REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8074994
Luis Henrique de Lima
Renan Guilherme Fantin
RESUMO
O presente estudo teve por objeto verificar as mudanças nos níveis de atividade física e da composição corporal de alunos do Curso de Formação de Praças (CFP) 2022/2023, do 1º Batalhão de Polícia Militar da PMPR, em Ponta Grossa, PR. A amostra foi composta por 84 policiais militares (60 homens e 24 mulheres), (26,33±3,75 anos; 69,74±12,56 kg; 23,43±3,06 IMC – dados iniciais); todos alunos do CFP do 1º BPM. Os participantes foram submetidos à aplicação do Questionário Internacional de Atividade Física – IPAQ versão curta, coleta de dados para cálculo percentual de gordura e Índice de Massa Corporal (IMC). Os resultados obtidos evidenciaram percentual médio de gordura inicial de 19,43 ± 5,10 e final de 16,69 ± 5,37; IMC médio inicial de 23,43 ± 3,06 e final de 23,68 ± 2,83; e em relação ao IPAQ versão curta, 71,43% apresentou níveis de atividade física iniciais “Muito Ativos” e ao final os “Muito Ativos” totalizaram 28,57% e os “Ativos” totalizaram 64,3%. Houve uma redução de percentual de gordura de 2,74 ± 0,27; aumento de IMC de 0,25 ± 0,23 e uma redução no nível de atividade física pela maioria da amostra que passou de “Muito ativo” para “Ativo”. Conclui-se que a composição corporal dos alunos foi alterada, com provável aumento de massa magra, porém com redução dos níveis de atividade física. Trata-se de um tema a ser explorado pelas instituições policiais visando a melhoria dos modelos de treinamento físico militar durante a formação e o aprimoramento da cultura da prática de atividade física durante toda a vida pessoal e profissional do militar estadual.
Palavras-chave: Atividade física, composição corporal, policial militar, treinamento físico.
ABSTRACT
The present study aimed to verify the changes in the levels of physical activity and body composition of students of the Training Course for Squares (CFP) 2022/2023, of the 1st Military Police Battalion of the PMPR, in Ponta Grossa, PR. The sample consisted of 84 military police officers (60 men and 24 women), (26.33±3.75 years; 69.74±12.56 kg; 23.43±3.06 BMI – initial data); all CFP students of the 1st BPM. The participants were submitted to the application of the International Physical Activity Questionnaire – IPAQ short version, data collection for calculating the percentage of fat and Body Mass Index (BMI). The results obtained showed an average initial fat percentage of 19.43 ± 5.10 and a final one of 16.69 ± 5.37; mean initial BMI of 23.43 ± 3.06 and final BMI of 23.68 ± 2.83; and in relation to the IPAQ short version, 71.43% presented initial levels of physical activity “Very Active” and at the end the “Very Active” totaled 28.57% and the “Active” totaled 64.3%. There was a percentage reduction of fat of 2.74 ± 0.27; increase in BMI of 0.25 ± 0.23 and a reduction in the level of physical activity by the majority of the sample that went from “Very active” to “Active”. It was concluded that the students’ body composition was altered, with a probable increase in lean body mass, but with a reduction in physical activity levels. This fact is a theme to be explored by police institutions to improve models of military physical training during training and improvement of the culture of physical activity throughout the personal and professional life of the state military.
Keywords: Physical activity, body composition, military police, physical training.
1 INTRODUÇÃO
O 1º Batalhão de Polícia Militar (1º BPM) da Polícia Militar do Paraná (PMPR) pertence ao 4º Comando Regional de Polícia Militar (4º CRPM), está sediado na cidade de Ponta Grossa, e é responsável pelo policiamento ostensivo e repressivo de 7 municípios da região. Para realizar sua missão o 1º BPM conta com várias equipes das mais variadas modalidades de policiamento. No ano de 2022/23 realizou-se o Curso de Formação de Praças (CFP) no 1º BPM, o qual contou com 84 alunos, os quais foram amostra para o presente estudo.
