A IMPORTÂNCIA DOS CUIDADOS HUMANIZADOS NA FISIOTERAPIA: ABORDAGENS INTEGRATIVAS PARA O BEM-ESTAR DO PACIENTE NA UTI

THE IMPORTANCE OF HUMANIZED CARE IN PHYSIOTHERAPY: INTEGRATIVE APPROACHES TO PATIENT WELL-BEING IN THE ICU

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202411281748


Érika dos Santos Ribeiro¹; Luyan Pinho do Nascimento²; Thamires Nathalia Pereira Nery³; Juliana Cristina de Oliveira⁴; Matheus Bastos Venturim⁵; Prof. Ingryd Raiany Silva de Oliveira⁶.


Resumo

O presente estudo investiga a importância dos cuidados humanizados no contexto da fisioterapia aplicada a pacientes em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), destacando o impacto das abordagens integrativas voltadas ao bem-estar holístico do paciente. O trabalho tem como objetivo principal analisar práticas que promovam a escuta ativa, a empatia, a comunicação clara e a personalização do tratamento, elementos fundamentais para uma reabilitação física, emocional, social e psicológica mais eficaz. A metodologia adotada baseia-se em uma revisão sistemática da literatura especializada, com o intuito de identificar as principais estratégias e intervenções que possam contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes críticos e para a otimização do processo terapêutico. Os resultados obtidos evidenciam que a implementação de práticas humanizadas no cuidado fisioterapêutico nas UTIs proporciona uma recuperação mais ágil e eficiente, fortalece o vínculo terapêutico entre o paciente e o profissional e promove uma maior adesão ao tratamento. Conclui-se que a humanização dos cuidados fisioterapêuticos constitui um elemento central para a melhoria dos resultados clínicos, além de proporcionar uma experiência de cuidado mais digna e integral, apontando para a necessidade de uma maior sensibilização e capacitação das equipes multiprofissionais nas UTIs.

Palavras-chave: Fisioterapia. Humanização. Unidades de Terapia Intensiva. 

1 INTRODUÇÃO

A humanização no ambiente hospitalar configura-se como uma ação de extrema relevância, abarcando tanto os profissionais que integram a equipe multidisciplinar quanto os pacientes que recebem o atendimento, uma vez que desde os tempos antigos, saúde e filosofia se entrelaçavam tanto no campo teórico quanto na prática profissional, discutindo, assim, o ethos – caráter, modo de ser, costumes e comportamento –, introduzindo na medicina as dialéticas entre bem e mal, justo e injusto, certo e errado. Logo, esses debates resultaram na formulação de normas de conduta que moldaram a vivência em sociedade, estabelecendo uma moral que ditava as leis, com a aplicação de sanções e códigos punitivos, principalmente a partir do período pós-medieval. Esses valores foram, por fim, absorvidos pelas profissões atuais (Menezes, 2000). 

Ademais, com o avanço tecnológico e científico tanto pacientes quanto profissionais da saúde se beneficiaram, contudo, observou-se também uma crescente fragmentação e mecanização do cuidado, pautado por rotinas e protocolos rígidos, muitas vezes em detrimento da relação humana. A melhoria hospitalar, nesse contexto, concentra-se predominantemente na estrutura física, negligenciando uma reforma interna que priorize o cuidado integral ao paciente (Maciak, Sandri e Spier, 2009). 

Portanto, a desumanização no campo da saúde tem se acentuado à medida que, no modelo biomédico, os pacientes são reduzidos a objetos da técnica, despersonalizados por uma investigação científica fria e objetiva, onde o saber técnico impõe o que é considerado benéfico, independentemente da vontade do paciente. Nesse cenário, o lucro torna-se o horizonte final do processo. Casate e Corrêa (2005) ressaltam a necessidade de humanizar as práticas em saúde, especialmente diante do desenvolvimento tecnológico, onde a singularidade do usuário – suas emoções, crenças e valores – é relegada a segundo plano, e a doença é tratada como um objeto de saber científico. Essa abordagem desumanizada reflete-se principalmente no atendimento e nas condições de trabalho, dificultando as relações humanas, tornando-as frias, objetivas, individualistas e calculistas.

Em resposta a esse cenário, o Ministério da Saúde lançou, em 1994, a Política Nacional de Humanização (PNH), denominada HumanizaSUS, com o objetivo de enfrentar o desafio de assegurar os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) e promover mudanças nos modelos de atenção e gestão. Essa política adota o conceito de clínica ampliada, que integra o sujeito e sua doença, bem como sua família e contexto, visando à produção de saúde e à ampliação da autonomia do paciente, da família e da comunidade. Entre suas estratégias estão a integração da equipe multiprofissional, o estabelecimento de vínculos com os pacientes, a elaboração de projetos terapêuticos personalizados e a ampliação dos recursos de interação no processo saúdedoença (Casate e Corrêa, 2005).

No âmbito da formação do fisioterapeuta, é necessário que ela transcenda a preparação técnica, enfatizando o cuidado com o ser humano em sua totalidade. O fisioterapeuta deve estar comprometido com a atenção integral ao paciente, considerando aspectos físicos, sociais, éticos e humanos. Apesar do uso de recursos tecnológicos, as mãos permanecem como o principal instrumento do fisioterapeuta, sendo elas responsáveis por cuidar, reabilitar, confortar e curar. O toque, essencial na relação profissional-paciente, contrasta com a supervalorização das máquinas e contribui significativamente para a humanização do atendimento (Benevides e Passos, 2005). 

