REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202504182217
Ana Júlia Costa Alves de Araújo
Bruna Andrade Pereira
Fernanda Brandão Ferreira de Vilhena Arcuri
Gabriela Casimiro Silva
Gabriela Ferreira Silva
Jeissy Kelly Geraldo Boaventura
Maria Eduarda Scalioni Anunciação
Sarah Aparecida Fidelis
Viviane Cristine Ferreira
Orientadora: Monica Beatriz Ferreira
Resumo
O uso crescente de ferramentas tecnológicas associadas à inteligência artificial (IA) reflete a busca por maior eficiência, precisão e segurança no atendimento aos pacientes, além da otimização do fluxo de trabalho dos profissionais da saúde. O atual estudo buscou identificar o uso e reconhecimento das tecnologias/IA por profissionais de enfermagem. Trata-se de um estudo transversal do tipo snowball realizado em março de 2025, utilizando um questionário com dados demográficos e específicos. Todos os participantes deram ciência e autorização para utilização dos resultados. Resultado: foram investigados 54 sujeitos, 81% do gênero feminino, 22 sujeitos usam chatbot no dia a dia, apenas 7% temem perder espaço profissional para a tecnologia/IA, 13 (24%) apontaram desconhecer o decreto que permite a realização de telenfermagem emitida pelo conselho Federal de enfermagem. Conclui-se que os profissionais estão abertos para a tecnologia/IA apontando que poderia ser melhor utilizada no ensino e na capacitação profissional.
Palavra chave: Tecnologias; Inteligência Artificial; Enfermagem.
Abstract
The growing use of technological tools associated with artificial intelligence (AI) reflects the search for greater efficiency, precision and safety in patient care, in addition to optimizing the workflow of health professionals. The current study sought to identify the use and recognition of technologies/AI by nursing professionals. This is a cross-sectional snowball study conducted in March 2025, using a questionnaire with demographic and specific data. All participants gave their knowledge and authorization for the use of the results. Result: 54 subjects were investigated, 81% of whom were female, 22 subjects use chatbots on a daily basis, only 7% fear losing professional space to technology/AI, 13 (24%) indicated that they were unaware of the decree that allows telenursing issued by the Federal Nursing Council. It was concluded that professionals are open to technology/AI, indicating that it could be better used in teaching and professional training.
Keyword: Technologies; Artificial Intelligence; Nursing.
1 INTRODUÇÃO
A Inteligência Artificial (IA) tem transformado diversos setores, incluindo a área da saúde, onde suas aplicações vêm proporcionando avanços significativos na assistência, no diagnóstico e na tomada de decisões clínicas (SANTOS et al., 2022). As tecnologias baseadas em IA já estão presentes em diferentes contextos do sistema de saúde, como em softwares para apoio ao diagnóstico, monitoramento remoto de pacientes, gerenciamento de prontuários eletrônicos, triagem automatizada e sistemas preditivos utilizados em unidades de terapia intensiva (SILVA; MOURA, 2023).
O uso crescente dessas ferramentas reflete a busca por maior eficiência, precisão e segurança no atendimento aos pacientes, além de contribuir para a otimização do fluxo de trabalho dos profissionais da saúde (CARVALHO; OLIVEIRA, 2022). No entanto, essa incorporação tecnológica também gera discussões sobre seus impactos éticos, sociais e profissionais. Por um lado, a IA pode ampliar o acesso aos serviços e melhorar os resultados clínicos; por outro, pode suscitar preocupações quanto à desumanização do cuidado, à segurança dos dados e à substituição do trabalho humano (RODRIGUES et al., 2021).
No contexto da enfermagem, a integração da IA e outras inovações tecnológicas têm despertado debates sobre seus benefícios e desafios. Segundo o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN, 2023), é essencial que os profissionais estejam preparados para atuar de forma crítica e ética diante dessas tecnologias, mantendo o cuidado centrado no paciente como princípio fundamental. A entidade destaca ainda a importância da regulamentação e da capacitação contínua para garantir que a adoção da IA ocorra de maneira segura e eficiente na prática profissional.
A utilização dessas ferramentas pode contribuir significativamente para a administração dos cuidados, a gestão de riscos, a personalização do atendimento e a melhoria da qualidade assistencial (PEREIRA; NASCIMENTO, 2022). Ainda assim, a aceitação e a adaptação dos profissionais de enfermagem a essas inovações continuam sendo pontos de atenção, uma vez que o cuidado humano, a empatia e a comunicação interpessoal são pilares essenciais na prática da profissão (FERREIRA; LIMA, 2021).
Diante desse cenário, torna-se fundamental compreender a visão dos profissionais de enfermagem sobre o uso da IA na área da saúde, identificando tanto as oportunidades quanto as preocupações relacionadas à sua implementação. Além disso, o posicionamento de órgãos reguladores, como o COFEN, reforça a necessidade de reflexão ética, regulamentação adequada e capacitação dos enfermeiros frente a essas mudanças.
Assim, este estudo verificou a percepção de uma amostra de profissionais da enfermagem em relação à Inteligência Artificial na prática diária, observando sua utilização, percepção do que seja e o impacto da integração dessas tecnologias na assistência à saúde.
2 METODOLOGIA
O estudo abordou profissionais de enfermagem de diversas áreas de atenção da saúde no mês de março de 2025. Trata-se de um estudo com amostragem em snowball (bola de neve) não probabilística. A abordagem se deu após a leitura e concordância do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) do questionário elaborado pelas pesquisadoras no formulário eletrônico Google Formulários (Google Forms) enviado através do aplicativo whatsapp. Os primeiros participantes foram considerados as sementes (6 profissionais). O questionário investigativo continha 11 perguntas objetivas referente a dados demográficos dos participantes como idade, gênero, tempo de profissão e, perguntas específicas referente ao conhecimento e uso da tecnologia/inteligência artificial para o exercício da profissão. O questionário não coletou e-mail e nem o nome para manter o sigilo dos respondentes e os dados gerados foram excluídos após a análise dos resultados. A análise dos resultados se deu através da planilha do Excel no formato de número absoluto e percentil.
3 RESULTADOS
Foram investigados 54 enfermeiros onde 44(81%) do gênero feminino e 19% do gênero masculino, 54% (n= 31) na faixa etária de 30 a 39 anos e em relação a crença religiosa, 74% (n=40) relataram ser católicos. Quanto ao tempo de formação 48% (n=26) responderam estar formados entre um a 5 anos, enquanto 22 (41%) apontam mais de 11 anos.(Tabela 1). Tabela 1:Dados demográficos dos sujeitos investigados, Varginha, MG. 2025.

