REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7398581
Valéria Gomes de Sá
Alessandra Guimarães Gomes Picanço
RESUMO: O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é considerado um dos transtornos do neurodesenvolvimento que mais acontece na infância. Deste modo os resultados de uma avaliação neuropsicológica servem de subsídios para o delineamento de estratégia de intervenção, como a reabilitação neuropsicológica, e tem por finalidade ainda, trabalhar com aspectos cognitivos, comportamentais e emocionais associados ao TEA. O objetivo deste estudo é descrever sobre as contribuições da avaliação neuropsicológica na inclusão escolar do aluno autista. Assim sendo, a proposta aqui é um convite para um passeio reflexivo visando compreender a avaliação neuropsicológica enquanto ferramenta para a inclusão escolar do aluno com autismo. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica descritiva qualitativa do tipo exploratória. A coleta de dados será por meio de buscas em literaturas dispostas nas bases de dados veiculados pela Internet, como Bibliotecas e Periódicos da CAPES, Revistas Virtuais da SciELO e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), também em base de dados indexadas – de Psicologia além de acervo próprio. Os Descritores em Ciências da Saúde (DECS) a serem empregados são: Neuropsicologia; Psicologia; Autismo. Assim, o estudo visa contribuir com informações que auxilie no entendimento de como se dá a inclusão da criança autista na escola e as contribuições da avaliação neuropsicológica neste processo inclusivo. Esta pesquisa servirá como aporte teórico para profissionais da Psicologia que exercerem suas funções junto a esta população, para que sejam capazes de instituir estratégias que melhor atendam às necessidades da criança que necessita ser incluída de forma comprometida na escola. Portanto, ampliar informações e conhecimentos sobre a temática levantada merece lugar de destaque e maiores explanações científicas enquanto forma de apoio para a sociedade em geral.
Palavras–chave: Psicologia. Avaliação Neuropsicológica. Autismo. Inclusão
1. INTRODUÇÃO
O TEA – Transtorno do Espectro Autista é considerado um dos transtornos do neurodesenvolvimento mais aparece na infância. O diagnóstico do autismo passou a englobar o transtorno autista (autismo), a síndrome de Asperger, o transtorno desintegrativo da infância e o transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação, que apareciam como subtipos do transtorno global do desenvolvimento a partir da 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) em 2013.
Com base no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) existem critérios diagnósticos a serem observados para que seja possível estabelecer o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista a um indivíduo. Os critérios são: Déficits persistentes na comunicação e padrões restritos e repetitivos de comportamento que devem estar presentes desde a infância, limitando ou prejudicando o funcionamento diário. O autismo pode ser ainda classificado em níveis que variam de 1 a 3 (MANUAL DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICO DE TRANSTORNOS MENTAIS – DSM-V, 2014).
No Brasil, estima-se uma prevalência de 2 milhões de indivíduos com TEA, quando considerada a prevalência global de 1% – conforme descrito no DSM-5. Embora exista a escassez de dados epidemiológicos sobre TEA em nosso país, o Censo Escolar da Educação Básica (2019) do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), aponta um acréscimo de 37% entre os anos 2017 e 2018 na matrícula de alunos com TEA em classes comuns (BRASIL, 2021).
A neuropsicologia entende que o processo de aprendizagem engloba não só a compreensão do que é esperado em relação ao desenvolvimento neurobiológico, dos domínios cognitivos subjacentes à aprendizagem, mas também como o ambiente participa deste processo.
Também admite que existem processos de aprendizagem comuns e aplicáveis à maioria dos alunos, mas que é também necessário entender sobre diferenças individuais para que o ensino seja bem adaptado.
Desta maneira o objetivo deste estudo é descrever sobre as contribuições da avaliação neuropsicológica na inclusão escolar do aluno autista. Assim sendo, a proposta aqui é um convite para um passeio reflexivo visando compreender a avaliação neuropsicológica enquanto ferramenta para a inclusão escolar do aluno com autismo. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica descritiva qualitativa do tipo exploratória. A coleta de dados será por meio de buscas em literaturas dispostas nas bases de dados veiculados pela Internet, como Bibliotecas e Periódicos da CAPES, Revistas Virtuais da SciELO e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), também em base de dados indexadas – de Psicologia além de acervo próprio.