Para mais, assim como qualquer outro profissional de saúde o fisioterapeuta deve estar sensibilizado e consciente da importância da humanização, reconhecendo o ser humano em sua integridade e singularidade, bem como aceitando suas reações psíquicas frente à enfermidade. O atendimento humanizado favorece a recuperação dos pacientes, devendo a fisioterapia se engajar nessa prática, uma vez que proporcionará inúmeros benefícios tanto para o paciente quanto para o próprio processo terapêutico. Portanto, a ressignificação da humanização é fundamental para qualificar o atendimento, promover a satisfação do profissional e do paciente, e conscientizar o fisioterapeuta a ver o paciente não como um simples objeto de sua atenção, mas como um ser humano que demanda cuidado holístico, considerando aspectos sociais, econômicos, culturais, familiares e espirituais, sempre embasado em um compromisso técnico, ético e político para com a comunidade e as pessoas (Deliberato e Tecklin, 2002).

Diante do exposto, este estudo tem como objetivo geral analisar a relevância dos cuidados humanizados no contexto da fisioterapia para pacientes em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), com ênfase em abordagens integrativas que visam o bem-estar holístico do paciente. Especificamente, busca-se examinar práticas que incorporam a escuta ativa, a empatia e a comunicação clara, além de explorar a personalização do tratamento como elemento central na promoção de uma recuperação física, emocional, social e psicológica mais eficaz. A metodologia consistirá em uma revisão sistemática da literatura especializada, com o intuito de identificar as principais estratégias e intervenções que contribuem para a melhoria da qualidade de vida e do processo de reabilitação de pacientes críticos. 

Ainda, espera-se utilizar como questão norteadora do estudo: “De que forma os cuidados humanizados e as abordagens integrativas podem impactar positivamente o processo de reabilitação e o bem-estar global dos pacientes em UTI no contexto da fisioterapia?” Ao investigar abordagens que privilegiam a humanização do cuidado, espera-se que a revisão sistemática da literatura revele evidências concretas sobre os benefícios dessas abordagens, destacando uma recuperação mais rápida e eficiente, bem como a melhoria da qualidade de vida dos pacientes em estado crítico. Ademais, espera-se maior adesão ao tratamento e fortalecimento da relação terapêutica, fatores que, em última instância, ampliam o alcance e a efetividade dos cuidados fisioterapêuticos em UTIs.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 HUMANIZAÇÃO NO CUIDADO À SAÚDE  

Inicialmente, é importante destacar a concepção de Corbani, Brêtas e Matheus (2009), ao afirmarem que “como humanos, o que realizamos é humano, sendo, portanto, próprio ao ser humano visar o bem-estar da humanidade, tanto individual como coletivamente; isso é o verdadeiro sentido de humanizar”. Os autores ressaltam que a humanidade se refere ao “espírito do homem, à essência humana, dotada de dignidade”. Quando essa essência é anulada, surge o conceito de “humanização”, utilizado para lidar com o processo de desumanização, assim, o termo “humanização” ou “cuidado humanizado” sugere, mais do que o cuidado em si, um meio de mitigar os efeitos adversos de um sistema que desumaniza o indivíduo. Essas autoras indicam que o processo de humanização implica o envolvimento profundo dos sujeitos, enquanto a desumanização ocorre quando o “ter” (riqueza) sobrepõe-se ao “ser” (conhecimento e a natureza humana em sua essência), ofuscando a condição humana em sua plenitude.

Nessa mesma linha de raciocínio, Souza e Moreira (2008) afirmam que a necessidade de humanização remete à ideia de algo perdido ou esquecido, que precisa ser resgatado: a dimensão pessoal, essa perspectiva é complementada por Casate e Corrêa (2012), que consideram a humanização como o reconhecimento da complexidade do ser humano, que inclui “respeito, acolhimento, empatia, escuta, diálogo, circunstâncias sociais, éticas, educacionais e psíquicas, além da valorização dos significados atribuídos pelo ser humano à sua experiência de adoecimento e sofrimento”. logo, para esses autores, a humanização privilegia a comunicação e o diálogo entre os envolvidos no processo de cuidado.

De acordo com Deslandes (2004), ao analisar os documentos do Ministério da Saúde sobre a humanização da assistência, verifica-se que o conceito de humanização está relacionado à qualidade do cuidado técnico, associado ao reconhecimento dos direitos do paciente, de sua subjetividade e das suas referências culturais. Além disso, envolve a valorização dos profissionais de saúde e do diálogo entre e dentro das equipes. Silva, Chernicharo e Ferreira (2011) complementam essa ideia ao afirmarem que o conceito de humanização está intrinsecamente ligado ao cuidado em si, visto que “cuidar não é apenas um procedimento técnico, mas é, principalmente, utilizar a minha humanidade para assistir o outro – como ser único, em sua dignidade”. Nesse sentido, surge a necessidade de incorporar as dimensões psicológicas, sociais, políticas, espirituais e éticas ao processo de cuidado, de modo a respeitar as subjetividades envolvidas.

