A INFLUÊNCIA DE CRENÇAS ESPIRITUAIS NO MANEJO DA HIPERATIVIDADE INFANTIL: IMPLICAÇÕES PARA A RELAÇÃO PAIS-FILHOS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102412121659


Robson Marins De Abreu


RESUMO

O TDAH, caracterizado por desatenção, impulsividade e hiperatividade, gera um impacto negativamente na relação familiar devido a seu alto grau de esgotamento emocional. Comportamentos desafiadores, como dificuldade em seguir regras, e a impulsividade podem levar a conflitos.

Antes de sua formalização como condição neurobiológica, crianças com TDAH eram alvo de estigmatização e incompreensão, como rotulação negativa, exclusão social, A falta de diagnóstico e conhecimento sobre suas bases neurobiológicas resultavam em interpretações equivocadas sobre seu comportamento, causando punição. Outro problema é a influência da religião, quando atribui estes comportamentos como possessão demoníaca causando dúvida no diagnóstico. O TDAH é uma velha enfermidade com uma etiqueta nova. Infelizmente, Dado que o diagnóstico é clínico, por não haver exame específico, a avaliação completa se torna crucial com entrevistas abrangentes com pais ou responsáveis, professores e, sempre que possível, com a própria criança ou adolescente.

Palavraschave: TDAH. Relação pais-filhos. Desafios. Estratégias de enfrentamento. Comunicação

1.INTRODUÇÃO

O presente trabalho investiga como o Transtorno do Déficit de Atenção (TDAH) influencia a relação entre pais e filhos. O TDAH (TDAH) é um distúrbio do neurodesenvolvimento que afeta significativamente a vida de crianças e suas famílias. Caracterizado por sintomas como desatenção, impulsividade e hiperatividade, o TDAH exige adaptações e estratégias específicas no ambiente familiar. A falta de compreensão sobre o transtorno e suas implicações pode gerar conflitos e dificuldades na comunicação entre pais e filhos, impacta negativamente a qualidade dos vínculos familiares.

Este trabalho visa compreender como o TDAH influencia a relação entre pais e filhos, analisando os desafios enfrentados e propondo estratégias de enfrentamento. A relevância do tema se justifica pelo impacto do TDAH na dinâmica familiar, que pode levar a altos níveis

de estresse parental e afetar o desenvolvimento da criança (Francisco, 2010). Compreender estas relações é fundamental para promover um ambiente, compreensivo e harmonioso. Anteriormente, os pais adotavam práticas educativas que, sem a compreensão, envolviam formas de proteção com agressões físicas. Essas práticas, muitas vezes justificadas como estratégias de disciplina, revelam uma confusão conceitual entre educar e impor castigos corporais, evidenciando a ausência de uma visão crítica sobre os impactos dessas ações no desenvolvimento infantil.

O estudo do tema é importante para que os pais possam se desvincular de falsas crenças relacionadas à imperatividade e à indisciplina da criança com TDAH, entendendo que essas atitudes não são meramente escolhas, mas sim sinais de uma condição neurodesenvolvimental. Esta sensibilização é crucial para promover comportamentos parentais mais empáticos e eficientes, que prezam pelo diálogo, paciência e suporte emocional. Adicionalmente, ao compreender as principais dificuldades do TDAH, os pais podem estabelecer um vínculo mais saudável com seus filhos, promovendo uma compreensão recíproca para o respeito às necessidades individuais. A pesquisa tem como objetivo final fornecer informações relevantes para a prática clínica e poder orientar a os pais que são religiosos que seus filhos não têm nenhum problema de espiritualidade e que seus filhos necessitam apoio psicossocial.

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é uma condição que se manifesta nos primeiros anos de vida, embora o diagnóstico preciso geralmente ocorra por volta dos setes anos de idade. Durante a adolescência, o TDAH pode trazer desafios significativos, como dificuldades em manter relacionamentos sociais estáveis e uma tendência a mudar de opinião e planos frequentemente.

