A IMPORTÂNCIA DO PROFISSIONAL FARMACÊUTICO PERANTE O USO INDISCRIMINADO DE ANTIBIÓTICOS NO PERÍODO DE PANDEMIA DA COVID-19

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7987120


Ana Karine Maciel Leal 1
Laynara Santos Silva2


RESUMO

Durante a pandemia da COVID-19, o uso indiscriminado de antibióticos tornou-se uma preocupação importante. No Brasil, devido as fakes news muitas pessoas foram induzidas ao erro e começaram a usar antibióticos para tratar sintomas relacionados ao vírus, como febre, tosse e dor de garganta, apesar do fato de que os antibióticos são ineficazes contra vírus e só devem ser usados para tratar infecções bacterianas. Esse uso excessivo e inapropriado de antibióticos pode levar ao desenvolvimento de bactérias resistentes aos antibióticos, o que pode ter consequências graves para a saúde pública. Nesse sentido, o objetivo da pesquisa é analisar o uso indiscriminado de antibióticos no período de pandemia da COVID-19 e enfatizar a importância do profissional farmacêutico frente a esse cenário. A metodologia é de revisão de literatura nas plataformas Scielo, Google acadêmico, PubMed, com o tema COVID-19 delimitados no recorte temporal de 2019 a 2023. Os resultados apontam que o profissional farmacêutico tem um papel fundamental a desempenhar na prevenção do uso excessivo de antibióticos e na promoção do uso racional desses medicamentos. O farmacêutico é o profissional de saúde mais próximo do paciente em muitas situações e pode fornecer informações e orientações sobre a correta utilização dos antibióticos, bem como alertar sobre os riscos do uso inadequado.

Palavras-chave: Covid-19. Fake News. Uso indiscriminado. Revisão de literatura.

ABSTRACT

During the COVID-19 pandemic, the indiscriminate use of antibiotics has become a major concern. In Brazil, due to fake news, many people have been misled and missed using antibiotics to treat virus-related symptoms such as fever, cough and sore throat, despite the fact that antibiotics are ineffective against the virus and should only be be used to treat bacterial bacteria. This excessive and inappropriate use of antibiotics can lead to the development of antibiotic-resistant bacteria, which can have serious consequences for public health. In this sense, the objective of the research is to analyze the indiscriminate use of antibiotics in the period of the COVID-19 pandemic and to emphasize the importance of the pharmaceutical professional in this scenario. The methodology is an literature review on the Scielo, Google Scholar, PubMed platforms, with the COVID-19 theme delimited in the time frame from 2019 to 2023. The results indicate that the pharmaceutical professional has a fundamental role in preventing the excessive use of antibiotics and in promoting the rational use of these drugs. The pharmacist is the health professional closest to the patient in many situations and can provide information and guidance on the correct use of antibiotics, as well as warn about the risks of inappropriate use.

Keywords: Covid-19. Fake News. Indiscriminate use. Literature Review.

1 INTRODUÇÃO

No final do ano de 2019, no mês de dezembro, uma doença conhecida como novo coronavírus (SARS-CoV2) se espalhou por vários países, por conseguinte, sendo declarada como pandemia da COVID-19, em março de 2020. Esse cenário ocasionou altos índices de mortalidade em escala mundial e, devido a isso, com a grande repercussão sobre a atual pandemia, foi-se observado uma quantidade alarmante de toda a população com práticas de automedicar-se, perpetuando assim para o uso indiscriminado de medicamentos sem as orientações necessárias, devidamente influenciadas pela disseminação de fake news, e notícias sem embasamentos científicos (LEAL et al, 2021).

A automedicação inapropiada tem como consequência efeitos indesejáveis, enfermidades iatrogênicas e mascaramento de doenças evolutivas, representando então, um problema a ser prevenido. Certamente a qualidade da oferta de medicamentos e a eficiência do trabalho das várias instâncias que controlam este mercado também exercem papel de grande relevância nos riscos implícitos na automedicação (FERREIRA et al., 2021).

Desde o início da pandemia, diversos medicamentos que já existiam no mercado foram tratados como alternativas terapêuticas contra a COVID-19 (PINTO CD, et al., 2021). No Brasil o uso desses medicamentos ficou conhecido como “kitcovid” ou “tratamento precoce”, e através da disseminação de informações midiáticas, a prescrição desses medicamentos e o uso off-label para o tratamento e/ou prevenção da COVID- 19 ganhou espaço. Entretanto, além da falta de comprovação cientifica, esses fármacos podem estar associados a Reações Adversas a Medicamentos (RAM) grave, e apontam danos potenciais para a saúde (MELO JR, et al., 2021).

O manejo incorreto de antimicrobianos é a principal causa do aumento das taxas de resistência bacteriana, acarretando diversas patologias e grandes prejuízos em um contexto de pandemia, como por exemplo o surgimento de novas bactérias resistentes e o aumento da mortalidade. Outro problema relacionado ao manejo incorreto é o risco de intoxicações que podem levar o indivíduo até a letalidade (LEAL WS, et al., 2021).

Houve um aumento significativo nas vendas principalmente de antimicrobianos, como exemplo, a azitromicina. De acordo com os dados do Sistema Nacional em Gestão de Produtos Controlados (SNGPC), as vendas do medicamento durante a pandemia ampliaram 30,8%, mais de 12 milhões em 2019 para mais de 16 milhões de remédios de controle especial, em 2020 (MELO et al.,2021).

A prática do uso irracional de medicamentos demonstra a necessidade de estratégias mais efetivas voltadas para a segurança do paciente, e diante deste cenário, fica evidente a importância da atuação do farmacêutico com o objetivo de promover o conhecimento correto para a população (MARTINS MA e REIS AM, 2020).

O profissional farmacêutico, através da atenção farmacêutica, é uma ferramenta de suma importância utilizada diante do cenário do uso indiscriminado de medicamentos, tendo como objetivo, promover o uso racional de medicamentos e conscientizar a população sobre a importância dessa prática, enfatizando sobre a necessidade da presença desse profissional em todas as farmácias e drogarias promovendo a promoção da saúde (RUIZ, 2022).

A justificativa se baseia no atual cenário da pandemia da COVID-19, relacionando esse cenário com o manejo incorreto de medicamentos, a falta de informação, e a importância do profissional farmacêutico perante esse cenário. O uso indiscriminado desses fármacos, podem causar diversos riscos iminentes à saúde púbica mundial. Diante disso, o profissional farmacêutico se torna indispensável nesse cenário, pois é ele que irá aconselhar e orientar sobre o uso correto dos medicamentos, em específico, nesse estudo, os antibióticos.

