitando ao leitor a avaliação da aplicabilidade da revisão integrativa elaborada, de forma a atingir o objetivo desse método.

A Figura 1 demonstra o processo de seleção dos artigos por meio das palavras-chaves de busca e da aplicação dos critérios de inclusão e exclusão citados na metodologia. O fluxograma leva em consideração os critérios elencados pela estratégia PRISMA (Page et al., 2021).

Figura 1 – Fluxograma da busca e inclusão dos artigos

Fonte: Fonte: Adaptado do Preferred Reporting Items for Systematic review and Meta-Analyses (PRISMA). Page et al., (2021).

3 RESULTADOS

A partir da aplicação dos critérios de inclusão e exclusão foi possível chegar na tabela a seguir, a qual contém as principais informações sobre a relação entre a prática de exercícios físicos e o tratamento da hipertensão arterial sistêmica em idosos encontrados nos 20 estudos selecionados e analisados. A tabela é composta por dados referentes à autoria e ano de publicação do artigo, título e principais achados encontrados (Tabela 1).

Tabela 1- Achados principais dos artigos selecionados

EstudoTítuloAchados principais
BARCELOS et al., 2019Associação entre atividade física e uso de medicamentos em hipertensos do Sistema Único de Saúde.↑ Nível de atividade física ↓ o uso de anti-hipertensivos; ↓ o custo do tratamento; ↓ resistência vascular e rigidez arterial; ↑ modulação simpática;
GARCIA et al., 2019Os benefícios da prática de ioga no controle da pressão arterial de idosas hipertensas: análise conceitual.Exercícios são estratégias não farmacológicas para o tratamento; A ioga ↓ os valores pressóricos e pode ser capaz de ↓ também o uso de fármacos;
AZEVÊDO et al., 2019Exercício físico e pressão arterial: efeitos, mecanismos, influências e implicações na hipertensão arterialExercício aeróbico deve ser realizado com intensidade leve a moderada e maior volume; Execução aguda ↑ PA, após o exercício e de forma crônica há uma ↓.
MOURA et al., 2019Resposta temporal de parâmetros cardiovasculares e função renal em idosos hipertensos submetidos ao treinamento físicoO exercício físico é uma forma de tratamento não farmacológico; Contribui na recuperação da frequência cardíaca (FC) e da PA; ↓ o tônus simpático.
CORDEITO et al., 2019Efeito crônico do exercício aeróbico em idosos hipertensos: revisão sistemáticaExercícios aeróbicos reduzem consideravelmente os valores da PA; Exercícios concorrente são relevantes no tratamento da HAS.
JULIOTI et al., 2019As repercussões do exercício físico em idosos portadores de hipertensão arterialAlterações autonômicas e hemodinâmicas; Efeitos agudos imediatos, tardios e crônicos; Exercício aeróbico ↓ 10 mmHg da pressão arterial.
ZIERO et al., 2020A eficácia do exercício físico no idoso para a prevenção e tratamento de patologias como diabetes e hipertensão: uma revisãoHipotensão pós-exercício: ↓ da PA após exercício aeróbio por até 24 h; Exercício aeróbio (EA): ↓ resistência vascular periférica, ↑ atividade parassimpática, ↓ ação do simpático e contribui na eliminação de sódio na urina;
QUEIROZ et al., 2020Hipertensão arterial no idoso- doença prevalente nessa população: uma revisão integrativaRelação entre envelhecimento e ↑ da PA; Dificuldade de pessoas idosas aderirem a hábitos saudáveis.
OLIVEIRA et al., 2020Benefícios do exercício físico regular para idososExercício físico proporciona envelhecimento saudável, melhora a função cardiovascular e contribui para o funcionamento regular do coração.
REIA et al., 2020Acute physical exercise and hypertension in the elderly: a systematic reviewExercício estimula a tensão de cisalhamento, a qual exerce efeitos sobre o endotélio do vaso fazendo com que ↑ a produção da enzima óxido nítrico sintase, o que provoca vasodilatação e ↓ a PA; Exercício aeróbio é o mais indicado para reduzir a PA.
