A IMPORTÂNCIA DOS CONTOS DE FADAS NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA

THE IMPORTANCE OF FAIRY TALES IN A CHILD’S DEVELOPMENT

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202501241518


Sandra De Lourdes Andrade Jovial Macarini


Resumo: Este artigo tem a finalidade de discutir a importância dos contos de fadas no desenvolvimento infantil, levantar hipóteses sobre alguns questionamentos e ou relevância educativa dessa prática no ambiente da educação infantil para difundir o hábito de contar histórias. Ao longo do trabalho serão apresentadas: sua origem propondo o conceito de criança do passado até os dias atuais, como o enredo e narrativas buscando evidências que possam solucionar os problemas cotidianos, sua finalidade literária, sua contribuição para o desenvolvimento cognitivo, no que diz respeito à imaginação e à criatividade, e sua influência na formação da identidade e personalidade infantil, evidenciando a participação familiar e da escola – em contexto individual e coletivo.

Palavras-Chaves: Contos-de-fadas; Criança; Desenvolvimento cognitivo.

Summary: This article aims to discuss the importance of fairy tales in child development, raise hypotheses about some questions and/or educational relevance of this practice in the environment of early childhood education to spread the habit of storytelling. Throughout the work, the following will be presented: its origin proposing the concept of child from the past to the present day, such as the plot and narratives seeking evidence that can solve everyday problems, its literary purpose, its contribution to cognitive development, with regard to imagination and creativity, and its influence on the formation of children’s identity and personality, evidencing family and school participation – in an individual and collective context.

Keywords: Fairy tales; Child; Cognitive development.

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como tema a importância dos contos de fadas no desenvolvimento da criança. O tema escolhido justifica-se pela necessidade de pesquisar sobre os contos de fada na Educação Infantil, abordando aspectos importantes sobre a contação de histórias, pois cremos que o contar histórias é fundamental para uma boa estrutura psicológica e para o desenvolvimento cognitivo na Educação Infantil.

Propõe-se, também, uma reflexão sobre o conceito de ser criança no passado até os dias atuais, bem como a origem dos enredos e narrativas buscando evidências que possam solucionar os problemas cotidianos, resgatando a esperança e, principalmente, a imaginação.

A importância dos contos de fada no desenvolvimento infantil tem sido amplamente discutida atualmente no meio educativo, tanto é que a escola é um dos lugares em que as crianças têm oportunidades de terem alguns momentos de prazer, de emoção, de divertimento, ou seja, momentos esses sadios e ricos.

Acredita-se que muitos pais não dão importância e nem oferecem momentos como esses aos seus filhos, pois não têm noção da grande riqueza e quão grande valor tem os contos infantis, que fazem bem para o desenvolvimento cognitivo e afetivo, entre outros.

Vários estudiosos, seja por meio de entrevistas às diversas mídias ou de publicações de artigos, como pedagogos, historiadores e psicanalistas, questionam o tema abordado – se sua influência é benéfica ou não na formação cognitiva e moral das crianças.

A grande maioria dos profissionais da área da educação, como os pedagogos, acreditam que o contar histórias é muito importante e, por isso, preparam, dentro da sala de aula, um cantinho de leitura que dispõe de grande quantidade de livros infantis.

Um momento de reflexão se faz necessário: como os contos de fada interferem no desenvolvimento cognitivo das crianças na Educação Infantil?

Desse modo, o presente trabalho tem como objetivo investigar a importância dos contos de fadas para o desenvolvimento cognitivo na Educação Infantil, apresentar a origem dos contos de fadas e demonstrar a sua relevância educativa. 

A metodologia a ser utilizada é a pesquisa bibliográfica em textos consagrados da literatura da área pesquisada.

Abramovich (1997) afirma que é ouvindo histórias que se podem conhecer os sentimentos, como a tristeza, a raiva, a irritação, o bem-estar, o medo, a alegria, o pavor, a insegurança, a tranquilidade e viver intensamente tudo o que as narrativas provocam em quem as ouvem com toda a amplitude e significado.

Bettelheim (1980) apresenta uma visão importante sobre a literatura infantil, inicia seus estudos sobre os contos de fadas, afirma que a obra infantil é aquela que diverte a criança, proporciona explicação sobre ela mesma e beneficia o desenvolvimento de sua personalidade. Nesse sentido, o livro para as crianças colabora de forma significativa para com a essência de cada uma delas.