Por outro lado, Ayres (2004) apresenta uma abordagem que ultrapassa o intercâmbio individual e propõe pensar o processo de humanização em um âmbito coletivo. Para ele, a humanização, além de suas implicações nas políticas de saúde e na gestão dos serviços, significa também transformar as ações assistenciais, é necessário integrar o saber técnico ao saber não técnico, reconhecendo que “a humanização passa pela radicalidade democrática do Bem comum., uma vez que não se cuida efetivamente de indivíduos sem cuidar de populações, e não há verdadeira saúde pública que não passe por um atento cuidado de cada um de seus sujeitos”.

Dessa forma, é possível perceber que, apesar de a literatura abordar amplamente o movimento de humanização na saúde, a análise realizada revela uma desvalorização do aspecto pessoal-emocional nas relações entre os indivíduos, assim, a realidade atual demonstra uma “naturalização do não reconhecimento do outro como um igual”, o que caracteriza a desumanização do cuidado (Souza; Moreira, 2008).

Corbani, Brêtas e Matheus (2009) enfatizam que “como a humanização é a prática do humano, falar em praticar o humano é evidenciar que o momento em que vivemos é de profunda desumanização, a ponto de ter de tomar o substantivo ‘humanização’ como verbo”. Nesse sentido, a saúde contemporânea necessita de profundas reflexões e transformações, dado que essas mudanças só se concretizarão quando o saber profissional, que envolve a subjetividade de quem cuida, se unir ao saber do paciente, que vivencia o processo de saúde-doença, em favor de um objetivo comum: a restauração da integridade do ser. Conforme assinalam Cotta et al. (2013), no contexto da realidade brasileira, a concretização dessa perspectiva encontra seu ponto culminante na formulação de uma política pública específica voltada à humanização das práticas de saúde, especialmente no que tange às diretrizes para a atuação dos profissionais. 

A necessidade de humanização como política pública emerge em um cenário em que, após uma avaliação do sistema de saúde brasileiro, verificou-se o despreparo dos profissionais para lidar com a dimensão subjetiva do cuidado, logo, esse despreparo resultava, em grande parte, da adoção de modelos de gestão centralizados e verticalizados, que privavam os trabalhadores de autonomia sobre seu próprio processo de trabalho (Brasil, 2004). Em resposta a esses desafios, foi criada a Política Nacional de Humanização (PNH), com três objetivos principais: enfrentar os desafios sociais relacionados à qualidade e dignidade do cuidado em saúde; redesenhar e articular as iniciativas de humanização no Sistema Único de Saúde (SUS); e enfrentar os problemas organizacionais e de gestão do trabalho em saúde, que impactavam negativamente tanto na produção de saúde quanto na vida dos trabalhadores (Pasche; Passos; Hennington, 2011). 

Assim, a Política Nacional de Humanização (PNH) propõe-se a analisar os serviços de saúde e seus modos de operação, observando-os de maneira crítica e colaborativa, juntamente com aqueles que integram e habitam esses serviços. Nesse contexto, a PNH não busca a idealização de um serviço de saúde perfeito ou um SUS idealizado, tampouco aceita qualquer forma de serviço. Ao contrário, incentiva os coletivos que compõem o SUS a colocar em discussão as diferentes formas de atuação nos serviços, a fim de instituir novas modalidades de trabalho em saúde. Essas novas práticas devem, como proposta ético-política, defender a vida e valorizar a produção da autonomia e do protagonismo dos sujeitos que constroem o sistema de saúde (BRASIL, 2006).

Essa transformação do SUS passa por estratégias fundamentais: a inclusão de todos os que atuam no sistema, abrangendo trabalhadores, gestores e usuários; a análise dos serviços e processos de trabalho locais, de modo a identificar os vetores que moldam as práticas vigentes; e o exercício do apoio institucional, que, segundo Campos (2007), visa à ressignificação das bases organizacionais e operacionais dos serviços de saúde, dado que o apoio institucional, nessa concepção, não se limita a ações normativas ou prescritivas, mas se coloca como um processo dinâmico e interativo, no qual o apoiador institucional colabora com as equipes, promovendo a cogestão e o fortalecimento dos coletivos.

No entanto, essa forma de apoio pressupõe a recusa de qualquer forma de tutela, privilegiando a autonomia e a corresponsabilidade dos diferentes sujeitos – trabalhadores, usuários e gestores – na produção de saúde. Como ressalta Campos (2007), o apoio institucional deve sempre envolver uma discussão crítica e contínua dos modos de gestão e das relações de trabalho, objetivando a criação de espaços coletivos para análise e intervenção. Dessa forma, a PNH busca não apenas viabilizar a reorganização dos processos de trabalho, mas também garantir a qualidade da atenção oferecida aos usuários, promovendo uma gestão verdadeiramente partilhada e inclusiva.