Ao ingressarem no Curso de Formação de Praças da Polícia Militar do Paraná, os (as) alunos (as) naturalmente representam parcela da sociedade e portanto têm origens, hábitos e composições corporais variadas, adquiridas ao longo da vida civil. No transcorrer do curso de formação, a rotina e o nível de atividade física dos alunos é significativamente modificada em relação aos hábitos que possuíam antes do ingresso, em decorrência da rotina de estudo que abrange disciplinas teóricas, práticas e estágios administrativos e operacionais. Dentre estas atividades se inclui o Treinamento Físico Militar.
Diante disso, questionou-se como a mudança do estilo de vida do policial militar em formação e o nível de atividade física pode causar alterações em sua composição corporal? O treinamento físico militar desenvolvido durante o período de formação, assim como as mudanças no estilo de vida decorrentes desse período são capazes de gerar significativas alterações na composição corporal dos alunos?
Dentro das hipóteses levantadas, existem alterações benéficas ou prejudiciais na composição corporal dos alunos, causadas principalmente pelo nível de atividade física e mudança na rotina. É evidente a importância de conhecer as mudanças antropométricas ocorridas nos alunos do CFP, a fim de possibilitar uma melhor análise do método de ensino atual e o desenvolvimento das atividades escolares, visando um melhor aproveitamento da formação policial militar para o aluno.
O objetivo geral do estudo foi avaliar as mudanças na composição corporal dos alunos do Curso de Formação de Praças, no início e ao final do curso, relacionando as alterações com as mudanças dos níveis de atividade física. Como objetivos específicos, o estudo buscou mensurar as alterações do nível de atividade física dos alunos e avaliar as alterações da composição corporal dos alunos.
2 METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo, pois quanto aos seus objetivos busca a descrição das características de determinada população ou fenômeno, ou o estabelecimento de relações entre variáveis, e uma de suas características mais significativas aparece na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados. (GIL, 1999). De igual modo, para Vergara (2000,p. 47) a pesquisa descritiva expõe as características de determinada população ou fenômeno, estabelece correlações entre variáveis e define sua natureza.
Quanto a sua abordagem ou natureza, trata-se de um estudo quantitativo, pois busca-se a validação das hipóteses mediante a utilização de dados estruturados, estatísticos, com análise de um grande número de casos representativos, recomendando um curso final da ação. (MATTAR, 2001)
Quanto aos procedimentos, o estudo realizou pesquisa de campo com aplicação de questionário sociodemográfico, questionário internacional de atividade física – IPAQ versão curta, o qual foi desenvolvido pela Organização Mundial de Saúde e conta com campos que envolvem sedentarismo, atividades físicas leve, moderadas e vigorosas (HALLAL et al, 2010). Desta forma, é possível estimar o gasto energético oriundo de atividades físicas realizadas durante uma semana normal e também o tempo em que a pessoa fica na posição sentada (MATSUDO et al, 2001). Foi realizada ainda coleta de dados para cálculo percentual de gordura e Índice de Massa Corporal (IMC), visando a mensuração da composição corporal antes e depois do período de formação dos alunos. Também realizou-se levantamentos bibliográficos através de revisão de literatura, com pesquisa em sites e revistas científicas.
A amostra foi composta por 84 policiais militares (60 homens e 24 mulheres), (26,33±3,75 anos; 69,74±12,56 kg; 23,43±3,06 IMC – dados iniciais); todos alunos do Curso de Formação de Praças (CFP) do 1º Batalhão de Polícia Militar (1º BPM), de Ponta Grossa, PR.
Os critérios de Inclusão e Exclusão foram que todos os participantes da pesquisa estivessem no CFP do 1º BPM e de acordo com o termo de consentimento livre e esclarecido.
