A IMPORTÂNCIA DOS PROTOCOLOS NUTRICIONAIS PARA IDENTIFICAÇÃO DO ESTADO DE DESNUTRIÇÃO DE PESSOAS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202503281036


Jackson Gervasio Pires


Resumo

A desnutrição é definida como uma condição resultante da carência de nutrientes essenciais, o que pode provocar alterações na composição corporal, comprometimento das funções físicas e mentais, além de agravar o quadro clínico e piorar o prognóstico do paciente. É fundamental adotar estratégias voltadas à identificação precoce da desnutrição, como a triagem e o diagnóstico nutricional. Com base no exposto, esse trabalho tem como objetivo principal descrever a importância dos protocolos nutricionais para identificação do estado de desnutrição de pessoas. Trata-se de um estudo caracterizado como uma Revisão de Literatura narrativa. Com isso, identificou-se que quando a avaliação nutricional é realizada sem o suporte de um protocolo padronizado, pode haver atraso na intervenção nutricional, comprometendo a evolução clínica do paciente. Indivíduos em risco nutricional têm maior probabilidade de agravar o quadro da doença de base, desenvolver complicações, prolongar o tempo de internação e dificultar o processo terapêutico. Além disso, essa condição pode causar queda da imunidade, lentidão no processo de cicatrização e uma resposta menos eficaz ao tratamento, o que implica em custos hospitalares mais elevados. O estudo demonstrou que a implementação de protocolos padronizados na avaliação do estado nutricional de pacientes internados é de grande importância para o manejo clínico desses indivíduos.

Palavras-chave: Nutrição; protocolos nutricionais; desnutrição.

Summary:

Malnutrition is defined as a condition resulting from a deficiency of essential nutrients, which can lead to changes in body composition, impairment of physical and mental functions, as well as worsening the clinical condition and prognosis of the patient. It is essential to adopt strategies aimed at the early identification of malnutrition, such as screening and nutritional diagnosis. Based on this, the main objective of this study is to describe the importance of nutritional protocols for identifying the nutritional status of individuals. This study is characterized as a narrative literature review. It was found that when nutritional assessment is conducted without the support of a standardized protocol, there may be a delay in nutritional intervention, compromising the patient’s clinical progress. Individuals at nutritional risk are more likely to experience worsening of their underlying disease, develop complications, prolong hospitalization, and hinder the therapeutic process. Furthermore, this condition can lead to weakened immunity, slower wound healing, and a less effective response to treatment, resulting in higher hospital costs. The study demonstrated that implementing standardized protocols in the nutritional assessment of hospitalized patients is of great importance for the clinical management of these individuals.

Keywords: Nutrition; nutritional protocols; malnutrition.

INTRODUÇÃO 

A desnutrição é definida como uma condição resultante da carência de nutrientes essenciais, o que pode provocar alterações na composição corporal, comprometimento das funções físicas e mentais, além de agravar o quadro clínico e piorar o prognóstico do paciente. Essa condição pode estar associada a diversos fatores, como idade avançada, presença de doenças, ingestão alimentar insuficiente ou uma combinação desses elementos (GONYA; BARAM, 2015).

A ideia de que a saúde é um bem que depende principalmente do comprometimento e das atitudes individuais tem se tornado cada vez mais comum. No entanto, compreender esse princípio não garante que o indivíduo se responsabilize efetivamente por cuidar de sua própria saúde. Para manter o equilíbrio interno do organismo, é essencial a presença de nutrientes fundamentais, pois o funcionamento adequado do corpo exige gasto constante de energia (SBNPE, 2011). Essa energia é fornecida por uma alimentação variada e em quantidades adequadas, sendo essencial para garantir o desempenho funcional do organismo, promover a diferenciação celular e fortalecer os mecanismos de defesa dos tecidos (STEFANESCU et al., 2016).

