THE IMPORTANCE OF THE MANCHESTER TRIAGE SYSTEM IN TWO PUBLIC HOSPITALS: AN ANALYSIS FROM THE USER’S PERSPECTIVE
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202506251814
Júlia Aparecida Andrade da Silva1; Alessandra Mara de Oliveira1; Caroline Foster Medeiros1; Daiana Silva Reis Santos1; Guilherme Luís Nascimento Quintiliano1; Heber Felipe Lemes Alves1; Nielly Andrade Carvalho Ribeiro1; João Paulo Soares Fonseca2
RESUMO
Este estudo analisou a importância do Protocolo de Manchester na triagem de pacientes em dois hospitais públicos do sul de Minas Gerais, sob a ótica dos usuários. Trata-se de uma pesquisa quantitativa, descritiva e exploratória, com 144 participantes classificados com a cor verde. O objetivo foi compreender como os usuários percebem a aplicação do protocolo, avaliando seus efeitos na organização do atendimento, na qualidade da assistência e na percepção de justiça durante o processo de triagem. A maioria relatou satisfação com o atendimento, destacando a efetividade do protocolo na priorização dos casos e na segurança clínica. Aspectos como acolhimento, clareza nas orientações e postura ética e humanizada da equipe foram elogiados. Entretanto, parte dos usuários demonstrou dificuldade em compreender os critérios de classificação e expressou insatisfação com o tempo de espera, principalmente aqueles com sintomas desconfortáveis, porém não urgentes. Tais percepções indicam a importância de aprimorar a comunicação entre profissionais e usuários, promovendo maior entendimento sobre o funcionamento do protocolo. Conclui-se que, embora o Protocolo de Manchester contribua significativamente para a organização do fluxo e para a qualidade do cuidado, sua plena efetividade depende de ações integradas que fortaleçam a escuta qualificada, a empatia e a humanização do atendimento. O fortalecimento desses elementos pode melhorar a aceitação do protocolo, reduzir conflitos e elevar a satisfação dos usuários nos serviços de urgência e emergência.
Palavras-chave: Classificação de risco. Satisfação dos usuários. Hospitais públicos.
ABSTRACT
This study analyzed the importance of the Manchester Triage System in patient assessment at two public hospitals in southern Minas Gerais, Brazil, from the users’ perspective. It is a quantitative, descriptive, and exploratory research involving 144 participants classified under the green category. The objective was to understand how users perceive the application of the protocol, evaluating its impact on the organization of care, the quality of healthcare services, and the perception of fairness during the triage process. Most participants reported satisfaction with the care received, attributing it to the effectiveness of the protocol in prioritizing cases and ensuring clinical safety. Positive aspects included the welcoming approach, clarity of information, and the ethical and humanized conduct of the healthcare professionals. However, some users expressed difficulties in understanding the risk classification criteria and dissatisfaction with waiting times—especially those experiencing uncomfortable but non urgent symptoms. These findings highlight the importance of improving communication between healthcare teams and patients, aiming for greater transparency and user understanding of the triage process. It is concluded that while the Manchester Triage System plays a significant role in streamlining patient flow and enhancing the quality of care, its full effectiveness depends on integrated actions that promote qualified listening, empathy, and humanized care. Strengthening these elements can improve protocol acceptance, reduce conflicts, and increase user satisfaction in emergency healthcare services.
Keywords: Risk classification. User satisfaction. Public hospitals.
1. INTRODUÇÃO
A gestão eficiente do fluxo de usuários em hospitais públicos brasileiros constitui um dos principais desafios enfrentados pelos serviços de saúde, especialmente diante da alta demanda populacional e da escassez de recursos humanos, materiais e estruturais. Em contextos de urgência e emergência, nos quais decisões rápidas são fundamentais para a preservação da vida e para a segurança do paciente, torna-se indispensável a adoção de estratégias que priorizem o atendimento conforme a gravidade clínica (CUNHA, 2017). Nesse cenário, destaca-se o Protocolo de Manchester, uma ferramenta amplamente utilizada para a classificação de risco nos serviços de pronto atendimento, cujo principal objetivo é garantir um acolhimento mais humanizado e uma triagem baseada em critérios clínicos objetivos (SACOMAN et al., 2019; MAIS LAUDO, 2019).
