THE INCLUSION OF MARTIAL ARTS ACTIVITIES IN PHYSICAL EDUCATION CLASSES: AN INTERVENTION IN ELEMENTARY EDUCATION IN ITACOATIARA-AM
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10574093
Laét Ferreira do Nascimento1;
Fenix Rafaiela Fernandes de Souza2;
Joel Pedro dos Santos3;
Marcela Dantas Ximenes4.
Resumo
O presente estudo teve como objetivo analisar o conteúdo das aulas de lutas ministradas no ensino de Educação Física para alunos do ensino fundamental em escolas do município de Itacoatiara, Amazonas, Brasil. A pesquisa envolveu uma investigação junto às secretarias de educação estadual e municipal sobre os professores responsáveis por lecionar essa disciplina. Posteriormente, identificamos aqueles que ministram aulas nas séries do ensino fundamental. Com esses professores, conduzimos uma abordagem quantitativa por meio da aplicação de um questionário com 6 perguntas fundamentais para a pesquisa. Os resultados indicaram uma evidência limitada do uso prático das Lutas nas aulas, apesar de 75% dos professores afirmarem ter conhecimento sobre essa ferramenta de ensino. Além disso, a pesquisa destacou que a não implementação das Lutas ocorre devido a diversos fatores, como falta de capacitação dos docentes, ambiente escolar inadequado para tal atividade e falta de criatividade na adaptação da prática sem o uso de materiais comumente empregados nas Lutas. Em contrapartida a esses dados, a maioria dos entrevistados (cerca de 95%) afirmou ser possível incorporar as Lutas em suas aulas, demonstrando preferência por modalidades como Capoeira (27%), Judô (20%), Jiu-Jitsu (20%), Esgrima (10%), Caratê (7%) e Muay Thai (5%). Diante dessas constatações, conclui-se que as atividades relacionadas às Lutas, conforme preconizam os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), devem ser integradas às opções oferecidas aos alunos. Para isso, os professores de Educação Física necessitam buscar atualização, adquirir conhecimento e utilizar a criatividade, explorando alternativas que permitam o uso eficaz dessa importante ferramenta na educação física escolar.
Palavras-chave: Lutas. Educação Física. Itacoatiara. Parâmetros Curriculares Nacionais.
1 INTRODUÇÃO
O esporte é uma ferramenta que auxilia no processo de desenvolvimento educacional, social e de saúde do ser humano. Através dele, têm-se diversas vertentes a serem trabalhadas tanto na sociedade em geral quanto no âmbito escolar. É possível citar o ensino das lutas nas aulas de Educação Física, partindo de uma manifestação da cultura de movimento que não pode ser negada pela nossa cultura. Sendo assim, também consideramos que na escola não se exige que o professor seja um treinador ou especialista em lutas e artes marciais, mas sim que os alunos se apropriem e apreciem elementos das lutas como manifestações da cultura de movimento e possam vivenciar diversas experiências através delas. Os alunos podem sair daquela Educação Física tradicional, ou seja, jogos de futebol ou queimada. Temos em mente que esse tipo de prática nos leva a crer que, através dessa inserção, estaríamos elevando essas aulas a outro nível, tornando-as mais dinâmicas e interessantes ao olhar tanto do professor quanto do educando.
A partir dessa ideia, percebemos que Betti (1991) menciona que a luta, enquanto conteúdo da Educação Física, tem enfrentado restrições devido à relutância dos professores em incorporar essa manifestação cultural em suas aulas, o que acaba por prejudicar o seu ensino. Um exemplo claro de como a sociedade impacta o ambiente escolar é observado nas “artes marciais, especificamente o jiu-jítsu”, uma prática de luta milenar que enfrenta preconceitos significativos.
Cada luta possui uma origem, algumas milenares e outras mais recentes, como é o caso do “judô” (caminho da suavidade), que compartilha sua história com o jiu-jítsu (arte suave). O judô tornou-se uma das lutas mais populares, destacando-se por sua conduta ética e por contribuir significativamente para o desenvolvimento das habilidades psicomotoras dos praticantes.
Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), as expressões culturais do ser humano derivam de suas vivências individuais, e as lutas são exemplos notáveis dessa perspectiva. Elas desempenham um papel crucial no desenvolvimento de diversas habilidades, proporcionando aos alunos um entendimento mais profundo de seus corpos, aprimorando movimentos complexos e proporcionando conhecimento histórico relacionado a essas práticas. Vale ressaltar que não basta apenas a prática, é igualmente importante que os alunos compreendam a origem de cada modalidade a ser desenvolvida.
Conforme Ferreira (2006), é evidente que as lutas têm obtido sucesso em todas as faixas etárias. Elas desempenham um papel crucial na liberação da agressividade em crianças, além de abordar todos os fatores psicomotores. Ao explorar as partes teóricas, especialmente por meio do resgate histórico das modalidades e da sua relação com a ética e os valores, as lutas proporcionam uma abordagem holística. Destaca-se que as lutas devem ser utilizadas como instrumento de auxílio pedagógico para os professores de Educação Física, inserindo o ato de lutar no contexto histórico, social e cultural do ser humano, uma vez que a prática da luta remonta à pré-história como um meio de sobrevivência.
Neste sentindo, este trabalho visa analisar o conteúdo das lutas destinadas ao ensino de Educação Física para alunos do ensino fundamental em escolas do município do interior do Amazonas.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA
2.1 ESPORTES: CONSIDERAÇÕES GERAIS
A definição de esporte, conforme Barbanti (2012), compreende três condições: (1) tipos específicos de atividades; (2) condições sob as quais as atividades acontecem; e (3) a orientação subjetiva dos participantes envolvidos. Esta definição se refere ao esporte organizado, distinguindo-o do que ocorre em contextos como o recreio escolar ou os Jogos Olímpicos. O esporte é descrito como:
“Uma atividade competitiva institucionalizada que envolve esforço físico vigoroso ou o uso de habilidades motoras relativamente complexas, por indivíduos, cuja participação é motivada por uma combinação de fatores intrínsecos e extrínsecos” (BARBANTI, 2012).
Rubio (1999) categoriza o esporte em quatro campos: esporte de rendimento, esporte escolar, esporte recreativo e esporte de reabilitação. O esporte de rendimento busca otimizar a performance numa estrutura formal e institucionalizada. O esporte escolar tem como objetivo a formação, norteada por princípios socioeducativos, preparando praticantes para a cidadania e o lazer. O esporte recreativo visa o bem-estar de todas as pessoas, sendo praticado voluntariamente. O esporte de reabilitação foca na prevenção e intervenção em lesões, decorrentes ou não da prática esportiva, e também em pessoas com deficiência física e mental.
Essas definições evidenciam benefícios amplos da prática esportiva, indo além dos físicos, abrangendo aspectos psicológicos, sociais, de bem-estar e auxílio na prevenção e tratamento de doenças (Silva; Lacordia, 2016).
Estudos destacam tais benefícios na influência do esporte por crianças e adolescentes, no rendimento escolar, na saúde emocional, na prevenção de doenças e na inclusão social (Neto et al., 2015; Oliveira, 2012; Godoy, 2002; Polisseni; Ribeiro, 2014; Viana; Lovisolo, 2011).
O esporte, considerado um fenômeno social, desperta interesse em diversos setores, como o político, econômico, social, cultural e educacional (Oliveira, 2012). No contexto educacional, está presente nas aulas de Educação Física, bem como em atividades extracurriculares, representando a escola em competições ou outras formas de participação (Brasil, 1998).
2.2 LUTAS: BREVE HISTÓRICO
As lutas são definidas como disputas nas quais os oponentes buscam subjugação através de técnicas e estratégias envolvendo desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um determinado espaço (Brasil, 1998). Podem ser consideradas atividades de lazer, exercício físico para aumento da aptidão física, defesa pessoal ou prática esportiva (Gonçalves; Silva, 2013).
