REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10835712
Daniel de Camargo Loureiro1
Elvy Ferreira Soares Neto2
Rommayolle Costa Diniz de Sousa3
Sacha da Silva Soares4
Silvia Helena Abib de Camargo Loureiro5
RESUMO
A pseudociência na saúde carece de base científica forte, ao contrário da medicina baseada em evidências que exige provas concretas. Esses tratamentos pseudocientíficos podem prejudicar a saúde pública, levando as pessoas a evitarem terapias comprovadas. Há uma exploração financeira nesse campo, vendendo produtos ineficazes. A falta de regulamentação adequada permite práticas não éticas e desvia recursos da pesquisa legítima. Apesar disso, alguns tratamentos pseudocientíficos podem parecer funcionar devido ao efeito placebo. Destaca-se a importância de promover a medicina baseada em evidências, regulamentar práticas médicas e educar o público para avaliar criticamente as alegações de saúde. A homeopatia é criticada por falta de evidências confiáveis para sua eficácia.
Palavras-chave: pseudociência; homeopatia; tratamento holístico; homeopatia; psicanálise; dor crônica; jejum;
1. INTRODUÇÃO
A pseudociência muitas vezes carece de evidências científicas robustas para apoiar suas alegações, ao contrário da medicina baseada em evidências que exige rigor científico. Isso foi discutido em “Evidence-Based Medicine: A New Approach to Teaching the Practice of Medicine” publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA) em 1992. A promoção de tratamentos pseudocientíficos pode prejudicar a saúde pública, levando as pessoas a evitar tratamentos médicos comprovados.
Nesse jaez, na área da saúde muitas vezes é usada como uma oportunidade para a exploração financeira, onde produtos ou serviços ineficazes são vendidos. O livro “Snake Oil Science: The Truth About Complementary and Alternative Medicine” de R. Barker Bausell explora essa questão. A pseudociência na saúde contribui para a disseminação de informações incorretas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aborda a desinformação em saúde e seus impactos negativos em sua página “Vaccine Misinformation: 10 Common Arguments Reviewed”.
Em muitos países, as práticas pseudocientíficas na área da saúde não são regulamentadas de maneira adequada. Isso foi discutido em “Regulating Complementary and Alternative Medicine” publicado no British Medical Journal (BMJ) em 2001. Práticas pseudocientíficas podem envolver pacientes em tratamentos não éticos. A revista “Ethical and Scientific Issues of Placebo” publicou um artigo em 2008 que aborda a ética em tratamentos sem base científica.
A atenção e os recursos destinados à pseudociência podem desviar recursos valiosos da pesquisa e desenvolvimento de tratamentos legítimos. Isso foi discutido em “Science and Pseudoscience in Adult Clinical Psychology” publicado em “Psychological Science” em 2002. Outrossim, Alguns tratamentos pseudocientíficos podem parecer funcionar devido ao efeito placebo. O Journal of General Internal Medicine publicou “Placebos Without Deception: A Randomized Controlled Trial in Irritable Bowel Syndrome” em 2010, que discute esse fenômeno.
Esses problemas destacam a importância de promover a medicina baseada em evidências, regulamentar práticas médicas de forma adequada e educar o público sobre como avaliar criticamente as alegações de saúde para tomar decisões informadas. A pseudociência na área da saúde pode representar um risco real para a saúde e o bem-estar das pessoas. Desta feita, ressaltam-se a homeopatia e o tratamento holístico: A homeopatia é frequentemente criticada pela falta de evidência científica sólida que comprove sua eficácia. Em 2015, a National Health and Medical Research Council (NHMRC) da Austrália concluiu que “não há evidência confiável de que a homeopatia seja eficaz em tratamentos que envolvam o uso de substâncias que não tenham efeito terapêutico.”