O entendimento do processo saúde-doença está diretamente relacionado às concepções culturais e sociais que moldam os valores, as crenças e a visão de mundo de uma determinada sociedade. Isso significa que a forma como se interpreta a saúde reflete o pensamento predominante de uma época, ainda que possam coexistir diferentes abordagens para lidar com esse processo (ESPITIA, 2015).

É fundamental adotar estratégias voltadas à identificação precoce da desnutrição, como a triagem e o diagnóstico nutricional. A implementação de protocolos de triagem nutricional tem se mostrado uma ferramenta eficaz nesse processo, pois permite reconhecer precocemente o risco nutricional dos pacientes internados, contribuindo para um diagnóstico mais preciso e eficaz quando associado a métodos objetivos (PÉREZ et al., 2015).

O cuidado nutricional apresenta um grau de complexidade elevado, pois requer uma avaliação ampla do estado nutricional, com o intuito de alcançar um diagnóstico completo. Essa etapa pode demandar tempo e exige do profissional diversas investigações adicionais, indo além dos protocolos básicos. Ressalta-se que o diagnóstico nutricional não se limita a indicadores isolados, como medidas antropométricas, exames laboratoriais ou dados dietéticos, mas sim à integração de todas essas informações (PÉREZ et al., 2015).

Entre os principais instrumentos utilizados na triagem e avaliação do estado nutricional, destacam-se a Avaliação Subjetiva Global (ASG), o Nutritional Risk Screening (NRS) e os critérios do Global Leadership Initiative on Malnutrition (GLIM). A avaliação do estado nutricional desde a admissão hospitalar é essencial para detectar riscos nutricionais e, assim, viabilizar intervenções nutricionais adequadas, rompendo o ciclo entre desnutrição e agravamento da doença (FIGUEIRA et al., 2023).

Com base no exposto, esse trabalho tem como objetivo principal descrever a importância dos protocolos nutricionais para identificação do estado de desnutrição de pessoas.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo caracterizado como uma Revisão de Literatura narrativa, que possibilita a identificação, síntese e a realização de uma análise ampla na literatura acerca de uma temática específica. Dessa forma, foram utilizadas as seguintes etapas para sua elaboração: (1) delimitação do tema e construção da pergunta norteadora da pesquisa; (2) Identificação das publicações nas bases de dados selecionadas; (3) Triagem das informações obtidas; (4) leitura integral e análise dos estudos escolhidos; (5) inclusão dos trabalhos por meio de análise crítica e construção da revisão da literatura.

Para a construção deste estudo, foram utilizadas as seguintes bases de dados: Medline (PubMed), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS).

As estratégias de busca eletrônica foram conduzidas utilizando termos da língua portuguesa e inglesa de acordo com o MeSH (Medical Subject Headings), assim como seus equivalentes na língua portuguesa. O descritor primário “protocolos nutricionais” foi cruzado com o descritor secundário “desnutrição” associados através do operador booleano AND.

Os critérios de inclusão foram: trabalhos que discorreram sobre o tema proposto para o estudo, nos idiomas português, espanhol e inglês, com textos completos e disponíveis nas versões gratuitas.

Os critérios de exclusão foram: trabalhos que não contemplavam o objetivo proposto da pesquisa; que não tivessem aderência com a área pesquisa e que estivessem indisponíveis no momento da coleta e que, portanto, não teriam relevância para esse estudo.

A busca teve como resultado 266 artigos no Scielo; 390 artigos no PubMed e 102 no LILACS. Foram selecionados 40 artigos e o restante descartado pelo título. Após a leitura completa dos artigos, foram excluídos 10 por não contemplarem o tema proposto no estudo. Para elegibilidade, foram avaliados 24 artigos, desses, foram incluídos 15 para confecção desse artigo conforme demonstra o fluxograma 1.

Fonte: Autor, 2025.

RESULTADOS

Após o levantamento das literaturas buscou-se analisar os dados da pesquisa para se chegar ao objetivo do estudo. Os autores encontrados e selecionados estão expostos na tabela 1.