Quanto ao tipo de tecnologia/Ia utilizada pelos participantes, 22 (x%) apontou ferramenta de inteligência artificial (IA) que permite conversar com um chatbot, 11 (x%) ferramentas relacionadas a temas da enfermagem, 10 (x%) endereço eletrônico/celular. (Figura 1).
Figura 1. Tipo de tecnologia que os participantes utilizam. Varginha, 2025

Quatro (7%) participantes acreditam que a tecnologia/IA poderá substituir a profissão de enfermagem. No entanto, 17 sujeitos afirmaram que a tecnologia/Ia poderia ser melhor utilizada no ensino e na capacitação profissional (Figura 2).
Figura 2. Áreas da enfermagem que a tecnologia/IA pode ser mais bem utilizada, segundo os participantes. Varginha, MG, 2025.

Para os participantes, quando a as inovações tecnológicas bem implementadas 38,88% (n=21) apontam que aprimoram a eficiência dos cuidados. Figura 4.
Figura 3. Tecnologias/IA quando bem implementadas, segundo os participantes. Varginha (MG), 2025.

Ao indagar sobre a permissão do Cofen para uso das tecnologias 13 (24%) apontaram que não é permitido o uso segundo o conselho federal. Figura 4.
Figura 4. Permissão do Cofen para uso das tecnologias, segundo conhecimento dos participantes. Varginha, 2025.

