THE MANIPULATION OF NARRATIVES BY FOOD DELIVERY APP COMPANIES TO DECEIVE WORKERS AND THE MEDIA: A SEMIOTIC ANALYSIS
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12446477
Mariane Palhano Macedo1
Antônio Carlos Freire Sampaio2
Eduardo Mendes Nascimento3
RESUMO
O presente artigo aborda a uma análise semiótica sobre as formas de manipulação que a empresa de aplicativo iFood utiliza para ludibriar os jovens a procura de emprego, com o discurso de empreendedor, fazendo com que esses trabalhadores ingressam na área com o sonho de ser auto gerente e garantir uma instabilidade financeira. O iFood e as outras plataformas digitais de aplicativo, buscam seduzir os trabalhadores com as ideias de horário flexível, trabalhar sem patrão, “o trabalho do futuro”, “trabalho inovador”, “liberdade de trabalhar quando quiser e onde quiser” entre outras promessas, no entanto, trata-se de um trabalho com longas jornadas de trabalho para obter o ganho necessário, com metas a cumprir e supervisores para inspecionar e controlar todo o tempo o trabalho executado, caso o trabalhador não atenda às necessidades ele será punido por seu supervisor através de bloqueios, podendo esse ficar sem trabalhar por um tempo determinado ou até mesmo desempregado. O trabalho precário e a recorrência de diversos bloqueios injustos e sem aviso, foram motivos para a criação do movimento antifascista liderado por um entregador chamado Paulo Lima e apelidado de Galo de Luta, o movimento possui objetivo de buscar melhorias nas condições de trabalho desses entregadores. O objetivo do artigo é analisar a relação de manipulação do iFood para com os entregadores. Para isso, foram utilizados dados, cartões e explicações cedidas pelo site do iFood. O resultado e discussão do artigo aponta que há uma propagação da ideologia empreendedora nos trabalhos uberizados.
PALAVRAS-CHAVE: entregadores de aplicativo, entregadores antifascistas, semiótica e plataforma de aplicativos, discurso de resistência do Galo de Luta.
ABSTRACT
This article addresses a semiotic analysis of the forms of manipulation that the iFood application company uses to deceive young people looking for a job, with the discourse of an entrepreneur, causing these workers to enter the area with the dream of being a self-manager. and ensure financial instability. iFood and other digital application platforms seek to seduce workers with the ideas of flexible hours, working without a boss, “the work of the future”, “innovative work”, “freedom to work when you want and where you want” among other promises , however, it is a job with long working hours to obtain the necessary gain, with goals to meet and supervisors to inspect and control the work performed at all times, if the worker does not meet the needs he will be punished for his supervisor through blockages, and he may be out of work for a certain period of time or even unemployed. Precarious work and the recurrence of several unfair and unannounced blockades were reasons for the creation of the anti fascist movement led by a delivery man called Paulo Lima and nicknamed Galo de Luta. The movement aims to seek improvements in the working conditions of these delivery men. The objective of the article is to analyze the manipulation relationship between iFood and delivery people. For this, data, cards and explanations provided by the iFood website were used. The result and discussion of the article points out that there is a spread of entrepreneurial ideology in uberized jobs.
KEYWORDS: App delivery drivers, anti-fascist delivery drivers, semiotics and application platforms, Galo de Luta’s resistance speech.
INTRODUÇÃO
No atual mundo do capitalismo, especialmente impulsionado pelo neoliberalismo, a tendência de deterioração das condições de trabalho tem se intensificado. Isso ocorre devido ao avanço científico e tecnológico, que cria novas maneiras de explorar e acumular capital às custas da força de trabalho. Um dos eventos mais proeminentes é a “uberização” das relações de trabalho, onde algumas empresas dominam um setor específico e estabelecem condições desumanas para a sociedade e os trabalhadores. Esse cenário é observado, por exemplo, nos motoristas de aplicativos e entregadores, que não recebem apoio adequado e veem uma parte significativa de sua remuneração ser retida pelas empresas. Essa situação levou alguns tribunais a reconhecer, com base nos critérios estabelecidos, uma relação de emprego entre essas empresas e os trabalhadores (SALVAGNI, et al., 2021).
As empresas de aplicativos referem-se ao profissional entregador como “parceiro” ou “colaborador”, em vez de empregado/trabalhador, isso simboliza a tentativa de rompimento da relação de trabalho e de transferência dos riscos ao empregado, característicos da plataforma de trabalho (ABILIO et.al., 2021). Ao assinar os termos de uso para se cadastrar nos aplicativos, o colaborador é integralmente responsável por qualquer tipo de risco que o serviço possa apresentar, uma vez que essas empresas se posicionam apenas como intermediárias tecnológicas entre o consumidor e o “parceiro” disponível para realizar o trabalho. Em troca, esses “colaboradores” teriam a liberdade de escolher quanto e quando trabalham por meio do aplicativo, ou seja, autogestão do trabalho (ABILIO et.al., 2021). Assim, a Uberização utiliza esse discurso neoliberal de valorizar o “microempreendedor”, a autonomia e a responsabilidade individual pelo sucesso e pelo fracasso, para obscurecer as estruturas hierárquicas de controle e exploração do trabalho (DESGRANGES, 2020).
Apesar do discurso empreendedor, fortemente impregnado pela racionalidade neoliberal para a produção do “homem-empresa”, a uberização não consiste apenas na autogestão simples em que a gestão dos elementos da jornada de trabalho está sob controle total e individual do trabalhador. Pelo contrário, os trabalhadores cadastrados nas plataformas estão sujeitos ao controle algorítmico, para que as plataformas exerçam de forma única, a supervisão e o controle desse trabalho (DESGRANGES, 2020).
A ascensão do capital rentista, dos modos flexíveis de acumulação e neoliberalismo global, combinado com a desconstrução da proteção de direitos estatais e sociais mínimos, são fortes fatores da precarização da classe trabalhadora. O modelo neoliberal como programa sociopolítico sustenta uma visão baseada nos na imagem onde o trabalhador é um empreendedor, subordinados à capacidade de explorar a sua força de trabalho (SALVAGNI, et al., 2021).
Nessa temática, o neoliberalismo serve os interesses mercantis, culminando na desestruturação do bem estar social do Estado e o enfraquecimento das instituições que protegem os trabalhadores, causando uma intensificação da insegurança dessa classe (SALVAGNI, et al., 2021).
Em 2019 durante a pandemia, para controlar a disseminação do vírus, as atividades diárias foram interrompidas, no segmento alimentício, uma alternativa para continuar seu funcionamento foi iniciar e intensificar a entrega dos alimentos por delivery, minimizando a crise no setor alimentício, diante desse novo cenário caótico da pandemia somada à crise trabalhista, o número de cadastramentos nos aplicativos de entrega de alimentos aumentou drasticamente (SOARES; LIMA, 2020). No dia 1° de julho de 2020 ocorreu a primeira greve histórica dos entregadores de aplicativos brasileiros, as reivindicações trouxe a realidade precária desses trabalhadores para o conhecimento da população, o cenário em que eles se encontraram durante a pandemia demonstrou diversas irregularidades, como, a dispensação de trabalhadores sem auxílio nenhum, trabalhadores contaminados durante o trabalho sem auxílio, falta de EPI durante o trabalho, jornadas excessivo diária, exaustão dos trabalhadores, entre outros agravos (SALVAGNI, et al., 2021).
O processo de esgotamento tem a condição de encerrar formas prévias de relação para que, a partir de então, as relações possam se constituir a partir da contingência de suas situações. Tal destaque permite pensar que, no caso dos entregadores por aplicativo, o esgotamento pode ter sido a forma pela qual a atividade passa a encerrar uma relação que, até então, se constituía com as empresas de trabalho digital. Não sendo visto aqui como uma manifestação tímida, a mobilização dos entregadores por meio da referida greve, pode ter sido efeito do próprio esgotamento, mostrando que há neste conceito um paradoxo, capaz de ilustrar a precarização, por um lado, e a mobilização desse mesmo trabalhador, por outro. Ou seja, ao mesmo tempo em que o esgotamento apresenta a faceta mais cruel do efeito do modelo neoliberal à exploração do trabalho humano, também pode ser visto como um dos mecanismos de reação a essa condição (SALVAGNI, et al., 2021).
Em meio ao caos em que estavam vivendo, Paulo de Lima entregador de aplicativo, lidera um movimento antifascista com o objetivo de lutar por direitos trabalhistas da classe, com diversas dificuldades e perseguições, ele conseguiu mostrar para a sociedade as dificuldades que a classe trabalhadora passava diariamente e desmistificar a ilusão de que esse trabalho era uma proposta inovadora para trabalhadores interessados em seu empreendedor (SUDRÉ, 2021).
