THE INFLUENCE OF INDIGENOUS CULTURE ON FOOD IN THE AMAZON REGION
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni102024101751
Laiane dos Santos Medeiros1; Nayanna Almeida da Silva1; Francisca Marta Nascimento de Oliveira Freitas2; David Silva dos Reis3
RESUMO
Das práticas alimentares indígenas e a identificação de como conhecimentos tradicionais contribuem para a diversidade a influência da cultura indígena na alimentação da região amazônica revela a importância das tradições alimentares na configuração da identidade cultural local. O objetivo deste estudo foi analisar como a cultura local determina as escolhas alimentares, considerando fatores históricos, sociais e geográficos. Este estudo trata-se de uma pesquisa qualitativa com abordagem de revisão bibliográfica. O estudo destaca a riqueza biodiversa da Amazônia e a influência dos povos indígenas na alimentação regional, enfatizando a adaptação sustentável à flora e fauna locais. A pesquisa identifica principais alimentos como peixes de água doce e frutas tropicais, analisando como as festividades e tradições culturais impactam as preferências alimentares. Além disso, o estudo investiga como a globalização e as mudanças climáticas afetam as práticas alimentares e o acesso a recursos naturais essenciais. Os resultados esperados incluem uma maior valorização culinária local. O estudo também visa fornecer insights para políticas públicas que apoiem a preservação das tradições alimentares e a segurança alimentar das populações indígenas. Ao final, a pesquisa espera aumentar a consciência sobre a importância da cultura alimentar indígena e estimular a adoção de práticas mais sustentáveis e saudáveis.
Palavras-chave: Influência Da Cultura, Tradições Culturais, Culinária Indígenas.
ABSTRACT
The influence of indigenous culture on the food of the amazon region reveals the importance of food traditions in the configuration of local cultural identity. The main objective of the study is to analyze how local culture determines food choices, considering historical, social and geographical factors. The methodology adopted involves a qualitative approach, using ethnographic methods to explore traditional food practices. The study highlights the biodiverse richness of the amazon and the influence of indigenous peoples on the regional food, emphasizing sustainable adaptation to local flora and fauna. The research identifies main foods such as freshwater fish and tropical fruits, analyzing how cultural festivities and traditions impact food preferences. In addition, the study investigates how globalization and climate change affect dietary practices and access to essential natural resources. Expected results include a greater appreciation of indigenous food practices and the identification of how traditional knowledge contributes to local culinary diversity. The study also aims to provide insights for public policies that support the preservation of food traditions and food security of indigenous populations. In the end, the research hopes to raise awareness about the importance of indigenous food culture and encourage the adoption of more sustainable and.
Keyword: Influence Of Culture, Cultural Traditions, Indigenous Cuisine.
1 INTRODUÇÃO
A culinária amazônica é conhecida por sua singularidade, resultado das influências de diversas culturas, como indígenas, africanas, europeias e asiáticas. Essa riqueza cultural se reflete tanto nos ingredientes utilizados quanto nas técnicas de preparo que se desenvolveram ao longo dos séculos (Ferreira, 2016). Bourdieu (1983) contribui para essa análise ao considerar o gosto como um saber, ressaltando que a comida vai além da nutrição, carregando uma carga cultural que molda a vida das sociedades. Assim, a análise dos alimentos deve abarcar não apenas os hábitos alimentares em diferentes regiões geográficas, mas também os contextos sociológicos, históricos, econômicos e simbólicos relacionados à alimentação (Brandão, 1981).
A contribuição dos povos indígenas é fundamental para a compreensão da gastronomia amazônica, uma vez que, durante a colonização portuguesa, esses povos desempenharam um papel crucial na formação da culinária regional (Darcy Ribeiro, 1996). Essa diversidade cultural e gastronômica influencia diretamente as escolhas alimentares das pessoas, impactando sua saúde e bem-estar. De acordo com Mintz (1985), os alimentos que consumimos não são apenas produtos naturais ou industrializados, mas também símbolos culturais carregados de significado, refletindo nossa identidade, história e valores como sociedade.
A região amazônica, rica em biodiversidade, tem sido historicamente explorada e utilizada por comunidades indígenas locais, que desenvolveram um profundo conhecimento sobre sua flora e fauna ao longo de milênios. Esse conhecimento resultou em práticas alimentares sustentáveis e adaptadas ao ambiente, refletindo a intrínseca conexão entre a alimentação e a identidade cultural indígena (Cunningham, 2001). Além de garantir a sobrevivência, a cultura alimentar indígena está ligada aos rituais e tradições, influenciando a culinária regional através de técnicas de preparo, conservação dos alimentos e uso de plantas medicinais (Posey, 1985).