Desta maneira chega-se ao ponto central que será abordado no escopo deste artigo. Diante de características do autismo e das especificidades da neuropsicologia, questiona-se: De que forma a avaliação neuropsicológica contribui na inclusão escolar do aluno autista?
Assim, a avaliação neuropsicológica utiliza modelos funcionais para identificar a especificidade e a singularidade de cada indivíduo. Para crianças com autismo, a inclusão escolar é um processo que pode ser de médio e longo prazo. Em um sentido específico, pode garantir que crianças com desenvolvimento neuro atípico participem regularmente das atividades escolares.
No primeiro tópico, será feita uma análise acerca do autismo na história, como surgiu os primeiros casos, as características observadas pelos especialistas da época e os avanços nos estudos sobre o assunto.
No segundo tópico, apresentar-se-á sobre a avaliação neuropsicológica, quando a mesma é necessária, sua importância e contribuição para a inclusão escolar de crianças com transtorno de espectro autista (TEA).
Por fim, observar-se-á a abordagem sobre as bases legais da inclusão de crianças com transtorno de espectro autista, pontos positivos e negativos referentes ao assunto em questão.
2. O AUTISMO NA HISTÓRIA
Para Oliveira (2016) a pessoa diagnosticada autista era conhecida como esquizofrênica e que viviam acometidas ao isolamento social, porém somente em 1911 que o psiquiatra austríaco Eugen Brauwler iniciou estudos na área sobre o assunto. Ele é o primeiro a utilizar a palavra “Autismo”, que deriva do grego “Autos”, que quer dizer: “Voltar-se para si mesmo”.
Segundo Eugen Brauwler a palavra “autismo” surgiu devido às observações com pessoas consideradas esquizofrênicas. Mais tarde foram surgindo novas pesquisas com crianças que desde o início de suas vidas de suas primeiras experiências em contatos com as outras pessoas já apresentavam isolamento extremo, ou seja, já demonstravam portanto, traços diferenciados de outras crianças, pois não gostavam de mudanças na sua rotina, repetiam as falas das pessoas, tinham preferências por objetos inanimados ao invés das pessoas, entre outras características.
Ainda segundo Oliveira (2016) ano após ano, o então conhecido autismo deixou de ser considerado como forma esquizofrênica e passou a ter reconhecimento diferenciado.
Oliveira (2016) explica ainda que a partir dos avanços da área médica e da saúde mental, surgem os manuais CID 10 e DSM III que mais tarde passou a ser DSM IV (e em 2013, o DSM V). Esses manuais tiveram como intuito servir como guias médicos para melhor “definição e alinhamento do autismo” (SILVA et al, 2012, p. 114).
Até hoje se sabe que o TEA “não se restringe a raça, cor ou grupo social e não tem ainda uma explicação científica para seu surgimento”, apenas se sabe através de pesquisas que em cada dez mil nascidos, 20 crianças possuem TEA em algum nível de comprometimento e que esses números vêm crescendo nos últimos anos (ORRÚ, 2012, p.23).
3. AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA, QUANDO É NECESSÁRIA, IMPORTÂNCIA E CONTRIBUIÇÕES NA INCLUSÃO ESCOLAR DE CRIANÇAS COM TRANSTORNO DE ESPECTRO AUTISTA (TEA)
A avaliação neuropsicológica é um exame que tem o objetivo de investigar como o funcionamento do cérebro influencia as funções cognitivas, emocionais e comportamentais de uma pessoa, os quais são: emoção, atenção, memória, sensopercepção, raciocínio, abstração, cálculo e planejamento, linguagem e capacidade intelectual.
