THE ELDERLY AND THE USE OF ASSISTIVE TECHNOLOGY DEVICES FOR MOBILITY: AN INTEGRATIVE REVIEW
REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/pa10202408181432
Andressa Costa Medeiros da Silva1; Clarice Simões Antunes Caffaro2; Beatriz Regina Lima de Aguiar3; Sylvia de Fátima dos Santos Guerra4; Roberta Gonçalves Gomes Marques5
Resumo
Objetivo: Esta pesquisa tem o propósito de identificar quais tecnologias assistivas com foco em auxiliar na locomoção da pessoa idosa aparecem com maior incidência e usabilidade de acordo com a literatura. Método: Revisão sistemática da literatura, realizada em bases de dados eletrônicas National Library of Medicine (Medline/PubMed), Scopus, Web of Science e no Portal da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). A seleção de artigos teve como critérios publicações entre 2019 e 2024 nos idiomas português, inglês e espanhol a partir da pergunta estrutural elaborada pelo acrônimo PCC (P-População, C-Conceito e C-Contexto): “quais as tecnologias assistivas mais utilizadas, descritas na literatura, para auxiliar na locomoção da pessoa idosa? ”. Resultados: Para essa revisão, foram incluídos sete artigos para síntese qualitativa conforme os critérios de elegibilidade definidos. Um estudo foi relato de caso, três estudos foram transversais e outros três estudos foram ensaios clínicos, sendo a maioria com foco em desenvolvimento e testes de dispositivos robóticos como dispositivos de tecnologia assistiva para marcha em idosos. Conclusão: Após análise dos artigos selecionados, é possível concluir a escassez de estudos nos últimos anos acerca das tecnologias assistivas de locomoção acessíveis à população, o que demonstra espaço e necessidade de pesquisas que falem desde a prescrição, como avaliação e treino desses dispositivos, bem como o seu impacto nas atividades de vida diária, da independência e da autonomia.
Palavras-chave: Idoso. Tecnologia Assistiva. Locomoção. Estado Funcional. Revisão.
1 INTRODUÇÃO
De acordo com o Estatuto do Idoso, citado na Lei nº 10741 (BRASIL, 2003) é considerada idosa toda pessoa acima dos 60 anos de idade. A realidade do envelhecimento populacional traz consigo desafios no que diz respeito à saúde e ao bem-estar dos idosos.
A velhice é o último período da vida orgânica humana e possui demandas coerentes aos fatores biológicos como mudanças físicas e cognitivas decorrentes da idade, os quais incluem fragilidade, imobilidade e declínio cognitivo que demandam uma abordagem de cuidados de saúde que vai além do tratamento convencional de doenças isoladas e emergem como preocupações cruciais nesse contexto (ACOSTA, 2023).
Em seu livro, Acosta (2023) menciona a não possibilidade de retardar o envelhecimento, no entanto é possível manusear suas consequências para que se viva melhor e, não obstante, viver mais. Neste cenário, é de suma importância não somente a inclusão de novas tecnologias diante do envelhecimento ativo, mas também que tais tecnologias sejam inclusivas, de tal maneira que estes indivíduos possam, de fato, vir a vivenciar a participação e segurança em seu dia a dia, como possibilitado pela Tecnologia Assistiva (ANDRADE et al, 2021).
Conforme a literatura, Tecnologia assistiva é todo o dispositivo técnico que contribui e auxilia para a melhor execução das Atividades da Vida Diária (AVD), tornando-as mais fáceis e menos dispendiosas, minimizando o trabalho prestado pelo cuidador (SANTOS et al, 2021). Como o impacto de cuidar é, por muitas vezes, cansativo, as tecnologias podem se aliar a este cuidado, desde que essa utilização seja regida pela ética, proporcionando maior autonomia ao idoso, respeitando sua integridade, principalmente nas decisões com relação à utilização ou não desses dispositivos (BRASIL, 2009).