É crucial para a preservação e valorização das tradições culturais em um contexto globalizado, onde práticas locais enfrentam o risco de substituição por hábitos externos (Dove, 2006). O estudo dessas práticas alimentares tradicionais contribui para reconhecer o papel dos povos indígenas na construção da identidade cultural da Amazônia e na promoção de alternativas sustentáveis frente aos desafios ambientais e de saúde pública contemporâneos (Nabhan, 1997).
Esta pesquisa tem por objetivo avaliar a influência da cultura indígena na alimentação da região amazônica, identificar os principais alimentos consumidos na cultura Amazonense, investigar os fatores que influenciam as preferências alimentares da região e analisar o impacto de fatores externos, como globalização e mudanças climáticas, na escolha dos alimentos servidos na cultura Amazonense.
2 METODOLOGIA
2.1 Tipo de estudo
Este estudo adotou uma abordagem qualitativa através da revisão bibliográfica para investigar a influência da cultura indígena na alimentação da região amazônica. A pesquisa foi conduzida por meio de métodos etnográficos, que buscam compreender as práticas culturais a partir da perspectiva dos próprios atores sociais, explorando de maneira profunda o cotidiano, as tradições e significados atribuídos às práticas alimentares (Minayo, 2010; Geertz, 1989). Esses métodos permitiram uma compreensão detalhada das práticas alimentares tradicionais e suas conexões culturais com o território e a identidade local.
Para guiar este estudo, foi formulada a seguinte questão norteadora: Como a cultura indígena influencia os hábitos alimentares na Região Amazônica, considerando tanto os aspectos locais quanto fatores externos, como a globalização e as mudanças climáticas?
2.2 Coleta de dados
Os dados foram coletados a partir de artigos e livros que tratavam da cultura alimentar, alimentação na Amazônia e a influência da cultura indígena a alimentação local. Para isto, utilizou-se como descritores: “cultura alimentar indígena”, “culinária Indígena” e “transição na alimentação indígena”. Os critérios de inclusão estabelecidos foram: artigos e livros nos idiomas português e inglês que abordavam à temática e respondiam à questão norteadora, mostradas a partir de métodos etnográficos. Para os critérios de exclusão, definiu-se trabalhos que exemplificavam a cultura indígena, mas não mostravam os aspectos da alimentação, artigos em outros idiomas, carta aos editores, artigos incompletos e editoriais.
2.3 Análise de dados
Os dados qualitativos, incluindo notas de observação e documentos coletados, foram analisados utilizando técnicas de análise temática. Isso envolveu a identificação de padrões, temas recorrentes e variações nas percepções e práticas alimentares, permitindo uma compreensão aprofundada da influência da cultura na alimentação
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A cultura é um conceito amplo e multifacetado, essencial para compreender a identidade, valores, crenças e comportamentos de um grupo social. Clifford Geertz, um antropólogo influente, define cultura como “uma teia de significados tecida pelo homem” (Geertz, 1973). Essa definição ressalta como a cultura é essencialmente construída por seres humanos, moldando e sendo moldada por suas interações e suas interpretações do mundo ao seu redor.
Em cada sociedade, a cultura manifesta-se de várias formas, incluindo linguagem, arte, música, tradições e rituais. Edward B. Tylor, um dos fundadores da antropologia cultural, afirma que “a cultura ou civilização, tomada em seu sentido etnográfico amplo, é esse todo complexo que inclui conhecimento, crenças, arte, moral, leis, costumes e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade” (Tylor, 1871). Esta definição sublinha a abrangência do conceito de cultura, englobando praticamente todos os aspectos da vida humana em sociedade.
Além disso, a cultura é dinâmica, evoluindo com o tempo em resposta a mudanças internas e influências externas. Um exemplo disso é a globalização, que tem sido uma força poderosa na moldagem das culturas locais, às vezes integrando elementos globais de maneira que enriquecem as práticas locais, mas outras vezes ameaçando a sobrevivência de tradições culturais. Segundo a UNESCO, “a globalização oferece oportunidades sem precedentes para o diálogo intercultural, mas também apresenta desafios pela possibilidade de conflitos culturais” (Unesco, 2001). Essa perspectiva destaca o duplo efeito da globalização, funcionando tanto como ponte quanto como barreira entre as culturas.