MENEZES et al., 2020Impacto da atividade física na qualidade de vida de idosos: uma revisão integrativaImportante intervenção não medicamentosa para o tratamento da HAS; Atividade física atua no controle da PA, perfil lipídico e além disso, auxilia na conservação da densidade mineral óssea.
CASSIANO et al., 2020Efeitos do exercício físico sobre o risco cardiovascular e qualidade vida em idosos hipertensosO exercício ↓ a degeneração causada pelo envelhecimento; Exercício aeróbio e resistido ↓ os fatores de risco cardiovascular; Para o tratamento da HAS o exercício aeróbio deve ser praticado primeiramente e ser complementado por um treinamento de resistência;
SILVA et al., 2021Efeitos de um programa de intervenção de atividade física, educação e promoção de saúde com idosos hipertensos usuários do Sistema Único de SaúdePerder peso é um fator importante para ↓ a PA; ↓ considerável nos valores pressóricos após uma reeducação dos hábitos de vida, como prática de atividade física e alimentação balanceada.
GOMES et al., 2021Os efeitos do treinamento de musculação para hipertrofia no tratamento de idosos hipertensos: uma revisão bibliográficaExercícios físicos, boa alimentação e descanso adequado se somam para ↓ a PA de idosos hipertensos; A musculação comprime os vasos e isso contribui para o fluxo sanguíneo prevenindo aterosclerose; Musculação provoca vasodilatação devido à maior liberação de óxido nitroso, o que ↓ a PA;
SANTOS et al., 2021Efeitos do treinamento combinado sobre a pressão arterial de idosos hipertensos: uma revisão sistemática↓ dos valores da PA pós-exercício estão relacionadas com uma ↓ no tônus simpático ou um ↑ no parassimpático; Para ↓ a PA é necessário praticar exercício físico por no mínimo 5 vezes na semana por 30 minutos, com duração de 150 minutos por semana;
LIMA et al., 2021Hipertensão arterial sistêmica: prática de exercícios físicos influencia na funcionalidade e qualidade de vida de idososO exercício deve ser realizado com uma frequência mínima de 3 vezes por semana, porém a realização por 2 vezes na semana também demonstrou uma ↓ notável na PA; ↑ a força muscular 3 e flexibilidade;
QUEIROZ et al., 2022Feitos do treinamento resistido sobre o metabolismo pressórico em idosos hipertensosResistência vascular ↓; ↑ volume de treino proporciona uma ↓ na PAS 24 h após o exercício; Uma única sessão com 3 séries desse tipo de exercício pode promover ↓ da PA.
KEMERICH et al., 2022Efeitos do exercício físico resistido sobre os níveis pressóricos em idosos hipertensos: uma revisão integrativa↓ os valores da PA; Indicado para ser realizado no mínimo de 2 a 3 vezes na semana, com 3 séries e repetições variando entre 8 a 15; ↓ o risco cardiovascular;
SILVA et al., 2022O benefício do exercício físico para idosos portadores de hipertensão↓ a pressão que o coração exerce sobre os vasos; Melhora da função endotelial; Os exercícios devem ser de intensidade moderada, de 3 a 6 vezes na semana, com duração de 30 a 60 minutos.
SILVA et al., 2022Fatores comportamentais associam-se com a prática de atividade física/ exercício de idosos hipertensosAtividade física ↓ o risco de doença coronariana; Para o efeito hipotensor é necessário ter uma frequência semanal e volume satisfatório de exercício físico.

4 DISCUSSÃO

O envelhecimento apresenta relação direta com o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, dentre elas a HAS, visto que a idade avançada ocasiona o comprometimento do sistema vascular e também a rigidez da parede dos vasos, o que faz com que a PA se eleve com maior facilidade (QUEIROZ, SANTOS, MATEUS, 2022). Diante desses dados é de extrema relevância um diagnóstico precoce e um tratamento adequado baseado principalmente em meios não farmacológicos, com o intuito de manter a qualidade de vida dessa parcela da população (QUEIROZ et al., 2020; LIMA et al., 2021).

