A IMPORTÂNCIA DO SUPORTE VENTRICULAR EM PACIENTES COM CARDIOMIOPATIA CHAGÁSICA: REVISÃO DE LITERATURA

THE IMPORTANCE OF VENTRICULAR SUPPORT IN PATIENTS WITH CHAGASAL CARDIOMYOPATHY: LITERATURE REVIEW

LA IMPORTANCIA DEL SOPORTE VENTRICULAR EN PACIENTES CON CARDIOMIOPATÍA CHAGASAL: REVISIÓN DE LA LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8157518


Gabriela Gladis Bagnara Fistarol1
Gessica Oliveira Rocha1
Tatiana Cordeiro Santos1
Carlos Eduardo França Lins2


RESUMO

Objetivo: Investigar a importância do uso do marca-passo e Cardiodesfibrilador Implantável (CDI) e suas repercussões na evolução funcional e morfológica cardíaca dos pacientes com CC. Revisão Bibliográfica: Foram encontrados no total 106 artigos, e desses, nove artigos foram incluídos na revisão. Os estudos selecionados foram predominantemente brasileiros e apenas um estudo foi colombiano, apresentando ano de publicação que varia de 2006 a 2020. A principais indicações para marca-passo foram bloqueio atrioventricular (BAV) de segundo e terceiro grau. Os benefícios foram: melhora da sobrevida, identificação precoce de arritmias, aumento da fração de ejeção do ventrículo esquerdo e do diâmetro sistólico final esquerdo e malefícios: risco aumentado para morte súbita e taxa de mortalidade na cardiopatia avançada. Conclusão: É visto que as repercussões da ressincronização cardíaca (RC) ainda são questionáveis. Pacientes chagásicos com cardiopatia menos avançada tem mostrado melhores resultados com a RC e o uso de marca-passo não houve mudanças morfológicas ou cardíacas significativas nesses casos. No entanto, pacientes com cardiopatia mais avançada, podem apresentar mau prognóstico e mais risco de morte quando comparados a pacientes não-chagásicos com o mesmo dispositivo.

Palavras-chave: Doença de Chagas, Cardiomiopatia, Marca-passo.

ABSTRACT

Objective: To investigate the importance of using a pacemaker and Implantable Cardiodefibrillator (ICD) and its repercussions on the functional and morphological cardiac evolution of patients with CC. Literature Review: A total of 106 articles were found, and of these, 9 articles were included in the review. The selected studies were predominantly Brazilian and only one study was from Colombia, with the year of publication ranging from 2006 to 2020. The main indications for pacemakers were second- and third-degree atrioventricular block (AVB). The benefits were: improved survival, early identification of arrhythmias, increased left ventricular ejection fraction and left end-systolic diameter and harms: increased risk for sudden death and mortality rate in advanced heart disease. Conclusion: It is seen that the repercussions of CR are still questionable. Chagasic patients with less advanced heart disease have shown better results with CR and the use of a pacemaker; there were no significant morphological or cardiac changes in these cases. However, patients with more advanced heart disease may have a poor prognosis and a higher risk of death when compared to non-chagasic patients with the same device.

Keywords: Chagas Disease, Cardiomyopathy, Pacemaker.