Implementado em diversos países e adaptado à realidade brasileira, o protocolo organiza o atendimento por meio de cores que indicam níveis de urgência, permitindo que pacientes com maior risco sejam atendidos prioritariamente. Essa sistematização contribui para a otimização dos recursos disponíveis e para um fluxo mais ágil e seguro, considerando a natureza crítica e dinâmica dos ambientes hospitalares (GLOSS, 2017). No Brasil, a Portaria nº 2.048/2002, do Ministério da Saúde, introduziu o Acolhimento com Classificação de Risco (ACCR) como diretriz organizacional para os serviços de urgência e emergência, consolidando a triagem como parte integrante do processo de cuidado. Essa diretriz foi reforçada pela Política Nacional de Humanização (PNH), que reconhece a centralidade do enfermeiro na condução da triagem e no primeiro contato com o usuário (BRASIL, 2002; SOUZA et al., 2013).
Pesquisas indicam que a adoção do Protocolo de Manchester está associada a melhorias na qualidade do atendimento, como a redução de agravos, à diminuição da mortalidade e a maior eficiência nos processos de triagem (MORAIS et al., 2021; GUEDES et al., 2015). Contudo, apesar desses avanços, persistem desafios relevantes, especialmente no que se refere à compreensão, por parte dos usuários, dos critérios utilizados na classificação de risco. Muitas vezes, a falta de clareza sobre os motivos pelos quais determinada cor foi atribuída gera sensações de injustiça, insegurança ou insatisfação, impactando negativamente a experiência do paciente nos serviços de saúde (CABRAL et al., 2021).
Diante desse contexto, o presente estudo teve como objetivo analisar a percepção dos usuários classificados com a cor verde em dois hospitais públicos do sul de Minas Gerais, buscando compreender os impactos do protocolo sob a ótica dos pacientes e contribuir para o aprimoramento do atendimento e o fortalecimento da comunicação entre equipe de saúde e população nos serviços de emergência.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O presente trabalho aborda a percepção dos usuários sobre a aplicação do Protocolo de Manchester em dois hospitais públicos, sendo necessário compreender, por meio da revisão da literatura, os fundamentos conceituais e técnicos que sustentam essa ferramenta, bem como sua inserção nas políticas públicas de saúde e nas práticas da enfermagem em urgência e emergência. A seguir, apresentam-se os principais eixos teóricos que embasam esta pesquisa, organizados por subtemas.
2.1 Sistema Único de Saúde e Acolhimento com Classificação de Risco
O Sistema Único de Saúde (SUS), criado pela Constituição Federal de 1988 e regulamentado pela Lei nº 8.080/1990, representa um marco na saúde pública brasileira, sendo responsável por atender mais de 190 milhões de pessoas, das quais aproximadamente 80% dependem exclusivamente dele (BRASIL, 2000). Com base nos princípios da universalidade, integralidade e equidade, o SUS busca garantir o acesso à saúde como direito de todos e dever do Estado.
A Política Nacional de Humanização (PNH), instituída em 2003, reforçou a importância do acolhimento como diretriz para o atendimento em saúde. Para Ângela et al. (2011), o acolhimento deve ser compreendido como uma prática que envolve escuta qualificada, responsabilização e construção conjunta de estratégias de cuidado. Entretanto, a realidade dos serviços de urgência, muitas vezes, destoa desse princípio. Lourenço et al. (2011) ressaltam que os prontos-socorros vêm se tornando porta de entrada preferencial, inclusive para demandas que poderiam ser resolvidas na Atenção Primária, em função da rapidez e da ausência de agendamento.
Esse cenário gera sobrecarga dos serviços de emergência, agravada por fatores como acidentes de trânsito, violência urbana e doenças crônicas não transmissíveis (SACOMAN et al., 2019). Para enfrentar essa demanda crescente, o Ministério da Saúde instituiu, por meio da Portaria nº 2.048/2002, o Acolhimento com Classificação de Risco, estabelecendo diretrizes para a priorização dos atendimentos com base na gravidade clínica (BRASIL, 2002).
2.2 Criação da Classificação de Risco e o Protocolo de Manchester
A origem dos sistemas de triagem remonta às guerras napoleônicas, sendo utilizados inicialmente para identificar quais feridos necessitavam de atendimento imediato. Com o passar do tempo, essa prática evoluiu até chegar à padronização dos sistemas modernos. Na década de 1980, surgiu na Austrália o Australasian Triage System (ATS), seguido pelo Manchester Triage System (MTS), desenvolvido no Reino Unido sob a liderança de Kevin Mackway-Jones (MACKWAY-JONES et al., 2005).
