A INCIDÊNCIA DA AMEBÍASE NO ESTADO DO AMAZONAS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10077923


Elenilda Silva dos Santos1;
Viviane Marinho Dos Santos2


RESUMO 

As infecções mais frequentes em seres humanos são ocasionadas por parasitas intestinais. No  Brasil, as enteroparasitoses representam um dos principais desafios em saúde pública. A  prevalência dessas infecções pode ser influenciada por diversos fatores, como o clima, as  condições socioeconômicas e as características dos próprios parasitas. Na região amazônica  brasileira, há escassez de estudos que investigam a prevalência de parasitoses intestinais,  incluindo a amebíase. Portanto, este estudo foi conduzido com o objetivo de analisar a incidência  da amebíase durante o período de inundação em Manaus. 

A amebíase figura como a segunda principal causa de mortalidade por parasitos em todo o  mundo. Entre os fatores socioambientais associados à infecção por Entamoeba histolytica,  destacam-se a renda familiar e a origem da água, indicando que a alta prevalência pode estar  relacionada às precárias condições econômicas e sanitárias das comunidades afetadas. A maior  incidência do parasita E. histolytica está diretamente ligada à ausência de práticas regulares de  higiene, como a simples lavagem das mãos antes das refeições e após o uso do banheiro. Além  disso, investimentos em educação voltada para a saúde dos membros da família e das crianças  podem contribuir significativamente para a adoção de hábitos saudáveis que previnam infecções  parasitárias em geral.Conclui-se que a elevada prevalência da amebíase nessa população está  intrinsecamente ligada às deficientes condições de saneamento básico e à persistência de  hábitos inadequados, configurando uma preocupante questão de saúde pública. 

Palavras-chave: Amebíase. Amazonas. Saúde. Saneamento básico.

ABSTRACT 

The most common infections in humans are caused by intestinal parasites. In Brazil,  enteroparasitosis represents one of the main challenges in public health. The prevalence of these  infections can be influenced by several factors, such as climate, socioeconomic conditions and  the characteristics of the parasites themselves. In the Brazilian Amazon region, there is a lack of  studies investigating the prevalence of intestinal parasites, including amoebiasis. Therefore, this  study was extended with the objective of analyzing the incidence of amoebiasis during the flood  period in Manaus. 

Amebiasis is the second leading cause of mortality from parasites worldwide. Among the socio environmental factors associated with Entamoeba histolytica infection, family income and the  origin of water stand out, highlighting that the high prevalence may be related to the precarious  economic and sanitary conditions of the affected communities. The higher incidence of the E.  histolytica parasite is directly linked to the lack of regular hygiene practices, such as simply  washing hands before meals and after using the bathroom. Furthermore, investments in external  health education for family members and children can significantly contribute to the adoption of  healthy habits that prevent parasitic infections in general. It is concluded that the high prevalence  of amoebiasis in this population is intrinsically linked to conditions of poor basic sanitation and the  persistence of inadequate habits, posing a worrying public health issue. 

Keywords: Amebiasis. Amazon. Health. Basic sanitation. 

1. INTRODUÇÃO 

A amebíase, uma parasitose causada pelo protozoário Entamoeba  histolytica, representa um significativo problema de morbimortalidade global  entre os seres humanos. Sua distribuição geográfica abrange principalmente  regiões tropicais, subtropicais e de clima quente, onde as condições de higiene  e educação sanitária são consideradas mais deficientes e precárias (PAIVA,  SOUZA, 2018). 

De acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS),  aproximadamente 45 milhões de indivíduos são afetados por essa doença,  resultando em 100 mil óbitos anuais e a colocando como a segunda principal  causa de mortes por infecção causada por protozoários/parasitas (BRASIL,  2018). 

