THE NEED FOR A MULTIDISCIPLINARY APPROACH IN CASES OF INFECTIOUS UVEITIS
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202502261650
Felipe Lima da Silva
Victor Pires Faria
Prof. Dr. Luís Henrique Conde Sangenis
Prof. Me. Miguel Allemand Zaidan
RESUMO
O presente trabalho aborda a política nacional de acesso à saúde garantida pela Constituição Federal de 1988 e pela Carta dos Direitos dos usuários do SUS, enfatizando o direito ao tratamento adequado, organizado e humanizado. No contexto das doenças infecto-parasitárias predominantes no Brasil, a uveíte, uma inflamação do trato uveal, se destaca como uma sequela prevalente e uma das principais causas de cegueira, além de ser um diagnóstico comum em pacientes que frequentam centros de reabilitação visual. O desenvolvimento de uveíte em pacientes acometidos por doenças infecto-parasitárias é frequente, o que torna essencial a atenção médica multidisciplinar. A uveíte pode acometer todas as faixas etárias, o que ressalta a importância de encaminhar e acompanhar pacientes com doenças infecciosas que possam desencadeá-la. O trabalho busca enfatizar a necessidade de uma maior adesão dos profissionais de saúde na identificação precoce e no encaminhamento desses pacientes ao oftalmologista, visando reduzir as complicações oftalmológicas e melhorar a qualidade do tratamento, por meio de uma abordagem integrada e preventiva.
Palavras-chave: Uveíte; endoftalmite infecciosa; cegueira.
ABSTRACT
This work addresses the national policy on access to health guaranteed by the 1988 Federal Constitution and the Charter of Rights for SUS users, emphasizing the right to adequate, organized and humanized treatment. In the context of infectious-parasitic diseases prevalent in Brazil, uveitis, an inflammation of the uveal tract, stands out as a prevalent sequelae and one of the main causes of blindness, in addition to being a common diagnosis in patients attending visual rehabilitation centers. The development of uveitis in patients affected by infectious-parasitic diseases is common, which makes multidisciplinary medical care essential. Uveitis can affect all age groups, which highlights the importance of referring and monitoring patients with infectious diseases that may trigger it. The work seeks to emphasize the need for greater adherence by healthcare professionals in the early identification and referral of these patients to an ophthalmologist, aiming to reduce ophthalmological complications and improve the quality of treatment, through an integrated and preventive approach.
Keywords: Uveitis; infectious endophthalmitis; blindness.
RESUMEN
Este trabajo aborda la política nacional de acceso a la salud garantizada por la Constitución Federal de 1988 y la Carta de Derechos de los usuarios del SUS, enfatizando el derecho a un trato adecuado, organizado y humanizado. En el contexto de enfermedades infecciosas-parasitarias prevalentes en Brasil, la uveítis, inflamación del tracto uveal, se destaca como una secuela prevalente y una de las principales causas de ceguera, además de ser un diagnóstico común en pacientes que frecuentan centros de rehabilitación visual. El desarrollo de uveítis en pacientes afectados por enfermedades infecciosas-parasitarias es frecuente, lo que hace imprescindible la atención médica multidisciplinar. La uveítis puede afectar a todos los grupos de edad, lo que resalta la importancia de derivar y monitorear a los pacientes con enfermedades infecciosas que puedan desencadenar. El trabajo busca enfatizar la necesidad de una mayor adherencia de los profesionales de la salud en la identificación temprana y derivación de estos pacientes al oftalmólogo, con el objetivo de reducir las complicaciones oftalmológicas y mejorar la calidad del tratamiento, a través de un abordaje integrado y preventivo.
Palabras-clave: Uveítis; endoftalmitis infecciosa; ceguera.
1. INTRODUÇÃO
Há uma grande variedade de doenças associadas a uveítes, porém as doenças infecto-parasitárias possuem um impacto significativo, em termos quantitativos, na saúde pública brasileira, onde a inflamação do trato uveal se caracteriza como um dos sintomas mais comuns entre elas. Por conseguinte, a uveíte infecciosa se mostra como um desafio médico interdisciplinar, o que cria a necessidade de que haja um esclarecimento entre todas as partes envolvidas sobre as causas, os sinais de alerta e as possíveis complicações secundárias que acometem o paciente.