Busatto (2003) diz que conta histórias para formar leitores. Que o exercício de contar histórias possibilita debater importantes aspectos do dia-a-dia das crianças, propiciando um mundo imaginário.

Chauí (1984) afirma que, do ponto de vista da repressão sexual, os contos são interessantes porque são ambíguos. Possuem um aspecto lúdico e pedagógico que reforça os padrões da repressão sexual vigente. 

Urban (2001) afirma que os contos de fada cumprem relevante papel sendo uma fórmula mágica capaz de envolver a atenção das crianças, despertandolhes sentimentos e valores intuitivos que clamam por um desenvolvimento justo, tão pleno quanto possa vir a ser o do prestigiado intelecto.

Portanto, as páginas seguintes tratam da importância dos contos na vida da criança, desde sua origem, contribuições que eles trazem e quão preciosos são, visando ao papel da família e da escola como mediadores. Tanto a família quanto a escola têm muito a contribuir para que a criança se desenvolva cognitivamente e afetivamente, pois irão descobrir os sentimentos e aprender a lidar com ele, aprender a lidar com o medo, aprender a encontrar possíveis soluções aos problemas do dia a dia, aprender a interpretar as personagens dos contos e se imaginar no lugar delas e viver as peripécias das histórias que são contadas.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 A origem dos contos de fadas

Desde os tempos antigos, os contos eram narrados a partir de eventos cotidianos acrescidos de magia, fantasias e crenças, em auxilio às deficiências humanas e na tentativa de vencer mistérios e anseios. Segundo Urban: 

Os contos de fada podem ser vistos como pequenas obras de arte capazes que são de nos envolver no seu enredo, de nos instigar a mente que comover-nos com a sorte de seus personagens. Causam impacto em nosso psiquismo, porque tratam das experiências cotidianas, e permitem que nos identifiquemos com as dificuldades ou alegrias de nossos heróis, cujos feitos narrados expressam eu suma, a condição humana frente às provações da vida… (URBAN, 2001 p.43).

Eram perpassados oralmente, pois suas narrativas eram simples e sempre abordavam conflitos filosóficos, morais e psicológicos, alem dos polos opostos como, por exemplo, riqueza e pobreza, bondade e maldade. Foram difundidos e melhorados literariamente como os conhecemos hoje, através da escrita.

Dessa forma, eram narrados para toda a sociedade, mas sem distinção entre faixas etárias, pois o conceito de criança era inexistente, ou seja, viviam e eram tratadas como miniaturas de adultos. Seus enredos envolviam muitas fantasias, mas mantinham um paralelo bem próximo do mundo real. Diante desse contexto, não podemos deixar de citar o pai da literatura infantil, Hans Christian Handersen, que começa a criar os contos específicos para as crianças embasados na cultura popular e em sua criatividade. Suas histórias eram otimistas, mas nem sempre terminavam com final plenamente feliz.

Nessa mesma época, textos folclóricos passam a ser adaptados como opção de fornecer acervo cultural às novas gerações, possibilitando à criança interação com o mundo bem próximo de sua percepção de mundo. Sendo assim, os pesquisadores alemães do início do século XIX, Jacob e Wilheim Grimm, passam a resgatar as tradições orais de seu povo como expressão cultural, utilizando a esperança e a imaginação como melhor forma de solucionar os problemas cotidianos. 

Outros teóricos, no século XX, também, dedicaram-se à maravilhosa literatura infantil, como os alemães Goethe e Ernst, e, o inglês Oscar Wilde. Sobre a literatura infanto-juvenil, no Brasil, propriamente entre os anos 1822 a 1948, pode-se citar o escritor Monteiro Lobato, este escreveu muitas histórias, entre elas, as Fábulas de Esopo, adaptada para as crianças brasileiras.

2.2 A contribuição dos contos de fadas para o desenvolvimento cognitivo infantil

Os contos infantis têm grande importância no desenvolvimento cognitivo das crianças. Contar história, na educação infantil, é estimular o gosto das crianças à leitura, elas entram em contato com o mundo da fantasia, da imaginação e ampliam seu vocabulário; por isso, é importante que os contos façam parte da vida delas desde bebês. Mesmo não sabendo falar, eles tentam se comunicar com os adultos, aos dois meses de idade sorriem e emitem sons estabelecendo o princípio da aprendizagem da língua materna.