A adesão a hábitos de vida saudáveis, como a prática de exercícios físicos, corresponde à uma das primeiras linhas de tratamento não medicamentoso para pessoas com hipertensão. Apesar dos benefícios que a prática de exercícios físicos pode oferecer, é necessário que se tenha uma frequência e volume semanal mínimos, para que se observe um bom estado de saúde entre os idosos hipertensos. Contudo, cerca de 38,2% dos idosos estão inscritos em algum programa de exercício físico, mas não seguem as recomendações necessárias (SILVA, et al., 2022).

Os exercícios físicos produzem efeitos agudos imediatos, agudos tardios e crônicos em idosos hipertensos. Os efeitos agudos imediatos acontecem logo após a realização do exercício e se caracterizam pelo aumento da FC, da PAS e da ventilação. Os efeitos agudos tardios são notórios de 24 a 72 horas após o exercício e pode se observar uma pequena redução nos valores da PA e uma melhora da função endotelial, devido à ação das substâncias vasodilatadoras, como o óxido nítrico, que são liberadas devido à tensão de cisalhamento, a qual atua sobre o endotélio e estimula uma cascata de acontecimentos, liberando tais substâncias responsáveis por elevar o fluxo de sangue,  reduzir a resistência contra as paredes dos vasos, reduzir a atividade do sistema nervoso simpático, altera a função renal, pois contribui na eliminação de sódio e, consequentemente,  de água. Por sua vez, os efeitos crônicos são notáveis após 4 semanas de treinamento constante e são capazes de provocar hipertrofia do ventrículo esquerdo de modo a melhorar o bombeamento cardíaco (JULIOTI; ZANCO; ELIAS, 2019; REIA et al., 2020; SILVA et al., 2022; GOMES et al., 2021).

O exercício físico resistido também produz efeitos hipotensores em idosos hipertensos sendo que, quando um grupo de maior massa muscular, como as pernas é exercitado, a redução nos valores pressóricos é maior e com uma duração mais prolongada em comparação aos outros grupos musculares. Somado a isso, as reduções mais significativas na PA acontecem em idosos que apresentam maiores valores sistólicos e diastólicos antes da realização do exercício físico (ZIERO, NAVARRO, 2020; AZEVÊDO et al., 2019).

Além dos exercícios tradicionais, como o aeróbio e o resistido, há também outras opções a exemplos a natação, a qual é indicada com maior frequência para idosos com mobilidade reduzida, pois possui um impacto menor nas articulações (SILVA et al., 2022). Exercícios realizados na água aumentam a diurese devido à liberação de peptídeo natriurético atrial (ANP), o qual aumenta a excreção de sódio, consequentemente, de água, e isso reduz o volume extracelular e os valores pressóricos (MOURA et al., 2019).

Outra possível modalidade pouco explorada, porém, benéfica para o tratamento de HAS, trata-se da prática de ioga, a atividade além de reduzir os valores pressóricos sistólicos e diastólicos de idosas, melhora a função autonômica cardíaca, reduz o uso de anti-hipertensivos, reduz a FC e eleva a mobilidade (GARCIA et al., 2019).

Um estudo transversal realizado na cidade de Florianópolis em 2017, com a participação de 112 indivíduos com uma média de idade de 64 anos constatou que há uma relação inversamente proporcional entre o nível de atividade física realizada por idosos e a quantidade de fármacos anti-hipertensivos utilizados, ou seja, quanto maior a frequência e o volume de exercícios físicos praticados por idosos menor será o uso de medicamentos necessários para controlar a PA, sendo possível observar uma redução ou até mesmo interrupção do tratamento medicamentoso. Esses achados evidenciam a importância e os benefícios proporcionados por mudanças nos hábitos de vida (BARCELOS et al., 2019). Diante desse aspecto, o exercício físico evita as interações medicamentosas, a polifarmácia e os efeitos negativos provocados por altas doses dos fármacos, além de manter a capacidade funcional de indivíduos idosos (MENEZES et al., 2020).

Os estudos analisados por Kemerich e Neto em 2022, constataram que o exercício resistido deve ser realizado de 2 a 3 vezes na semana, com uma sequência de 3 séries com repetições de 8 a 15, utilizando 40% a 80% da carga máxima. Ademais, a realização de exercícios resistidos não apresentaram riscos para a população idosa, desde que realizados corretamente e nos limites tolerados. Essa modalidade pode reduzir cerca de 3mmHg na pressão sistólica e 4 mmHg na diastólica (CASSIANO et al., 2020).

