REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10473574
Alanny Cristina Ferreira Lima
Kellyanny Gomes
RESUMO
O presente artigo propõe apresentar a história e os conceitos da arquitetura High-Tech de 1970, na qual visa explorar novas ideias, distintas das concepções modernistas. Abordando métodos construtivos recentes, como os pré-fabricados e, aderindo a uma temática extraída de máquinas, na qual posiciona os seus elementos interiores na fachada, como tem na obra pioneira do movimento, o Centro Georges Pompidou, e também no edifício HongKong and Shangai Bank projetado pelo arquiteto Norman Foster, essas obras inspiraram a concepção do projeto da maquete, que segue as concepções do estilo High-Tech.
Palavras-chaves: Arquitetura contemporânea; High-tech.
ABSTRACT
The present article proposes to present the history and the concepts of the High-Tech architecture of 1970, in which it aims to explore new ideas, different from the modernist conceptions. By approaching recent constructive methods, such as the prefabricated ones, and adhering to a thematic extracted of machines, in which it positions its interior elements in the facade, as it has in the pioneer work of the movement, Center Georges Pompidou, and also in the building HongKong and Shanghai Bank designed by the architect Norman Foster, these works inspired the conception of the design of the model, which follows the conceptions of the High-Tech style.
Keywords: Contemporary architecture; High-tech.
1. INTRODUÇÃO
O movimento arquitetônico High-Tech, é um conceito que celebra a estética industrial, a exibição da construção e dos serviços estruturais de um edifício. Surgiu na década de 70 e teve grande importância na Inglaterra, Estados Unidos e França pelo uso de sua alta tecnologia.
Popularmente conhecida como Modernismo Tardio, emergiu depois da II Guerra Mundial e, nessa fase, o mundo já havia se restaurado economicamente. Assim como o progresso tecnológico da indústria, comunicação e viagens espaciais estava acontecendo, o primeiro astronauta a pisar na lua Neil Armstrong disse “este é um pequeno passo para um homem, mas um enorme salto para humanidade”, essas mudanças encorajaram o grupo de arquitetos que se titula por High Tech, no qual queriam refletir esse progresso da época em seus projetos, se inspiraram nas fantasias do grupo Archigram¹, introduzindo suas ideias de escadas e esteiras rolantes em seus projetos, pois seria algo muito benéfico para um mundo tecnologicamente auto suficiente, sem contar que o seu sistema estrutural era posto para fora do edifício, assim como acontece no gótico, para abranger grandes vãos livres. Norman Foster expressa evidentemente essa estrutura à mostra em seus edifícios sofisticados feitos no pós-guerra do Japão; outra obra que exerceu influência no movimento HighTech foi o edifício Crystal Palace, projetado pelo arquiteto Joseph Paxton e construído em Londres, em 1851, que se caracterizava como uma enorme construção em ferro fundido e vidro, marcado pelo ecletismo dos seus pavilhões.
A arquitetura de alta tecnologia ou expressionismo estrutural, foi destinada a alcançar uma nova estética, através de materiais que estavam se manifestando juntamente com o avanço tecnológico. Os pré-fabricados para uma construção em larga escala, contribuíram para criar um método construtivo, inovador e padronizado, que causasse impacto visual por meio de inspirações contidas em maquinários: era exposto a estrutura na fachada dos edifícios, revelando componentes do seu interior, tal como os seus sistemas de circulação e as instalações, uma arquitetura bem diferente da tradicional.
Dentro dessa tendência é relevante destacar a obra inicial, o Centro George Pompidou, construído em Paris entre os anos de 1971 e 1986, feito pelos arquitetos Renzo Piano e Richard Rogers que junto com Norman Foster, criador do emblemático Hongkong and Shangai Banking, são um dos principais profissionais do estilo arquitetônico High Tech.
Portanto, este artigo tem como objetivo descrever a influência do movimento High Tech nos anos 1970-1980, sua ligação e diferença com a arquitetura moderna, descrevendo seu estilo arquitetônico de modo a enaltecer seu funcionalismo. Para isso, será feita uma análise de duas grandes obras da época: o Centro George Pompidou e o Hong Kong and Shangai Banking, a fim de explorar as criações construtivas dessa arquitetura e, da mesma forma, justificar a maquete inspirada neste tema.
2. TARDO-MODERNISMO
A arquitetura High-Tech foi classificada também como Modernismo Tardio, pelo fato de ter se manifestado na cronologia de 1970. Anteriormente, em 1950, o mestre Le Corbusier transformou a arquitetura Moderna em Tardo-modernismo, então foi como se essa categoria servisse de ponte entre o modernismo e o pós-modernismo. Esse estilo esgotou as possibilidades de inovação, tornou o cenário das cidades monótonas e não continha variedade visual para despertar o ciclo social.
A arquitetura de alta tecnologia estava vinculada a essa época, então seguiu as formas do modernismo (linhas retas, quadrados e retângulos) e manteve seus conceitos, só que adaptados criando uma nova estética estrutural e funcional que expressasse a tecnologia industrial moderna em seu entorno, propostas que até então não vinham sendo praticadas e, de certa forma, ela foi uma resposta ao desapontamento da arquitetura moderna.