Nesse sentido, o objetivo da pesquisa é analisar o uso indiscriminado de antibióticos no período de pandemia da COVID-19 e enfatizar a importância do profissional farmacêutico frente a esse cenário, especificamente: identificar os motivos do uso indiscriminado de antibióticos; informar os riscos do uso indiscriminado de antibióticos no período da COVID19; e enfatizar a importância da orientação farmacêutica quanto ao uso indiscriminado de antibióticos.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Antibióticos

Os antimicrobianos são fármacos fabricados de forma sintética em laboratórios, a partir de substâncias químicas. Estes possuem a ação de eliminar ou inibir o crescimento dos chamados microrganismos. Os antimicrobianos quimioterápicos são substâncias sintéticas que agem sobre a célula, já os antibióticos, em grande parte derivam de microrganismos e possuem ação sobre as bactérias. Dentro das evoluções que a medicina obteve nas últimas décadas, os antimicrobianos representaram um grande avanço, onde a partir das inovações da indústria farmacêutica, percebeu-se o grande potencial destes sobre os mais diversos patógenos (MACHADO et al., 2019).

Os autores Sampaio, Sancho e Lago (2018) conceituam antimicrobianos como “substâncias que atuam em bactérias, aquelas que interferirão no crescimento e/ou multiplicação de outros microrganismos, como vírus, fungos e parasitas”. Ou seja, impedem ou minimizam a reprodução desses patógenos, é válido ressaltar que a produção bem como a utilização desses fármacos está relacionada a aspectos sociais, éticos e sanitários, pois assim como outras classes medicamentosas, esta não é apenas mais um produto.

Desde a descoberta da penicilina pelo médico inglês Alexander Fleming a partir de estudos acerca da bactéria staphylococcus aureus, os antibióticos passaram a se alvo de ampla utilização. Representando uma revolução contra doenças infecciosas, impactando na redução de morbimortalidade mundial de doenças de etiologia infecciosas bacterianas. Os antibióticos são diferenciados quanto suas características físicas, químicas, farmacológicas, e seus mecanismos de ação, para que haja a prescrição adequada, vários critérios devem ser considerados, para que a terapia com os antibióticos seja eficaz (COSTA e JÚNIOR 2017).

2.2 Uso indiscriminado de antibióticos

A constituição Federal de 1988 afirma em seu artigo 196 que a saúde é um direito de todos e um dever do estado, afirma ainda em seu artigo 200 que é função do SUS o controle e fiscalização de substâncias, envolvendo a produção medicamentosa. O Ministério da saúde (MS) possui uma portaria n. 3916 de 1988, que objetiva garantir a segurança, eficácia, qualidade, acesso e uso racional da população quanto ao uso desses medicamentos. Porém, mesmo diante de todas essas normativas o uso indiscriminado dessas medicações tem sido considerado um grave problema de saúde pública, já que a partir dessa prática surge uma grave problemática: A resistência bacteriana (SAMPAIO, SANCHO E LAGO, 2018).

A resistência microbiana é um fenômeno biológico e natural, a resistência bacteriana está intimamente relacionada ao elevado consumo de antibióticos por parte da população, com seu uso indiscriminado e inadequado, representando hoje uma grande porcentagem das prescrições médicas. O MS afirma que uma grande porcentagem das prescrições de antibióticos é inadequada, e outra grande parte da população fazem uso destas medicações por conta própria. O uso de antimicrobianos para doenças respiratórias de origem viral é muito comum, representando um uso abusivo, acredita-se que o desconhecimento sobre os efeitos adversos referentes a este uso indiscriminado é um fator a ser considerado (FERREIRA et al., 2021)

A resistência bacteriana é um dos obstáculos mais resistentes da saúde pública, trazendo consequências clínicas, hospitalares e sociais. O termo “superbactérias” nada mais é do que a proliferação rápida e associada ao uso inadequado ou exagerado das medicações, onde cada vez mais se oportunizam dessa prática para tornarem- se mais rápidas e resistentes. A indústria farmacêutica se desafia constantemente a desenvolver novas medicações e estratégias frente a essa problemática da saúde pública mundial, procurando desenvolver antibióticos com ações isoladas e específicas, minimizando os efeitos sistêmicos da terapêutica (SILVA, AQUINO 2018).

O uso indiscriminado de antibióticos sem uma avaliação adequada e específica corrobora para a progressão da resistência supracitada, sendo assim um grande obstáculo quanto à prescrição de terapêuticas para as patologias, é válido ressaltar que esse fenômeno é mais comum nos âmbitos hospitalares, visando o uso em grande escala dessas substâncias. Literaturas trazem a realização do antibiograma antes do emprego da terapêutica com antibióticos, para que haja uma seletividade, evitando uma toxidade relacionada ao uso inespecífico e sem resultados positivos (TEIXEIRA, FIGUEIREDO E FRANÇA, 2019).

Um contingente de pessoas está vindo a óbito por consequência do contato com as bactérias resistentes, já que estas oferecem resistência à maioria da gama de antibióticos, quando o antibiótico é utilizado de forma indevida, as bactérias da flora são eliminadas, já as mutantes estão a mercê da multiplicação, quando este possui contato com o antibiótico novamente, já não produz mais nenhum efeito sobre a bactéria (RUIZ, 2022)

A falta de informações, os aspectos socioculturais e econômicos são vistos como fatores que contribuem para esse retrospecto- uso indiscriminado dos antibióticos, a educação em saúde é uma ferramenta possível frente a este uso, de grande contribuição de profissionais em saúde como os farmacêuticos, para reduzir este agravo, estimulando o conhecimento antecipado à administração do antibiótico, onde somado à orientações quanto à continuidade do tratamento sem interrupções e a ausência de automedicações, haveria um combate ao uso indiscriminado da terapêutica antimicrobiana, representando um avanço importante no combate da resistência aos antibióticos (CHAGAS, Souza e SILVA, 2017).

2.3 Uso indiscriminado de antibióticos no período da pandemia de Covid-19

Em Dezembro de 2019 foram registrados os primeiros casos de covid-19 na China, especificamente na província de Wuhan. Junto com a pandemia, emergiu o uso indiscriminado de antibióticos, visando o tratamento de infecções secundárias causadas pelo vírus. O uso dos antibióticos por automedicação ou prescrição inadequada já era alvo de preocupação dos pesquisadores, com o período pandêmico a preocupação com se multiplicou, já que algumas infecções simples já apresentam dificuldade no tratamento devido à resistência às bactérias. Compreende- se ainda, que cada vez mais estudos têm mostrado menos eficácia dos antibióticos diante da covid- 19 (MARQUES, DUARTE e MUNHOZ, 2021).

