THE IMPORTANCE OF PRENATAL CARE FOR THE PREVENTION AND EARLY DETECTION OF MATERNAL DISEASES: INTEGRATIVE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10160093
Antônia Iris Borges de Sousa1;
Bruna Letícia Leite Costa1;
Izabella Araújo Morais2.
RESUMO
Introdução: A atenção pré-natal tem como foco amparar e garantir um parto com menores riscos para a mãe e para o bebê. É recomendado pelo Ministério da Saúde o mínimo de 6 consultas durante a gestação. Essas consultas preconizam a promoção da saúde, prevenção e orientação da gestante, devendo ser realizadas de forma cautelosa a fim de identificar complicações maternas. Objetivo: Descrever a relevância do acompanhamento e assistência pré-natal à mãe. Metodologia: Trata-se de uma revisão bibliográfica integrativa dos artigos publicados nos últimos 10 anos, anexados nas bases de dados PubMed, Medline e LILACS. Resultados e Discussão: Foi realizada a sinopse de 14 artigos dentro do período apresentado pela revisão e pela busca nas bases de dados. 100% discorrem sobre a importância da assistência pré-natal, sendo indispensável para as mulheres no período gravídico-puerperal. Conclusão: Destarte a realização do pré-natal em, no mínimo, 6 consultas aumenta a chance de detecção precoce de complicações maternas e, consequentemente, diminui os riscos de mortalidade.
Palavras chaves: Cuidado Pré-natal. Cuidado Perinatal. Gravidez. Complicações na Gravidez, infecciosas. Mortalidade Materna
ABSTRACT
Introduction: Prenatal care aims to support and ensure a safer childbirth for both the mother and the baby. The Ministry of Health recommends a minimum of 6 prenatal check-ups during pregnancy. These appointments focus on promoting health, preventing complications, and providing guidance to the pregnant woman. They should be carried out with caution to identify maternal complications. Objective: To describe the relevance of prenatal monitoring and assistance to the mother. Methodology: This is an integrative literature review of articles published in the last 10 years, retrieved from the PubMed, Medline, and LILACS databases. Results and Discussion: A synopsis of 13 articles within the review’s specified timeframe and from the database search was conducted. 100% of these articles emphasize the importance of prenatal care, highlighting its indispensability for women during the pregnancy and postpartum period. Conclusion: Therefore, conducting prenatal care with a minimum of 6 check-ups increases the chances of early detection of maternal complications, thereby reducing the risks of maternal mortality.
Keywords: Prenatal Care. Perinatal Care. Pregnancy. Pregnancy Complications, Infectious. Maternal Mortality.
1. INTRODUÇÃO
Conforme o Ministério da Saúde (2013), o início da gravidez surge logo no desejo em engravidar. Desde então, é necessário que os cuidados maternos sejam iniciados, em razão de conter doenças e, também, bloquear complexidades no decorrer do desenvolvimento do feto, deixando a paciente sempre ciente das possibilidades. Sendo assim, o acompanhamento pré-natal é imprescindível, podendo ser realizado tanto nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), quanto em hospitais e clínicas particulares ou públicas (Arruda; Freitas; Maciel, 2021).
Desse modo, o foco da atenção pré-natal é amparar e garantir um parto com menores riscos para o bebê e para a mãe. Vale ressaltar que toda gestante tem direito a uma assistência grátis e qualificada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e, também, direito à acompanhante de sua preferência durante todo o processo de gestação (Brasil, 2022).
Durante a gravidez deve-se realizar, pelo menos, 6 consultas de pré-natal. É recomendado que a primeira consulta seja realizada no primeiro trimestre, sendo mensalmente até a 28ª semana. Entre a 28ª e a 36ª semana é determinado que as consultas sejam realizadas quinzenalmente e, após a 36ª, semanalmente. Isso ocorre devido a necessidade de uma atenção maior conforme o desenvolvimento do feto. Em síntese, há consultas com Médico da Família e Comunidade ou Generalista e, também, consultas de enfermagem e odontológica (Brasil, 2022).
Contudo, quando as consultas não acontecem no início da gestação e não tem a sequência recomendada, o acompanhamento do desenvolvimento do feto pode ser prejudicado, além de não poder detectar precocemente algumas doenças maternas, trazendo graves problemas que poderiam ter sido controlados ou, até mesmo, evitados através do pré-natal (Andreucci; Cecati, 2011).