O objetivo deste trabalho é analisar a relação de manipulação do aplicativo do iFood para com os entregadores e também o discurso de resistência do Paulo de Lima diante das injustiças sofridas devido a coragem que ele teve para realizar várias denúncias contra o aplicativo.
Através de uma análise semiótica greimasiana, foi analisado o site do aplicativo iFood, a área de notícias, de trabalho e cultura da empresa, observando de que maneira o cenário proposto acima é tangibilizado através das interfaces digitais. Além disso, foi analisado o discurso do Galo de Luta e a depreciação de sua imagem nas mídias sociais, a fim de prejudicar o movimento de luta dos direitos dos trabalhadores.
METODOLOGIA
A metodologia desenhada para este trabalho foi uma análise semiótica greimasiana. De acordo com Reis e colaboradores (2020) as análises semióticas “estão presentes em diversos estudos com o intuito de compreender o processo de significação e de sentido de um determinado signo, bem como as relações existentes com seus objetos e interpretantes”. A Semiótica é a ciência que investiga o sistema de signos e as formas de representação utilizadas para transmitir sentimentos, pensamentos, ideias e ideologias (REIS et.al., 2020).
A semiótica Greimasiana baseia-se na ideia de percepção de sensações, porém, acrescentando o caráter inteligível. Greimás é considerado um teórico contemporâneo que estuda a relação entre o plano de expressão e o plano de conteúdo através do texto. O foco não é o signo em si, mas as relações através dele e de todas as formas de linguagem (por essa semiótica denominada texto). O objetivo maior é estudar o percurso gerativo do sentido (ISLAM, 2013).
Baseando-se no propósito de que as formas dos artefatos não possuem um significado fixo, mas são expressas em um processo de significação (CARDOSO, 2016), observou-se as possíveis interpretações que informações visuais contidas no site do iFood geram em seus trabalhadores, persuadindo-o a criar uma situação fantasiosa sobre a equipe de trabalho.
Para realizar a análise semiótica utilizamos os materiais concedidos pelo iFood, disponíveis no site da empresa, na sessão “Portal do entregador”, disponível no link https://entregador.ifood.com.br/?utm_source=home_ifood&utm_medium=referral&utm_campaign=botao_header, onde está disponível várias informações para trabalhadores que desejam entrar para equipe, dentro do Portal possui as abas “Jeito iFood de ganhar”, “Vantagens”, “Segurança”, “Jeito iFood de entregar”, “Notícias” e ajuda. Além disso, também utilizamos o canal interativo iFood News e o banner chamado de “Deck Pocket: seu guia rápido da cultura iFood” fornecido pela empresa com as principais características da mesma, disponível em: deck_de_cultura_pocket_2023_pt_v2-compactado iffod.pdf. A escolha pelo aplicativo iFood é justificado por ser uma plataforma Brasileira e ser considerada o aplicativo mais utilizado no ramo aqui no Brasil, estudo realizado pela Opinion Box em 2023 (ANDRADE, 2023) além disso, a empresa se demonstra preocupada em transparecer suas opiniões sempre atualizando seu site institucional e nos últimos 4 anos foi alvo de polêmicas.
Para a análise do discurso do iFood foi seguido como referência o estudo de Narciso (2022) e o roteiro de Santaella (2015), onde explica que na face da significação, a análise semiótica nos permite explorar o interior das mensagens em seus três aspectos. a primeiro deles diz respeito às qualidades e sensorialidade de suas propriedades internas, como, por exemplo, na linguagem visual, as cores, linhas, formas, volumes, movimento, luz etc. O segundo aspecto diz respeito à mensagem na sua particularidade, no seu aqui e agora em um determinado contexto. O terceiro aspecto se refere àquilo que a mensagem tem de geral, convencional, cultural (SANTAELLA; 2015).
Na face da referência, a análise semiótica nos permite compreender aquilo que as mensagens indicam, aquilo a que se referem ou se aplicam. Também nesta face, encontramos três aspectos: o primeiro aspecto deriva do poder meramente sugestivo tanto sensorial como metafórico das mensagens. a segundo aspecto deriva do poder denotativo das mensagens, sua capacidade para indicar algo que está fora delas. a terceiro aspecto deriva da capacidade das mensagens para representar ideias abstratas e convencionais, culturalmente compartilhadas (SANTAELLA; 2015).
Na face da interpretação, a análise semiótica nos habilita a examinar os efeitos que as mensagens podem despertar no receptor. Esses efeitos são de três tipos: os primeiros são os efeitos emocionais, quando o receptor é tomado por um sentimento mais ou menos definido; os segundos são os efeitos reativos, quando o receptor é levado a agir em função da mensagem recebida; os terceiros são mentais, quando a mensagem leva o receptor a refletir (SANTAELLA; 2015).
PLATAFORMAS DE APLICATIVO E A EXAUSTÃO DOS ENTREGADORES
A uberização é uma nova forma de gerenciar e controlar a força de trabalho, também compreendida como uma tendência passível de se generalizar no âmbito das relações de trabalho, derivado da forma eliminação contemporânea de direitos, transferência de risco e custos trabalhistas e novos arranjos de produção. A uberização em alguma medida sintetiza processos em curso há décadas, ao mesmo tempo em que se apresenta como tendência para o futuro do trabalho. A Uberização surgiu no Brasil por volta de 2015 para descrever os motoristas que oferecem serviços através do aplicativo de transporte Uber, de forma esporádica e sem vínculo empregatício até o momento (ABILIO et. al., 2021).
O tema “uberização” ganha visibilidade com a formação de enormes contingentes de trabalhadores controlados por empresas que operam por meio de plataformas digitais. A Uber como principal modelo de empresa a utilizar esta nova forma de exploração do capital, deu origem ao prefixo da Uberização, que engloba todos os demais aplicativos que operam por meio das plataformas digitais oferecendo prestações dos mais diversos tipos de serviços (ABILIO et. al., 2021).
As plataformas digitais são ferramentas que permitem a troca e o processamento de informações e dados (como imagens, localização, velocidade, pagamentos) entre pessoas com acesso a redes informáticas. Conferindo a capacidade à essas máquinas digitais para funcionarem como meio de produção e comercialização de produtos e serviços, para publicar, negociar, calcular, conceber, comercializar, planejar, contratar, controlar, ameaçar, prometer, incitar, punir, despedir, entre outras práticas que constituem a gestão empresarial (COSTA; VELOSO, 2021).
Além da empresa Uber, está cada vez mais comum o surgimento de aplicativos de entrega de alimentos em domicílio, que oferecem comodidade e praticidade ao consumidor, tornando-se uma tendência que se consolida no mercado de alimentos e bebidas, principalmente refeições prontas em restaurantes, podendo ser entregue via moto Carro, bicicleta ou carro delivery. Entre os mais destacados estão: iFood®, Rappi® e Uber Eats® (MACHADO, 2020).
Dentre as plataformas presentes no mercado, o iFood é uma plataforma de delivery de grande relevância para o contexto brasileiro, trata-se de uma empresa Brasileira fundada em 2011 e desde 2013 faz parte do Grupo Empresarial Movile. Em 2016, a empresa se expandiu para outros países da América Latina e afirma operar também no México, Colômbia e Argentina com uma base de 5,1 milhões de usuários ativos e gerencia 30,6 milhões de pedidos por mês (COSTA, VELOSO; 2021).
Em 2019 o iFood ficou no ranking de 2° aplicativo mais acessado na categoria de comidas e bebidas entre os brasileiros, o aplicativo que ficou em 1° foi o Tudo Gostoso que apesar ocupar a primeira posição, ele não oferece o mesmo serviço que o iFood, dessa forma eles não são concorrentes direto (COSTA, VELOSO; 2021).
Para os clientes, a plataforma afirma-se como intermediária no processo de compra, oferecendo opções de pagamento e exonerando-se de qualquer responsabilidade pela qualidade dos alimentos, preparação do pedido ou entrega. As responsabilidades do iFood incluem: fornecer um ambiente virtual para registrar, comprar e pagar pedidos de comida e garantir a segurança dos dados armazenados dos usuários (IFOOD, 2020a).
Quanto aos entregadores, a plataforma esclarece seu papel como intermediadora e os trata como profissionais independentes “como parte da operação das atividades de agente e intermediário do iFood” (IFOOD, 2020b). Afirmam ainda que o valor pago aos entregadores nada tem a ver com as taxas de serviço ou entrega pagas pelos clientes e, por não ser uma empresa de logística, seu compromisso se limita a fornecer uma plataforma digital. Os entregadores devem reconhecer que são independentes e não exclusivos e, portanto, não firmam nenhum vínculo com o iFood (COSTA, VELOSO; 2021).
