A INFLUÊNCIA DO CONSUMO ALIMENTAR FAMILIAR E SEDENTARISMO NA PREVALÊNCIA DO SOBREPESO E OBESIDADE EM ADOLESCENTES

THE INFLUENCE OF FAMILY FOOD CONSUMPTION AND SEDENTARY LIFESTYLE ON THE PREVALENCE OF OVERWEIGHT AND OBESITY IN ADOLESCENTS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10058473


Adriana Ribeiro Camargo1
Josinete Alves de Lima²
Yago Warley da Costa Silva³
Orientador(a): Prof(a). Me. Thatiana Cizilio Schiffler


Resumo: A família e fatores relacionados à vida moderna são definidores da obesidade entre adolescentes em todo o mundo. O objetivo deste trabalho consiste em abordar a influência do sedentarismo e consumo alimentar sobre o desenvolvimento da obesidade em adolescentes. Realizou-se uma revisão bibliográfica a partir de livros eletrônicos e artigos científicos da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e da Scientific Eletronic Library Online (SciELO), publicados entre 2018 e 2023. Os resultados mostraram que a família tem poder de influenciar a qualidade da alimentação dos adolescentes, de modo a determinar, direta ou indiretamente, o surgimento de sobrepeso e obesidade e, por conseguinte, doenças relacionadas, como as classificadas como doenças crônicas não transmissíveis. Além disso, o sedentarismo representado pela falta de atividade física e momentos prolongados preenchidos com jogos e outras atividades por meio eletrônico contribuem para o sobrepeso e obesidade. Assim sendo, são fatores que devem ser considerados na intervenção nutricional feita nessa faixa etária, a fim de melhorar o estado nutricional de tal grupo.

Palavras-chave: Sobrepeso. Obesidade. Adolescência. Consumo alimentar. Sedentarismo.

Abstract: The family and factors related to modern life define this pathology among adolescents around the world. The objective of this work is to address the influence of social and cultural factors on the development of obesity in adolescents. A bibliographical review was carried out using electronic books and scientific articles from the Virtual Health Library (VHL) and the Scientific Electronic Library Online (SciELO), published, preferably, between 2018 and 2023. The results showed that the family has the power to influence the quality of adolescents’ nutrition, in order to determine, directly or indirectly, the emergence of overweight and obesity and, consequently, related diseases, such as those classified as chronic non-communicable diseases. Furthermore, a sedentary lifestyle represented by a lack of physical activity and prolonged periods filled with games and other electronic activities contribute to overweight and obesity. Therefore, these are factors that should be considered in the nutritional intervention performed in this age group, in order to improve the nutritional status of this group.

Keywords: Overweight. Obesity. Adolescence. Food consumption. Sedentary lifestyle.

1 INTRODUÇÃO

Sobrepeso e obesidade são temas recorrentes em todos os segmentos da saúde, visto que tendem a comprometer o funcionamento geral do organismo humano, independentemente da faixa etária. A adolescência é uma fase em que a maioria dos componentes dessa categoria consomem alimentos, em sua maioria ultraprocessados que são carregados de macronutrientes, (sobretudo representados por gorduras, açúcares e sódio) favorecendo a deficiência nutricional de micronutrientes, tais como vitaminas e sais minerais (SILVA et al., 2020).

Em todo o mundo, a obesidade em adolescentes configura um problema de saúde pública e, portanto, um desafio à toda a sociedade. A incidência dessas patologias em adolescentes é crescente, sendo estimada a prevalência de 25% a 60% na população, visto que o excesso de peso aumentou três vezes entre crianças e adolescentes nos últimos quarenta anos (NOBRE; EVANGELISTA, 2019).

É sabido que fatores genéticos e fisiológicos são determinantes de obesidade, entretanto, este trabalho busca abordar como o hábito alimentar familiar e o sedentarismo são influenciadores dessa patologia que, aliás, tem caráter crônico-degenerativo e inflamatório (BARBOSA et al., 2019). Neste contexto, levanta-se o seguinte problema de pesquisa: como o hábito alimentar familiar e o sedentarismo influenciam a obesidade em adolescentes?

Hipoteticamente, as amizades com outros adolescentes com diferentes hábitos, a mídia e o convívio familiar contribuem para adoção de estilos de vida classificáveis como saudáveis ou não, sobretudo no tocante à alimentação, sem deixar de fora o sedentarismo. Nesse cenário, a mídia contribui, sobremaneira, com campanhas convincentes para consumo de alimentos atraentes, porém, pouco nutritivos.