Apesar disso, muitas gestantes que vivem nas ruas, por exemplo, não possuem um pré-natal adequado e a maioria delas estão sujeitas a riscos por conta da falta de orientação, falta de boas condições de higiene e uso exacerbado de drogas e álcool. Isso pode, consequentemente, provocar alterações fetais e neonatais, doenças sexualmente transmissíveis e uma alimentação indevida, dificultando que seja uma gestação tranquila, sem riscos para mãe e para o bebê (Cardoso et al., 2019).
Portanto, um pré-natal bem acompanhado propicia um desenvolvimento efetivo e com menos riscos para a mãe e para o feto, proporcionando um parto seguro. As consultas preconizam a promoção da saúde, a prevenção e orientação da gestante, devendo ser realizadas de forma cautelosa a fim de identificar complicações maternas (Lima et al., 2020).
Segundo a Organização Mundial de Saúde (2015), aproximadamente 830 mulheres no mundo morrem todos os dias por causas evitáveis associadas à gestação ou ao parto. A maioria dessas causas são desenvolvidas durante a gravidez e a maior parte delas pode ser tratada. Nesse sentido, problemas de saúde que surgem antes da gestação podem ser agravados durante a mesma, principalmente se não receberem do devido tratamento.
As complicações prevalescentes, que equivalem a quase 75% de todas as mortes maternas, são: hipertensão; hemorragias graves e infecções (principalmente após o parto); abortos inseguros; complicações no parto; infecção pelo HIV durante a gravidez (OMS, 2015).
O Programa de Humanização do Pré-Natal e Nascimento (PHPN), foi lançado no Brasil em junho de 2000. Em 1990 a mortalidade materna era de 140 óbitos por 100 mil nascidos vivos, já em 2007 esse índice teve uma queda acentuada resultando em 75 óbitos para 100 mil nascidos vivos. Essa redução se dá nas principais causas e doenças de morte maternas. Por hipertensão houve uma redução de 62,8%, por hemorragia 58,4%, por infecções puerperais a redução foi de 46,8%, por aborto 79,5% e por demais doenças do aparelho circulatórios, complicações na gravidez, pelo parto e puerpério essa queda foi de 50,7% (Brasil, 2013).
Sendo assim, a necessidade do pré-natal no processo de gestação levou a elaboração desse trabalho. Nesse contexto, pode-se questionar a respeito dos motivos pelas quais algumas gestantes não recebem assistência pré-natal. Desse modo, essa revisão teve como objetivo descrever a relevância do acompanhamento e assistência pré-natal à mãe. Diante do exposto, a questão que norteou este estudo foi: Qual a influência do pré-natal para a prevenção e detecção precoce de doenças maternas?
2. METODOLOGIA
O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura. Esse tipo de revisão permite a busca, análise crítica e síntese das evidências acessíveis sobre um tema apurado, em que o produto final é o estado do conhecimento acerca do tema proposto, a elaboração de intervenções efetivas na prática dos cuidados e na diminuição dos custos. Além disso, esse estudo possibilita a detecção de vulnerabilidades, que podem servir como inspiração para desenvolver-se novas pesquisas. Dessa forma, para a elaboração da revisão integrativa foram desenvolvidas as seguintes fases: estruturação da pergunta norteadora, busca da literatura, coleta de dados, análise crítica dos estudos incluídos, discussão dos resultados e apresentação da revisão. (Sousa et al, 2017).
A revisão foi estabelecida a partir da estratégia PICO para identificação dos elementos: P(população); I (intervenção); C (contexto); O (desfecho), alcançando respectivamente os termos: gestantes e puérperas, pré-natal, prevenção e detecção precoce. Sendo assim, formulou-se a seguinte questão norteadora: Qual a influência do pré-natal para a prevenção e detecção precoce de doenças maternas?
Os artigos foram pesquisados e selecionados de forma independente por dois pesquisadores entre maio e julho de 2023 nas bases National Library of Medicine (PubMed), Analysis and Retrievel System Online (Medline) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Dessa forma, foram utilizados para busca dos artigos os descritores booleanos em inglês, consultados na base DeCS/MeSH (Descritores em Ciência e Saúde), apresentando o seguinte algoritmo de busca (“Prenatal Care” OR “Perinatal Care” OR “Pregnancy”) AND (“Pregnancy Complications, Infectious” OR “Maternal Mortality”). Após definir os descritores foi feito um estudo piloto analisando 10% dos artigos de forma aleatória na busca pelos que respondessem à questão norteadora, validando assim os descritores.
