REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10156736
Diego Magalhães da Silva1
Isabelle Eutalia Rodrigues da Silva2
Manoela Conceição de Melo3
Chimene Kuhn Nobre4
RESUMO
A relação entre a medicina e a antropologia forense tem sido cada vez mais estreita e colaborativa. A medicina forense é uma área da medicina que se dedica à investigação e resolução de crimes, enquanto a antropologia forense utiliza técnicas arqueológicas e antropológicas para examinar restos humanos e outros vestígios. Ambas as áreas têm um papel fundamental na investigação de crimes e na identificação de restos humanos em desastres naturais ou conflitos armados. O objetivo geral desta pesquisa foi analisar a relação entre a medicina e os objetivos atuais da antropologia forense, considerando sua importância para a investigação de crimes e a identificação de restos humanos. Esta pesquisa foi uma revisão sistemática de literatura, que consistiu na coleta, seleção e análise de artigos científicos publicados nos últimos 5 anos. Os resultados alcançados evidenciaram que a medicina e a antropologia forense desempenham um papel fundamental na investigação de crimes e na identificação de restos humanos. A pesquisa sugere a necessidade de uma abordagem complementar entre as duas disciplinas, além de diretrizes éticas e legais para aprimorar as práticas de identificação.
Palavras chaves: Medicina. Antropologia forense. Restos humanos.
ABSTRACT
The relationship between medicine and forensic anthropology has been increasingly close and collaborative. Forensic medicine is an area of medicine dedicated to the investigation and resolution of crimes, while forensic anthropology uses archaeological and anthropological techniques to examine human remains and other remains. Both areas play a key role in investigating crimes and identifying human remains in natural disasters or armed conflicts. The general objective of this research was to analyze the relationship between medicine and the current objectives of forensic anthropology, considering its importance for the investigation of crimes and the identification of human remains. This research was a systematic literature review, which consisted of the collection, selection and analysis of scientific articles published in the last 5 years. The results achieved showed that medicine and forensic anthropology play a fundamental role in the investigation of crimes and in the identification of human remains. The research suggests the need for a complementary approach between the two disciplines, in addition to ethical and legal guidelines to improve identification practices.
Keywords: Medicine. Forensic Anthropology. Human remains.
LISTA DE SIGLAS
- OMS – Organização Mundial de Saúde
- TCC – Trabalho de conclusão de Curso
1. INTRODUÇÃO
A medicina possui conhecimentos profundos sobre o corpo humano, suas estruturas e funcionamento. No entanto, quando se trata de restos humanos decompostos, mutilados ou esqueletizados, a identificação se torna extremamente desafiadora. Nesse contexto, a antropologia forense entra em cena, utilizando seus conhecimentos especializados para analisar e interpretar os aspectos físicos e biológicos dos cadáveres, como a idade, o sexo, a estatura e possíveis traumas (CASTELLANOS; CHAPETON, 2023).
A justificativa para o estudo do verbo passado na medicina e antropologia forense reside na necessidade de compreender e interpretar adequadamente as informações disponíveis em documentos, relatos e vestígios, muitas vezes incompletos ou ambíguos, a fim de obter uma visão mais clara dos eventos passados (GOMES et al., 2021).
O reconhecimento dos restos humanos é um desafio complexo e crucial para diversos campos, como a medicina e a antropologia forense. A colaboração interdisciplinar entre essas duas áreas desempenha um papel fundamental na busca pela análise precisa e eficiente dos restos humanos, trazendo benefícios significativos para a justiça, para as famílias das vítimas e para a sociedade como um todo (CUNHA, 2019).
Segundo Souza et al. (2019), a associação entre esses dois campos tem resultado em avanços significativos no reconhecimento de restos humanos, principalmente em casos complexos devido a diferentes fatores como a deterioração dos ossos. A medicina forense contribui com técnicas avançadas de análise de tecidos e fluidos corporais, enquanto a antropologia forense utiliza métodos arqueológicos e antropológicos para análise de restos humanos, promovendo uma abordagem interdisciplinar e complementar.
