A INFLUÊNCIA DOS HÁBITOS DE VIDA NO TRATAMENTO DA ENDOMETRIOSE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10472438


Mariane de Fatima Barcelos¹;
Camila Rita de Souza Bertoloni2;
Juliana Lilis da Silva2;
Natália de Fátima Gonçalves Amâncio².


Resumo: 

Introdução: A endometriose e uma doença definida pela presença de tecido endometrial, uma das camadas que formam o útero, sendo que uma parte é expelida durante a menstruação, a qual pode se alastrar para outros órgãos se instalando fora do útero, podendo apresentar os seguintes sintomas dismenorreia, dispareunia, dor pélvica não cíclica, disquesia, disúria, alterações nos hábitos intestinais e, frequentemente, infertilidade, que interferem na qualidade de vida das mulheres. Dessa forma é importante a análise dos hábitos de vida que influenciam o diagnostico e tratamento dessa doença. Metodologia:  consiste em uma revisão exploratória integrativa de literatura, sendo identificado o tema, formulando a pergunta norteadora de acordo com a estratégia PICO, sendo incluídos artigos que se enquadravam com os descritores  utilizados nas bases de dados, assim foram escolhidos 20 artigos finais, que foram coletados dados e disponibilizados em um quadro. Resultados e Discussão: uma dieta que inclua alimentos que são antioxidantes, como aqueles que contém vitaminas principalmente C e E exercem um efeito protetor. Em contrapartida alimentos que tem um perfil inflamatório tem efeitos agravante, por exemplo dietas baseadas em gorduras trans, carne vermelha e processados. Ademais, existe influência do fator psicossocial, em que mulheres com endometriose possui uma maior chance de desenvolver transtornos mentais. Conclusão: A endometriose é uma doença inflamatória, assim alimentos que contém substancias anti-inflamatórias melhoram a qualidade de vida das mulheres, além de ser necessário evitar hábitos que intensifica a inflamação do corpo, como a falta de atividades físicas, exposição a toxinas e uma dieta baseada em alimentos inflamatórios. 

Palavras-chaves: hábitos de vida, alimentação, fatores psicossociais. 

Summary:

Introduction: Endometriosis is a disease defined by the presence of endometrial tissue, one of the layers that form the uterus, part of which is expelled during menstruation, which can spread to other organs and settle outside the uterus, and may present the following symptoms dysmenorrhea, dyspareunia, non-cyclical pelvic pain, dyschesia, dysuria, changes in bowel habits and, frequently, infertility, which interfere with women’s quality of life. Therefore, it is important to analyze the lifestyle habits that influence the diagnosis and treatment of this disease. Methodology: consists of an integrative exploratory literature review, identifying the topic, formulating the guiding question in accordance with the PICO strategy, including articles that matched the descriptors used in the databases, thus 20 final articles were chosen, which data were collected and made available in a table. Results and Discussion: a diet that includes foods that are antioxidants, such as those containing vitamins mainly C and E, exert a protective effect. On the other hand, foods that have an inflammatory profile have aggravating effects, for example diets based on trans fats, red meat and processed foods. Furthermore, there is an influence of the psychosocial factor, in which women with endometriosis have a greater chance of developing mental disorders. Conclusion: Endometriosis is an inflammatory disease, so foods that contain anti-inflammatory substances improve women’s quality of life, in addition to it being necessary to avoid habits that intensify inflammation in the body, such as lack of physical activity, exposure to toxins and a diet based on inflammatory foods.

Keywords: lifestyle habits, diet, psychosocial factors.

1 INTRODUÇÃO 

O útero é composto pelas seguintes camadas: perimetrio, miométrio e endométrio. Dentre elas se destaca o endométrio, o qual possui duas camadas, a funcional e a basal, em que durante o ciclo menstrual a primeira se prepara para receber o embrião, e caso não ocorra a fertilização essa camada se descama, dando início ao processo de menstruação. Entretanto, em alguns casos esse tecido que devia estar dentro do útero se espalha para fora desse órgão, podendo acometer vários lugares, determinando assim uma patologia (TORTORA, 2023).