Em relação à concordância no fortalecimento da Tele enfermagem 76% dos participantes concordam na forma de intervenção com clientes.
4 DISCUSSÃO
De acordo com pesquisas do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), mais de 80% dos profissionais de enfermagem no Brasil são mulheres, justificando o percentual do gênero feminino do atual estudo.
Foi Observado mediante os resultados que os enfermeiros utilizam aplicativos e outras tecnologias digitais para ajudar na sua prática profissional, Costa e colaboradores (2024) chamou a atenção para a condição de melhoria contínua dos profissionais, fazendo o uso eficaz e seguro dessas tecnologias, bem como à aceitação de suas limitações e implicações éticas (COSTA et al., 2024).
As preocupações quanto à chance da IA substituir a função do enfermeiro, destacando a importância do cuidado total e da comunicação interpessoal na prática profissional. Essa apreensão é consistente com as discussões sobre as implicações bioéticas da IA na saúde, que destacam a necessidade de equilibrar as mudanças tecnológicas com a preservação da humanização no atendimento (SILVA; AMARAL, 2022).
Embora possa ainda surgir dúvidas na utilização e resistência ainda por alguns sujeitos, a maioria reconhece ser útil no momento de ensino e capacitação profissional.
A tecnologia desempenha um papel fundamental na capacitação e educação dos profissionais de enfermagem, pois proporciona acesso a uma vasta gama de recursos e informações atualizadas, além de facilitar a comunicação e a troca de conhecimentos entre os profissionais. Segundo Silva (2020), “a integração de ferramentas tecnológicas na formação dos enfermeiros não apenas enriquece o aprendizado, mas também prepara os profissionais para enfrentar os desafios do cuidado em saúde contemporâneo”. Dessa forma, a utilização de tecnologias, como simulações virtuais e plataformas de e-learning, permite que os enfermeiros aprimorem suas habilidades e conhecimentos de maneira mais eficaz e dinâmica.
Smith et al. (2020), afirma em seu estudo que “a implementação de sistemas de informação eletrônicos e ferramentas de telemedicina não apenas otimiza o fluxo de trabalho, mas também melhora a comunicação entre profissionais de saúde, resultando em um atendimento mais ágil e eficaz” Essa integração tecnológica permite que os profissionais se concentrem mais nas necessidades dos pacientes, elevando a qualidade do cuidado prestado.
Embora autorizado em 2020 pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) para a realização de telenfermagem, a amostra não mostrou 100% do conhecimento da permissão. A Resolução Cofen nº 634/2020 trata sobre a prática da teleenfermagem reconhecendo a prática desde que respeitadas as normas éticas e técnicas da profissão.
Nota a não unanimidade por parte dos participantes na adoção da telenfermagem daqueles que conhecem a Resolução de autorização. Alguns reconhecem a ajuda da telenfermagem na ampliação do acesso aos cuidados de saúde, outros manifestam resistência, preocupando-se com a possível regressão da qualidade do atendimento devido ao não contato presencial. Essa separação de opiniões reflete os problemas detectados na implementação da telenfermagem, que incluem questões éticas, técnicas e de formação profissional (AMIDIANSKI et al., 2024).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados encontrados neste estudo ressaltam uma certa preocupação dos profissionais de enfermagem quanto à evolução tecnológica quanto a preservação dos aspectos humanísticos do cuidado.
Há o reconhecimento do apoio da tecnologia/IA durante a atuação profissional, no entanto observa se que há necessidade de maior divulgação e conscientização do uso pelos próprios profissionais ao desconhecer a própria habilidade e competência de seu uso autorizada por seu órgão orientador da profissão (Cofen), assim como um campo novo que é o da Telenfermagem.
A reflexão ética e a modificação às inovações tecnológicas são essenciais para que a enfermagem possa fazer o uso de tecnologias/IA de maneira eficiente, sem mudar a qualidade e a humanização da assistência oferecida.
REFERÊNCIAS
CARVALHO, L. M.; OLIVEIRA, T. R. Tecnologias emergentes na saúde: eficiência e humanização no cuidado. São Paulo: Editora Saúde Digital, 2022.
COFEN – CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Nota técnica sobre o uso de Inteligência Artificial na enfermagem. Brasília: COFEN, 2023. Disponível em: https://www.cofen.gov.br
FERREIRA, D. S.; LIMA, M. R. A prática humanizada da enfermagem em tempos de inovação tecnológica. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 74, n. 3, p. 1–7, 2021.
PEREIRA, A. C.; NASCIMENTO, J. L. A Inteligência Artificial e a gestão do cuidado em enfermagem. Revista Enfermagem Atual, Curitiba, v. 36, n. 2, p. 55–61, 2022.
RODRIGUES, F. B. et al. Aspectos éticos da Inteligência Artificial na saúde: desafios e perspectivas. Cadernos de Bioética, Rio de Janeiro, v. 19, n. 1, p. 45–53, 2021.
SANTOS, A. P. et al. Inteligência Artificial aplicada à saúde: revisão integrativa. Revista Saúde e Tecnologia, São Paulo, v. 15, n. 4, p. 98–105, 2022.
SILVA, R. A.; MOURA, V. C. Aplicações clínicas da IA em ambientes hospitalares. Revista Brasileira de Informática em Saúde, v. 28, n. 1, p. 30–37, 2023.
Smith, J., Johnson, L., & Brown, A. The Impact of Technology on Healthcare Efficiency. Journal of Health Management, 15(3), 45-60,2020.
AMIDIANSKI, Patrícia et al. Contribuições da telenfermagem na Atenção Primária à Saúde no contexto pandêmico da COVID-19: revisão integrativa. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 77, n. 5, p. e20240093, 2024. Disponível em: https://www.scielo.br/j/reben/a/8NnbPdLxdLstwGWPTYyV9nM/. Acesso em: 09 de abril de 2025
COSTA, Isabelle Cristinne Pinto et al. Potencial da Inteligência Artificial na Prática Baseada em Evidências em Enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 77, n. 5, p. e770501, 2024. Disponível em: https://www.scielo.br/j/reben/a/TzRtCzLGbfK7HhBKhST8XFn/. Acesso em: 09 de abril de 2025
SILVA, T. P.; AMARAL, R. G. Inteligência artificial na saúde e implicações bioéticas. Revista Bioética, v. 30, n. 1, p. 31–39, 2022. Disponível em: https://www.scielo.br/j/bioet/a/d9bswmTrshnRQSN6ff9WLkD/. Acesso em: 10 de abril de 2025.
VITORINO, Luciano Magalhães; YOSHINARI JÚNIOR, Gerson Hiroshi. A inteligência artificial como aliada na enfermagem brasileira: desafios, oportunidades e responsabilidade profissional. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 76, n. 3, p. e760301, 2023. Disponível em: https://www.scielo.br/j/reben/a/43hJPJLMLnyyV9rtX5gCrzw/. Acesso em: 09 de abril de 2025.