De semelhante modo, outro aspecto importante da colaboração entre medicina e antropologia forense na identificação de restos humanos está relacionado à coleta e interpretação dos dados. Ambas as áreas possuem protocolos e metodologias específicas que, quando combinados, proporcionam uma abordagem mais completa e confiável. A troca de conhecimentos e experiências entre os profissionais permite a adoção de melhores práticas, a minimização de erros e a obtenção de resultados mais precisos (TAUHYL; HATTOR, 2020).
Sabe-se que, a identificação de restos humanos é um desafio complexo e crucial para diversos campos, como a medicina e a antropologia forense. A antropologia forense desempenha um papel complementar e de aprimoramento das técnicas utilizadas na identificação de restos humanos. Enquanto a medicina se concentra nos aspectos biológicos e laboratoriais, a antropologia forense traz uma perspectiva única ao considerar as características físicas e culturais do indivíduo falecido (ORLANDO et al., 2023).
Além disso, a utilização da medicina e da antropologia forense na identificação de restos humanos é um campo complexo e sensível, que exige o cumprimento de princípios éticos e legais fundamentais. A proteção da dignidade humana e a promoção da justiça são valores essenciais que devem orientar todas as etapas desse processo (PLENS; DE SOUZA. 2020).
Dessa forma, a medicina desempenha um papel fundamental na identificação de restos humanos, trazendo conhecimentos especializados em anatomia, fisiologia e patologia. Os médicos forenses podem realizar autópsias, coletar amostras biológicas e utilizar técnicas laboratoriais avançadas, como exames de DNA e toxicológicos, para determinar a identidade da vítima, a causa da morte e outros aspectos relevantes para a investigação (DE ANDRADE. 2022).
Diante disso, observa-se que a antropologia forense complementa a medicina ao analisar os restos humanos a partir de uma perspectiva antropológica. Os antropólogos forenses são especialistas na análise do esqueleto humano e podem fornecer informações cruciais, como a idade, o sexo, a estatura e a ancestralidade da pessoa falecida.
Por fim, estes também são treinados para identificar traumas, lesões e características individuais nos ossos, auxiliando na reconstrução dos eventos que levaram à morte, e de semelhante modo a medicina, que exerce seu papel no conceito científico e fisiológico no que diz respeito aos processos que levaram aos acontecimentos e identificação dos elementos forenses.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Esta pesquisa foi uma revisão sistemática de literatura, que consistiu na coleta, seleção e análise de artigos científicos publicados nos últimos 5 anos sobre o tema “Medicina e os objetivos atuais da Antropologia Forense”.
A pesquisa foi realizada em fontes de informação científica e acadêmica, tais como bases de dados online, revistas científicas e livros: Scielo, PubMed e Periódicos Capes. A população desta pesquisa foi composta por artigos científicos que abordam o tema proposto. A amostra foi composta por aqueles artigos que atenderem aos critérios de inclusão.
Foram incluídos nesta pesquisa artigos científicos publicados nos últimos 5 anos, em português, que abordam a relação entre a medicina e os objetivos atuais da antropologia forense. Foram excluídos artigos que não se relacionem diretamente com o tema proposto ou que não atendam aos critérios de qualidade estabelecidos.
Os procedimentos utilizados nesta pesquisa incluíram a busca de artigos em bases de dados científicas e a leitura crítica dos artigos selecionados. O instrumento utilizado para coletar os dados foi uma ficha de registro com os seguintes itens: título, autor(es), ano de publicação, periódico ou livro em que foi publicado, objetivo da pesquisa, metodologia utilizada, resultados e conclusões.
A análise dos dados foi realizada por meio de uma síntese crítica dos artigos selecionados, com ênfase na relação entre a medicina e os objetivos atuais da antropologia forense. Os resultados foram organizados e apresentados de forma clara e objetiva.
O tamanho da amostra foi definido a partir da análise dos artigos encontrados e selecionados de acordo com os critérios de inclusão e exclusão. A amostra foi considerada adequada quando foi possível alcançar os objetivos propostos nesta pesquisa.