2.2 FISIOTERAPIA EM UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA 

As Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) foram concebidas com o objetivo de proporcionar atenção contínua e suporte avançado aos pacientes em estado crítico, cujas vidas se encontram em risco iminente. Para tanto, essas unidades fazem uso de recursos de alta tecnologia que auxiliam ou substituem as funções vitais dos órgãos. O progresso científico, nesse contexto, é inegavelmente benéfico, como ressaltam Ribeiro e Rego (2008), uma vez que sem a tecnologia aplicada à recuperação da saúde e à manutenção da vida, a expectativa de vida dificilmente teria aumentado de forma tão significativa nos últimos cinquenta anos, para mais, ddos indicam que a expectativa de vida aumentou em cerca de 25 anos e, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estima-se que até 2050 esse número subirá para 31 anos.

Contudo, a rotina estabelecida nesses centros de tratamento intensivo é extremamente rigorosa, devido à necessidade de monitorização contínua dos pacientes graves, assim, essa rotina inviabiliza a presença de acompanhantes, bem como a utilização de pertences pessoais pelos pacientes, além de exigir dos profissionais e visitantes um comportamento mais contido, com o intuito de minimizar possíveis complicações (Ribeiro; Rego, 2008). Além disso, é importante destacar as características físicas que compõem esse ambiente, como os ruídos constantes – provenientes tanto das vozes dos profissionais quanto dos alarmes das aparelhagens –, o odor característico, resultado da combinação de desinfetantes, medicações e secreções, e a iluminação artificial intensa, que, juntamente com janelas sempre fechadas, impede a entrada de luz natural, ainda a temperatura ambiente, geralmente fria e mantida constante, também contribui para tornar o ambiente pouco acolhedor e humanizado (Pessini, 2004).

Conforme observado por Pessini (2004), não é incomum encontrar ambientes tecnicamente perfeitos, porém desprovidos de alma e de ternura humana, visto que esse cenário de desumanização do cuidado se torna ainda mais evidente nas UTIs, onde a predominância do domínio operacional dos aparelhos e a execução de procedimentos técnicos frequentemente afastam o cuidador do ser cuidado. Diante dessa realidade, cabe ao profissional de saúde inserido nesse contexto a responsabilidade de promover um atendimento que reduza o desconforto e a vulnerabilidade, aliviando o sofrimento tanto do paciente quanto de seus familiares (Toffoletto et al., 2005).

Na década de 1970, reconheceu-se a relevância da fisioterapia nos hospitais, o que torna esse período particularmente importante para a inserção da fisioterapia no Brasil, com seu rápido crescimento na década subsequente, consolidou-se como uma especialidade indispensável em todas as instituições hospitalares, sendo obrigatória sua presença nas equipes de cuidados intensivos. Conforme observa Sarmento (2007), essa nova atuação da fisioterapia intensiva brasileira promoveu uma integração multiprofissional e interdisciplinar significativa, exigindo dos fisioterapeutas um maior aprofundamento de estudos e aprimoramento para que fossem reconhecidos com respeito pelos demais membros da equipe, e para que pudessem oferecer uma assistência resolutiva aos pacientes críticos.

No atendimento multidisciplinar oferecido aos pacientes internados em unidades de terapia intensiva (UTIs), o fisioterapeuta desempenha um papel essencial em diversos segmentos do tratamento intensivo. Suas funções incluem o atendimento a pacientes que não necessitam de suporte ventilatório, a assistência durante e após a recuperação pós-cirúrgica, com o objetivo de prevenir complicações respiratórias e motoras, bem como a assistência a pacientes graves que necessitam de suporte ventilatório (Sabetzki; Cicotoste, 2008).

Baseando-se na alta complexidade dos atendimentos realizados pela fisioterapia em terapia intensiva e no grande número de ocorrências clínicas e admissões que ocorrem ao longo de 24 horas, além da melhoria nos indicadores clínicos e financeiros, e em conformidade com as exigências jurídicas, a Associação Brasileira de Fisioterapia Cardiorrespiratória e Fisioterapia em Terapia Intensiva (ASSOBRAFIR) recomenda a presença de fisioterapeutas nos centros de terapia intensiva (CTIs) adulto, pediátrico e neonatal, com carga horária ininterrupta de 24 horas. Em consonância, a Portaria GM/MS nº 3432, de 12 de agosto de 1998, estabelece a obrigatoriedade de um fisioterapeuta para cada 10 leitos, destinado aos cuidados necessários, além disso, os fisioterapeutas estão sujeitos a uma carga horária máxima de 30 horas semanais de trabalho, conforme disposto na Lei nº 8.856/94 (COFFITO).

De acordo com a complexidade do quadro clínico, o paciente crítico pode permanecer na UTI por um período prolongado, o que o predispõe a várias complicações resultantes da imobilidade, dado que esse estado de imobilização prolongada é prejudicial, levando à rápida redução da massa muscular e da densidade mineral óssea, além de comprometer outros sistemas do corpo, essas manifestações tornam-se visíveis já na primeira semana de internação, contribuindo para o declínio funcional e para a redução da qualidade de vida. Além disso, a fraqueza muscular generalizada é uma complicação que afeta entre 30% e 60% dos pacientes internados em UTIs, podendo persistir por até dois anos após a alta hospitalar, o que acarreta impactos negativos na função física desses pacientes. Ademais, aqueles com força muscular periférica reduzida tendem a permanecer mais tempo sob ventilação mecânica. Entretanto, esses efeitos deletérios da imobilidade podem ser revertidos ou atenuados pela atuação do fisioterapeuta (Machado et al., 2017).