Tabela 1 – Autores usados no estudo

Autor/ dataObjetivometodologiaPrincipais Resultados
Gonya e Baram (2015)Avaliar a precisão dos registros de alimentação enteral, aumentar a educação em enfermagem e melhorar a documentação nutricional.estudo não controlado, prospectivo, pré e pós-intervençãoO estudo destaca a importância do monitoramento nutricional preciso na UTI e demonstra que intervenções educacionais podem melhorar os protocolos de alimentação enteral. Calibrações de bombas, interrogatórios frequentes e documentação nutricional vigilante podem melhorar o fornecimento de nutrição enteral.
Stefanescu et al. (2016)Avaliar os cuidados com recém-nascidos de muito baixo pesoestudocontroladoprospectivoUma estratégia usando um pacote nutricional abrangente melhorou o crescimento linear e do perímetro cefálico, reduziu a restrição de crescimento pós-natal e diminuiu as comorbidades em bebês MBPN.
Espitia (2015)Estudar as indicações e recomendações de suporte nutricional parenteral periférico e/ou complementar pronto para uso em pacientes submetidos à cirurgia.Revisão de literaturaA nutrição parenteral periférica pronta para uso é uma alternativa de suporte nutricional que melhora a ingestão proteico-energética, demonstra melhorias na segurança do paciente, reduz custos e aumenta a satisfação do paciente.
Pérez et al. (2015)Avaliar dados sobre a desnutrição clínicaRevisão de literaturaAtualmente, dispomos de extensas bases de dados geradas pelos Sistemas de Informação Clínica, o que nos permite conhecer o risco associado a cada doença e a cada processo terapêutico, assim como a combinação de ambos, relacionando-os aos desfechos clínicos em termos de morbidade, mortalidade, tempo de internação, reinternações e custos.
Figueira et al. (2023)Avaliação do estado nutricional e presença dedesnutrição em pacientes hospitalizadosFoi realizada visita ao leito de pacientes com idade superior a 20 anosForam encontradosníveis de risco nutricional/desnutrição entre 14,29% a 47,62% dos pacientes, conforme o métodode avaliação nutricional empregado. Apesar dos níveis consideráveis de desnutrição neste hospital,o estado nutricional não influenciou no tempo de internação. Foi possível verificar que o critérioGLIM possui concordância com outros métodos de triagem.
Aquino e Philippi (2011)Identificar fatores associados ao risco de desnutrição em pacientes internados.Estudo transversalOs fatores associados à desnutrição podem ser levantados no momento da internação e conduzirem a uma avaliação que permita uma adequada terapia de intervenção e recuperação nutricional.
Kondrup et al. (2003)Fornecer diretrizes para triagem de risco nutricional aplicáveis ​​a diferentes cenáriosRevisão de evidências publicadasA NRS 2002 é uma ferramenta que atende às exigências de um bom instrumento de rastreamento nutricional.
Putwatana et al. (2005)Comparar quatro ferramentas de triagem nutricional, a ClassificaçãoO estudo de 8 meses foi realizado em 430 pacientes submetidos à cirurgia abdominal.A Classificação de Risco Nutricional parece ser a melhor ferramenta de triagem nutricional para uso na previsão de complicações infecciosas e de feridas pós-operatórias.
Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (2011)Proporcionar aos profissionais da saúde uma visãogeral sobre a triagem e avaliação do estado nutricional dos pacientes, com base naevidência científica disponívelRevisão de evidências publicadasA importância da triagem e avaliação nutricional é reconhecida pelo Ministério da Saúde do Brasil, que tornou obrigatória a implantação de protocolos para pacientes.
Duchini et al. (2010)certificar critérios para avaliação e acompanhamento do estado nutricional de pacientes hospitalizados aceitos pela comunidade de pesquisadores, docentes e profissionais da área de nutrição clínicaquestionário via Internet, à comunidade científica, cadastrada na Plataforma LattesA aceitação dos procedimentos propostos fortalece o reconhecimento da necessidade de implantação de padrões para a avaliação e monitoramento nutricional nas instituições hospitalares.