Esses jovens podem experimentar sentimentos de incapacidade, impulsividade e baixa autoestima. Em alguns casos, podem recorrer ao uso de drogas lícitas ou ilícitas como forma de alívio para os sintomas do TDAH, além de apresentarem maior vulnerabilidade à depressão.

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV) da Associação americana de Psiquiatria (1994) define alguns critérios para o diagnóstico de TDAH, incluindo: Desatenção, perda de objetos, dificuldade de organização, desafabilidade, esquecimento.

É fundamental lembrar que o TDAH é um transtorno complexo e cada indivíduo pode apresentar sintomas e desafios específicos. O diagnóstico e tratamento adequados são essenciais para que essas pessoas possam desenvolver suas habilidades e ter uma vida plena e satisfatória.

2. DESENVOLVIMENTO

O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é amplamente reconhecido como um transtorno do neurodesenvolvimento, com forte impacto na vida social, educacional e emocional das crianças e suas famílias. Este transtorno é caracterizado por sintomas

persistentes de desatenção, impulsividade e hiperatividade, que se manifestam de maneira mais intensa em ambientes que exigem controle e organização, como na escola e em interações sociais. Esses comportamentos podem dificultar o aprendizado, prejudicar o desempenho acadêmico e gerar conflitos no ambiente familiar.

A partir de uma compreensão mais aprofundada do TDAH, é possível abordar as dificuldades enfrentadas pelas crianças diagnosticadas com este transtorno, assim como as implicações para a dinâmica familiar, especialmente na relação pais-filhos. O impacto do TDAH vai além dos desafios imediatos do dia a dia, afetando de maneira significativa a autoestima das crianças e a forma como elas se percebem, o que pode gerar sentimento de frustração e inadequação. As dificuldades de concentração, a impulsividade nas interações e a dificuldade em seguir regras e rotinas estabelecidas podem gerar um ciclo de conflitos, levando à desestabilização da relação entre pais e filhos.

Estudos sobre o TDAH indicam que o transtorno vai além de uma simples falta de atenção ou agitação; trata-se de uma condição neurobiológica que exige intervenções específicas para melhorar a qualidade de vida da criança e o relacionamento com os pais. A criança com TDAH não age de forma desorganizada ou impulsiva por escolha, mas devido a uma disfunção no funcionamento cerebral, particularmente nas áreas responsáveis pelo controle executivo, como a atenção e o autocontrole. Isso torna a tarefa de disciplinar e orientar essas crianças mais desafiadora para os pais, especialmente quando não se tem o conhecimento adequado sobre o transtorno.

Além disso, a falta de entendimento sobre o TDAH pode levar à adoção de métodos de disciplina inadequados, como punições severas ou abordagens punitivas, que não só são ineficazes, mas também podem prejudicar ainda mais o vínculo entre pais e filhos. Nesse contexto, é essencial que os pais compreendam que o comportamento da criança com TDAH não é uma falha moral ou de caráter, mas uma consequência de uma condição neuropsicológica. A conscientização sobre o transtorno permite que os pais adotem estratégias mais eficazes de manejo e disciplina, como o uso de reforços positivos, a implementação de rotinas estruturadas e a busca por apoio profissional, quando necessário.

A compreensão do TDAH também implica reconhecer a importância de um diagnóstico precoce e de tratamentos adequados, como a terapia cognitivo-comportamental e, em alguns casos, o uso de medicamentos. O diagnóstico precoce permite a implementação de estratégias de enfrentamento desde os primeiros sinais, o que pode minimizar os impactos negativos do transtorno ao longo do tempo. Além disso, o tratamento multidisciplinar, envolvendo médicos, psicólogos e educadores, oferece uma abordagem mais eficaz e holística, permitindo que a criança e sua família enfrentem o transtorno de forma mais equilibrada.

Assim, ao se aprofundar no conhecimento sobre o TDAH, é possível não apenas melhorar a qualidade de vida da criança, mas também promover um ambiente familiar mais harmonioso, baseado na compreensão, na paciência e no apoio emocional. Esse processo envolve a educação dos pais e da comunidade escolar, bem como a promoção de políticas públicas que favoreçam o diagnóstico precoce e o acesso a tratamentos adequados. Em última análise, a intervenção correta e o apoio adequado podem ajudar as crianças com TDAH a alcançar seu pleno potencial, melhorando sua autoestima e suas habilidades sociais, e promovendo relações familiares mais saudáveis e positivas.