A política nacional de acesso à saúde assegurada pela Constituição Federal de 1988 e pela Carta dos Direitos dos usuários do SUS compreendem o acesso ordenado e organizado; direito ao tratamento adequado e efetivo; atendimento humanizado (BRASIL, 2022).
No entanto, as doenças infecto-parasitárias que se mostram presentes em território nacional de forma avantajada acarretam diversos problemas para os usuários do Sistema Único de Saúde, de forma que no âmbito oftalmológico, a uveíte, de acordo com MARTINS et al. (2016) “uma importante causa de cegueira e um dos principais diagnósticos de pacientes que frequentam instituições para reabilitação visual”.
Nesse prisma, cabe salientar que a correlação entre uveíte e as doenças infecto-parasitárias são estreitas. Portanto, consideramos necessário atenção dos médicos de diversas especialidades, uma vez que esse agravo acomete todas as faixas etárias.
Além disso, uma parcela significativa da sociedade é acometida por doenças oftalmológicas, em especial a uveíte, devido a não consideração de encaminhar e acompanhar o paciente, que apresentou quadro infeccioso das principais patologias desencadeadoras de uveíte, ao oftalmologista. Nesse sentido, uma maior adesão e multidisciplinariedade no tratamento do paciente implica em redução das doenças que acometem o trato uveal.
O presente trabalho pretende tornar explícita a necessidade de encaminhar os pacientes acometidos por doenças infecto-parasitárias com potencial de causar uveíte ao oftalmologista. Nossa abordagem procura descrever as características da inflamação do trato uveal (uveíte) em casos de pacientes acometidos por doenças infecto-parasitárias e as possíveis complicações secundárias múltiplas.
A úvea corresponde à túnica vascular, cujo nome refere-se ao fato de ser altamente vascularizada. Ela é composta pela íris e pelo corpo ciliar (músculo e processos ciliares) em sua porção anterior. A íris modula a entrada de luz através do controle da abertura do orifício pupilar, enquanto os processos ciliares produzem o humor aquoso e o músculo ciliar permite ajustar o foco da visão e manter a nitidez. Mais posteriormente, há a coroide, maior estrutura do trato, situada entre a esclera e a retina, responsável por nutrir a retina nervosa, que capta a luz e a transforma em estímulos neurais para que haja o reconhecimento visual pelo cérebro. Embora não sejam consideradas parte do trato diretamente, a retina e o humor vítreo podem ser afetados pelas inflamações do trato, por sua proximidade.
A classificação anatômica corresponde ao sítio primário da inflamação. Logo, classificamos a uveíte em anterior, quando acomete a câmara anterior da úvea, normalmente a íris e os músculos esfíncteres pupilares e radias, e inclui a irite, ciclite anterior e iridociclite. A uveíte intermediária acomete o vítreo, onde se destacam hialite e ciclite posterior, e as uveítes posteriores acometem a retina e o coroide, que podem apresentar coroidite, coriorretinite, retinite e neurorretinite. Chamamos de panuveíte quando a uveíte é difusa e não há predominância de sítio de inflamação. Originalmente proposta pelo Grupo Internacional de Estudos sobre Uveíte (IUSG), em 1987, essa ainda é a classificação mais aceita entre os oftalmologistas, até os dias atuais, em que o objetivo principal é auxiliar na avaliação, diagnóstico e conduta do paciente. Ainda existem outras classificações que dependem da duração, curso clínico e etiologia (ORÉFICE et al, 2016), mas as duas primeiras não são necessárias para entender o acometimento inicial das estruturas oculares e já definimos a etiologia infecciosa como tema do presente trabalho.