A tecnologia assistiva direcionada à inclusão social favorece a promoção do envelhecimento ativo, ao abranger e possibilitar maior autonomia diante das facetas do desempenho humano, do desempenho de atividades profissionais às tarefas básicas de autocuidado e inerentes aos seres humanos, como a locomoção (LEITE et al, 2018).
O conceito de locomoção está atrelado à capacidade funcional de mover-se dentro de um espaço. Em populações idosas, o declínio da mobilidade mostra um fator preditor de saúde na velhice, visto que a incapacidade funcional de natureza física provoca grande impacto na manutenção de uma vida independente (ANDRADE et al, 2021).
Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo pesquisar na literatura científica os recursos de tecnologia assistiva utilizados para auxiliar na locomoção da pessoa idosa e estimar o impacto do uso dessas tecnologias na autonomia, independência e qualidade de vida dos idosos. A funcionalidade é um importante parâmetro para garantir intervenções em busca do envelhecimento ativo, por isso a importância de estudá-la.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Este estudo baseia-se na perceptível necessidade de auxílio e supervisão nas atividades de vida diária advindas com o processo de envelhecimento, vai além da mobilidade e perpassa também segurança, integração social e saúde. (DO et al., 2018; LOPEZ-GUEDE et al., 2015). Um exemplo de suporte às pessoas em suas rotinas diárias é a tecnologia assistiva que visa auxiliar os nesse processo como proposta de manutenção da vida e o bem-estar, que aplicada, constroem o contexto de ambiente de vida assistida, do inglês Ambient Assisted Living (SPINSANTE e GAMBI, 2015).
As tecnologias assistivas são exemplos claros de facilitadores e promotores da independência e autonomia dos idosos. Porém grande parte dos recursos e dos estudos são relacionados às engenharias e à gerontecnologia. Encontra-se poucos recursos e estudos direcionados às Tecnologias Assistivas relacionadas à mobilidade exclusivamente (MELO et al., 2020). Outro exemplo de auxílio das TAs na vida diária foi demonstrado em um estudo onde as tecnologias assistivas facilitaram a realização da higiene bucal em idosos com algum tipo de comprometimento advindo da hanseníase, e os resultados deste estudo mostraram melhora na execução desta atividade para a maioria dos idosos (FERREIRA et al., 2018).
O uso das TAs como cadeiras de rodas e bengalas são apresentadas como recursos com grande potencial para auxiliar idosos e outras pessoas com dificuldades de mobilidade no seu dia a dia, porém utilizar estes recursos também tem suas dificuldades sejam elas físicas, ambientais e ou sociais. Encontra-se estudos que indicam a importância do uso das TAs porém não se reconhece a necessidade e a importância dos profissionais indicados e capacitados para orientação, treino e uso destes recursos, associando exclusivamente de forma errônea esta função à figura médica. Um estudo realizado no Brasil encontrou que não necessariamente incapacidades físicas como por exemplo deficiência visual são associadas ao uso das TAs. Falta o recurso ou o profissional capacitado? (ANDRADE et l., 2021; ALVES et al., 2017).
Diante do exposto, esta pesquisa visa, por meio da revisão integrativa, explorar o conhecimento atual sobre um tema específico, com objetivo de identificar, analisar e sintetizar resultados de estudos já existentes sobre a temática abordada, contribuindo futuramente para o desenvolvimento de novos protocolos e procedimentos, e auxiliando na fundamentação da Prática Baseada em Evidências (SILVA, 2022). As revisões de literatura auxiliam os profissionais uma vez que sistematizam os estudos envolvendo uso e prescrição de tecnologias assistivas facilitando assim a atualização destes profissionais e consequentemente gerando oferta de um serviço com maior qualidade.
3 METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura que sintetiza as tecnologias assistivas descritas na literatura com foco na locomoção da pessoa idosa. A estrutura dessa revisão segue os passos propostos por Mendes, Silveira e Galvão (2008) sendo eles: (1) identificação do tema de pesquisa e elaboração da pergunta de pesquisa; (2) Estabelecimento dos critérios de elegibilidade (inclusão e exclusão) dos estudos; (3) Definição dos tópicos que serão coletados dos estudos incluídos e como serão organizados; (4) avaliação crítica dos estudos incluídos na revisão; (5) Apresentação dos resultados; e (6) Síntese do conhecimento.