As histórias contadas são um modo de interagir com os bebês e ajudá-los no processo de desenvolvimento cognitivo e da linguagem. Aos três meses, eles já podem ter contato com os livros, esses ilustrados com gravuras grandes de preferência de animais, coloridas e sem fundos detalhados, e, com o passar dos meses tais ilustrações podem ser mais detalhadas e os livros podem até fazer parte na hora do banho, pois existem materiais de plástico.

Mesmo que o bebê seja muito pequeno para se concentrar em histórias, apreciar as imagens do livro colabora para o seu desenvolvimento das habilidades de comunicação. Aos dois anos, a criança já é capaz de ampliar a linguagem e aos três anos de idade deve-se incentivá-la, ainda mais, contando histórias em voz alta, com gestos para que esse conto seja admirado e prazeroso. Nessa idade de três anos, é de suma importância o desenvolvimento intelectual e da fala, e a literatura infantil é um dos incentivos para isso.

Segundo Abramovich (1997), é escutando histórias que se podem conhecer sentimentos importantes, como tristeza, raiva, irritação, bem- estar, medo, alegria, pavor, insegurança, tranquilidade, entre outras, e viver as narrativas com intensidade, entendendo o seu significado. Nesse sentido, os contos são capazes de gerar nas crianças diversas situações vividas por elas, por meio das personagens são capazes de resolverem situações de conflitos existentes no dia a dia.

A autora fala da importância ao escolher uma história, quando diz, “Daí que quando se vai ler uma história- seja qual for- para crianças, não se pode fazer isso de qualquer jeito, pegando o primeiro volume que se vê na estante”. (ABRAMOVICH, 1997, p.18)  

Assim sendo, devem-se levar em conta os interesses e desejos das crianças, devem-se pesquisar histórias que tragam temas que as atraiam, considerando a ilustração, se as histórias são curtas ou longas, observar o tamanho das letras, se a linguagem é clara e simples entre outras importâncias, questões essas que devem estar de acordo com a faixa etária e com o nível intelectual das crianças. A leitura dos contos de fada estimula a fantasia e a imaginação das crianças, ajudam-nas a serem mais atenciosas, confiantes, servindo de apoio para todo seu desenvolvimento.

Abramovich (1997) exalta a importância que é ouvir história, pois elas são o início da formação de um leitor: “Ah, como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, histórias… Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo” (p. 16).  

Subtende-se que contar histórias é preparar as crianças para serem leitoras, com capacidades de selecionarem informações que tragam possíveis soluções para os problemas que lhes proporcionam preocupações ou inquietações, ansiedade, angústias ou outros que lhes tiram o sossego. 

2.3 O contar histórias e sua magia na Educação Infantil

Quando se conta histórias infantis para as crianças, oferecemos a elas experiências providas dos vários tipos de sentimentos que se manifestam durante esse momento tão prazeroso. O principal do saber narrar é manifestar e transmitir a emoção àqueles que ouvem um conto. Para isso, são necessárias habilidades, treino e conhecimento de como contar histórias, ou seja, é necessário técnica. 

Algumas dessas técnicas são: saber pausar nas horas certas, criar intervalos, trazer o suspense no ar e compreender que o tempo da imaginação de cada criança difere de uma para outra. Fazer uso de várias formas de voz também é muito importante, como falar baixinho, elevar a voz no momento de gritaria, afinar ou engrossar, fazer barulhos como bater na porta. As imagens devem ser visualizadas por todas as crianças, pois as imagens reforçam a imaginar o que ouvem, assim como ao iniciar as histórias “Era Uma Vez”- essa é a palavra mágica que ira revelar toda a magia de uma história.

É nesse momento de magia, quando a história é bem contada, que as crianças incorporam todo o enredo da história narrada, estabelecem seu cenário, visualizam seus monstros, princesas, bruxas, o tamanho do gigante, entre tantas outras sensações, pois esse mundo criado por elas faz com o que vivam sempre novas experiências. Ao contar histórias infantis para crianças, como os contos de fadas, as crianças sorriem, dão gargalhadas, imaginam situações e acontecimentos, ficam curiosas, identificam-se com as personagens, e conseguem esclarecer problemas como o medo e quase sempre encontram soluções para eles; ação essa, lúdica e prazerosa e ao mesmo tempo, desencadeia uma série de contribuições significativas ao desenvolvimento infantil.