O cólon é o órgão mais frequentemente afetado pelo parasita, resultando  principalmente em colite e disenteria. No entanto, o Entamoeba histolytica pode  também disseminar-se pela corrente sanguínea, atingindo órgãos como fígado,  pulmões, coração e cérebro, ocasionando uma variedade de complicações,  destacando-se o abscesso hepático como a manifestação extraintestinal mais  comum, além de amebíase pulmonar, pericardite e abscesso cerebral. Quando  não diagnosticadas e tratadas precocemente, essas condições podem levar ao  óbito do paciente com amebíase, ressaltando a importância crucial da prevenção  dessa doença (BRASIL, 2021). 

Nossa investigação abordou o aumento da população afetada durante os  períodos de cheia, diferenciando a incidência com base em fatores de risco como  idade, sexo e condição socioeconômica. Além disso, examinamos se o governo  está adotando medidas preventivas relacionadas à amebíase e descrevemos as  precauções necessárias para evitar a contaminação da água. 

Nesta pesquisa é temos como objetivo geral: avaliar a incidência da  amebíase no Amazonas, e objetivos específicos: Analisar os tipos de  contaminação pela amebíase no Brasil, demonstrar o nível e incidência da  doença na região amazônica e investigar estratégias para diminuir a prevalência  da amebíase. 

2. METODOLOGIA 

Neste estudo, adotaremos uma abordagem bibliográfica qualitativa. Isso  implica na realização de uma revisão da literatura e na análise de materiais  obtidos em diversas fontes, incluindo a SciELO – Scientific Electronic Library,  PubMed, Bireme, Google Acadêmico, periódicos científicos, monografias,  documentos de congressos, legislações, dissertações, revistas científicas e  informações do Ministério da Saúde (MS), todos publicados no período de 2013 a 2023. 

A pesquisa será realizada entre os meses de Agosto à Dezembro de 2023. Para a delimitação do tema foram utilizados os seguintes descritores: incidência da amebíase, infecção parasitária, Brasil. 

Critérios de Inclusão da pesquisa  

➢ Pesquisas originais e completas sobre a temática da incidência da  amebíase, amazonas e infecção parasitária.  

➢ Artigos que estejam adequados a qualificação de evidência.  ➢ Pesquisas que estejam compreendidas entre o período de 2013 – 2023.  Critérios de Exclusão da pesquisa  

➢ Pesquisas de cunho de revisão narrativa/integrativa ou sistemática.  ➢ Pesquisas com conteúdo disponível apenas de resumos  

➢ Pesquisas do tipo relato de experiência ou opiniões técnicas. ➢ Artigos que estejam fora do alcance do tema.  

Instrumentos e Coleta de Dados.  

Existem alguns instrumentos e etapas a serem seguidas para a melhor  condução da fase de coleta de dados, são eles: 

1º Etapa – Nesta etapa utilizou-se os descritores: incidência da amebíase,  amazonas e infecção parasitária.  

2º Etapa – Quando delineados os artigos gerais, os mesmos passaram  pela fase dos critérios de inclusão e exclusão da pesquisa para que se pudesse  deixar apenas os artigos mais importantes para os resultados e discussão.  

3 º Etapa – Os artigos que foram selecionados para os resultados irão  passar pela fase de qualificação de evidências para que os mesmos apresentem  seu nível de evidência científica.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 

3.1 A incidência da amebíase 

A amebíase é uma doença parasitária causada pelo protozoário  Entamoeba histolytica, com significativa morbimortalidade em humanos. Sua  distribuição geográfica abrange predominantemente regiões tropicais,  subtropicais e de clima quente, onde as condições de higiene e educação  sanitária são geralmente consideradas deficientes e precárias. Conforme as  estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 45  milhões de pessoas são afetadas por essa enfermidade, resultando em 100 mil  óbitos anuais, o que a posiciona como a segunda principal causa de morte por  infecção provocada por protozoários/parasitas (BRASIL, 2021). 