A uveíte infecciosa se diferencia dos outros tipos por apresentar um agente etiológico parasitário, seja vírus, bactéria ou fungo. A presença do patógeno estimula uma resposta imunológica e o consequente processo inflamatório. Assim que for eliminado, a resposta imune cessa e o processo de reparo tecidual é iniciado, uma vez que a inflamação danifica as estruturas que foram infectadas, sendo que “as principais enfermidades causadas por esse tipo de inflamação são a necrose retiniana aguda e a retinocoroidite fúngica” (ORÉFICE et al, 2016).
Os grupos mais comumente afetados por uveíte infecciosa são adultos entre 20 e 50 anos de idade. Não foi encontrada grande discrepância entre os gêneros e os trabalhos sobre a relação entre exposição microbiana e hormônios sexuais ainda estão sendo desenvolvidos. As diferenças geográficas e a etiologia parecem ser o principal causador de divergência de dados sobre a prevalência populacional da uveíte infecciosa, visto que, mundialmente, a uveíte anterior é o achado mais comum de inflamação intraocular, porém, em países em desenvolvimento, a uveíte posterior se mostrou mais prevalente (TSIROUKI et al, 2018).
Estudos indicam que a uveíte infecciosa seja a principal etiologia em países em desenvolvimento (TSIROUKI et al, 2018). A causa mais comumente encontrada na América do Sul foi a toxoplasmose (MORAES et al, 2022). Toxoplasma gondii também foi identificado como maior causador de uveíte posterior, que se demonstrou a principal forma anatômica de uveíte infecciosa em diferentes centros hospitalares de referência no Brasil. Tuberculose, sífilis e herpes também foram agentes etiológicos frequentemente encontrados. (TEIXEIRA et al, 2016).
Foram escolhidos os principais agentes infecciosos com base em 3 diferentes estudos epidemiológicos (“Infectious uveitis: An enigma”, “A Focus on the Epidemiology of Uveitis” e “Causes and characteristics of uveitis cases at a reference university hospital in Rio de Janeiro, Brazil”) que classificaram as etiologias de uveítes infecciosas mais prevalentes nos países em desenvolvimento: toxoplasmose, tuberculose, sífilis e herpes.
A toxoplasmose se destaca por ser a causa de uveíte infecciosa, especialmente posterior, mais prevalente na América do Sul (TSIROUKI et al, 2018), além de ser uma importante causa de cegueira bilateral (BOSCH-DRIESSEN, 2002). Já a tuberculose, que, ao afetar os olhos, é denominada tuberculose extrapulmonar ocular (TEO), é caracterizada pela sua capacidade de acometer todo o trato uveal, podendo acarretar em uveíte anterior, intermediária, posterior e panuveíte, sendo as duas últimas as mais comuns. Sua via de disseminação principal é a hematogênica. (RATHINAM, S, 2023).
Em casos de sífilis, tanto a infecção congênita quanto a adquirida podem acarretar no desenvolvimento de um quadro de uveíte, que só se apresenta a partir da etapa secundária da infecção. Existe a possibilidade de acometimentos posteriores, mas a uveíte anterior é a mais comum (MAJUMDER, P. D. et al, 2017), onde a biomicroscopia é o método diagnóstico capaz de discernir qual segmento ocular foi acometido. Recomenda-se pesquisa de sífilis em pacientes com uveíte anterior e posterior sem resposta à corticoterapia, com histórico de ISTs, inflamações intraoculares inexplicáveis, coinfecção com HIV, neurite óptica e anormalidades pupilares. (ORÉFICE et al., 2016).
A uveíte herpética pode ser causada pelo vírus do herpes simples (HSV), da varicela zoster (VZV) e citomegalovírus (CMV) e acomete o segmento anterior da úvea, principalmente. O diagnóstico é essencialmente clínico e lesões de pele – especialmente na ponta do nariz, o sinal de Hutchinson – e da córnea sugerem a etiologia herpética (MAJUMDER et. al., 2017).