O tratamento fisioterapêutico hospitalar visa evitar os efeitos negativos do repouso prolongado no leito, estimular o retorno mais rápido às atividades físicas cotidianas, manter a capacidade funcional, desenvolver a confiança do paciente, diminuir o impacto psicológico, prevenir complicações pulmonares, maximizar as chances de alta precoce e estabelecer as bases para um programa de reabilitação domiciliar (Lima et al., 2011). Ademais, na fisioterapia intensiva, é fundamental destacar que, para alcançar resultados positivos no tratamento, é necessário avaliar as condições clínicas do paciente e, assim, traçar um plano terapêutico adequado às suas necessidades (Cunha et al., 2007).

Entre as várias terapias empregadas nas UTIs por esses profissionais, destaca-se o estímulo à tosse, conhecido como tic-traqueal, que é realizado por meio de estimulação manual dos receptores da tosse localizados na região da traqueia. Esse procedimento envolve um movimento lateral da traqueia durante a fase inspiratória, sendo indicado para pacientes com reflexo de tosse diminuído, com o intuito de evitar o acúmulo de secreções nas vias aéreas e, consequentemente, facilitar a troca gasosa (Lopes et al., 2009).

Outra conduta empregada na fisioterapia intensiva é a pressão expiratória (PE), também denominada Terapia Expiratória Manual Passiva ou Compressão Expiratória, esse procedimento consiste em deprimir passivamente o gradil costal do paciente durante uma expiração forçada, especialmente na fase final da expiração, pode ser realizado com o paciente em diferentes posições: decúbito dorsal, lateral ou sentado. Assim, o principal objetivo da pressão expiratória é promover a desinsuflação pulmonar, o que, fisiologicamente, leva à redução do espaço morto e, consequentemente, do volume residual (VR). Além disso, há um aumento do volume corrente (VC) e uma ventilação pulmonar mais eficaz, o que resulta em melhor oxigenação do sangue, dado que essa manobra busca também melhorar a mobilidade da caixa torácica e auxiliar na mobilização de secreções (Liebano et al., 2009).

Outro aspecto relevante na fisioterapia intensiva é o treinamento de endurance ou aeróbico, que envolve o aumento progressivo da carga sobre os músculos respiratórios ou apendiculares, frequentemente comprometidos durante a internação em terapia intensiva. essa conduta visa à reabilitação funcional, com o intuito de restabelecer uma boa resistência muscular, essencial para a qualidade de vida após a alta hospitalar. No entanto, esse treinamento deve ser realizado de forma progressiva e seguindo protocolos estabelecidos (Jerre et al., 2007).

Na mesma perspectiva, destaca-se a mobilização precoce, que, quando realizada me- diante avaliação adequada e com uma conduta terapêutica eficaz, pode aumentar a força muscular e reduzir o tempo de internação na UTI, ainda estudos indicam que pacientes que recebem intervenção fisioterapêutica no período pré-operatório apresentam menos complicações em comparação àqueles que recebem apenas no pós-operatório (Lima et al., 2011).

O campo de atuação do fisioterapeuta na unidade de terapia intensiva é vasto, e os indicadores dos benefícios de sua assistência são cada vez mais expressivos, conforme novas pesquisas são publicadas, assim como já foi demonstrado, por exemplo, que o custo estimado por paciente durante uma primeira internação na UTI é reduzido quando os serviços de fisioterapia estão disponíveis de forma contínua (Rotta et al., 2018).

Dado que o paciente na UTI apresenta instabilidade clínica, o fisioterapeuta, conforme previsto na legislação (Resolução COFFITO n° 80/87, art. 2°), tem permissão para solicitar exames complementares vinculados à sua atividade profissional, dado que a solicitação desses exames tem como objetivo proporcionar uma avaliação sistemática do paciente, permitindo reajustes ou alterações nas condutas terapêuticas quando necessário, de forma a adequá-las às condições clínicas observadas (COFFITO).

3 METODOLOGIA 

Para Clarke e Horton (2001) uma revisão sistemática da literatura científica é uma modalidade de investigação científica que visa reunir, avaliar criticamente e sintetizar os resultados de múltiplos estudos primários, com propósito central de responder a uma questão claramente definida, por meio de métodos rigorosos e explícitos, que envolvem a identificação, seleção e avaliação criteriosa das pesquisas pertinentes, além da coleta e análise dos dados provenientes dos estudos incluídos na revisão. Dessa forma, o presente estudo é dedicado à análise criteriosa de artigos, livros e periódicos publicados no período de 2000 a 2024, com o foco na humanização dos cuidados fisioterapêuticos em pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), assim, o levantamento bibliográfico foi realizado nas bases de dados LILACS, MEDLINE e SciELO, utilizando descritores amplamente relevantes ao tema, como “fisioterapia”, “humanização”, “UTI”, “cuidado integral”, “bem-estar do paciente” e “abordagens integrativas”. Ainda, as buscas contemplaram tanto publicações em língua portuguesa quanto inglesa, e foram utilizadas combinações de descritores, com o intuito de garantir a amplitude e a precisão dos resultados encontrados.