A pergunta de pesquisa foi definida usando o acrônimo PCC (P-População, C-Conceito e C-Contexto), sendo a população pessoas com idade igual ou maior que 60 anos, o conceito investigado são tecnologias assistivas e o contexto é a locomoção. Assim, a pergunta de pesquisa foi: “Quais as tecnologias assistivas mais utilizadas, descritas na literatura, para auxiliar na locomoção da pessoa idosa? ”. Em uma análise secundária também avaliamos o impacto do uso de tecnologias assistivas para locomoção na autonomia e qualidade de vida de pessoas idosas.
Foram incluídos estudos que abordassem o uso de tecnologias assistivas para locomoção das pessoas idosas publicados entre 2019 e 2024 nos idiomas português, inglês e espanhol. Foram excluídos estudos que (1) Incluíssem pessoas com menos de 60 anos de idade; (2) Estudos que incluem pessoas com diferentes idades mas não individualizam dados para a pessoas idosas; (3) Estudos que abordam tecnologias assistivas para pessoas com deficiência ou outras condições não relacionadas com o envelhecimento; (4) Estudos que abordam tecnologias assistivas voltadas para transporte ou outras condições que não a locomoção/marcha; (5) Revisões de literatura, cartas ao editor, capítulos de livro, resumos de congresso, opiniões de especialistas; e (6) Estudos não disponíveis para leitura na íntegra.
A estratégia de busca foi desenvolvida usando Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), Medical Subject Headings (MeSH) e por meio de palavras-chave encontradas em estudos relacionados à temática combinadas com o uso dos operadores booleanos AND e OR. Os descritores usados na busca foram: “Elderly”, “Aged”, “Geriatrics”, “Assistive Technology”, “Locomotion” e “March”. Também utilizamos as variações do descritores em português (“Idosos”, “Geriatria”, “Tecnologia Assistiva”, “Locomoção” e “Marcha”) e espanhol (“Ancianos”, “Geriatría”, “Tecnología de asistencia”, “Locomoción” e “Marzo”) para as bases de dados que indexam publicações nos respectivos idiomas. A busca foi realizada no dia 16 de março de 2024, nas bases de dados PubMed, Scopus, Web of Science e no Portal da BVS que agrupa outras bases de dados em saúde em diferentes idiomas. Também foi realizada busca na literatura cinzenta usando o Google Acadêmico. Não aplicamos filtro de idioma nem de data de publicação na busca. Esses critérios de elegibilidade foram aplicados na última etapa de seleção dos estudos.
Os estudos obtidos na busca foram exportados para o gerenciador de referências EndNote Web, onde realizamos a remoção de duplicatas. Em seguida, os estudos foram exportados para o Software Rayyan, onde foi feita a leitura de títulos e resumos por dois revisores, de forma independente, aplicando os critérios de elegibilidade. Os estudos selecionados na primeira fase seguiram para leitura de texto completo pelos mesmos revisores, de forma independente, aplicando novamente os critérios de elegibilidade. Qualquer desacordo entre os dois revisores quanto à inclusão dos estudos foi resolvido por consenso e, se necessário, um terceiro revisor foi consultado.
Para todos os estudos incluídos coletamos: autores e ano do estudo, país, título, tipo de estudo, idade média/mediana dos participantes do estudo, número de participantes, tecnologia assistiva para locomoção relatada e relatos de melhora da autonomia e/ou qualidade de vida.
O desfecho primário deste estudo foi identificar as atuais tecnologias assistivas que auxiliam na marcha da pessoa idosa. Como desfecho secundário pretendemos avaliar o impacto dessas tecnologias assistivas na autonomia, independência e qualidade de vida da pessoa idosa. Os resultados foram apresentados de forma descritiva, por meio de síntese qualitativa.