O parasita afeta principalmente o cólon, ocasionando colite e disenteria.  Contudo, o Entamoeba histolytica pode migrar pela corrente sanguínea e atingir  outros órgãos, como fígado, pulmões, coração e cérebro, gerando complicações  como abscesso hepático (a manifestação extraintestinal mais comum),  amebíase pulmonar, pericardite e abscesso cerebral. Caso não sejam  diagnosticadas e tratadas precocemente, essas condições podem resultar na  morte do paciente, ressaltando a importância da prevenção da doença (3). 

Dado que os estudos sobre amebíase na literatura frequentemente se  concentram em populações locais e faixas etárias específicas, o objetivo deste  estudo é proporcionar uma visão estatística atualizada e abrangente da taxa de  internação e mortalidade por amebíase nos Estados brasileiros nos últimos cinco  anos. 

A região Norte do Brasil carece de estudos em comparação com outras  partes do país, o que torna ainda mais crucial a importância dos resultados  obtidos nesta pesquisa. Além disso, essa pesquisa proporcionará uma  compreensão mais profunda das características e desafios específicos da região  (BRASIL, 2021). 

Essa alta prevalência da amebíase está diretamente relacionada,  principalmente, à parcela da população que vive em condições precárias. Além  disso, fatores ambientais desempenham um papel significativo, incluindo  habitação inadequada, tipo de solo e variações climáticas, que são elementos  intrínsecos à vida cotidiana na região Amazônica (BRASIL, 2021). 

Entre esses fatores de risco, destaca-se o saneamento básico como um  dos indicadores mais importantes de predisposição à infecção parasitária, uma  vez que a contaminação e a disseminação dos parasitas frequentemente  ocorrem através da ingestão de água contaminada. Além desses elementos,  essas populações também enfrentam desafios como a subalimentação,  educação precária e acesso limitado aos cuidados de saúde. A combinação  desses fatores resulta em uma qualidade de vida deficiente (BRASIL, 2021). 

3.2 Sinais e sintomas de contaminação  

O período de tempo decorrido entre a ingestão dos cistos e o  aparecimento dos sintomas da amebíase pode variar consideravelmente, indo  de alguns dias a vários anos, o que torna difícil definir um período de incubação  preciso na maioria dos casos. No entanto, é importante notar que a maioria das  pessoas infectadas com E. histolytica não desenvolve quaisquer sintomas,  permanecendo assintomáticas durante todo o curso da infecção. Essa  variabilidade de apresentações clínicas está relacionada à existência de cepas  polimórficas do parasita, que diferem em seu potencial de causar doença, bem  como a fatores relacionados ao hospedeiro, que determinam sua suscetibilidade  à infecção (BRASIL, 2021). 

A resposta imune inata desempenha um papel crucial no controle da  infecção, prevenindo a invasão tecidual e, consequentemente, mantendo um estado de portador assintomático. No entanto, isso não impede a formação de  anticorpos específicos contra a E. histolytica (BRASIL, 2018). Um dos sintomas mais comuns da amebíase intestinal é a colite amebiana  aguda, caracterizada por dores abdominais intensas e fezes contendo uma  grande quantidade de muco e sangue. Esse quadro costuma persistir por um ou  dois dias e pode estar acompanhado de náuseas, vômitos, mal-estar e cefaléia.  Posteriormente, os indivíduos infectados passam a apresentar múltiplas  evacuações com fezes mucosas e em pequeno volume, e é possível observar  uma diarréia aquosa profusa contendo sangue. Outros sintomas incluem dor  abdominal, perda de peso, anorexia e febre, que ocorre em cerca de 40% dos  casos.  

A invasão dos trofozoítos na mucosa colônica pode resultar em  hemorragias macroscópicas, que podem ser detectadas até mesmo em crianças  sem histórico de diarreia. Em situações mais graves, a colite amebiana pode  evoluir para a perfuração da parede intestinal, manifestando-se como íleo  paralítico e deslocamento da mucosa, caracterizando um quadro de colite  fulminante. Muitos estudos apontam que a taxa de mortalidade pela colite  amebiana fulminante é superior a 40%. Pacientes imunossuprimidos e gestantes  estão em maior risco de desenvolver essa forma grave da doença. Além dessas  condições, alguns autores também destacam o diabetes mellitus (DM) e o  consumo crônico de álcool como fatores de risco (BRASIL, 2018). 