Embora não tão comum, ainda há outras doenças infecto-parasitárias prevalentes no território brasileiro capazes de acarretar o desenvolvimento de um quadro de uveíte. A toxocaríase, especialmente na forma de larvas migrans visceral, é capaz de provocar endoftalmite e formação de granulomas intraoculares, especialmente em crianças (WELLER et al, 2018). A esquistossomose hepatoesplênica induz inflamação granulomatosa no fígado e baço, mas pode também acometer os olhos. Além delas, a leptospirose pode provocar dor ocular, fotofobia e hiperemia ocular. A hanseníase provoca lesões oculares que deixam de ser diagnosticadas frequentemente. O vírus da zika gera achados oculares, mas que, geralmente, melhoram junto do quadro geral do paciente (ORÉFICE et al., 2016).
“Paciente com diagnóstico de uveíte, deve sempre ser questionado a respeito de doenças sistêmicas, pois estas estão muitas vezes relacionadas” (ORÉFICE et al., 2016). Os aspectos geográficos, tais como moradia e procedência, podem auxiliar no diagnóstico pela existência de áreas endêmicas de doenças infecto-parasitárias, bem como a profissão e idade fornecem detalhes sobre a maneira como o paciente interage com o ambiente e sua exposição ao agente etiológico. A anamnese da uveíte infecciosa deve contemplar história familiar e a possibilidade de transmissão congênita de doenças como toxoplasmose e HIV. O paciente deve ser questionado sobre a atividade sexual, pela possibilidade de ter contraído ISTs, além de outras doenças sistêmicas, como tuberculose. Deve ser avaliado, também, o tratamento farmacológico de outros sintomas prévios e a eficácia da resposta ao tratamento. Por fim, a história social também é contribuinte, visto que populações carentes são mais propensas a surtos de doenças infecto-parasitárias, pela ausência de saneamento básico adequado, coleta de esgoto, água tratada e informações sobre a contaminação.
“Em grande parte das uveítes, a etiologia é identificada pelo exame clínico e confirmada laboratorialmente” (ORÉFICE et al., 2016). A fundoscopia, ou exame de fundo de olho, é um exame não invasivo, que permite ao oftalmologista reconhecer o padrão e os acometimentos anatômicos e fisiológicos principais da lesão da úvea, além de nortear o tratamento da inflamação. Entretanto, existem casos em que o paciente não responde ao tratamento tópico da lesão ocular, em que é necessário o uso de outros métodos para definir o agente etiológico é a melhor abordagem terapêutica. A vitrectomia diagnóstica, embora não seja empregada na prática diária clínica, é útil para diagnóstico de inflamações oculares do segmento posterior. É um procedimento cirúrgico e invasivo, onde se utiliza de uma seringa para aspirar humor vítreo. Se não estiver diluído, ele é utilizado no PCR e no estudo citopatológico, além da análise microbiológica. Porém, se estiver diluído, ele é encaminhado para cultura microbiológica e citometria de fluxo. O material colhido ainda pode ser utilizado para biópsia. (ORÉFICE, F. et al, 2016)
O tratamento de doenças infecto-parasitárias é sistêmico. Costuma-se utilizar uma associação de antibioticoterapia, mas o tratamento sintomático, como antitérmicos, hidratação, também é presente em algumas etiologias. Entretanto, nem todos os medicamentos atingem concentração terapêutica a nível ocular, além da chance de persistência da uveíte, em suas formas crônica e recorrente, após o fim do tratamento – achado comum em pacientes que já manifestaram toxoplasmose ocular. Logo, é necessária a medicação tópica.
Enquanto “os AINES (anti-inflamatórios não esteroidais) ainda mostram uma ação terapêutica discreta e limitada”, os corticosteroides são empregados usualmente no tratamento específico para uveíte, à medida que “praticamente todos os tecidos têm receptores para esteroides”. “A dose ideal a ser utilizada deve ser a menor possível, por um curto período e que garanta uma resposta clínica desejada” e ela deve ser “baseada no peso do paciente (…) gravidade da doença, doenças associadas, tempo de tratamento e riscos de efeitos adversos” (ORÉFICE et al., 2016). Além da via tópica ocular, podem ser usados de maneira sistêmica (intravenosa e oral), mas as vias periocular e intravítrea “estão absolutamente contraindicadas nas uveítes infecciosas” (ORÉFICE et al., 2016).