RESUMEN

Objetivo: Investigar la importancia del uso de marcapasos y Cardiodesfibrilador Implantable (CDI) y sus repercusiones en la evolución cardiaca functional y morfológica de pacientes con CC. Revisión Bibliográfica: Se encontraron un total de 106 artículos, de estos, nueve artículos fueron incluidos en la revisión. Los estudios seleccionados fueron predominantemente brasileños y solo un studio fue colombiano, con año de publicación entre 2006 y 2020. Las principales indicaciones de marcapasos fueron bloqueo auriculoventricular (BAV) de segundo y tercer grado. Los beneficios fueron: mejora de la supervivencia, identificación temprana de arritmias, aumento de la fracción e eyección del ventrículo izquierdo y del diámetro telesistólico izquierdo y perjuicios: aumento del riesgo de muerte súbita y tasa de mortalidad en enfermedades cardíacas avanzadas. Conclusión: Se ve que las repercusiones de la resincronización cardíaca (RC) aún son cuestionables. Los pacientes chagásicos con cardiopatías menos avanzadas han mostrado mejores resultados con RC y el uso de marcapasos, no hubo cambios morfológicos ni cardíacos significativos en estos casos. Sin embargo, los pacientes con cardiopatías más avanzadas pueden tener un mal pronóstico y un mayor riesgo de muerte en comparación con los pacientes no chagásicos con el mismo dispositivo. 

Palabras clave: Enfermedad de Chas, Miocardiopatía, Marcapasos.

INTRODUÇÃO 

A Doença de Chagas (DC) ou Tripanossomíase americana é uma patologia tropical de alta morbimortalidade prevalente em adultos e idosos. Se caracteriza como uma infecção etiologicamente causada pelo protozoário, Trypanosoma cruzi, que dispõe em seu ciclo de vida os estágios de ovo, ninfa (cinco estádios ninfais) e adultos. Logo, a DC é conhecida como um relevante problema de saúde pública na América Latina (PINTO DJC, 2006; FERNANDES PTA, et al., 2022).

A clínica da DC apresenta um curso bifásico, a fase aguda compreende um quadro clínico oligossintomático e, quando grave, pode levar ao comprometimento cardíaco no indivíduo. A fase crônica é dividida em forma indeterminada, no qual o paciente se mostra inicialmente assintomático, podendo, no entanto, com o passar dos anos, apresentar sintomas e complicações, evoluindo para as formas cardíacas, digestivas e cardiodigestivas (PINTO DJC, 2006; BILATE MBA e CUNHA NE, 2008).  

O processo da evolução da cardiomiopatia chagásica (CC) ocorre após anos da infecção primária, cursando com lesões cardíacas decorrentes de processos inflamatórios crônicos que causam remodelamento do miocárdio e danos nas fibras cardíacas.  A progressão clínica e a sobrevida dos pacientes são significativamente piores na cardiomiopatia da DC, em comparação com pacientes com cardiomiopatia dilatada de outras etiologias devido a falta de terapias eficazes (FERNANDES PTA, et al., 2022; BILATE MBA e CUNHA NE, 2008).

A inflamação crônica, usualmente de baixa intensidade, mas incessante, provoca destruição tissular progressiva, resultante das alterações fundamentais (inflamação, necrose e fibrose) que o T. cruzi provoca, direta ou indiretamente, no tecido especializado de condução, no miocárdio contrátil e no sistema nervoso intramural (PINTO DJC, 2006; FERNANDES PTA, et al., 2022).

A prevalência da disfunção biventricular pode contribuir, ainda, com a gravidade desta complicação. Alguns mecanismos se propõe a elucidar a patogênese das lesões, são eles majoritariamente: espasmo microvascular; isquemia; eosinofilia crônica ou neutrofilia; toxicidade mediada por parasitas; respostas imunes anti- T. cruzi a parasitas ou antígeno parasitário e a autoimunidade induzida por T. cruzi (BILATE MBA e CUNHA NE, 2008; ANTIBAS ATIK FERNANDO, et al., 2018).

Tendo em vista as complicações originárias das manifestações tardias e a falta de esclarecimentos a respeito dos mecanismos fisiopatológicos da doença, a cardiomiopatia chagásica continua sendo uma doença prevalente e com prognóstico reservado, principalmente nas fases avançadas da doença (FERNANDES PTA, et al., 2022; BILATE MBA e CUNHA NE, 2008).