A história das lutas remonta a orientações filosóficas e religiosas, sendo considerada uma prática milenar desde os primórdios da humanidade, servindo como meio natural e primitivo para ataque, defesa ou condicionamento físico (Gonçalves; Silva, 2013; Mazzoni; Junior, 2011). Registros antigos incluem relatos bíblicos, como a luta de Davi e Golias, lutas entre gladiadores romanos e treinamentos militares dos espartanos (Mazzoni; Junior, 2011; Ferreira, 2006).
A origem exata das lutas é incerta, mas cada modalidade possui raízes em eventos históricos específicos, características de vestimentas e tradições distintas (Ferreira, 2006; Gomes, 2008; Mazzoni; Junior, 2011). Dentre as diversas modalidades, destacam-se algumas:
- O Brazilian Jiu-Jitsu: uma luta brasileira adaptada do Jiu Jitsu tradicional que se baseia no uso de alavancas, que utiliza a luta no chão muito mais que a luta original, além de usar a força do adversário contra ele mesmo (GONZALES, 2015).
- A Capoeira: uma modalidade que envolve a dança, a música, gestos carregados de historicidade e que é uma manifestação cultural afro-brasileira criada pelos negros escravos como forma de luta contra a opressão ocorrida na época (CORRÊA et al, 2010; FERREIRA, 2006).
- O Jiu-Jitsu: conhecido por ser uma arte suave e definido como uma arte marcial de defesa pessoal com origem na Índia onde era praticado por monges budistas como forma de defesa dos monastérios de modo que estes não precisassem fazer uso de armas (GONZALES, 2015).
- O Judô: arte marcial japonesa, de grande popularização mundial que tem sua prática fundamentada em princípios filosóficos, a fim de torná-la um meio eficaz para o aprimoramento físico, do intelecto e do caráter humano (CORRÊA et al, 2010).
- O Taekwondo (ou Tae Kwon Do, ou Taekwon-do), cujo significado é “o caminho dos pés, das mãos e do espírito”: uma luta de origem Coreana que faz uso de lanças, arco e flecha e espadas, e ainda as próprias mãos e pés (MAZZONI; JUNIOR, 2011).
Além dos exemplos mencionados, outras modalidades de lutas incluem Kung Fu, Tai-Chi-Chuan, Caratê, Jet-Kune-Do, Kendo, Boxe, Luta Livre, Luta Greco-romana, Esgrima, Kick-Boxe, Arco e Flecha, entre outras (Ferreira, 2006). Essas modalidades, não citadas anteriormente, podem ser classificadas com base em seus objetivos de combate, tipo de contato entre oponentes, ações motoras, distância entre os oponentes ou o tipo de meta utilizado durante o enfrentamento (Gomes, 2008).
Uma abordagem comum para classificação é diferenciar as lutas com base no tipo de contato entre os oponentes, sendo está a classificação mais utilizada por diversos autores (Ferreira, 2006; Gomes, 2008; Lopes; Kerr, 2015; Mazzoni; Junior, 2011).
Assim, ao classificar as lutas de acordo com o contato entre os oponentes, distinguem-se as lutas de distância e as lutas de contato (Ferreira, 2006; Gomes, 2008; Lopes; Kerr, 2015; Mazzoni; Junior, 2011). As lutas de distância envolvem um contato corporal breve ou inexistente, como em Capoeira, Karatê, Kung-fu, Esgrima, Boxe e Tae-kwon-do. Já as lutas de contato implicam um contato corporal mais prolongado, com o uso de técnicas de desequilíbrio, projeção, imobilizações e torções. Exemplos incluem Judô, Jiu-jitsu, Sumô, Luta greco-romana e Ai-ki-dô (Lopes; Kerr, 2015; Mazzoni; Junior, 2011).
Gomes (2008), citando Espartero (1999), divide essas classificações, caracterizando as lutas como:
- Lutas com agarre: aquelas que envolvem ações de derrubar, desequilibrar, projetar, etc.;
- Lutas com golpe: aquelas que envolvem golpes como soco e chute em diferentes partes do corpo de forma isolada ou combinada.
- Lutas com implemento: aquelas que envolvem o toque no corpo do adversário por meio de implemento, como é o caso da esgrima.
- Lutas com distância curta: são lutas com o uso de um espaço praticamente nulo entre os oponentes durante a realização das técnicas.