Tal avaliação se torna necessária quando há algum caso de deficiência cognitiva que prejudica a vida diária de uma pessoa e interfere negativamente em seus relacionamentos interpessoais. Ela pode contribuir para o diagnóstico correto do Transtorno de Espectro Autista (TEA), tendo em vista a falta de marcadores biológicos para esse transtorno.
A avaliação neuropsicológica traz contribuições excelentes, pois é possível saber quais as áreas do cérebro que são responsáveis por habilidades cognitivas necessárias para o controle e regulação de pensamentos, emoções e comportamentos, explicando-nos estratégias clínicas e educativas, trazendo como objetivo principal proporcionar à criança com TEA aprendizagens para o desenvolvimento da sua própria autonomia e algumas estratégias que poderão contribuir para a aquisição e desenvolvimento de relações sociais, emocionais, comportamentais e comunicacionais.
É importante salientar que a partir dos resultados da avaliação neuropsicológica, seja o professor, a escola, a família, todos que convivem com a criança com TEA serão contemplados, pois a partir do diagnóstico poderão compreender como se dá o funcionamento da criança, pois tais resultados servem de subsídios para elaboração de estratégias de intervenção, e assim facilitar a inclusão escolar desta criança.
4. BASES LEGAIS DA INCLUSÃO DO ALUNO AUTISTA/ ASPERGER
A visão que diferentes sociedades tiveram das pessoas com necessidades especiais varia conforme a época social e os valores pregados por cada sociedade. Se o grupo social tiver uma visão preconceituosa do portador de deficiência, teremos a segregação social e mesmo o extermínio deste grupo1.
A partir do século 19 surgiram as primeiras tentativas, mesmo que falhas, voltadas ao estudo e tratamento deste público, embora na maioria das vezes ficassem trancados em asilos e hospitais voltados ao atendimento dos mesmos.
Por outro lado, se a civilização tiver valores sociais, morais ou religiosos que incentivem o respeito aos chamados “deficientes”, veremos casos de sua inclusão social e adaptação em atividades cotidianas. Um exemplo disso é o antigo Egito, que tem registrado nos anais da história, por meio de papiros, práticas respeitosas aos cegos e portadores de nanismo2. O mesmo não se pode dizer da antiga cidade grega Esparta, onde crianças portadoras de deficiência eram rejeitadas ao nascer, sendo atiradas de penhascos.
Atualmente vivemos no período da chamada Inclusão Social, a qual visa não apenas inserir a pessoa com necessidades especiais na sociedade, mas também que a estrutura social se prepare para recebê-la, uma vez que a problemática não afeta apenas o indivíduo, mas envolve também sua família e afins, sendo necessário que a sociedade contribua para sua inclusão, promovendo o respeito às diferenças.
Podemos nos respaldar a priori na Constituição Federal Brasileira e na Declaração Mundial sobre Educação Para Todos: satisfação das necessidades básicas de aprendizagem (Jomtien, 1990), na Declaração de Salamanca, a qual trata sobre princípios, Políticas e Práticas na área das necessidades educativas especiais, bem como nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs)3, de acordo com o Documento elaborado pelo Grupo de Trabalho nomeado pela Portaria Ministerial nº 555, de 5 de junho de 2007, prorrogada pela Portaria nº 948, de 09 de outubro de 2007 das Diretrizes da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva4 do MEC/SEESP, na Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 20125 e na exemplificação dada pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), entre outros. O direito à saúde, educação, trabalho, turismo, lazer, cultura e demais aspectos voltados para a qualidade de vida estão positivados em diversos dispositivos legais, sejam eles do Brasil ou do exterior, como no caso da Organização das Nações Unidas (ONU).
Partindo do contexto da legislação brasileira, o artigo 4º, IV e V, do Decreto – Lei n. 3298/1999 estipula que a deficiência mental e a deficiência múltipla são uma associação de duas ou mais deficiências.
É nesse dispositivo legal que os portadores do Transtorno do Espectro Autista (TEA) típico e atípico, bem como da Síndrome de Asperger estão inseridos na busca de respaldo legal que propicie o atendimento pelo poder público adequado para suas necessidades. Os critérios internacionais de diagnóstico da síndrome estão dispostos na Décima Revisão de Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID – 10) e no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV-TR).