Segundo Bettelheim (1980), devemos dar atenção à grande importância para que os contos sejam contatos e não lidos, pois assim a criança irá alcançar os significados interpessoais e simbólicos: “Se ele é lido, deve ser lido com um envolvimento emocional na estória e na criança, com empatia pelo que a estória pode significar para ela. Contar é preferível a ler porque permite uma maior flexibilidade”. (p.185).

O teórico vem reafirmar que a história deve ser contada, e não lida, e de

maneira que desperte a sensibilidade e a emoção, pois as crianças agem, pensam, sentem, sofrem, alegram-se como se fossem elas próprias os personagens, e, ao mesmo tempo, a história passa a ter várias possibilidades de releituras e mais de uma solução aos problemas. Enfatiza também que, ao escolher as histórias, estas devem ser selecionadas pelo adulto de acordo com o nível de desenvolvimento da criança e de acordo com as suas dificuldades do momento: “a compreensão do narrador sobre os níveis de significados da história facilita à criança extrair pistas dessas estórias para entender melhor a si própria” (p.190). 

Nesse sentido, a magia do contar histórias possui segredos e métodos que fazem com que o ouvinte incorpore todo o enredo narrado, desperte suas emoções, identifique- se com a história, com as personagens, com os conflitos e reavaliem suas próprias dificuldades a partir desses, de modo mágico e saudável, a fim de superá-las.

2.4 Ouvir história – valor, enriquecimento e fascinação na Educação Infantil.

Desde pequenos, alguns de nós escutamos histórias, no colo de nossos avós ou ao redor deles, e/ou de nossos pais. Aquela criança, ainda pequenininha, quando entra em contato com as obras literárias infantis, passa a compreender um pouco mais a si mesma e a outros que a cercam; começa conhecer novos rumos e novos horizontes mergulhados em cultura e saber; inicia aí o valor e o enriquecimento que esse contato com o mundo das obras literárias proporciona e a fascinante atração por elas. Desse modo, Busatto diz: “Contar histórias é uma arte porque traz significações ao propor um diálogo entre as diferentes dimensões do ser”. (2003, p. 10)  

Entretanto, é um desperdício que nem todos os avós ou pais ou alguém da família não reconheçam o enriquecimento que elas trazem às crianças e nem tão pouco o grande o valor que terão em suas vidas. Mudando de espaço, em um contexto mais específico como as escolas, as professoras, em um cantinho apropriado da sala de aula ou em uma biblioteca, contam histórias para seus alunos iniciando aí o contato com a literatura e quão grande valor que a mesma proporcionará em suas vidas.

As histórias trazem admiráveis fontes de experiências; por meio delas abre-se um leque em que as crianças ampliam a sua visão, desenvolvem a sua imaginação e adquirem novos conhecimentos. Busatto (2003) resalta que:

Torna-se fundamental que haja uma identificação entre o narrador e o conto narrado, ou seja, antes de sensibilizar o ouvinte o conto precisa sensibilizar o contador; contar com o coração é algo primordial; se formos tocados pelas mensagens dos contos e meditarmos a partir deles aprenderemos o que eles querem dizer e talvez seja possível passarmos a diante essa mensagem… (p.50).

Bettelheim (1980) aborda um ponto de vista importante sobre a literatura infantil, a partir de um estudo realizado sobre os contos de fadas: ele afirma que a obra infantil é aquela que enquanto diverte a criança, proporciona explicação sobre ela mesma, beneficiando o desenvolvimento da sua personalidade. Assim sendo, as obras infantis geram muitos significados para as crianças, elas diferem de níveis e contextos e colaboram com a essência delas de forma significativa. Tanto ouvir quanto ler são atividades que devem ser realizadas de modo prazeroso para que as histórias se tornem significativas.

Segundo Abramovich (1997), se ler for mais uma lição de casa, a gente bem sabe no que é que dá… Não se deve cobrar a leitura, pois assim ela não servirá como fonte de crescimento. Assim sendo, façamos com que as crianças leiam por prazer, por alegria, e desse modo encontrem quão mágica e construtiva pode ser a leitura em suas vidas. Pode-se constatar que quando a criança se envolve com o mundo mágico das obras literárias verifica-se a riqueza dos aspectos formativos que elas trazem de maneira fantástica, lúdica e simbólica. Essa interação entre a criança e o contexto provoca a descoberta dos sentidos embutidos na história.