Fonte: Autor, 2025

DISCUSSÃO

O risco nutricional está relacionado ao aumento da morbimortalidade decorrente do estado nutricional do paciente. Assim como é fundamental diagnosticar a desnutrição, é igualmente importante avaliar o risco de deterioração nutricional em pacientes que se encontram em situações potencialmente associadas a problemas alimentares. Essa avaliação considera a combinação do estado nutricional atual com a gravidade da doença apresentada, sendo o primeiro determinado por variáveis como o índice de massa corporal (IMC), perda de peso recente e ingestão alimentar durante a semana anterior à internação (GONYA; BARAM, 2015).

Em ambiente hospitalar, é essencial identificar pacientes em risco nutricional, pois essa detecção precoce permite a realização de intervenções nutricionais preventivas, que evitam a instalação da desnutrição por meio de ações direcionadas. A triagem nutricional, também chamada de rastreamento nutricional, é definida por entidades como a Associação Dietética Americana (ADA), o Comitê das Organizações de Saúde (JCHO) e a Iniciativa de Triagem Nutricional (NSI) como o processo de identificação de características associadas a problemas dietéticos ou nutricionais. Trata-se de um inquérito simples, realizado com o próprio paciente ou seus familiares, que tem como objetivo indicar a presença de risco nutricional, identificar mudanças na condição que possam afetar o estado nutricional e reconhecer fatores que possam provocar complicações relacionadas à nutrição (STEFANESCU et al., 2016).

A identificação precoce da desnutrição começa com a aplicação de um instrumento de triagem capaz de apontar o risco nutricional. Para esse fim, deve empregada a ferramenta Nutritional Risk Screening (NRS) 2002, recomendada pelo Protocolo de Atenção à Saúde – Assistência Nutricional de Adultos em Terapia Intensiva, conforme estabelecido na Portaria SES-DF nº 807, de 1º de outubro de 2019. Esse instrumento é amplamente reconhecido e de fácil utilização em pacientes em estado crítico. Ele avalia fatores como perda de peso, índice de massa corporal (IMC), porcentagem da ingestão calórica em relação às necessidades e a gravidade da condição clínica do paciente. Aqueles que alcançarem uma pontuação igual ou superior a três pontos serão considerados em risco nutricional, enquanto os que obtiverem pontuação inferior a três serão classificados como sem risco (DUCHINI et al., 2010).

A triagem nutricional tem como objetivo identificar pessoas que possam estar sob risco de desnutrição, indicando a necessidade de uma investigação nutricional mais aprofundada. Por outro lado, a avaliação nutricional é responsável não apenas por diagnosticar a desnutrição, mas também por determinar seu grau e coletar dados relevantes para sua correção. Diferente da triagem, que é mais rápida e objetiva, a avaliação do estado nutricional consiste em uma análise minuciosa de aspectos funcionais, metabólicos e nutricionais do indivíduo. Esse processo demanda mais tempo e deve ser conduzido pelo nutricionista, seguindo diretrizes previamente estabelecidas em protocolo (DUCHINI et al., 2010)

Pacientes considerados em risco por meio da triagem nutricional devem ser submetidos à avaliação nutricional, a fim de se classificar seu estado nutricional e planejar a terapia mais adequada. Para essa triagem, são utilizados dados objetivos como altura, peso, variações de peso, diagnóstico médico e presença de comorbidades (SBNPE, 2011). Já a avaliação nutricional vai além: identifica o estado nutricional do paciente e organiza as informações obtidas para a formulação de um plano terapêutico. Esse processo inclui a coleta de dados sobre histórico médico e nutricional, uso de medicamentos, exames físicos, medidas antropométricas e exames laboratoriais (ESPITIA, 2015).