A endometriose é uma doença do aparelho genital feminino que se caracteriza pela presença de tecido endometrial fora do útero, no qual é benigna e estrogênio-dependente, podendo acometer mulheres no período fértil. A causa dessa doença ainda e desconhecida, porém possui algumas teorias. A principal teoria aceita atualmente é a da menstruação retrograda, na qual, acredita-se que o sangue resultante da menstruação, que contém fragmentos do endométrio, sofre um retorno pelas trompas uterinas, atingindo a cavidade peritoneal se implantando nesses locais devido a um ambiente favorável e fatores imunológicos que não seriam capazes de atacar essas células (ARAÚJO, 2020).

A  endometriose afeta até 10% a 15% das mulheres em idade fértil (Rolim, 2020). No entanto, a maioria dessas mulheres geralmente são assintomáticas, podendo apresentar os seguintes sintomas associados: dismenorreia, dispareunia, dor pélvica não cíclica, disquesia, disúria, alterações nos hábitos intestinais e, frequentemente, infertilidade, sendo essas manifestações clinicas muito variáveis, não tendo um padrão, o que dificulta o diagnóstico. O diagnostico é realizado principalmente pela história clínica e então aquelas mulheres que apresentarem sintomas relacionados a doença são conduzidas a fazer exames diagnósticos como ultrassonografia transvaginal e ressonância magnética. Entretanto, esses exames não são ideias para o diagnostico dessa doença, sendo que o diagnostico preciso é feito através de cirurgia laparoscópica, no entanto esse é um procedimento que possui controvérsias devido aos riscos inerentes ao procedimento cirúrgico, logo é pouco realizado (ROSA, 2021).

A doença possui uma apresentação variável que inclui prejuízos nas relações pessoais, dificuldades relacionadas a sexualidade e perdas profissionais diante do reconhecimento da dificuldade de cura e cronicidade da doença (ROLIM, et al. 2020). Além disso, segundo uma pesquisa realizada por SILVA et al, 2021 a doença afetou negativamente a saúde mental de mulheres portadoras de endometriose, uma vez que sentiram dores fortes que as impediram de realizar atividades diárias. Dessa forma, essa doença atinge várias mulheres,  impactando na qualidade de vida. 

Assim, o presente artigo tem como objetivo investigar  os fatores que influenciam, bem como os hábitos de vida como parte essencial do tratamento de tal comorbidade, de maneira a melhorar a qualidade de vida dessas pacientes.  

2 METODOLOGIA 

O presente estudo consiste de uma revisão exploratória integrativa de literatura. A revisão integrativa foi realizada em seis etapas: 1) identificação do tema e seleção da questão norteadora da pesquisa; 2) estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos e busca na literatura; 3) definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados; 4) categorização dos estudos; 5) avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa e interpretação e 6) apresentação da revisão.

Na etapa inicial, para definição da questão de pesquisa utilizou-se da estratégia PICO (Acrômio para Patient, Intervention, Comparation e Outcome). Assim, definiu-se a seguinte questão central que orientou o estudo: “ A influência dos hábitos de vida no diagnóstico e tratamento da endometriose?” Nela, observa-se o P: Mulheres com diagnóstico de endometriose ; I: hábitos de vida; C: não se aplica; O: relação entre a doença/diagnóstico e tratamento.