A coleta de dados inicial foi realizada na primeira semana de CFP no dia 12 de agosto de 2022 e a final foi realizada ao término da carga horária das disciplinas teóricas em 13 de abril de 2023. Para coletar os dados antropométricos foi realizada pesagem com balança digital, fita métrica e Plicômetro Adipômetro Clínico Compacto – Cescorf. Utilizou-se para mensurar o percentual de gordura dos participantes o protocolo de Pollock 7 dobras, o qual avalia de forma indireta o percentil de gordura, por meio de medidas de espessura das dobras cutâneas das regiões do bíceps, tríceps, subescapular, suprailíaca, axilar, abdominal, coxa e panturrilha. Destaca-se ainda que foi aplicado, em ambas as datas, aos participantes da pesquisa, o IPAQ – versão curta. Os dados coletados foram organizados, analisados e descritos por meio da utilização da plataforma MedCalc, fornecendo os dados de gerais e desvios padrões da amostra.
3 RESULTADOS
Como panorama geral da amostra, tem-se os resultados coletados em 12 de agosto de 2022 estão expressos nas seguintes tabelas:
Evidencia-se que a amostra é composta de 84 policiais militares, dos quais 60 são homens (71,43 %) e 24 mulheres (28,57 %). Os dados coletados inicialmente e separados por sexo são os seguintes:
O questionário internacional de atividade física – IPAQ – versão curta que classifica o nível de atividade física, aplicado pela 1ª vez em 12 de agosto de 2022, teve como resultados em ambos os sexos de 71,43% (60) do efetivo encontra-se na classificação de “Muito Ativo”, na faixa de “Ativo” estão presente 25% (21) dos policiais participantes da pesquisa. Os policiais “Irregularmente Ativos A e B” somam 3,57% das respostas (3), e não houveram policiais que receberam a classificação de “Sedentário” que participaram da pesquisa.
Fonte: o autor (2023).
Após a conclusão da carga horária referente a parte teórica do CFP foi realizada nova coleta de dados, dia 13 de abril de 2023 a qual apresentou os seguintes resultados:
Novamente os dados coletados serão separados por sexo e obtem-se os seguintes resultados:
O IPAQ versão curta aplicado no dia 13 de abril de 2023, final da parte teórica do CFP, obteve os seguintes resultados:
Os “Muito Ativo” somaram 28,57% (24) dos participantes da pesquisa, os policiais que encontram-se na classificação de “Ativo” representam 64,3% (54) dos policiais participantes da pesquisa. Os policiais “Irregularmente Ativos A e B” somam 7,14% das respostas (6), e novamente não houveram policiais que receberam a classificação de “Sedentário”.
Fonte: o autor (2023).
4 DISCUSSÃO
Os resultados da avaliação antropométrica da amostra no início do CFP evidenciam que os participantes são adultos com uma média de idade de 26,33 ± 3,75 anos. Os dados mostraram que os homens apresentaram um percentual de gordura médio de 17,95% ± 5,02%, enquanto as mulheres apresentaram um percentual de gordura médio de 22,91% ± 3,35%. Esses valores não estão de acordo com a definição de sobrepeso ou obesidade da World Health Organization (1998), que considera indivíduos com acúmulo excessivo ou anormal de gordura e com risco à saúde aqueles que possuem um percentual de gordura acima de 25% para homens e 35% para mulheres.
Entretanto, os dados coletados neste estudo estão em consonância com os achados de Maciel et al. (2014), que analisaram o percentual de gordura em universitários do curso de Educação Física da Faculdade Leão Sampaio, em Juazeiro do Norte, CE. Os resultados dessa pesquisa mostraram que os homens apresentaram um percentual de gordura de 17,3%, enquanto as mulheres apresentaram 23,2%, valores muito semelhantes aos encontrados nos alunos do CFP no início do curso.