Há também a possibilidade do uso de agentes midriáticos e cicloplégicos (adrenérgicos e anticolinérgicos). Esses promovem dilatação da pupila e vasoconstrição, além de atuarem sobre os músculos oculares e são amplamente utilizados em conjunto aos corticosteroides para reduzir a resposta inflamatória local e prevenir a formação de sinequias posteriores (ORÉFICE et al, 2016).
Cada via é escolhida baseada nos parâmetros pré-estabelecidos sobre a doença, como a área de atuação e progressão da doença. Por exemplo, a via tópica ocular é mais eficaz em uveítes do segmento anterior, enquanto a via sistêmica é utilizada para uveítes graves e via periocular é desejada para combater doenças da coroide. Os efeitos colaterais são outro critério norteado quando se deve escolher entre as formas de administração, mas isso ocorre também pela diferença da predileção de medicamentos de cada via, que podem causar hipertensão arterial, elevação da pressão intraocular, susceptibilidade a infecção corneana, entre outras (ORÉFICE et al, 2016).
A uveíte é sempre um acometimento visual. É possível que haja aumento da pressão intraocular (normalmente relacionada a uma vasculite ou ao uso dos corticosteroides), estrabismo e sinéquias, mas o sintoma mais presente é a perda da acuidade visual. Essa perda pode aparecer como uma visão embasada em quadros leves ou até cegueira, total e permanente, em casos mais graves. A cegueira apresenta-se como a complicação mais grave da uveíte e pode ocorrer diretamente em função da inflamação não tratada, edema macular (PAPALIODIS et al., 2023) ou de entidades secundárias associadas como o glaucoma e a catarata (ORÉFICE et al., 2016).
2. METODOLOGIA
O trabalho caracteriza-se por ser uma revisão bibliográfica narrativa, de caráter descritivo, no qual foi feita a partir de referências teóricas analisadas e publicadas em artigos científicos, documentos de órgãos governamentais e literaturas específicas da área abordada. Para esta revisão, foi realizada busca de textos e artigos científicos nas plataformas de bases de dados Google Acadêmico, SciELO e PubMed.
Os artigos utilizados foram publicados entre os anos de 2011 e 2023, nos idiomas português e inglês. Três fontes bibliográficas utilizadas foram publicadas anteriormente a esse período (“Guia de Oftalmologia”, “International Uveitis Study Group recommendations for the evaluation of intraocular inflammatory disease” e “Ocular toxoplasmosis: clinical features and prognosis of 154 patients”), entretanto, elas foram utilizadas somente para auxílio conceitual durante as pesquisas. Para a inclusão nas bases de dados, foram aplicados os descritores “Uveíte”, “Uveíte Posterior”, “Toxoplasmose Ocular”, “Tuberculose Ocular”, “Sífilis”, “Herpes”, “Uveíte Epidemiologia”, “Uveíte Infecciosa”. Ao consultar os descritores de interesse na base de dados, o número total de estudos apresentados no período de 2011 a 2023 foi de 47275 resultados, sendo PubMed (25517), Scielo (158) e Google acadêmico (21600). Foram descartados os artigos que constavam apenas resumos, com amostragens inferiores a 100 pacientes , desatualizados, trabalhos com baixa evidência científica e que não estavam dentro dos descritores utilizados.
3. RESULTADOS PARCIAIS
Foram selecionados 8 artigos, dentre as pesquisas realizadas no Google Acadêmico, Pubmed, Scielo e UpToDate. Os artigos contemplados foram publicados entre 2011 e 2023. Buscou-se eleger artigos atualizados, onde foram privilegiados os artigos que contemplassem a meta-análise, estudos retrospectivos e revisões sistemáticas, haja vista a importância de retratar a realidade da avaliação oftalmológica brasileira em casos de uveítes causadas por doenças infecciosas. Além disso, selecionou-se cinco livros de grande referência (“Clínica Médica, Volume 6: Doenças dos Olhos, Doenças dos Ouvidos, Nariz e Garganta, Neurologia, Transtornos Mentais”, “Guia de oftalmologia”, “Oftalmologia – Ciências Básicas”, “Reabilitação em oftalmologia” e “Uveítes”), de vasta relevância para a compreensão anatômica, fisiopatológica e etiológica do acometimento do trato uveal.