O relatório da International Society of Heart and Lung Transplantation (2022) aponta para o aumento progressivo da lista de espera dos pacientes que necessitam de suporte ventricular, ao passo que as experiências com suporte circulatório em pacientes com cardiomiopatia chagásica na América Latina ainda são limitadas, corroborando para os menores índices de adesão ao tratamento citado (FERNANDES PTA, et al., 2022; MOREIRA PLF,et al., 2005).

A necessidade de dispor de um marca-passo cada vez mais fisiológico, especialmente para melhorar a função hemodinâmica durante o exercício, levou ao desenvolvimento de geradores que acomodam a frequência cardíaca às necessidades biológicas. Portanto, o estudo possui como objetivo investigar a importância do uso de marca-passo e suas repercussões na evolução funcional e morfológica cardíaca dos pacientes com cardiomiopatia chagásica (CC).

MÉTODOS 

O presente estudo é uma revisão narrativa de literatura. Para realização foi identificado um tema, formulado o problema, hipóteses, levantamento de dados, análise e seleção dos estudos. Foi realizada uma busca bibliográfica por meio das fontes de busca constituídas pelos recursos eletrônicos nas seguintes bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Health Information from the National Library of Medicine (Medline), Science Direct e na biblioteca eletrônica Scientific Eletronic Library On-line (SciELO). 

Os descritores utilizados para a pesquisa foram: “Doença de Chagas”, “cardiomiopatia” e “marca-passo”, além de suas traduções para o inglês. Os termos foram combinados utilizando o operador booleano “AND” para compor as estratégias de busca.

Os títulos e resumos dos estudos selecionados usando a estratégia de busca e aqueles das fontes adicionais foram selecionados de forma independente por três autores da revisão para identificar estudos que atendessem aos critérios de inclusão e exclusão. 

Foram utilizados como critérios de inclusão estudos publicados de Janeiro de 2003 a Março de 2023, envolvendo indivíduos diagnosticados com DC na sua forma cardíaca, faixa etária de 18 a 60 anos em uso de marca-passo nos idiomas inglês, espanhol e português.

Os critérios de exclusão foram estudos sem relato de DC, registros de critério para uso de marca passo não for relatado, estudos com pessoas fora da faixa etária 18 a 60 anos, indivíduos portadores de outras condições e/ou patologias, pesquisas realizadas em animais, revisões, editoriais e relatos de casos e artigos duplicados em mais de uma base de dados.

O primeiro autor da revisão extraiu os dados de forma independente e o segundo autor registrou em planilha e tabela do Word e Excel quando necessário, as discrepâncias identificadas foram resolvidas através da discussão entre ambos. A busca na literatura foi realizada em abril de 2023. Os autores realizaram, então, uma análise minuciosa dos materiais científicos para descrever e sistematizar os dados mais relevantes sobre o tema delimitado.

Os títulos foram avaliados em conjunto pelos autores, primeiramente, realizada a leitura dos resumos e, posteriormente, quando haviam dúvidas sobre os desfechos examinados nos estudos de sua análise na íntegra. Foram confeccionadas, então, quadros dos resultados pelos autores e usados para fazer o compilado das evidências. As informações extraídas incluíram: autor e ano; local do estudo; tipo do estudo; número de participantes e resultados (Quadro 1), (Quadro 2), (Quadro 3).

RESULTADOS 

Foram realizadas as buscas nos bancos de dados e encontrados artigos no: Medline (61), SciELO (8), LILACS (34) e Science Direct (3) totalizando 106 artigos. Logo, os títulos dos artigos foram avaliados para determinar se eram potencialmente elegíveis para a inclusão, então, foram excluídos os estudos que não possuíam informações sobre Doença de Chagas e marca-passo, resultando em 29. 

Em seguida, dois foram eliminados por serem duplicatas, restando 75. Desses, 52 estudos foram eliminados a partir da leitura do resumo, restando 23. Ao todo, foram excluídos 14 estudos por não atenderem a critérios de inclusão e/ou satisfazer determinados critérios de exclusão. Ao final, foram incluídos nove artigos para essa revisão (Figura 1).