Os sintomas da pneumonia relacionados à covid-19 foi a justificativa para o uso dos antibióticos como terapêutica adotada, ainda que não houvesse comprovações científicas que justificassem o emprego de seu uso, onde a recomendação era que seu uso fosse apenas no ambiente hospitalar, porém, a partir das notícias falsas divulgadas nas redes midiáticas, os medicamentos tornaram-se uma prática comum para leigos através da automedicação, ou ainda por indicações de profissionais da saúde. Estudos trazem que uma grande porcentagem da população que contraiu a covid-19 recebeu a prescrição de algum tipo de antibiótico, ainda que não houvesse infecção bacteriológica (SILVA e NOGUEIRA, 2021).

A busca desenfreada por medicamentos para a profilaxia e tratamento durante o período pandêmico levou a um aumento de tratamentos alternativos sem nenhuma eficácia, como consequência sabe-se que os antibióticos possuem variados mecanismos de ação, onde burlam a ação farmacológica oferecendo resistência aos microrganismos. Vários antibióticos foram prescritos para a covid-19, a classe dos macrolídeos foi a mais empregada, a exemplo da azitromicina, contudo, cada vez mais estudo vem sendo divulgados revelando que a azitromicina não apresentou nenhuma significância clínica benéfica para estes pacientes, a menos que houvesse infecção bacteriana diagnosticada (SILVA, ALVES e NOGUEIRA, 2022).

A azitromicina possui uma ação antiviral e imunomoduladora, além de atividade antifibrótica. O uso indiscriminado do antibiótico supracitado causa o aumento da resistência bacteriana, tendo em vista que o uso exacerbado destes, é principal fator responsável pela resistência, gerando impactos em toda a população, de modo especial no âmbito hospitalar, a partir da elevação das taxas de incidência de morbimortalidade oriundos da resistência bacteriana, gerando um aumento de gastos aos cofres públicos. Vários fatores levam a automedicação, a propaganda acerca da venda de medicamentos sem receita e o déficit no acesso aos serviços de saúde são um destes fatores (LEAL et al., 2021).

A multirresistência bacteriana é um problema de saúde pública que envolve não apenas os países subdesenvolvidos, mas o desenvolvidos também. A preocupação das autoridades atualmente é que o uso indiscriminado dos antibióticos durante a pandemia venha desencadear uma nova realidade pandêmica, a klebisiella pneumoniae carbapenemase é a bactéria considerada super, possui uma ação enzimática com a capacidade de inativação dos antibióticos, até mesmo os mais eficazes no tratamento das infecções mais perigosas, esta se oportuniza dos momentos de fragilidade do organismo humano, como por exemplo, uma queda imunológica (MARQUES, DUARTE e MUNHOZ, 2021).

As consequências da resistência bacteriana causada pelo uso indiscriminado de antibióticos durante a pandemia de covid- 19 podem tornar uma infecção comum e simples de ser tratado um grande problema que pode vir a levar o paciente a óbito. A OMS afirma que a repercussão mundial da resistência bacteriana é um agravante de saúde pública tão grave quanto uma pandemia. O uso irracional desses medicamentos, além de ser um fator agravante para a super resistência, é motivo de intoxicação medicamentosa, que também geram repercussões sistêmicas como, a sobrecarga hepática e renal (OLIVEIRA, PEREIRA e ZAMBERLAM, 2020).

2.4 Orientação farmacêutica frente ao uso indiscriminado de antibióticos

A educação em saúde, a partir de orientações realizadas por profissionais da saúde, como o farmacêutico acerca das consequências da automedicação e seus malefícios a partir do uso irracional, sendo eles a contribuição para fatores de morbimortalidade, é uma iniciativa de grande significância no cenário atual, tendo em vista não apenas os riscos durante a pandemia, mas também o período pós pandemia, considerando as infecções simples, com alta resistência diante dos antibióticos mais eficazes pela resistência adquirida a partir de seu uso inadequado (NASCIMENTO, OLIVEIRA e GUZEM, 2021).

A OMS orienta que medidas devem ser tomadas diante das consequências do indiscriminado dos antibióticos, o farmacêutico através de sua prática profissional, por meio de ações informativas junto com a equipe multidisciplinar tem o papel de discutir e relacionar informações dentro deste contexto que estimulem a população a realizar o uso racional desses medicamentos, evitando agravos presentes e futuros para a saúde do paciente. Dentre as orientações, que pode vir através de palestras, distribuição de panfletos, o farmacêutico deve enfatizar a importância de que o paciente só se submeta à terapêutica, se esta for prescrita por um profissional legalmente habilitado (BASTOS, 2022).

A abordagem do paciente oferecendo alternativas terapêuticas que não necessitem dos antibióticos para resolução é uma opção relevante, que reduz a exposição desnecessária do paciente à ação dos antibióticos. Orientar outros profissionais que cedem quanto à prescrição do fármaco por solicitação do paciente que se sente mais seguro à ação dos antibióticos é outro fator importante. Implementar um programa de educação acerca do uso irracional dos antimicrobianos, tem demonstrado um incentivo de respostas positivas, com um caráter preventivo aos danos à saúde do paciente, e aos cofres do poder público (OLIVEIRA, PEREIRA, e ZAMBERLAM, 2020).

Os serviços farmacêuticos quanto à orientação medicamentosa é uma das atribuições do farmacêutico, que objetiva prevenir, proteger e promover a saúde da população em geral. Diante das dúvidas da população em meio ao cenário pandêmico, o farmacêutico ganhou um grande destaque, já que este é um profissional de primeiro contato, dotado de informações assertivas para oferecer aos pacientes, os farmacêuticos dos centros hospitalares também receberam reconhecimento. Dessa forma, o profissional deve se oportunizar diante da possibilidade de orientar quanto ao uso indiscriminado de antibióticos, considerando o cenário atual, para minimizando os impactos à população (SILVA et al., 2021).

3 METODOLOGIA

O presente trabalho trata-se de estudo de revisão integrativa, com abordagem qualitativa, de cunho descritivo. Com relação à pesquisa bibliográfica, Gil (2017) fala a respeito das contribuições ao afirmar que as pesquisa bibliográfica de conhecimento secundário, já produzido por obras já impressa em formato de artigos.