Tabela 1: Resultado da análise dos artigos
Autor/Ano Título Local de publicação/ Idioma Conteúdo BLOCH-MICHEL, E.; NUSSENBLATT, R. B. (1987) International Uveitis Study Group recommendations for the evaluation of intraocular inflammatory disease.BRASIL. Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2023 American Journal of Ophthalmology. EUA. Inglês. O artigo é pioneiro ao sugerir a classificação anatômica das uveítes. BOSCH-DRIESSEN, L. E. H. et al. (2002) Ocular toxoplasmosis: clinical features and prognosis of 154 patients. Ophthalmology. EUA. Inglês. O artigo selecionado tem a proposta de determinar as taxas de recorrência e o resultado visual dos pacientes que apresentam toxoplasmose ocular BRASIL. (2023) Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde. Ministério da Saúde, Brasil. Português. O documento expõe os direitos à saúde de todos os cidadãos brasileiros garantidos pela constituição. CIFUENTES-GONZÁLEZ, C. Et al. (2023) Risk factors for recurrences and visual impairment in patients with ocular toxoplasmosis: A systematic review and meta-analysis Plos One, EUA. Inglês. O artigo tem o objetivo de evidenciar os fatores clínicos mais vistos em pacientes com toxoplasmose ocular HADDAD, M. A. O.; SAMPAIO, M. W.; JR., R. S. (2020) Reabilitação em oftalmologia Editora Manole, Brasil.Português O livro apresenta informações sobre o tratamento de diferentes condições visuais MAJUMDER, P. T. et al. (2017) Infectious uveitis: An enigma. Middle East African Journal of Ophthalmology, Arábia Saudita.Inglês O artigo aborda as doenças infecciosas que causam uveíte, além disso, elenca essas causas em grau de prevalência nos países em desenvolvimento. MARTINS, M. De A. et al. (2016) Clínica Médica, Volume 6: Doenças dos Olhos, Doenças dos Ouvidos, Nariz e Garganta, Neurologia, Transtornos Mentais. Editora Manole, Brasil.Português A obra trata-se de um livro de clínica médica que aborda as doenças que acometem os olhos, ouvidos, nariz, garganta, neurologia e os transtornos mentais MORAES, H. M. V. De et al. (2022). Causes and characteristics of uveitis cases at a reference university hospital in Rio de Janeiro, Brazil. Arquivos Brasileiros de Oftalmologia O artigo trata-se de um estudo epidemiológico sobre uveítes no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, que definem as causas de uveítes mais frequentes ORÉFICE, F et al. (2016). Uveítes Editora Cultura Médica, Brasil.Português O livro mostra-se completo no que tange a abordagem sobre o que é, quais sãos as causas, as consequências, complicações e tratamento das uveítes PAPALIODIS, G. N. (2023) Uveitis: Treatment UpToDate, EUA.Inglês O artigo discute as manifestações clínicas, métodos de diagnóstico, tratamento e o prognóstico de casos de uveíte de diferentes etiologias PUTZ, C. (2017) Oftalmologia – Ciências Básicas Grupo GEN, Brasil. Português O livro faz uma abordagem geral e específica da anatomia, fisiologia, histologia, imunologia, embriologia e farmacologia no estudo da oftalmologia RATHINAM, S. R. (2023) Tuberculosis and the eye UpToDate, Índia.Inglês O artigo apresenta um panorama completo das causas, consequências e tratamento das uveítes provocadas por tuberculose SCHOR, P. (2004) Guia de oftalmologia Editora Manole, Brasil.Português O livro permite o entendimento de cada afecção ocular e engloba aspectos de fisiopatologia, sinais e sintomas, e tratamentos específicos TEIXEIRA, L. P. et al. (2016) Estudo da prevalência das uveítes em hospital oftalmológico terciário em Teresina, Piauí, Brasil. Revista Brasileira de Oftalmologia, Brasil.Português O artigo é um estudo retrospectivo que analisa prontuários de