Essa avaliação pode ser feita por meio de métodos convencionais consolidados na prática clínica e em estudos epidemiológicos, como o exame físico, história clínica, antropometria, exames laboratoriais, índices prognósticos e bioimpedância elétrica. Esses métodos são práticos, acessíveis financeiramente e refletem de maneira eficaz o estado nutricional. A Avaliação Subjetiva Global (SGA) é considerada o padrão-ouro para a avaliação do estado nutricional (FIGUEIRA et al., 2023).

É importante destacar que a triagem nutricional apenas detecta a presença de risco de desnutrição, enquanto a avaliação nutricional permite classificar o grau dessa condição e reunir dados que possibilitem sua correção. Mesmo que o paciente esteja apenas em risco nutricional, essa identificação já possibilita à equipe de saúde prevenir a progressão para a desnutrição, controlando o quadro antes que ele se agrave (AQUINO; PHILIPPI, 2011).

A ferramenta utilizada na avaliação nutricional deve ser válida (ou seja, medir exatamente o que se propõe), confiável (com baixa variação entre diferentes observadores), prática (de aplicação rápida e simples) e não apresentar informações redundantes. Ao escolher uma ferramenta de triagem nutricional, deve-se considerar sua completude e aplicabilidade. Avalia-se, por exemplo, o número de profissionais capacitados para aplicá-la, o tempo necessário para sua aplicação, a necessidade de recursos financeiros e se estes estão disponíveis na instituição, além de sua capacidade de detectar o risco com segurança (FIGUEIRA et al., 2023).

Para ser eficaz, a ferramenta de triagem nutricional deve estar incorporada à rotina dos profissionais de saúde. Apesar de demandar tempo da equipe, sua aplicação é mais simples e econômica do que exames laboratoriais e avaliações mais complexas de composição corporal. A NRS 2002 é uma ferramenta que atende às exigências de um bom instrumento de rastreamento nutricional. Seu diferencial está na inclusão da idade do paciente na pontuação final e na abrangência de todos os tipos de pacientes hospitalares, sejam clínicos, cirúrgicos ou de outras áreas (KONDRUP et al., 2003). 

Pode ser aplicada a qualquer paciente adulto, independentemente da doença ou da idade, e justamente por não excluir nenhum grupo específico, é considerada a técnica mais recomendada. Além disso, a NRS 2002 dá atenção especial aos idosos, acrescentando pontuação na avaliação desse grupo, que, por natureza, apresenta risco nutricional elevado com o avanço da idade. No entanto, uma dificuldade encontrada na aplicação dessa ferramenta está na obtenção de informações precisas sobre a perda de peso, como a velocidade com que ela ocorreu, pois nem sempre o paciente ou o informante tem esse dado (KONDRUP et al., 2003).

Na NRS 2002, a ingestão alimentar é quantificada em quartis, variando entre 50%-75%, 25%-50% e 0%-25%. A coleta dessas informações deve ser feita com perguntas indiretas, qualitativas e rápidas, como mudanças recentes na alimentação, consumo reduzido e perda de apetite. O entrevistador precisa estar treinado para aplicar a ferramenta corretamente, garantindo que o paciente compreenda as perguntas e responda com precisão. Em estudo realizado com idosos hospitalizados, verificou-se que aqueles classificados pela NRS 2002 como em risco apresentavam maior probabilidade de internações prolongadas, superiores a oito dias (KONDRUP et al., 2003).

A especificidade da NRS 2002 pode estar relacionada à sua capacidade de graduar o efeito das doenças. Em contraste, a MUST considera automaticamente pacientes com doenças agudas como de alto risco nutricional, o que pode superestimar esse risco e subestimar casos de risco médio. A MUST, além disso, apresenta baixa sensibilidade e especificidade. A MNA-SF continua sendo o padrão-ouro para avaliação de risco nutricional em idosos, grupo para o qual foi originalmente desenvolvida, enquanto a NRS 2002 mostra-se mais adequada ao ambiente hospitalar, tendo sido criada para pacientes internados que necessitam de suporte nutricional. A MNA-SF e a MUST podem ser aplicadas por qualquer profissional da saúde, mas não se aprofundam nas causas da hospitalização, como o diagnóstico e o tratamento em curso, uma vez que não foram desenvolvidas especificamente para o ambiente hospitalar (AQUINO; PHILIPPI, 2011).