Segundo a CID – 10, as crianças autistas pertencem a um grupo de deficiências denominado Distúrbios Globais do Desenvolvimento, sendo esse quadro atualmente denominado como Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGDs) e mesmo de Transtornos Invasivos do Desenvolvimento. Com relação à educação voltada para este público devemos levar em conta que a qualidade das relações interpessoais, envolvimento nas tarefas/atividades propostas, bem como a atuação do profissional da educação no processo de ensino aprendizagem são fatores primordiais a serem considerados.
O artigo 4º, III, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nos diz que: “atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino” é de obrigação do Estado. (BRASIL, 1996). A educação inclusiva possui um público heterogêneo e é nesse aspecto que se insere o maior desafio das teorias de ensino, quais sejam, criar meios que possibilitem a inclusão e aprendizagem dos diferentes públicos. No caso da educação voltada para portadores de necessidades especiais, a mesma deve adequar-se a diferentes exigências: surdez, cegueira, deficiência física e intelectual, superdotados, as chamadas deficiências mentais nos graus mais variados, como Síndrome de Down, entre tantas outras.
De acordo com a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva em documento elaborado pelo Grupo de Trabalho nomeado pela Portaria Ministerial nº 555, de 5 de junho de 2007, prorrogada pela Portaria nº 948, de 09 de outubro de 2007:
O movimento mundial pela educação inclusiva é uma ação política, cultural, social e pedagógica, desencadeada em defesa do direito de todos os alunos de estarem juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo de discriminação. A educação inclusiva constitui um paradigma educacional fundamentado na concepção de direitos humanos, que conjuga igualdade e diferença como valores indissociáveis, e que avança em relação à ideia de equidade formal ao contextualizar as circunstâncias históricas da produção da exclusão dentro e fora da escola.
Com o desenvolvimento científico e a mudança de diversos paradigmas, o sistema de ensino de vários países também englobou o atendimento a este público. Percebeu-se que há possibilidade de evolução, apesar das dificuldades de cada indivíduo. Todos podem ser trabalhados e “melhorados”.
O autismo é “caracterizado por prejuízos na interação social, atrasos na aquisição da linguagem e comportamentos estereotipados” (TEIXEIRA, 2013, p. 171), ao passo que a Síndrome de Asperger “ é classificada como um transtorno de espectro autista; no entanto, diferentemente do autismo infantil, a criança com síndrome de Asperger apresenta desenvolvimento cognitivo e intelectual normal e não apresenta atraso na aquisição da fala” (TEIXEIRA, 2013, p. 183).
Desta forma, podemos afirmar que o ramo de estudo voltado às necessidades de aprendizagem do público chamado de portadores de necessidades especiais está em franca expansão e, principalmente do caso do Autismo/Asperger seus conceitos não podem ser considerados como verdades plenas, uma vez que há sempre novas descobertas a serem feitas.
Há vários tipos de necessidades especiais, tendo o campo de estudo se desenvolvido a partir dos estudos feitos nas necessidades especiais mais aparentes, como a surdez, a cegueira e as dificuldades de movimento. Já há um vasto material de estudo sobre estas necessidades ao passo que quando tratamos de Autismo/Asperger ainda há um universo fértil para a realização de pesquisas.
O Transtorno de Asperger é identificado principalmente por um comprometimento nas relações sociais e nos padrões repetitivos de comportamento, interesses e atividades. Diferente do transtorno autista, e Asperger não tem atraso no desenvolvimento da linguagem, embora neste caso pode haver um atraso na comunicação social. (PATEL, 2012, p. 123).
