THE INFLUENCE OF HORMONAL CONTRACEPTIVES ON THE RISK OF DRY SOCKET AFTER TOOTH EXTRACTION: A REVIEW OF COAGULATION AND ALVEOLAR HEALING MECHANISMS
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202504081653
Gisely Nayara Silva Livramento¹, Ester Garcia Amaral², Victória Cardoso Medeiros³, Gabrielli Paulow Martelli4, Michelle Aparecida de Medeiros Albano5, Eduarda Alves Correa e Silva6, Diego Andre Arzabe7 , Ana Clara Gomes Alves8, Isadora de Oliveira Machado9, Criza Dias Silva10
RESUMO
A exodontia, procedimento comum na prática odontológica, pode levar a complicações como a alveolite, uma inflamação dolorosa da cavidade onde o dente foi extraído. A formação inadequada do coágulo sanguíneo é uma das principais causas dessa complicação. Recentemente, estudos sugerem que o uso de anticoncepcionais hormonais, especialmente os que combinam estrogênio e
progesterona, pode influenciar o processo de coagulação e a cicatrização, aumentando o risco de alveolite pós-exodontia. Este estudo visa revisar a literatura existente sobre a relação entre o uso de anticoncepcionais hormonais e a incidência de alveolite, abordando os mecanismos fisiológicos de coagulação, as alterações hormonais provocadas pelos anticoncepcionais e os fatores de risco associados. A revisão será relevante para entender melhor como o uso de anticoncepcionais pode impactar a recuperação após a extração dentária, contribuindo para o manejo clínico de pacientes que fazem uso desses medicamentos.
Descritores: Exodontia, Alveolite, Anticoncepcionais Hormonais, Coagulação Sanguínea, Cicatrização Alveolar, Risco Pós-Operatório.
SUMMARY
Exodontia, a common procedure in dental practice, can lead to complications such as alveolitis, a painful inflammation of the socket where the tooth was extracted. Inadequate blood clot formation is one of the main causes of this complication. Recent studies suggest that the use of hormonal contraceptives, particularly those combining estrogen and progesterone, may influence the coagulation process and healing, increasing the risk of post-exodontia alveolitis. This study aims to review the existing literature on the relationship between hormonal contraceptive use and the incidence of alveolitis, addressing the physiological mechanisms of coagulation, hormonal changes induced by contraceptives, and associated risk factors. The review will be valuable for understanding how contraceptive use may impact recovery after tooth extraction, contributing to the clinical management of patients using these medications.
Descriptors: Exodontia, Alveolitis, Hormonal Contraceptives, Blood Coagulation, Alveolar Healing, Post-Operative Risk.
INTRODUÇÃO
A exodontia é um dos procedimentos cirúrgicos mais realizados na prática odontológica, com o objetivo de remover dentes comprometidos por diversas condições, como cáries, doenças periodontais ou impactos ortodônticos. Em geral, o processo de cicatrização pós-operatória ocorre sem intercorrências, levando a uma recuperação satisfatória na maioria dos pacientes. Contudo, complicações como hemorragias prolongadas, infecções e, especialmente, a alveolite seca, podem ocorrer e prejudicar a recuperação do paciente, resultando em dor intensa e prolongada, além de atrasos na cicatrização. O desenvolvimento dessas complicações pode ser influenciado por diversos fatores, incluindo condições sistêmicas do paciente, seus hábitos de vida, a técnica utilizada durante a extração e o uso de determinados medicamentos.
Entre os medicamentos que podem afetar diretamente os processos de cicatrização e coagulação, os anticoncepcionais hormonais têm sido amplamente discutidos nas últimas décadas. Esses fármacos, que geralmente combinam estrogênio e progesterona, são conhecidos por sua capacidade de modular diversos processos fisiológicos no organismo, incluindo a hemostasia e a resposta inflamatória. O estrogênio, por exemplo, exerce um papel crucial na regulação dos fatores de coagulação, promovendo um aumento nos níveis de fatores pró-coagulantes, como o fibrinogênio, o fator VII e o fator VIII, enquanto também reduz a atividade da antitrombina III. Como resultado, o uso contínuo de anticoncepcionais hormonais pode induzir um estado de hipercoagulabilidade, o que, por sua vez, altera o processo de formação e manutenção do coágulo sanguíneo necessário para a cicatrização adequada após a extração dentária. Esse desequilíbrio na coagulação pode predispor o paciente ao desenvolvimento de alveolite seca, uma complicação caracterizada pela perda prematura do coágulo sanguíneo e pela exposição do osso alveolar, levando a dor intensa e a um processo inflamatório agudo.