pacientes com diagnóstico de uveíte em um hospital oftalmológico em Teresina, Piauí, para determinar a prevalência etiológica da doença. TSIROUKI, T. et al. (2016) A focus on the epidemiology of uveitis. Ocular immunology and inflammation Ocular immunology and inflammation, Inglaterra. Inglês Trata-se de um artigo que apresenta os focos de doenças infecciosas que causam uveíteno mundo inteiro WELLER, P. F.; LEDER, K. (2018) Toxocariasis: Visceral and ocular larva migrans. UpToDate, EUA. Inglês O artigo apresenta a infecção por toxocaríase e suas manifestações clínicas, que incluem larva migrans visceral (LMV), larva migrans ocular (LMO) e comprometimento neurológico raro
4. DISCUSSÃO
A análise dos resultados desta revisão bibliográfica destaca a necessidade urgente de uma abordagem multidisciplinar no manejo da uveíte infecciosa, especialmente considerando a correlação significativa entre a uveíte e as doenças infecto-parasitárias prevalentes no Brasil. Os achados indicam que a uveíte é uma das principais causas de cegueira, conforme apontado por MARTINS et al. (2016), o que reforça a urgência de um atendimento integrado entre profissionais de diferentes especialidades.
Comparando nossos resultados com a literatura existente, notamos que a maioria dos estudos revisados, como os de Cifuentes-González et al. (2023) e Papaliodis (2023), também enfatizam a importância do diagnóstico precoce e do encaminhamento adequado de pacientes com doenças infecciosas que podem desencadear uveíte. Essas pesquisas corroboram a necessidade de uma melhor comunicação e colaboração entre médicos de diferentes especialidades, a fim de otimizar o cuidado ao paciente.
Entretanto, é crucial reconhecer as limitações do método adotado nesta revisão. A seleção de artigos pode ter sido influenciada pela disponibilidade de publicações recentes, resultando em uma possível sub-representação de estudos mais antigos que também poderiam oferecer insights valiosos. Além disso, a exclusão de artigos com amostras menores que 100 pacientes pode ter restringido a abrangência dos dados analisados. Para contornar essas limitações, priorizamos a inclusão de meta-análises e revisões sistemáticas, que fornecem uma visão mais robusta da prevalência e do manejo da uveíte infecciosa.
Os achados deste trabalho se relacionam com o conhecimento relevante na área, destacando a importância de uma abordagem integrada que contemple tanto o tratamento da uveíte quanto a gestão das condições infecciosas subjacentes. Isso não apenas melhora a qualidade do atendimento, mas também tem o potencial de reduzir a incidência de complicações oftalmológicas e, por consequência, de cegueira.
Em suma, esta discussão evidencia a necessidade de um maior comprometimento dos profissionais de saúde na identificação precoce e no encaminhamento dos pacientes com uveíte infecciosa, enfatizando a relevância de uma abordagem multidisciplinar. Sugere-se que futuras pesquisas explorem modelos de colaboração entre especialidades médicas para desenvolver protocolos de encaminhamento mais eficazes, a fim de melhorar os resultados clínicos e a qualidade de vida dos pacientes.
REFERÊNCIAS
BLOCH-MICHEL, E.; NUSSENBLATT, R. B. International Uveitis Study Group recommendations for the evaluation of intraocular inflammatory disease. Am J Ophthalmol, v. 103, p. 234-235, 1987.
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CIFUENTES-GONZÁLEZ, C. et al. Risk factors for recurrences and visual impairment in patients with ocular toxoplasmosis: A systematic review and meta-analysis. Plos one, v. 18, n. 4, p. e0283845, 2023.
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