Como critério de inclusão do estudo foram aceitos artigos dos últimos 10 anos (entre 2013 e 2023), artigos originais, disponíveis na íntegra, gratuitos e publicados no idioma português. Foram selecionados como critérios de exclusão: artigos pagos e incompletos, em outros idiomas, artigos publicados fora do período de abrangência, artigos duplicados, artigos de revisão e que não apresentassem informações relevantes para o tema.
Ao realizar a pesquisa, culminou um quantitativo de 62.399 artigos, sendo 57.319 artigos na PuBMed, 367 artigos da LILACS e 4.713 artigos na Medline. Na primeira etapa foram eliminados 62.183 artigos de acordo com os critérios de exclusão: artigos pagos e incompletos (n= 42.678); fora do período de abrangência (n= 6.367); outros idiomas (n= 13.138). Dessa forma, foram pré- selecionados 216 artigos. Com isso, foi elaborado um estudo piloto e realizada a leitura prévia dos títulos e resumos de 10% dos artigos.
Após análise completa e leitura minuciosa dos artigos pré-selecionados, foi realizada triagem de elegibilidade, sendo excluídos 20 artigos de revisão de forma manual, 24 duplicados selecionados pela plataforma Rayyan e 158 por não apresentarem informações relevantes para o tema e não responderem à questão norteadora. Com isso, foi possível selecionar 14 artigos para integrar a revisão. Figura 1 apresenta o fluxograma PRISMA do processo de seleção das publicações incluídas nesta pesquisa.
Figura 1 – Fluxograma PRISMA para ilustrar o processo de seleção dos artigos incluídos na revisão.
Fonte: Autores da pesquisa IESB 2023
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
No Quadro 1 estão distribuídos os resultados da pesquisa bibliográfica, que se organiza da seguinte forma: autor/ano, título, tipo de estudo e objetivo do artigo.
Quadro 1 – Distribuição dos estudos selecionados entre os anos de 2013 e 2023 (continua).
Autor/ano | Título | Tipo de estudo | Objetivo(s) |
Viellas (2014) | Assistência pré-natal no Brasil | Quantitativo | Analisar a assistência pré-natal oferecida às gestantes usuárias de serviços de saúde públicos e/ou privados. |
Amaral (2016) | Qualidade do pré-natal: uma comparação entre gestantes atendidas na Faculdade de Medicina de Barbacena e na Universidade Federal de Juiz de Fora | Corte transversal | Avaliar a qualidade do pré-natal embasado no número de consultas e na idade gestacional no início do pré-natal. |
Prudêncio (2016) | Satisfação com o cuidado pré-natal contribuição para o quinto objetivo de desenvolvimento do milênio | Quantitativo | Contribuir para a qualidade da assistência do pré-natal |
Rosendo (2016) | Near miss materno e iniquidades em saúde: análise de determinantes contextuais no Rio Grande do Norte, Brasil | Ecológico | Identificar os fatores contextuais socioeconômicos e de assistência à saúde na atenção básica associados ao near miss materno. |
Loureiro (2017) | Aspectos sociodemográficos e obstétricos da morbidade materna grave | Descritivo | Identificar os aspectos sociodemográficos, obstétricos e de saúde de mulheres com morbidade materna grave. |
Pereira (2018) | Avaliação das consultas de pré-natal: Adesão do pré-natal e complicações na saúde materno-infantil | Quantitativo | Avaliar a correlação entre adesão do pré-natal e complicações na saúde materno-infantil. |
Moura (2018) | Internações por complicações obstétricas na gestação e desfechos maternos e perinatais, em uma coorte de gestantes no Sistema Único de Saúde no Município de São Paulo, Brasil | Coorte | Identificar a presença de complicações obstétricas durante a gestação. |
Leal (2019) | Assistência pré-natal na rede pública do Brasil | Quantitativo | Verificar desigualdades regionais no acesso e na qualidade da atenção ao pré-natal no serviço público de saúde do Brasil. |
Moraes (2019) | Classificação de risco gestacional baseada no perfil de óbitos maternos ocorridos de 2008 a 2013: relato de experiência no município de Porto Seguro, Bahia | Relato de experiência | Retratar a criação de uma classificação de risco gestacional e de óbitos maternos, e a sua utilização no pré-natal |
