A INFLUÊNCIA DA MÚSICA NO TRATAMENTO E NA SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS COM AUTISMO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8286200


¹Clauderino Silva Raiol


RESUMO

O presente trabalho aborda sobre a musicoterapia como auxilio no tratamento da criança com autismo que atualmente é considerado como um dos Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD), conceito recentemente proposto devido aos avanços metodológicos. A musicoterapia é um método terapêutico que utiliza a música no tratamento das necessidades físicas, emocionais, mentais, sociais e cognitivas.

A escolha desse tema surgiu da necessidade em poder contribuir para uma educação inclusiva, compreendendo que viver em sociedade implica a precisão de uma postura em relação às diferenças. Este trabalho foi realizado através de uma pesquisa bibliográfica, onde conceitos bibliográficos explicaram o que é autismo e ampliaram nossos conhecimentos sobre a musicoterapia, o objetivo e o papel do musicoterapeuta, enfatizando a importância do atendimento especializado, pois podemos perceber que o desenvolvimento e a aprendizagem de uma pessoa, estar vinculado ao seu desenvolvimento sensorial (auditivo e visual), os sons são estímulos que chegam por meio do sistema auditivo, que pouco a pouco, aprendem a discriminar os diferentes sons por seu tom, intensidade e timbre, e por meio da visão pode se distinguir e diferenciar as imagens que a rodeiam.

PALAVRAS-CHAVE: Música; Terapia; Deficiência; Transtornos globais.

1. Introdução

Crianças com autismo encontram dificuldades em seus processos de desenvolvimento social e cognitivo, dentro e fora do ambiente escolar. Tendo em vista as dificuldades enfrentadas por estas crianças que possuem esse tipo de transtorno mental, e a relação positiva entre os estímulos musicais e as crianças que fazem uso do tratamento que envolvem a musicoterapia, percebeu-se que este tema (a influência da música no tratamento e na socialização de crianças com autismo) vem contribuir ainda mais com os estudos sobre estes transtornos mentais e suas diversas formas de tratamento. A escolha desse tema surgiu da necessidade em poder contribuir para uma educação inclusiva, compreendendo que viver em sociedade implica a precisão de uma postura em relação às diferenças, sendo como desígnio mostrar que, com o apoio da musicoterapia a criança com transtorno poderá progredir para um nível elevado no seu desenvolvimento, desde que o docente e a família se envolvam para esse progresso. Pessoas com autismo correspondem positivamente ao uso da música em suas terapias e isso faz com que esse trabalho se valorize ainda mais, pois tudo que se faz visando o bem estar das pessoas deve ser estimulado. A música além de ser usada como recuso de tratamento, desempenha também um importante papel na educação, ajudando a incentivar os alunos a aprender e facilita o processo de aprendizagem e na ampliação do conhecimento cultural.

2. Desenvolvimento

O que é autismo

Eugene Bleuler (1911), foi o primeiro a introduzir o termo “autismo” para designar a perda de contato com a realidade, desencadeando uma impossibilidade ou extrema dificuldade de comunicação com outras pessoas. A palavra é de origem grega (autós), que significa por si mesmo, um termo usado dentro da psiquiatria para denominar comportamentos humanos que se centralizam em si mesmo voltado para o próprio indivíduo.

Os primeiros relatos sobre o autismo foi descrito na década de 40, pelo psiquiatra austríaco residente nos Estados Unidos, Leo Kanner, que estudou o caso de onze crianças observando seus comportamentos estranhos e peculiares que cada uma tinha em comum, com características fortes de distúrbio do desenvolvimento. Em 1943, publicando um informe “Alteração Autistas do contato afetivo”, Kanner relata como um quadro de “Autismo Extremo”, obsessividade, estereotipias e ecolalia, apresentando incapacidade para estabelecer relações interpessoais, atrasos e alterações na aquisição e uso da linguagem, obsessão em manter o ambiente intacto, acompanhada da tendência a repetir uma sequência limitada de atividades ritualizadas. Essas crianças viviam como se não permanecessem no mundo, sem responder aos estímulos externos se mantendo num isolamento rígido e particular, as mesmas possuíam aparência agradável e inteligente alem de possuírem habilidades especiais e uma memória excepcional. Kanner discordou da afirmação feita por Bleuler, diferenciando o distúrbio autístico do grupo das esquizofrenias, continuou fazendo suas pesquisas -a respeito dessa síndrome, algumas alterações do conceito e da definição de autismo, mas o fundamento continuava sendo o mesmo de início, mas ele evitava enquadrá-lo como sintoma esquizofrênico.