De posse desse quadro, este trabalho tem como objetivo abordar a influência do sedentarismo e consumo alimentar sobre o desenvolvimento da obesidade em adolescentes. E, como metas, definem-se os seguintes objetivos específicos: conceituar sobrepeso e obesidade em adolescentes; elencar fatores sociais e culturais no contexto da obesidade em geral; discutir o papel desses fatores na determinação da obesidade nos adolescentes.

A relevância deste trabalho consiste na evidente necessidade de mudança de hábitos alimentares e de estilo de vida, de modo geral. Nesse contexto, a discussão aqui proposta tem potencial para contribuir para a reflexão entre profissionais de saúde, principalmente nutricionistas – pois são os maiores representantes do segmento da alimentação saudável – bem como, entre nutricionistas em formação.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de uma pesquisa qualitativa de natureza aplicada e para o alcance de seu objetivo, realizou-se uma revisão bibliográfica narrativa. Estas consistem em um levantamento da literatura com intuito de identificação do estado da arte sobre a temática (PRODANOV; FREITAS, 2013). Para tanto, buscou-se livros eletrônicos no Google Books para conceituação temática e artigos científicos na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e na Scientific Eletronic Library Online (SciELO), publicados no período entre 2018 e 2023. Utilizou-se as expressões-chave “obesidade na adolescência” e “obesidade em adolescentes”, alternadas com o booleano “OR”; na BVS foram utilizados os descritores “adolescent”, “obesity”, “cultural factors”, “social factors” e “risk factors”, alternados com os booleanos “OR” e “AND”.

Dispensam-se uso de protocolos do Comitê de Ética, porquanto se trata de pesquisa exclusivamente bibliográfica.

3 DESENVOLVIMENTO

3.1 Adolescência

A idade que representa a adolescência, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) compreende o período entre 10 a 19 anos, ao passo que a lei brasileira (Estatuto da Criança e do Adolescente- ECA) considera adolescente o indivíduo com idade entre 12 a 18 anos (CARNEIRO et al., 2015).

A adolescência é comumente entendida e aceita como uma fase marcada por rebeldia, ousadia, conflitos e oposição às normas (GOMES, 2018). Segundo o Dicionário Enciclopédico de Psicanálise (1996), essa fase configura uma repetição do que foi vivenciado na infância, ou revivência das experiências traumáticas precoces. Certamente, essa “repetição” justifica as características típicas da adolescência.

No que diz respeito ao comportamento dos adolescentes, é comum que se exponham a atividades que põem em risco sua saúde física e mental. Essa “coragem” de experimentar riscos pode dar sentido ao ingresso numa vida de hábitos não saudáveis (consumo de álcool, tabagismo, alimentação inadequada e sedentarismo) que podem desencadear doenças crônicas, e outras, já na adolescência (ZAPPE; DELL’AGLIO, 2016).

O comportamento de risco dos adolescentes, embora reprovado pela maioria dos adultos, mostra falta de maturidade. Logo, a influência de pessoas de seu convívio pode interferir nos hábitos do adolescente como, por exemplo, a educação alimentar e a prática de atividade física regular.

3.2 Consumo Alimentar

Alimentação e nutrição são conceitos parecidos, visto que ao ingerir porções de alimentos, deduz-se que está sendo efetuado, também, um processo nutricional. Entretanto, sobre o conceito de alimentação, a ideia de abastecer o corpo para fornecer energia fica aquém do que venha a ser a alimentação sob o ponto de vista da nutrição. Neste aspecto, para Lima e Santana (2019), além de saciar a fome, e de satisfazer um prazer devido ao sabor do alimento, a alimentação envolve outros aspectos, como a quantidade para fornecer energia e a qualidade para suprir, de nutrientes, o organismo.

De certo modo, alimentar-se não é, necessariamente, nutrir-se, visto que o primeiro tem efeito imediato de saciedade, enquanto nutrir-se diz respeito ao fornecimento de elementos indispensáveis ao bom funcionamento do organismo (LIMA; SANTANA, 2019). Esses limites no entendimento sobre alimentar-se e nutrir-se traz a ideia correta do que seja alimentar-se de modo saudável, porquanto é comum pensar que os nutrientes definem o quanto a alimentação é saudável.