Ferramentas como a URS e a HH-NAT foram criadas para serem aplicadas por profissionais da enfermagem e abrangem setores específicos relacionados à alimentação e à doença do paciente. No entanto, exigem treinamento técnico e o acesso a exames que, por vezes, não estão disponíveis nos prontuários ou não podem ser realizados devido à estrutura do hospital (PUTWATANA et al., 2005).

A MST, por sua vez, pode ser aplicada por qualquer pessoa, inclusive por acompanhantes ou funcionários administrativos. Por isso, é considerada inespecífica e pouco abrangente quanto à condição clínica do paciente. A avaliação da perda de peso feita pela MST é imprecisa, já que uma perda de até 5 kg recebe pontuação mínima, ainda que possa ser significativa para alguns grupos. Além disso, quando o paciente não sabe informar o quanto perdeu de peso, a pontuação tende a ser superestimada (PUTWATANA et al., 2005).

Os protocolos nutricionais representam diretrizes essenciais na avaliação de pacientes hospitalizados, em especial aqueles com câncer de cabeça e pescoço. Essas diretrizes auxiliam a equipe multiprofissional na identificação precoce de riscos e na tomada de decisões fundamentadas quanto ao melhor momento e método de intervenção nutricional, como a alimentação por sonda (SBNPE, 2011). Gonya e Baram (2015) destacam que a utilização de protocolos específicos, dentro de uma abordagem multidisciplinar, contribui significativamente para a efetividade da gestão nutricional e dos cuidados prestados aos pacientes internados. No mesmo sentido, Paltrinieri e colaboradores ressaltam que, ao se seguir protocolos nutricionais estruturados, é possível aprimorar a administração de medicamentos e garantir maior qualidade ao tratamento como um todo.

A pesquisa de Stefanescu et al. (2016) mostra que a intervenção nutricional precoce, baseada em protocolos abrangentes, pode promover melhorias na qualidade de vida de pacientes pediátricos. Em contrapartida, Pasinato et al. apontam que a ausência de protocolos nutricionais bem definidos, somada a fatores como dificuldades de motilidade gástrica, presença de diarreia e realização de procedimentos clínicos, pode levar à deficiência energética em pacientes internados. Ribeiro et al. complementam afirmando que, mesmo com protocolos já existentes em algumas instituições, muitas vezes não há uma concordância entre os profissionais de saúde quanto à sua aplicação. Essa falta de alinhamento decorre, geralmente, de lacunas no conhecimento teórico necessário para identificar e avaliar corretamente os problemas alimentares, além da dificuldade em diferenciar os fatores que os provocam. Também são apontados obstáculos como o desconhecimento do papel do nutricionista, má gestão dos protocolos, falta de treinamentos para a equipe multidisciplinar, ações desarticuladas entre os profissionais e pouca integração no ambiente hospitalar, o que compromete a sistematização das práticas de cuidado nutricional.

Espitia (2015) ressaltam que os protocolos nutricionais exercem papel fundamental na melhoria da qualidade de vida dos pacientes, contribuindo para a prevenção e o tratamento da desnutrição. Esses protocolos também permitem ajustar a rotina clínica diária de forma mais precisa. Amorim et al. reforçam que a implementação desses protocolos pode minimizar os impactos negativos decorrentes do estado nutricional comprometido dos pacientes e do jejum prolongado, acelerando, inclusive, o processo de recuperação pós-cirúrgica. Cançado observa que os protocolos interferem diretamente nas complexidades clínicas e metabólicas, influenciando o comportamento do gasto energético e proteico dos indivíduos internados. Assim, o uso de protocolos nutricionais adequados torna viável e funcional o manejo alimentar de pacientes adultos hospitalizados com nefropatia diabética crônica.