3. ARQUITETURA INTESTINAL
3.1 ESTILO ARQUITETÔNICO DOS EDIFÍCIOS HIGH TECH
Ao contrário das pessoas, que têm os sistemas circulatório, respiratório e digestivo no seu interior, as obras do High-Tech expressam suas estruturas de maneira externa e são caracterizadas pela temática industrial, usando materiais com ênfase no aço, vidro, alumínio e ferro para proporcionar a sensação de máquina ao edifício. O uso de estrutura portante, tubulações e sistemas técnicos (elétricos, hidráulicos, de climatização) são inteiramente notados do lado de fora, o que enaltece essa sensação.
Um estilo que não é puramente estético, é funcional também, pois toda a sua estrutura exposta e integrada nos edifícios suporta suas cargas e mantém os sistemas elétricos funcionando normalmente, conta-se ainda com a facilidade de fazer a manutenção externamente. Além disso, têm-se a planta livre, sustentada por uma estrutura de aço à mostra, o que cria grandes vãos em vez de sequência de salas.
A maioria dos edifícios consiste em ter a fachada e as vedações com painéis de vidro, acabamentos metálicos, forma ordenada, aparência tecnológica, suporte do prédio como um exoesqueleto, escadas e esteiras rolantes, tudo visível na fachada, agregando um certo valor à obra. As criações desse estilo devem ser semelhantes a um produto industrial, do jeito de um automóvel ou eletrodoméstico.
Vale ressaltar que o método construtivo não é a solução mais econômica, mas é preferível o uso de aço e metais, para simplesmente entrar em sintonia com o espírito da época. Um prédio High-Tech pode ser facilmente identificado se estiver dentro da cronologia dos anos 70 a 80, incluindo todas essas características citadas.
3.2 CENTRO GEORGES POMPIDOU
É um projeto dos arquitetos Richard Rogers e Renzo Piano, e foi o escolhido em um concurso realizado em 1970, pelo governo da França, que tinha como júri o brasileiro Oscar Niemeyer. Eles foram encarregados de revitalizar a área, que atualmente é o Centro Georges Pompidou. Essa obra foi denotada como um marco inicial do pós-modernismo.
O prédio está situado bem no centro da cidade de Paris, na praça Beauborg, construído em 1977, foi o primeiro edifício construído da arquitetura High-Tech e da contemporânea. Tem como propósito ser um centro cultural, no qual abriga um museu de arte moderna, uma biblioteca, teatro, um centro de design industrial, um centro de investigações (IRCAM) entre outros meios de interação social coletiva. É admirado por possuir uma das maiores coleções de arte moderna e contemporânea do mundo, e possui obras de arte que vão de Pablo Picasso a Olafur Eliasson, sem contar com suas excelentes exposições temporárias as quais atraem muitos visitantes que buscam por entretenimento.
Figura 01-FACHADA DO CENTRO GEORGES POMPIDOU.
Fonte: LA PAROLA (2012).
A concepção de sua topologia é inspirada na arquitetura industrial, tanto que o Pompidou se parece com uma “fábrica de cultura”, na qual apresenta seus elementos estruturais de aço e tubulação aparente na fachada, tal como sua escada rolante também que dá acesso a todos os níveis. O edifício apresenta toda uma lógica referente às cores usadas em suas tubulações: a cor azul é para o ar condicionado; amarelo a eletricidade; o vermelho é para segurança e fluxo (elevadores e escadas) e o verde para fluidos. Isso permite ao visitante conhecer a função de cada elemento e ainda faz com que o prédio se destaque do cenário de cores neutras do panorama de Paris. Possui um formato retangular de 42m de altura e 60m de largura e 3 andares com um pé direito de 7m, com uma gigantesca estrutura de aço e vidro envolta em todas as amarrações de metal da edificação, contam para seu suporte estrutural.
Não é por acaso que toda a sua estrutura é exposta do lado de fora, os criadores do Centro Georges Pompidou tinham como conceito base pra toda a criação, o comprometimento com a flexibilidade do ambiente, o que os levaram a eliminar as paredes internas nos pavimentos. Todos esses motivos foram pensados para seguir essa linha de raciocínio de criar vãos livres enormes e flexíveis capazes de possuir maior interação com o meio.
3.3 HONGKONG AND SHANGAI BANK
Após passar por várias alterações e as respectivas três demolições dos edifícios, o renomado arquiteto Norman Foster juntamente com os engenheiros civis e estruturais Ove Arup e Partnes, projetam a atual sede do The HongKong and Shangai Banking Corporation, situado no lado sul da Praça da Estátua em Hong Kong, planejada durante 6 anos e concluído em 18 de novembro de 1985 foi a obra de valor mais exorbitante do momento, pois necessitava de uma alta demanda de pré fabricados. O edifício marcou uma nova fase de aperfeiçoamento das estruturas metálicas e preocupou-se em incluir a participação das filosofias locais do feng shui no desenvolvimento do projeto.
