A INCIDÊNCIA DA SÍNDROME DE BURNOUT EM FISIOTERAPEUTAS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10206870


Elen Cristina de Lima Vieira¹;
Rosileide Alves Livramento².


RESUMO

A síndrome de Burnout (SB) ou síndrome do esgotamento profissional é descrita como uma resposta à cronificação do estresse vivenciado no ambiente de trabalho, em decorrência de sentimentos e condutas negativas, que geram prejuízos no contexto profissional, pessoal, familiar e social. Sendo assim, o presente estudo visa descrever a produção científica existente na literatura sobre a prevalência da síndrome de burnout e os fatores associados em fisioterapeutas. Foi desenvolvida uma revisão sistemática de estudo sobre a prevalência da síndrome de burnout em fisioterapeutas. Para isso, foi organizada a busca de artigos publicados em bases de dados no período de janeiro de 1990 a maio de 2021. Foram elegidos 13 pesquisa para composição dos resultados e discussão do presente trabalho, os resultados sintetizados através das análises dessas pesquisas mostraram que os fatores de Risco para Burnout inclui altas demandas relacionadas ao trabalho, tendo pouco controle sobre os resultados do trabalho, pouca idade e sexo feminino. Outras causas importantes incluem a falta de autonomia, carga excessiva de tarefas e responsabilidades, falta de feedback sobre as funções que desempenha e falta de apoio e ajuda dos empregadores. Por isso, esse contexto está cada vez mais sendo relacionado aos profissionais de fisioterapia. No entanto, a presente pesquisa apresentou como limitação a disponibilidade de estudos e pesquisas que apresentem evidências clinicas sobre a prevalência da Síndrome de Burnout em fisioterapeutas. Por isso, é sugerido que futuras pesquisas sejam desenvolvidas para melhor compreensão e embasamento de dados.

Descritores: Síndrome; Burnout; Fisioterapeutas.

ABSTRACT

Burnout syndrome (BS) or professional exhaustion syndrome is described as a response to chronic stress experienced in the work environment, as a result of negative feelings and behaviors, which generate damage in the professional, personal, family and social context. Therefore, the present study aims to describe the existing scientific production in the literature on the prevalence of burnout syndrome and associated factors in physiotherapists. A systematic review of a study on the prevalence of burnout syndrome in physical therapists was developed. For this, a search for articles published in databases from January 1990 to May 2021 was organized. Thirteen surveys were chosen to compose the results and discuss the present work, the results synthesized through the analysis of these surveys showed that the Risk factors for Burnout include high work-related demands, having little control over work outcomes, young age, and female gender. Other important causes include lack of autonomy, excessive burden of tasks and responsibilities, lack of feedback on the functions one performs and lack of support and help from employers. Therefore, this context is increasingly being related to physiotherapy professionals. However, the present study presented as a limitation the availability of studies and research that present clinical evidence on the prevalence of Burnout Syndrome in physical therapists. Therefore, it is suggested that future research be developed to better understand and base data.

Keywords: Syndrome; Burnout; Physical therapists.

INTRODUÇÃO

Pêgo (2016) descreve que de acordo com Herbert Freudenberger em sua definição, ele descreve o burnout como um “fogo interior”, um “esgotamento de recursos físicos e mentais”; uma “luta por objetivos inatingíveis” individual ou socialmente imposta. Para Herbert Freudenberger, esse esgotamento ocorre em áreas da vida em que as expectativas de sucesso são maiores, muitas vezes no ambiente de trabalho.

Segundo Pereira (2014) em 1974, a síndrome de burnout começou a ser construída com modelos teóricos e ferramentas capazes de registrar e compreender os seguintes sentimentos crônicos: depressão, apatia e despersonalização. Nesse mesmo ano, Herbert Freundenberger usou pela primeira vez o termo “funcionários e esgotamento” em seu artigo para alertar os profissionais de saúde sobre os problemas que podem encontrar no local de trabalho. A pesquisa de Herbert Freundenberger teve um impacto no ambiente científico e organizacional.