Figura 1 – Fluxograma para busca e seleção dos estudos científicos utilizados para esta revisão de literatura.

Fonte: Autoria própria.

Dos nove artigos analisados, seis apresentam desenho de estudo de coorte prospectiva e três estudos transversais. Os estudos selecionados para a revisão foram predominantemente brasileiros, correspondem a oito no total e apenas um estudo de origem colombiano. Além disso, apresentam ano de publicação que varia de 2006 a 2020. O tempo do período dos estudos varia de 2 a 58 meses. A identificação dos estudos estão descritas com mais detalhes no Quadro 1 e 2.

Quadro 1 – Descrição dos artigos científicos selecionados para esta pesquisa. 

AUTOR/ANOLOCALTIPO DO ESTUDOOBJETIVO
Peixoto GL, et al.  (2018)BrasilCoorte prospectivaDeterminar a taxa e preditores de morte em pacientes com CC com marca-passo.
Júnior OS, et al. (2012)BrasilCoorte prospectivaAvaliar a evolução morfológica e funcional cardíaca de um ano após implante de marca-passo definitivo em posição do septo ventricular direito em pacientes chagásicos.
Araújo EF, et al. (2014)BrasilCoorte prospectivaAnalisar a evolução clínica de pacientes com CC com IC com terapia farmacológica otimizada, submetidos à terapia de RC.
Junior ASM, et al. (2015)BrasilEstudo transversalAvaliar a resposta cardiorrespiratória do acelerômetro em relação ao sensor misto em chagásicos submetidos ao teste de exercício cardiopulmonar.
Freitas EL, et al. (2020)BrasilCoorte prospectivaInvestigar a associação entre a presença de EAFAs ≥ 6 minutos e eventos isquêmicos cerebrais em pacientes chagásicos.
Rocha EA, et al. (2017)BrasilCoorte prospectivaAnalisar as características clínicas e ecocardiográficas dessa população de super-responsivos, comparando-os com os demais pacientes submetidos à terapia de RC.
Rincon LG, et al. (2006)BrasilEstudo transversalComparar pacientes chagásicos e não-chagásicos com marca-passo cardíaco artificial uni ou bicameral quanto à fração de ejeção do ventrículo esquerdo, o limiar de estimulação ventricular e a incidência de arritmias cardíacas.
Mora G, et al. (2007)ColômbiaEstudo transversalDeterminar a soroprevalência de anticuerpos anti -Trypanosoma cruzi em pacientes com bloqueios de condução ou disfunção sinusal que requerem implantação de marca-passo.
Baggio Junior JM, et al. (2006)BrasilCoorte prospectivaAvaliar a importância clínica da presença de marca-passo definitivo previamente ao implante de CDI, considerando variáveis clínicas e epidemiológicas.

Legenda: CC (Cardiomiopatia Chagásica), IC (Insuficiência Cardíaca), RC (Ressincronização Cardíaca), EAFAs (Episódios de alta frequência atrial), DC (Doença de Chagas), CDI (Cardioversor-Desfibrilador Implantável).

Fonte: Autoria própria.

Quadro 2 – Descrição da quantidade da amostra e do tempo dos estudos selecionados nesta revisão bibliográfica.

AUTOR/ANOAMOSTRA (Nº)TEMPO DO ESTUDO
Peixoto GL, et al.  (2018) 39624 meses
Júnior OS, et al. (2012) 3012 meses
Araújo EF, et al. (2014) 72Média de 46,6 meses (4 a 79 meses)
Junior ASM, et al. (2015) 442 meses
Freitas EL, et al. (2020) 6713 meses
Rocha EA, et al. (2017 )14636 meses
Rincon LG, et al. (2006) 8022 meses
Mora G, et al. (2007) 33212 meses
Baggio Junior JM, et al. (2006) 275Média de 58 meses

Fonte: Autoria própria.