- Lutas com distância média: são lutas com um espaço moderado que permite a aproximação em situações de ataque entre os oponentes.
- Lutas com distância longa: são lutas definidas pela presença de um implemento e nestas deve haver uma distância maior entre os oponentes para que os mesmos possam manipular de forma adequada esse implemento.
A aplicação dessas e de outras classificações para as lutas proporciona uma organização em categorias diante do amplo sistema de modalidades existentes. Essa diferenciação permite um suporte teórico para a escolha e o ensino de modalidades específicas, tanto em ambientes de academias quanto em ambientes escolares (Gomes, 2008).
2.3 AS LUTAS NO CONTEXTO ESCOLAR
No contexto escolar, apesar de serem pouco abordadas, as lutas são populares nas faixas etárias que vão da educação infantil ao ensino médio. Ferreira (2006) destaca que, na educação infantil, as lutas estão presentes por meio de atividades lúdicas, como a “luta do sapo” e a “luta do jacaré”, enquanto no ensino fundamental são introduzidas lutas que demandam maior esforço, como a “luta do empurra e puxa”. No ensino médio, as modalidades são exploradas de maneira mais profunda, com abordagem temática, resgate histórico e conexão com ética e valores.
A escassa abordagem das lutas nas instituições de ensino fundamental e médio se deve, entre outros motivos, ao receio de que algumas modalidades envolvam contato físico entre os estudantes, potencialmente levando a comportamentos agressivos, violência e indisciplina (Lopes; Kerr, 2015; Oliveira et al., 2013). Esse preconceito contribui para que o ensino das lutas se concentre, em grande parte, em ambientes não formais, como clubes e academias (Oliveira et al., 2013; Gomes, 2008).
Nesses locais, praticantes dedicados a uma única modalidade por um período tornam-se “mestres” e assumem papéis de professores, mesmo sem formação em Educação Física, enfraquecendo a concepção das lutas como um ramo dessa disciplina (Gomes, 2008).
Dentro das instituições de ensino, a dificuldade no ensino dessas manifestações está relacionada a problemas nos processos formativos de profissionais com domínio prático e pedagógico dessas modalidades. Isso leva à negligência em sua abordagem e a uma ênfase no ensino de esportes coletivos tradicionais, como handebol, vôlei, futsal e basquete (Lopes; Kerr, 2015; Rufino; Darido, 2015).
Essa realidade reflete-se na escassez de estudos científicos sobre a falta de ensino das lutas no ensino fundamental e médio, os benefícios que podem proporcionar aos alunos se aplicadas de forma coerente nas aulas de Educação Física, e experiências bem-sucedidas de aplicação no ambiente escolar (Corrêa, 2010; Ferreira, 2006; Lopes; Kerr, 2015; Oliveira et al., 2013; Rufino; Darido, 2015). Esses estudos defendem que, se abordadas de maneira sistematizada, as lutas auxiliam as crianças a controlar relações violentas no ambiente escolar, reduzindo a agressão e construindo valores (Lopes; Kerr, 2015; Oliveira et al., 2013).
Dentre os trabalhos práticos no ensino de Educação Física, destaca-se a pesquisa de Corrêa et al. (2010), que discute a inclusão do conteúdo das lutas no ambiente escolar, auxiliando os docentes na abordagem do tema em diferentes faixas etárias. O estudo de Gomes (2008) busca compreender e propor novos procedimentos pedagógicos para o ensino de lutas em diversas modalidades, enquanto o trabalho de Ferreira (2006) questiona docentes sobre a ausência do ensino das lutas nos planos de aula de Educação Física. As pesquisas de Lopes e Kerr (2015) e Rufino e Darido (2015) exploram a possibilidade de incluir essas modalidades na educação infantil e abordam as opiniões de docentes universitários especialistas, propondo implicações para o desenvolvimento de contextos de formação de professores qualificados para essa abordagem no ambiente escolar, identificando dilemas e indicando a necessidade de alterações para valorizar as lutas.