 Para responder a esta pergunta, foi realizada a busca de artigos envolvendo o desfecho pretendido utilizando as terminologias cadastradas nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCs) criados pela Biblioteca Virtual em Saúde desenvolvido a partir do Medical Subject Headings da U.S. National Library of Medcine, que permite o uso da terminologia comum em português, inglês e espanhol. Os descritores utilizados foram: “Endometriose” or “Endometriosis” or “Endometriosis”) AND (“diagnostic” or “diagnóstico” or “diagnóstico”, “Endometriose” or “Endometriosis” or “Endometriosis”) AND (“Exercice physique” or “Exercise” or “ejercicio físico”, “Endometriose” or “Endometriosis” or “Endometriosis”) AND (“Terapéutica” or “Thérapeutique” or “terapéutica”, “endometriose” and “alimentação”, “endometriose” and “fatores ambientais”, “endometriose” and “fatores psicológicos”. Para o cruzamento das palavras chaves utilizou-se os operadores booleanos “and”, “or” “not”.

Realizou-se um levantamento bibliográfico por meio de buscas eletrônicas nas seguintes bases de dados: Google Scholar; Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Scientif Eletronic Library Online (SciELO) e National Library of Medicine (PubMed).  

A busca foi realizada no mês de agosto de 2023. Como critérios de inclusão, limitou-se a artigos escritos em qualquer idioma publicados nos últimos 5 anos (2019 a 2023), que abordassem o tema pesquisado e que estivem disponíveis eletronicamente em seu formato integral, foram excluídos os artigos em que o título e resumo não estivessem relacionados ao tema de pesquisa e pesquisas que não tiverem metodologia bem clara.

Após a etapa de levantamento das publicações, encontrou 23 artigos, dos quais foram realizados a leitura do título e resumo das publicações considerando o critério de inclusão e exclusão definidos. Em seguida, realizou a leitura na íntegra das publicações pré-selecionadas, atentando-se novamente aos critérios de inclusão e exclusão, sendo que 3 artigos não foram utilizados devido aos critérios de exclusão. Foram selecionados 20 artigos para análise final e construção da revisão. 

Posteriormente a seleção dos artigos, realizou um fichamento das obras selecionadas afim de selecionar a coleta e análise dos dados. Os dados coletados foram disponibilizados em um quadro, possibilitando ao leitor a avaliação da aplicabilidade da revisão integrativa elaborada, de forma a atingir o objetivo desse método.

3 RESULTADOS 

A tabela 1 sintetiza os principais artigos que foram utilizados na presente revisão de literatura, contendo informações relevantes sobre os mesmos, como os autores do estudo, o ano de publicação, o titulo e os achados relevantes.