Geralmente, a disenteria amebiana aguda é autolimitante, cessando no  início da doença e dando lugar a um período de quiescência ou latência. Nessa  fase, é comum ocorrer constipação intercalada com episódios de diarreia, com  fezes que contêm muco e sangue. Esse estado pode persistir por semanas ou  meses e é geralmente denominado colite amebiana subaguda. Eventualmente,  a fase aguda pode ser reativada, com sintomas semelhantes aos iniciais  discutidos anteriormente. Esse padrão de evolução caracteriza a forma crônica  da amebíase, que pode ocorrer após um episódio agudo ou ser crônica desde o  início da infecção. Além dos sintomas mencionados, a forma crônica pode incluir  emagrecimento, falta de apetite, astenia, dores abdominais e flatulência  (BRASIL, 2018). 

Na amebíase hepática, os principais sintomas englobam dor ou sensação  de peso no hipocôndrio direito e rigidez dos músculos abdominais na região hepática. Aproximadamente 25% dos pacientes apresentam diarréia, náuseas,  vômitos e, ocasionalmente, icterícia. Outros sinais e sintomas característicos  incluem dor à palpação do fígado, contagem de leucócitos variável, febre de  baixa intensidade e intermitente, e perda de peso. Em casos mais graves, a  infecção pode levar à necrose do tecido hepático, resultando em caquexia e, em  situações extremas, ao óbito (BRASIL, 2018). 

3.3 Estratégias para prevenção da amebíase  

No ambiente doméstico, é crucial adotar práticas de higienização  adequada dos alimentos crus, a fim de evitar a ingestão de cistos maduros. Para  garantir a correta higienização de frutas e verduras, recomenda-se a utilização  de substâncias como permanganato de potássio ou iodo, misturados à água. A  Organização Mundial da Saúde (OMS) sugere que, em comunidades com  recursos financeiros limitados, é fundamental direcionar todo o investimento  disponível para a melhoria do saneamento básico (NEVES, 2016). 

Nesse sentido, o biomédico que desempenha suas funções na atenção  básica desempenha um papel crucial ao adotar uma abordagem diferenciada em  relação a diversos tipos de doenças, investigando suas origens e causas  subjacentes. É de sua responsabilidade promover uma série de ações e  atividades educativas, visando instruir a população e prevenir a disseminação  dessas enfermidades (NEVES, 2016). 

Através da promoção da educação em saúde, é possível fomentar a  conscientização na atenção primária, reconhecendo que cada indivíduo que  procura essa atenção busca sua própria autonomia. É fundamental destacar que  a saúde é um conceito multidimensional (NEVES, 2016). 

4. Dados estatísticos sobre o índice da amebíase no amazonas  Portanto, mesmo que os dados indiquem uma redução nas internações  durante o período de estudo, ao considerar a prevalência e distribuição em todas  as regiões, o cenário é preocupante em termos clínicos e de transmissibilidade  da patologia. Assim, torna-se imperativo priorizar políticas que reduzam a  desigualdade entre as regiões, respaldando o (re)desenho de ações  redistributivas para refletir nas condições de saúde da população e reduzir a vulnerabilidade a doenças diretamente relacionadas às condições  socioeconômicas e ambientais (IPEA, 2019). 

Além disso, apesar de as internações por amebíase serem um indicador  importante da saúde da população, a prevalência de óbitos pode ser atribuída a  questões de qualidade e acessibilidade dos serviços de saúde (CASTRO et al.,  2019).  

Shirley et al. (2019) destacam a problemática do diagnóstico impreciso da  colite amebiana em relação à Doença Inflamatória Intestinal (DII) devido ao  conhecimento limitado dos profissionais de saúde sobre essas doenças, que  muitas vezes são indistinguíveis.  