De acordo com Pérez et al. (2015), a prevenção da desnutrição em pacientes internados deve se basear no monitoramento constante por meio de ferramentas ágeis que identifiquem rapidamente mudanças nos fatores de risco. Contudo, Pineda e Vidal alertam que, na prática, os profissionais de nutrição nem sempre aplicam os protocolos de maneira completa, o que pode comprometer a melhora clínica, especialmente em pacientes com doenças vasculares cerebrais. Alguns estudos convergem para a relevância do uso dos protocolos nutricionais como fator determinante na evolução do quadro clínico de pacientes hospitalizados. A atenção a esse grupo é desafiadora, mesmo diante dos avanços da terapia nutricional e metabólica, pois a desnutrição continua sendo altamente prevalente. Essa condição afeta entre 30% e 65% dos pacientes internados, sendo a identificação precoce do risco nutricional um aspecto decisivo para a melhora e até mesmo a sobrevida do indivíduo.

Figueira et al. (2023) definem risco nutricional como qualquer condição ou diagnóstico que possa comprometer o estado nutricional do paciente. O déficit nutricional está relacionado com o aumento das infecções, maior tempo de internação, elevação dos custos hospitalares e aumento das taxas de morbidade e mortalidade. Diante da identificação da desnutrição em pacientes hospitalizados, torna-se indispensável o planejamento e a execução de um processo de reabilitação nutricional. Apesar das variações na forma de aplicação dos protocolos, todos os estudos analisados reconhecem a importância do cuidado nutricional e destacam a necessidade de cooperação entre os profissionais da saúde para promover a recuperação do paciente.

A perda de peso e a desnutrição durante a internação decorrem de múltiplos fatores, como o aumento das necessidades energéticas, redução da ingestão calórica e sintomas como náuseas, vômitos, diarreia, inapetência, saciedade precoce e disfagia. Além disso, a capacidade digestiva e absortiva dos nutrientes pode estar comprometida, somando-se aos períodos de jejum prolongado exigidos para exames e ao uso de medicamentos. O próprio ambiente hospitalar também influencia negativamente: horários fixos para alimentação, diferentes da rotina habitual do paciente, o tráfego de profissionais no momento das refeições e o desconforto causado pela internação contribuem para a queda da ingestão alimentar (FIGUEIRA et al., 2023).

As repercussões do déficit nutricional estão intimamente ligadas à evolução clínica do paciente, refletindo-se no aumento do risco de complicações após cirurgias, piora na qualidade de vida, elevação das taxas de morbimortalidade, prolongamento do tempo de internação e maior custo para os serviços de saúde. Diante disso, a identificação precoce de pacientes em risco nutricional torna-se essencial para que seja possível traçar um plano eficaz de terapia nutricional, com o objetivo de aprimorar a qualidade do atendimento prestado (AQUINO; PHILIPPI, 2011).

Quando ocorre depleção nutricional, observa-se uma diminuição da resposta imunológica, lentidão no processo de cicatrização, além de alterações importantes na composição corporal e no funcionamento dos órgãos, o que favorece o surgimento de infecções, escaras e outras complicações clínicas. Esses fatores, por sua vez, contribuem para o aumento da morbidade e mortalidade, além de estender o período de internação e elevar a taxa de reinternações, o que onera ainda mais o sistema de saúde (PUTWATANA et al., 2005).

Pacientes internados costumam apresentar condições que favorecem o surgimento ou agravamento da desnutrição, muitas vezes em ritmo acelerado, em razão da própria gravidade do quadro clínico que enfrentam. As mudanças no estado nutricional podem ser consequência tanto de uma ingestão insuficiente de nutrientes quanto de alterações metabólicas. Em ambas as situações, ocorre a perda de massa magra corporal, acompanhada de prejuízos estruturais e funcionais nos tecidos e órgãos envolvidos. A prevenção da desnutrição é crucial para evitar que essa condição se torne um fator adicional na falência orgânica e no agravamento do quadro clínico. Isso só é possível quando o risco nutricional é detectado precocemente, permitindo o fornecimento adequado de nutrientes — em quantidade e qualidade — conforme as demandas metabólicas do paciente, sobretudo no que se refere ao aumento do catabolismo proteico típico dessas situações (SBNPE, 2011).