No ano de 1944, o médico vienense Hans Asperger escreveu o artigo “A Psicopatia da Infância” poucos meses depois que Kanner, porém o mesmo descobriu o autismo de modo independente, pois não conhecia o trabalho de Kanner, portanto suas descrições a respeito da criança autista eram bastante semelhantes com as de Kanner.

Kanner (1948), escreveu em seu manual de psiquiatria, que as características da maioria das crianças atendidas, possuíam algumas coisas em comum, que os seus pais ou avós na maioria das vezes eram cientistas, médicos, jornalistas, escritores e estudiosos que apresentavam uma inteligência acima da média, essa indagação levou em consideração o principal fator para o desenvolvimento da síndrome na criança, a conduta dos pais e suas crises de personalidade ainda na sua vida intrauterina, no período de gestação na qual o feto passará, por uma gestação conturbada ou rejeitada, sem relacionar com a mãe, ou após o nascimento a criança não se relaciona com os pais ou qualquer outra pessoa perdendo a possibilidade de comunicar-se.

Segundo Kanner as crianças autistas nasciam normais, mas devido os pais serem pouco expressivos ou frios acabavam afetando o desenvolvimento afetivo, provocando um quadro autista, que segundo ele a relação das possíveis causas do distúrbio se dava pela contribuição dos fatores familiares.

Em 1949, após Kanner ter revisado diversas vezes seu conceito sobre autismo, referiu-se ao quadro como “Autismo Infantil Precoce”, sendo uma síndrome, mas definida, caracterizada pela dificuldade em estabelecer relação com outras pessoas, desejos obsessivos por certos objetos, rotina nas situações, alterações na linguagem e mutismo que acaba possibilitando grandes problemas na comunicação interpessoal. Após seus registros sobre a origem e conceito do autismo surgiram muitos outros pesquisadores com diversas teorias que valorizaram diferentes aspectos.

Com Ritvo (1976) surgem as primeiras alterações de concepção relacionada ao autismo a um déficit cognitivo considerando um distúrbio do desenvolvimento e não uma psicose, salientando que os déficits cognitivos ocorriam no autista desde o nascimento, considerando suas particularidades comportamentais, a possibilidade de associação da síndrome com outras patologias especificas na qual a derivação seria de uma patologia exclusiva do Sistema Nervoso Central.

Em 1980 foram utilizados critérios internacionais para o diagnóstico do autismo pelo DSM-III-R (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) publicado pela APA (American Psichiatric Association) que enfatiza os critérios para o diagnóstico de autismo, sendo revisadas várias vezes. O DSM-III-R dá importância à evolução da síndrome observando os sinais do distúrbio, na maioria dos casos por toda vida, mesmo havendo diversificações com a idade cronológica e o comprometimento das deficiências.

Em 1990 foi publicada conforme a posição da Classificação Internacional de Doenças Mentais – CID-9, havendo posições diferenciadas da psicogenicidade e da organicidade. A psicogenicidade tinha influência com a escola francesa, a mesma ressalta que o autismo é decorrente de uma desorganização da personalidade do quadro das psicoses. A organicidade já determina o autismo um distúrbio global de desenvolvimento das habilidades de comunicação verbal e não verbal e da atividade imaginativa que segundo a posição da APA (American Psychiatric Associaton) – DSM-III-R (Diagnostic and Statistical Manual – III edition, 1989), é identificada por sinais e sintomas comportamentais.