De forma complementar, a revisão bibliográfica de QUEIROZ et al., 2022, reitera que os exercícios resistidos não devem ser realizados em alta intensidade por idosos, pois podem ocasionar um aneurisma cerebral, devido à alta que ocorre nos valores pressóricos no momento da execução. Contudo, em um dos estudos descritos por Queiroz, os menores valores pressóricos foram encontrados em exercícios com cerca de 80% de intensidade em comparação com exercícios de 50% de intensidade.

Os estudos analisados por Santos et al., 2021, evidenciaram que a realização de exercícios combinados, associação entre exercícios aeróbios e resistidos, não provocam reduções mais significativas em comparação com os exercícios realizados de forma isolada, pelo contrário os resultados são semelhantes, porém, para que o aeróbico seja eficaz é preciso que ele seja realizado por no mínimo 5 vezes na semana, por 30 minutos e duração de 150 minutos na semana. Por sua vez os estudos analisados por Cordeiro et al., 2019, mostraram que apenas uma única sessão de exercícios combinados consegue reduzir consideravelmente a PA em idosos em poucas horas, aproximadamente de 5 a 6 horas após a realização do exercício, cerca de 7mmHg na sistólica e 2mmHg na diastólica.

Um estudo transversal do tipo quantitativo realizado com idosos com idade superior a 60 anos demonstrou que com o envelhecimento da população a tendência é o sedentarismo e para que isso seja modificado é preciso realizar ações nas unidades de saúde para informar e conscientizar o público alvo a respeito da importância na mudança de hábitos de vida para o tratamento de doenças crônicas, principalmente (SILVA et al., 2021).

Apesar dos inúmeros benefícios proporcionados pela prática de exercícios físicos por idosos portadores de HAS é necessário que a realização das atividades seja acompanhada por um educador físico para evitar a realização de movimentos errados, a exaustão e a alta intensidade para que não haja aumentos consideráveis na FC e na PA desses idosos (OLIVEIRA, VINHAS, RABELLO, 2020).

4 CONCLUSÃO

Os resultados encontrados na presente revisão de literatura evidenciaram que a realização de exercícios físicos por idosos apresentaram resultados positivos no tratamento da HAS. Isso se deve à capacidade da prática de exercício físico em reduzir a frequência cardíaca, aumentar o retorno venoso, reduzir os valores pressóricos sistólicos e diastólicos, além de aumentar a liberação de substâncias vasodilatadoras. Os artigos encontrados constataram que o tratamento não medicamentoso, realizado pela mudança nos hábitos de vida, pode contribuir de forma eficaz no tratamento e de forma associada, aumentar a qualidade de vida de idosos ao reduzir a polifarmácia e os efeitos adversos pelo uso dos fármacos. A modalidade de exercícios físicos que podem ser praticados é bastante ampla, incluindo: exercícios aeróbicos, exercícios resistidos, ioga e até mesmo exercícios na água, principalmente para idosos com dificuldade de locomoção.

Por fim, apesar dos benefícios proporcionados é necessário que a realização dos exercícios seja feita com a ajuda um profissional para evitar lesões, é preciso indicação médica e também respeitar os níveis de intensidade indicados para evitar o aumento súbito dos níveis pressóricos.

Nesse sentido, a pesquisa realizada é de extrema relevância para a ciência, para os profissionais da área da saúde e para a comunidade ao evidenciar a relevância e os benefícios do tratamento não farmacológico para o tratamento de idosos hipertensos e, ao disseminar informações sobre o assunto, de modo que o método seja mais aplicável na clínica médica em substituição ao tratamento medicamentoso.

Vale ressaltar que para a obtenção de resultados concretos a respeito do tipo de exercício físico a ser realizado, o tempo, a quantidade de séries e de repetições, são necessários estudos para analisar e identificar com clareza quais modalidades apresentam os melhores resultados de forma detalhada.

REFERÊNCIAS

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[1] Discente do curso de Medicina do Centro Universitário de Patos de Minas -UNIPAM.

[2] Docente do Centro Universitário de Patos de Minas -UNIPAM.