No ambiente escolar, os contos visam a outros aspectos, envolve um trabalho de opinião das crianças, seus pontos de vista, e, muitas das vezes, esses questionamentos são vistos por elas, em um primeiro plano, de acordo com a realidade que a cercam. Em um segundo plano, por meio dos contos, as educadoras fornecem ferramentas para que as crianças enxerguem o real, para que elas possam ampliar esse mesmo mundo em que vivem.

De um modo diferente, os contos são realizados, na maioria das escolas, todos os dias no final das aulas. As crianças sentam-se em círculos e, em seguida, conduzidas pela professora discutem a história verbalmente – o que faz com que se interessem mais por ela – diferentemente de perguntas e respostas como uma simples tarefa de casa.

2.5 Contando histórias – família e escola – um contexto que pode dar certo

Tanto a família quanto os professores são responsáveis em contar histórias para suas crianças, pois, como já sabemos, os contos desenvolvem a criatividade e subjetiva de cada criança e, por isso, valoriza-se que os pais colaborem com os professores nessa importante caminhada. O contar histórias deve fazer parte da vida das crianças desde pequeninas, pois elas simbolizam e desenvolvem a imaginação, suas ideias, suas expectativas, suas vontades e suas percepções despertadas por uma história bem contada.

Quando os pais desempenham esse papel estão dando exemplos aos seus filhos e, ao mesmo tempo, ajudando-os no desenvolvimento cognitivo, emocional, bem como questões relacionadas à conduta e ao comportamento do homem em sociedade, ou seja, estão auxiliando a prepará-los para a vida. E esses momentos devem acontecer de forma espontânea para que eles tenham sempre o mesmo entusiasmo em vivenciar cada momento único da narração, nada de obrigálos a ficarem sentados e ouvirem sem querer. Após esses momentos, os pais devem dialogar sobre as atitudes das personagens, quais atitudes são erradas e por quais motivos são corretas, direcionando-as como ensinamentos aos seus pequeninos.

As crianças absorvem os ensinamentos transmitidos pelos seus pais no ambiente familiar e os ampliam quando estão no ambiente escolar.

Segundo Marilena Chauí, os contos funcionam como uma espécie de rito de passagem antecipado que auxilia as crianças a lidarem com o presente e as preparam para o futuro, seria a ruptura da sua vida em família para o início da vida adulta. Vejamos: 

(…) Poderíamos considerar que numa sociedade como a nossa, que dessacralizou a realidade e eliminaram quase todos os ritos, os contos funcionam como espécie de “rito de passagem” antecipado. Isto é, não só auxiliam a criança a lidar com o presente mais ainda a preparam para o que esta por vir, a futura separação do seu mundo familiar e a entrada no universo dos adultos. (CHAUÍ, 1984 p.32-54).

É na escola que esse mundo inicia, desde quando as pedagogas ajudam  crianças a deixarem a chupeta e a fralda, a corrigir comportamentos que não são agradáveis, orientá-las em muitas situações de conflitos como a descoberta do corpo e da sexualidade, entre outras situações ligadas a elas, à família e amizades. Por isso, que as histórias são tão importantes para elas desde pequenas. Os contos abrem as portas para que as educadoras trabalhem as emoções mais importantes das crianças que as auxiliarão na descoberta de novos horizontes e facilitarão a se conhecerem e entenderem melhor a si mesmas. É, nesse sentido, que os professores aproveitam para trabalhar com elas novas formas de enxergar a realidade e mudar possíveis comportamentos – como o individualismo, o egoísmo, o preconceito, entre outros sentimentos que só fazem mal – e, por outro lado, proporcionar a interação entre elas.

Para a teórica Marilena Chauí, os contos têm duas versões. De um ponto vista, são lúdicos e liberadores por deixarem as crianças aflorarem sentimentos como desejos, fantasias, manifestações da sexualidade infantil e que oferecem a elas ferramentas para lidarem com o imaginário. Por outra visão, pelo lado pedagógico, as educadoras tendem a ensinar o que é certo e o que é errado às crianças, segundo as condutas da sociedade em que vivemos. Se de um lado era tudo era permitido e maravilhoso, do outro, mediante as condutas certas ou erradas de nossa sociedade, o que era permitido pode não ser mais, pois existe a hora e momento certo para senti-los e realizá-los, como, por exemplo, a sexualidade.