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Do manifesto mundial contra as pseudociências
As evidências de que valer-se de técnicas sem embasamento científico para métodos de tratamento sejam um erro fatal, não poderiam estar mais em enfoque nos últimos anos. Nessa esteira, destaca-se o Manifesto Mundial Contra a Pseudociência na Saúde (Leia-se MANIFESTO AGAINST PSEUDOSCIENCES IN HEALTH), conforme precisamente aponta BAIMA, 2020:
Um grupo de quase 3 mil médicos, cientistas e outros especialistas de 44 países lançou nesta segunda-feira, 19 de outubro de 2020, o primeiro manifesto mundial contra a pseudociência na saúde. A iniciativa, coordenada por mais de dez instituições de defesa da medicina baseada em evidências e do pensamento crítico e cético sediadas na Europa, traz um alerta para os perigos da oferta e promoção de tratamentos ditos “alternativos” à medicina convencional – como homeopatia, reiki, iridiologia, biomagnetismo e terapia ortomolecular, entre outros – para os pacientes e pede a revogação de leis e regulamentações que permitem e estimulam a disseminação destas práticas nos países do continente.
Extrai-se da reportagem feita por Cesar Baima, que as preocupações acerca do assunto permeiam o cenário global, como uma vanguarda que compromete a saúde em níveis mundiais. O Manifesto em epígrafe conta com 2750 signatários de 44 países e possui relevância expressiva, desde seu gérmen. A título explicativo, as seguintes informações foram obtidas pela versão oficialmente disponibilizada em língua inglesa (ERNST, Edzard, 2020), por evidente, o presente estudo usará uma tradução livre em suas abordagens.
Conforme aponta a publicação de ERNST (2020), A pseudociência tem consequências graves e letais, muitas vezes devido à falta de regulamentação na Europa. Pessoas são prejudicadas, como o caso de Francesco Bonifaz, um menino de 7 anos que morreu após receber homeopatia em vez de antibióticos. A diretiva europeia 2001/83/CE permite a impunidade das pseudoterapias, colocando em risco a saúde dos cidadãos. Essa situação levanta preocupações sobre a ética e a responsabilidade na promoção de tratamentos não baseados em evidências científicas.
No texto disponibilizado por Edzard, de acordo com uma pesquisa recente, aproximadamente 25,9% dos europeus recorreram a pseudo-terapias no último ano, resultando em cerca de 192 milhões de pacientes enganados. Há quem argumente que a remoção das pseudo-terapias entra em conflito com a liberdade de escolha no tratamento, mas isso não se sustenta. Conforme estabelecido no artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, todo indivíduo tem o direito a cuidados médicos, e enganar pacientes ao vender produtos ineficazes, que podem causar danos fatais, viola seu direito fundamental à informação precisa sobre sua saúde. Portanto, embora um cidadão tenha o direito de recusar tratamento médico quando bem informado, ninguém tem o direito de mentir visando lucro à custa da vida de outra pessoa.
O Publicador oficial do trecho em ancoragem nativamente inglesa, propõe que somente em um cenário onde a desonestidade com pessoas doentes seja considerada ética, a continuidade da venda de homeopatia ou outras pseudo-terapias aos cidadãos seria justificável. Além disso, o perigo das pseudo-terapias não se limita à substituição de tratamentos eficazes por abordagens não comprovadas. Evidenciam-se atrasos significativos no início de tratamentos terapêuticos quando indivíduos recebem produtos não respaldados em detrimento de medicamentos adequados para o tratamento de doenças em estágios iniciais (ERNST, 2020).
Em tradução livre, o Manifesto em questão, alega:
Mentir para uma pessoa doente não é outro tipo de medicina, é simplesmente mentir para uma pessoa doente. Cada país precisa enfrentar a questão das pseudo-terapias à sua maneira. No entanto, não é aceitável que as leis europeias protejam a distorção dos fatos científicos para que milhares de cidadãos sejam enganados ou até levados à morte. Nós, os signatários deste manifesto, declaramos o seguinte: 1. O conhecimento científico é incompatível com o que as pseudo-terapias postulam, como no caso da homeopatia. 2. As leis europeias que protegem a homeopatia não são aceitáveis em uma sociedade científica e tecnológica que respeita o direito dos pacientes de não serem enganados. 3. A homeopatia é a pseudo-terapia mais conhecida, mas não é a única nem a mais perigosa.