Cabe destacar que o percentual médio de gordura inicial da amostra total dos alunos do CFP foi de 19,43 ± 5,10, sendo que após o período de treinamento, o resultado médio do percentual de gordura passou a ser de 16,69 ± 5,37. Ou seja, houve uma redução de 2,74 ±0,27.
Os resultados da avaliação antropométrica realizada com a amostra de alunos soldados antes e depois do CFP também evidenciou que, com relação ao IMC, os números iniciais eram de 23,43 ± 3,06 e ao final da disciplina de Educação Física Militar, os índices médios de IMC resultaram em 23,68 ± 2,83. Deste modo, percebe-se que em relação ao IMC houve um aumento médio de 0,25 ± 0,23 em relação aos níveis de IMC iniciais da amostra.
Ainda segundo a World Health Organization, com relação ao IMC, níveis médios de IMC acima de 25 são considerados sobrepeso, e acima de 30, obesidade. Cabe ressaltar que tal índice quando analisado isoladamente não contribui de modo significativo. Contudo, quando sua análise é aliada a outros dados como por exemplo o percentual de gordura da amostra, isso possibilita afirmar que é provável que o incremento constatado no IMC seja decorrente do ganho de massa muscular magra, tendo em vista que constatou-se redução do percentual de gordura da amostra.
Em análise aos dados coletados através do questionário de atividades físicas IPAQ versão curta, aplicado antes e depois da disciplina de Educação Física Militar, foi possível verificar que inicialmente 71,43% da amostra apresentou níveis “Muito Ativos” de atividade física. Ao final do período de treinamento, após nova submissão da amostra ao questionário IPAQ versão curta, constatou-se redução dos níveis de atividade, onde os “Muito Ativo” somaram 28,57% e os “Ativos” totalizaram 64,3%.
É possível que a redução dos níveis de atividades físicas constatada no estudo possa decorrer da rotina intensa de estudos e atividades em geral decorrentes do período de formação ao qual os alunos soldados são submetidos. Tal rotina pode implicar no menor tempo semanal dedicado às atividades que ensejam a movimentação corporal, principalmente em face das disciplinas teóricas do CFP.
Tal redução nos níveis de atividade merece olhar atento com foco em entender suas reais causas, pois os reflexos das experiências do período de formação podem ecoar durante toda a carreira.
Em relação aos níveis de atividade, existem estudos que indicam que hábitos de saúde decorrentes do estilo de vida podem impactar de modo positivo em modificações da composição corporal decorrentes da idade (SILVA; JÚNIOR, 2006).
O estudo de Oliveira et al. (2019) com relação à saúde, com amostra de policiais entrevistados que trabalhavam na atividade operacional, houve grande incidência de apontamentos em relação a queixas que relacionam a atividade laboral e a saúde física, enfatizando situações ligadas a alimentação de baixa qualidade durante o serviço, bem como em relação aos maus hábitos desenvolvidos, como por exemplo o uso de cigarro. O estudo citado conclui que para aqueles que atuam no policiamento ostensivo, a organização de uma rotina nas atividades e, inclusive na alimentação, encontra desafios a serem superados.
Diante disso, é possível concluir que, além dos hábitos alimentares, as atividades em geral que impactam nos níveis de atividade física dos policiais já formados, podem ser afetadas pela experiência durante o curso de formação. A rotina intensa de atividades, as quais os alunos são submetidos desde o ingresso e durante o período de formação profissional afetam a rotina do policial militar em relação a outras atividades que costumava exercer antes do ingresso na corporação. Por isso é fundamental desenvolver uma cultura de exercícios físicos regulares, associados a outras atividades físicas, o que deve incluir períodos livres, desde o ingresso na Corporação, visando manter níveis de atividade aceitáveis durante toda sua carreira.
Bons níveis de preparação física são exigências básicas da profissão policial militar bem como a deficiência de atividade física torna o militar estadual sujeito à diversas patologias (MELATTI, 2014).