Nesse contexto, segundo recomenda “O Guia Alimentar para a População Brasileira”, uma alimentação saudável não deve se concentrar apenas nos nutrientes, mas, sim, nas práticas alimentares que têm importância social e cultural. Os alimentos têm várias características, como sabor, aparência, aroma e textura, que devem ser considerados na abordagem nutricional. Além dos nutrientes, os alimentos têm significados culturais, comportamentais e afetivos que não devem ser ignorados. Portanto, é essencial considerar o prazer e a identidade cultural e familiar que os alimentos proporcionam ao promover a saúde (BRASIL, 2014).

A propósito das características dos alimentos, alguns as têm de forma muito atraentes aos sentidos, sobretudo ao olfato, ao paladar e à visão – trata-se dos alimentos ultraprocessados. Estes são elaborados com a intenção de terem vida prolongada e serem consumidos em maiores quantidades do que os demais. Para tanto, são destruídas as matrizes in natura, sendo substituídas por ingredientes de matriz acelular, como amidos, gorduras e concentrados de proteínas, além de aditivos para darem sabor, cheiro, cor e consistências atraentes. Nessas circunstâncias, os alimentos passam a ser nutricionalmente desbalanceados, o que favorece o surgimento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) em razão do sódio, gorduras saturadas e trans e açúcares (NILSON, 2022).

A qualidade da saúde a partir da alimentação alcança, portanto, mais do que a simples ingestão, ou seja, deve-se considerar todos os nutrientes e as qualidades dos alimentos relevantes para uma dieta balanceada para cada indivíduo, os alimentos disponíveis em sua região e, a partir daí, selecionar as que mais atendem às peculiaridades do indivíduo.

Embora recomenda-se que se pratique hábitos de alimentação saudáveis, a população fica exposta às campanhas tentadoras de vendas de alimentos pouco, ou nada, saudáveis. As indústrias investem pesadamente em propagandas de fast-food, alimentos com alto teor calórico, bebidas carbonatadas, cereais matinais açucarados e outros produtos altamente processados. Essas estratégias de marketing podem impactar a formação de hábitos alimentares de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas em crianças e adolescentes (OLIVEIRA et al., 2016). Os adolescentes são, juntamente como muitas crianças, o alvo da mídia por serem, aparentemente, os mais vulneráveis às tentações gustativas.

De acordo com Enes e Lucchini (2016), os adolescentes que passam mais tempo assistindo televisão consomem quantidades maiores de leite e derivados, açúcares, doces e refrigerantes. Além disso, verificou-se que o baixo consumo de frutas, juntamente com o consumo exagerado das guloseimas supramencionadas, e a idade mais jovem, estão relacionados ao maior tempo de exposição à televisão. Na análise multivariada, os hábitos alimentares pouco saudáveis, como a baixa ingestão de frutas e o consumo excessivo de doces e açúcares, continuaram associados, independentemente, ao tempo gasto assistindo televisão (ENES; LUCCHINI, 2016).

Na sequência, hábitos de consumo alimentar em família influenciam, diretamente, o comportamento dos adolescentes. Por exemplo, estudos revelaram associação de consumo de fast food como prática comum no cotidiano de adolescentes em contextos familiares envolvendo todos ou a maioria dos membros, com consentimento direto ou indireto dos pais (CARDOSO et al., 2015).

Nessas circunstâncias, o ambiente em que o adolescente está inserido pode favorecer a mudança de comportamento, afetando a aceitação dos alimentos. De acordo com Oliveira et al. (2015), estudos indicam que, embora o paladar tenha sua origem nos órgãos sensoriais do corpo humano, ele pode sofrer alterações devido à influência da família, amigos ou à exposição constante à publicidade.

A propósito, a presença dos pais durante as refeições em família pode desempenhar um papel importante na promoção de hábitos alimentares saudáveis no café da manhã e, por conseguinte, nas regras alimentares estabelecidas em casa, que influenciam a escolha de lanches mais saudáveis. No entanto, quando os adolescentes estão com os amigos, é comum que consumam mais alimentos gordurosos em comparação com as refeições realizadas na presença dos pais (SOUSA, 2020).

Contrariando os resultados favoráveis à influência dos pais, sobretudo no que tange a serem exemplos na rotina alimentar, o estudo de Sousa (2020) também indicou um maior consumo de frutas, verduras e legumes por parte dos pais, em comparação aos adolescentes. Estes, por sua vez, têm o hábito de consumir diariamente guloseimas, refrigerantes, salgadinhos e frituras, o que é inadequado e pode representar um risco para o desenvolvimento de doenças – acrescenta a autora.