4 ANÁLISE DOS DADOS
Encontramos 398 artigos a partir da estratégia de busca nas bases de dados, mais 100 artigos na literatura cinzenta. Após a remoção das duplicatas, restaram 441 artigos para análise dos títulos e resumos. Nessa fase, 30 estudos atenderam aos critérios de elegibilidade e foram selecionados para leitura na íntegra. Novamente, aplicamos os critérios de elegibilidade e sete estudos foram incluídos nesta revisão integrativa, sendo eles: Koseki et al (2019), Panizzolo et al (2019), Suwannarat et al. (2021), Grden et al. (2021), Costa et al. (2022), Lee et al. (2023) e Liu et al. (2023). A Figura 1 apresenta o fluxograma de seleção dos estudos.
Entre os sete estudos incluídos, cinco foram publicados na língua inglesa e dois foram publicados na língua portuguesa entre 2019 e 2023. Um estudo foi relato de caso, três estudos foram transversais e outros três estudos foram ensaios clínicos. A Tabela 1 resume as principais características dos estudos incluídos e da amostra de cada estudo.
No total, 759 idosos compuseram essa revisão. Em quatro estudos foram testados equipamentos robóticos de tecnologia assistiva para melhora da marcha.
No estudo conduzido por Koseki et al. (2019) foi testado um dispositivo robótico vestível para treinamento de marcha (Honda Walking Assistive Device®, Honda Motor Corporation, Tóquio, Japão), que auxilia na movimentação das articulações do quadril para produzir o movimento de caminhada. O estudo testou o dispositivo em um idoso com artroplastia total de quadril, e buscou resultados de auxílio na marcha voltados para idosos com esse diagnóstico. O dispositivo de treinamento foi implementado em 20 sessões (< 20 minutos), cinco vezes por semana no hospital.
Panizzolo et al. (2019), testaram uma Exoband de quadril, que é um dispositivo passivo de flexão de quadril vestível composto por tecido impresso em 3D e possui um cinto e dois encaixes de coxas (um para cada membro). O dispositivo tem função de auxiliar na marcha e na aceleração do caminhar e foi testado em sessões com intervalos de três dias em um protocolo de treinamento e um dia de teste. O número total de sessões não foi descrito com clareza no estudo. O objetivo principal do estudo era avaliar o gasto metabólico de idosos com o uso do dispositivo Exoband.
No estudo de Suwannarat et al. (2021), foram incluídos idosos que utilizavam um andador, muletas e/ou bengala de ajuda pelo menos uma vez a cada duas semanas ou que não usavam andador em todos os momentos. Os autores testaram a capacidade de três testes que verificaram a confiabilidade de idosos andarem sem auxílio de tecnologias assistivas. Os testes realizados foram: teste do desempenho e equilíbrio, força muscular dos membros inferiores ao sentar e levantar e a velocidade de caminhada em um percurso de dez metros.
Grden et al. (2021), buscaram avaliar se o aumento do nível de fragilidade do idoso aumenta o uso de dispositivos de tecnologias assistivas.
Costa et al. (2022), avaliaram o Sistema SWalker, que é um sistema robótico de andador que auxilia na mobilidade por sustentar parte do peso do paciente e controlar a velocidade da marcha, para reabilitar pacientes idosos submetidos a cirurgia de quadril pós fratura comparado com a reabilitação convencional. As sessões de reabilitação com o Sistema SWalker e reabilitação convencional eram realizadas cinco dias por semana em sessões de 30 a 45 minutos. O objetivo do sistema é aumentar o peso corporal que o paciente poderia suportar nos membros inferiores durante a marcha e aumentar a velocidade de caminhada progressivamente. Lee et al. (2023), testaram um exoesqueleto robótico de quadril e um controle de feedback de saída retardado para fornecer assistência na marcha. O objetivo era verificar se o uso do exoesqueleto para caminhar seria eficaz na melhoria dos parâmetros espaço-temporais, cinemática, cinética, esforço muscular, demanda metabólica e função física de idosos em comparação ao exercício sem o exoesqueleto. O grupo intervenção recebeu o teste com o exoesqueleto em 18 sessões (6 semanas).