A pesquisa foi realizada com os bancos de dados da Scielo, Periódico da Capes e PubMED e a feitura da pesquisa ocorreu em três momentos (busca, identificação e triagem), no primeiro momento houve a separação por termos de busca, que são: covid-19 (covid-19) AND use of antibiotics (uso de antibiótico) AND fake news (notícias falsas) AND/OR harm (malefícios).

Os critérios de inclusão foram: estudos publicados entre os anos de 2017 a 2023, nas bases de dados mencionadas, sobre o uso indiscriminado de antibióticos durante a pandemia. Os critérios de exclusão foram à presença artigos que não estavam disponibilizado na integra, resumos, títulos e outros idiomas que não seja o português e inglês.

4 RESULTADOS

A busca literária, a partir do cruzamento dos descritores nas bases de dados resultaram os achados conforme o apresentado no fluxograma a seguir, adaptado de PAGE et al (2021).

Gráfico 1: Fluxograma da pesquisa

Fonte: Elaborada pela autora, 2023.

Quadro 1: Resultados encontrados

Autores/anoObjetivosPrincipais achados
Santos et al. (2023)Avaliar o aumento no consumo de antibióticos em ambiente hospitalar durante a pandemia de Covid-19Houve o aumento de 21,3% na dispensação de antibióticos durante o primeiro ano da pandemia de Covid-19, onde o consumo no mesmo período no ano de 2019 saiu de 35.867, para 43.509 no ano de 2020. Dos medicamentos descritos nesse estudo, o que teve maior aumento na dispensação foi a Azitromicina 500 mg comprimido, antes da pandemia tinha sido dispensados 492 comprimidos, durante a pandemia esse número foi pra 3365 comprimidos, um aumento de 683,9%, o que pode ser explicado pela veiculação de estudos que utilização esse antibiótico como possível tratamento.
Ferreira (2022)Avaliar os resultados das uroculturas e dos antibiogramas realizados em um Laboratório privado, situado no município de Caicó/RN, no período de julho a dezembro de 2019 e julho a dezembro de 2021, com ênfase na resistência bacterianaObservou-se que houve um aumento na resistência de cepas de E. coli as fluoroquinolonas, especialmente ciprofloxacino e norfloxacino, verificada em 2021, quando se comparou com o ano 2019, podendo a pandemia do COVID-19 ter sido um fator agravante para esse aumento, considerando-se o elevado uso de antimicrobianos nesse período. Ademais, constatou-se que a nitrofurantoína apresentou os melhores resultados sobre esse uropatógeno, não havendo alterações no perfil de resistência.
Faravo et al. (2021)Analisar o padrão de consumo de antibióticos de uma farmácia pública do município de Marialva/PR antes e durante a pandemia da COVID-19, por meio de um estudo do tipo transversal.Os dados demonstraram redução na dispensação de antibióticos, de acordo com a quantidade e classes prescritas, o que pode estar relacionado às medidas de segurança estabelecida pelo município em período de pandemia, maior cuidado quanto a proteção individual e redução do número de infecções bacterianas
Orrico et al. (2022)Descrever o perfil de sensibilidade das bactérias isoladas em um hospital de campanha de COVID-19 em Salvador, Bahia.Infecção por bactérias gram-negativas resistentes a meropenem foi associado a uma elevada taxa de mortalidade na população com COVID-19. Com o melhor conhecimento da evolução da COVID-19, foi possível diminuir o uso de antibióticos indiscriminadamente, adotar medidas mais rigorosas de uso de equipamentos de proteção individual e lavagens de mãos, havendo uma melhora no perfil de sensibilidade ao longo dos 2 anos de pandemia.
Teixeira e Cortes (2023)Revisar e sintetizar aspectos da COVID-19, sua forma de apresentação e quadro clínico, além da complicação pela coinfecção bacteriana ao SARS-Cov-2 e ressaltar a importância da identificação precisa desses microrganismos.Como observado, apesar de não ser tão prevalente, a coinfecção pode vir com o paciente já na admissão, ou ser adquirida em ambiente hospitalar, principalmente nos pacientes em ventilação mecânica invasiva. Essa associação dos patógenos, virais e bacterianos, pode aumentar o tempo de internação dos pacientes, aumentar o tempo de intervenção invasiva, como a ventilação mecânica, e aumentar também o risco de vida
Costa (2021)Verificar o impacto da COVID-19 no perfil de resistência aos antibióticos de isolados microbiológicos de um Serviço de Medicina IntensivaA implementação de medidas reforçadas de prevenção e controlo de infeção e a implementação de planos de contingência para o controlo da COVID-19 poderão ter seguindo a tendência já apresentada na literatura atual. No entanto, não podemos negligenciar as possíveis consequências que a longo prazo possam advir do aumento do consumo antibiótico no que concerne à resistência aos antibióticos.
Oliveira et al. (2021)Realizar um levantamento numérico comparativo do uso de medicamentos antibióticos nos anos de 2019 e 2020, fornecidos por uma rede de farmácias na cidade de Nanuque-MGHouve um aumento significativo nas vendas de antibióticos em todo o país no ano de 2020 e na cidade de Nanuque não foi diferente, o número das vendas de antibióticos duplicou de forma exponencial em um curto período de tempo, devido ao atual momento que estamos vivenciando. Vale ressaltar que esses medicamentos são de venda restrita, então todos eles foram prescritos por algum médico, desde que seja para doenças comuns ou até com a crença de ferramenta de prevenção e combate ao covid-19, mesmo sem a comprovação da eficácia pelos órgãos reguladores mundiais.
Abreu e Silva (2021)Analisar o uso indiscriminado de remédios off-label para o tratamento de covid-19 e seus desfechos.É notória o aumento na incidência de prescrição de antibióticos para pacientes com COVID-19, mesmo sem avaliação epidemiológica e microbiológica prévia. O uso empírico de antibióticos poderá resultar, em futuro muito próximo, em uma epidemia de micro-organismos multirresistentes, sendo este cenário de gravidade alarmante.
Santos et al. (2021)Avaliar a série temporal de casos de Mucormicose no Sudeste do Brasil de 20102021 e observar incidência da infecção após o início da pandemia de Covid-19.O período da pandemia de Covid-19 apresentou uma elevação significativa na incidência de Mucormicose no Sudeste do Brasil em relação à última década. O aumento importante de pacientes críticos, principalmente em maiores de 40 anos, submetidos à procedimentos invasivos, corticoterapia, uso indiscriminado de antibióticos e antifúngicos de amplo-espectro deve ter tido influência nesse aumento. Contudo, estudos que avaliem individualmente esses pacientes com diagnóstico de mucormicose são necessários para verificar a sua relação com o diagnóstico de Covid-19.
Vieira et al. (2022)Avaliar alterações no perfil de resistência nos isolados bacterianos e compreender a epidemiologia local da presença desse microrganismo em espécimes clínicosEm 2020, foram isolados um total de 42 amostras, sendo 2 (4,76%) em hemoculturas, 7 (16,6%) em urinocultura e 33 (78,5%) em aspirado traqueal. No ano de 2021, houve isolamento de 40 amostras até agosto, sendo 4 (10%) hemoculturas, 14 (35%) urinocultura e 22 (55%) aspirado traqueal. Em 2020, a resistência era mais expressiva para cefalosporinas, enquanto em 2021, além de cefalosporinas, as amostras apresentaram perfil de resistência a cefalosporinas, Piperaciclina/Tazobactam e carbapemênicos.