No quadro 1, observa-se as características culturais.
Quadro 1. Diferentes tipos de cultura.
Referência | Tipo de cultura | Características |
Walter Benjamin, (séc. XX). | Cultura em massa | A cultura de massa é um objeto da indústria cultural. O conceito de cultura de massa diz respeito a uma cultura que não é autêntica. |
Meneses (1983). | Cultura material | Cultura Material é conjunto de normas e práticas sociais, pelas quais o homem se apropria do meio físico. Foram estabelecidas as finalidades especificas: apresentar um percurso metodológico, evidenciando suas etapas de desenvolvimento, que permita analisar um artefato com enfoque na Cultura Material e apresentar uma proposição didática com História e Matemática na perspectivada Cultura Material |
Bosi (2001, p. 326). | Cultura erudita | É aquela que se desenvolve, principalmente, nas classes mais altas e em outros segmentos “mais protegidos da classe média: ela cresce com o sistema escolar”. |
Lezo (2007). | Cultura imaterial | São entendidos como patrimônios imateriais: as tradições, expressões orais, artísticas, sociais, rituais e atos festivos, conhecimentos e práticas relacionados à natureza e ao Universo, técnicas artesanais tradicionais |
Chiavenato (2010). | Cultura Organizacional | Cultura Organizacional: Conjunto de hábitos e crenças, estabelecidos por normas, valores, atitudes e expectativas, compartilhadas por todos os membros da organização. |
Escobar (1995, p. 94). | Cultura Corporal | Se refere ao “amplo e riquíssimo campo da cultura que abrange a produção de práticas expressivo-comunicativas, essencialmente subjetivas que, como tal, internalizam-se pela expressão corporal”. |
Conforme verificado, são cruciais o reconhecimento e a valorização da diversidade cultural. A proteção das diferentes culturas e suas expressões é essencial para garantir a sobrevivência e a continuidade das identidades em um mundo cada vez mais homogeneizado. A Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural (2001) afirma que “a diversidade cultural é tão necessária para o gênero humano como a biodiversidade é para a natureza” (Unesco, 2001). Esse enunciado ressalta a importância de se ver a diversidade cultural como um patrimônio global que deve ser preservado e promovido para o bem de todas as sociedades.
A cultura amazônica é um fascinante e intricado mosaico de tradições, crenças e práticas que refletem a riqueza e a diversidade do ambiente e das populações que habitam a região. Como bem observou o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, “a Amazônia é uma zona de alta diversidade biológica e, consequentemente, de alta diversidade cultural” (Castro, 1996).
A relação entre as comunidades amazônicas e a natureza é central em sua cultura. Conforme destacado por Philippe Descola em sua obra “Além da Natureza e da Cultura, na Amazônia, a floresta e os rios são percebidos como entidades vivas, dotadas de espíritos e forças sobrenaturais. Essa visão cosmológica se manifesta em rituais, mitos e práticas de cura, onde a conexão íntima com o ambiente natural é celebrada e reverenciada. A pesca, a caça e a agricultura de subsistência são atividades essenciais que refletem essa conexão (Descola, 2005).
A diversidade étnica da Amazônia se expressa em uma variedade de formas culturais distintivas. Como afirmou Anna Tsing em “Friction: An Ethnography of Global Connection” (Tsing, 2005), as línguas indígenas, os rituais religiosos, as danças tradicionais e a culinária regional são elementos que enriquecem a identidade cultural da região. A música, por exemplo, desempenha um papel fundamental nas tradições amazônicas, com instrumentos como a marimba, o tambor e a flauta sento utilizados em festivais e cerimonias. Como evidenciado por Aparecida Vilaça em suas pesquisas sobre música indígena (Vilaça, 2009).
No entanto, a cultura amazônica também é marcada pela resistência e resiliência das comunidades locais frente às pressões externas. Como pontuou Manuela Carneiro da Cunha em “Cultura com aspas e outros ensaios”, a colonização, o desmatamento e a exploração econômica têm representado desafios significativos para a preservação das tradições e modos de vida amazônicos. Apesar das adversidades, as populações amazônicas têm demonstrado uma notável capacidade de adaptação, buscando formas de conciliar as mudanças sem perder sua identidade cultural única. Em suma, a cultura amazônica é um tesouro de diversidade e complexidade, enraizado na relação profunda entre o homem e a natureza e na rica tapeçaria de culturas que coexistem na região. Como destacaram tantos estudiosos ao longo dos anos, compreender e preservar essa riqueza cultural é essencial para garantir um futuro sustentável para a Amazônia e suas comunidades (Cunha, 2009). No quadro 2, observa-se as características dos tipos de expressões culturais.