Liu et al. (2023), analisaram os parâmetros de marcha entre os idosos que usam bengala ou andador para subir e descer uma rampa. Os idosos foram colocados em um teste de caminhada de baixo para cima em declive.
O Quadro 1 resume os principais resultados dos estudos incluídos nesta revisão sobre o teste dos dispositivos.
Quadro 1. Principais resultados com o uso das tecnologias assistivas para pessoa idosa no auxílio da locomoção e marcha. Brasília, DF, 2024.
Autores (ano) | Tecnologia Assistiva para Marcha | Outros Resultados |
Koseki et al. (2019) | Honda Walking Assistive Device – Dispositivo robótico vestível para treinamento de marcha | A recuperação precoce da marcha e da função do quadril, e a consequente melhoria da independência do paciente, podem reduzir as internações hospitalares e a carga de cuidados de saúde. |
Panizzolo et al. (2019) | Dispositivo Exobanda – Para monitorar a intensidade relativa das tentativas de caminhada. | Redução da potência metabólica durante a caminhada em idosos com a assistência do Exoband, que aplica um torque na articulação do quadril, tornando a caminhada menos exigente em relação ao gasto de energia. |
Suwannarat et al. (2021) | Dispositivos de caminhada incluindo andador, muletas e/ou bengala | Os testes de desempenho e equilíbrio, força muscular dos membros inferiores ao sentar e levantar e a velocidade de caminhada em um percurso de 10 metros são bons para verificar a capacidade de idosos andarem sem auxílio. |
Grden et al. (2021) | Uso de bengala, muleta e andador | Os indivíduos que faziam uso de tecnologias assistivas obtiveram valores médios mais elevados na escala de fragilidade, quando comparados aos que não utilizavam. O escore médio de fragilidade entre os idosos que faziam uso de bengalas foi significativamente maior em comparação aos que não usavam. |
Costa et al. (2022) | SWalker (plataforma de reabilitação) | Houve um impacto substancial na capacidade motora dos sujeitos e força de membros inferiores derivada da reabilitação com SWalker quando comparado à reabilitação tradicional. |
Lee et al. (2023) | Exoesqueleto Robótico de Quadril – suporte de quadril vestível | O grupo experimental apresentou melhora significativa de alterações na força muscular do tronco e extremidades inferiores após o exercício do exoesqueleto, e as alterações na força muscular dos membros inferiores permaneceram significativas. Assim, o exoesqueleto, que fornece torque de assistência apenas à articulação do quadril, afeta não apenas a força da articulação dos músculos do quadril, mas também a força dos músculos do tronco e do tornozelo. |
Liu et al. (2023) | Bengala de ponta única e andador rolante | O uso do andador proporcionou maior velocidade no declive do que na caminhada ascendente, mas não houve diferença com o uso da bengala. A bengala melhorou a caminhada ascendente com aumento de velocidade e comprimentos de passada maiores. |
O dispositivo Honda Walking Assistive Device® é capaz de auxiliar em movimentos de extensão e flexão de quadril durante a caminhada de pacientes idosos submetidos a artroplastia total de quadril (Koseki et al, 2019). A paciente tinha dor e dificuldade na marcha para realizar atividades de vida diária, como tomar banho, uso de escadas, entrar ou sair do carro e fazer compras e o dispositivo facilitou a execução dessas atividades. Uma Exoband de quadril pode diminuir o gasto metabólico durante atividades que envolvem a marcha por idosos (Panizzolo et al, 2019).
Os resultados de Suwannarat et al. (2021) demonstraram que os testes de desempenho e equilíbrio, força muscular dos membros inferiores ao sentar e levantar e a velocidade de caminhada em um percurso de dez metros são bons para verificar a capacidade de idosos andarem sem auxílio.
Os idosos que usavam tecnologias assistivas obtiveram valores médios mais elevados na escala de fragilidade, quando comparados aos que não utilizavam. O estudo encontrou resultado estatisticamente significativo de uso de bengala em relação ao aumento do nível de fragilidade do idoso. O uso de muleta e andador não tiveram associação significativa com o nível de fragilidade do idoso (Grden, 2021).