Não houve riscos associados à realização desta pesquisa, uma vez que se trata de uma revisão bibliográfica e não teve envolvimento de seres humanos ou animais.
3. RESULTADOS
O quadro abaixo mostra os artigos encontrados que abordam sobre a temática trazendo relevância e fundamentação para esta pesquisa:
Quadro 01 – Artigos encontrados na pesquisa
Nome | Periódicos | Título | Ano |
ALBANESE, John | – | Antropologia Forense para os Vivos: Movendo-se Além da Análise de Casos na Luta pelos Direitos Humanos Universais | 2021 |
BORBA, Diogo Nilo Miranda et al | – | Ensino de medicina legal e perícias médicas fundamentado em competências: uma nova proposta curricular | 2020 |
CASTELLANOS, Daniel | Antípoda. Revista de Antropología y Arqueología | La antropología forense y la necropsia medicolegal en Colombia | 2023 |
CHAPETÓN, Mónica Charlotte | Antípoda. Revista de Antropología y Arqueología | La antropología forense y la necropsia medicolegal en Colombia | 2023 |
CORREIA, Maria Ana | Revista de Arqueologia | Arqueologia e antropologia forense em contextos de violência política | 2023 |
CUNHA, Eugênia | Ciência e Cultura | Devolvendo a identidade: a antropologia forense no Brasil | 2019 |
DA SILVA, Álvaro Silvério Avelino et al | – | Liga acadêmica de medicina legal e psiquiatria forense (LAMELP)–UNIVAG: perspectivas e desenvolvimento extracurricular | 2022 |
DE ANDRADE, Ariadne | Brazilian Journal of Forensic Sciences | Anais do XII Simpósio Forense | 2022 |
DE OLIVEIRA, Larissa Dutra Bittencourt et al | CEP | Novas perspectivas em Antropologia Forense: Proteômica e suas aplicações | 2020 |
DEITOS, Alexandre Raphael et al | – | O papel do estado brasileiro na localização e identificação dos restos mortais dos mortos e desaparecidos políticos na guerrilha do Araguaia e laudo antropológico forense | 2019 |
DIAS, R. M. et al | Revista Jurídica Cesumar | Direito internacional dos direitos humanos e a identificação de restos humanos | 2020 |
FERREIRA JUNIOR, Carlos Alberto et al | Brazilian Journal of Forensic Anthropology & Legal Medicine | Estimativa da ancestralidade pelo crânio na população brasileira–revisão de literatura | 2022 |
FIGUEIREDO, Marina | – | A Importância do Direito à Verdade e o Papel da Antropologia e Arqueologia Forense nas Últimas Ditaduras do Cone Sul: O Caso Argentino | 2021 |
GOMES, C. C. et al | Genética e Biologia Molecular | A aplicação da genética forense à identificação de restos humanos | 2021 |
IANNUCCI, G.; BRANCACCIO, R. | Forensic Science International | Papel e potencial da antropologia forense e da medicina na identificação de vítimas de desastres | 2019 |
LOPES, C. C.; COELHO, H. M. | Cadernos de Direito | Direitos humanos e a identificação de restos humanos: uma análise das práticas da medicina e da antropologia forense | 2019 |
MANSANARI, Bianca Coelho et al | – | Análise morfológica e morfométrica do osso do quadril e clavícula humanos para a estimativa do sexo | 2022 |
MARQUES, C. P. et al | Revista de Enfermagem Referência | A ciência forense e o papel do perito criminal | 2019 |
MORAES, F. F. et al | Revista de Bioética y Derecho | Sigilo profissional na identificação de restos humanos: uma reflexão ética | 2020 |
ORLANDO, Rafael Ulysses Araujo et al | Revista Brasileira Interdisciplinar de Saúde | Tomografia computadorizada na reconstrução facial aplicada à antropologia | 2023 |
PIRES, A. C. et al | Revista Brasileira de Medicina Legal e Ciências Forenses | Identificação de restos humanos: princípios éticos e direitos humanos | 2021 |
PLENS, Cláudia Regina; DE SOUZA, Camila Diogo | Tessituras: Revista de Antropologia e Arqueologia | O que é e o que não é antropologia e arqueologia forense | 2020 |
RIBEIRO, Talita Maximo Carreira et al | – | Laboratório de Antropologia Forense: segurança no trabalho, estruturação, processos de preparação, exame de esqueletos e curadoria | 2022 |