2.4 LUTAS X PCN’S
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) destacam as lutas como uma proposta de aplicação nas séries iniciais do ensino fundamental, acreditando que, se introduzidas desde cedo por meio das aulas de Educação Física, proporcionarão aos alunos o desenvolvimento de habilidades corporais, o envolvimento em atividades culturais de lazer e a expressão de sentimentos, afetos e emoções (Brasil, 1998).
Segundo os PCN, atividades como as lutas representam um vasto patrimônio cultural que deve ser valorizado, conhecido e desfrutado no contexto escolar. Dessa forma, ao utilizar as lutas, é importante abordar aspectos histórico-sociais, compreendendo o ato de lutar, incluindo considerações sobre quem, por que, com quem e contra quem se luta. Isso envolve a construção do gesto por meio da vivência de situações que desenvolvam capacidades físicas e habilidades motoras presentes em lutas praticadas atualmente, como Capoeira, Karatê, Judô, entre outras (Brasil, 1998; Gomes, 2008).
Além dos benefícios físicos, os Parâmetros Curriculares Nacionais enfatizam que a abordagem das lutas proporciona a adoção de posturas não-preconceituosas e discriminatórias diante das manifestações e expressões dos diferentes grupos étnicos e sociais (Brasil, 1998).
Gomes (2008) ressalta que, ao seguir essas diretrizes, os professores de Educação Física podem abordar o ensino das lutas em suas aulas, mesmo que não tenham formação específica em uma modalidade de luta. A abordagem pode ocorrer de maneira não centralizada nos gestos técnicos, mas sem necessidade de descartar a sua inclusão. O autor destaca a importância de enxergar as lutas como instrumento pedagógico e fenômeno a ser estudado, agregando valores que transcendam objetivos estritamente terminológicos, como Arte Marcial, Esporte de Combate, Duelo e Enfrentamento.
3 METODOLOGIA
3.1 IDENTIFICAÇÃO DOS PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA LOTADOS NO MUNICÍPIO DE ITACOATIARA – AM
Para o desenvolvimento deste trabalho, foram identificados 48 (quarenta e oito) professores(as) de Educação Física lotados no município de Itacoatiara – AM por meio de uma pesquisa realizada nas secretarias municipal (SEMED) e estadual (CREI) de educação desse município. Posteriormente, foram realizadas visitas a algumas escolas com o objetivo de obter apoio dos gestores e professores para a implementação desse trabalho no ambiente escolar. Após concordarem, esses profissionais assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, confirmando o entendimento dos objetivos do trabalho e disponibilizando-se para contribuir com o mesmo.
3.2 SELEÇÃO DA AMOSTRA E APLICAÇÃO DE QUESTIONÁRIO
Após resguardar o direito a realização da pesquisa nas escola foi aplicado um questionário (Anexo A), adaptado do trabalho de Ferreira (2006), com seis (seis) perguntas aos professores (as) da disciplina.
Feito isso identificou-se o público alvo para o qual cada professor lecionava e a partir disso foi escolhido uma amostra incluindo apenas professores atuantes nas séries do ensino fundamental I e II cerca de 40 (quarenta) professores, um total de 88,33% do valor total da população inicial da pesquisa. Os demais, 8 (oito) professores, cerca de 16, 67%, incluíam séries da qual não era o foco do trabalho, como é o caso daqueles que trabalham com Educação de Jovens e Adultos (EJA) ou ainda, incluíam aqueles que atuam na zona rural da cidade, o que tornaria inviável a realização dessa pesquisa em função das dificuldades de locomoção a localidade das referidas escolas.
3.3 PROCEDIMENTOS ÉTICOS
A pesquisa recebeu autorização do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado do Amazonas – UEA, conforme os termos da Resolução nº 466 de 12 de dezembro de 2012 do Conselho Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde, conforme apresentado no Anexo B deste trabalho. Além disso, os coordenadores das secretarias de Educação do estado e do município assinaram termos de anuência (Apêndice A), concordando com a realização do estudo e autorizando sua aplicação nas escolas de suas respectivas secretarias.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
4. 1 Análise das respostas obtidas nos questionários aplicados
Pergunta 1: Quando perguntado se o professor utiliza as lutas em suas aulas de educação física, foi observado que 35% dos participantes desse estudo utilizam esse conteúdo através de práticas recreativas e lúdicas; 7% através da ajuda de um especialista; 2% através de vídeos e teoria; 2% através de aula de campo; 8% alegam não ter instrução para isso; 23% não utilizam tal conteúdo pelo fato da escola não ter condições para tal atividade; 8% alegam não ter um colaborador que tenha domínio sobre o tema e 10% dos professores utilizam outras alternativas (Figura 1).