Sendo assim, o Burnout configura-se como uma síndrome de esgotamento ocupacional, pertencente a um grupo denominado “problemas relacionados ao seu estilo de vida”. A síndrome de Burnout envolve uma experiência pessoal que causa emoções e atitudes negativas na relação do indivíduo com o trabalho, levando-o à insatisfação, esgotamento, perda de comprometimento. Nesse sentido, diversos fatores têm sido relacionados ao desencadeamento da síndrome de burnout, dentre eles o estresse ocupacional. (Silva et al., 2021).

Sousa et al., (2020) descreve que os debates sobre trabalho e seus respectivos problemas que podem impactar na saúde mental dos trabalhadores, vem sendo evidenciado e amplamente discutido nos últimos tempos, problemas estes que interferem diretamente nos aspectos físicos, psíquicos e motivacionais dos trabalhadores podendo impactar diretamente na satisfação atingindo a produtividade e o desempenho desses indivíduos de forma direta e branda, podendo levar a sérios problemas psicofisiológicos.

Existem conceitos que evidenciam uma relação direta entre o stress causado pelo trabalho ocupacional e níveis elevados de fadiga, alterações de sono, e problemas depressivos. Estes fatores podem ter como consequência um desequilíbrio na saúde física e psicológica do trabalhador, o que por sua vez vai reduzir a qualidade dos serviços prestados (Cardoso et al., 2017).

O Fisioterapeuta tem como principal atuação a reabilitação, a promoção e o restabelecimento de funções acometidas por lesões e/ou doenças, contribuindo para a saúde e bem-estar do indivíduo. Estes profissionais fisioterapeutas apesar do conhecimento de formação sobre anatomia, fisiologia, biomecânica e ergonomia, também estão sujeitos ao risco de sobrecarga física, emocional e psicológica, consequência direta do seu trabalho (Silva et al., 2018).

Segundo Caldart et al., (2020) frequentemente, o fisioterapeuta não possui as condições ideais de trabalho, deste modo terá que se adaptar-se às condições ambientais, físicas e antropométricas do seu ambiente de trabalho. Para além destas dificuldades, a existência de baixa remuneração e rotinas desgastantes, com um elevado número de pacientes, predispõe uma maior ocorrência de lesões e de desgaste físico por parte do profissional, o que pode afetar negativamente a sua saúde física, e consequentemente gerar a síndrome de Burnout.

A síndrome de Burnout (SB) ou síndrome do esgotamento profissional é descrita como uma resposta à cronificação do estresse vivenciado no ambiente de trabalho, em decorrência de sentimentos e condutas negativas, que geram prejuízos no contexto profissional, pessoal, familiar e social (Gianasi LBS e Oliveira DC, 2014). descreveram a SB através de três dimensões: Exaustão Emocional (EE), Despersonalização (DP) e Realização Profissional/Pessoal (RP). A EE é caracterizada pela ausência ou déficit de energia associada à sensação de que todos os recursos emocionais e físicos foram esgotados (Pereira, 2014)

De acordo com Pêgo (2016) já a DP apresenta-se como a perda da sensibilidade emocional associada a reações negativas e impiedosas direcionadas àqueles para os quais presta serviços. Por fim, a RP caracteriza-se por auto avaliação negativa por parte do profissional sobre o seu desempenho do ambiente de trabalho e pessoal.

Todas as condições que tais profissionais estão expostos acabam se agravando no âmbito hospitalar, onde é constante o contato com diversas situações que aumentam as características das doenças, tais como dor, sofrimento, dificuldade que passam os pacientes e até mesmo óbitos, causando um prejuízo emocional e psicológico a esses trabalhadores e resultando em prejuízos diretos na execução de técnicas fisioterapêuticas e no relacionamento direto com o paciente e família.

Dessa forma, é possível observar que os estudos da Síndrome de Burnout em profissionais da saúde e especialmente em fisioterapeutas são bem poucos explorados e raros, então por ser pouca conhecida a prevalência dessa síndrome na literatura, se faz a necessidade da investigação sobre burnout nesses profissionais. Sendo assim, o presente estudo visa descrever a produção científica existente na literatura sobre a prevalência da síndrome de burnout e os fatores associados em fisioterapeutas.