Quadro 2. Diferentes tipos de expressão cultural.
Referência | Tipos de expressão cultural | Características |
Mindlin (1999) | Arte e artesanato | A arte amazônica abrange a pintura corporal indígena e a produção de artesanatos tradicionais, como cestarias, cerâmicas e esculturas em madeira. Esses produtos expressam a identidade cultural das comunidades e seu vínculo com o ambiente natural. |
Lévi-Straus (1955) | Mitologia e Cosmologia | A mitologia amazônica narra as origens do mundo e explica fenômenos naturais. As histórias estabelecem orientações éticas e morais, refletindo a relação íntima entre humanos, animais, plantas e a natureza. |
Atala(2013) | Culinária Regional | A culinária amazônica é marcada pela fusão de ingredientes locais com influências indígenas, africanas e europeias. Pratos como tacacá, pirarucu e açaí simbolizam a diversidade e riqueza gastronômica da região. |
Hatoum (2000) | Literatura e Oralidade | A tradição oral na Amazônia transmite histórias e lendas entre gerações. A literatura contemporânea aborda temas como identidade, colonização e preservação ambiental, valorizando a diversidade cultural da região. |
Os povos, enquanto entidades sociais, são grupos de indivíduos que compartilham características culturais, históricas, linguísticas ou territoriais em comum. Essas comunidades podem variar em tamanho e organização, desde pequenas tribos até nações inteiras. Como observou o antropólogo Franz Boas, “os povos são como nações, mas com uma ênfase mais forte na unidade cultural”. Essa definição destaca como os povos são caracterizados não apenas por sua localização geográfica, mas também por sua identidade cultural compartilhada (Boas, 1940).
Os povos desenvolvem uma variedade de instituições sociais, práticas culturais e formas de organização que refletem suas necessidades, valores e crenças. Por exemplo, as estruturas familiares, sistemas de governo, modos de subsistência e sistemas de crenças religiosas podem diferir significativamente entre diferentes povos. Como ressalta a antropóloga Ruth Benedict, “cada cultura tem seu próprio conceito de personalidade, e nela uma interpretação da natureza humana é moldada”. Essa citação destaca como as visões de mundo e valores de um povo influenciam sua compreensão da natureza humana e da sociedade (Benedict, 1934).
Os povos também compartilham uma relação complexa com seu ambiente natural, desenvolvendo práticas de subsistência, técnicas de agricultura, métodos de caça e pesca, e sistemas de conhecimento sobre plantas e animais. Essa relação com a natureza muitas vezes é central para a identidade e a sobrevivência de um povo. Como salientou o líder indígena Chief Seattle, “o homem não teceu a teia da vida, ele é apenas um fio dela. O que ele faz à teia, ele faz a si mesmo”. Essa observação destaca a interconexão entre os povos e o mundo natural ao seu redor, enfatizando a importância de uma relação harmoniosa com o ambiente (Seattle, 1854).
Em um contexto globalizado, os povos enfrentam desafios significativos, incluindo a preservação de suas línguas, culturas e territórios diante das pressões da homogeneização cultural e do desenvolvimento econômico. No entanto, muitos povos também se engajam em esforços de resistência e revitalização cultural, buscando preservar e fortalecer suas identidades únicas em um mundo em rápida mudança. Como disse o líder Maori, Tame Iti, “nossa cultura é nossa resistência”. Essa declaração reflete o papel vital que a cultura desempenha na preservação da identidade e da autonomia dos povos em face de desafios externos (Iti, 2005).
Além das características culturais, os povos frequentemente compartilham uma história comum, transmitida oralmente de geração em geração. Essas narrativas tradicionais não apenas preservam a memória coletiva de um povo, mas também fornecem um senso de identidade e coesão social. Como afirmou o antropólogo Clifford Geertz, “as histórias que contamos sobre nós mesmos são tão importantes quanto os fatos objetivos de nossa existência”. Essa compreensão destaca como as narrativas históricas moldam a autoimagem e a compreensão do mundo por parte de um povo (Geertz, 1973).