A OMS (Organização Mundial de Saúde), no ano de 1993 publicou a décima versão do Código internacional de Doenças (CID-10), atualizando a classificação de transtornos mentais e de comportamento, pela qual se enquadrou o autismo na categoria “Transtornos Invasivos do Desenvolvimento”, caracterizando por prejuízo severo e incapacitante, em diversas áreas do desenvolvimento humano, podendo variar em grau de acometimento, pelas anormalidades qualitativas, referente ao funcionamento global do indivíduo em quaisquer situações.

No ano de 1995 realizou-se a tradução brasileira após a publicação da APA (American Psychiatric Association). No ano de 1994, em sua quarta edição do DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), mudou o termo “global” para “invasivo” e alterando os critérios diagnósticos, sendo a expressão “Transtorno Invasivo do Desenvolvimento”, representada por danos graves e agressivos em várias áreas do desenvolvimento, em que se percebe prejuízo na habilidade da interação social recíproca, de comunicação, na presença de comportamentos, nos interesses e nas atividades estereotipadas, conforme o que diz o DSM-IV: os prejuízos qualitativos que definem essas condições representam um desvio acentuado em relação ao nível de desenvolvimento ou idade mental do indivíduo. Esta seção abarca Transtorno Autista, Transtorno de Rett, Transtorno Desintegrativo da Infância, Transtorno de Asperger e Transtorno Invasivo do desenvolvimento sem outra especificação. (APA, 1995).

Conforme as pesquisas do governo dos Estados Unidos, os casos de autismo subiram para um em cada 68 crianças com oito anos de idade, o equivalente a 1,47%. O número foi aferido pelo CDC (Center of Diseases Control and Prevention), do governo estadunidense – órgão próximo do que representa, no Brasil, o Ministério da Saúde. Os dados são referentes a 2010 e foram divulgados no dia 27 de março de 2014 pela revista “Autismo”. No ano de 2007 no Brasil, país de uma população de cerca de 190 milhões, estimou-se que havia cerca de um milhão de casos de autismo, segundo o Projeto Autismo, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, da Universidade de São Paulo. Atualmente o número mais aceito é a estimativa de que haja dois milhões de pessoas com autismo, cerca de 1,0% da população, e no mundo a ONU (Organização das Nações Unidas), estima que tenha 70 milhões de autista.

Os números recentes divulgados pelas estatísticas e muito superior aos citados em décadas anteriores, o que explicaria o maior reconhecimento dessa condição, a maior abrangência do conceito dos TGD, as causas dos quadros dos TGD que é multifatorial dependendo de fatores genéticos e ambientais e os afetados que são do sexo masculino, sendo na proporção de quatro meninos para uma menina, mais recentemente cunhou-se o termo Transtorno do Espectro Autista (TEA) que engloba o Autismo, a Síndrome de Asperger e o Transtorno Global do Desenvolvimento Sem Outra Especificação.

Após os primeiros modelos explicativos e os critérios utilizados para o diagnóstico, o autismo passa a ter uma atenção maior no que diz respeito a sua compreensão e a possibilidade do seu desenvolvimento, tanto na saúde como na educação, assim como para os seus pais que ao longo dos tempos foram considerados os responsáveis, pela falta de capacidade afetiva, o autismo hoje é considerado o Transtorno Global do Desenvolvimento, que apresenta uma categoria na qual estão agrupados transtornos que têm em comum as funções do desenvolvimento afetadas, embora o distúrbio continue sendo difícil para as crianças e suas famílias, a perspectiva atualmente e muito melhor do que a do passado, através de um diagnóstico precoce e tratamento correto, muito dos sintomas podem ser melhorados, mesmo com a permanência de alguns sintomas, a maioria das pessoas com autismo consegue viver socialmente, levando em consideração a gravidade do autismo e o nível de desenvolvimento.

As pessoas com necessidades especiais ao longo dos tempos enfrentaram ou enfrentam dificuldades, atualmente com a ajuda da tecnologia em diagnosticar as possíveis causas das deficiências, ainda existem pessoas que não foram diagnosticadas dificultando o tratamento adequado, com a aprovação da Lei nº 12,764/12 (Dou de 28/12/2012), sancionada pela presidente Dilma Roussef, que institui a Política Nacional dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, “Lei Berenice Piana”, essa lei garante às pessoas como a de ser considerada pessoa com deficiência, para todos efeito legais (art. §2º), o que antes não era consideradas, em prol da divulgação de informações sobre autismo na luta por mais direitos e menos preconceito, todo dia 2 de abril, conforme decretado pela ONU em dezembro de 2007, sendo o Dia Mundial da Conscientização do Autismo.