Não obstante ser comum os pais terem mais hábitos de alimentação saudáveis, muitas vezes, os adolescentes não são incentivados a terem um consumo diário desses alimentos, o que pode ser atribuído ao fato de os pais consumirem mais alimentos saudáveis, porém, não os incentivarem efetivamente.

Fica evidenciado que a influência da família nos hábitos alimentares dos adolescentes pode ser tanto positiva quanto negativa, uma vez que o ambiente doméstico, de modo geral, reflete os hábitos alimentares. Isso serve tanto para o consumo de frutas e hortaliças, quanto para fast food e alimentos menos saudáveis (OLIVEIRA et al., 2015).

Conforme visto, alimentar-se e nutrir-se são ideias distintas, porém, relacionadas e interdependentes. Logo, quando não há boa nutrição a partir do consumo alimentar dos adolescentes, há riscos de desenvolver sobrepeso e obesidade, o que pode favorecer o desencadeamento de DCNTs.

3.3 Sobrepeso e Obesidade

O sobrepeso e a obesidade integram o conceito de excesso de peso, segundo o índice de massa corporal (IMC) especificamente, por acúmulo de gordura corporal. Essa característica é marcante por afetar a saúde do indivíduo e a qualidade de vida em razão de estar ligada ao maior índice de morbimortalidade precoce. Consiste, portanto, em um problema mundial de saúde pública (BARBOSA et al., 2019).

No tocante aos danos à saúde, o excesso de gordura corporal, sobretudo a obesidade, prenuncia o desenvolvimento de Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT). São exemplos: o diabetes tipo 2, hipertensão, doenças cardiovasculares e cânceres (NOBRE; EVANGELISTA, 2019).

Existe um parâmetro de definição de baixo peso, excesso e de peso normal, determinado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é o Índice de Massa Corporal (IMC). Obtém-se o IMC dividindo-se o peso (em quilos) pela altura (em metro) ao quadrado, ou seja, IMC = peso/altura2 (KALIL et al., 2017).

A propósito, a referência da OMS para classificação do peso de um indivíduo, encontra-se na Tabela 1, abaixo, citada por Kalil et al. (2017).

Tabela 1 – Classificação do índice de massa corporal

CLASSIFICAÇÃOIMC (KG/M2)RISCO DE COMORBIDADE
BAIXO PESO<18,5BAIXO
PESO NORMAL18,5 – 24,9MÉDIO
SOBREPESO≥ 25
PRÉ-OBESO25,0 A 29,9AUMENTADO
OBESO I30,0 A 34,9MODERADO
OBESO II35,0 A 39,9GRAVE
OBESO III≥ 40,0MUITO GRAVE
Fonte: Adaptado de KALIL et al. (2017).

É notável uma classificação crescente partindo de “Baixo peso” indo até “Obeso III”, sendo o primeiro referente a menos de 18,5 kg/m2 e o último com IMC igual ou maior que 40,0. Associa-se à classificação os riscos de comorbidade, de modo que existe riscos evidentes a partir da classe “pré-obeso” (aumentado) chegando a “muito grave” para a classe “obeso III”. Essa classificação oficial sugere que haja vigilância do IMC e atenção às causas da obesidade.

As causas da obesidade podem estar relacionadas às características genéticas, aos maus hábitos alimentares, às disfunções endócrinas e ao sedentarismo, entre outros. Dois fatores, entretanto, são preponderantes, quais sejam, a alimentação inadequada e o sedentarismo (NERO, 2019).

Com o intuito de diminuir riscos de obesidade, a atenção à alimentação saudável configura uma conduta plausível. Nesse sentido, Nero (2019) menciona que se evitem ou controlem o consumo de alimentos gordurosos e os que contêm muito açúcar.

Entretanto, quando se trata de adolescentes, estes podem ser influenciados pelos pais e/ou outros responsáveis. Um estudo sobre a influência do ambiente em que vive o adolescente sobre a condição alimentar, encontrou resultados que confirmam aumento de risco de sobrepeso e/ou obesidade quando um dos pais ou ambos são obesos (BARBALHO et al., 2020).