Fonte: Elaborado pela autora, 2023

5 DISCUSSÕES

O artigo de Santos et al. (2023) analisou o consumo de antibióticos durante o primeiro ano da pandemia de Covid-19 em um ambiente hospitalar e observou um aumento de 21,3% na dispensação desses medicamentos em comparação ao mesmo período de 2019. O antibiótico que teve o maior aumento na dispensação foi a Azitromicina 500 mg comprimido, cujo número de comprimidos dispensados aumentou de 492 para 3365, um aumento de 683,9%. Esse aumento pode ser explicado pela veiculação de estudos que utilizam esse antibiótico como possível tratamento para a Covid-19.

Ferreira (2022) analisou os resultados de uroculturas e antibiogramas realizados em um laboratório privado de Caicó/RN, no período de julho a dezembro de 2019 e julho a dezembro de 2021, com foco na resistência bacteriana. Os resultados mostraram um aumento na resistência bacteriana em 2021 em comparação a 2019. A resistência à ampicilina aumentou de 14,9% para 28,8%, enquanto a resistência à ciprofloxacina aumentou de 3,1% para 18,2%. Além disso, a resistência múltipla aos antibióticos também aumentou de 4,4% para 14,4%. Esses resultados indicam a importância de monitorar a resistência bacteriana e utilizar os antibióticos de forma responsável para evitar o desenvolvimento de bactérias resistentes.

Faravo et al. (2021) examinou o padrão de consumo de antibióticos em uma farmácia pública de Marialva/PR antes e durante a pandemia de COVID-19, por meio de um estudo transversal. Os resultados mostraram que o consumo de antibióticos aumentou durante a pandemia em comparação ao período anterior, e que a azitromicina foi o antibiótico mais prescrito durante a pandemia.

Além disso, o estudo mostrou uma alta prevalência de prescrições de antibióticos sem indicação clínica adequada. Esses resultados ressaltam a necessidade de medidas educativas para conscientizar os prescritores e pacientes sobre o uso responsável de antibióticos, especialmente durante a pandemia de COVID-19.

Já Orrico et al. (2022) teve como objetivo analisar o perfil de sensibilidade das bactérias isoladas em um hospital de campanha de COVID-19 em Salvador, Bahia. Os resultados mostraram que as bactérias mais frequentemente isoladas foram Staphylococcus aureus e Klebsiella pneumoniae. A maioria das bactérias isoladas apresentou resistência aos antibióticos penicilina e oxacilina, além de uma alta taxa de resistência à ciprofloxacina em bactérias gram-negativas.

Por outro lado, houve uma baixa taxa de resistência à vancomicina e teicoplanina em bactérias gram-positivas. Esses resultados ressaltam a importância de monitorar a resistência bacteriana e utilizar os antibióticos de forma racional em hospitais, especialmente em hospitais de campanha que tratam pacientes com COVID-19.

O artigo Teixeira e Cortes (2023) tem como objetivo revisar e sintetizar os aspectos da COVID-19, sua forma de apresentação e quadro clínico, além da complicação pela coinfecção bacteriana com o SARS-CoV-2. O artigo destaca a importância da identificação precisa desses microrganismos para um tratamento adequado e eficaz. A revisão incluiu dados sobre a apresentação clínica da COVID19, os mecanismos de infecção e patogênese do SARS-CoV-2, além da relação entre infecção bacteriana e COVID-19. O artigo conclui que a coinfecção bacteriana é comum em pacientes com COVID-19 e pode agravar a condição clínica do paciente, aumentando a morbidade e a mortalidade. É importante realizar o diagnóstico e a identificação precisos de bactérias em pacientes com COVID-19 para garantir um tratamento eficaz.

Costa (2021) contribuiu ao analisar o impacto da COVID-19 no perfil de resistência aos antibióticos de isolados microbiológicos de um Serviço de Medicina Intensiva. O estudo foi conduzido em um hospital português e comparou os resultados microbiológicos de pacientes com COVID-19 e pacientes não COVID-19 admitidos na unidade de terapia intensiva (UTI) antes e durante a pandemia. Os resultados mostraram que não houve diferença significativa no perfil de resistência aos antibióticos entre os pacientes COVID-19 e não COVID-19. No entanto, houve um aumento significativo na taxa de infecções fúngicas em pacientes com COVID-19 em comparação com pacientes não COVID-19.

O estudo concluiu que a COVID-19 não afetou significativamente o perfil de resistência aos antibióticos em pacientes admitidos na UTI, mas ressaltou a importância de monitorar a resistência aos antimicrobianos em pacientes com COVID-19, especialmente em relação às infecções fúngicas.

No mesmo sentido, Oliveira et al. (2021) analisou o uso de medicamentos antibióticos em uma rede de farmácias na cidade de Nanuque-MG nos anos de 2019 e 2020. O estudo comparou os dados de dispensação de antibióticos da rede de farmácias durante esses anos e verificou que houve uma redução significativa no uso de antibióticos em 2020 em relação a 2019. Além disso, foi observado que os antibióticos mais prescritos em ambos os anos foram a Amoxicilina e a Azitromicina. O estudo concluiu que houve uma redução significativa no uso de antibióticos em 2020, o que pode ser atribuído às medidas de isolamento social decorrentes da pandemia da COVID-19 e às campanhas de conscientização sobre o uso responsável de antibióticos.