2.1. O DIAGNÓSTICO DO ESPECTRO DO AUTISMO

O diagnóstico até a década de 70 persiste certa confusão, pois o termo autismo pela primeira vez foi usado para referir-se à esquizofrenia, após pesquisas empíricas, rigorosas e controladas levaram à hipótese da existência de alteração cognitiva que explicaria as características de comunicação, linguagem interação social e pensamento presente, que através dos dados desses estudos de pesquisas estabeleceram importantes modelos explicativos, passando o autismo a ser estudado e compreendido enquanto um transtorno do desenvolvimento.

Segundo Wing e Gould (1979) deram origem ao conceito de Espectro Autista, ao estudarem crianças afetadas por dificuldades na reciprocidade social, na comunicação e por um padrão restrito de conduta, perceberam que as mesmas apresentam principais sintomas do autismo, sem que fossem autistas, propriamente ditas, permitindo uma atenção em ajudar um número maior de crianças. Wing denominou essas características de Tríade, analisando três déficits existentes nas áreas de imaginação, socialização e de comunicação.

O espectro do autismo sempre foi difícil de diagnosticar, pois apresenta muitos sintomas em comum com outros distúrbios, porém atualmente houve um grande progresso no reconhecimento, por meio da observação de crianças, quando atingem algum marco do desenvolvimento podendo ser detectada e diagnosticada numa fase inicial precoce que poderá ajudar para o desenvolvimento próximo do normal, os déficits que poderão configurar o autismo é a dificuldade na utilização da linguagem verbal e não verbal, ou ausência da mesma, com sentido na comunicação, ou seja, no seu uso social, com gestos, expressão facial, ritmo e modulação na linguagem verbal, linguagem corporal, sem a intencionalização na comunicação. O atraso ou falta total do desenvolvimento da linguagem oral, naqueles que a possui pode existir prejuízo na capacidade de iniciar ou manter uma conversação, perturbação na capacidade de compreensão da linguagem, como entender perguntas, piadas ou orientações.

A presença de movimentos corporais estereotipados envolvendo as mãos como, bater palmas, estalar os dedos, ou todo o corpo (balançar-se, inclinar-se para frente e para traz), anormalidades de postura (caminha na ponta dos pés, movimentos estranhos das mãos e posturas corporais) e ecolalia tendência a repetir automaticamente palavras ou sons ouvidos. No quadro severo muitas delas podem não possui uma linguagem verbal e com dificuldade na comunicação, ausência do uso de gestos, expressão facial, ou um uso muito precário dos mesmos, sendo incompreensível para que os outros a entendam, assim também pode haver crianças que apresentam a linguagem verbal, sendo de uso repetitivo e não comunicativo, possuindo ecolalias repetindo simplesmente o que foi dito, ou frases ouvidas há horas, ou até dias antes.

Na socialização, a criança com espectro do autismo tem uma dificuldade em relacionar-se com os outros não conseguem compartilhar seus sentimentos, emoções e gostos, ausência de reciprocidade social, incapacidade em compartilhar as sensações que experimenta com os seus semelhantes, a falta ou diminuição da capacidade de imitar, dificuldade de se colocar no lugar do outro ou a intencionalidade que o outro tenha, não consegue manter o contato visual com outras pessoas e quando há em alguns casos são sem conteúdos comunicativos.

Na imaginação, este envolve as várias áreas do pensamento, linguagem e comportamento, a criança possui um comportamento obsessivo e ritualizado, dificuldade em processos criativos e falta de aceitação das mudanças e compreensão literal da linguagem e não se interessam nas brincadeiras de faz de conta. Essa dificuldade pode ser observada na forma como a criança brinca, se ela inspeciona o brinquedo e brinca de forma simbólica, como empurrar ou puxar um carrinho não fixando somente em alguma parte dele. Nota-se que há um fascínio por movimentos (rodinhas dos brinquedos, abrir e fechar portas, ventiladores ou outros objetos com movimento giratório), a existência de interesse pelas rotinas ou rituais e insistência irracional em seguir rotinas.