Cavalcante et al. (2020) e Carvalho et al. (2022) associam o uso de  corticosteroides, amplamente utilizado no manejo das DII, à evolução da  amebíase para formas graves e fatais, ressaltando a necessidade de um  diagnóstico preciso e acompanhamento adequado dos afetados. 

Outros aspectos apontados por Shirley et al. (2019) que impactam a  prevalência de óbitos incluem a falta de medicamentos efetivos para os estágios  invasivos da doença e a ausência de uma vacina. No que diz respeito ao  diagnóstico e manejo dos casos, a subnotificação é uma realidade em vários  países, especialmente no Brasil, comprometendo o conhecimento do cenário  epidemiológico e a continuidade das ações e serviços em saúde com base na  realidade local (SOUZA et al., 2020).  

Diante disso, considerando a manutenção das internações entre 2018- 2019 e a diminuição nos anos seguintes (2020-2021), pode-se inferir que a  subnotificação e subdiagnóstico das amebíases são impactos diretos do  contexto pandêmico da Covid-19, com implicações futuras nos óbitos e nas  internações, conforme indicado pela (SBMT, 2021). 

Considerando a problemática relacionada ao diagnóstico e manejo dos  casos, uma situação presente em diversos países, especialmente no Brasil, é a  subnotificação, representando uma lacuna no entendimento do cenário  epidemiológico e no desenvolvimento contínuo de ações e serviços de saúde  com base na realidade local (SOUZA et al., 2020).  

Nessa perspectiva, ao analisar os dados do presente estudo, que indicam  a manutenção das internações entre 2018-2019 e uma diminuição nos anos  subsequentes (2020-2021), é possível inferir que o subdiagnóstico e a subnotificação das amebíases são reflexos diretos do contexto pandêmico da  Covid-19. A Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (2021) destaca a forte  influência desse contexto nas Doenças Tropicais Negligenciadas, sugerindo que  os impactos futuros nos óbitos e internações podem ser avaliados. 

Ao analisar as internações e mortalidade por Unidade Federativa no  Brasil, considerando os indicadores de saneamento básico e de saúde, observa se que a taxa de internação geral por 100 mil habitantes (2010-2021) foi mais  elevada no Pará/PA (103,2/100 mil) e Maranhão/MA (102,2/100 mil), enquanto  as demais Unidades Federativas variaram entre 0,8/100 mil e 49,8/100 mil.  

Quanto à mortalidade (2010-2019), destacou-se o Acre/AC, com 3,4/100  mil, enquanto as demais variaram entre 0,03/100 mil e 1,5/100 mil. Em relação  aos indicadores de saneamento, a cobertura total de água foi mais alta em  Paraná/PR e Santa Catarina/SC (100%, cada), seguidos por Distrito Federal/DF  (99%), Rio Grande do Sul/RS (97,7%), São Paulo/SP (96,5%), Tocantins/TO  (93,9%), Goiás/GO (90,9%) e Rio de Janeiro/RJ (90,5%), enquanto as demais  variaram entre 33,7% e 87,6%. Para o esgotamento sanitário, as maiores  frequências foram observadas em SC (100%), DF (90,9%) e SP (90,6%), e em  relação à coleta de resíduos, essa variou entre 73% e 97,7%. 

A partir do panorama apresentado, os dados anteriormente mencionados  são reforçados, evidenciando a maior vulnerabilidade das regiões Norte e  Nordeste devido às condições socioeconômicas, refletidas nas menores taxas  de renda e cobertura de plano de saúde. Essas circunstâncias podem ter impacto  direto nos casos de óbito, considerando desafios de acessibilidade aos serviços  de saúde (BRASIL, 2020). 