Ademais, os critérios de inclusão dos estudos selecionados abarcaram: (a) discussões sobre a humanização no contexto das UTIs; (b) abordagens integrativas e inovadoras aplicadas à fisioterapia de pacientes críticos; (c) revisões sistemáticas e ensaios clínicos que discutem os efeitos da humanização na recuperação de pacientes; (d) pesquisas que exploram a relação entre o bem-estar físico, emocional e social dos pacientes e as abordagens humanizadas; e (e) intervenções terapêuticas que enfatizam a escuta ativa, a empatia, a comunicação clara e a personalização do cuidado fisioterapêutico, como também foram excluídos os estudos que não abordaram a fisioterapia ou que apresentaram uma desconexão com o conceito de humanização nas UTIs.

Após o processo de seleção, as referências foram cuidadosamente organizadas e analisadas quanto à sua relevância, validade científica e pertinência ao tema proposto, posteriormente o corpus bibliográfico resultante foi examinado sob diversos recortes, como a procedência dos autores, os veículos de publicação, as palavras-chave utilizadas, os descritores, as referências bibliográficas e o conteúdo específico sobre a humanização do atendimento fisioterapêutico em UTIs com a finalidade de que essa análise detalhada permita uma compreensão abrangente e fundamentada dos benefícios que as práticas humanizadas trazem para o processo de recuperação dos pacientes em estado crítico, revelando, assim, a importância da reabilitação integrada, pautada por princípios éticos e humanísticos no contexto hospitalar.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1. CUIDADOS HUMANIZADOS NA FISIOTERAPIA 

O início da assistência fisioterapêutica nas unidades ocorreu em meados da década de 1960, com sua inserção nas equipes multiprofissionais a partir de 1970, e, desde então, a fisioterapia está cada vez mais integrada aos serviços de cuidados intensivos, assim a formação do fisioterapeuta deve ir além de uma preparação para atuação técnica, enfocando diretamente o ser humano; o fisioterapeuta deverá ter sua atenção voltada integralmente ao indivíduo, não só do ponto de vista físico, como também social, ético e humano, visto que é necessário tornar humanas as vivências em saúde, diante do processo de desenvolvimento tecnológico nesta área em que a individualidade do usuário — emoções, crenças e valores — ficou em segundo plano; sua doença passou a ser objeto científico e a assistência se desumanizou, principalmente no atendimento, dificultando as relações humanas, tornando-as frias e, cada vez mais, objetivas e calculistas (Casate; Correa, 2005). 

Ainda, o profissional fisioterapeuta já dispõe de técnicas específicas de sua competência, que podem contribuir para tal objetivo, como o uso do toque terapêutico, das técnicas clássicas de massagem, a estimulação sensório-motora, o posicionamento terapêutico e a fisioterapia aquática. Sendo assim, ressalta-se a importância de identificar e garantir uma assistência fisioterapêutica humanizada nessas unidades. Portanto, em relação à comunicação, esta deve ser constantemente aprimorada para melhorar o relacionamento interpessoal entre profissionais e familiares, sendo importante demonstrar sensibilidade à comunicação verbal, capacidade de ouvir atentamente, saber o que falar e quando falar, além de utilizar-se de linguagem clara e acessível aos familiares (Casate; Correa, 2005). 

Silva e Silveira (2011) discorrem sobre a relevância do toque empregado pelo fisioterapeuta, destacando os benefícios do contato direto entre o profissional e o paciente, o que promove a humanização do atendimento e a valorização do profissional. Além disso, humanizar o atendimento não deve ser visto como uma técnica ou arte, mas sim como um processo vivencial que deve nortear as atividades das unidades de saúde e dos profissionais, oferecendo ao paciente e aos seus familiares o tratamento digno que merecem, considerando as condições e circunstâncias singulares em que cada indivíduo se encontra durante a internação (Lahóz et al., 2009).

A humanização no atendimento visa, sobretudo, um cuidado voltado não apenas para a doença, mas para o ser humano de forma integral, dado que se trata de um processo amplo e complexo, que muitas vezes enfrenta resistências, já que exige que todos os envolvidos compreendam o conceito e estejam dispostos a mudanças comportamentais quando necessário, assim embora muitas literaturas ressaltem a importância da humanização no ambiente hospitalar, poucos estudos apresentam resultados concretos sobre a efetiva implantação dessa prática. Ainda assim, autores ressaltam que a ética profissional está diretamente relacionada ao processo de humanização, uma vez que envolve questões como valores, direitos e deveres do indivíduo (Backes; Lunardi; Lunardi Filho, 2006).

Para mais, Fortes (2004) enfatiza que humanizar a atenção à saúde significa tratar o indivíduo com singularidade, reconhecendo suas necessidades específicas e possibilitando que ele exerça suas vontades com autonomia. Nesse sentido, a estrutura física dos hospitais tornase secundária em relação à qualidade do atendimento prestado, visto que em seu estudo demonstrou que, apesar da precariedade das instalações hospitalares, os pacientes avaliados mostraram-se satisfeitos com o atendimento, em grande parte devido à atuação humanizada dos profissionais de saúde.