O autismo pode ser diagnosticado nos três primeiros anos de vida, por meio de observação clínica ou pela história referida pelos pais ou responsáveis. Além das observações existem outros critérios de diagnósticos como o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mentais Disorders-DSM), publicado em 1952, sendo o mais usado no mundo todo, tem sido uma base de diagnóstico de saúde mental, utilizado por profissionais da área da saúde mental, clínicos e pesquisadores, lista de diferentes categorias de transtornos mentais e critérios para diagnosticá-los de acordo com a Associação Americana de Psiquiatria (American Psychiatric Association-APA).

Durante muito tempo, os especialistas achavam que a música possuía poderes curativos, com o passa do tempo acreditavasse que o poder curativo dependia do musicoterapeuta em desenvolver uma técnica que contribuísse para o bem esta do paciente, mas após alguns estudos realizados perceberam que a música e o musicoterapeuta ambos estão relacionados para que aja uma melhor eficácia no tratamento da pessoa na qual necessita desse atendimento.

Desde os primeiros dias do desenvolvimento da criança, suas atividades adquirem um significado próprio em um sistema de comportamento social e, sendo dirigidas a objetivos definidos, são refratadas por meio do prisma do ambiente da criança. O caminho do objeto até a criança e desta até o objeto passa por meio de outra pessoa. Essa estrutura humana complexa é o produto de um processo de desenvolvimento profundamente enraizado nas ligações entre história individual e história social. (VIGOTSKY, 1994, p-40).

Segundo Vigostky é por meio da ação mediadora, ou seja, a participação do outro na constituição do sujeito em relação com o mundo, sendo o homem participante do processo de criação de seu meio, um ser social e cultural em uma história de desenvolvimento, que parte do interpessoal para o intrapessoal, podendo o homem ser capaz de assimilar experiências que são repassadas de geração em geração ou transmiti-las.

O musicoterapeuta utilizará a música como um meio de mediação que venha beneficiar a saúde do corpo como o da mente, podendo aliviar dores, acalmar, melhorar a memória relaxar e estimula a prática de atividades físicas, dependendo de cada ritmo a música pode provocar vários comportamentos, seja agradável ou desagradável dependendo dos sons que são transmitidos. O ser humano nasce rodeado de sons, querendo ou não, gostando ou não em todos os lugares e em todos os momentos os sons estão presentes, qualquer que seja o som, ele é resultado da vibração de uma fonte sonora, para produzir sons, a fonte sonora deve vibrar e suas vibrações podem ser levadas por meio do ar, da parede, da água, do chão, ou por outro meio de condução, na forma de ondas sonoras até nossos ouvidos. Como todo som é resultado de uma vibração, mesmo as pessoas que possuem algum tipo de deficiência auditiva podem escutar por meio de sua pele, pois as vibrações por meio de ondas sonoras chegam à pele de todos nós assim como chegam aos nossos ouvidos.

Com a evolução do homem e o desenvolvimento da linguagem, o uso da música como ferramenta de comunicação foi ultrapassado pela linguagem, então, o que fez com que a música não caísse em desuso? Para essa pergunta nem precisa da ajuda dos cientistas. Todo mundo que já se apaixonou e dedicou uma música ao seu amado pode responder sem medo, é porque ela assumiu um papel que a fala sozinha não deu conta, ela transmitir emoções, e essa característica pode-se notar independentemente das preferências pessoais de cada um. Independente de ritmo, a música, dependendo do ouvinte, revela diferentes emoções, alguns acordes parecerem tristes e outros felizes podem ter também uma explicação evolutiva. Essa interpretação é relacionada com a forma como o cérebro processa sons amistosos e ameaçadores desde a época em que o homem era presa fácil. “Pense num cão”. Quando ele quer demonstrar carinho faz um som mais agudo, mais tonal. Quando está agressivo é mais grave e ruidoso, assim, dependendo da combinação de tons, a música é capaz de provocar uma sensação que vai do prazeroso ao desagradável. Quanto mais dissonantes forem os intervalos das notas musicais, maior será a sensação de tensão ou medo. Isso é fácil de ser identificado se ouvirmos as trilhas sonoras de filmes de terror ou suspense.