Desse modo, ao comparar o Índice de Massa Corporal (IMC) entre pais e/ou responsáveis e filhos/escolares, foi observado que mais da metade dos pais e/ou responsáveis foi classificada com sobrepeso/obesidade. Isso indica que a condição nutricional dos adolescentes é influenciada pelo ambiente em que vivem e pelos padrões alimentares da família. O risco individual de desenvolver excesso de peso é de 2,5 a 4 vezes maior se apenas um dos pais é obeso. No entanto, esse risco aumenta para 10 vezes quando tanto o pai quanto a mãe são obesos (BARBALHO et al., 2020).

Além da influência do ambiente familiar sobre o estado nutricional, na contemporaneidade, muitas crianças e jovens permanecem durante muitas horas envolvidos em atividades que não demandam muito esforço físico, como uso excessivo de aparelhos eletroeletrônicos. Quando, ademais, associadas a padrões alimentares pouco nutritivos, contribuem para o surgimento de sinais de excesso de peso, podendo alcançar sobrepeso e obesidade com facilidade (NERO, 2019).

Nessas circunstâncias, o excesso de peso, sendo uma preocupação mundial, denota uma cultura numa sociedade já acomodada ao consumo excessivo de alimentos ricos em gordura e açúcar. Logo, faz sentido uma pequena abordagem sobre a obesidade como um fenômeno sociocultural.

3.4 Obesidade, Sociedade e Cultura

O processo nutricional depende, de certo modo, das escolhas dos alimentos a serem consumidos e da quantidade adequada de cada nutriente, considerando as variáveis idade, sexo e as atividades diárias de cada pessoa. Contudo, há distinção entre hábitos alimentares e alimentação.

Os hábitos alimentares dizem respeito às escolhas de alimentos, sua seleção, preparo e ingestão, sendo comportamentos individuais e, também, em grupos, refletindo práticas socioculturais. Em contrapartida, a alimentação consiste em um processo voluntário e social, pelo qual são fornecidos nutrientes e energia para a demanda das funções físicas e para o metabolismo (HERNÁNDEZ-CORONA et al., 2021). Nessas circunstâncias, os hábitos alimentares de determinados grupos integram e refletem sua cultura.

Os temas “gordura” e “magreza” mudam conforme a geração histórica mencionada. No contexto de hábitos alimentares, Figueiredo e Silva (2020) referem que a obesidade é compreendida, historicamente, enquanto um fenômeno sociocultural que perpassa por representações e preceitos distintos de tempos em tempos.

Nessa continuidade, remete-se aos discursos sobre o valor que se davam à aparência das pessoas que apresentavam sobrepeso, sendo vistas como fartas, bem de vida e bem alimentadas. Neste sentido, Figueiredo e Silva (2020) lembram que mulheres com sobrepeso tinham status de beleza, prosperidade e fertilidade, invejadas por essas qualidades, não obstante, no presente são taxadas do oposto disso – falta de boa saúde, desleixadas e, de certo modo, improdutivas. Em outras palavras, o que antes era entendido como algo bonito e invejável, atualmente é claramente um estigma.

Não obstante o preconceito, condições socioeconômicas influenciam a qualidade da alimentação representada pelos hábitos alimentares de pessoas de classes sociais menos favorecidas. É tendencioso que jovens de famílias com baixo nível socioeconômico consumam mais alimentos industrializados, habitam em bairros que não oferecem estrutura favorável à prática regular de atividade física e valorizam menos a aparência física do que adolescentes e jovens de famílias com melhor poder aquisitivo (SANTOS et al., 2020).

Vários fatores sociais, culturais e econômicos influenciam na qualidade da alimentação, dos hábitos alimentares e do estilo de vida das pessoas de todas as idades, em todo o mundo. No Brasil, ultimamente, ocorreram mudanças nos padrões alimentares das populações em razão do desenvolvimento econômico, social e aos novos hábitos sociais e culturais (NOBRE; EVANGELISTA, 2019).

De modo semelhante, os mexicanos mudaram drasticamente seus hábitos de alimentação, influenciados, também, por fatores econômicos, sociais e familiares. Não só esses, mas, também, o crescimento populacional e os ritmos de trabalho e de estudo dificultaram o acesso e manutenção de hábitos alimentares saudáveis, somados à cultura do consumo de alimentos ricos em açúcares refinados e gorduras saturadas (HERNÁNDEZ-CORONA et al., 2021). Some-se à má alimentação, a vida sedentária, comum a muitas pessoas jovens.