É visto que as principais indicações para assistência ventricular são decorrentes das alterações causadas no coração pela DC, sendo elas: anormalidades de condução (PEIXOTO GL, et al., 2017; ARAÚJO EF, et al., 2014; MENEZES JUNIOR ADA S, et al., 2015), doença do nó sinusal (MENEZES JUNIOR ADA S, et al., 2015; RINCON LG, et al., 2006; MORA GUILLERMO, et al., 2007) e bloqueios atrioventriculares (FERNADES PTA, et al., 2022; SILVA JÚNIOR OD, et al., 2012; ARAÚJO EF, et al., 2014; MORA GUILLERMO, et al., 2007). Os principais resultados de cada publicação estão sumarizados com detalhes no Quadro 3.

Quadro 3 – Principais resultados e indicações para uso de marca-passo de acordo com os artigos selecionados para esta revisão integrativa.

AUTOR/ANOINDICAÇÃO DE MARCA-PASSORESULTADOS
Peixoto GL, et al.  (2018)Anormalidade de condução e bradicardia.1)  Indivíduos com CC com marca-passo têm uma taxa de mortalidade anual elevada, apesar das variáveis ​​relacionadas não serem preditores de morte. 2) Taxa de mortalidade anual de 8,6%. A principal causa foi morte súbita (33,8%) seguida IC 32,3%. 
Júnior OS, et al. (2012)BAV total em 22 (73,3%) e BAV de 2º grau EM 8 (26,7%).1) Todos os pacientes estavam em NYHA I e não ocorreram alterações nos parâmetros de TE. 2) Não foram detectadas variações nas medidas do remodelamento ecocardiográfico. 3) Dissincronia intraventricular foi observada em 46,6% dos casos. 
Araújo EF, et al. (2014)IC com anormalidades de condução e BAV. 1) Houve resposta à terapia em 65,3% dos pacientes, com mortalidade geral de 34,7%. 2) Melhora da classe NYHA e aumento da fração de ejeção do ventrículo esquerdo. 3) Diminuição do diâmetro sistólico final e do volume sistólico final do VE e melhora da sobrevida dos pacientes.
Junior ASM, et al. (2015) Doença do nódulo sinusal.1) Duplo sensor proporciona uma sequência elétrica mais fisiológica quando comparado ao sensor acelerômetro.
Freitas EL, et al. (2020)Não especifica.1) 11,9% dos pacientes apresentaram EAFAs ≥ 6 minutos. 2) Eventos isquêmicos cerebrais silenciosos em 16,4% dos pacientes, sendo que, destes, 63,6% haviam apresentado os EAFAs ≥ 6 minutos na análise dos DCEIs. 3) A idade avançada e a presença de EAFAs ≥ 6 minutos foram preditores independentes para eventos isquêmicos.
Rocha EA, et al. (2017)Não especifica.1) Os super responsivos representaram 16,4% dos pacientes submetidos à terapia de RC e 8,9% com normalização da classe funcional, diâmetro diastólico do VE e FE. 2) Os super responsivos apresentam doença cardíaca menos avançada no início do estudo e nenhuma diferença em relação ao tipo de distúrbio de condução no início do estudo. 3) Pacientes com bloqueio de ramo direito e hemibloqueio, mas sem cardiopatia chagásica, também podem evoluir como super responsivos.
Rincon LG, et al. (2006)Doença do nó sinusal e BAV total.1) Os chagásicos apresentaram menor FE do VE ao ecocardiograma e maior incidência de arritmia ventricular ao Holter 24h. 2) Pacientes com marca-passo, a DC está associada a marcadores cardíacos de prognóstico adverso. 3) O número médio de extra-sístoles ventriculares isoladas em 24h foi significativamente maior no grupo chagásico. 4) Média do diâmetro diastólico final, calculada para os dois grupos, não apresentou diferença estatisticamente significativa. 5)  FE foi significativamente menor no grupo chagásico.
Mora G, et al. (2007)Bloqueios de condução ou disfunção sinusal.1) A prevalência de anticorpos anti- T. cruzi em pacientes portadores de marca-passo é alta e se associa com mais tempo para implantação de marca-passos. 2) A implantação de marca-passos se apresentou mais temporariamente no grupo chagásico. 3)  O reconhecimento do vetor e a procedência endêmica das zonas altas e intermediárias podem sugerir que a origem da bradiarritmia está associada à DC.
Baggio Junior JM,, et al. (2006) Não especifica.1) A presença de marca-passo previamente ao implante de CDI apresentou prevalência elevada (20%) para morte súbita e associou-se a um pior prognóstico. 2) O período entre o implante do marca-passo e CDI foi curto (mediana de 37 meses) na população estudada.