Cada ouvinte manifesta de modo único sua reação a determinada música, o contexto cultural, a experiência devida e interesses pessoais determinam a resposta e sensibilidade frente a um estímulo musical, que pode ser demonstrada através de expressões de apreciação, rejeição ou neutralidade. Os registros sonoros estão presentes e participando do desenvolvimento de cada ser humano mesmo antes do nascimento. A música está presente em todas as culturas, nas seitas religiosas, nos eventos históricos, seja para celebrar, louvar ou acompanhar cerimoniais, ela registra encontros e desencontros, torna presente o que está ausente e facilita o acesso a eventos passados.

O musicoterapeuta pesquisa a relação do homem com os sons para criar métodos terapêuticos que visem restabelecer o equilíbrio físico, psicológico e social do indivíduo. Para tanto, ele utiliza instrumentos musicais, canto e ruídos. Ante a aplicação terapêutica musical era realizada por um músico habilidoso e talentoso, este por sua vez deveria ser treinado e estar aberto ao entendimento das prescrições musicais realizadas pelos psiquiatras, e ao realizar seu trabalho deveria considerar o princípio básico de igualdade entre os tempos musicais e os tempos mentais.

O profissional que trabalha com a musicoterapia faz uma intervenção terapêutica não verbal, pois o objetivo formal de estudo é a forma como a paciente se comporta em meio aos sons, por meio de um levantamento de dados e entrevistas que são repassados pelos pais ou outros profissionais especializados, procura-se estabelecer um quadro da história sonora desse paciente, partindo disso busca-se desenvolver um processo terapêutico para cada caso, os autistas por apresentarem dificuldades de comunicação social ou comportamentos estereotipados, percebem o som de modo diferente, alguns possuem o sentido pouco aguçado e outros são hipersensíveis aos sons, o importante e estimular o direcionamento dessa percepção auditiva para uma funcionalidade melhor em suas habilidades sociais, sensibilizando por meio da música um trabalho interativo e comunicativo. Em abril de 1991, o então governador de São Paulo, Luiz Antônio Fleury Filho, decretou a data de 15 de setembro como o Dia do Musicoterapeuta, que logo foi estendida para o resto do país essa comemoração.

A música produz um meio de comunicação seja com o mundo ou consigo mesmo, ela mobiliza a expressão corporal, o contato visual, a fala, a respiração e entre outros benefícios que podem ajudar no tratamento de outras doenças, ela é a arte que o ser humano seja de qualquer condição tem acesso, pois a mesma está ao seu redor e produz várias reações. Para iniciar um processo de recuperação do cliente o profissional utiliza o som, a música e o movimento produzindo os efeitos terapêuticos ou a reabilitação que por meio da musicoterapia possibilitará pelas vivencias musicais o estimulo a autoconfiança e a criatividade auxiliando para uma saúde melhor do paciente.

Na musicoterapia a pessoa que for atendida não precisa saber cantar ou tocar algum instrumento, pois esta não tem como objetivo ensinar aula de música, mas permitir com que a pessoa partilhe sua experiência em sessões individuais ou de grupo cantando, tocando, acompanhando, improvisando e ouvindo música, isso significa um fator de crescimento para as pessoas em todos os níveis de idade ajudando no resgate da confiança, no desenvolvimento do potencial interior contribuindo para uma melhor qualidade de vida, a partir do reconhecimento dos seus ruídos, de uma escuta verdadeira de si, das desafinações internas e das desarmonias.

A música sendo talvez o mais agradável e conhecido recurso terapêutico, desde a antiguidade, como um dos mais eficientes pela capacidade de modificar, de envolver comportamentos e por causar um efeito relaxante. Porém sua aplicação como medicina envolve técnica e ciência apenas acessíveis a hábeis e perseverantes especialistas seus efeitos não é idêntico em duas ou mais pessoas, o que para uma pessoa uma boa música pode ser relaxante, para outra pode ser o inverso causando um efeito estimulante.