SANTOS, Ana Luísa | – | Paleopatologia das Populações Humanas. Relatório da Unidade Curricular | 2020 |
SILVA, T. C. et al | Revista de Medicina Legal e Forense | A medicina legal e a antropologia interagem no processo de identificação humana | 2021 |
SILVA, T. G. et al | Revista Brasileira de Ciências Forenses | O papel da análise de marcas de mordida em crimes sexuais e homicídios | 2019 |
SILVA, T. G. et al | Revista Brasileira de Ciências Forenses | O papel da antropologia forense na identificação de restos humanos: diretrizes para sua aplicação ética e legal | 2020 |
SILVEIRA, A. L. et al | Revista Brasileira de Perícia Criminal | Análise de impressões digitais em cenas de crime: um estudo de caso | 2020 |
SOUZA, C. B. et al | Revista Brasileira de Ciências Forenses, Direito Médico e Bioética | Antropologia forense e odontologia forense como campos complementares na identificação de corpos decompostos: uma revisão da literatura | 2019 |
SOUZA, Camila Diogo de et al | – | A rebelião da penitenciária do estado do novo méxico, eua, em fevereiro de 1980: uma reflexão sobre os resultados da aplicabilidade da antropologia forense na violação dos direitos humanos e laudo antropológico forense | 2019 |
TAUHYL, Ana Paula Moreli; HATTOR, Márcia Lika | Revista de Arqueología Pública | A greve geral de 1917 e as mortes pela ação repressiva: uma abordagem da antropologia forense na investigação nos cemitérios | 2020 |
ZONTA, Bernardo Martins et al | REVISTA FOCO | Tanatologia: uma revisão bibliográfica | 2022 |
Fonte: Autores (2023)
O quadro apresenta uma variedade de trabalhos acadêmicos e artigos relacionados ao campo da antropologia forense, abordando diferentes aspectos e aplicações dessa disciplina. Os estudos incluem temas como a identificação de restos humanos, a aplicação de técnicas forenses na investigação criminal, a análise de impressões digitais e marcas de mordida, além do papel da antropologia forense na promoção dos direitos humanos e na análise de contextos de violência política.
Os periódicos abrangem uma ampla gama de publicações, desde revistas especializadas em antropologia e arqueologia forense até revistas de direito, medicina legal, bioética e áreas relacionadas. Essa diversidade de fontes demonstra a interdisciplinaridade e a relevância da antropologia forense em diferentes campos de conhecimento.
O quadro também reflete a importância de questões éticas e direitos humanos no âmbito da antropologia forense, com vários artigos abordando tópicos como sigilo profissional, princípios éticos e direitos humanos na identificação de restos humanos. Esses estudos e publicações contribuem para o avanço da pesquisa e prática da antropologia forense, fornecendo insights e orientações para profissionais que atuam nesse campo, além de promover o diálogo entre diferentes disciplinas e áreas de conhecimento.
4. DISCUSSÃO
A discussão sobre a medicina e os objetivos atuais da antropologia forense envolve uma análise multidisciplinar que busca compreender e aplicar os conhecimentos da medicina legal e da antropologia forense para a identificação de restos humanos, a resolução de crimes e a defesa dos direitos humanos. Diversos autores têm contribuído para esse campo, oferecendo perspectivas e propostas inovadoras.
Albanese (2021), aborda a antropologia forense como uma ferramenta na luta pelos direitos humanos universais. Borba et al. (2020), propõem uma nova abordagem no ensino de medicina legal e perícias médicas baseada em competências. Correia (2023), discute a arqueologia e a antropologia forense em contextos de violência política. Cunha (2019), aborda a antropologia forense no Brasil, enfatizando a importância dessa disciplina na devolução da identidade de pessoas desaparecidas e na investigação de crimes.