3.5 Sedentarismo

A falta de atividade física (trabalho, esporte, lazer) e exercícios regulares ou, mesmo, irregulares configura vida sedentária. Mais especificamente, há diferenças entre comportamento sedentário e sedentarismo. Comportamento sedentário é compreendido como aquele em que prevalece pouco gasto de energia em situações nas quais os grandes grupos musculares não recebem considerável sobrecarga. Já sedentarismo consiste na falta de atividade física intensa ou, mesmo, moderada por, no mínimo, 150 minutos semanais (BRUNO, 2023).

Entretanto, para os adolescentes, há recomendações específicas da Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS e da Organização Mundial da Saúde – OMS. Para crianças e adolescentes, recomenda-se que façam atividade física por 60 minutos, em média, diariamente, variando entre moderada e vigorosa durante a semana, com ênfase na aeróbica. Sugere-se que sejam praticadas atividades aeróbicas indo de intensidade moderada a vigorosa, bem como as que contribuem para fortalecimento dos músculos e ossos pelo menos três dias por semana (OPAS; OMS, 2021).

Para situações de falta de vontade ou de motivação para a prática de atividades físicas, os pais e familiares podem proceder como supervisores dos adolescentes. Segundo Santana et al. (2021), tanto o sedentarismo como a inatividade física dos adolescentes podem ser minimizados através de monitoria positiva e acompanhamento de suas rotinas por seus supervisores parentais.

Para Nobre e Evangelista (2019), o sedentarismo constitui um dos mais importantes fatores no desenvolvimento de sobrepeso e obesidade, principalmente entre jovens. O comportamento sedentário e a falta de atividade física, combinados com uma alimentação desequilibrada, rica em gorduras e pobre em fibras e frutas, estão causando um aumento alarmante nos índices de sobrepeso e obesidade em todo o mundo. No Brasil, aproximadamente 1 em cada 5 adolescentes está acima do peso, o que representa um problema significativo (BARBALHO et al., 2020).

De acordo com Barbalho et al. (2020), esses hábitos inadequados podem levar a complicações metabólicas precoces, como dislipidemia e hipertensão arterial, entre outras comorbidades, afetando negativamente a qualidade de vida e a socialização dos jovens. É essencial combater esses padrões de comportamento e promover um estilo de vida saudável desde a adolescência, visando prevenir problemas de saúde a longo prazo e promover o bem-estar geral dos jovens.

Estas afirmativas são corroboradas por Fontes et al. (2023) ao reforçarem que há, nos dias atuais, grande preocupação com a forma como crianças e adolescentes se comportam no sentido de movimentar o corpo, pois, é comum permanecerem durante muito tempo sentados usando telefone celular, computador, tablet e assistindo à televisão.

Em um estudo, Oliveira et al. (2016) concluíram que passar tempo assistindo televisão contribui tanto para o sedentarismo quanto para o consumo excessivo de energia. Isso ocorre porque crianças e adolescentes que passam horas nessa atividade, estão expostos a propagandas de alimentos não saudáveis. Além disso, eles têm maior tendência a consumir fast-food e refrigerantes, enquanto consomem menos frutas e vegetais em comparação com aqueles que dedicam menos tempo à TV.

Os mesmos autores, mencionam outro estudo com estudantes de escolas públicas em Niterói, RJ, que utilizou o tempo em frente à tela como um indicador de sedentarismo e mostrou que esse tempo está, significativamente, associado ao excesso de peso. A chance de apresentar sobrepeso foi 1,864 vezes maior para estudantes de todas as idades, sendo maior para os meninos do que para as meninas (OLIVEIRA et al., 2016).

A propósito do sobrepeso em adolescentes, pressupõe-se que a alimentação inadequada e ausência de atividade física são fatores influenciadores. Entretanto, no Estudo de Riscos Cardiovasculares (ERICA2), as meninas consumiram com maior frequência sempre ou quase sempre refeições e petiscos em frente à TV, videogames e computadores, quando comparadas aos meninos. Esse achado pode ser justificado, em parte, pelo fato de meninos destinarem mais tempo à prática de atividade física, porquanto, em geral, dedicavam o dobro de tempo realizando atividade física em relação às meninas, considerando todas as idades. Entretanto, na Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE3), ao contrário do ERICA, as meninas consomem com menor frequência petiscos frente às telas (OLIVEIRA et al., 2016).