Os povos também são caracterizados por uma diversidade de expressões culturais, incluindo arte, música, dança, culinária e rituais religiosos. Essas formas de expressão não apenas refletem a criatividade e a sensibilidade estética de um povo, mas também desempenham um papel crucial na coesão social e na transmissão de valores culturais. Como disse a antropóloga Margaret Mead, “a arte é a maneira como uma cultura se comunica consigo mesma e com o mundo”. Essa perspectiva destaca o papel fundamental da arte na expressão e na preservação da identidade cultural de um povo (Mead, 1936).
Além disso, os povos frequentemente desenvolvem sistemas de conhecimento tradicional que incorporam uma compreensão profunda do mundo natural, incluindo medicina herbal, técnicas agrícolas sustentáveis e métodos de conservação ambiental. Esses conhecimentos são transmitidos oralmente de geração em geração e são fundamentais para a sobrevivência e o bem-estar de um povo. Como disse o líder indígena americano, Luther Standing Bear, “o conhecimento que você precisa é todo ao seu redor”. Essa observação destaca como os povos valorizam e preservam seu conhecimento ancestral como uma fonte de sabedoria e orientação (Standing Bear, 1933).
É importante reconhecer a diversidade dentro dos povos, que podem abrigar uma variedade de grupos étnicos, subculturas e identidades individuais. Essa diversidade enriquece a tapeçaria cultural de um povo e reflete a complexidade da experiência humana. Como observou a antropóloga Ruth Benedict, “a diversidade é o que torna a humanidade tão fascinante”. Essa afirmação ressalta a importância de valorizar e celebrar a multiplicidade de experiências e perspectivas dentro de cada povo (Benedict, 1934).
Os povos indígenas são os habitantes originais das terras agora ocupadas por países modernos ao redor do mundo, desde as Américas até a Austrália, passando pela Ásia e a África. Eles possuem uma profunda conexão com suas terras e a natureza, algo que é central para suas tradições culturais, espirituais e a própria identidade. Eduardo Viveiros de Castro, um antropólogo brasileiro, destaca que “os povos indígenas se veem a si próprios como parte de um ecossistema que inclui não apenas o ambiente natural, mas também o sobrenatural. Essa perspectiva distinta molda não apenas como interagem com o meio ambiente, mas também como organizam suas sociedades e concebem o mundo (Viveiros de Castro, 1996).
Historicamente, os povos indígenas enfrentaram e continuam a enfrentar inúmeros desafios, incluindo a desapropriação de terras, a assimilação forçada e a marginalização política e econômica. No contexto brasileiro, a história de resistência dos povos indígenas é marcada por uma luta contínua pela preservação de suas terras e culturas. Como Lúcia Helena Rangel, antropóloga brasileira, salienta: “Os povos indígenas no Brasil lutam não apenas pela terra, mas pelo direito de continuar sendo quem são, em face de uma sociedade que constantemente tenta negar sua existência e seus direitos”. Essa resistência é um traço comum entre muitos povos indígenas ao redor do mundo (Rangel, 2002).
Em suma, os povos indígenas, apesar das adversidades enfrentadas ao longo de séculos, continuam a lutar por reconhecimento, respeito e a preservação de suas culturas e terras. A compreensão e apoio a essas lutas é essencial para a construção de um mundo mais justo e sustentável, onde a diversidade cultural e ambiental é não apenas reconhecida, mas celebrada. Os povos indígenas representam uma parte essencial da diversidade cultural e étnica do mundo, mantendo tradições ancestrais e conhecimentos milenares que contribuem para a riqueza da humanidade. Esses povos são detentores de uma relação única e profunda com a natureza, baseada no respeito e na harmonia com o ambiente que os cerca (Basso,1996).
Ao longo da história, os povos indígenas têm enfrentado desafios significativos, incluindo a colonização, a exploração de seus territórios e recursos, e a perda de suas terras e identidades culturais. Os povos indígenas têm demonstrado uma incrível resiliência e capacidade de resistência, lutando para manter vivas suas tradições, línguas e modos de vida (Viveiros de Castro,2002).
Segundo Hindou Oumarou (2019), os povos indígenas são a solução para a adversidade climática. Eles protegem as florestas, e preservam 80% da biodiversidade restante. “Uma etnia é um conjunto de indivíduos que, histórica ou mitologicamente, têm um ancestral comum; têm uma língua em comum, uma mesma religião ou cosmovisão; uma mesma cultura e moram geograficamente num mesmo território” (Kabengele Munanga,2004).