De um lado as empresas de aplicativo oferecem um trabalho informal, com a proposta de empreendedorismo e flexibilidade de horário, com oportunidade de renda extra para os entregadores, do outro lado, surge um movimento de entregadores que lutam por direitos dos entregadores e melhores condições de trabalho, o movimento surgiu no auge da pandemia, quando o número de entregas havia aumentado exponencialmente e os entregadores foram colocados em condições de risco em relação à exposição frequente do vírus da COVID-19 (CAPRIGLIONE, 2020).
O movimento de entregadores foi nomeado por “movimento de entregadores antifascista” e foi incentivado e organizado por um entregador chamado Paulo Roberto de Lima com o objetivo de reivindicar melhores condições de trabalho através das paralizações. O símbolo criado pelo movimento representa um entregador com uma bag nas costas caracterizando um entregador de aplicativo (CAPRIGLIONE, 2020).
Durante a pandemia, esses entregadores foram responsáveis por manter o funcionamento de vários comércios dos ramos alimentícios, submetendo esses trabalhadores a jornada excessiva de trabalho, devido à falta de controle e proteção legislativa. Apesar dos conceitos defendidos pelas empresas contratantes sobre o horário de trabalho flexível e o horário de trabalho de cada colaborador, na realidade este trabalhador está sujeito a jornadas de trabalho exaustivas, muitas vezes superiores a 12 horas diárias, que lembram as condições de trabalho desde o início da indústria moderna (SALVAGNI, et al., 2021).
Na paralisação, alguns dos componentes do grupo de entregadores antifascistas foram abordados para relatar sobre suas perspectivas e motivos que levaram a trabalhar para a empresa. Um dos entrevistados cita que iniciou com a perspectiva de ganhar uma renda extra, um “bico”, mas que com a pandemia esse trabalho tornou-se sua única renda (SUDRÉ, 2021).
O bico como entregador de aplicativos começou para conseguir uma renda extra. Diógenes de Souza nem imaginava que, em tão pouco tempo, o novo coronavírus aprofundar uma crise econômica sem precedentes no país. O que antes era uma escolha, se tornou sua única opção.
Pai de 3 filhos, ele se desloca todos os dias de Cotia para a capital. A remuneração precária dos aplicativos não lhe permite ter sequer um dia de folga na semana.
“Eu saio 10h da manhã de casa para voltar 22h, 23h. Não sobra tempo. Chega em casa, toma banho, deita e dorme. Acordo de manhã e vou trabalhar de novo. Sem tempo para lazer”, conta.
Quando pensa em seu trabalho como entregador, os riscos da função são a primeira coisa que vem à cabeça de Diógenes.
“A minha esposa teme por mim, preferia que eu trabalhasse em outro lugar. Ela sabe do risco de acidente, do risco do vírus. Mas não tem jeito. Tem que se arriscar. É a única opção que tem. O mercado formal não está contratando”, desabafa. (SUDRÉ, 2021).
Quando Diógenes foi questionado sobre a reivindicação que iriam expor na greve, o mesmo respondeu que “O melhor auxílio que eles podem dar para os motoboys é um valor mais justo pela entrega. Hoje as taxas são muito baixas. Se eles pagam um valor justo, o motoboy mesmo se vira” (SUDRÉ, 2021).
Outra frase que mostra a necessidade de reflexão sobre as condições de trabalho desses entregadores é: “Doze horas na rua, sentado nas calçadas pra comer porque o iFood, com todo dinheiro que não tem nenhum lugar para as pessoas poderem comer. E a galera achando que dá pra passar álcool gel… 12 horas na rua”, frisa (SUDRÉ, 2021).
Na imagem abaixo mostra a exaustão dos entregadores, a área de descanso era improvisada pelos mesmos, era onde eles conseguiam parar para esperar nova demanda de serviço, nota-se que a foto faz parte de uma reportagem que ocorreu durante a pandemia, e nenhum deles estão com nenhum EPI, principalmente a máscara e também não há o distanciamento social. A reportagem é do dia 30 de junho de 2020, com o título “Jornadas de 12h e zero direitos: por que entregadores de apps fazem greve inédita” (SUDRÉ, 2021).
O DISCURSO DO IFOOD PARA MANIPULAR OS TRABALHADORES
Neste capítulo farei uma análise do discurso do aplicativo de entrega iFood, destacando a exploração do trabalho dos entregadores, além disso, será abordado a conspiração oculta da empresa contra as organizações antifascistas que teve como objetivo reivindicar melhorias do seu trabalho e a manipulação dessas empresas nas mídias sociais com o objetivo de desviar o foco das reivindicações e enfraquecer as lutas sociais desses trabalhadores. Para isso, utilizaremos imagens retiradas do site iFood para demonstrar o conceito de isotopia, onde é possível realizar uma leitura das intenções que a empresa transmite por trás das imagens, com o objetivo de atrair mais trabalhadores.
Ricardo Leite (2009) explica que a isotopia funciona como “um dispositivo capaz de revelar e reger a coexistência de dois ou mais planos de significação metafóricos no texto durante a interpretação, garantindo, assim, o alçamento da metáfora para o nível discursivo”.
Isotopia é um termo que migrou da Física para a Semiótica. Usado, naquela, para designar propriedade de elementos que possuem o mesmo número atômico, mas cujos números de massa são distintos, nesta, foi definida, a princípio, no âmbito da semântica estrutural de A. J. Greimas como a iteração de semas ao longo de uma cadeia sintagmática. Segundo o semioticista, essa interação é efetuada pelos elementos de significação e não pelas palavras, pelas figuras e não pelos signos (LEITE, 2009).
Além da isotopia, também trataremos do conceito de manipulação, para demonstrar como a ideia de empreendedorismo é passada com a intenção de persuadir o trabalhador. A manipulação de uma informação com o uso de mensagens ou imagens veiculadas pela mídia, é um tipo de estratégia utilizada para favorecer os interesses de uma das partes. De acordo com o dicionário da língua portuguesa:
1. Ato ou efeito de manipular.
2. Influência, controle ou ação indevida ou ilegítima no desenrolar deum processo (ex.: manipulação de notícias) (FERREIRA, 2004).
O conceito de manipulação ainda permite entender a forma com que o trabalhador é obrigado a cumprir as metas impostas pela empresa e cada vez mais querer aumentar seu horário de trabalho em busca de aumento do rendimento. O significado de modalização veridictória permite entender que o discurso realizado pelas empresas de aplicativo é falso.
A modalização veridictória determina a relação do sujeito com o objeto, que é dita verdadeira ou falsa, mentirosa ou secreta. Faz parte, portanto, da modalização do ser e não da modalização do fazer. Com a modalização veridictória substitui-se a questão da verdade pela da veridicção ou do dizer verdadeiro: um estado é considerado verdadeiro quando um sujeito, diferente do sujeito modalizado, o diz verdadeiro. Parte-se do parecer ou do não-parecer da manifestação ou aparência e constrói-se ou infere-se o ser ou o não-ser da imanência ou essência (BARROS, 2022).
Considerando que hoje existe diversos aplicativos de delivery do ramo alimentício disponíveis na PlayStore e App Store no Brasil, como o Rappi, UberEats, James, Loggi, entre outros, a escolha de analisar o iFood justifica-se pelo motivo de ser uma plataforma brasileira e ser considerada o aplicativo mais utilizado no ramo aqui no Brasil, estudo realizado pela Opinion Box em 2023 (ANDRADE,2023) além disso, a empresa se demonstra preocupada em transparecer suas opiniões sempre atualizando seu site institucional e nos últimos 4 anos foi alvo de polêmicas (DESGRANGES, 2021).
O iFood possui um canal de notícias chamado de iFood News, que pode ser acessado por um link que fica disponibilizado no site institucional ou através de site de buscas, o site de notícias possui fórum de encontros com parceiros, notícias de últimos acontecimentos e benfeitorias promovidas pelas empresas, fotos e depoimentos de clientes que ganharam sorteios. As imagens selecionadas para a análise foram retiradas do referido site.