Dos 40 (quarenta) professores questionados, 18 (dezoito), cerca de 45% da população da pesquisa afirmaram trabalhar lutas em suas aulas de educação física. Os demais, 22 (vinte e dois), isto é, 55% não utilizam esse tema em suas aulas práticas e/ou teóricas.
Esse resultado aponta um número relativo de professores que não se limitam a “temas comuns” e buscam explanar o conteúdo temático das Lutas, mesmo que seja somente de maneira teórica, mas ainda assim buscam mencioná-las como práticas de esporte, comentando sobre suas técnicas de funcionamento, sua origem e características. Em contrapartida, os outros, se detém ao ensino usual de Educação física que vem sendo exercido no decorrer dos anos onde se procura trabalhar apenas aqueles esportes dos quais intitulam como tradicionais dessa disciplina (FERREIRA, 2006; RUFINO; DARIDO, 2015).
Aqueles que responderam positivamente corroboram para o que Gomes (2008) discute em seu trabalho quando afirma que não é necessário o uso de materiais de uso tradicional para a execução dos sistemas Lutas, sendo possível implementá-las com o uso de outras metodologias. Corroborando para isso, parte dos professores (35% da amostragem) que responderam positivamente ao questionamento afirmam ministrar suas aulas através de práticas lúdicas, outros (7%) para não deixar de abordar a temática buscam a ajuda de um especialista e, há ainda um pequeno percentual (2%) que tratam do tema através de vídeo aulas associadas a teoria de modo que seja despertado o interesse de alunos e estes tenham boas experiências eu lhes instruam a superar obstáculos e desenvolver seu lado afetivo e social.
Dos que responderam negativamente (55%) ao questionamento 23% disseram que a escola não tinha estrutura físicas para ministração de lutas, 8% dizem não ter instrução para isso, 13% afirmaram que não ter um colaborador que que dominasse o conteúdo e 10% não justificaram a ausência das Lutas em seus planos de aula. Essas justificativas são as que Rufino e Darido (2015) comentam em seu trabalho como falta de segurança para o ensino de Lutas e a defasagem na formação do professor que acaba enfrentando dificuldades para abordar a temática em sala de aula fazendo com que tais modalidades deixem de ser estudadas.
Embora a dificuldade de repassar o ensino ou mesmo domínio do conteúdo seja uma realidade, Ferreira (2006) diz que é possível que docentes resolvam a problemática com cursos de capacitação, troca experiências com os colegas ou mesmo recorrer a vídeos e à ajuda de especialistas.
Pergunta 2: Quando perguntado se o professor considera que as lutas são formas pré-existentes, como Caratê, Boxe, Capoeira, ou acha que cabo-de-guerra e braço-de-ferro também são formas de luta observou-se que 25% dos professores disseram que somente as técnicas pré-existentes podem ser consideradas lutas, enquanto 75% disseram que qualquer atividade em que dois oponentes se enfrentam, tentando superar o outro constitui um tipo de luta.
Os resultados observados para o segundo questionamento mostram que os professores conseguem analisar o quanto as lutas são diversificadas possuindo certa heterogeneidade para abordagem no ambiente escolar seja através de um simples cabo-de-guerra ou de um braço-de-ferro (FERREIRA, 2006).
Pergunta 3: Quando questionados sobre o tipo de luta ideal a ser trabalhada na escola, 27% dos professores responderam que é a Capoeira, 20% Judô, 20% Jiu-Jitsu, 10% Todas as Lutas, 8% Esgrima, 7% Caratê, 5% Muay-Thai, 3% Nenhuma (Figura 2). Para este questionamento observou-se a aceitação dos professores por determinadas práticas nas aulas de educação Física por terem relevância popular, facilitarem sua abordagem de forma lúdica e por serem conhecidas como esportes olímpicos. Dentre as modalidades mencionas observou-se ainda destaque para a Capoeira, prática que os PCN dizem que se aplicada, auxiliará no desenvolvimento das capacidades físicas e habilidades motoras dos alunos além de dar suporte para abordagem histórica de suas origens agregadas a relevância que tem na história do país.