Destarte, a profissão policial militar exige plenas condições de saúde física e emocional em sua execução. Assim sendo, níveis bons de aptidão física são fundamentais para o desempenho da atividade. (JESUS e JESUS, 2012).
Contudo, os baixos níveis de atividade física são encontrados em grande parcela da população em geral, não sendo exclusiva de policiais militares. Em análise do estudo de Malta et al. (2013) que analisou dados da Pesquisa Nacional de Saúde em 2013, verificou-se que a prática de atividade física recomendada foi identificada apenas em 22,5% da população estudada, com alterações significativas entre idades e sexos.
Em confrontação a esse estudo, temos que o trabalho do policial militar é considerado muito estressante e desgastante (DANTAS, et al., 2019). Assim sendo, não pode o policial militar balizar-se por níveis médios da população em geral, em virtude da especificidade de sua atividade, e justamente em face dos elevados níveis de estresse que a profissão lhe impõe, os quais, quando associados a outros fatores de risco podem implicar em uma série de prejuízos de ordem física e emocional.
Neste diapasão, aliado ao estresse e desgaste, é possível afirmar que muitos dos policiais militares possuem hábitos e estilos de vida ruins. Segundo estudo de Ferreira et al. (2011) que realizou estudo com amostra de policiais militares, quanto ao estilo de vida da amostra, foi constatado que 12% eram fumantes, 10% indicavam consumo excessivo de álcool e 73% insuficientemente ativos.
Necessário ressaltar o percentual apurado no estudo acima mencionado em relação aos 73% insuficientemente ativos, índice bastante elevado, ou seja, somente 1/4 da amostra realizavam mais de 150 minutos/semana de atividades físicas. (vigorosas, moderadas ou caminhadas).
Por fim, quanto a relação entre a intensidade do exercício e o uso de gordura como fonte de energia, percebe-se que exercícios de menor intensidade, como caminhadas ou atividades de baixo impacto, podem realmente utilizar uma maior proporção de gordura como fonte de energia durante o exercício em comparação a exercícios de alta intensidade (CHRISTINELLI, et al., 2020).
É importante ressaltar que a perda de gordura corporal ocorre principalmente como resultado de um balanço energético negativo, ou seja, quando o consumo de energia é menor do que a quantidade de energia gasta (FERNANDEZ, et al., 2004). Portanto, a escolha da atividade física mais adequada deve levar em consideração não apenas a proporção de gordura utilizada durante o exercício, mas também o gasto energético total, a manutenção da saúde geral e a adesão ao programa de exercícios.
5 CONCLUSÃO
A classificação dos participantes do estudo foi alterada de “Muito Ativo” para “Ativo”, indicando uma redução na prática de atividades consideradas vigorosas e um aumento na realização de atividades identificadas como moderadas. Esse fato pode ser atribuído à mudança de hábitos dos alunos do CFP.
A rotina de aulas e os afazeres relacionados à formação policial militar, aliados ao pouco tempo livre disponível, modificaram os hábitos dos participantes, especialmente no que diz respeito aos exercícios físicos. Muitos dos participantes deixaram de praticar exercícios físicos regulares e passaram a realizá-los apenas durante as aulas de Educação Física. Entretanto, destaca-se que houve um acréscimo na realização de atividades físicas, tais como serviços domésticos, cuidar do jardim, atividades essas que são consideradas moderadas, bem como as aulas práticas de abordagem, tiro policial, sobrevivência policial, entre outras.
É importante destacar que a mudança na classificação reflete as adaptações na rotina e nas práticas de atividade física dos participantes, devido às demandas específicas do programa de formação policial, o qual exige dedicação e disciplina integral, onde muitas das vezes as atividades diárias iniciam-se muito cedo e são finalizadas apenas no período noturno. Essa redução na intensidade das atividades pode ter impactos na composição corporal e na saúde geral dos indivíduos, o que ressalta a importância de um acompanhamento adequado e da promoção de práticas de atividade física fora do ambiente escolar.