2.1 A INFLUÊNCIA DAS CRENÇAS ESPIRITUAIS NO MANEJO DO TDAH

A influência das crenças espirituais no manejo do TDAH no Brasil é um tema de grande relevância, especialmente considerando o contexto cultural e religioso presente em diversas comunidades. Em muitas famílias, principalmente em áreas onde a religiosidade é predominante, os comportamentos típicos do TDAH, como impulsividade, desatenção e hiperatividade, podem ser interpretados como manifestações espirituais ou demoníacas. Essa visão espiritualizada do transtorno pode ter implicações sérias, retardando o diagnóstico adequado e o início do tratamento psicossocial, essenciais para o desenvolvimento saudável da criança. Como resultado, os filhos com TDAH podem enfrentar dificuldades não apenas no ambiente escolar, mas também no lar, onde a falta de compreensão pode gerar tensões e até mesmo violências físicas e emocionais.

De acordo com Francisco (2010), a ausência de um diagnóstico correto, associada ao desconhecimento sobre a base neurobiológica do TDAH, contribui para o aumento de conflitos familiares. A incompreensão dos pais sobre o transtorno pode gerar um ciclo de frustração, tanto para eles quanto para os filhos, o que compromete ainda mais a dinâmica familiar. Em muitos casos, essa falta de entendimento leva os pais a adotarem práticas disciplinares severas, como castigos físicos, acreditando erroneamente que esses comportamentos indesejáveis precisam ser corrigidos de forma rígida, através de punições. No entanto, essas estratégias, como observado por Miller et al. (2011), muitas vezes são ineficazes e podem prejudicar o desenvolvimento emocional e social da criança, aprofundando a relação conflituosa com os pais e aumentando os níveis de estresse dentro de casa.

Esse tipo de abordagem punitiva não considera a verdadeira natureza do TDAH, que é um transtorno neurobiológico. A criança com TDAH não escolhe ser impulsiva ou desatenta, mas sofre com dificuldades no controle da atenção, no planejamento e na organização das atividades, devido à disfunção em áreas do cérebro responsáveis por essas funções. Nesse contexto, é crucial que os pais compreendam que o comportamento da criança não é resultado de uma falha moral ou de caráter, mas sim de uma condição que requer apoio especializado.

Intervenções empáticas, como a psicoterapia cognitivo-comportamental, a orientação familiar e o uso de medicações específicas, têm se mostrado eficazes no tratamento do TDAH. Essas abordagens buscam ajudar a criança a desenvolver habilidades de autorregulação, ao mesmo tempo em que oferecem suporte aos pais, para que eles possam lidar com os desafios diários de maneira mais saudável e menos estressante. Além disso, a adaptação do ambiente educacional, com a implementação de técnicas de ensino diferenciadas, pode contribuir significativamente para a melhora do desempenho da criança e, consequentemente, para a qualidade da interação familiar.

O papel das crenças religiosas no manejo do TDAH é um aspecto que não pode ser ignorado. Muitas vezes, os pais buscam conselhos em suas comunidades religiosas, onde podem receber orientação sobre como lidar com o comportamento da criança. No entanto, é importante que essa orientação seja baseada em informações científicas e profissionais, para que o transtorno seja compreendido adequadamente e a criança receba o tratamento necessário. A sensibilização dos pais, por meio de programas educativos que abordem tanto os aspectos neurobiológicos do TDAH quanto os impactos das crenças espirituais na criação dos filhos, é essencial para promover uma visão mais holística e precisa do transtorno.

Portanto, ao integrar uma compreensão científica do TDAH com um respeito pelas crenças espirituais dos pais, é possível oferecer um caminho mais eficaz para o tratamento e manejo desse transtorno. A criação de um ambiente familiar que seja tanto compreensivo quanto estruturado, apoiado por profissionais qualificados, é fundamental para melhorar a qualidade de vida das crianças com TDAH e restaurar a harmonia nas relações pais-filhos.