O Grupo de Classificação de Risco de Manchester foi criado em 1994 com o intuito de estabelecer uma metodologia comum, composta por critérios clínicos claros, fluxogramas, programas de capacitação e auditoria do processo de triagem (JÚNIOR & MAFRA, 2010). No Brasil, o termo “triagem” foi substituído por “classificação de risco” para enfatizar a priorização clínica, e sua adoção foi recomendada pela Portaria nº 2.048/2002 (BRASIL, 2002). Minas Gerais foi pioneiro na implementação do protocolo, com o apoio do Grupo Português de Triagem (JÚNIOR & MAFRA, 2010).
2.3 Funcionalidade e Efetividade do Protocolo de Manchester
O Protocolo de Manchester visa organizar o fluxo assistencial a partir da avaliação clínica inicial do paciente. Para Azevedo et al. (2015), ele considera aspectos como queixa principal, sinais vitais, histórico médico e condições físicas para atribuir níveis de prioridade que orientem o tempo de espera ideal. A estrutura do protocolo é composta por 52 fluxogramas clínicos com discriminadores que auxiliam na decisão do enfermeiro (COUTINHO et al., 2012).
Ao priorizar casos de maior risco, o protocolo promove a equidade e a eficiência dos serviços, como salienta Rosemberg et al. (2001). No entanto, sua efetividade depende de recursos financeiros e estruturais, como destaca Freitas (1997), sendo necessária a capacitação profissional, aquisição de equipamentos, uso de tecnologias da informação e infraestrutura adequada. A Resolução nº 2.334/2010, da Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais, viabiliza repasses para apoiar financeiramente a implementação do protocolo em diversos serviços (BRASIL, 2010).
2.4 Capacitação dos Profissionais de Enfermagem
O protagonismo do enfermeiro na classificação de risco está previsto na Portaria nº 2.048/2002, que estabelece a obrigatoriedade de formação específica para o exercício dessa função (TEIXEIRA, 2011). A Resolução COFEN nº 661/2021 reafirma que essa atividade é exclusiva do enfermeiro capacitado, devendo ocorrer em consultório apropriado e com tempo médio de quatro minutos por classificação (COFEN, 2021).
De acordo com o COREN – BA (2023), o enfermeiro deve utilizar escuta qualificada, julgamento clínico e protocolos técnicos para realizar a triagem. Cursos oferecidos por estados como Minas Gerais visam qualificar os profissionais, promovendo decisões mais seguras e melhorando a eficiência dos serviços (UNAERP, 2018; COREN – MS, 2019).
2.5 Aplicabilidade do Sistema de Manchester
O Protocolo de Manchester pode ser aplicado em diversos contextos do sistema de saúde, como prontos-socorros, unidades de pronto atendimento, ambulatórios, eventos de grande escala e no transporte pré-hospitalar (SERVIN et al., 2021). Sua flexibilidade e clareza metodológica permitem seu uso em ambientes diversos, desde que a equipe esteja devidamente treinada e os recursos necessários estejam disponíveis.
3. METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de abordagem quantitativa, descritiva e de caráter exploratório, realizado em dois hospitais públicos situados em distintos municípios da região sul do estado de Minas Gerais. A investigação teve como foco os usuários que passaram pela classificação de risco segundo o Protocolo de Manchester, sendo incluídos apenas aqueles classificados com a cor verde durante a triagem. Foram excluídos da amostra os indivíduos classificados com as demais cores do referido protocolo.
A amostra foi composta por 144 participantes, selecionados por conveniência. Todos os participantes foram informados sobre os objetivos da pesquisa e concordaram em participar de forma voluntária, mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), em conformidade com os princípios éticos da pesquisa com seres humanos.
A coleta de dados foi realizada presencialmente, por meio da aplicação de um questionário estruturado, elaborado pelos próprios autores. O instrumento era composto por oito questões, sendo sete de natureza objetiva e uma discursiva, com o intuito de captar informações qualitativas complementares.
O conteúdo do questionário abordou aspectos relacionados à compreensão dos usuários sobre o sistema de classificação de risco, tempo de espera até o atendimento, percepção quanto à prioridade atribuída e o nível de satisfação com o serviço prestado. As respostas foram organizadas e analisadas por meio da distribuição de frequências, possibilitando a identificação de padrões de percepção e a avaliação da efetividade do processo de triagem sob a ótica dos usuários.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário UninCor, conforme Parecer nº 7.398.760 e CAAE nº 85571624.0.0000.0295, seguindo as diretrizes estabelecidas pelas Resoluções nº 466/2012 e 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os dados coletados foram sistematizados e apresentados por meio de uma tabela e cinco gráficos ilustrativos. A amostra foi composta por 144 usuários classificados com a cor verde, conforme o Protocolo de Manchester, atendidos em dois hospitais públicos localizados em distintos municípios do sul de Minas Gerais, ambos vinculados ao atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Tabela 1 – Variáveis sociodemográficas dos usuários do protocolo de Manchester, cor verde, N.144, Três Corações, Minas Gerais, Brasil, 2025.