O autista não interage, não se comunica e dependendo do grau de espectro autista que possui pode muitas vezes se ver em situações de perigo e mesmo assim continuar apático. O fato de este indivíduo viver apenas em seu próprio mundo faz com que o mesmo não perceba o perigo que a vida cotidiana pode ter. Um incêndio, alagamento, o simples fato de atravessar a rua pode ser uma situação que lhe coloque em perigo. Por viver em seu próprio mundo, os indivíduos autistas não se atentam à realidade em que vivemos e aos seus perigos. Pelo menos não da forma como pensamos.
Bebês com autismo apresentam grande déficit no comportamento social, tendem a evitar contato visual e se mostram pouco interessados na voz humana. Eles não assumem uma postura antecipatória; por exemplo, colocando seus braços à frente para serem levantados pelos pais, ficam indiferentes ao afeto e não demonstram expressão facial ao serem acariciados (TEIXEIRA, 2013, p. 174).
Muita coisa pode ser observada no comportamento do bebê para que o diagnóstico seja feito o mais brevemente possível. Maior divulgação sobre o autismo e a Síndrome de Asperger por meio dos meios de comunicação tornará a sociedade mais informada sobre os meios de sua identificação. Muitos pais, por desconhecimento do que é o Autismo/Asperger e de sua sintomatologia, tomam tardiamente conhecimento de que seu filho possui o espectro, retardando o início dos tratamentos e demais cuidados necessários.
Ver a criança como que tentando descobrir o sentido do mundo, lidando ativamente com objetos e pessoas. A criança vai construir estruturas mentais e adquirir modos de funcionamento dessas estruturas em função de sua tentativa incessante de entender o mundo ao seu redor, compreendendo seus eventos e sistematizando suas ideias num todo coerente. (RAPPAPORT, 1982, vol. 01, p. 52).
Se as crianças chamadas “normais” precisam de um ambiente estimulante e metodologias apropriadas ao ensino, muitos mais carecem os portadores de necessidades especiais, no caso em tela, os Autistas e Asperger devido à dificuldade de comunicação seu desenvolvimento social e aprendizado se tornam mais difíceis de serem conseguidos, fator este que se agrava se não houver um diagnóstico precoce.
Contudo, apesar de os autistas Asperger também necessitarem de um ambiente estimulante, os estímulos devem respeitar as características sensoriais de cada um. Deve ser verificado se o indivíduo possui algum transtorno sensorial, como sensibilidade excessiva à luz ou aos barulhos. Caso contrário, os estímulos ao invés de ajudarem este aluno acabarão prejudicando-o e retraindo-o ainda mais.
Assim, Barroso (2022) enfatiza que é imperiosa a necessidade de reconhecer precocemente seus sintomas para que haja um acompanhamento adequado tanto pela família como pela instituição de ensino. Identificar as características do espectro Autista/Asperger, a aceitação pela família bem como seu engajamento para que o indivíduo consiga progressos é de fundamental importância para que os sintomas sejam amenizados e maior seja sua socialização.
As habilidades sociais incluem habilidades necessárias para o paciente entrar em contato com as outras pessoas em situações cotidianas de interação social, tais como pedir uma informação, fazer e responder perguntas, expressar um sentimento de insatisfação diante do comportamento de outra pessoa, receber uma crítica justificada de alguém, solicitar uma mudança de comportamento, recusar solicitações indesejadas etc. (PRETTE, 2007, p.175).
Muito mais que aprender a ler ou escrever e dominar determinados conteúdos, o indivíduo Autista/Asperger necessita aprender a socializar-se, a conscientizar-se de que faz parte de um mundo e aprender a interagir com o mesmo. Aprender que possui necessidades e possuir uma rotina. Aprender que deve se auto cuidar e também zelar por terceiros em determinados casos.
Portanto, para o autista, a área em que os processos pedagógicos precisam investir mais, explorando caminhos diferenciados, é justamente no estabelecimento de trocas interpessoais e comunicativas. Da capacidade de interagir depende a possibilidade de novos avanços significativos nas funções psíquicas dos sujeitos. (CRUZ, 2014, p. 146).