Restam evidenciados, desse modo, os malefícios causados pela divulgação, uso e propagação de técnicas pseudocientíficas.
2.2 Dos problemas advindos do tratamento holístico e demais métodos sem evidência aplicados à saúde
O tratamento holístico e a homeopatia, como já evidenciado, muitas vezes se baseiam em princípios não científicos, como a ideia de que “semelhante cura o semelhante” na homeopatia. Isso levanta preocupações sobre a validade dessas abordagens, como destacado por Edzard Ernst, um crítico da homeopatia e ex-professor de medicina complementar na Universidade de Exeter: “Os princípios básicos da homeopatia são altamente improváveis e em grande parte inconsistentes com conhecimentos consolidados da física e da química.”.
O uso exclusivo da homeopatia ou tratamentos holísticos em detrimento da medicina convencional pode resultar em atrasos no tratamento de condições sérias. A NHS (National Health Service) do Reino Unido adverte que “recomendar tratamentos não comprovados e não regulamentados, como a homeopatia, pode levar a atrasos em receber tratamento médico apropriado.”
No entanto, faz-se necessário dar um embasamento prévio para que se entenda melhor do que se trata o método de homeopatia. Nos termos de ORTEGA (2018), De acordo com os defensores da homeopatia, essa abordagem inicialmente aborda a causa da doença, não as manifestações clínicas no organismo, com a alegação de que melhora o sistema imunológico, tornando o próprio corpo mais eficaz na luta e eliminação do agente infeccioso. Além disso, a homeopatia é descrita como um método holístico, econômico e acessível em qualquer local geográfico. Os homeopatas, ao buscar o remédio homeopático apropriado, consideram todos os sintomas característicos de cada caso individual. Os princípios fundamentais dessa doutrina são considerados inalteráveis e transmitidos por tradição desde os tempos de Hipócrates.
A homeopatia, segundo ORTEGA, se baseia na concepção miasmática, que reconhece a importância de tratar a constituição do paciente nas doenças crônicas por meio da individualização de um remédio que abrange suas diversas manifestações clínicas. O termo “miasma” deriva do grego “miainein”, que significa manchar ou corromper, e os homeopatas fazem uma analogia entre os miasmas e as emoções mórbidas ou pútridas que surgem de pântanos. Nesse contexto, as doenças são classificadas em dois tipos de miasmas, aqueles que causam doenças agudas e aqueles responsáveis por doenças crônicas. (Ochoa Ortega Max Ramiro. Análisis sobre la homeopatía como ciencia o pseudociencia. AMC [Internet]. 2018 Jun)
Isto posto, o autor reforça que conforme apontado por opositores da homeopatia, existem argumentos que colocam em dúvida a eficácia da medicina homeopática. Em uma preparação homeopática, como previamente detalhado, a substância é extensamente diluída, com cada estágio de diluição resultando na ausência de um princípio ativo mensurável. Frequentemente, as diluições empregadas são extremamente elevadas. Além disso, os críticos da abordagem homeopática notam que cientistas e filósofos frequentemente tendem a tratar a superstição, pseudociência e anticiência como fenômenos inofensivos. Desta feita, alega:
De acordo com a constante de Avogadro, citada por Young, existe um número definido de unidades elementares de átomos ou moléculas em um mol de uma substância. Como esse número é constante, ele contradiz os efeitos da homeopatia, especialmente quando se demonstra que a maioria das preparações consiste principalmente de água1.