Subentende-se que o ganho de peso em adolescentes pode ser maior ou menor dependendo do tempo de tela e do consumo de petiscos em frente à televisão e atividades físicas. Logo, comer petiscos enquanto assiste à televisão pode contribuir para ganho de peso, ao passo que comer petiscos na mesma situação e, também, praticar atividade física, representa menos risco de sobrepeso, porquanto não configura comportamento sedentário nem sedentarismo.

Nessa continuidade, enfatiza-se que ser fisicamente ativo todos os dias é importante para a promoção da saúde integral do indivíduo, independentemente da idade. Em se tratando dos adolescentes é fundamental que as atividades sejam adequadas e prazerosas em vista das fases de crescimento e desenvolvimento pelos quais estão passando (AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR, 2017).

Ademais, no tocante a adolescentes com comportamento mais sedentário, aconselha-se um aumento progressivo no nível de atividade, assim o corpo irá se adaptando de forma gradativa, porquanto obtém-se melhores resultados se começar com poucas atividades e aumentar, gradativamente, duração, frequência e intensidade (AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR, 2017).

Assim, o comportamento sedentário e o sedentarismo – comuns em adolescentes – poderá ser reduzido e, até, exterminado de modo a promover mais saúde aos jovens evitando e/ou diminuindo a obesidade. Desse modo, evitam-se as DCNTs que podem ser desenvolvidas a partir do sedentarismo.

De modo geral, adolescentes modernos cultivam uma alimentação pobre em micronutrientes e, em contrapartida, com grande quantidade de carboidratos, além de muitos alimentos ultraprocessados, o que contribui para o desenvolvimento de doenças crônicas na vida adulta, quando não, já na adolescência.

E se tratando de sobrepeso e obesidade, a vida sedentária é comum entre adolescentes, bem como a cultura de alimentar-se inadequadamente com apoio de seus educadores em família, visto que estes, em muitos casos, ensinam pelo exemplo. Somados aos hábitos poucos saudáveis de alimentação, encontram-se os referentes a atividades físicas que são, em geral, ausentes em muitos adolescentes que, ao contrário, cultivam o sedentarismo diante de aparelhos eletrônicos de comunicação que lhes permitem jogar e conversar, quase sempre, sentados.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta revisão possibilitou a compreensão de que hábitos alimentares e sedentarismo podem influenciar a prática alimentar dos adolescentes, favorecendo o desenvolvimento de sobrepeso e obesidade.

A ausência de atividade física e/ou exercício físico, bem como, hábitos comuns associados ao laser sem movimentos corporais aeróbicos ou que demandem mínimo esforço físico capaz de demandar mais energia, são típicos dos adolescentes, em geral, nos dias atuais. Tal comportamento é comum em indivíduos de famílias com razoável poder aquisitivo, ao passo que, entre famílias menos abastadas, o fator mais influente, grosso modo, é a alimentação pouco nutritiva.

Nesse contexto, os hábitos alimentares são, de certa forma, comuns a todos os membros da família. Ou seja, se os pais compram e consomem certos alimentos pouco nutritivos, faz todo sentido que os filhos também os consumam.

Desse modo, a imaturidade do adolescente o coloca como sujeito vulnerável tanto às campanhas publicitárias sobre alimentos pouco ou nada saudáveis, quanto à exposição dos alimentos adquiridos pelos seus responsáveis diretos. Logo, a falta de modelo e de disciplina alimentar contribuem para o desenvolvimento de sobrepeso e obesidade nessa categoria de indivíduos.

Dada a importância desse tema para a sociedade em geral e para os profissionais envolvidos na questão alimentar, sobretudo nutricionistas, reivindica-se o desenvolvimento de estudos mais aprofundados que ampliem o acervo de conteúdo para debate e reflexão para tomada de decisões por parte de autoridades deste segmento.

REFERÊNCIAS

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1* Bacharelando em Nutrição pela Faculdade LS. adriana.camargo87@lseducacional.com;
2* Bacharelando em Nutrição pela Faculdade LS. josinete.lima34@lseducacional.com;
3* Bacharelando em Nutrição pela Faculdade LS. yago.w.c.silva@lseducacional.com;
4Estudo transversal, de âmbito nacional de base escolar, cujo objetivo foi estimar a prevalência do diabetes mellitus, obesidade, fatores de risco cardiovascular e de marcadores de resistência à insulina e inflamatórios em adolescentes de 12 a 17 anos que frequentam escolas em cidades brasileiras com mais de 100.000 habitantes, conduzido nos anos de 2013 e 2014.
5Pesquisa Nacional de Saúde Escolar