Ao longo dos tempos a humanidade foi evoluindo na forma de utilização dos sons como meio de comunicação, o homem primitivo acreditava que a natureza e os animais eram concebidos como espíritos divinos, por esta razão o homem criou rituais que dominassem essas forças, em algumas tribos o pajé ou feiticeiro utilizava ininterruptamente a música para a cura dos enfermos até que apresentasse melhoras, atualmente estas práticas ainda ocorre nas pajelanças dos índios brasileiros, o canto, a dança e a percussão nas práticas xamânicas, serve como estímulo para induzir ao êxtase.

3. Conclusão

Conclui-se por meio das informações coletas em livros, bibliografias eletrônicas e pela análise das pesquisa, que contribuíram para o desenvolvimento deste artigo, proporcionando uma reflexão sobre o espectro autista que se caracteriza pela dificuldade na comunicação, na socialização e em seus movimentos estereotipados. A musicoterapia como uma das alternativas que pode ser utilizada para produzir mudanças no comportamento, por meio da música, o autista exterioriza seus sentimentos e se torna mais comunicativo.

O ser humano em qualquer faixa etária está rodeado de sons e estes produzem sensações seja agradável ou desagradável, e a musicoterapia utiliza a música no tratamento do espectro autista como forma de intervenção, estimulando-o para uma melhor atenção, interação e comunicação, buscando a espontaneidade da pessoa em se expressar. Aquilo que não se conhece acha-se difícil, diferente e até assustador. Imagine a pessoa com espectro autista que não consegue lidar com suas próprias emoções e nem controlar seus movimentos, ao se colocar no lugar do outro, busca-se informações para compreender a necessidade que possa ter, fica mais fácil para ajudar. No ambiente escolar não é diferente, pois o docente tem um papel importante de buscar informações e repassa o que foi adquirido e até para uma melhor metodologia de aprendizagem. Ressalta-se aqui a contribuição que a musicoterapia, ou seja, a ação da música pode ocasionar para a escola, trabalhando-se em conjunto com as atividades educacionais beneficiando a todos, quer com ou sem deficiência.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BARCELLOS, Lia Rejane Mendes. Musicoterapia: alguns escritos. Rio de Janeiro: Enelivros, 2004.

FRIEDENREICH, C.A. A Educação Musical na Escola Waldorf.
Husemann, F., Wolff O. in: A Imagem do Homem como Base da Arte Médica, Antropologia Meditativa. Musicoterapeuta, Terapeuta Corporal, Educadora Musical Visão Ampliada pela Antroposofia. vol.II.

GASTON, Thayer. Tratado de Musicoterapia. Buenos Aires: Paidós, 1968.

GROUT, Donald J.; PALISCA, Claude V. História da Música Ocidental. Portugal: Gradiva, 2005.

Musicoterapia.Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Musicologia, Conservatório Brasileiro de Música, Rio de Janeiro, 1999.

NASCIMENTO, Sandra Rocha do. Programa ABRICOM – Abrindo os Canais de Comunicação no Autismo Infantil. Goiânia: Sociedade Pestalozzi de Goiânia, (projeto), 1999.

ORRÚ, Sílvia Ester. Autismo, linguagem e educação: interação social no cotidiano escolar. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2009.188p.:21cm

PADILHA, Marisa do Carmo Prim. A Musicoterapia no Tratamento de Crianças com Perturbação do Espectro do autismo.Dissertação de Mestrado em Medicina. 2008[http://www.fcsaude.ubi.pt/thesis/upload/118/763/marisapadilhadissert.pdf]. Acesso em 31 de agosto de 2014.

___________Música em musicoterapia: Estudos e reflexões na construção do corpo teórico da musicoterapia. Clara Márcia de Freitas Piazzeta. Revista do Núcleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Musicoterapia, Curitiba, 2010.

VIGOTSKY, L.S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1994.


¹Graduação em Pedagogia pela Universidade Federal de Roraima, Boa vista Roraima.
E-mail: raiolclaiderinosilvaraiol@gmail.com