Lopes e Brito (2009) corroboram essa visão, afirmando que os recursos materiais e tecnológicos não são tão importantes quanto a essência humana no que diz respeito à atenção à saúde, pois a presença de fisioterapeutas nas unidades hospitalares tem contribuído significativamente para a humanização do atendimento, como em seu estudo realizado em uma UTI, 95,5% dos 44 pacientes entrevistados consideraram o atendimento fisioterapêutico como humanizado, o que evidencia a importância desse profissional na unidade. 

Nesse contexto, a Fisioterapia desempenha um papel crucial dentro das equipes multidisciplinares, sendo essencial em diversos setores de atenção à saúde, incluindo as unidades hospitalares e UTIs, o fisioterapeuta, muitas vezes, é o profissional com maior contato direto com o paciente, e um de seus principais objetivos é promover a melhora na qualidade de vida, buscando, sempre que possível, a independência funcional do indivíduo. Para tanto, é necessário que o fisioterapeuta compreenda que cada paciente é um ser único, exigindo um cuidado individualizado, que leve em consideração não apenas os aspectos clínicos, mas também os fatores sociais, físicos e psicológicos que podem influenciar o processo de recuperação (Lima; Jorge; Moreira, 2006).

Assim, a construção de um cuidado humanizado requer ser coletiva e participativa, fundamentada no acolhimento e no respeito aos valores, crenças, cultura e expectativas de vida, que são únicos para cada pessoa, seja ela paciente, familiar ou profissional. Além disso, é imprescindível reconhecer que a comunicação e o diálogo são ferramentas essenciais para a elaboração de estratégias de cuidado. Esses processos contribuem para a compreensão da subjetividade tanto dos indivíduos adoecidos quanto dos profissionais envolvidos, o que, sob a ótica da Política Nacional de Humanização (PNH), permite a reorganização das formas de cuidado que são realizadas (Silva et al., 2012). 

Dessa maneira, buscar formas eficazes de humanizar a prática em saúde exige uma abordagem crítica que vá além dos componentes técnicos e instrumentais, uma vez que trata-se de considerar, sobretudo, as dimensões éticas, estéticas e políticas que dão sentido à prática de cuidado, essas dimensões estão embasadas nos princípios estruturantes da PNH, que incluem: a transversalidade da assistência, a indissociabilidade entre atenção e gestão, e a afirmação do protagonismo e da autonomia dos sujeitos e coletivos. O conceito de transversalidade refere-se à ampliação da comunicação entre os sujeitos e os serviços, buscando transformar os territórios de poder e alterar as fronteiras do conhecimento e das relações de trabalho. Já a indissociabilidade diz respeito à conexão intrínseca entre os modos de cuidar e os modos de gerir, pois a valorização do protagonismo e da autonomia dos sujeitos está relacionada ao desenvolvimento de atitudes de corresponsabilidade na produção de saúde (Ministério da Saúde, 2010). 

Essencialmente, a PNH visa promover o diálogo entre todos os envolvidos no processo de produção da saúde, estimulando uma gestão participativa e práticas resolutivas. Nesse sentido, reafirmam-se os princípios que vinculam as dimensões éticas, estéticas e políticas ao direito ao cuidado integral e à defesa da vida, ao mesmo tempo em que regulam as relações de poder e democratizam as instituições, uma vez que a dimensão ética aparece associada à defesa da vida e ao direito de todos ao desenvolvimento integral do cuidado, sejam eles usuários, cidadãos ou trabalhadores de saúde. A dimensão estética, por sua vez, relaciona-se à criação de normas que regulam a vida, enfatizando os processos criativos que distinguem o ser humano dos demais seres vivos. Finalmente, a dimensão política, inseparável das dimensões ética e estética, manifesta-se na humanização por meio da questão das relações de poder e da democratização institucional. Sob essa ótica, o conceito de humanização também pode ser entendido como a busca incessante pelo conforto físico, psíquico e espiritual das pessoas adoecidas, de suas famílias e das equipes de cuidado, garantindo condições humanas e agindo com benevolência, gentileza e civilidade (Goulart; Chiari, 2010).

Conforme destacado por Carvalho et al. (2015), os estudantes de fisioterapia vivenciam a humanização durante sua formação, especialmente nos estágios e em algumas disciplinas que enfatizam valores relacionados à pobreza, resultando na atenção humanizada como ato de solidariedade. Nesse sentido, o desenvolvimento de habilidades relacionadas à comunicação em saúde, reconhecendo-a como um fator essencial para a prática do cuidado humanizado, sobretudo nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI), onde a demanda por tais práticas é acentuada devido à gravidade dos casos. Para mais, os autores argumentam que a comunicação efetiva, associada à escuta ativa, é fundamental para criar objetivos mútuos no processo de comunicação entre os profissionais da saúde e os familiares dos pacientes internados, promovendo um diálogo que diminua a ansiedade e aproxime os familiares da realidade clínica do paciente. Dessa forma, é essencial que os fisioterapeutas expliquem os procedimentos aos pacientes, mesmo quando estes estão intubados ou inconscientes, a fim de assegurar uma assistência humanizada.