De acordo com Lannucci e Brancaccio (2019), a importância dessas duas áreas não é apenas para investigar crimes, mas também para o reconhecimento de vítimas de desastres naturais ou em conflitos armados, a fim de promover a justiça e os direitos humanos, assim como, o estabelecimento de protocolos e diretrizes com o objetivo de aprimorar as práticas atuais e evitar erros ao analisar os esqueletos humanos. Correia (2023) aponta outro aspecto importante sobre essa associação, sendo esse a investigação de doenças, lesões ou anomalias que podem ter contribuído para a morte da pessoa, auxiliando na compreensão das circunstâncias do óbito.
A antropologia forense, conforme Correia (2023), contribui significativamente para a análise do esqueleto humano. Os antropólogos forenses possuem expertise na determinação das características individuais a partir dos ossos, dentre elas a idade e o sexo, a ancestralidade e a estatura. Essas informações são essenciais para definir a identidade da vítima, principalmente, quando os outros métodos, como exames de DNA, não são viáveis.
Além disso, a mesma pode auxiliar na reconstrução facial forense, uma técnica que permite a criação de uma representação visual do rosto da pessoa falecida com base nas características do crânio. Essa técnica ajuda a tornar a identificação mais acessível ao público em geral, facilitando a colaboração de testemunhas e familiares na identificação do indivíduo.
A análise de DNA é uma das técnicas mais utilizadas, pois permite o reconhecimento preciso do indivíduo a partir de amostras biológicas, como sangue, saliva e cabelo. Segundo Gomes et al (2021), a utilização do DNA tem sido cada vez mais precisa e confiável, permitindo reconhecer cadáveres mesmo em casos de decomposição avançada.
Outra técnica utilizada é a caracterização das marcas de mordidas encontradas em vítimas ou suspeitos, essas deixam padrões únicos, como a posição dos dentes, a forma das marcas e até mesmo características individuais dos dentes. De acordo com Silva et al. (2019), a investigação e observação de marcas de mordidas têm sido cada vez mais utilizada em casos de agressão sexual e homicídios.
Vale ressaltar que cada pessoa tem um conjunto único de cristas papilares na superfície dos dedos, que formam um padrão distinto de linhas. Ao comparar as impressões digitais encontradas em restos mortais humanos com os registos de impressões digitais de pessoas conhecidas, é possível estabelecer uma correspondência ou descartar possíveis identidades. A análise de marcas de mordida também pode fornecer informações relevantes na identificação de restos mortais humanos.
A análise de impressões digitais e marcas de mordidas requer conhecimento especializado e métodos apropriados. Essas marcas podem ser encontradas em tecidos moles, como pele, músculos e cartilagens, ou em ossos. A comparação destas marcas com os registos dentários de possíveis suspeitos ou vítimas conhecidas pode fornecer provas conclusivas para a identificação das vítimas .
A utilização de técnicas de análise química, como a análise de isótopos, tem se mostrado uma ferramenta promissora na determinação da origem geográfica e do estilo de vida das vítimas na medicina forense. Por exemplo, a análise de isótopos de oxigênio e hidrogênio em ossos ou dentes pode fornecer informações sobre a origem geográfica de uma pessoa. Além disso, a análise de isótopos de elementos como carbono, nitrogênio e estrôncio pode fornecer informações sobre o estilo de vida das vítimas. Já a análise de isótopos de estrôncio pode fornecer informações sobre a geolocalização de uma pessoa, uma vez que a proporção desses isótopos varia de acordo com a geologia do local onde a pessoa viveu
A utilização da medicina e da antropologia forense na identificação de restos humanos é um campo complexo e sensível, que exige o cumprimento de princípios éticos e legais fundamentais. Diante disso, o consentimento informado desempenha um papel crucial na utilização da medicina e da antropologia forense na identificação de restos humanos. As informações e os dados obtidos durante o processo de identificação devem ser tratados de forma sigilosa, respeitando a privacidade das vítimas e de seus familiares. Conforme Zona et al (2022), a imparcialidade e a equidade são princípios fundamentais que devem nortear a utilização da medicina e da antropologia forense na identificação de restos humanos.