A situação ambiental nessas regiões, geralmente caracterizada pelos  piores indicadores de saneamento básico, amplifica a preocupação. Em  particular, destaca-se a deficiência no esgotamento sanitário, que se manifesta  de forma incipiente em 100% dos estados dessas regiões, com cobertura abaixo  de 41%. Além disso, pontos críticos de precariedade no abastecimento de água,  sobretudo na região Norte, onde 57,1% dos estados apresentam cobertura  inferior a 65% (RO, AC, PA e AP), podem contribuir para as taxas de internações  por amebíase nessas localidades. Esse cenário é agravado pela maior  incidência dessa infecção em nível nacional e pela relação direta entre a amebíase e a ausência de serviços de saneamento adequados (Ferreira et al.,  2021). 

Conforme Paiva e Souza (2018) e Mass e Filho (2020), a ausência de  saneamento e gestão ambiental apropriados está associada à sobrecarga de  casos, óbitos e internações por doenças de veiculação hídrica, em particular, as  amebíases.  

O Instituto Trata Brasil (2020) revela que o Brasil registrou mais de  273,400 mil internações apenas em 2019, indicando um aumento em  comparação ao ano anterior, resultando em aproximadamente R$108 milhões  em despesas hospitalares. Nesse contexto, Nordeste e Norte destacam-se como  recordistas em doenças causadas pela falta de saneamento, com 42,3 mil e  113,7 mil internações em 2019, respectivamente, e gastos adicionais superiores  a R$42 milhões e R$15 milhões com hospitalizações. Isso evidencia de maneira  clara os impactos do saneamento inadequado na manutenção das internações,  gerando custos desnecessários para os serviços de saúde. 

5. Resultados comparativos entre os Estados. 

Ao comparar os dados registrados nos anos de 2012 e 2016 para cada  Estado, observou-se um aumento nas internações em Roraima, Amazonas,  Rondônia, Piauí, Rio Grande do Norte e Bahia. Em contrapartida, houve uma  redução nos casos de internação nos estados do Acre, Pará, Amapá, Tocantins,  Maranhão, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Minas Gerais,  Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Mato  Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal. 

Quanto ao sexo, as notificações foram mais frequentes no sexo feminino,  representando 51,89% do total, enquanto o sexo masculino registrou 48,1%. Em  relação à faixa etária, as crianças de 1 a 4 anos apresentaram o maior número  de casos, totalizando 3.140, seguidas pelas faixas etárias de 5 a 9 anos, com  1.495 casos. A partir dos 20 anos, observou-se uma diminuição gradual nas  notificações de amebíase a cada década, sendo o menor valor registrado na  faixa etária de 80 anos ou mais (Gráfico 1). 

Gráfico 1. Internações por amebíase nos Estados brasileiros de 2012 a 2016.

Fonte: autoria própria. 

Quanto à taxa de mortalidade, o índice nacional alcançado foi de 0,57,  distribuído da seguinte forma ao longo dos anos: 0,42 em 2012, 0,53 em 2013,  0,47 em 2014, 1,08 em 2015 e 0,60 em 2016. A Região Sul se destacou com a  maior taxa, atingindo 2,16, seguida pelas Regiões Sudeste (1,92), Nordeste  (0,58), Norte (0,57) e Centro-Oeste (0,55). Notavelmente, alguns Estados não  registraram casos de mortalidade, incluindo Amapá, Pará, Roraima, Rondônia,  Acre, Piauí, Rio Grande do Norte, Alagoas, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul  e Distrito Federal. 

Entre os Estados que registraram mortalidade na região Norte, o  Amazonas apresentou a taxa mais elevada (1,02), enquanto Tocantins registrou  a menor (0,99). No Nordeste, Sergipe e Maranhão destacaram-se com as  maiores e menores taxas, respectivamente, registrando 5,26 e 0,1. Na Região  Sudeste, o Rio de Janeiro notificou 7,81 casos de mortalidade, em contraste com  São Paulo, que apresentou 1,31 casos. O Rio Grande do Sul, juntamente com  Sergipe, liderou as estatísticas de mortalidade no país, registrando 5,26,  enquanto o Paraná exibiu a menor taxa na Região Sul, com 0,92. 