A amostra foi composta por 144 usuários classificados com a cor verde segundo o Protocolo de Manchester. No que se refere à faixa etária, 45,0% dos indivíduos possuíam entre 18 e 28 anos, 29,0% entre 29 e 39 anos, 12,0% entre 40 e 50 anos, 6,0% entre 51 e 61 anos e 8,0% tinham mais de 61 anos.
Quanto ao sexo, observou-se que 56,0% dos participantes eram do sexo feminino e 44,0% do sexo masculino. Em relação à ocupação, 16,42% foram classificados na categoria “outras profissões”, seguidos por aposentados (14,93%), auxiliares (9,70%) e indivíduos sem atividade laboral (6,72%).
A amostra foi composta por 144 usuários classificados com a cor verde, conforme o Protocolo de Manchester. No que diz respeito à faixa etária, 45,0% dos participantes tinham entre 18 e 28 anos, 29,0% entre 29 e 39 anos, 12,0% entre 40 e 50 anos, 6,0% entre 51 e 61 anos, e 8,0% eram maiores de 61 anos. Quanto ao sexo, verificou-se que 56,0% dos respondentes eram do sexo feminino, enquanto 44,0% eram do sexo masculino.
Em relação à ocupação, a categoria “outras profissões” representou a maior parte da amostra, com 16,42%, seguida por aposentados (14,93%), auxiliares (9,70%) e indivíduos sem atividade laboral (6,72%). As demais ocupações apresentaram os seguintes percentuais: Vendedor(a): 5,97%; Motorista: 3,73%; Goleiro: 3,73%; Professor(a): 2,99%; Faxineira: 2,99%; Costureira: 2,24%; Garçonete: 2,24%; Militar: 2,24%; Técnico(a) de enfermagem: 2,24%; Advogado(a): 2,24%; Atendente: 1,49%; Recepcionista: 1,49%; Enfermeiro(a): 1,49%; Repositor(a): 1,49%; Eletricista: 1,49%; Jovem aprendiz: 1,49%; Borracheiro: 1,49%; Mecânico: 1,49%; Motoboy: 1,49%; Operador(a) de caixa: 1,49% e a categoria “não informado” representou 3,73% da amostra.
Quanto ao município de residência, 52,10% dos participantes eram oriundos de Varginha, 43,06% de Três Corações, 2,08% de São Thomé das Letras, e 0,69% de cada um dos seguintes municípios: Baependi, Carmo da Cachoeira, São Bento Abade e São Paulo.
Gráfico 1 – Histórico de Classificação em Atendimentos Anteriores pelo Protocolo de Manchester.

Gráfico 2 – Conhecimento Prévio dos Usuários sobre as Cores da Classificação no Protocolo de Manchester (vermelho, laranja, amarelo, verde e azul).

Gráfico 3 – Percepção dos Usuários sobre os Critérios de Tempo de Espera Associados às Cores do Protocolo de Manchester.

Gráfico 4 – Avaliação do Tempo de Espera no Atendimento de Urgência segundo a Classificação do Protocolo de Manchester.

Gráfico 5 – Percepção de Justiça na Ordem de Atendimento Definida pelo Protocolo de Manchester.

Gráfico 6 – Avaliação da Eficiência do Protocolo de Manchester como Método de Triagem de Pacientes

A amostra do presente estudo foi constituída por 144 usuários classificados com a cor verde, conforme os critérios estabelecidos pelo Protocolo de Manchester. Em relação à experiência prévia com o referido sistema de triagem, 54,2% dos participantes relataram já ter sido submetidos à classificação em atendimentos anteriores, ao passo que 45,8% indicaram não possuir experiência prévia com o protocolo.
Quanto ao conhecimento prévio acerca da codificação por cores do Protocolo de Manchester, a qual compreende as categorias vermelho, laranja, amarelo, verde e azul, verificou-se que 54,2% dos indivíduos demonstraram familiaridade com essa classificação, enquanto 45,8% declararam desconhecimento sobre a existência e os significados das cores.
No que se refere ao entendimento dos critérios temporais associados a cada cor na estratificação de risco, apenas 37,5% dos respondentes afirmaram compreender os tempos de espera estipulados pelo protocolo, contrastando com 62,5% que indicaram ausência de conhecimento sobre essa associação.