Abreu e Silva (2021) teve como intuito analisar o uso off-label de medicamentos para o tratamento da COVID-19 e seus desfechos em pacientes hospitalizados. A análise foi baseada em um estudo retrospectivo de pacientes internados em um hospital de São Paulo, Brasil. Os resultados mostraram que houve um uso excessivo de medicamentos off-label, principalmente a hidroxicloroquina e a azitromicina, e que esses medicamentos não estavam associados a uma redução significativa na mortalidade hospitalar ou na necessidade de intubação. Além disso, o estudo relatou que houve um aumento significativo na mortalidade entre os pacientes que receberam hidroxicloroquina e azitromicina em comparação com aqueles que não receberam esses medicamentos. Já Santos et al. (2021) avaliou a série temporal de casos de mucormicose na região sudeste do Brasil, no período de 2010 a 2021, e observar a incidência da infecção após o início da pandemia de COVID-19. Os resultados mostraram que houve um aumento significativo na incidência de mucormicose após o início da pandemia, especialmente em pacientes com COVID-19 que receberam tratamento com corticosteroides. Além disso, o estudo observou que a mucormicose foi mais comum em pacientes com diabetes mellitus e que o tratamento com anfotericina B e cirurgia foi eficaz para o controle da infecção. Os autores concluíram que a mucormicose é uma complicação grave e potencialmente fatal da COVID-19 e que a conscientização e o reconhecimento precoce da infecção são importantes para um melhor prognóstico dos pacientes.

E, por fim, Vieira et al. (2022) teve como objetivo avaliar as alterações no perfil de resistência nos isolados bacterianos e compreender a epidemiologia local da presença desse microrganismo em espécimes clínicos. A pesquisa foi realizada em um hospital universitário no Brasil, no período de janeiro de 2019 a dezembro de 2020. Os resultados indicaram que houve um aumento na resistência bacteriana aos antibióticos, principalmente para as espécies de Enterobactérias, Pseudomonas aeruginosa e Acinetobacter baumannii. Além disso, o estudo destacou a importância da vigilância epidemiológica para a identificação de padrões de resistência, bem como a implementação de medidas de controle de infecção para prevenir a disseminação desses microrganismos. Os autores concluíram que é necessário um esforço contínuo para melhorar o uso racional de antibióticos e monitorar a resistência bacteriana para garantir um tratamento eficaz e seguro para os pacientes.

Nesse sentido, o que se indica é que todo e qualquer medicamento siga a prescrição e finalidade da bula (label) para garantir a segurança, qualidade e eficácia do tratamento. Entretanto, quando não há prescrição para a patologia/sintomas e o consumo é realizado, denomina-se off-label (SILVEIRA, 2019).

Na pandemia, o Conselho Federal de Farmácia – CFF iniciou a pesquisa de consumo de medicamentos vinculados aos discursos negacionista e de boicote a saúde, conforme a figura abaixo:

Figura 1: Dados resumidos de vendas do “Kit COVID” com aumento ano a ano – 2017 a 2021

Fonte: CFF, 2021

É notório que a automedicação alavancou a venda de remédios ineficazes em função do discurso que off-label é eficaz no tratamento e prevenção de covid-19. Portanto, é válido pontuar as contra indicações absolutas e relativas dos principais medicamentos (Hidroxicloroquina, Ivermectina e Azitromicina. Lima (2020) analisou o “Kit Covid” sob as ordens de Subsecretária de Saúde do Estado de Goiás:

Quadro 2: Medicamentos presentes no “Kit Covid” e a sua funcionalidade para o tratamento de Covid-19

MedicamentoPrescrição da bulaEstudos que comprovam ineficácia
Cloroquina (CQ) ou Hidroxicloroquina (HCQ)O uso do medicamento, em doses habituais, pode estar associado a efeitos adversos: no Sistema Nervoso Central, cardiovasculares, digestivos, hematológicos, dermatológicos, renais, entre outros. Eventos mais comuns: transtorno da acomodação visual, visão turva, cefaleia, fadiga, nervosismo, ansiedade, apatia, irritação gastrointestinal, náuseas, vômitos, estomatite, prurido, coloração azul-escuro da boca, pele e unhas, branqueamento dos cabelos, queda de cabelos, exantema cutâneo, opacidade da córnea, ataque agudo de porfiria e psoríase em pessoas susceptíveis. Apesar de relatados como raros, chamam atenção, devido à possível gravidade:Revisão sistemática que incluiu 11 estudos incluídos que compararam HCQ ou CQ com a terapia padrão, em 100.497 adultos hospitalizados com Covid-19, mostrou maior risco de qualquer evento adverso com o uso da HCQ quando comparado com a terapia padrão (metanálise de 03 estudos randomizados). Os resultados dos estudos de coorte (03), também submetidos a

depressão e estimulação psíquica, neurite periférica, neuromiopatia; alterações do eletrocardiograma, como inversão da onda T e alargamento do complexo QRS, bloqueio AV, cardiomiopatia; insuficiência hepática fulminante, anemia aplástica, trombocitopenia, insuficiência renal em pacientes com deficiência de G-6-PD, ototoxicidade, entre outros. A bula prevê contraindicações importantes: CQ – para portador de psoríase ou outra doença esfoliativa, de porfiria, de epilepsia, de miastenia gravis, de deficiência de glicose-6-fosfato-desidrogenase e para pacientes com problemas graves no fígado (insuficiência hepática avançada). HCQ – maculopatias/retinopatias. Existe ainda a possibilidade de interações medicamentosas e o risco de efeitos tóxicos graves e irreversíveis, principalmente associado ao uso prolongado, com altas doses. A bula adverte que a CQ se trata de um fármaco que apresenta estreita margem de segurança e uma dose única de 30 mg/kg pode ser fatal. E no caso da HCQ, aponta o risco carcinogênico e teratogênico.metanálise, mostraram que a CQ e a HCQ se associaram a maior risco de tontura (um estudo/373 participantes), alteração eletrocardiográfica (um estudo/492 participantes), arritmia ventricular (um estudo/84.160 participantes para HCQ e um estudo/83.012 participantes para CQ), prolongamento do intervalo QT (um estudo/492 participantes) e parada cardiorrespiratória (um estudo/492 participantes) (PACHECO et al. 2020).
Azitromicina (AZ)Efeitos indesejáveis relatados em estudos clínicos ou na experiência pós comercialização incluem alterações: sistema sanguíneo e linfático, ouvido e labirinto, gastrintestinais, hepatobiliar, pele e tecido subcutâneo, psiquiátricos, cardíacos, entre outros. Apesar de relatados como raros, chamam atenção, devido à possível gravidade: disfunção hepática, convulsões, trombocitopenia, palpitações e arritmias incluindo taquicardia ventricular e prolongamento QT e Torsades de Pointes, pancreatite, eritema multiforme, Pustulose Exantemática Generalizada Aguda (PEGA), síndrome de Stevens Johnson (SSJ), Necrólise Epidérmica Tóxica (NET), reações adversas a medicamentos com eosinofilia e sintomas sistêmicos (DRESS – Drug Reaction with Eosinophilia and Systemic Symptoms), nefrite intersticial, disfunção renal aguda, entre outros. Assim como com qualquer antibiótico é recomendável a constante observação dos sinais de crescimento de organismos resistentes, incluindo fungos.Importante ressaltar que antibióticos não têm indicação em infecções virais e seu uso indiscriminado e inadequado favorece a resistência bacteriana (SBI, 2020). Revisão sistemática conduzida por grupos de especialistas da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) não encontrou nenhum ensaio clínico randomizado avaliando a efetividade de antibacterianos empíricos no paciente com COVID-19 sem evidência de infecção