Tabela 1: achados principais 

Autor; AnoTituloAchados principais
CAMPOS, DA COSTA. 2023Fatores psicossomáticos decorrentes da endometrioseAspectos emocionais e psicológicos têm um impacto significativo na vida das mulheres afetadas pela endometriose.
NEUMANN, et al. 2023Influência da alimentação indivíduos com endometriose: Uma revisão sistemática.Uma alimentação saudável, composta de uma dieta balanceada com frutas e verduras fontes de vitaminas A, C, D e E estão relacionadas à menor incidência de endometriose.
HERINGER, et al. 2023Nutrição e biomarcadores de endometriose: possíveis implicações clínicasuma dieta anti-inflamatória, com baixos níveis de alimentos inflamatórios, pode ajudar a reduzir os sintomas da endometriose.
KALTSAS, et al. 2023A ameaça silenciosa à fertilidade feminina: descobrindo os efeitos devastadores do estresse oxidativoPacientes com endometriose possuem níveis mais altos de estresse oxidativo.
TEODORO, DAVID. 2023Influência do consumo de ácidos graxos, vitamina D e antioxidantes na
endometriose: Revisão de literatura
o consumo de frutas, principalmente as cítricas, pela presença de β-criptoxantina (um precursor da vitamina A), reduz o risco de endometriose.
DUTTA, BANU, & AROSH. 2023Endocrine disruptors and endometriosis. Reproductive toxicologyDesreguladores endócrinos ambientais (EDCs) promovem o estabelecimento e o desenvolvimento da endometriose. 
LI PIANI, et al. 2022Uma revisão sistemática e meta‐análise sobre consumo e risco de álcool da endometriose: uma atualização de 2012O álcool altera a produção de estrogênio, além de influenciar no processo de inflamação.
DE OLIVEIRA GOMES, et al. 2022Os benefícios nutricionais para redução de sintomas e progressão da endometrioseMudanças nos hábitos alimentares podem ajudar a reduzir os marcadores inflamatórios que se apresentam aumentados na endometriose, além de poder regular o nível de prostaglandinas, que são responsáveis pela dor.
DE ALMEIDA FROTA, FRANCO, DE ALMEIDA. 2022A Nutrição e suas implicações na endometriose.A alimentação possui uma grande influência sendo que o excesso de tecido adiposo pode influenciar no desenvolvimento da endometriose. 
HABIB, et al. 2022Impact of lifestyle and diet on endometriosis: a fresh look to a busy corner.Diferentes estilos de vida e fatores dietéticos tem impacto no desenvolvimento e gravidade da endometriose
COFINI, et al. 2022A percepção da qualidade do cuidado (QoC) influencia a qualidade de vida (QV) em mulheres com endometriose? Resultados de uma pesquisa nacional italiana durante a pandemia de Covid.A doença impacta a saúde física e mental e, consequentemente, a vida social, no qual mulheres que praticavam atividades físicas relataram menor grau de dor.
MIRZAEE, AHMADI. 2022Visão geral do efeito da medicina complementar no tratamento ou mitigação do risco de endometriose.A acupuntura indicou  benefícios na redução da dor  e melhora a endometriose por vários mecanismos.
CAPELARIO, et al. 2022Associação das dores crônicas provocadas pela endometriose com o advento do bruxismo.A endometriose gera como sintoma secundário o estresse podendo ter relação com o bruxismo.
POLAK, et al. 2021Environmental Factors and Endometriosis.A exposição intrauterina de fetos femininos a certas substâncias está associada a um maior risco de endometriose.
CARDOSO, et al. 2021Perfil epidemiológico de mulheres com endometriose: um estudo descritivo retrospectivoA endometriose estavaInversamente associada às medidas antropométricase com indicadores de composição corporal.
SILVA, et al. 2021Experiências das mulheres quanto às suas trajetórias até o diagnóstico de endometrioseMulheres diagnosticadas com endometriose apresentaram níveis superiores de depressão quando comparadas às mulheres saudáveis.
ROLIM, et al. 2020Endometriose: aspectos atuais e perspectivas das pacientes.Forte ligação da endometriose com as doenças psicossomáticas, envolvendo, assim, uma intensa relação entre corpo e mente na sua origem.
MORAIS, TIM, & ASSIS. 2020Considerações sobre o uso da Ozonioterapia (O3) no tratamento de EndometrioseO ozônio atua  como   um   possível   tratamento   para   reduzir   a inflamação na endometrite
HEMMERT, et al. 2019Modifiable life style factors and risk for incident endometriosis. Paediatric and perinatal epidemiology.Não possui nenhuma associação entre álcool cafeína e tabagismo no diagnóstico de endometriose.
PORFÍRIO, et al. 2017O papel da dieta na etiologia da endometriose.Ácidos graxos poli-insaturados têm um papelessencial na regulação da dor, podendo reduzir o estado inflamatório exercendo um efeito protetor em relação à endometriose.
Fonte: autoria própria, 2023

4 DISCUSSÃO 

1.1 Fisiopatologia 

A causa da endometriose ainda é desconhecida, porem existe algumas teorias para explicar, a mais aceita atualmente é a da menstruacão  retrograda, a qual ocorre devido a presença de liquido livre na pelve na época menstrual, sugerindo que haja um refluxo, que permite que células endometriais se implantem nos demais órgãos pélvicos. Assim, ocorre a implantação dessas células fora do local de origem, devido a um ambiente hormonal propício e da falha do sistema imunológico em combate-las. Além disso, há também a Teoria genética, na qual o surgimento da doença é associado a fatores genéticos associados a alterações no ambiente peritoneal, como inflamatórios, imunológicos, hormonais e estresse oxidativo (FEBRASGO, 2021). Outra teoria proposta é das células-tronco endometriais, que independente da origem, os hormônios as influenciam contribuindo para a adesão, invasão e inflamação. Acredita- se que elas se localizam na camada basal, sendo responsáveis pela regeneração do tecido em estimulo ao estrogênio (WANG, Y. et al. 2020).