ANÁLISE SEMIÓTICA DO DISCURSO DO IFOOD
Com o avanço da tecnologia e dos sistemas de informação, o número de entregadores de aplicativos sofre constante aumento, com isso, a relação entre as pessoas e os seus costumes estão mudando ao longo dos anos, onde antes a pessoa se locomovia até um restaurante, hoje ela pode fazer um pedido da sua comida preferida de qualquer restaurante da cidade independente da distância, utilizando apenas o seu celular, basta um “clique”, a praticidade e o conforto aliada a agilidade fez com esse mercado ganhasse cada vez mais no gosto da população. Inicialmente essa modalidade de trabalho mediado por aplicativo tinha a proposta de transportar pessoas, no entanto, anos depois essa ideia se expandiu para o transporte de objetos e de alimentos, hoje tornou-se uma febre de motociclistas, ciclistas e pedestres de bags vermelhas pelas ruas tentando melhorar sua renda.
No site do iFood as imagens publicadas demonstram um perfil de funcionários sorridentes, descolados, tatuados, com piercings, demonstrando uma isotopia de “vibe positiva” de pessoas positivas, atentas à inovação, abertas e felizes. Essa vibe passada pelas fotos traz uma ideia de um ambiente alegre, cheio de aprendizado e com “liberdade de escolha” se mostrado atraente para uma pessoa que procura um frescor inovador nas relações de trabalho (Fig.1 e 2).
Figura 1 – Isotopia da Vibe Positiva: Entregador do iFood
Fonte: https://entregador.ifood.com.br/noticias/rota-devolucao-4-dicas-que-vao-proteger-seu score-e-sua-conta/
Figura 2 – Isotopia da Vibe Positiva: Vários entregadores do iFood
Fonte: https://entregador.ifood.com.br/noticias/esclarecimento-ols/
A isotopia diversidade chama a atenção, pois as fotos incluem homens e mulheres negras, com albinismo e asiáticas que transmitem a ideia de ambiente heterogêneo, um mercado sem nenhuma discriminação e que protege os direitos do entregador (Fig. 6).
Na aba “Jeito iFood de ganhar”, a imagem de um quadro com os melhores horários para trabalhar cria uma dinâmica de ajuda o entregador informando-o os horários de pico de entrega, para que ele tenha maiores rendimentos, tal ideia transmite a ideia de equipe unida (empresa e entregador), contradizendo a ideia de flexibilidade de horário que é uma das vantagens oferecidas pela empresa (Fig. 3).
Figura 3 – Demanda de entregas
Fonte: https://entregador.ifood.com.br/jeito-ifood-de-ganhar
Na aba de carreiras, o iFood demonstra que o trabalhador é um empreendedor, que ele é dono do seu próprio negócio, motivando com frases curtas, que o trabalhador deve fazer o impossível para cumprir suas metas “se desafie e faça o mesmo com o time para entregar o impossível”, e reforça a necessidade de superar desafios, utilizar sua inteligência para lidar com os desafios. Além disso, ele cita que o mesmo precisa ter a mentalidade de dono, reforçando a ideia de que ele é seu autor (Fig.4). Além disso, o site dispõe de recursos para baixar e imprimir uma cartilha “Deck Cultura Pocket” que salienta novamente a ideia de empreendedorismo.
Figura 4 – Empreendedorismo
Fonte: https://carreiras.ifood.com.br/culture/
A autonomia, agilidade e inovação são outras isotopias que se destacam no site, sugerindo uma ideia de “revolução” na forma de trabalhar, a empresa tenta influenciar o entregador com a ideia de que eles e a empresa formam uma equipe e que “juntos” irão buscar novas soluções para os problemas com a ajuda da tecnologia e a inteligência artificial, inovando a forma de trabalhar. Dentro da inovação, inclui a necessidade de agilidade e autonomia, o termo ágil inclui a agilidade para impulsionar as inovações, fazendo com que o entregador veja a necessidade de ser ágil como benéfica e que ela está ligada a quebra das relações de trabalho tradicionais, já que se trata de um serviço inovador e uma revolução tecnológica (fig. 5 e 6).
Figura 5 – A inovação
Fonte: https://carreiras.ifood.com.br/culture/
Figura 6 – Juntos e Juntas
Fonte: https://carreiras.ifood.com.br/culture/
Por outro lado, ao fazer uma simples busca no reclame aqui com o título iFood entregadores, obtemos algumas reclamações que demonstram que a empresa não trabalha em equipe com o entregador. A empresa não informou o trabalhador sobre a desativação e também não procurou resolver o problema contradizendo o lema “Ágil: falhe rápido e aprenda”, “All Together”, além disso, as respostas são genéricas e iguais para todos (fig. 7).
Figura 7 – Reclamação do entregador
Fonte: RECLAME AQUI, 2024a
A autonomia é um conceito do liberalismo econômico e também um combustível para a economia de aplicativos e pode ser substituída com palavras como “independência”, “trabalho quando quiser”, “seja seu chefe”. O liberalismo defende a liberdade absoluta de mercado, onde a empresa e indivíduo que tomam as decisões e não o Estado, trata-se da liberdade de indivíduos e empresas de produzir, vender e comprar bens e serviços sem interferência do governo. Ao defender e propagar a ideia de “mentalidade de dono”, “empreendedorismo” o iFood passa a ideia de que essa nova modalidade de trabalho seja um exemplo de liberalismo, a atividade de entregadores de aplicativos está inserida numa lógica liberal no sentido em que indivíduos têm a liberdade de utilizar seus veículos pessoais para gerar renda, sem necessariamente estarem vinculados a um emprego tradicional. Isso reflete um aspecto do liberalismo econômico, onde a intervenção do Estado na economia é limitada, porém, esses entregadores estão sujeitos a ordens, cobrança de metas, bloqueios temporários e definitivos, não possuem autonomia para determinar seu ganho por cada entrega e possuem supervisores.
Em vários noticiários e matérias no iFood News o iFood se intitula como uma empresa parte da “Nova Economia” ou “Novo Mundo”, ela demonstra que está caminhando junto com as inovações tecnológicas, essa “nova economia” é uma cultura corporativa que caminha na velocidade das inovações tecnológicas fazendo que haja a necessidade de um modelo de gestão mais ágil, é preciso estar atento para mudar e acompanhar os avanços e as demandas dos clientes.
O iFood News lança uma série nos quais os executivos do iFood explicam como os conceitos da Nova Economia estão presentes nas estratégias de diferentes áreas da companhia, como comunicação, gestão de pessoas, crescimento e políticas públicas.
Na Nova Economia, as empresas são muito centradas nas soluções que elas vão criar, como elas vão beneficiar todo o ecossistema e as pessoas que trabalham ali” elenca Vitti.
Justamente por isso que a gestão de pessoas tem um papel imprescindível no sucesso de negócios de empresas adeptas a esse novo modelo de negócio. A transparência e a troca com quem faz o iFood acontecer, explica Vitti, são diferenciais da companhia.
É uma troca muito saudável do que a gente tenta oferecer para essas pessoas aqui dentro, seja na forma de carreira, desenvolvimento, oportunidade ou remuneração, da mesma forma que essas pessoas elas também aportam muito aqui dentro, mas inovações, no apetite para o risco ou para fazer coisas diferentes”, explica o VP de Pessoas e Sustentabilidade (IFOOD, 2024c).
Os textos acima, passa uma imagem de que a empresa se preocupa com o profissional, com os risco e problemas que ele enfrenta e que é considerada uma troca, uma troca onde o trabalhador cumpre as exigências, os horários, possui seu veículo próprio, celular e internet, e em troca não possui nenhum vínculo empregatício com a empresa, não possui acesso e liberdade de estipular o valor cobrado por corrida, não possui o direito de cancelar a viagem sem sofrer bloqueios e penalidades.
Quando o Ifood se intitula ser inovador e que o serviço é uma “nova economia” em construção que levará a um “novo mundo”, ele tenta convencer o leitor a entender que a empresa é protagonista dessa inovação, induzindo uma leitura isotópica. No canal iFood News possui uma coluna sobre como aprender a “nova economia” e as principais características.
Nova economia é o termo usado para definir modelos de negócio impactados por uma série de tecnologias e baseados mais em serviços do que em produtos. Indústrias de alto crescimento que estãona vanguarda da inovação tecnológica são exemplos de negócios da Nova Economia. A união de serviços e tecnologias também têm possibilitado o desenvolvimento de empresas que utilizam a tecnologia para solucionar problemas da sociedade. Como uma empresa nascida na Nova Economia, o iFood tem muito a compartilhar sobre este conceito (IFOOD, 2024c).
Apostar nesse discurso de nova economia e inovação, que juntos estarão promovendo o “novo mundo” é uma forma de atrair trabalhadores, os enunciados das colunas são voltados para a importância dessa nova economia e que é ela que vai predominar no futuro, isso faz com que os jovens que buscam um mercado diferente e inovador sejam atraídos pela empresa.