“Pelas características culturais a língua, religião, costumes, tradição, sentimento de ‘lugar’ que são partilhadas por um povo”, o fato de projetarmos a “nós próprios” nas identidades culturais, enquanto internalizamos seus significados e valores, tornando a “parte de nós”, contribui para vincular nossos sentimentos subjetivos aos lugares objetivos que ocupamos no mundo social e cultural. Entende que identidade costura o sujeito à estrutura (Stuart Hall,1997. P.67).
Interconexão entre grupo étnico e cultura é algo sujeito a tantas confusões que melhor seria tomá-los separadamente para fins analíticos e de conformidade com a natureza dos problemas formulados para a investigação” (Barth, 1969. P.12).
Os processos culturais são conflitivos e, em cada etnia, há uma história de luta pela determinação de suas metas e valores). O pertencimento étnico em processo, concorre na constituição de sujeitos e de grupos. É um elemento constituinte de práticas sociais e, ao mesmo tempo, as práticas sociais vão constituindo a reconfiguração étnica (Betancourt, 1997. p.9).
“Se o mesmo grupo de pessoas com os mesmos valores e ideais, se defrontasse com as diferentes oportunidades oferecidas em diferentes meios, seguiria também diferentes padrões de vida e institucionalizaria diferentes formas de comportamento. Da mesma forma, devemos esperar que um grupo étnico espalhado num território de circunstâncias ecológicas variáveis apresente diversidades regionais de comportamento institucionalizado explícito, diversidades estas que não refletem diferenças na orientação cultural. Como deverão eles, então, ser classificados, se formas institucionais explícitas forem diagnosticadas” (Barth, 1969. P.12).
A alimentação é um processo essencial para todo ser vivo, pois garante ao organismo os nutrientes necessários para suas funções vitais. Além de fornecer energia, uma alimentação equilibrada contribui para a prevenção de doenças crônicas não transmissíveis, auxilia na manutenção e recuperação do corpo e protege contra a desnutrição (PHILIPPI et al., 2019).
Além de ser uma necessidade básica, a alimentação também é uma fonte de prazer, socialização e transmissão cultural. A escolha dos alimentos reflete não apenas as preferências individuais, mas também a disponibilidade e o aprendizado acumulado ao longo da vida, influenciando a organização das refeições ao longo do dia (PATACO, 2013).
O comportamento alimentar, por sua vez, é influenciado por uma série de fatores, como aspectos nutricionais, demográficos, econômicos, sociais, culturais, ambientais e psicológicos, que moldam tanto o comportamento de indivíduos quanto de sociedades (MARCHIORI, 2019).
Para ter uma boa alimentação alguns pontos bem importantes, assim como: Beber pelo menos dois litros de água diariamente, não pular refeições; evitar alimentos com muita gordura, comer verduras, legumes e frutas, alimentar-se de alimentos in natura ou minimamente processados; reduzir a quantidade de sal nos alimentos (Toral; Slater, 2007).
4 CONCLUSÃO
As práticas alimentares indígenas da Amazônia representam uma fonte rica de conhecimento tradicional que não só contribui para a diversidade cultural da região, mas também influencia diretamente a alimentação amazônica. Os povos indígenas, com sua profunda conexão com o ambiente natural, desenvolveram formas sustentáveis de utilizar os recursos da floresta e dos rios, como o consumo de peixes de água doce, frutas tropicais e plantas medicinais, moldando a culinária regional. Ao explorar como esses povos utilizam os recursos naturais de maneira equilibrada, este estudo reforça a importância de preservar essas tradições como parte fundamental da identidade local. Ademais, a valorização das práticas alimentares indígenas pode informar políticas públicas voltadas para a segurança alimentar, o manejo sustentável dos recursos e a promoção de dietas mais saudáveis, respeitando e integrando saberes ancestrais.
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1Graduanda do Curso de Bacharelado em Nutrição do Centro Universitário FAMETRO. E-mail: laiane9194@gmal.com, nayanna0@gmail.com
2Doutora em Biotecnologia pela Universidade Federal do Amazonas. Docente do Curso de Bacharelado em Nutrição do Centro, Orientadora do TCC, Universitário FAMETRO. E-mail: francisca.freitas@fametro.edu.br
3Co-orientador do TCC, Mestre em Saúde coletiva pela universidade Católica dos Santos. Docente do Curso de Bacharelado em Nutrição do Centro Universitário FAMETRO. E-mail: david.reis@fametro.edu.br