 O principal fator trófico na endometriose é o estrogénio e a exposição a ele desempenha um papel crucial no desenvolvimento da doença através de receptores de estrogênio.  O estradiol atinge a endometriose pela circulação, mas é produzido principalmente localmente no tecido endometriótico,  esse acúmulo local de estrogênio desempenha um papel importante no desenvolvimento e progressão de lesões endometrióticas, uma vez que esse hormônio estimula o crescimento das células endometriais (CHANTALAT, E. et al. 2020).

1.2 Fatores Dietéticos  

Segundo Heringer, et al. (2023) uma dieta baseada em antioxidantes como vitaminas C e E, presentes em alimentos como frutas vermelhas, vegetais folhosos verde escuro e chá verde, está associada a níveis menores de marcadores inflamatórios, sendo associado a uma melhora na qualidade de vida das mulheres portadoras da doença, ao contrário de uma alimentação rica em gorduras saturadas e açúcares que é relacionada com um perfil inflamatório elevado.

Além disso, tal estudo relaciona uma dieta rica em gorduras trans e laticínios integrais com níveis elevados de estradiol, hormônio que está envolvido no estímulo do crescimento do tecido endometrial. Dessa forma, o consumo desses alimentos aumenta a concentração de hormônios que são fatores de piora a doença, uma vez que essa influência no crescimento do tecido uterino fora da cavidade, podendo acometer outros órgãos. Em contraste, o consumo de fibras e grãos integrais se relacionam com níveis mais baixos desse hormônio. 

Nos estudos de Polak, et al. (2021), foi mostrado que o consumo de carne vermelha foi associado a um maior risco de desenvolver a doença, devido ao seu perfil pro- inflamatório. Sendo confirmado pelos estudos de Neumann, et al. (2023) em que mulheres que consumiram duas ou mais porções diárias de carne vermelha tem maior chance de desenvolver a doença e apresentarem dor pélvica, pois pode influenciar nos níveis de estrogênio pela exposição a hormônios exógenos, além de possuir maiores concentrações de ômega 6 que está associado a substâncias pro-inflamatórias. Relação também vista nos estudos de Porfírio, et al. (2017) e de Frota, Franco, de Almeida. (2022)

A restrição a alimentos processados e também aqueles que contêm açúcar refinado mostra uma diminuição nas taxas de inflamação e nos marcadores inflamatórios nos estudos de Heringer, et al. (2023). Ademais, nos estudos de Habib, et al. (2022),  revela que o alto consumo de gordura está associado ao estresse oxidativo e a inflamação.  Reforçando os estudos de Polak, et al. (2021) de que o maior consumo de gordura trans aumenta o risco por serem agentes inflamatórios.

Neumann, et al. (2023) traz em sua pesquisa alguns alimentos que influenciam na endometriose, como frutas, em que mulheres que comiam de três ou mais porções diárias de frutas tiveram menor chance de desenvolver a doença, pois essas são fontes de vitaminas A, E, C e do complexo B, as quais possuem propriedades antioxidantes, reduzindo os radicais livres e o efeito inflamatório. Além do mais, elas também possuem flavonóides que inibem a proliferação celular, destacando o consumo de frutas cítricas, que possui naringenina, substância antioxidante e anti-inflamatória. Entretanto, alguns estudos demonstraram que o consumo delas estava relacionado com o aumento do risco, que foi associado ao uso de agrotóxicos.