O discurso de empreendedorismo neoliberal do aplicativo é feito de forma leve e positiva para manipular o trabalhador com a positividade de flexibilidade de horário e que ele é seu próprio chefe. A ausência de chefe ou patrão transmite uma sensação de liberdade, o que não passa de uma construção psicológica na cabeça do trabalhador.
No site, o iFood explica o motivo pelo qual não contrata os entregadores nos termos da consolidação das Leis trabalhistas, justificando que esse tipo de trabalho tem como valor a liberdade de escolha e independência do trabalhador, quando autônomo esse trabalhador poderá trabalhar quando quiser e para a empresa que desejar, podendo trabalhar para mais de uma empresa no mesmo período. Tal justificativa é uma manipulação realizada pela empresa com o objetivo de fazer o trabalhador acreditar que ele quem escolhe as empresas e horários que vai trabalhar, que é o trabalhador que possui o poder de decisão, induzindo o entregador permanecer em um sistema precário de trabalho, onde será necessário ter várias ocupações para garantir seus salários. É a oportunidade que o neoliberalismo teve para explorar o trabalhador em um sistema de capitalismo de plataforma sem a proteção das leis trabalhistas, deixando-o precário.
Na coluna “A regulação do trabalho dos entregadores é prioridade em 2023” a empresa coloca como meta a regulamentação dos entregadores no ano de 2023, no entanto, até hoje não houve mudança significativa na vida desses trabalhadores, justificando isso, a empresa explica que os trabalhadores não aprovam o modelo CLT e por isso, permanecem sem mudanças.
Quais seriam os pontos importantes dessa nova regulação?
Essa é uma resposta que precisará ser construída em conjunto com os trabalhadores, o governo e o setor. Desde já, nos parece quea primeira premissa é a de que o modelo CLT não é adequado para nenhuma das partes. Por outro lado, outro princípio muito importante é que é preciso haver inclusão previdenciária desses trabalhadores e oferta de direitos básicos.
Isso implica na necessidade de uma regulação diferente. O modelo de regulação das atividades não serve mais para essa nova realidade. Aqui no iFood a gente não avalia se a CLT [Consolidação das Leis do Trabalho] é boa ou ruim. Nós temos a convicção de que ela não serve para regular o trabalho por aplicativo.
Escutamos essa convicção dos próprios trabalhadores. Em uma série de pesquisas rodadas nos últimos três anos, eles apontam: 2 em cada 3 trabalhadores de aplicativo não querem o modelo CLT (IFOOD, 2024d).
Para o iFood, esse é apenas o começo da discussão. Por mais que a legislação tradicional não seja compatível com os novos modelos de negócio, achamos que existe, sim, a necessidade de uma regulação diferente, que abarque essas novas características do trabalho.
Para o iFood, esse é apenas o começo da discussão. Por mais que a legislação tradicional não seja compatível com os novos modelos de negócio, achamos que existe, sim, a necessidade de uma regulação diferente, que abarque essas novas características do trabalho.
Entendemos, por exemplo, que alguns direitos e benefícios existentes no sistema formal de seguridade social precisam ser garantidos aos entregadores por meio de uma regulação própria (IFOOD, 2024d).
Em alguns vídeos feitos por entregadores eles compraram o ganho do salário na forma da flexibilização com um salário mínimo que eles ganharam se fosse de carteira assinada, há uma ideia de que o salário que eles iriam ganhar seria apenas um salário mínimo, fazendo com que a possibilidade de ser celetista fosse desvantajosa. Em um vídeo do YouTube realizado pelo youtuber Lucas de Souza Goulart, entregador do iFood, o canal é intitulado como “o curioso maneiras”, o influenciador possui 25,5 mil inscritos e fez um vídeo explicando se era compensativo trocar a flexibilização do salário pelo celetista, no vídeo ele cita diversas desvantagens, ele cita o horário de trabalhado não flexível, o tempo para o deslocamento para o serviço, o valor diário baixo (com a base do cálculo de um salário mínimo), e defende que não compensa o FGTS (fundo de garantia do tempo de serviço) e outros benefícios do celetista. O influenciador cita que ganhou no mês anterior o valor de 5.232,00 trabalhando 12hs por dia, retirando o gasto estimado com a moto e alimentação, o ganho foi de 4.232,00, comparado opinião dele a um salário mínimo que seria o seu salário na forma de celetista, o valor estaria muito abaixo do que ele recebe trabalhando sem regulamentação. Essa perspectiva de salário mínimo na forma de celetista é uma ideia geral dos trabalhadores, uma ideia que foi sendo espalhada de forma equivocada entre influenciadores e debates da empresa. São formas de manipular o trabalhador a não querer regulamentar a profissão (GOULART, 2022).
Isso só mostra o quanto a mentalidade do neoliberalismo está impregnada na cabeça desses trabalhadores, as diversas explicações e reuniões que a empresa faz com líderes e os noticiários no iFood News criaram um conceito de que as vantagens obtidas pelo regime trabalhistas iriam atrapalhar a desenvolver seu trabalho, como por exemplo o trabalhador não teria flexibilidade e não poderia trabalhar em mais empresas ao mesmo tempo, levando uma ideia de que ele iria receber menos por hora, além disso, haveria a necessidade de selecionar trabalhadores para essa categoria, o que faz crescer o medo de ficar sem emprego.
Em uma notícia do iFood News, intitulada como “Entregadores do iFood ganham 165% da remuneração CLT por hora”, relata que o ganho dos entregadores é bem mais satisfatório comparado ao celetista, porém ao ler a matéria toda, verifica se que o cálculo é feito no horário que o trabalhador está entregando, o tempo que ele fica parado esperando a demanda de entrega não entrou no cálculo, além disso, esse cálculo foi comparado a um salário mínimo. A notícia tem um título chamativo e vários infográficos ilustrando (fig. 8) o quanto é favorável trabalhar para a empresa, a explicação do cálculo se encontra no fim da matéria.
Os entregadores e as entregadoras que atuam na plataforma do iFood ganham por hora, em média, 165% da remuneração de quem atua no mercado formal de trabalho, no modelo CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).
Esse estudo comparou os ganhos desses entregadores por hora trabalhada —enquanto estão atendendo a pedidos— com quem trabalha no modelo formal (CLT). E teve como base os registros de 181,2 milhões de entregas realizadas entre janeiro de 2019 e dezembro de 2020 e de responsabilidade do iFood, na modalidade nuvem.
Os ganhos foram estimados dessa forma porque os entregadores, quando estão ociosos, mesmo estando logados no aplicativo do iFood, podem se dedicar a outras atividades produtivas e remuneradas—inclusive de entregas por outras plataformas (IFOOD, 2024e).
Figura 8 – CLT X Entregadores do iFood
Fonte: https://institucional.ifood.com.br/entregadores/entregadores-do-ifood-ganham-165-da remuneracao-clt-por-hora/
De acordo com Greimas (1976), os indivíduos denominados de Ui são transformados em eventuais participantes denominados de Up que trazem sua parte de valores objetivos “porções de capital” e subjetivos “seu querer”, dessa forma, o iFood é um sujeito da sociedade que possui um querer com o objetivo de obter um objeto de desejo específico, sendo que esse objeto poderá ser expresso em valores objetivos “obtenção do capital” e no subjetivo que é “o seu querer”, para obter o valor objetivo é necessário alcançar o valor subjetivo. O valor subjetivo dos participantes do iFood está concentrado na manutenção do sistema capitalista de exploração. Quando o trabalhador é manipulado com o desejo de ser seu próprio chefe e ser empreendedor, enxergando as regras trabalhistas como desvantagens e ultrapassadas, valorizando a inovação da forma de trabalho e de salário, o capitalismo garante o seu plano de se manter como atuante no coletivo (GREIMAS, 1976).
Quando o iFood defende a ideia que poder trabalhar para vários locais ao mesmo tempo é benéfico, ele está influenciando os trabalhadores a precarização do trabalho, pois a ideia que cria é que quanto mais locais ele trabalhar melhor será o lucro dele, assim o trabalhador associa que ganhar bem é proporcional a trabalhar muito e em vários locais.
A empresa se mostra atenta às necessidades da classe trabalhadora e as vontades dos entregadores que são passados pelos líderes dos estados, o que não passa de uma intenção para ludibriar os leitores e trabalhadores, após as diversas manifestações durante a pandemia, passou a ser realizado fóruns e encontros com líderes de cada estado a fim de saber as principais queixas dos entregadores, porém, esse espaço e proximidade com os líderes dos trabalhadores são momentos que facilitam a propagação de ideias capitalistas e formas de evitar as manifestações nas ruas, são formas pacíficas de “calar a boca” dos entregadores, e não permitir que as reclamações e problemas estejam transparentes para a sociedade. O fórum ocorreu nos dias 13 a 15 de dezembro de 2021, e não houve outro fórum para o encontro de líderes.