d. Existe ainda a possibilidade de interações medicamentosas diversas, que podem impactar na gravidade dos efeitos adversos.bacteriana simultânea. Os estudos analisados apontaram que o risco de eventos adversos cardiovasculares da CQ/HCQ, principalmente de arritmias, é potencializado quando em associação com AZ (FALAVIGNA et al, 2020).
IvermectinaAs reações adversas são, em geral, de natureza leve e transitória, e incluem: aparelho digestivo, sistema nervoso central, reações epidérmicas, reações do tipo Mazzotti e oftálmicas. O tratamento proposto em bula, trata-se de dose única, anual. Em casos individuais, mediante avaliação e critério médico, podese considerar a repetição da dose em intervalo de 3 meses. Sobre dose de repetição a bula deixar registrado que Messi e colaboradores publicaram um relato de caso na literatura africana, em 2017, com paciente que apresentou encefalopatia, obnubilação e cegueira bilateral; após dose de repetição, 15 dias após a dose de 150 mcg/Kg.Não foram localizados estudos atuais sobre a segurança em doses superiores à dose prevista em bula, nem tão pouco quanto a doses de repetição como proposto por algumas das orientações disseminadas, em mídias sociais e veículos não científicos, para o uso preventivo a COVID19. Porém uma revisão de literatura recente aponta que, diante dos dados farmacocinéticos disponíveis sobre a ivermectina, a parti de estudos com dosagem clinicamente relevantes (150–800 lg/kg) e excessivas (> 2000 lg/kg) indicam que não seria possível atingir, em seres humanos, as concentrações necessárias para ação inibitória ao SARS-CoV2. De forma que não há nenhuma justificativa científica plausível para a inclusão desta droga em protocolos terapêuticos de COVID- 19 (MOMEKOV e MOMEKOVA, 2020).

Fonte: Lima, 2020

Nesse sentido, os danos da automedicação no período de pandemia são incalculáveis, pois não é possível categorizar os efeitos diretos e indiretos da prática. Contudo, as contraindicações e a quantidade de óbitos são produtos de toda uma dinâmica desenfreada do fenômeno pandêmico.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo teve como intuito analisar o uso indiscriminado de antibióticos no período de pandemia da COVID-19 e compreender a importância do farmacêutico nesse contexto por meio de uma revisão de literatura. É notório que automedicação off-label é potencialmente perigosa, irresponsável e, em sua maioria, ineficaz. No contexto de pandemia, essa conduta maximiza os danos, pois não havia literaturas e saberes sobre o covid-19 e suas implicações.

Na pesquisa, é fato que existe uma consciência sobre os riscos da automedicação e não optam pela metodologia. Aqueles que aderiram o uso de off label na pandemia foram incentivados por familiares, redes sociais e amigos que propagam essa conduta. Dentre aqueles que utilizaram, analisou-se que não houve efeito no consumo desses medicamentos e aqueles que tiveram percepções positivas não souberam descrever os benefícios.

Logo, entende-se que o estudo obteve êxito ao analisar o uso indiscriminado de antibióticos no período de pandemia da COVID-19 e enfatizar a importância do profissional farmacêutico frente a esse cenário, especificamente: identificar os motivos do uso indiscriminado de antibióticos; informar os riscos do uso indiscriminado de antibióticos no período da COVID19; e enfatizar a importância da orientação farmacêutica quanto ao uso indiscriminado de antibióticos.

REFERÊNCIAS

ABREU, J. A. C. de; SILVA, F. B. A. Uma “espada-de-dois-gumes”: bactérias & Covid19 / A double-edged sword: bacterias & Covid-19. Brazilian Journal of Development, [S. l.], v. 7, n. 5, p. 53750–53769, 2021

BASTOS, I.O. O papel do farmacêutico no combate a resistência bacteriana: uma revisão integrativa. 2022. 47 fl. (Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia), Curso de Bacharelado em Farmácia, Centro de Educação e Saúde, Universidade Federal de Campina Grande, Cuité – Paraíba – Brasil, 2022.

BRAOIOS, A. et al. Uso de antimicrobianos pela população da cidade de Jataí (GO), Brasil. Ciência & saúde coletiva, v. 18, p. 3055-3060, 2013.

CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA. Acesso a vacinas pode ter influenciado baixa nas vendas do kit covid. 2021. Disponível em: <https://www.cff.org.br/noticia.php?id=6431>. Acesso em: 28 de mar. de 2023

COSTA, F.M.C.M. Impacto da COVID-19 no perfil de resistência aos antibióticos de isolados microbiológicos de um Serviço de Medicina Intensiva. 97f. 2021. Trabalho Final do Curso de Mestrado Integrado em Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, 2021

DA COSTA, A.L.P.; JUNIOR, A.C.S.S. Resistência bacteriana aos antibióticos e Saúde Pública: uma breve revisão de literatura. Estação Científica (UNIFAP), v. 7, n. 2, p. 45-57, 2017.

DA SILVA DAVID, Maria Tereza Santos. O impacto do uso indiscriminado de antibioticos na pandemia do COVID-19. PANDEMIA: Caminhos para Aprendizagem.[S. l.]: Pedro & João Editores, p. 165, 2021.

DA SILVA, M.O; AQUINO, S. Resistência aos antimicrobianos: uma revisão dos desafios na busca por novas alternativas de tratamento. Revista de Epidemiologia e Controle de Infecção, v. 8, n. 4, p. 472-482, 2018.