METODOLOGIA

Foi desenvolvida uma revisão sistemática de estudo sobre a prevalência da síndrome de burnout em fisioterapeutas. Para isso, foi organizada a busca de artigos publicados em bases de dados.

As principais etapas na condução dessa revisão sistemática foram as seguintes: elaborar uma questão de pesquisam, conduzir uma busca na literatura, especificar os métodos de seleção e avaliação, detalhar o procedimento de extração de dados e indicar a abordagem para análise de dados.

Foram definidas a Pubmed (National Library of Medicine), Scielo (Scientific Electronic Library Online) e Periódico CAPES do Ministérios da Educação como as bases de dados para a busca dos artigos. A partir dessas bases foram definidas as seguintes palavras chaves: Esgotamento Profissional; Fisioterapeuta, Revisão e Prevalência. Considerando a elegibilidade para inclusão dos estudos, os artigos foram selecionados de acordo com os seguintes critérios: estudos observacionais de corte transversal, estudos originais, populacionais ou amostrais publicados nos idiomas de português, espanhol ou inglês, que tinham como objeto de estudo a avaliação da síndrome de burnout em fisioterapeutas, e que foram publicados entre 2013 a 2023.

Para a discussão sobre a relação entre síndrome de burnout e a atividade profissional de fisioterapeutas, as seguintes informações foram extraídas dos artigos selecionados para a análise final desta revisão: autores, data da publicação, objetivo do estudo, características dos participantes, prevalência da síndrome e principais achados. Como critério de exclusão foram considerados: Estudos fora da faixa temporal definidos anteriormente, estudos cujos sujeitos da pesquisa não fossem fisioterapeutas estudos que não tenham a prevalência da síndrome, estudos qualitativos artigos que não foram escritos nas línguas portuguesa, inglesa e espanhola e que não se encontram nas Bases de dados definidas como Pubmed (National Library of Medicine), Scielo (Scientific Electronic Library Online) e Periódico CAPES do Ministérios da Educação.

Dessa forma foi obtido os resultados da revisão sistemática, com o cruzamento e análise de evidências apresentadas em diferentes estudos.

A estratégia utilizada para seleção dos estudos foi baseada nos criterios de elegebilidade, os quais foram selecionados e sinterizados de acordo com a identificação da problematização desta pesquisa, sendo inserido os principais achados em uma tabela. Os dados encontrados foram analisados e sintetizados, sendo inicialmente realizado a seleção de estudos, onde foram utilizados os descritores nas bases de dados, para que fosse possível a identificação de pesquisas que mencionassem a palavras chaves e que estivem dentro dos critérios dos filtros selecionados.

Após isso, os estudos que restaram passaram por uma análise e leitura dos resumos, onde foi possível avaliar a qualidade metodológica de cada pesquisa, sendo um critério para eliminação da pesquisa o tipo de metodologia empregada. Com isso, foi possível dar segmento ao fluxo, sendo realizado a coleta das principais informações apresentadas nos estudos, para que fosse possível a avalição das evidencias apresentadas em cada pesquisa. O que permitiu delimitar ainda mais a seleção dos estudos, sendo excluídos aquelas com evidencia duvidosas ou poucos esclarecidas.

Com isso, todas as pesquisas que passaram pelo fluxo se elegebilidade foram submetidas a uma leitura completa, onde foi feito a síntese dos resultados de cada estudo selecionado. Além disso, também houve o agrupamento dos estudos selecionados, para utilização da técnica de análise temática, através do desenvolvimento de gráficos, para que fosse possível analisar resultados semelhantes e distintos encontrados nos estudos também apresentados na seção de resultados deste estudo.

A figura 1 apresenta a seleção dos estudos de forma quantitativa. De acordo com os critérios de inclusão e exclusão.

Figura 1 Fluxograma da seleção dos estudos

RESULTADOS

Foram elegidos 13 pesquisa para composição dos resultados e discussão do presente trabalho.

Dessa forma, os 13 estudos foram estruturados e sintetizados em uma planilha, como base e da adaptação do instrumento de suporte para sistematização das pesquisas sistemáticas passaram pelo processo de elegibilidade. Onde foi adaptado para necessidade de apresentação deste estudo, conforme a tabela 1.