Além do impacto sobre a coagulação, a progesterona, outro componente comum nos anticoncepcionais hormonais, tem uma função importante na modulação da resposta inflamatória. Ela pode interferir diretamente na cicatrização alveolar, influenciando a regeneração óssea e a formação de tecido conjuntivo. A presença elevada de progesterona pode retardar o processo de reparação, dificultando a cura do alvéolo e aumentando o risco de complicações. Essas alterações são particularmente evidentes em mulheres que utilizam anticoncepcionais hormonais de forma contínua, uma vez que o uso prolongado desses fármacos pode afetar a resposta do corpo ao estresse cirúrgico, modificando a dinâmica inflamatória e a regeneração tecidual.
Estudos recentes sugerem que as mulheres que utilizam anticoncepcionais hormonais estão mais propensas a desenvolver complicações pós-exodontia, especialmente quando a extração ocorre no início do ciclo menstrual, quando os níveis hormonais estão mais elevados, afetando ainda mais o processo de cicatrização. Esses achados indicam a necessidade de uma abordagem diferenciada durante o planejamento das extrações dentárias em pacientes que utilizam anticoncepcionais, a fim de minimizar o risco de complicações como a alveolite seca.
Dado o alto uso de anticoncepcionais hormonais na população feminina e a possível relação com o aumento de complicações pós-exodontia, torna-se essencial que os profissionais de saúde bucal compreendam os mecanismos pelos quais esses fármacos influenciam a coagulação e a cicatrização alveolar. Com uma compreensão mais profunda desses processos, será possível adotar estratégias preventivas e terapêuticas mais eficazes, otimizando os resultados pós-operatórios e melhorando a experiência do paciente. A conscientização sobre esses fatores permitirá, assim, uma abordagem mais personalizada no tratamento de pacientes em uso de anticoncepcionais hormonais, promovendo uma recuperação mais rápida e segura.
METODOLOGIA
Este estudo trata-se de uma revisão da literatura, com o objetivo de analisar a influência dos anticoncepcionais hormonais nos mecanismos de coagulação e cicatrização alveolar após exodontias. Para isso, foi realizada uma busca sistemática em bases de dados científicas.
Estratégia de Busca
A busca foi realizada nas bases de dados PubMed, Scielo, ScienceDirect e Google Acadêmico, utilizando os seguintes descritores combinados com operadores booleanos (AND, OR):
Em português: “anticoncepcionais hormonais”, “exodontia”, “coagulação”, “cicatrização alveolar”, “alveolite seca”, “hemorragia pós-operatória”.
Em inglês: “hormonal contraceptives”, “tooth extraction”, “coagulation”, “alveolar healing”, “dry socket”, “postoperative bleeding”.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A revisão da literatura demonstrou que o uso de anticoncepcionais hormonais têm um impacto significativo nos mecanismos de coagulação e cicatrização alveolar após exodontias. Mulheres que utilizam esses fármacos apresentam uma predisposição aumentada a complicações pós-operatórias, especialmente a alveolite seca e alterações no tempo de coagulação. Essas influências podem ser explicadas pelos efeitos sistêmicos dos hormônios exógenos sobre a homeostase sanguínea, o metabolismo ósseo e a resposta inflamatória. Com a crescente utilização de anticoncepcionais hormonais na população feminina, torna-se essencial compreender suas implicações na prática odontológica, visando um melhor planejamento e manejo clínico.
Os anticoncepcionais hormonais combinados, que contêm estrogênio e progesterona, promovem mudanças importantes na cascata da coagulação. O estrogênio tem sido amplamente estudado por seu papel na indução de um estado de hipercoagulabilidade, aumentando os níveis plasmáticos de fatores pró-coagulantes, como os fatores VII, VIII, IX e X, além do fibrinogênio. Simultaneamente, esse hormônio reduz a atividade da antitrombina III e da proteína C ativada, inibindo os mecanismos anticoagulantes naturais do organismo. Essas alterações resultam em uma coagulação mais eficiente, o que, à primeira vista, poderia ser considerado um fator protetor contra sangramentos prolongados após a extração dentária. No entanto, estudos sugerem que esse mesmo efeito pode levar a uma dissolução prematura do coágulo alveolar, favorecendo o desenvolvimento da alveolite seca, uma das complicações mais comuns e dolorosas da exodontia.
A alveolite seca ocorre devido à perda precoce do coágulo sanguíneo que protege a ferida cirúrgica, deixando o osso alveolar exposto ao ambiente oral e aumentando o risco de infecção e dor intensa. Evidências clínicas indicam que mulheres em uso de anticoncepcionais hormonais apresentam um risco significativamente maior de desenvolver essa complicação em comparação com aquelas que não utilizam esses medicamentos. Um dos mecanismos propostos para essa predisposição é o aumento da atividade fibrinolítica induzida pelo estrogênio, que estimula a produção de ativadores do plasminogênio, resultando na degradação acelerada da fibrina. Como a fibrina é o principal componente estrutural do coágulo sanguíneo, sua dissolução prematura pode levar à desintegração do coágulo antes da completa cicatrização do alvéolo.