Figura 2. Respostas da pergunta 3 sobre os tipos de luta que podem ser trabalhadas na escola.
Pergunta 4: Quando foi perguntado aos professores sobre a possibilidade de se trabalhar com lutas no ensino fundamental, 95% afirmaram ser possível trabalhar com lutas nas aulas.
Para o questionamento da possibilidade de abordarem as lutas no ensino fundamental foi observado 95% das respostas positivas o que concorda com o que o propõe os PCN sobre a abordagem das lutas desde as primeiras séries do aluno que ingressa na escola, pois acredita-se que sejam adquiridos grandes benefícios no desenvolvimento da criança. As divergências foram poucas neste questionamento e e estas foram defendidas na escusa de que poderiam haver acidentes, todavia autores acreditam ser a fase ideal para se introduzir tais práticas (LOPES; KERR, 2015).
Pergunta 5: Quando questionados sobre a afirmativa de que a prática da luta gera violência, 90% responderam que as práticas das lutas não geram tal comportamento, se estas forem bem aplicadas e coordenadas.
Pergunta 6: Quando questionados sobre a possibilidade dos discentes se tornarem mais agressivos ao praticarem lutas, 73% disseram que não tornariam, 25% disseram que tornariam, e 2% disseram que talvez ocorresse.
Os resultados observados para as perguntas 5 e 6 mostraram como o desconhecimento sobre as Lutas pode gerar preconceitos, associando-as à violência. Embora as respostas nesta pesquisa demonstrem a descrença de que as modalidades incentivem práticas violentas ou tornem os alunos mais agressivos, percebe-se que esse é um dos fatores a serem considerados ao introduzir as práticas em escolas, onde situações de agressão e desrespeito são presentes entre alunos e docentes. Rufino e Darido (2015), Ferreira (2006) e Oliveira et al. (2013) abordam essa dificuldade de estabelecer as modalidades de Lutas, pontuando exatamente essa questão.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise da proposta revelou a falta de implementação das Lutas nas aulas de Educação Física no ensino fundamental na maioria das escolas do município de Itacoatiara – AM. No entanto, os professores participantes da pesquisa concordaram que o conteúdo das Lutas pode ser aplicado no ambiente escolar, sendo atrativo para os alunos, proporcionando benefícios como disciplina e podendo ser introduzido desde a educação infantil.
A inclusão das Lutas como conhecimento prático nas aulas de Educação Física nessas escolas permitirá que os alunos apreciem e se apropriem dos elementos das modalidades como manifestações históricas e sociais da cultura do movimento. Isso possibilitará uma compreensão mais ampla, indo além das modalidades ou práticas de Lutas.
Os professores envolvidos na pesquisa, que já demonstraram predisposição para aplicar essas ferramentas, podem buscar atualização acadêmica, auxílio de mestres especializados ou pessoas capacitadas para oferecer suporte em suas aulas. Além disso, podem usar da criatividade e de alternativas na área, proporcionando o uso efetivo dessa importante ferramenta na educação física escolar. Dessa forma, será estabelecido um “diálogo” entre a teoria, que alguns já abordaram, e a prática, tornando o conteúdo mais significativo e proveitoso.
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¹Licenciada em educação física pela universidade do estado do Amazonas – UEA. E-mail: lalah.jiujitsu@gmail.com
²Mestre em ciência e tecnologia para recursos amazônicos pela Universidade Federal do Amazonas. E-mail: fenixrafaiela02@hotmail.com
3Graduado em Química Industrial pela Universidade Federal do Amazonas. E-mail: joel.pedro.santos1994@gmail.com
4Mestre em Atividade Física e Desporto. Universidade da Madeira – Portugal. E-mail: mdximenes@gmail.com