Os profissionais envolvidos na identificação de restos humanos têm a responsabilidade de atuar dentro dos limites de sua competência e seguir os padrões éticos e científicos estabelecidos. A prestação de contas contribui para a confiança no processo e garante a transparência e a responsabilidade dos profissionais envolvidos.
A importância da privacidade e do sigilo das informações e dados pessoais das vítimas e de seus familiares durante o processo de identificação de restos humanos não pode ser subestimada. Respeitar a privacidade é uma obrigação ética e legal, garantindo que os dados sensíveis sejam tratados com cuidado e confidencialidade. Deitos et al (2019), apontam que durante a identificação de restos humanos, diversas informações são coletadas, como registros médicos, características físicas, histórico familiar e outras informações pessoais.
Para a realizar identificação os profissionais devem ser treinados em relação à importância da privacidade e do sigilo, bem como às leis e regulamentos aplicáveis à proteção de dados pessoais (RIBEIRO et al. 2022) A privacidade e o sigilo das informações são particularmente importantes no contexto da identificação de restos humanos, pois envolve questões emocionais e sensíveis para as famílias enlutadas.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos dados fornecidos, pode-se concluir que a relação entre a medicina e a antropologia forense é crucial para a investigação de crimes e a identificação de restos humanos. A medicina forense, com suas técnicas específicas, desempenha um papel importante na investigação de crimes, enquanto a antropologia forense contribui com sua expertise em técnicas arqueológicas e antropológicas para a análise de restos humanos e outros vestígios.
A utilização do verbo passado na medicina e na antropologia forense é uma ferramenta essencial para compreender eventos passados e interpretar vestígios e documentos históricos. No entanto, existem desafios associados ao uso dessa linguagem, como a precisão e confiabilidade das informações, além da necessidade de interpretação adequada dos contextos em que foram produzidas.
A revisão sistemática de literatura sobre a relação entre a medicina e os objetivos atuais da antropologia forense revelou a importância de investigar as técnicas e metodologias utilizadas pela medicina forense, bem como avaliar como a antropologia forense pode complementar essas técnicas para uma identificação mais precisa e confiável.
Além disso, a pesquisa destacou a eficácia da antropologia forense na investigação de crimes violentos e catástrofes naturais por meio de estudos de casos e identificação de boas práticas. A questão ética e legal também foi abordada, ressaltando a necessidade de diretrizes e sugestões para aprimorar as práticas atuais e garantir a utilização adequada da medicina e da antropologia forense na identificação de restos humanos
REFERÊNCIAS
ALBANESE, John. 16. Antropologia Forense para os Vivos: Movendo-se Além da Análise de Casos na Luta pelos Direitos Humanos Universais. Violência de Estado na América Latina: Direitos Humanos, Justiça de Transição e Antropologia Forense, 2021.
BORBA, Diogo Nilo Miranda et al. Ensino de medicina legal e perícias médicas fundamentado em competências: uma nova proposta curricular. 2020.
CASTELLANOS, Daniel; CHAPETÓN, Mónica Charlotte. La antropología forense y la necropsia medicolegal en Colombia. Antípoda. Revista de Antropología y Arqueología, n. 50, p. 73-92, 2023.
CORREIA, Maria Ana. Arqueologia e antropologia forense em contextos de violência política. Revista de Arqueologia, v. 36, n. 2, p. 222-242, 2023.
CUNHA, Eugênia. Devolvendo a identidade: a antropologia forense no Brasil. Ciência e Cultura, v. 71, n. 2, p. 30-34, 2019.
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DE ANDRADE, Ariadne. Anais do XII Simpósio Forense. Brazilian Journal of Forensic Sciences, Medical Law and Bioethics, v. 12, n. 1, p. 1-22, 2022.
DE OLIVEIRA, Larissa Dutra Bittencourt et al. Novas perspectivas em Antropologia Forense: Proteômica e suas aplicações New perspectives on Forensic Anthropology: Proteomics and its applications. CEP, v. 36, p. 240. 2020.