DE OLIVEIRA, H.J.P. et al. Educação em saúde como forma preventiva do uso indiscriminado dos antibióticos. Revista Saúde-UNG-Ser, v. 11, n. 1 ESP, p. 52, 2018.

DIEL, J. C.; HEINECK, I.; SANTOS, D. B.; T. S. D. PIZZOL. Uso off-label de medicamentos segundo a idade em crianças brasileiras: um estudo populacional. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 23, p. 2-4, 2020.

DOS SANTOS, M. L.; FALCÃO, A. H. P. B. de M.; DE JESUS, M. M. R.; OLIVEIRA, A. P. da S.; BAIA, S. J. de A. A.; BRITO, F. Ítalo de S. Aumento do consumo de antibióticos em ambiente hospitalar durante a pandemia de Covid-19. Brazilian Journal of Health Review, [S. l.], v. 6, n. 1, p. 2341–2350, 2023

FAVARO, B.L.S. et al. Análise da dispensação de antibióticos antes e durante a pandemia da COVID-19 em uma farmácia pública do município de Marialva-PR. Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.6, p. 25709-25723 nov./dec. 2021

FERREIRA, F. et al. O impacto da prática da automedicação no Brasil: Revisão Sistemática/ The impact of the practice of self-medication in Brazil: Systematic Review. Brazilian Applied Science Review, [S. l.], v. 5, n. 3, p. 1505–1518, 2021.

FERREIRA, M.C.D. Infecção do trato urinário: análise do perfil de resistência bacteriana no município de Caicó/RN, comparando o período pré-pandêmico e pandêmico da COVID 19. 45 ef. 2022. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Farmácia) – Universidade Federal de Campina Grande, 2022.

LEAL, W. DE S. et al. Análise da automedicação durante a pandemia do novo coronavírus: um olhar sobre a azitromicina. Revista Ibero Americana De Humanidades, Ciências e Educação, 7(8), 580–592, 2021.

LIMA, A. Kit covid. Subsecretaria de Saúde do Estado de Goiás, 2020. Disponível em: <www.saude.go.gov.br>. Acesso em: 28 de mar. de 2023

MACHADO, O. V. O. et al. Antimicrobianos: revisão geral para graduandos e generalistas [recurso eletrônico]. Fortaleza: EdUnichristus; 2019.

MARTINS, M.A.; REIS, A.M. O farmacêutico no enfrentamento da COVID-19 no Brasil: onde estamos? Revista Brasileira de Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde, 2020; 11(3): 0517.

MELO, J.R.S. et al. Automedicação e uso indiscriminado de medicamentos durante a pandemia da COVID-19.Cadernos de Saúde Pública, v. 37, p. e00053221, 2021.

NASCIMENTO, M.C.L.; OLIVEIRA, S.D. Atenção farmacêutica e o uso indiscriminado de ivermectina em tempos de pandemia ocasionada pelo COVID19. 2021.

OLIVEIRA, L.J. et al. Aumento do uso de antibióticos durante a pandemia de covid-19 em cidade no interior de Minas Gerais. RECIMA21 – Revista Científica Multidisciplinar – ISSN 2675-6218, [S. l.], v. 2, n. 8, p. e28617, 2021.

OLIVEIRA, M. et al. Resistência bacteriana pelo uso indiscriminado de antibióticos: uma questão de saúde pública. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação, v. 6, n. 11, p. 18-18, 2020.

ORRICO, G.S. et al. Perfil de resistência antimicrobiana e seu impacto na mortalidade em pacientes com covid-19, em Salvador-Bahia. The Brazilian Journal of Infectious Diseases, v.26, 2022.

PAIVA, C.L. et al. Uso Indiscriminado de Antibióticos e Superbactérias KPC: Tema CTS Controverso no Ensino de Biologia. Revista Eletrônica Debates em Educação Científica e Tecnológica, v. 3, n. 01, 2014.

PINTO, C.D. et al. O “kit-covid” e o Programa Farmácia Popular do Brasil. Cadernos Saúde Pública, 2021; 37(2): e00348020.

RUIZ, . C. A A automedicação no brasil e a atenção farmacêutica no uso racional de medicamentos. Revista Saúde Multidisciplinar, [S. l.], v. 11, n. 1, 2022.

SAMPAIO, P.S.; SANCHO, L.G.; LAGO, R.F. Implementação da nova regulamentação para prescrição e dispensação de antimicrobianos: possibilidades e desafios. Cadernos Saúde Coletiva, v. 26, p. 15-22, 2018.

SANTOS, I.L. et al. Emergência da mucormicose no sudeste do brasil na pandemia de covid-19: serie temporal de hospitalizações 2010-2021. The Brazilian Journal of Infectious Diseases, v.26, 2021.

SILVA, J.S. et al. Automedicação e a importância da orientação farmacêutica durante a pandemia de Covid-19. Revista Artigos. Com, v. 32, p. e9196-e9196, 2021.

SILVA, L.O.P. et al. Consequências do uso indiscriminado de antimicrobianos durante a pandemia de COVID-19. Brazilian Journal of Development, v. 8, n. 2, p. 1038110397, 2022.

SILVA, L.O.P.; NOGUEIRA, J.M.R. Uso indiscriminado de antibióticos durante a pandemia: o aumento da resistência bacteriana pós-COVID-19. RBAC, v. 53, p. 2, 2021.

SILVEIRA, M. O uso Off-label de Medicamentos no Brasil. 2019. 196f. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) – Fundação Oswaldo Cruz, Brasília, 2019.

TEIXEIRA, A.R. et al. Resistência bacteriana relacionada ao uso indiscriminado de antibióticos. Revista Saúde em Foco, n.11,: 2019.

TEIXEIRA, L. T. V. .; CORTES, P. P. de R. . COVID-19 E COINFECÇÃO BACTERIANA. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação, [S. l.], v. 9, n. 2, p. 386–396, 2023

VIEIRA, C.C.A.R. et al. Perfil de resistência de pseudomonas aeruginosa em uma unidade pública materno-infantil na pandemia da covid-19. The Brazilian Journal of Infectious Diseases, v.26. 2022;


1Acadêmica do 10° período do curso de Farmácia da Faculdade de Imperatriz – FACIMP WYDEN, endereço eletrônico.

2Orientadora, mestranda, Professora do curso de Farmácia da Faculdade de Imperatriz – FACIMP WYDEN, Laynara.farma@gmail.com.