Todos os representantes da categoria tiveram a oportunidade de se expressar e apresentar as dificuldades que vivenciam no dia a dia – por exemplo, questionamentos sobre razões de bloqueios e inativações de conta, migração do entregador do modelo Operador Logístico para Nuvem, busca por mais respeito e valorização do trabalho, ajustes no modelo operado nos pontos de apoio, possibilidade de reajuste anual das taxas, considerações sobre agendamento e entregas duplas, entre outros. Os debates foram mediados pelos facilitadores da Consultoria Enraize.
O iFood ouviu abertamente todas as demandas, com empatia.
“O diálogo aberto abriu caminho para oportunidades de se promover melhorias, bem como dar mais visibilidade e transparência sobre o modelo operado pela plataforma e sua relação com os entregadores”, avalia João Sabino, Diretor de Políticas Públicas e Relações Governamentais do iFood. “e também pôde dar mais.
Entre as conquistas do Fórum, estão regras e modelos de operação mais claros, bem como a comunicação mais transparente, com direito à contestação nas desativações. Para Vanessa Barbosa, líder-entregadora de Belo Horizonte, o mais importante do Fórum foi ser ouvida e o iFood ter conhecimento das demandas apresentadas. “Levei para discussão as dificuldades que passamos na rua. Acho que só o fato de chegarmos aqui, eles terem nos ouvidos e encaminharem o que queríamos já foi uma grande vitória”, avalia ela.
Outro ponto importante discutido foi a antecipação da migração do entregador que trabalha no Operador Logístico – empresa contratada pelo iFood para operar em algumas praças, com definição de horários por turnos e agendamentos – para o modelo Nuvem – entregador cadastrado diretamente na plataforma do iFood.
“O encontro foi importante para ouvir, aprender ainda mais sobre o dia a dia dos entregadores e entregadoras, ter a oportunidade de tirar dúvidas, explicar a necessidade de alguns processos e, ainda, trazer soluções para melhorar a experiência com a plataforma”, comenta Claudia Storch, diretora de operações do iFood. “Ouvir os apontamentos das realidades dos entregadores nas diferentes regiões foi essencial para definir prioridades para execução. Essa escuta precisa ser contínua e se soma às demais iniciativas para promover um modelo positivo para todas partes do nosso ecossistema” (IFOOD, 2024f).
Outro ponto importante é o bloqueio e desativação dos trabalhadores feito sem aviso e de forma injusta, o iFood possui um infográfico com explicações sobre o assunto. A restrição temporária: bateria abaixo de 15%, data ou hora errada, dispositivo não registrado, GPS ou internet desativado, redefinição de senha pendente, utilização do app em áreas fora da cadastrada para fazer entregas, ter app que bloqueia o GPS, reconhecimento facial pendente, termos de condições e uso não aceitos, acidente (24hs), cancelamento de entregas ou entregas atrasadas, rotas rejeitadas, problemas no veículo (8hs). A inativação temporária (48hs) ocorre quando: pedidos não entregues, rotas suspeitas, solicitação indevida de taxa de espera, uso de contas de outras pessoas, aluguel ou empréstimo de sua conta e cobrança feita de maquininhas não cadastradas. A desativação com aviso prévia ocorre quando à excesso: solicitação de taxa indevida, não realização da cobrança ao cliente, cobrança feita de forma diferente a selecionada no app, solicitações por problemas no veículo após a coleta do pedido sem evidências, solicitações por problemas de área de risco sem entrega do pedido com evidências dos riscos, informação inadequada do motivo de cliente não localizado. A desativação sem aviso prévio: agressão ou assédio, cobrança indevida, recorrência de cobrança feita sem o pareamento com o app, criação de contas falsas, empréstimo e aluguel de contas, pedido não entregue, recorrência de login com celular suspeito, recorrência de rota suspeita, utilização de app que alterem a localização e utilização de documentos de outras pessoas.
As regras do iFood são para a proteção da população, porém mesmo sabendo de tais regras o trabalhador tem o direito de ser ouvido e de saber o real motivo pelo qual sofreu a punição, a empresa faz o bloqueio e não esclarece o motivo, ela simplesmente pune. Além disso, algumas punições são injustas, como no caso de entrega não realizada por motivo de veículo quebrado, acidente e endereço com riscos, à saúde do entregador também precisa ser levada em consideração. Ao fazer uma busca das últimas reclamações no reclame aqui, verificamos uma série de reclamações recentes baseadas em desativação sem explicação. E todas as respostas dadas no site são genéricas e iguais, levando em consideração que o entregador após a punição não consegue mais entrar no app, e a resposta no reclame aqui é genérica, ele não fica sabendo o real motivo pelo qual ele foi “demitido”.
Figura 9 – Resposta de uma reclamação do iFood
Fonte: RECLAME AQUI, 2024c
Figura 10 – Print da tela inicial de reclamações do Reclame aqui sobre trabalhadores do iFood
Fonte: RECLAME AQUI, 2024d
A proposta atual do iFood e das demais empresas do ramo, é de não acatar os respaldos das leis trabalhistas, não isentar o entregador de cumprir longas jornadas de trabalho e exercer sua profissão sob subordinação enquanto está logado na plataforma, pois o trabalhador deve ficar com o GPS ativo a todo o momento que está logado, sendo assim o mesmo é fiscalizado e monitorado o tempo todo, sendo que em qualquer suspeita de infração das regras o mesmo é punido sem direito de explicação. Além disso, o quão legítimo é essa investigação sobre a suspeita do entregador a ponto de aplicar uma punição? Sem que haja a necessidade de interrogar o “culpado/ suspeito”.
Em 11 de novembro de 2017 a Lei 13.467/17 da reforma trabalhista para o trabalho intermitente a fim de proteger o chamado “bico” “extra”, determinou que é permitido exercer atividade com carteira de forma esporádica, com alterações de horários de serviço e inatividade determinados previamente e com subordinação não contínua, a lei prevê ainda que não se pode considerar insubordinação a recusa de um trabalho de forma antecipada, além disso, a lei prevê férias e adicionais (BRASIL, 2017).
§ 3º Considera-se como intermitente o contrato de trabalho no qual a prestação de serviços, com subordinação, não é contínua, ocorrendo com alternância de períodos de prestação de serviços e de inatividade, determinados em horas, dias ou meses, independentemente do tipo de atividade do empregado e do empregador, exceto para os aeronautas, regidos por legislação própria.
“Art. 452-A. O contrato de trabalho intermitente deve ser celebrado por escrito e deve conter especificamente o valor da hora de trabalho, que não pode ser inferior ao valor horário do salário mínimo ou àquele devido aos demais empregados do estabelecimento que exerçam a mesma função em contrato intermitente ou não.
§ 1º O empregador convocará, por qualquer meio de comunicação eficaz, para a prestação de serviços, informando qual será a jornada, com, pelo menos, três dias corridos de antecedência.
§ 2º Recebida a convocação, o empregado terá o prazo de um dia útil para responder ao chamado, presumindo-se, no silêncio, a recusa.
§ 3º A recusa da oferta não descaracteriza a subordinação para fins do contrato de trabalho intermitente.
§ 4º Aceita a oferta para o comparecimento ao trabalho, a parte que descumprir, sem justo motivo, pagará à outra parte, no prazo de trinta dias, multa de 50% (cinquenta por cento) da remuneração que seria devida, permitida a compensação em igual prazo.
§ 5º O período de inatividade não será considerado tempo à disposição do empregador, podendo o trabalhador prestar serviços a outros contratantes.
§ 6º Ao final de cada período de prestação de serviço, o empregado receberá o pagamento imediato das seguintes parcelas:
I – Remuneração;
II – Férias proporcionais com acréscimo de um terço;
III – Décimo terceiro salário proporcional;
IV – Repouso semanal remunerado; e
V – Adicionais legais.
As mudanças na lei intensificam os impactos da precarização do trabalho e ampliam as oportunidades e formas de explorar a força de trabalho de muitos trabalhadores e trabalhadoras. Esse processo está ligado à progressiva desvalorização dos direitos trabalhistas que foram conquistados ao longo da história através de várias batalhas da classe trabalhadora.
Nessa reforma, o iFood encontrou uma forma de manter o trabalhador controlado por regras, incluindo o horário fixo de trabalho (na categoria operador logístico) e com a subordinação de gerentes, no entanto a empresa não realiza o pagamento pelas horas que o entregador está à disposição dela, mas não está realizando entregas.