Além disso, a progesterona, outro componente dos anticoncepcionais hormonais combinados, também pode influenciar a cicatrização alveolar ao modular a resposta inflamatória. A inflamação é um processo essencial para o reparo tecidual, pois recruta células do sistema imune e fatores de crescimento que promovem a regeneração óssea e epitelial. No entanto, a progesterona pode reduzir a liberação de citocinas pró-inflamatórias, alterando a dinâmica da resposta inflamatória inicial e retardando a chegada de células essenciais para a cicatrização, como macrófagos e fibroblastos. Esse efeito pode comprometer a formação do tecido de granulação no alvéolo, prolongando o tempo de recuperação e aumentando o risco de complicações.
Outro aspecto relevante abordado pela literatura é o impacto dos anticoncepcionais hormonais no metabolismo ósseo, um fator crucial para a reparação do alvéolo após a extração dentária. O estrogênio desempenha um papel central na regulação da atividade dos osteoblastos e osteoclastos, as células responsáveis pela formação e reabsorção óssea. Níveis elevados desse hormônio podem reduzir a atividade osteoclástica, retardando a remodelação óssea no local da extração. Embora esse efeito possa ser benéfico na prevenção da perda óssea em longo prazo, ele pode interferir na substituição do osso danificado por tecido ósseo novo, atrasando a cicatrização alveolar. Além disso, algumas pesquisas sugerem que a progesterona pode afetar a síntese de colágeno e a deposição da matriz extracelular, fatores essenciais para a regeneração óssea adequada.
Diante dessas evidências, muitos pesquisadores sugerem que a programação da exodontia deve levar em consideração o ciclo hormonal da paciente. Alguns estudos indicam que a extração dentária realizada no final do ciclo menstrual, quando os níveis hormonais estão mais baixos, pode estar associada a uma menor incidência de alveolite seca e a uma melhor resposta cicatricial. No entanto, essa abordagem ainda não é amplamente adotada na prática clínica, sendo necessária uma maior conscientização entre os profissionais da odontologia sobre o impacto dos anticoncepcionais hormonais na recuperação pós-cirúrgica.
Além das estratégias relacionadas ao período do ciclo menstrual, outras medidas preventivas podem ser adotadas para minimizar os riscos em pacientes que fazem uso contínuo de anticoncepcionais hormonais. Entre elas, destaca-se a realização de protocolos que favoreçam a estabilidade do coágulo, como a aplicação de agentes hemostáticos locais, o uso de substâncias antifibrinolíticas e a orientação para evitar sucção e enxágues vigorosos nos primeiros dias após a exodontia. O acompanhamento pós-operatório rigoroso também é essencial para detectar precocemente sinais de complicações e intervir de maneira eficaz.
Portanto, os achados da literatura reforçam que os anticoncepcionais hormonais exercem influência direta nos processos de coagulação e cicatrização alveolar, aumentando o risco de complicações pós-exodontia, principalmente a alveolite seca. Essas evidências ressaltam a importância de um planejamento cuidadoso por parte do cirurgião-dentista, que deve considerar os fatores hormonais na avaliação pré-operatória e adotar estratégias para minimizar os riscos associados. O conhecimento sobre esses mecanismos permite uma abordagem mais segura e eficaz, garantindo melhores desfechos clínicos e maior conforto para as pacientes que utilizam esses fármacos.
CONCLUSÃO
A presente revisão demonstrou que o uso de anticoncepcionais hormonais influencia significativamente os processos de coagulação e cicatrização alveolar após exodontias, aumentando o risco de complicações como a alveolite seca. Os mecanismos fisiológicos envolvidos incluem a indução de um estado de hipercoagulabilidade pelo estrogênio, seguido por uma ativação fibrinolítica precoce, que compromete a estabilidade do coágulo sanguíneo no alvéolo. Além disso, a progesterona pode modular a resposta inflamatória e afetar a regeneração óssea, retardando o reparo tecidual.
Diante dessas evidências, torna-se essencial que os cirurgiões-dentistas considerem o histórico de uso de anticoncepcionais hormonais ao planejar exodontias em pacientes do sexo feminino. Estratégias preventivas, como a realização do procedimento em períodos do ciclo menstrual com menor influência hormonal, a aplicação de agentes hemostáticos locais e o acompanhamento pós-operatório rigoroso, podem minimizar riscos e otimizar a recuperação.
Embora os estudos revisados apontem uma correlação clara entre o uso de anticoncepcionais hormonais e um aumento no risco de complicações pós-exodontia, ainda há necessidade de mais pesquisas clínicas para aprofundar o entendimento sobre a melhor abordagem terapêutica e preventiva nesses casos. A conscientização dos profissionais sobre essa relação é fundamental para uma prática odontológica mais segura e eficaz, garantindo melhores desfechos para as pacientes e reduzindo intercorrências associadas à cicatrização alveolar.
REFERÊNCIAS
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