A avaliação subjetiva do tempo de espera para atendimento revelou que 44,4% dos usuários o classificaram como razoável, 34,7% como demorado, 16,7% como rápido e apenas 4,2% o consideraram muito rápido. Esses dados evidenciam uma tendência predominante à percepção intermediária ou negativa quanto à agilidade do atendimento prestado.
No tocante à percepção de equidade do sistema de classificação na definição da ordem de atendimento, 61,1% dos participantes consideraram o protocolo justo, enquanto 38,9% avaliaram o modelo como injusto, sinalizando possíveis fragilidades na comunicação dos critérios clínicos utilizados durante a triagem.
Por fim, ao serem questionados quanto à eficiência do Protocolo de Manchester como ferramenta para triagem de pacientes, 81,9% dos entrevistados o classificaram como eficiente, ao passo que 18,1% não reconheceram sua efetividade, sugerindo a coexistência de avaliações positivas com percepções críticas por parte dos usuários.
DISCUSSÃO
Estudos apontam que a experiência do usuário nos serviços de urgência e emergência está fortemente associada à qualidade da comunicação, à empatia no atendimento e à efetividade dos processos internos (FERNANDES et al., 2020; SILVA et al., 2019). Relatos positivos, como “Foi um atendimento muito bom”, “Gostei muito, nota 10” e “Fui muito bem atendida”, evidenciam que, em muitos casos, o serviço de triagem e atendimento médico foi percebido como eficaz, acolhedor e resolutivo. Esse tipo de satisfação está frequentemente relacionado à postura humanizada dos profissionais de saúde, o que corrobora os achados de Fernandes et al. (2020), os quais destacam a importância do acolhimento, mesmo diante de limitações estruturais.
Por outro lado, críticas como “O atendimento é muito devagar”, “Eles só pegaram meus sintomas e mais nada, poderia melhorar” e “Os atendimentos podiam ser mais direcionados corretamente, pois demora muito” refletem insatisfações que extrapolam a etapa da triagem inicial, envolvendo falhas na organização do fluxo interno, escassez de recursos humanos e demora na resposta da equipe médica. Conforme Bezerra et al. (2020) e Lima et al. (2021), embora o Protocolo de Manchester seja validado como uma ferramenta eficaz para a classificação de risco por gravidade, sua aplicação isolada não assegura a redução do tempo total de permanência no serviço, especialmente em contextos com alta demanda e infraestrutura limitada.
Além disso, observou-se insatisfação com a cor atribuída durante a triagem, o que indica dificuldades na compreensão dos critérios adotados pelo protocolo. Afirmações como “Acho que poderiam perguntar mais coisas para definir quem passa na frente” e “Estou com muita dor e podiam ter dado uma cor diferente” revelam uma lacuna na comunicação entre os profissionais e os usuários, refletindo uma percepção de injustiça ou inadequação na classificação. Esse achado está em consonância com os estudos de Silva et al. (2019), que apontam que a falta de clareza sobre o significado das cores e os critérios utilizados pode gerar insegurança, frustração e até desconfiança por parte dos pacientes.
Em síntese, a satisfação dos usuários tende a ser maior quando estes se sentem ouvidos e respeitados durante o atendimento, independentemente do tempo de espera. Por outro lado, a ausência de informações claras e as falhas no fluxo de atendimento comprometem a percepção de efetividade do sistema (FERNANDES et al., 2020; ALLAMY et al., 2021).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo evidenciou que o Protocolo de Manchester se mostra uma ferramenta eficaz na estratificação de risco e na organização do fluxo assistencial em unidades de urgência e emergência, segundo a percepção dos usuários classificados com a cor verde. A maioria dos participantes demonstrou satisfação com o atendimento recebido, destacando como fatores positivos a postura acolhedora dos profissionais de saúde e a clareza relativa no processo de triagem.
Entretanto, foram identificadas fragilidades importantes, especialmente relacionadas à comunicação interpessoal, à compreensão dos critérios de classificação e à percepção de equidade no tempo de espera, elementos que comprometem a efetividade plena do protocolo. Tais achados apontam para a necessidade de ações educativas direcionadas à população usuária e de capacitação contínua das equipes de saúde, com vistas a fortalecer a transparência, a humanização e a segurança no processo de acolhimento e triagem.
Conclui-se, portanto, que a efetividade do Protocolo de Manchester está condicionada não apenas à sua correta aplicação técnica, mas também à integração de estratégias que promovam escuta qualificada, acolhimento humanizado e valorização da experiência do usuário nos serviços públicos de saúde.
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