2.2 DESAFIOS NA COMUNICAÇÃO E ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO

A comunicação entre pais e filhos pode ser severamente afetada pelo desconhecimento sobre o TDAH. Estudos revelam que os pais frequentemente interpretam os comportamentos das crianças com TDAH como desobediência, falta de vontade ou até “maldade”, quando, na verdade, esses comportamentos são frutos de dificuldades neurológicas de autorregulação e controle impulsivo. Segundo Barkley (2006), a impulsividade e a desatenção, características centrais do TDAH, são sintomas difíceis de lidar tanto para as crianças quanto para os pais, que podem sentir-se frustrados e impotentes diante da falta de “resultados” em suas tentativas de disciplina. Por isso, uma estratégia fundamental para o manejo eficaz do TDAH é a educação parental, que envolve não apenas o esclarecimento sobre o transtorno, mas também o desenvolvimento de habilidades para lidar com os comportamentos desafiadores. Programas de treinamento para pais, como os promovidos por Cunningham e Siegel (2008), demonstram a importância de ensinar os pais a adotarem práticas mais consistentes e positivas, como o uso de reforços positivos e a implementação de rotinas estruturadas.

2.3 O IMPACTO DO TDAH NA ADOLESCÊNCIA E OS RISCOS ASSOCIADOS

A adolescência é um período particularmente crítico para indivíduos com TDAH, pois as dificuldades de atenção, controle de impulsos e hiperatividade podem se intensificar, afetando a capacidade de manter relações sociais e tomar decisões impulsivas. A literatura sobre o TDAH na adolescência indica que, se não tratadas adequadamente, essas dificuldades podem resultar em uma série de problemas emocionais, como a baixa autoestima e o isolamento social. Além disso, os adolescentes com TDAH têm maior propensão a desenvolver comportamentos de risco, incluindo o uso de substâncias e a depressão. Estudos mostram que, ao longo da adolescência, o suporte contínuo dos pais e a implementação de tratamentos adequados (como terapia cognitivo-comportamental e uso de medicação quando necessário) são cruciais para a melhoria da qualidade de vida desses jovens. Mikami et al. (2010) evidenciam que a falta de intervenções eficazes pode levar a um ciclo de fracassos acadêmicos, dificuldades interpessoais e distúrbios emocionais, que podem perdurar até a fase adulta.

3. CONCLUSÃO

O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição que afeta não apenas a criança, mas também sua dinâmica familiar, trazendo desafios significativos para os pais e para o ambiente doméstico. A compreensão correta do TDAH, considerando sua base neurobiológica, é fundamental para que os pais possam lidar de forma adequada com os sintomas e comportamentos associados ao transtorno. Quando tratada de forma inadequada, a falta de entendimento pode gerar frustração, conflitos e estigmatização, prejudicando a qualidade de vida da criança e comprometendo a relação familiar. É crucial que os pais, especialmente os que possuem fortes crenças espirituais, compreendam que o TDAH não é uma manifestação de fatores espirituais ou morais, mas sim um transtorno neurobiológico que demanda intervenções psicossociais adequadas, como o apoio psicológico, terapias comportamentais e, quando necessário, medicações. Embora a religiosidade desempenhe um papel importante na vida de muitos pais, ela não deve substituir ou retardar o tratamento especializado necessário para o manejo do TDAH. A promoção de uma educação adequada sobre o transtorno, que envolva tanto os pais quanto a comunidade, é essencial para que o TDAH seja abordado de maneira mais informada e empática. Oferecer estratégias de enfrentamento que ajudem os pais a lidarem com os desafios diários de maneira construtiva pode fortalecer o vínculo entre pais e filhos, criando um ambiente familiar mais saudável e harmonioso. Ao proporcionar um tratamento adequado, baseado na compreensão científica e respeitoso das crenças dos pais, é possível garantir que a criança com TDAH tenha a oportunidade de desenvolver seu potencial e levar uma vida mais plena e satisfatória.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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