Legenda: CC (Cardiomiopatia Chagásica), BAV (Bloqueio atrioventricular), NYHA (New York Heart Association), TE (Teste de esforço), ICC (Insuficiência Cardíaca Congestiva), RC (Ressincronização Cardíaca), (EAFAs) Episódios de alta frequência atrial, DCEIs (Dispositivos Cardíacos Eletrônicos Implantáveis), VE (Ventrículo Esquerdo), FE (Fração de ejeção), DC (Doença de Chagas), CDI (Cardioversor-Desfibrilador Implantável).

Fonte: Autoria própria.

DISCUSSÃO

A CC é uma das complicações mais graves da doença e está associada à alta morbimortalidade. É visto que, o comprometimento do complexo estimulante cardíaco é um achado comum e um marcador evolutivo de pior prognóstico na DC. A combinação de anormalidades primárias no músculo cardíaco, com alterações no enchimento de suas câmaras, ativação neuro-hormonal e adaptações moleculares desencadeadas pelo aumento do estresse e pela hipertrofia endocárdica afetam o miocárdio de forma difusa. (SILVA JÚNIOR OD, et al., 2012; ARAÚJO EF, et al., 2014)

Essa situação, somado às alterações na condução elétrica podem alterar a faixa de condução atrioventricular ou retardar as porções do VE gerando uma dissincronia contrátil. Essa dissincronia é frequentemente observada em pacientes com complexo QRS alargado e bloqueio de ramo. (SILVA JÚNIOR OD, et al., 2012; ARAÚJO EF, et al., 2014; RASSI JR A, et al., 2006)

Nessa revisão, notou-se que as lesões mais graves e potencialmente fatais do sistema de condução são o bloqueio atrioventricular (BAV) de segundo grau e o BAV de terceiro grau. Tais formas de bradiarritmia são geralmente, acompanhadas por sintomas de baixo débito cerebral ou cardíaco e estão frequentemente associadas a um risco de morte súbita​​ (FERNADES PTA, et al., 2022; ARAÚJO EF, et al., 2014; MORA GUILLERMO, et al., 2007). O BAV total é um fator desfavorável, caso não seja tratado, tem sobrevida curta após o diagnóstico. O controle das bradiarritmias pela estimulação cardíaca representa um avanço significativo na melhora do prognóstico dos pacientes com DC (SILVA JÚNIOR OD, et al., 2012).

É evidente que a predominância dos estudos de uso de marca-passo na DC são feitos na América Latina por ser local de região endêmica. No Brasil, particularmente, as bradiarritmias decorrentes do comprometimento do sistema de condução na CC são uma das principais indicações para implante de marca-passo definitivo. A pesquisa sobre formas menos prejudiciais de estimulação cardíaca que não contribuem para o aparecimento e agravamento da IC ou aumento da mortalidade se faz necessária (FERNADES PTA, et al., 2022; SILVA JÚNIOR OD, et al., 2012; ARAÚJO EF, et al., 2014; MORA GUILLERMO, et al., 2007).