Em relação ao IMC, percebeu-se um aumento em comparação ao IMC inicial. No entanto, é importante ressaltar que não se pode analisar apenas esse dado isoladamente. Observou-se ainda que o percentual de gordura dos policiais militares em formação diminuiu em relação ao ingresso, indicando um ganho de massa muscular livre de gordura. Portanto, o aumento do IMC pode ser atribuído ao aumento de peso relacionado à massa muscular.
Tal fato pode ser explicado pois atividades de menor intensidade tendem a queimar gordura com mais eficiência quando comparadas a atividades de alta intensidade devido ao tipo de substrato energético predominantemente utilizado durante cada tipo de atividade. Durante atividades de baixa intensidade, o corpo tem acesso a uma maior quantidade de oxigênio, o que permite o uso de gordura como fonte de energia primária. Esse tipo de atividade, como serviços domésticos, cuidar do jardim, caminhar, permite que o organismo utilize as reservas de gordura de forma mais direta e eficiente.
Por outro lado, atividades de alta intensidade, como as aulas de treinamento físico militar, defesa pessoal, são predominantemente anaeróbicas, o que significa que o corpo não tem acesso suficiente a oxigênio para sustentar a atividade por um longo período de tempo. Nessas situações, o corpo depende mais dos carboidratos armazenados, como glicogênio muscular e glicose no sangue, como fonte de energia rápida.
Embora atividades de alta intensidade queimem calorias em um curto espaço de tempo e possam resultar em um aumento do metabolismo após o exercício (conhecido como efeito pós-exercício), em termos de queima de gordura durante a atividade em si, as atividades de menor intensidade são mais eficazes, convergindo com os dados colhidos.
Destaca-se que os hábitos e o estilo de vida do policial são ruins. Mesmo durante o período de formação no CFP, constatou-se uma redução dos níveis de atividades físicas vigorosas em comparação aos níveis de atividade dos policiais avaliados quando ainda eram civis. Isso evidencia o papel da instituição PMPR em estimular a prática regular de exercícios físicos como um fator que contribui para a promoção da qualidade de vida e saúde do policial em formação e após a formação.
Por fim, é importante realizar estudos que acompanhem o nível de atividade física e composição corporal dos policiais militares. Esses estudos devem ser feitos para avaliar o ingresso, durante a formação teórica, após o período de estágio operacional e também após a formação. Isso possibilitará um diagnóstico da tropa e permitirá a implementação de campanhas e ações mais efetivas para promover a saúde e a qualidade de vida dos policiais militares.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
CHRISTINELLI, Heloá Costa Borim; DE SOUZA, Jean Marcel Schmitz; COSTA, Maria Antonia Ramos; TESTON, Élen Ferraz; BORIM, Maria Luiz Costa; FERNANDES, Carlos Alexandre Molena.Eficácia de um programa de reeducação alimentar e prática de exercício físico na obesidade. Rev. Gaúcha Enferm. Vol 41. 2020. Disponivel em: <https://www.scielo.br/j/rgenf/a/CnbNxm3LnRKDjkQ9PgQPPhb/?lang=pt>. Acesso em 13 de maio de 2023.
DANTAS, M. A., BRITO, D. V. C., RODRIGUES, P. B., MACIENTE, T. S. Avaliação de estresse em policiais militares. Revista Psicologia: Revista Teoria e Prática, vol 12, n 3, p 66-77, 2010. Disponível em: <https://www.redalyc.org/pdf/1938/193818369006.pdf>. Acesso em: 10 maio 2023.
FERNANDEZ, Ana Claúdia; DE MELLO, Marco Túlio; TUFIK, Sérgio; DE CASTRO, Paula Morcelli; FISBERG, Mauro. Influência do treinamento aeróbio e anaeróbio na massa de gordura corporal de adolescentes obesos. Rev. Bras. Med. Esporte. Vol. 10, nº 3, Mai/Jun, 2004. Disponívele em:<https://www.scielo.br/j/rbme/a/g8GTXXfC8djVtyy6t9msRnd/#:~:text=A%20intensidade%2 0da%20atividade%20f%C3%ADsica,perda%20de%20massa%20corporal%20importante> Acesso em: 15 de abril de 2023.