 Segundo Polak, et al. (2021), foram identificados em mulheres com endometriose, níveis baixos de provitamina A, que suprime a formação de compostos pro-inflamatórios, o qual pode ser suprido com uma dieta rica em frutas, principalmente frutas cítricas que possuem vitamina C, a qual possui efeitos antioxidantes e inibe a inflamação. Além disso,  o estudo afirma que o consumo de ácidos graxos do grupo ômega 3 diminui o risco, apresentando uma menor intensidade e duração da dor. Sendo reafirmado no estudo de Heringer, et al. 2023 que a suplementação de ômega 3 encontrado em peixes e sementes pode auxiliar na redução da inflamação, além da ingestão de cálcio, ferro e vitaminas do complexo B. 

De acordo com Heringer, et al. (2023) o consumo de verduras foi associado à redução do risco, exercendo efeito protetor, podendo haver uma possível regressão da doença. Isso ocorre justamente porque as fibras presentes nesses alimentos diminuem a circulação entero-hepática, aumentando a excreção de estrogênio. Associa também o consumo da batata na melhora dos níveis de lipídios e lipoproteínas no sangue, apresentando propriedades anti-inflamatórias. Além disso, o consumo de pelo menos uma porção diária de leite ou derivados do leite reduzem o risco de endometriose, devido à presença de cálcio e vitamina D pelo efeito anti-inflamatório e antioxidante.

Segundo Frota, Franco, de Almeida. (2022) a baixa ingestão de ácido fólico pode interferir na formação do DNA, podendo levar a formação anormal de genes, contribuindo para o surgimento da endometriose. Ademais, demonstra a relação da curcumina, princípio ativo da cúrcuma, que possui propriedades antioxidantes, sendo um agente anti-inflamatório, tendo sua ação inibindo a migração de macrófagos e mediadores inflamatórios ativos na endometriose.

Além disso, na pesquisa de Frota, Franco, Almeida, 2022. foram analisados  que mulheres que possuíam maior IMC, tinham uma maior possibilidade de a biossíntese de estrogênio estar elevada, hormônio que interfere no desenvolvimento da doença, assim com IMC mais elevado maiores  são a chance de piorar a doença, pois a biossíntese do estrogênio que normalmente ocorre nos ovários, pode ocorrer no tecido adiposo. Em contrapartida nos estudos de Cardoso, et al.(2021) foram observados o risco aumentado de endometriose relacionado com o IMC mais baixo. Assim demostra que os resultados foram inconclusivos, necessitando de mais estudos.

Nos estudos de Gomes, et al. (2022), mostra a relação na disfunção da microbiota intestinal, conhecida como disbiose, o qual leva ao acréscimo de citocinas pró inflamatórias, podendo avançar para um estado crônico de inflamação, contribuindo para a piora da endometriose.

1.3 Fator Psicossocial

Segundo ROLIM, et al. (2020) não é possível dissociar a influência da mente sobre o corpo e vice-versa, assim considerando uma inter-relação continua na origem, desenvolvimento e cura de doenças. O fator psicológico da endometriose aborda problemáticas como a baixa qualidade de vida, dificuldade na sexualidade, depressão e ansiedade, além de associar a intensidade da dor crônica com o perfil psicológico, demostrando a importância de incluir terapias psíquicas no tratamento, uma vez que a dor contribui para o isolamento social.

Em uma pesquisa de Silva, et al. (2021) sobre a percepção das mulheres frente a essa condição mostrou que um dos pontos que a incomodava, além dos sintomas físicos foi o impacto psicológico, uma vez que mulheres diagnosticadas com endometriose apresentam níveis superiores de depressão em comparação com as saudáveis, situação que tende a piorar com as crises de dor. As entrevistadas também refeririam que a dor as atrapalhou a fazer tarefas diárias.  Sendo atestado pelo estudo de Campos, Da Costa. (2023), o qual mostra que as mulheres enfrentam um sofrimento psíquico, devido a intensidade variável da dor, colaborando com o estudo anterior.