Com o aprofundamento do neoliberalismo, tivemos uma ação do Estado no sentido de reduzir os direitos dos trabalhadores e destruir diversas instituições que os defendem. Com isso se deixou um espaço mais livre para as empresas agirem da forma como sempre agiram, na busca pelo lucro. A questão da uberização se insere nessa lógica. No Brasil é uma situação ainda mais complicada porque temos uma piora das condições de trabalho desde 2017, com o aumento do desemprego, informalidade e precarização no mercado de trabalho. A reforma trabalhista liberou a terceirização para diversos setores da economia e criou a figura do trabalho intermitente (AZENHA, 2020).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao analisar o site da empresa, a imagem transmitida é de uma empresa inovadora que empodera seus funcionários, preza por igualdade e inclusão social, composta de trabalhadores alegres, motivados e despojados, as roupas dos personagens representando os trabalhadores são roupas despojadas com cores alegres e vibrantes, passando a imagem de equipe feliz e satisfeita. O site possui vários relatos em forma de vídeos de trabalhadores contando sua experiência maravilhosa com a plataforma motivando outros a vir para a empresa.
A aparência é a vontade de mostrar-se semelhante a um modelo admirável e, sobretudo, de expressar-se diante do outro. “Funciona como uma camuflagem ou maneira superficial de se apresentar publicamente, parecendo verdadeira ou ocultando a essência do ser sob essa camada externa” (STEFANI, p. 70; 2005)
“Na tentativa de tornar o corpo palco de um discurso, o ser humano usa o sistema da moda para estruturar sua apresentação pessoal. Tal sistema é composto por todas as unidades mínimas e pela ordem da possibilidade de suas combinatórias” (STEFANI, p. 69; 2005). A moda, a roupa, a indumentária, a vestimenta, representa alguma coisa física, mental ou sensorial, desencadeando um significado. “Cabe ao designer de moda identificar a necessidade da sociedade e gerar através do produto final o sentimento de satisfação ao consumidor” (Silveira, Schneid; 2019), neste caso ao fazer a análise semiótica das vestimentas dos trabalhadores que são apresentados no site, podcast e iFood News revelam que há o uso de comunicação através das roupas desses trabalhadores, transmitindo uma sensação de pessoas felizes, bem sucedidas e motivadas.
É pela vestimenta o primeiro contato visual que terceiros tem sobre uma pessoa, a roupa serve como um mecanismo de captar a atenção, e de tirar suas primeiras conclusões a respeito do outro. É a determinada forma como uma pessoa está vestida, que torna visível muitos aspectos de sua personalidade, do seu estilo de vida, dos seus gostos, da sua cultura, do local onde vive, dos lugares que frequenta, da sua classe social, influenciando diretamente a maneira como ela é vista pelos demais indivíduos que estão ao seu redor. (Silveira, Schneid; 2019).
O site utiliza diversas figuras para se comunicar com o leitor, para auxiliar na persuasão da imagem que a empresa quer transmitir, um exemplo é a imagem n.6 que fala sobre o empreendedorismo prometido pela empresa, mostra um dos fundadores do iFood andando de patinete no meio do escritório, transmitindo a sensação de liberdade e um bom vínculo com a equipe, um ambiente descontraído. As frases motivacionais usadas na figura, mostram um planeta que acaba de ser descoberto e está com uma bandeira do iFood motivando o trabalhador a sair da sua zona de conforto e se desafiar e sonhar grande, em outra frase com a imagem de um elefante sentado, o elefante que é um animal grande e forte quando apresenta sentado passa a sensação de que ele não sabe a força que tem, que precisa se levantar e mostrar sua força, a imagem está acompanhado da frase “coragem para superar desafios” “encare os fatos de frente”. Corroborando com isso, Matos e colaboradores (2014), explicam sobre a importância da imagem para uma comunicação efetiva “Na comunicação contemporânea, a imagem é uma ferramenta que auxilia na disseminação das informações para os públicos de interesse de uma organização”.
Os profissionais de comunicação lidam com uma sociedade onde a cultura e a informação possuem um cuidado predominantemente visual. Onde o “visual predomina, o verbal tem a função de acréscimo”. Por isto, as relações públicas lidam com imagens em vários âmbitos de seu trabalho, para construir a imagem de uma empresa, de uma marca, de uma pessoa, de uma organização de terceiro setor, entre outros. O uso da imagem como ferramenta da comunicação se faz essencial na sociedade contemporânea. Por isto, atualmente vemos que as imagens são capazes de disseminar mais sentidos e entendimentos que outras formas de representação. Ela permite que sua compreensão seja obtida por quase todos, percorre o mundo com mais rapidez através de meios como a internet e a televisão e abre espaço para com que todos encontrem seu sentido, sua mensagem visual. E assim pode-se perceber que a utilização de imagens pela comunicação para disseminar conteúdo é necessária para a sua melhor compreensão ou até mesmo pode ser a única utilizada, dispensando o uso de elementos textuais (MATOS et.al., 2014).
Todo o conteúdo disponibilizado pelo iFood é tratado com várias imagens, logo no início do pocket sobre a cultura da empresa, a imagem inicial é de um foguete com o símbolo do iFood, o foguete pode ser interpretado como “voar alto”, “descobrir novas terras”, de forma geral sair do comodismo em busca de novos ideais e em todo o conteúdo possui uma imagem acompanhado de um título provocador ou incentivador.
No site o iFood passa uma imagem de deixar os entregadores bem esclarecidos com os motivos de bloqueio, apesar de não estar em um local no site fácil de ser achado, após a última atualização do site, é necessário entrar no site do iFood, clicar em “entregadores” >> “Jeito iFood de entregar” >> rolar até o fim da página e clicar em “bloquear”, as frases são curtas e sem detalhamento, porém está no site esse item, dessa forma se o entregador quiser saber o que não fazer para não ser “desligado” basta ele acessar, no entanto, ao entrar no reclame aqui, nota-se várias mensagens de indignação dos trabalhadores por estarem bloqueados e não saberem o motivo, sem direito de ser esclarecido e se defender, além disso, as respostas da empresa para essas reclamações são respostas genéricas e iguais para todos os trabalhadores, demonstrando o descaso da empresa com o entregador. Mais indignação ainda é a reputação da empresa ser “bom” com pontuação de 7.0 porque ela responde as reclamações, mesmo que de forma nada esclarecedora e encerra a reclamação, colocando os direitos do trabalhador em segundo plano. Ao fazer uma busca no dia 08 de maio de 2024 no Reclame Aqui na área de entregador do iFood, o site informa que entre 01 de novembro de 2023 a 30 de abril de 2024 a empresa recebeu 135.595 (cento e trinta e cinco mil quinhentos e noventa e cinco) reclamações com motivos diversos, ao utilizar o filtro com a frase “bloqueio injusto” constatou 1.572 reclamações sobre os bloqueios indevidos ou sem explicação (fig. 11). O número expressivo de reclamações sobre bloqueios injustos contradiz o propósito da empresa, que é a governança: Ética e transparência e sua meta que é “desde o início, a missão do iFood é ser a maior e melhor plataforma de delivery de alimentos”.
Nossa governança corporativa está presente em nossas políticas, não só para avaliar e reduzir riscos, mas também para reforçar nosso compromisso com FoodLovers, pessoas entregadoras, estabelecimentos parceiros e consumidores. Promovemos a transparência divulgando resultados e prestando contas.
Figura 11 – Bloqueios Injustos do iFood no Reclame aqui
Fonte: Reclame aqui, 2024e
Ao navegar pelo site Reclame Aqui no dia 09 de maio de 2024 com o filtro de bloqueio injusto, constatamos diversas denúncias de trabalhadores quanto ao descaso em conversar e explicar para o trabalhador sobre os motivos da “demissão”, uma reclamação específica consta que o entregador se vê como “escravo vestido de entregador”, e que eles não são empreendedores, a resposta da empresa foi que quando a inteligência do sistema identifica um padrão que não tenha alinhado com as diretrizes ele é desligado, a reclamação foi marcada como não resolvida e o entregador desempregado (Fig. 12). No site constam várias reclamações sobre bugs no aplicativo, em alguns casos os entregadores notificam a empresa, mas não é feito nada para solucionar e comunicar o entregador e com o tempo o aplicativo volta a funcionar sozinho. Lembrando que o artigo 20 da LGPD (lei geral de proteção de dados) garante o direito de solicitar a revisão, por um ser humano, de uma decisão tomada unicamente com base em tratamento automatizado. O objetivo é evitar que indivíduos sejam alvo de práticas discriminatórias dos algoritmos responsáveis pela decisão. Dessa forma, em casos de reclamação de bugs e falhas de sistema, os trabalhadores têm o direito de ter sua reclamação ouvida e revisada antes de ser desligado.