Percebemos que todos os autores citados nos parágrafos anteriores convergem para a mesma linha de pensamento:
a) é possível identificar os sintomas do Espectro Autista e Asperger ainda em bebês.
b) seus portadores possuem dificuldades na comunicação, fator que interfere negativamente em sua capacidade de aprendizagem e socialização.
Desta forma, a capacidade de interação está completamente relacionada ao seu desenvolvimento. Quanto mais avanços nessa área, maior a probabilidade de alfabetização e desenvolvimento intelectual.
Os teóricos citados são unânimes em afirmar que há sintomas característicos que podem ser observados pelos pais ou responsáveis pela criança, possibilitando um diagnóstico precoce. Socialização é a fonte geradora de temas de cunho metodológico a serem estudados e analisados, visando à melhoria da qualidade de vida de seus portadores.
O artigo 59 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) nacional assegura que: “Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais: I – currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades.”
Desta forma, é imperiosa a análise e aprimoramento de técnicas, métodos e recursos educativos voltados ao público Autista/Asperger, os quais atendam à sua necessidade de socialização. Embora os mesmos não queiram ou sintam dificuldades de socializar-se, ou mesmo que o autismo seja de um grau severo e o aluno não sinta esta necessidade, cabe ao profissional envolvido e à família do mesmo a busca pelo bem-estar desse indivíduo.
Metodologias de ensino adequadas à promoção de sua qualidade de vida devem ser analisadas e atualizadas, conforme as novas descobertas científicas sobre este público.
Saliento e relembro aqui que o autismo já foi considerado um dos sintomas da esquizofrenia. Para Gonçalves (2014) o teórico Jung fez a primeira descrição do mesmo, embora não utilizasse este termo. Freud à semelhança de Jung nunca enunciou o termo Autismo que mais tarde viria a ser formulado por Bleuler em 1911 no seu livro fundamental sobre Esquizofrenia.
Diferentemente da meningite ou da infecção de garganta, o autismo não pode ser diagnosticado em laboratório – embora os pesquisadores estejam tentando criar métodos para tal, como tratarei mais adiante neste livro. Em vez disso, como no caso de muitas síndromes psiquiátricas, como a depressão e o transtorno obsessivo – compulsivo, o autismo é identificado pela observação e avaliação do comportamento. As observações e avaliações são subjetivas, e os comportamentos variam de uma pessoa para outra. O diagnóstico pode ser confuso e vago. Ele mudou ao longo dos anos e continua apresentando mudanças. (GRANDIN, 2015, p. 12).
Ou seja, apesar dos avanços na área médica, ainda não há consenso com relação ao diagnóstico do Autismo/Asperger. Mesmo que o aluno seja submetido a um eletroencefalograma ou a uma ressonância magnética, mesmo que haja indício de algum dano cerebral, ainda assim não será achada uma causa única e específica para que seja feito um tratamento específico e com possibilidade de cura. No máximo se conseguirá melhorar a qualidade de vida do indivíduo, mas não o curar.
O diagnóstico será feito por meio de exames aliados à análise comportamental, como necessidade de solidão, entre outros. Apesar dos exames clínicos, o autismo é identificado pela observação e avaliação do comportamento. Mesmo com os avanços, não se pode afirmar qual a origem do autismo, se advém de problemas biológicos ou psicológicos.
A avaliação neuropsicológica compreende o processo de análise do indivíduo, prévio ao processo terapêutico ou de acompanhamento pelo profissional da área, que visa ofertar subsídios acerca da formação e funcionamento do paciente para o profissional, a fim de que este possa propiciar o tratamento ou acompanhamento adequado.
De suma importância para o manejo do paciente a avaliação neuropsicológica igualmente relevante do ponto de vista profissional para o profissional da psicologia, uma vez que este é o único devidamente capacitado para realizá-la (CFP, 2011).
A etapa de Avaliação Neuropsicológica se mostra essencial ao exercício profissional do psicólogo, haja visto que é etapa imprescindível a qualquer intervenção terapêutica ou de acompanhamento do paciente, por se tratar de análise do funcionamento do indivíduo, baseada em teorias e estudos científicos. Tal consideração se estende à avaliação neuropsicológica uma vez que é compreendida como uma espécie de avaliação psicológica, assim, uma das hipóteses de realização daquela (NUNES et al., 2012).