TITULOANODELINEAMENTORESULTADOSCONCLUSÃO
Prevalência de burnout em fisioterapeutas durante a pandemia de COVID-19: revisão bibliográfica2021Pesquisa
computorizada
Durante a pandemia de COVID-19 os fisioterapeutas apresentaram níveis moderados a altos de burnout.A evidência sugere que o burnout durante a pandemia COVID-19 é perceptível entre fisioterapeutas que trabalham diretamente com pacientes.
Síndrome de burnout nos profissionais de saúde do âmbito
hospitalar: uma revisão integrativa
2022Revisão integrativaDentre os profissionais de saúde do setor de emergência, relacionados à SB, os médicos se destacaram evidenciando 6 especialidades.à síndrome de burnout, com o objetivo de preveni-la e proporcionar melhor qualidade de vida a esta população.
Síndrome de Burnout em fisioterapeutas de
um hospital público   de alta complexidade da cidade do Recife,
Pernambuco
2018Estudo de casoParticiparam deste
estudo 48 fisioterapeutas. A
maioria atuava nas unidades de terapia intensiva (56,3% (N=27)). A presença da SB foi identificada em 54,2 (N=26) dos participantes. Foram observadas correlações entre o número de atendimentos diários e a exaustão emocional (r= 0,41) e com a realização pessoal (r= -0,30), e da idade com a despersonalização (r= -0,11).
A SB foi verificada em mais da metade dos Fisioterapeutas. Correlações positivas foram observadas entre o número de atendimentos diários e a exaustão emocional e correlação negativa entre a idade com despersonalização e número de atendimentos diários com a realização pessoal.
Síndrome de Burnout em
fisioterapeutas
intensivistas
2019Revisão IntegrativaEvidenciou-se que as mulheres, que enfrentam dupla jornada, correm maior risco de desenvolverem a Síndrome de Burnout.No adoecimento evidenciou os fatores como; os lapsos de memória, a atenção dispersa, doenças psicossomáticas e consumo de medicamentos psicoativos
Síndrome de
burnout em fisioterapeutas
intensivistas?
2018Estudo descritivoObservou-se também que a
maioria dos fisioterapeutas
estão com a qualidade de vida
boa na maior parte dos domínios do WOQOLbref.
Embora os fisioterapeutas que
trabalham em Unidades de Terapia Intensiva estejam expostos a fatores de risco, não foi observado elevados níveis de Burnout.
Presença da síndrome de
burnout em
fisioterapeutas
que atuam em
unidades de terapia intensiva
adulto
2020Estudo transversalacredita-se, pois, que os parâmetros de “exaustão emocional” tenham captado da melhor forma um perfil de
burnout para estudantes de fisioterapia em diferentes contextos.
Atributos como carga horária semanal, a incerteza frente ao
futuro e o receio de cometer algum erro e prejudicar o paciente estão entre os principais estressores.
Nível de estresse
e qualidade de
vida em fisioterapeutas
que trabalham em
unidades de
terapia intensiva
2019Estudo de caráter transversalO sexo feminino foi mais prevalente, com 80,3% da amostra, a média de idade foi 31,6 anos (± 5,6).Exaustão emocional, despersonalização e realização profissional atingiram médio e alto nível em grande proporção, ultrapassando 90% da amostra, sendo domínio mais afetado da qualidade de vida foi vitalidade.
A síndrome de
burnout em
profissionais de
serviços de fisioterapia
2016Revisão integrativaNesse sentido, surge a necessidade de se descrever/avaliar os riscos envolvidos nos serviços de
fisioterapia relacionados à SB,
uma vez que o fisioterapeuta
desenvolve suas atribuições em situações que favorecem o aparecimento desta patologia.
Só através de mudanças estruturais efetuadas no âmbito do serviço de saúde e da maior disseminação acerca da Síndrome do Burnout, que as estratégias de prevenção poderão obter resultados
favoráveis, contribuindo para
diminuição da sua ocorrência nestes profissionais.
Síndrome de Burnout em
fisioterapeutas
atuantes na
docência, clínica
e área hospitalar
durante a pandemia da
COVID-19.
2023Estudo de caráter transversalOs resultados indicaram uma
prevalência 7,4% da Síndrome de Burnout e 84% da amostra propensa a desenvolver a
síndrome. Identificou-se relação do burnout com fisioterapeutas com menos de 30 anos (p=0,046), profissionais que atendem mais de 10 pacientes(p=0,049),
profissionais com menos de 11 anos de profissão (p=0,003), trabalhar exclusivamente em
hospital privado(p=0,017) e
dor osteo-muscular crônica (p=0,001).
Considera-se necessária a
continuidade de pesquisas relativas à síndrome de burnout em fisioterapeutas,
possibilitando o aprofundamento das abordagens que conduzem a soluções da problemática no
contexto laboral brasileiro.
Investigação da
Síndrome de
Burnout no ambiente de
terapia intensiva
2019Caráter quantitativo
e qualitativo
Na análise de MBI, houve predomínio de profissionais na
Fase inicial de Burnout representado por 57,6%, evidenciando assim que o profissional procure ajuda para
debelar os sintomas e garantir, assim, a qualidade no seu
desempenho profissional e a sua qualidade de vida.
Dentre as possíveis causas da Síndrome de Burnout analisadas nesta pesquisa está àquelas relacionadas ao tempo de serviço, faixa etária, falta de capacitação, sobre
carga profissional e baixa remuneração dentre outro.