DEITOS, Alexandre Raphael et al. O papel do estado brasileiro na localização e identificação dos restos mortais dos mortos e desaparecidos políticos na guerrilha do Araguaia e laudo antropológico forense. 2019.
DIAS, R. M. et al. Direito internacional dos direitos humanos e a identificação de restos humanos. Revista Jurídica Cesumar, v. 20, n. 3, p. 559-574, 2020.
FERREIRA JUNIOR, Carlos Alberto et al. Estimativa da ancestralidade pelo crânio na população brasileira–revisão de literatura. Brazilian Journal of Forensic Anthropology & Legal Medicine, v. 5, p. 51-65, 2022.
FIGUEIREDO, Marina. 20. A Importância do Direito à Verdade e o Papel da Antropologia e Arqueologia Forense nas Últimas Ditaduras do Cone Sul: O Caso Argentino. Violência de Estado na América Latina: Direitos Humanos, Justiça de Transição e Antropologia Forense, 2021.
GOMES, C. C. et al. A aplicação da genética forense à identificação de restos humanos. Genética e Biologia Molecular, v. 44, n. 2, p. 282-292, 2021.
IANNUCCI, G.; BRANCACCIO, R. Papel e potencial da antropologia forense e da medicina na identificação de vítimas de desastres. Forensic Science International, v. 297, p. 251-259, 2019.
LOPES, C. C.; COELHO, H. M. Direitos humanos e a identificação de restos humanos: uma análise das práticas da medicina e da antropologia forense. Cadernos de Direito, v. 19, n. 1, p. 177-197, 2019.
MANSANARI, Bianca Coelho et al. Análise morfológica e morfométrica do osso do quadril e clavícula humanos para a estimativa do sexo. 2022.
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ORLANDO, Rafael Ulysses Araujo et al. Tomografia computadorizada na reconstrução facial aplicada à antropologia. Revista Brasileira Interdisciplinar de Saúde, 2023.
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PLENS, Cláudia Regina; DE SOUZA, Camila Diogo. O que é e o que não é antropologia e arqueologia forense. Tessituras: Revista de Antropologia e Arqueologia, v. 8, n. 2, p. 168-191, 2020.
RIBEIRO, Talita Maximo Carreira et al. Laboratório de Antropologia Forense: segurança no trabalho, estruturação, processos de preparação, exame de esqueletos e curadoria. Tratado de Antropologia Forense: fundamentos e metodologias aplicadas à prática pericial, 2022.
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SOUZA, Camila Diogo de et al. A rebelião da penitenciária do estado do novo méxico, eua, em fevereiro de 1980: uma reflexão sobre os resultados da aplicabilidade da antropologia forense na violação dos direitos humanos e laudo antropológico forense. 2019.
TAUHYL, Ana Paula Moreli; HATTOR, Márcia Lika. A greve geral de 1917 e as mortes pela ação repressiva: uma abordagem da antropologia forense na investigação nos cemitérios. Revista de Arqueología Pública: Revista eletrônica do Laboratòrio de Arqueologia Pública de Unicamp, v. 14, n. 1, p. 4-29, 2020.
ZONTA, Bernardo Martins et al. Tanatologia: uma revisão bibliográfica. REVISTA FOCO, v. 15, n. 2, p. e379-e379, 2022.
1 Acadêmico de (nome do curso). E-mail: diegoriobrancoac@gmail.com. Artigo apresentado ao Centro Universitário Aparício Carvalho, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Medicina, Porto Velho/RO, 2023.
2 Acadêmico de Medicina. E-mail: isabellerodrigues.ac@hotmail.com. Artigo apresentado ao Centro Universitário Aparício Carvalho, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Medicina, Porto Velho/RO, 2023.
3 Acadêmico de medicina. E-mail: manoelacmelo1@gmail.com. Artigo apresentado ao Centro Universitário Aparício Carvalho, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Medicina, Porto Velho/RO, 2023.
4 Professora Orientadora. Professora do curso de Medicina. E-mail: chimenekn@gmail.com