Outro campo que se deve atentar, incidente mais precisamente na saúde mental, é o da psicanálise, esta sendo, basicamente, segundo SANTOS (2021), nos termos do próprio Freud, “a profissão de pessoas leigas que curam almas”. Se extrai da máxima citada que Freud nunca propôs a psicanálise enquanto ciência, vez que, por não ser falseável, não pode ser filtrada substancialmente pelo método científico, para tanto, a psicanálise carece de evidências. Nas palavras de FERREIRO, et al; 2022:
a própria Associação Psicanalítica Internacional admite que a maioria das hipóteses psicanalíticas não passou por testes empíricos, tendo portanto uma base de fundamentação obscura, além de que a principal fonte de construção da teoria consiste exatamente no trabalho clínico psicanalítico
Assim sendo, os autores em epígrafe reforçam que, de acordo com análises críticas da psicanálise, as evidências empíricas em apoio a essa abordagem são escassas, com a maioria das pesquisas empíricas limitando-se a terapias derivadas da psicanálise. A literatura carece significativamente de evidências extraclínicas substanciais que respaldem seus postulados teóricos. Tentativas de pesquisa empírica, como o estudo de Shevrin et al. (2013)2, mencionado por Dunker3, não conseguem fornecer um suporte sólido à psicanálise, muitas vezes apresentando limitações metodológicas notáveis, incluindo amostras reduzidas, falta de randomização e ausência de grupos de controle.
Além disso, é importante ressaltar o papel das evidências na teoria psicanalítica, que, segundo FERREIRA, et al (2022), são inexistentes. Historicamente, pontuam os autores, as correções nos pressupostos teóricos e clínicos da psicanálise não foram motivadas por descobertas científicas sólidas que refutavam suas premissas, nem pela aquisição de evidências que exigiam revisões teóricas. Em vez disso, essas mudanças teóricas foram predominantemente influenciadas por fatores não relacionados ao conhecimento científico, como pressões culturais e a tendência de se alinhar com a visão cultural predominante da época. Assim, mesmo na ausência de evidências robustas em apoio aos
postulados psicanalíticos, essa falta de respaldo científico não tem sido uma razão suficiente para os psicanalistas abandonarem suas teorias (FERREIRA, et al.2022).
Nesse sentido, os autores defendem que um tratamento clínico supostamente bem sucedido, advindo de uma metodologia psicanalista, viria por questões alternativas e categoricamente alheias ao método psicanalítico.
Cumpre reforçar, desse modo, que não pode o paciente permitir-se ser negligenciado pelo tratamento psicanalista em fulcro principal de sua saúde mental, quando muito, deve este ser usado de modo subsidiário e despretensioso, cenário que não afastaria o uso de métodos genuinamente voltados ao tratamento e manutenção da saúde psicológica.
2.3 Afinal, o que realmente funciona? O uso validado do jejum para o alívio de dores crônicas
Nessa etapa do presente estudo, cumprem evidenciadas as motivações que permitem concluir-se pela não aplicabilidade dos tratamentos pseudocientíficos acima expostos, vez em que, resta ao referido paper, tratar acerca de técnicas atípicas e, que não obstante, efetivamente baseiam-se em evidências.
Primordialmente, dar-se-á enfoque à benesse do jejum, conforme apontam Regina; Antonio (2018) diversos estudos e análises científicas indicam que períodos de jejuns supervisionados, variando de 7 a 21 dias com uma ingestão nutricional diária de 200 a 500 kcal, demonstram eficácia no tratamento de diversas condições, como obesidade, doenças reumáticas, síndromes de dores crônicas, hipertensão e problemas metabólicos.
Além disso, esses jejuns são associados à desaceleração e prevenção de doenças crônicas degenerativas e inflamatórias, incluindo abordagens complementares no tratamento do câncer. Entre os benefícios identificados, destaca-se a capacidade de aprimorar o estilo de vida e facilitar a adoção de dietas mais saudáveis, contribuindo para melhorias no humor e na saúde mental. Esses jejuns, especialmente os prolongados, desencadeiam estímulos fisiológicos que ativam respostas endócrinas e neurais, desde sinalizações moleculares até respostas sistêmicas. Nesse contexto, cinco hipóteses têm sido propostas para elucidar os mecanismos subjacentes aos benefícios do jejum, incluindo resistência ao estresse, estresse oxidativo, indução de respostas adaptativas celulares e orgânicas à escassez alimentar, autofagia e acumulação de produtos resultantes da glicação avançada (v. 12 n. 23 (2018): Uniamérica Conquista sua Maturidade).