De acordo com Capelario, et al. (2022) por ser uma doença que pode apresentar períodos de dor prolongados e repentinos, o que gera um desgaste físico e mental nas pacientes que pode se expressar na forma de ranger constante de dentes, consequentemente aparece uma condição secundaria, o bruxismo, caracterizado por ser atividade involuntária. Assim, o diagnóstico de endometriose impacta de diversas formas na vida da mulher, sendo necessário dar importância a saúde mental dessas mulheres, não apenas focando nas dores físicas. 

1.4 Outros fatores

Segundo Cofini, et al. (2022) a doença impacta na saúde física e mental das pacientes, diminuindo a qualidade de vida, em seu estudo as mulheres com endometriose que começaram a praticar atividades físicas relataram que o nível de dor foi menor comparado às que não praticavam atividades. Sendo corroborado por Heringer, et al. (2023) estudo de em que a prática de atividade física pode reduzir os sintomas, uma vez que no estudo o grupo que se exercita frequentemente apresenta menos sintomas comparados às sem exercício regular. Ademais, também associa que a amamentação diminui os sintomas, senso associado a amenorreia.  

Espécies reativas de oxigênio (ROS), definido como radicais livres, os quais são produzidos durante os processos metabólicos, pelas células endometriais, contribuem para o controle da receptividade e implantação endometrial. O ROS pode causar diversos danos as células, sendo observado maior produção dessas em resposta ao estresse psicológico, uso de drogas, álcool e tabaco, e ao estilo de vida inativo, causando um estresse oxidativo (EO) ao corpo (KALTSAS, et al. 2023)

De acordo Polak, et al. (2021) algumas substancias que são expostos a fetos na fase intrauterina estão associados a um risco maior de desenvolver endometriose, por exemplo o etinilestradiol, presente em anticoncepcionais orais, quando testados em camundongos foram associados com o maior risco de o feto desenvolver a doença, sendo considerado um medicamento teratogênico. Além disso, produtos químicos desreguladores endócrinos (EDCs), definidos como um grupo de compostos que afetam a função endócrina, possuindo a capacidade de alterar as taxas de hormônio secretados. Estão presentes em produtos de higiene pessoal e cosméticos, no qual se acumulam no tecido adiposo, tendo sua ação prolongada.

Nos estudos de Cofini, et al. (2022) foi relacionada a utilização do ozônio (O3) para o tratamento da endometriose, pois ele tem a capacidade para oxidar compostos orgânicos, estimulando respostas antioxidantes, sendo capaz de modular o processo inflamatório e aumentar o sistema antioxidante e imunológico, e vem sendo estudado seu uso para o tratamento de doenças inflamatórias, como a endometriose, no entanto deve ser administrado com cuidado devido ao seu potencial toxico. 

4 CONCLUSÃO 

Dessa forma, conclui-se que a endometriose é uma doença inflamatória, logo alimentos que possuem um caráter anti-inflamatório diminuem os sintomas e o risco de se desenvolver endometriose, além do consumo de anti-oxidantes, os quais combatem os radicais livres, que podem causar erros as células aumentando o risco do desenvolvimento da doença. Além disso, fatores como a pratica de atividade física e a saúde mental também auxiliam na diminuição dos sintomas, de forma a promover um estilo de vida mais saudável. 

Assim, demostra a importância de analisar os hábitos de vida dessas mulheres, de maneira a incorporar hábitos que diminuam a sintomatologia dessa doença, uma das principais causas da redução da qualidade de vida dessas.

REFERÊNCIAS:

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¹ Discente do curso de Medicina do Centro Universitário de Patos de Minas -UNIPAM.
² Docente do Centro Universitário de Patos de Minas -UNIPAM.