A neuropsicologia apresenta-se como base teórica e prática que, acredita-se, pode construir um caminho alternativo ao cuidado à saúde da pessoa com TEA. O objetivo da avaliação neuropsicológica é de fornecer análise precoce e segura (CAVACO, 2015).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento do presente artigo possibilitou compreender com base na revisão bibliográfica dos estudiosos do ramo em apreço, de que modo a avaliação neuropsicológica contribui para o diagnóstico correto do Transtorno de Espectro Autista/Asperger em crianças e como os resultados auxiliam na inclusão das mesmas na fase escolar.
A neuropsicologia vem se destacando no diagnóstico e tratamento do TEA, pelas evidências de estudos quanto aos prejuízos nos aspectos cognitivos desses pacientes, assim como das funções e competências preservadas. Através da avaliação neuropsicológica é possível identificar quais áreas devem ser estimuladas ou potencializadas, possibilitando intervenções mais assertivas ao contexto de cada criança de maneira particular.
No presente trabalho foi levantada a análise sobre a inclusão escolar através da avaliação neuropsicológica para crianças com Transtorno de Espectro Autista/Asperger, e constatou-se que para acontecer a inclusão escolar do aluno com Transtorno do Espectro Autista na escola regular, são muitos as contribuições da avaliação neuropsicológica, pois ela norteia quanto as possibilidades para o desenvolvimento da aprendizagem dos alunos em questão.
Para compreender as particularidades que se apresentam por meio das características específicas, demonstra o quanto as instituições de ensino precisam ser sensíveis e desenvolverem possibilidades para ampliar a aceitação do aluno mediante a sua diversidade e as necessidades que se concentram na socialização e interação de tal dificuldade.
Diante disso, é possível perceber de acordo com a pesquisa realizada, a distância que há entre a realidade apresentada e o ideal inclusivo, sendo que, existem obstáculos que precisam ser superados para que se aplique uma inclusão plena no ambiente escolar, principalmente, no que diz respeito ao envolver o aluno com TEA. Porém, é importante levar em consideração que barreiras já foram superadas a fim de possibilitar a sua vivência no espaço escolar, o que aponta o crescimento da frequência de outros alunos autistas atualmente.
Portanto, é de suma importância o desenvolvimento de práticas que contemplem o desenvolvimento da criança autista na escola, levando em conta as suas necessidades e a superação das dificuldades que se apresentam em decorrência do transtorno.
Para tanto, o desenvolvimento de uma educação buscando a inclusão e valorizando a diversidade humana mostra a base para romper com as atitudes preconceituosas que ainda persistem na aceitação do aluno autista no ambiente escolar.
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1Em países como a Grécia, o culto ao corpo levava os deficientes a serem sacrificados ou escondidos. Desse modo, em especial em Esparta, por volta do século IV A.C, as crianças com deficiência física ou mental, consideradas subumanas, eram abandonadas, eliminadas ou lançadas em precipícios. (A deficiência através da história: da invisibilidade à cidadania, p. 28).
2Evidências arqueológicas nos fazem concluir que no Egito Antigo, há mais de cinco mil anos, a pessoa com deficiência integrava-se nas diferentes e hierarquizadas classes sociais (faraó, nobres, altos funcionários, artesãos, agricultores, escravos). A arte egípcia, os afrescos, os papiros, os túmulos e as múmias estão repletos dessas revelações. Os estudos acadêmicos baseados em restos biológicos, de mais ou menos 4.500 a.C, ressaltam que as pessoas com nanismo não tinham qualquer impedimento físico para as suas ocupações e ofícios, principalmente de dançarinos e músicos. (www.ampid.org.br/ampid/Artigos/PD_historia.php, acesso em 14/08/2022.
3 (http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro01.pdf. Acesso em 22/08/2022.
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