Em consonância com esses achados, Luiz et al. (2017) reforçam que a comunicação deve ir além das palavras e da simples transmissão de informações, visto que para os pacientes hospitalizados, que frequentemente perdem sua privacidade, é crucial compreender os elementos que influenciam o processo comunicativo, tanto positiva quanto negativamente, de modo a garantir uma relação sólida e eficaz, constituindo um requisito central para a prestação de uma assistência humanizada. Nesse sentido, a comunicação consistente e transparente entre os profissionais, pacientes e familiares promove um ambiente de confiança, o que é vital para o bem-estar de todas as partes envolvidas.

Furtado et al. (2020) acrescenta que os pacientes internados na UTI requerem um cuidado de excelência que vá além da abordagem da doença e suas complicações físicas, contemplando também as questões psicossociais, que estão intimamente ligadas ao estado de saúde. Para alcançar essa excelência, é necessário que a comunicação com o paciente, quando ele desperta na UTI, seja clara e informativa, reduzindo o medo associado ao ambiente hospitalar, pois a falta de informações ou a omissão de detalhes pode gerar insegurança e desconfiança, sendo indispensável que o profissional de saúde explique de maneira compreensível para o paciente e seus familiares o quadro clínico e os próximos passos do tratamento. Assim, profissionais que adotam uma comunicação efetiva, transmitindo com clareza o estado do paciente, seu prognóstico e as condutas terapêuticas, fortalecem o vínculo entre fisioterapeuta, paciente e familiares, além de proporcionar uma experiência de cuidado mais humanizada.

Portanto, a humanização na UTI também envolve a compreensão, por parte dos profissionais, do conceito de humanização e sua aplicação no ambiente hospitalar, o tratamento humanizado contribui para o bem-estar dos pacientes em cuidados paliativos. No entanto, é igualmente importante que, além do conhecimento técnico e científico, os fisioterapeutas disponham de condições adequadas de trabalho e qualidade de vida, além de suporte emocional para enfrentar o desgaste causado pelo contato constante com a dor, o sofrimento e os limites impostos pelas atividades laborais. Esse suporte é essencial para a implementação do Processo de Humanização (Miranda et al., 2015). 

Ademais, embora a humanização seja fundamental para o bem-estar dos pacientes internados na UTI, os profissionais também enfrentam desgaste emocional, sendo necessário o acompanhamento psicológico ou psiquiátrico para lidar com as perdas e o envolvimento emocional decorrente do vínculo estabelecido com os pacientes, assim, esse apoio é essencial para que os profissionais continuem oferecendo cuidados de qualidade sem comprometer sua saúde mental.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim, a partir dos objetivos propostos este estudo alcançou de forma plena os resultados esperados, ao analisar a relevância dos cuidados humanizados no contexto da fisioterapia para pacientes em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), com ênfase nas abordagens integrativas voltadas para o bem-estar holístico do paciente, dado que a revisão sistemática da literatura permitiu identificar e avaliar criticamente as principais práticas que incorporam escuta ativa, empatia, comunicação clara e personalização do tratamento, demonstrando a eficácia dessas abordagens no processo de recuperação física, emocional, social e psicológica dos pacientes críticos. Dessa forma, os resultados evidenciaram que o cuidado humanizado na fisioterapia não apenas promove uma recuperação mais eficiente, mas também fortalece o vínculo terapêutico, elemento essencial para a adesão ao tratamento e a qualidade de vida dos pacientes.

Ainda, do ponto de vista teórico o presente trabalho contribui para o aprofundamento da discussão sobre a importância da humanização na fisioterapia, especialmente em contextos de alta complexidade como as UTIs, visto que ao integrar a escuta ativa, a empatia e a personalização do atendimento, este estudo reforça a necessidade de ampliar as intervenções fisioterapêuticas para além das técnicas convencionais, destacando o papel central das abordagens holísticas no processo terapêutico. Praticamente, este trabalho sugere que as equipes multiprofissionais nas UTIs devem ser capacitadas e sensibilizadas para adotar práticas humanizadas, com foco não apenas na recuperação física do paciente, mas em seu bem-estar integral.

Em termos de perspectivas futuras, é recomendável que novas pesquisas explorem a implementação de protocolos humanizados em diferentes áreas da fisioterapia, bem como a avaliação de seus impactos em diversas populações clínicas. Além disso, investigações mais aprofundadas sobre os desafios e barreiras à humanização nos cuidados intensivos podem contribuir para o desenvolvimento de estratégias mais eficazes e universalizadas. Por fim, sugere-se a análise do impacto dessas práticas na satisfação dos profissionais de saúde e na dinâmica das equipes interdisciplinares, fortalecendo o papel da fisioterapia humanizada no ambiente hospitalar e em outros contextos assistenciais.  

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¹Discente do Curso Superior de Graduação em Fisioterapia. E-mail: erikaariibeiro81@gmail.com
²Discente do Curso Superior de Graduação em Fisioterapia. E-mail: luyan2016.pb@gmail.com
³Discente do Curso Superior de Graduação em Fisioterapia. E-mail: thamiresnery2002@gmail.com
⁴Discente do Curso Superior de Graduação em Fisioterapia. E-mail: ju.cris131@gmail.com
⁵Discente do Curso Superior de Graduação em Fisioterapia. E-mail: mventurim5@gmail.com
⁶Docente do Curso Superior de Graduação em Fisioterapia. E-mail: coord.ingrydoliveira@gmail.com