No Centro-Oeste, o Mato Grosso registrou uma taxa de 1,22, enquanto  Goiás apresentou 0,68 (Figura 3). A maioria dos Estados, incluindo Amazonas,  Tocantins, Maranhão, Ceará, Paraíba, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São  Paulo e Goiás, testemunhou um aumento na mortalidade ao comparar os valores  entre o primeiro e o último ano. Em contraste, Pernambuco, Paraíba e Rio  Grande do Sul experimentaram uma diminuição nos índices ao longo do período  estudado. 

Assim como no caso das internações, as mulheres tiveram uma taxa de  mortalidade mais elevada (0,68), enquanto para os homens a taxa foi de 0,47.  No entanto, é importante destacar que, em todas as faixas etárias, exceto entre  20 a 29 anos e acima de 70 anos, o sexo masculino superou o feminino em  mortalidade. Além disso, as faixas etárias de 5 a 9 anos, 10 a 14 anos e 15 a 19  anos não apresentaram registros. A maior taxa de mortalidade foi observada  acima de 80 anos (4,59), enquanto a menor ocorreu na faixa etária de 1 a 4 anos. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Com base nos dados apresentados, mesmo com a redução das  internações e mortalidade ao longo do estudo, a amebíase persiste como um  desafio para a saúde pública, dada a sua ocorrência e manutenção anual,  registrada em todas as unidades federativas do Brasil.  

Este problema é especialmente preocupante nos estados do Norte e  Nordeste, onde as condições precárias de saneamento básico, as limitações  socioeconômicas e de saúde criam um ambiente propício para a incidência da  patologia. Além disso, considerando o impacto significativo da doença em ambos  os sexos, com destaque para crianças e idosos como os grupos mais afetados  em termos de internações e óbitos, fica evidente a necessidade de alterações no  padrão de vida oferecido à população, visando desestruturar esse cenário de vulnerabilidade. 

Nesse sentido, destaca-se a importância da expansão e aprimoramento  dos serviços de saúde, com foco na resolutividade, promoção e prevenção em  saúde, especialmente na educação em saúde. Igualmente crucial é a  universalização do acesso ao saneamento básico para toda a população.  

Apesar de uma compreensão abrangente das correlações entre  indicadores socioeconômicos, ambientais e de saúde, pesquisas futuras são  imprescindíveis para esclarecer e aprimorar o entendimento da amebíase no  país, incluindo seus determinantes de vulnerabilidade. A utilização desses e  outros indicadores de saúde pode contribuir para alterar o cenário de prevalência  subestimada e o contexto desconhecido que envolve as amebíases. 

REFERÊNCIAS 

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Cavalcante, R. M. S., Moura, M. S. B & Nogueira, N. N. Retocolite ulcerativa e  citocinas: uma revisão de literatura. Research, Society and Development.  2020. 

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Neves, David Pereira. Parasitologia Humana. 13 ed. São Paulo. Editora  Atheneu, 2016. 

Shirley, D. T., Watanabe, K & Moonah, S. Significance of amebiasis: 10  reasons why neglecting amebiasis might come back to bite us in the gut.  PLoS Negl Trop Dis. 2019. 

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Souza, C. S. S., Bandeira, L. L. B., Mariano, A. K. N., Nunes, M. P. S. F & Neto,  J. S. S. Amebíase no contexto da emergência: análise do perfil de internações e  morbimortalidade nos Estados brasileiros em 5 anos. Rev Soc Bras Clin Med.  2020. 

Paiva, R.F. P. S & Souza, M. F. P. Associação entre condições socioeconômicas,  sanitárias e de atenção básica e a morbidade hospitalar por doenças de  veiculação hídrica no Brasil. Cad. Saúde Pública. 2018.


1 Discente: Elenilda S. Santos. 20002978@uniltonlins.br,Orcid: 0009-0002-5843-1527;
2 Docente: Viviane Marinho dos Santos. Viviane.santos@uniniltonlins.edu.br, Orcid:0000-0001-8538-7651