Na DC, a fibrilação atrial (FA) é a arritmia mais frequente, podendo ser encontrada em 4 a 12% dos casos, e por isso se torna uma das principais causas dos eventos embólicos na população chagásica. Uma das maneiras de identificação precoce da FA é através, quando indicado, do marca-passo, caracterizando-se por apresentar episódios de altas frequências atriais/ventriculares (FAARV) durante o monitoramento continuo e assintomático do paciente. Nessa revisão, apenas o estudo de Freitas EL, et al. (2020) constatou o benefício do uso do marca-passo na identificação dos FAARV e ocorrência de episódios isquêmicos em pacientes chagásicos (MENEZES JÚNIOR ADA S, et al., 2015).

A estimulação cardíaca pode causar efeitos nocivos, principalmente em pacientes com disfunção sistólica. No entanto, corações sem alterações estruturais significativas e com função sistólica preservada podem ser capazes de compensar o impacto negativo da dessincronia mecânica (SILVA JÚNIOR OD, et al., 2012; SÁ LAB, et al., 2009).

O estudo de Júnior OS, et al. (2012) aponta que a estimulação septal em chagásicos sem IC apresenta aumento da duração do complexo QRS e associação com dissincronia intraventricular em 46,6% dos casos. Apesar dessas alterações, nenhum efeito estrutural ou funcional significativo foi detectado de modo que os pacientes permaneceram em classe funcional I e não foram quantificadas variações ecocardiográficas compatíveis com remodelamento ventricular esquerdo. Nesse contexto, a presença de dissincronia e o grau de repercussão na estrutura e função cardíaca podem ser comparados a outras etiologias se utilizando o sítio de estimulação apical. 

Além desse, o estudo de Araújo EF, et al. (2014) apontou que os pacientes com CC submetidos à terapia de ressincronização cardíaca (TRC), tiveram alterações estatisticamente significativas para a classe funcional, aumento da FE do VE, diminuição do diâmetro sistólico final esquerdo e do volume sistólico final à ecocardiografia doppler. Outros estudos também corroboram com tal fato quando comparam à terapia medicamentosa. Embora a maior parte da remodelação ocorra entre 3 e 9 meses após a terapia de RC, a remodelação ainda ocorre em até 18 meses (GHIO S, et al., 2009; SOUSA AS, et al., 2008).

Apesar disso, ainda há 30-40% dos pacientes que podem não ter uma boa evolução após a terapia de RC. Nessa revisão, um estudo comparou pacientes super responsivos e pouco responsivos à RC. Notou-se que nos primeiros, dos 16,4% dos pacientes submetidos a RC, 8,9% tiveram normalização da classe funcional, diâmetro diastólico de VE e FE (ROCHA EA, et al., 2017).

Tais pacientes tinham doença cardíaca menos avançada no início do estudo e nenhuma diferença em relação ao tipo de distúrbio de condução inicial e que a CC foi menos propensa a ser bem responsiva mesmo na presença de bloqueio de ramo esquerdo (BRE) (ROCHA EA, et al., 2017).

CONCLUSÃO

É visto que o presente artigo encontrou como dificuldade fundamental para a sua realização a falta de estudo a respeito do tema pesquisado. No entanto, diante das análises foi notório que a definição de uma resposta adequada às repercussões da RC ainda são questionáveis. Os achados deste trabalho sugerem que pacientes chagásicos com cardiopatia menos avançada (NYHA I e II) têm mostrado melhores resultados com a RC e o uso de marca-passo não houve mudanças morfológicas ou cardíacas significativas nesses casos. Desta forma, os pacientes podem permanecer assintomáticos, com a manutenção da capacidade funcional e sem remodelamento ventricular esquerdo. No entanto, pacientes com cardiopatia mais avançada, classe funcional III e IV, apresentando algum tipo de bloqueio atrioventricular, podem apresentar mau prognóstico e mais risco de morte quando comparados a pacientes não-chagásicos com o mesmo dispositivo.

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