DISCUSSÃO

O estudo de Oliveira (2021) mostra em seus resultados que a síndrome de Burnout só é ativa nos estágios mais avançados da doença e assume características próprias distintas do estresse e da depressão. Foi identificado que os primeiros sinais e sintomas são os mesmos do estresse e da depressão em fisioterapeutas que participaram do estudo. Resultados semelhante ao encontrado no estudo de Nascimento et al., (2017), que além disso mostrou que o diagnóstico e tratamento do Burnout só pode ser feito por um médico ou psicoterapeuta, ou seja, um psicólogo ou psicanalista, podendo haver atendimento simultâneo de um médico caso o paciente apresente problemas como dores, alergias, alterações sanguíneas, estresse, problemas cardíacos, insônia.

A pesquisa de Santos et al., (2022) mostrou que as principais características da síndrome de burnout são o estresse emocional e um estado de estresse crônico, seja físico, emocional ou psicológico, decorrente de condições exaustivas de trabalho. Já o estudo feito por Santos, Neri e Wanderley (2018) mostrou que a síndrome de burnout está associada à sobrecarga de trabalho, baixo nível de controle das atividades, expectativas ocupacionais, sentimento de injustiça nas relações de trabalho, trabalho em turnos ou noturno, baixo suporte organizacional, relações conflituosas entre colegas, tipo de ocupação e conflito de papéis.

Para completar esses achados, o estudo de Almeida et al., (2021) identificou que as formas como essas características se combinam podem retardar ou facilitar a progressão da síndrome de burnout. Esse contexto foi explicado no estudo realizado por Gianasi e Oliveira (2014), o qual mostrou que pessoas com altos sintomas de estresse ocupacional são capazes de resistir por períodos de tempo mais longos em comparação com pessoas em seu ambiente de trabalho, mas com o passar do tempo, ou diante do aumento da negatividade na instituição, esse equilíbrio pode ser perturbado, levando-as a desenvolver Para Síndrome de Burnout.

Para associação com o profissional de fisioterapia, a pesquisa realizada por Silva et al., (2018) mostrou que os fisioterapeutas, assim como outros profissionais da saúde, vivenciam uma carga mental durante o desempenho de suas atividades profissionais, pois lidam diariamente com doenças e dores. Em concordância o estudo de Camelier et al., (2018) descreveu que o abalo emocional se refere não apenas às limitações da situação clínica do paciente, mas sobretudo devido às dificuldades no trabalho, como insatisfação com o salário e falta de autonomia.

O estudo de Caldart et al., (2020) buscou associar o desenvolvimento da síndrome com a prática profissional do fisioterapeuta. Foi identificado que geralmente, a fisioterapia é realizada diariamente e por longos períodos de tempo, em contato muito próximo com o paciente e sua família. Essa interação facilita a assimilação da dor emocional transmitida pelo paciente. Contexto afirmado pelo estudo de Dantas e Lima (2019), que associou a responsabilidades para com os pacientes e/ou familiares são emocionalmente desgastantes para os profissionais que tendem ao burnout quando combinados com questões pessoais, falta de apoio da equipe, dificuldades organizacionais e crescentes demandas psicológicas.