Com base nos estudos analisados, verifica-se que a elaboração de protocolos nutricionais deve ocorrer por meio de formulários de evolução padronizados, adaptados à realidade da unidade hospitalar em questão. Esses formulários precisam contemplar dados como identificação do paciente, diagnóstico clínico, motivo da internação, histórico da doença atual e pregressa, exames bioquímicos, avaliação física e antropométrica, diagnóstico nutricional, cálculo das necessidades nutricionais, definição de metas e objetivos do cuidado nutricional, além da conduta a ser adotada. A padronização dessas informações no prontuário do paciente permite que todos os profissionais da equipe multiprofissional tenham acesso a dados completos, possibilitando intervenções mais precisas e coordenadas, com foco na integralidade do cuidado (DUCHINI et al., 2010).

CONCLUSÕES

O atendimento nutricional tem como principal objetivo promover a saúde do paciente por meio da manutenção ou recuperação do seu estado nutricional. Para alcançar esse propósito de maneira eficaz, é fundamental que o nutricionista disponha de um diagnóstico nutricional bem estruturado, uma vez que quanto mais preciso for esse diagnóstico, mais alinhada será a prescrição dietética com os objetivos terapêuticos estabelecidos.

Com base nas evidências levantadas pelos estudos analisados, que destacam a importância da utilização de protocolos nutricionais em pacientes hospitalizados, esta pesquisa reuniu diversos exemplos a fim de responder à hipótese inicialmente proposta. Assim, é possível afirmar que, quando a avaliação nutricional é realizada sem o suporte de um protocolo padronizado, pode haver atraso na intervenção nutricional, comprometendo a evolução clínica do paciente. Indivíduos em risco nutricional têm maior probabilidade de agravar o quadro da doença de base, desenvolver complicações, prolongar o tempo de internação e dificultar o processo terapêutico. Além disso, essa condição pode causar queda da imunidade, lentidão no processo de cicatrização e uma resposta menos eficaz ao tratamento, o que implica em custos hospitalares mais elevados.

O estudo demonstrou que a implementação de protocolos padronizados na avaliação do estado nutricional de pacientes internados é de grande importância para o manejo clínico desses indivíduos. Essa prática atende ao objetivo proposto, ao se mostrar como uma ferramenta capaz de avaliar a eficácia e a segurança das intervenções nutricionais, gerando resultados com respaldo científico, que podem ser replicados e aplicados em diferentes contextos, contribuindo para a redução de gastos e o aprimoramento da qualidade do cuidado nutricional prestado.

No entanto, para que esse processo ocorra de forma eficiente e integrada, é necessário que as informações coletadas sejam compartilhadas e trabalhadas por uma equipe multiprofissional, promovendo uma atuação conjunta em prol do cuidado ao paciente. Ainda assim, é importante ressaltar que a execução de todo esse processo depende da disponibilidade de recursos humanos, materiais e financeiros adequados.

Entre as ferramentas citadas para triagem nutricional, destaca-se a NRS 2002, considerada uma opção viável por poder ser aplicada a todos os pacientes hospitalizados, independentemente da enfermidade ou faixa etária. Essa ferramenta não acarreta custos adicionais ao serviço de saúde e pode ser utilizada por diversos profissionais, como nutricionistas, enfermeiros e médicos.

Cabe a cada profissional exercer senso crítico na escolha da técnica de triagem mais adequada ao contexto de atuação. É responsabilidade das instituições hospitalares padronizar os métodos de rastreamento nutricional e sistematizar sua aplicação, visto que a identificação precoce do risco de desnutrição contribui para a formulação de um tratamento nutricional mais eficaz, evita o agravamento do quadro clínico e favorece um melhor prognóstico para o paciente internado.

REFERÊNCIAS

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