Figura 12 – Aplicativo enganador
Fonte: Reclame aqui, 2024f
Sobre as instruções acerca dos riscos que esse trabalhador passa nas ruas, no início da análise, não havia nenhuma aba ou cartilha tratando do assunto, porém no início de maio de 2024 o site ficou suspenso para atualização e foi incluído algumas informações sobre esses riscos na aba “segurança”, com as instruções de direção defensiva, equipamentos necessários, primeiros socorros, como contactar com o suporte em caso de acidente e acionar o seguro, caso o mesmo tenha direito. Faz necessário lembrar que a empresa já está no mercado há alguns anos e que existem vários noticiários sobre acidentes e outros problemas enfrentados por entregadores, sendo necessário a elaboração mais detalhada e elucidada sobre esses riscos.
É importante salientar que o site passa por diversas modificações e atualizações, as análises foram realizadas no período de março, abril e maio. Na pandemia o iFood ganhou visibilidade e expandiu de forma drástica o número de clientes, o isolamento social associado com o aumento do desemprego fez com que vários trabalhadores migrassem para as entregas á domicílio como forma de manter sua vida financeira estável ou apenas não passar fome, com o tempo vários problemas foram surgindo com esses trabalhadores, e o medo de expor os problemas e acabar desempregado eram constantes dentro dessa classe trabalhadora. Nesse contexto, houve um homem que cansado de receber punições injustas e sem o direito de saber o motivo abriu mão da segurança em ter um emprego e iniciou diversas denúncias em redes sociais e manifestações públicas sobre os abusos sofridos por empresas de aplicativo.
Na análise dos depoimentos de Paulo de Lima, conhecido com Galo de luta, se tornou o líder dos movimentos dos entregadores antifascistas, seus argumentos e discursos são pautados na conscientização dos entregadores sobre a manipulação das plataformas de aplicativos com o objetivo de estimular os entregadores a lutarem por seus direitos trabalhistas, durante sua trajetória, o mesmo percebeu que os trabalhadores já estavam ludibriados com a fantasia de empreendedor, deixando sua luta mais polêmica e com dificuldade de adesão pelos trabalhadores.
A sua narrativa nas reportagens, utilizando um dialeto periférico com gírias e verbos mal conjugados, mostra a simplicidade da classe desses trabalhadores, pessoas com condições mínimas de estudar, desempregadas, com contas para pagar e famílias para cuidar, trata-se de pessoas que buscam melhorar suas vidas e condições financeiras através de trabalho honesto, e encontram um novo ramo no mercado de trabalho inovador e promissor, a empresa vende a ideia de que o trabalhador pode ser seu próprio gestor, ter flexibilidade de trabalho, poderá trabalhar para várias empresas ao mesmo tempo e com a lucratividade alta, essa mistura de benefícios associados às taxas de desemprego durante a pandemia, fizeram essas empresas “estourar no mercado”, ganharam uma visibilidade e fama, enquanto os trabalhadores se arriscam diariamente para comprimir suas metas e tentar chegar no tão sonhada estabilização financeira. Não demorou muito tempo, os problemas começaram a manifestar, a quantidade de acidentes automobilísticos que envolviam trabalhadores com as bags, as contaminações pelo COVID-19, a falta de instruções, falta de distribuição e apoio na pandemia, bloqueios injustos, discriminação e violência, e assim o sonho de se tornar empreendedor ia acabando para cada um em um tempo diferente, alguns mais resistentes e outros eram “despedidos” pelos bloqueios ainda no começo de sua “carreira”.
Os trabalhadores foram “contratados” sem treinamento e instrução sobre as regras das plataformas, isso porque as empresas promoviam a ideia de ser apenas intermediadora de serviços para os entregadores, dessa forma ela se livrava de qualquer vínculo com esses profissionais, elas não tinham nenhumas responsabilidades sobre eles, no entanto, eles possuíam metas, supervisores e sofriam punições sem saber os motivos delas. A flexibilidade de trabalho se tornou uma condição exaustiva, o que era para ser um trabalho com horários flexíveis tornou-se um quesito para promover o trabalhador, quem trabalha mais tempo logado recebe mais encomendas, possui um tempo de parada pequeno, as pessoas que utilizam esporadicamente, ao logar ficavam de “castigo” por um tempo.
O Galo possui fundamental importância na exposição dos problemas sofridos pelos entregadores, ele teve a coragem de se expor e se bloqueado definitivamente da plataforma em prol de lutar por direitos de um trabalho digno e justo, calar e intimida-lo perante a classe trabalhista por transgressão de regras cometidas no âmbito pessoal é punir não só ele, mas todos os entregadores. Uma vez que ele é intimidado e perseguido, toda a classe trabalhadora se sente intimidada a relatar os problemas e sofrer punições.
Nesse contexto de criar conflitos envolvendo o nome do Paulo, causou uma fragilidade nas manifestações, o grupo sofreu divisões de opiniões, com as reportagens veiculadas pelas mídias alguns passaram a assimilar as polêmicas envolvendo o líder com a sua luta, descredibilizando sua trajetória. Independente das polêmicas e perseguição que Paulo sofre após expor as plataformas, os contextos de reivindicação de direitos e trabalho justo deveria ser dissociado das polêmicas que envolvem o líder em caráter pessoal, assim a punição pelas infrações caberia apenas a ele cumprir, sem que todos os trabalhadores fossem penalizados.
Diante dos fatos expostos, partindo da premissa que a precarização do trabalho é um conjunto de ações que fere os direitos e a dignidade do trabalhador, incluindo jornadas longas de trabalho, remuneração indevida ou injusta, instabilidade e falta de proteção social e laboral, ao analisar as condições de trabalho dos entregadores por aplicativo fica evidente que essa classe trabalhadora é precarizada. As raízes da precarização estão no capitalismo e na dependência financeira do Brasil, que precisa adaptar-se aos modelos e determinações de trabalho de outros países e com isso incorpora as práticas de terceirização, flexibilização e resulta na precarização do trabalho.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dentro da perspectiva do neoliberalismo, da valorização do empreendedorismo individual e da crença na meritocracia, os trabalhadores estão vendo seus direitos tradicionais serem minados, especialmente no caso dos entregadores que trabalham por meio de aplicativos. Eles são persuadidos a adotar esses valores e acabam tendo seus direitos ignorados, sendo tratados como autônomos e não como trabalhadores com direitos garantidos. Na prática, estão realizando um trabalho que beneficia as plataformas dos aplicativos, os quais se exime de qualquer responsabilidade pelas condições de trabalho oferecidas, desrespeitando os princípios básicos do direito trabalhista e tornando a situação de trabalho cada vez mais precária. A Uberização das relações laborais, onde algumas empresas monopolizam um determinado setor de atividade, impõem condições de trabalho degradantes à sociedade e aos trabalhadores. Isso ocorre com os entregadores de aplicativos, que não recebem apoio das empresas, treinamentos e pagamentos justos por sua hora de trabalho, fazendo-os trabalhar em jornadas exaustivas de trabalho para garantir um salário digno. Além disso, o mesmo é tratado como um empreendedor, é motivado a se reconhecer como tal, quanto na verdade, eles são trabalhadores explorados e enganados por essas empresas.
O discurso de empreendedor elaborado pelas empresas, consegue manipular uma parcela desses trabalhadores, até que surge um problema que afete esse trabalhador, como o caso dos bloqueios injustos, tema do discurso dos manifestantes antifascistas, até acontecer essa “virada de chave” os mesmos trabalham cada dia mais horas, sem condições e garantia de trabalho.
Todos esses fatores fazem com que muitos entregadores e motoristas trabalhem mais de 12 horas por dia, visto que parte do seu valor fica retido pela empresa do aplicativo, além dos custos de manutenção do veículo e combustível. O sistema jurídico precisa, portanto, de estar consciente destas novas formas de trabalho precário. Além da regularização da condição de vínculo desse trabalhador há a necessidade melhorar as condições de trabalho, incluindo o desenvolvimento de aplicativos e tecnologias colaborativas que atendam aos seus interesses por uma vida digna.
REFERÊNCIAS
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1Mestrando em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador na Universidade Federal de Uberlândia (UFU). E mail: mariane_palhano@hotmail.com
2Professor do Programa de Pós graduação em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador (PPGAT) na Universidade Federal de Uberlândia (UFU). E-mail: antonio.sampaio@ufu.br
3Professor da Faculdade de Ciências Contábeis (FACIC) na Universidade Federal de Uberlândia (UFU). E-mail: emn@ufu.br