Além disso, Coelho, Fernandes e Silva (2016) mostraram que com um mercado de trabalho cada vez mais competitivo, os fisioterapeutas geralmente são mal pagos, têm altas cargas de trabalho e trabalham em vários locais de trabalho. Estudos como o de Pereira (2014) relatam que os fisioterapeutas vivenciam cargas emocionais e físicas. Existe uma forte associação entre distúrbios musculoesqueléticos e sofrimento mental. Visto que, a Lei Federal 8856 de 01 de março de 1994 os fisioterapeutas estão limitados a 30 horas por semana devido à carga de trabalho e ao compromisso emocional com os pacientes.

Porém, conforme citado por Carvalho et al., (2016) e Paula et al., (2023), é alta a frequência de profissionais atuando em dois ou mais locais de trabalho. Como resultado, muitos fisioterapeutas têm cargas de trabalho maiores do que as exigidas pela legislação, colocando-os em maior risco de riscos ocupacionais, incluindo burnout.

Ferreira et al., (2019) enfatizam que o ambiente hospitalar produz burnout independente das atividades exercidas. Longas jornadas, múltiplas jornadas, baixos salários, demandas excessivas que reduzem a qualidade da assistência e o fato de estarem constantemente lidando com doenças, sofrimento e morte expõem os profissionais de saúde a riscos ocupacionais, como estresse e burnout.

Dessa forma, é compreendido que os profissionais de saúde são cercados por situações que podem levar ao estresse, esgotamento, esgotamento físico e mental, observados neste estudo, que se deve em grande parte ao estresse psicológico causado pelas condições e ambiente de trabalho inadequados. A síndrome de Burnout é uma resposta a esses fatores, que estão associados ao estresse laboral, mas ocorrem de forma crônica e levam a mudanças comportamentais que afetam a vida profissional e pessoal desses profissionais. Portanto, essas mudanças afetam a qualidade da assistência prestada em seu ambiente de trabalho.

CONCLUSÃO

Através do desenvolvimento da pesquisa foi possível compreender que a Síndrome de Burnout é o termo utilizado para representar o esgotamento ocupacional, cada vez mais comum entre os profissionais e investigado por pesquisadores em todo o mundo, que pode afetar especialmente os profissionais de saúde.

Com os estudos analisados foi identificado que dentre os sinais e sintomas dessa problemática estão relacionados a uma síndrome de exaustão emocional, despersonalização e redução da realização pessoal. Além disso, também foi possível verificar que está presente nessa síndrome o cansaço, falta de vigor ou impulso, maior irritabilidade e uma variedade de sintomas psicossomáticos.

Durante o desenvolvimento da revisão e seleção de pesquisas sobre o tema, foi visto que burnout é mais frequentemente experimentado por aqueles que trabalham com pessoas doentes, chateadas e ansiosas sobre suas condições e suas complicações. Este grupo inclui médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais e fisioterapeutas.

Dentre os resultados apresentados nas principais pesquisas selecionados foi detectado que os fatores de Risco para Burnout inclui altas demandas relacionadas ao trabalho, tendo pouco controle sobre os resultados do trabalho, pouca idade e sexo feminino. Outras causas importantes incluem a falta de autonomia, carga excessiva de tarefas e responsabilidades, falta de feedback sobre as funções que desempenha e falta de apoio e ajuda dos empregadores.

Por isso, esse contexto está cada vez mais sendo relacionado aos profissionais de fisioterapia. No entanto, a presente pesquisa apresentou como limitação a disponibilidade de estudos e pesquisas que apresentem evidências clinicas sobre a prevalência da Síndrome de Burnout em fisioterapeutas. Por isso, é sugerido que futuras pesquisas sejam desenvolvidas para melhor compreensão e embasamento de dados.

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¹Discente do curso de Fisioterapia do Centro Universitário FAMETRO.
²Professora Orientadora do curso de Fisioterapia do Centro Universitário FAMETRO.