O fulcro da abstenção de calorias por períodos prolongados está exactamente associado ao processo de autofagia, hodiernamente utilizado para a renovação de tecidos, por exemplo. Nesses termos, (LONGO; MATTSON, 2014), pontuam: “estudos recentes apontam o papel do jejum nas respostas de adaptação celular, capazes de influenciar a redução da inflamação e danos oxidativos, otimização da energia metabólica e melhora na proteção celular.”.
Para tanto, faz-se indispensável sintetizar os estágios do jejum, conforme apontam os autores supramencionados, quais sejam, cinco estágios distintos que delineiam a utilização sequencial de substratos energéticos pelo organismo. O primeiro estágio, conhecido como período prandial, com duração de aproximadamente 4 horas, está associado à absorção de glicose proveniente da alimentação. Subsequentemente, no estágio pós-prandial, entre 4 e 16 horas, à medida que a glicose proveniente dos alimentos se esgota, o corpo recorre ao glicogênio para manter os níveis sanguíneos de glicose, iniciando a gliconeogênese. Este terceiro estágio, estendendo-se de 16 horas até quase o segundo dia de jejum, é caracterizado pelo predomínio da glicose produzida pela gliconeogênese hepática e renal. No quarto estágio, o fígado começa a gerar corpos cetônicos, liberando-os na corrente sanguínea. O quinto e último estágio, conhecido como conservação proteica, é marcado pela utilização dos corpos cetônicos como fonte de energia pelos tecidos, reduzindo a degradação de proteínas. Esses estágios delineiam a transição sequencial de substratos energéticos durante o jejum, evidenciando a adaptação metabólica do corpo em resposta à ausência de alimentação (LONGO; MATTSON, 2014).
Nos moldes dos autores em ênfase, tem-se que:
A prática do jejum produz resultados adversos mínimos, tratando-se de recurso seguro e eficaz […] promove também ativação neuroendócrina, melhor resposta ao estresse celular, produção ampliada de fatores neurotróficos, redução de estresse mitocondrial oxidativo, redução do envelhecimento e promoção de autofagia. […] Como se observa, os potenciais benefícios advindos dos processos biológicos resultantes do jejum transcendem o tratamento da obesidade. Existem evidências que apontam que, além da perda de peso, o jejum promove melhorias em toda a saúde, incluindo a redução de diversos fatores de risco como os de problemas cardíacos, metabólicos e de diabetes. […] O jejum é eficaz no tratamento de doenças reumáticas, síndromes de dores crônicas e metabólica, hipertensão, desaceleração e prevenção de doenças crônicas degenerativas e inflamatórias (HARRIS et al, 2018; MICHALSEN; LI, 2013).
Por evidente, o denominador comum do estudo em epígrafe é precisamente o fato do jejum estar elencado cientificamente no rol de caráter extensivo de métodos efetivamente comprovados, no tratamento de dores crônicas (mesmo que seus benefícios ocupem patamar significativamente maior, em diversas circunstâncias).
Michalsen e Li (2013) apresentam, dentre as hipóteses que venham a justificar o uso do jejum para o alívio das condições em tela, a autofagia e a acumulação de produtos finais de glicação: o primeiro, diz respeito ao “processo catabólico que envolve a degradação de componentes celulares através do lisossoma. Age na condição de mecanismo de sobrevivência sob condições de estresse, mantendo integridade celular pela regeneração de precursores metabólicos, limpando impurezas subcelulares e, assim, prevenindo morte celular”. O segundo, por sua vez, seria “derivado das reações entre os macronutrientes dietéticos; a ligação entre AGEs e receptores resulta em ativação celular, ou seja, expressão ampliada de mediadores inflamatórios e estresse oxidativo” (MICHALSEN; LI, 2013).
Cumpre elucidado, desse modo, que a prática do jejum demonstra evidente embasamento no âmbito científico, para fins de alívio de dores crônicas.