O Sistema SWalker diminuiu em um terço o número de sessões de reabilitação necessárias para idosos após cirurgia de fratura de quadril. Os pacientes que fizeram reabilitação convencional precisaram de cerca de 120 dias para conseguir deambular com segurança, enquanto os pacientes que usaram o Sistema SWalker conseguiram deambular em torno de 67 dias (Costa, 2022).
O exoesqueleto robótico para auxílio na marcha demonstrou um resultado positivo nos parâmetros de espaço-temporais da marcha, cinemática, cinética e força muscular do tronco e extremidades inferiores comparado aos idosos que não fizeram uso do equipamento. O esforço da musculatura dos membros inferiores também foi menor para os idosos que receberam o auxílio do dispositivo robótico (Lee et al, 2023).
Sobre resultados de autonomia e independência, apenas dois estudos apresentaram dados, sendo eles Koseki et al. (2019), o qual encontrou que o uso do dispositivo melhorou as atividades de vida diária dos idosos e melhorou precocemente a marcha de pacientes submetidos à Artroplastia Total de Quadril, e Costa et al (2022), que concluiu que o Sistema SWalker melhorou em 90% a recuperação da deambulação, e os pacientes podiam caminhar em ambientes internos e externos e subir escadas ocasionalmente. Em relação a melhora da qualidade de vida, apenas Koseki et al. (2019) relatou que o dispositivo proporcionou melhora no alívio da dor e na função da articulação do quadril, com impacto positivo na qualidade de vida.
5 DISCUSSÕES
Esta revisão integrativa demonstrou que os principais dispositivos de tecnologia assistiva para marcha em idosos tem sido por meio do desenvolvimento e testes de adaptações robóticas. Outros estudos também têm testado o uso e funcionalidade da bengala, andador e muletas para a marcha da pessoa idosa.
No Brasil, o Ministério da Saúde oferece à população que necessita utilizar tecnologias assistivas de mobilidade opções variadas a fim de facilitar a realização das Atividades de Vida Diária, e assim promover independência, autonomia e qualidade de vida (Brasil, 2016). Dentre os itens disponibilizados para locomoção estão: cadeira de rodas, andadores, próteses, entre outros itens. De acordo a Lei nº 13.146 (Brasil, 2015):
“Tecnologia assistiva ou ajuda técnica são produtos, equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivem promover a funcionalidade, relacionada à atividade e à participação da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, visando à sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social”.
A partir do que é exposto pela legislação brasileira e também pela Classificação Internacional de Funcionalidade, o conceito de tecnologia assistiva é todo recurso que promove funcionalidade, autonomia, independência, inclusão social e qualidade de vida da pessoa incapacitada. Diante disso, vamos desde tecnologias assistivas de menor custo, como adaptações ou bengalas, até tecnologias de maior custo como softwares e robôs.
Os artigos selecionados incluem cinco artigos que mostram tecnologias robóticas, ou seja, tecnologias assistivas de alto custo, e apenas dois trouxeram bengala e andador como tecnologia assistiva de locomoção. É possível perceber a falta de estudos na área das tecnologias assistivas mais acessíveis à toda população. Salienta-se que processos de reabilitação não faziam parte do escopo do estudo, porém é importante informar que nesta pesquisa foram encontrados artigos com associação das tecnologias assistivas robóticas para este fim.
No estudo de Koseki et al. (2019), foram apresentados dados relacionando a redução dos custos hospitalares e de cuidados de enfermagem para as atividades básicas dos pacientes que fizeram uso da tecnologia assistiva para reabilitação da marcha, em função da recuperação da marcha e consequentemente da funcionalidade. O impacto das tecnologias assistivas robóticas na reabilitação da marcha foi notório, uma vez que está se deu de maneira mais rápida e substancial quando comparada com processos de reabilitação tradicionais (Costa, 2022). Desse modo, observa-se que as tecnologias robóticas apresentam resultados significativos e talvez por isso tenham sido mais estudadas e pesquisadas, no entanto, ainda se faz necessário e imprescindível o estudo e pesquisas das tecnologias de menor custo devido sua maior facilidade de acesso à população.