Vejamos:

Do ponto de vista da repressão sexual, os contos são interessantes porque são ambíguos. Por um lado, possuem um aspecto lúdico e liberador ao deixarem vir à tona desejos, fantasias, manifestações da sexualidade infantil, oferecendo à criança recursos para lidar com eles no imaginário; por outro lado, possuem um aspecto pedagógico que reforça os padrões da repressão sexual vigente, uma vez que orientam a criança para desejos apresentados como permitidos ou lícitos, narram as punições a que estão sujeitos os transgressores e prescreve o momento em que sexualidade genital deve ser aceita, qual sua forma correta ou normal. Reforçam dessa maneira, inúmeros estereótipos da feminilidade e da masculinidade, ainda que, se tomarmos os contos em conjunto, os embaralhem bastante. (CHAUÍ, 1984, p. 32-54).

Esses teóricos reafirmam que os contos de fada são de muita importância para às crianças, pois eles transformam o comportamento da criança perante conflitos como o medo, a incerteza, a insegurança e permitem que ela desenvolva a imaginação, a emoção, despertando sentimentos de maneira prazerosa e significativa, e consequentemente as preparam para a vida.  

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao iniciarmos o trabalho pretendíamos demonstrar a importância dos contos de fada no desenvolvimento cognitivo das crianças, e, por meio de levantamentos bibliográficos, durante o processo de elaboração do trabalho de pesquisa, observou-se que existem muitos estudiosos que estimam o assunto abordado. 

Demos o primeiro passo falando sobre a origem dos contos de fada. Constatamos que, no início, os contos eram narrados para pessoas de qualquer idade, sem distinção de faixa etária e que as crianças eram vistas como adultos, não havia cuidados especiais e nem às necessidades delas. Só mais tarde, por volta do ano 1822 a 1948, que os contos se direcionaram à literatura infantil e, logo mais, o escritor Monteiro Lobato iria dar um caráter pedagógico às histórias voltadas ao público infantil. Verificou-se que as crianças necessitam de constante estimulação para se desenvolverem cognitivamente e que se deve começar dentro do contexto familiar, contando histórias para os pequenos.

Assim, aquela criança que vive em um ambiente em que ouve muitas e diferentes histórias, apresentadas de forma lúdica e prazerosa, despertando os seus encantamentos, desenvolverá a sua capacidade de imaginação, de reflexão, de criatividade e uma nova visão de mundo até então desconhecida.

E, fora do ambiente familiar, é de grande importância que as crianças sejam estimuladas nas escolas também. No contexto escolar poderão recontar as histórias, dar suas opiniões, encontrar soluções para os possíveis conflitos dos enredos e permitir que os valores aprendidos possam solucionar seus problemas do cotidiano.

Discutiu-se a importância de alguns conceitos de como contar histórias e de como devem ser selecionadas, ambos muito preciosos, pois as crianças passam de um estágio psicológico para o outro em seu processo de formação psíquico, adquirem outras visões da realidade que a cerca de acordo com o grau de seu amadurecimento.

Comentou-se, nesta pesquisa, a importância de um trabalho paralelo entre família e escola de forma prazerosa, de modo que a criança possa imaginar, fantasiar, descobrir sentimentos e experimentá-los, identificar-se com as personagens, e não, ao contrário, por obrigação.

Enfim, atualmente, entendem-se quão importantes são os contos na vida das crianças desde pequeninas, da necessidade de iniciar a atividade de contar histórias ainda no berço da família, na escola e entre ambas.

REFERÊNCIAS

ABRAMOVICH, Fany. Literatura Infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1997.

BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.

BUSATTO, Cléo. Contar e encantar: pequenos segredos da narrativa. 3. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.

CHAUÍ, Marilena. Contos de fadas e psicanálise. Repressão sexual: essa nossa (des) conhecida, Ed. Brasiliense, 1984.

URBAN, Paulo. Psicologia dos contos de fadas. Planeta, nº 345, junho 2001. Disponível em: <http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Psicologia-Dos-Contos-DeFada/46625.html> Acesso em: 20 ago. de 2012.