3. CONCLUSÃO
O embate entre a pseudociência e a medicina baseada em evidências tem sido um tema crucial e atual, gerando debates intensos sobre as implicações na saúde pública e no bem-estar individual. A pseudociência, caracterizada pela ausência de fundamentação científica robusta em suas práticas, tem sido alvo de preocupação por diversos setores acadêmicos e científicos. Esta preocupação foi recentemente expressa no Manifesto Mundial Contra a Pseudociência na Saúde, onde mais de 3 mil especialistas alertaram sobre os perigos dessas práticas alternativas à medicina convencional.
A falta de regulamentação adequada em muitos países permite que a pseudociência na área da saúde prospere, muitas vezes explorando financeiramente aqueles em busca de tratamentos. A oferta e a promoção de tratamentos ditos “alternativos” levam as pessoas a desconsiderarem métodos médicos comprovados, resultando em riscos à saúde pública e em casos trágicos, como o do menino Francesco Bonifaz, que faleceu após receber homeopatia em vez de antibióticos.
O uso difundido de pseudoterapias coloca em evidência a disseminação de informações incorretas sobre saúde. A falta de evidências científicas e regulamentação adequada torna-se evidente, impactando a liberdade de escolha no tratamento, mas colocando em risco a vida dos pacientes. A necessidade de educar o público para avaliar criticamente as alegações de saúde é crucial, destacando a importância da medicina baseada em evidências e da responsabilidade ética na promoção de tratamentos comprovados.
Ademais, tratamentos como homeopatia e terapias holísticas têm sido criticados por sua falta de base científica sólida. Apesar de alegações de eficácia por parte de seus defensores, a evidência científica confiável não sustenta suas práticas. A homeopatia, por exemplo, foi considerada ineficaz pela National Health and Medical Research Council (NHMRC) da Austrália, devido à ausência de evidências de seu efeito terapêutico. Além disso, métodos como a psicanálise enfrentam desafios similares, carecendo de evidências empíricas substanciais para respaldar suas premissas, o que levanta questões sobre sua eficácia e validade como tratamento médico.
Portanto, os debates em torno da pseudociência na saúde ressaltam a necessidade urgente de priorizar a medicina baseada em evidências, regulamentar práticas médicas de forma adequada e promover a educação do público para discernir entre abordagens com embasamento científico sólido e práticas sem comprovação. A saúde e o bem-estar das pessoas dependem da capacidade de fazer escolhas informadas e baseadas em evidências, evitando assim os perigos e os prejuízos decorrentes do emprego de métodos pseudocientíficos.
4. METODOLOGIA
O paper adotou uma metodologia descritiva que se concentrou na análise aprofundada e na compreensão detalhada de conceitos, teorias e perspectivas existentes relacionadas ao tema em questão. A abordagem descritiva permitiu uma investigação minuciosa das informações coletadas de fontes diversas, incluindo livros especializados, artigos científicos e sites acadêmicos de renome. Essa metodologia enfatizou a organização sistemática e a apresentação clara das informações obtidas por meio de revisões bibliográficas criteriosas, oferecendo uma visão ampla e detalhada do assunto em análise.
A pesquisa bibliográfica desempenhou um papel fundamental na sustentação da metodologia adotada no paper. Através da análise de uma ampla gama de fontes de alta qualidade, os autores puderam embasar suas argumentações, teorias e conclusões. A utilização de livros, artigos revisados por pares e sites acadêmicos confiáveis permitiu a triangulação das informações, garantindo maior validade e confiabilidade aos dados apresentados no estudo. Além disso, essa abordagem proporcionou uma visão holística do tema, integrando diferentes perspectivas e contribuições de especialistas no campo de estudo.
Ao se apoiar em uma metodologia descritiva e na pesquisa bibliográfica, o paper pôde oferecer uma análise abrangente e embasada sobre o assunto em questão. A seleção criteriosa das fontes utilizadas proporcionou uma fundamentação sólida para as discussões e análises apresentadas, permitindo aos leitores uma compreensão mais aprofundada e embasada do tema. Além disso, a metodologia adotada demonstrou a rigidez do processo de pesquisa, evidenciando a relevância das fontes consultadas e a coerência na construção do conhecimento apresentado no trabalho acadêmico.
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