Todas as tecnologias assistivas encontradas nos estudos auxiliaram na marcha das pessoas idosas, mostrando melhora no desempenho desta atividade em diferentes aspectos. Não foram encontradas ligações totalmente diretas na maioria dos artigos do uso da tecnologia assistiva com a autonomia, independência e qualidade de vida das pessoas idosas. Porém é esperado que haja esse impacto tendo em vista que a marcha possibilita atividades de vida diária, de socialização, de lazer, etc.
No que se refere à autonomia, os estudos demonstram que ainda existe resistência por parte de alguns idosos ao uso das tecnologias assistivas de locomoção por mostrar explicitamente suas incapacidades, o que reforça a importância da avaliação e prescrição adequadas de uma tecnologia assistiva, além do acompanhamento, treinamento de uso, e suporte para melhor aceitação do recurso. O idoso realiza a associação do uso do dispositivo de mobilidade com uma imagem de incapaz, dependente (Grden, 2021). Esta é uma área que necessita de mais estudos e pesquisas.
Dados sobre a falta de capacitação e/ou do “olhar” do profissional de saúde para o idoso que faz uso das tecnologias assistivas com objetivo de manter sua funcionalidade, independência e autonomia foram apresentados em alguns estudos. É de extrema e fundamental importância que o profissional de saúde faça uma correta e adequada triagem dos idosos, especialmente em condição de fragilidade, que façam uso dessas tecnologias assistivas para acompanhar e monitorar sua utilização e auxiliar na garantia da prevenção da perda funcional (Grden, 2021). O progresso no conhecimento e na inserção do conteúdo de tecnologia assistiva na vida dos profissionais se dá de forma lenta (Alves, 2009). É preciso trazer mais o assunto das tecnologias assistivas para o dia a dia dos profissionais que atuam com a população idosa, não somente durante sua formação.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebe-se a escassez de estudos nos últimos anos acerca das tecnologias assistivas de locomoção acessíveis à população, como andadores, bengalas e muletas, e o impacto que o auxílio destes recursos de independência traz para a qualidade de vida da pessoa idosa. Espera- se a amplificação destas tecnologias e de estudos que falem sobre todo processo envolvido, desde a prescrição, avaliação, treino e o seu impacto nas atividades de vida diária com melhora da independência e da autonomia.
Ainda há muito o que ser estudado e difundido acerca das tecnologias assistivas de locomoção especialmente relacionadas à pessoa idosa. As principais limitações deste estudo foram a falta de informações detalhadas sobre o teste das tecnologias assistivas utilizadas. Foram encontrados poucos dados sobre melhora da independência para marcha e de melhora na qualidade de vida, o que dificultou a resposta do nosso objetivo secundário. Por isso, sugere- se que mais estudos com teste de dispositivos robóticos ou de bengala, andador e muletas avaliem também a percepção da pessoa idosa sobre sua independência e autonomia para marcha e sobre o impacto na qualidade de vida.
REFERÊNCIAS
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1 Discente do Curso de Pós-Graduação em Gerontologia pela Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciência e Saúde (FEPECS) Campus Brasília, e-mail: andressa@escs.edu.br
2 Discente do Curso de Pós-Graduação em Gerontologia pela Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciência e Saúde (FEPECS) Campus Brasília, e-mail: clarice@escs.edu.br
3 Discente do Curso de Pós-Graduação em Gerontologia pela Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciência e Saúde (FEPECS) Campus Brasília, e-mail: beatriz@escs.edu.br
4 Docente do Curso de Pós Graduação em Gerontologia pela Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciência e Saúde (FEPECS) Campus Brasília, e-mail:sylvia@escs.edu.br
5 Docente do Curso de Pós Graduação em Gerontologia pela Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciência e Saúde (FEPECS) Campus Brasília, roberta@escs.edu.br