FERREIRA, Daniela Karina da Silva. BONFIM, Cristiane. AUGUSTO, Lia Giraldo da Silva. Fatores associados ao estilo de vida de policiais militares. Ciência e Saúde Coletiva, vol 16, n 8, ago 2011.Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1413-81232011000900007>. Acesso em: 10 maio 2023.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5.ed. São Paulo: Atlas, 1999.
HALLAL, P. C. et al. Lições Aprendidas Depois de 10 Anos de Uso do IPAQ no Brasil e Colômbia. Journal Of Physical Activity And Health, Birmingham, v. 7, n. 2, p.259-264, 2010.
JESUS, G. M., JESUS, E. F. A. Níveis de atividade física e barreiras percebidas para a prática de atividades físicas entre policiais militares. Rev. Bras. Ciên. Esporte. Florianópolis, v. 34, n. 2, p. 433-448, abr./jun. 2012.
MACIEL, João Paulo da Silva. COSTA, Antonia Francielly. FEITOSA, Joelio Lormira. PINTO, Rossilane Barros.
NASCIMENTO, Samia Rafaela do. Análise do percentual de gordura entre universitários do curso de Educação Física da Faculdade Leão Sampaio, Juazeiro do Norte, CE. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 2018, Nº 188, Jan 2014. Disponível em:<https://www.efdeportes.com/efd188/percentual-de-gordura-entre-universitarios.htm>. Acesso em: 10 maio 2023.
MALTA, et al. Estilos de vida da população brasileira: resultados da Pesquisa Nacional de Saúde, 2013.
MATTAR, F. N. Pesquisa de marketing. 3.ed. São Paulo: Atlas, 2001.
MATSUDO, S. et al. Questionário internacional de atividade física (IPAQ): estudo de validade e reprodutibilidade no Brasil. Revista Brasileira de atividade física e saúde, Florianópolis, v. 6, n. 2, p. 5-12, 2001.
MELATTI, J.Sedentarismo. 2014 Disponível em:<https://www.infoescola.com/saude/sedentarismo>. Acesso em: 15 abril 2023.
MINAYO, M. C. S., Assis, S. G., & Oliveira, R. V. C. (2011). Impacto das atividades profissionais na saúde física e mental dos policiais militares do Rio de Janeiro. Revista Ciência & Saúde Coletiva, 16(4), 2199-2209. doi: 10.1590/ S1413-81232011000400019.
OLIVEIRA, Thamires Sousa de; FAIMAN, Carla Júlia Segre. Ser policial militar: reflexos na vida pessoal e nos relacionamentos. Revista Psicologia, Organizações e Trabalho, ISSN 1984-6657, Vol. 19, nº 2, Brasília, abr./jun. 2019. Disponível em: <https://http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-66572019000200 005>. Acesso em: 10 maio 2023.
SILVA, Tatiana A. A.; JUNIOR, A F.; PINHEIRO, M M.; SZEJNFELD Vera L. Sarcopenia Associada ao Envelhecimento: Aspectos Etiológicos e Opções Terapêuticas. Revista Brasileira Reumatologia, v. 46, n.6, p. 391-397, dez, 2006.
VERGARA, Sylvia C. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 3.ed. Rio de Janeiro: Atlas, 2000.
WHO, World Health Organization. Physical status: the use and interpretation of anthropometry: report of a WHO Expert Committee. Published 1995. Geneva, Switzerland: WHO Technical Report Series 854; p 378. Disponível em:<http://whqlibdoc.who.int/trs/WHO_TRS_854.pdf>. Acesso em: 16 de abril de 2023.