Este prédio possui 180 metros de altura e 47 andares, além de 4 níveis no subsolo, o pavimento do térreo é acessível para a população, dentro do edifício possui um vazio central que liga os pisos e sua circulação é correlacionada com elevadores que vão até o quinto andar e depois são direcionadas aos demais andares por meio de escadas rolantes em forma de zigue-zague o que torna o circuito do trajeto bem interessante e sociável.
Figura 02– Fachada do Hongkog Bank.
Fonte: GETTY IMAGENS (2003)
Um dos principais atributos da sede do HSBC é a estrutura de suporte externa na fachada que é concebida por oito pilares de concreto sendo quatro colunas revestidas de alumínio posicionadas desde a fundação até a estrutura do núcleo travadas a um sistema de segmentos de treliças suspensas. Foram aplicadas 30 mil toneladas de aço e 4.500 toneladas de outros metais na elaboração do edifício.
É justo esta obra ser referência de uma arquitetura sustentável, já que o projeto de Norman Foster incluiu o uso de luz natural dentro do edifício, através do uso de espelhos no topo do átrio planejado para se deslocar em direção ao sol durante o dia, além disso as janelas possuem sombreamento solar, para diminuir o calor. E sem contar que ele substituiu o seu sistema de refrigeração dos ambientes (ar condicionado), para uma técnica com água do mar. Como resultado, posteriormente este projeto auxiliou outras reformas sobre projetos de escritórios.
4. MEMORIAL JUSTIFICATIVO DA MAQUETE
O projeto foi pensado para ser um centro de pesquisa de energia renovável, no qual apresenta inspirações nas ideologias da arquitetura High-Tech, dos anos de 1970. Para representar esse estilo, foi pensado em fazer o uso da estrutura de suporte do prédio na área externa, como os pilares e as treliças suspensas, nas quais apresenta um design semelhante às estruturas dos edifícios: Centro Georges Pompidou e o Hongkong and Shangai Bank, que já foram exemplificados anteriormente.
No desenvolvimento da criação do projeto, foi concebido a ideia de usar seu sistema de tubulações, do lado de fora, está até em evidência na fachada da lateral esquerda, além de ter sido distribuído a parte elétrica em seu entorno, na qual está representada na maquete, por canudos da cor amarela, essa é uma grande ideia, extraída da construção do Centro Pompidou para tornar o espaço interno mais amplo.
Seguindo os padrões construtivos do estilo High-Tech, introduzimos um aspecto no prédio que transparece a noção de escada, de um modo que em cada pavimento fosse representado um formato de um “degrau” com suas respectivas personalizações diferentes. O sistema de circulação desse movimento é bem destacável por apresentar esteiras rolantes, então enaltecemos essa ideia, posicionando uma esteira na entrada principal do edifício. Por toda a revolução que estava acontecendo nessa época e pela chegada de novos materiais, inserimos placas fotovoltaicas no último andar e na fachada posterior, a fim de absorver energia solar e redistribuir ao centro de pesquisa de energias renováveis.
Materiais utilizados na maquete para simbolizar a construção real, foram: papel laminado para representar o aço, estilo ao que têm na fachada da obra Lloyds Bank de Richard Rogers; os canos e canudos para retratar as tubulações, a grade de arame seria para demonstrar um sistema de treliças juntamente com o pvc expandido e o fuan revestido com papel supremo para o restante do sistema de suporte do prédio (pilares, vigas e etc..); o acetado foi utilizado para simbolizar as placas fotovoltaicas; foi reutilizado da embalagem de plantas, a sua estrutura base que as mantinha como apoio, no propósito de ser a cobertura da esteira que está na entrada do edifício; as luzes do último andar foi feito para demonstrar que ali funciona todo o mecanismo de geração de energia solar para o restante do centro de pesquisa.
FIGURAS 03- Fachadas da maquete.
Fonte: Anexo pessoal (2018).
5. CONCLUSÃO
Neste trabalho foi abordado a significância da arquitetura High-Tech perante a época de 1970 e todo o seu funcionalismo. Foi um movimento capaz de causar grande impacto visual, por ter ousado expor o seu interior na fachada, principalmente seus suportes e tubulações. Notoriamente esse partido arquitetônico demonstra funcionalidade para quem busca atingir grandes vãos, áreas flexíveis, executar manutenções externas, e para quem opta por ressaltar a interação com o meio através de um bom fluxograma.
A arquitetura expressionista estrutural, explorava as novas tecnologias, se inspirou na temática de industrial, fez uso de novos materiais, expôs seus elementos estruturais, permitiu introduzir formas antigas (retângulos), junto com novas ideias que estavam surgindo (escadas rolantes), criando um movimento altamente elegante.
A partir da análise das obras da arquitetura High-Tech e de ter ressaltado sua importância, pode-se perceber o quão vasto é fundamental é as estruturas de um edifício, elas são o segredo de todo o monumento arquitetônico, então, foi-se necessário valorizar esses princípios na época, a fim de admirar a chegada desses elementos pré-fabricados em larga escala.
1Um grupo de arquitetos que criaram projetos hipotéticos como cidades nômades e habitações móveis.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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