Souza (2021) | Indicadores de saúde materna no Brasil: Um estudo de série temporal | Ecológico | Avaliar indicadores de saúde materna após a implantação da Rede Cegonha no Brasil, no período de 2012 a 2017 |
Rorig (2022) | Avaliação da adesão ao pré-natal das gestantes atendidas em um ambulatório de referência no Sul de Santa Catarina | Transversal | Avaliar a prevalência da adesão ao pré-natal das gestantes atendidas em um ambulatório Materno- Infantil |
Andrade (2022) | Fatores associados à morbidade materna grave em Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil: estudo de corte transversal | Quantitativo | Investigar os fatores associados à morbidade materna grave |
Mendes (2022) | Condições potencialmente ameaçadoras à vida no ciclo gravídico-puerperal | Documental | Descrever as principais condições potencialmente ameaçadoras à vida de mulheres durante o ciclo gravídico e puerperal e variáveis relacionadas a esses agravos. |
Villalba (2022) | Processo assistencial às mulheres com morbidade materna grave: um estudo misto | Misto | Descrever as características maternas e obstétricas associadas a morbidade materna grave e os fatores assistenciais envolvido nesses desfechos. |
3.1 Ano de publicações
Os artigos foram publicados entre 2014 e 2022, sendo que houve um aumento significativo de estudos no ano de 2022 (n=4), seguido de 2016 (n= 3), 2018 e 2019 (n=4) com 2 publicações cada, e 2014, 2017 e 2021 (n=3), com 1 publicação cada.
3.2 Estratégias metodológicas
A maioria dos estudos selecionados 36% (n=5) tem a estratégia metodológica de estudo quantitativo. O método ecológico somou 14% (n=2) de artigos. Os estudos: descritivo, coorte, transversal, misto, relato de experiência, corte transversal e documental somam 50%, com 1 artigo cada. O quadro 1 representa as características principais dos artigos incluídos na revisão.
3.3 Barreiras encontradas na adesão e continuação do pré-natal
Dos 14 artigos, 9 discorrem sobre as barreiras encontradas na adesão e continuação do pré-natal. Do total de artigos, 33% (n=3) citam a desigualdade social como grande empecilho para se ter um acompanhamento eficaz; 33% (n=3) citam a dificuldade financeira como motivo para a não realização do pré- natal e seu início tarde; 23% (n=2) falam sobre a distância ao local de atendimento, podendo ocorrer faltas às consultas ou até mesmo a não adesão ao pré-natal; e 11% (n=1) mencionam a demora no atendimento, que vale tanto para marcação e remarcação de consultas, quanto ao tempo de permanência no próprio serviço de saúde.
Para Leal et al. (2020) e Andrade et al. (2022) o Sistema Único de Saúde (SUS) ainda tem falhas em termos de continuidade e qualidade da atenção que fornece, vivenciado principalmente por indivíduos pertencentes a grupos socioeconômicos mais baixos, sendo a maioria usuários do SUS.
De acordo com Villalba et al. (2022) existem obstáculos na continuidade do cuidado e no sistema de encaminhamento da rede de atenção à saúde para gestantes que desenvolvem condições potencialmente fatais. Estes obstáculos incluem dificuldade em receber cuidados em tempo ágil e atrasos no encaminhamento dos pacientes para o serviço de referência.
Segundo Pereira et al. (2018) quando os profissionais de saúde não criam uma conexão com as genitoras ou não tratam os problemas como relevantes, há um maior risco de desistência ou diminuição da frequência de consulta das genitoras. Isso se deve ao fato de que as mães sempre buscam o serviço que lhes ofereça maior segurança, em busca de um bom acompanhamento do crescimento e da saúde de ambos.
Villaba et al. (2022) discorre que os desfechos maternos graves estão associados a três demoras ou atrasos da mulher em acessar e receber cuidados de saúde. Esse modelo remete-se à avaliação das circunstâncias em torno de uma morte materna. Dessa forma, o primeiro atraso é motivado pela dificuldade na tomada de decisão, bem como as condições socioculturais e de oportunidade. O segundo abrange a distância até a unidade de saúde mais próxima, tempo de trajeto, disponibilidade e custeio de transporte. Já no terceiro, as dificuldades enfrentadas no recebimento de cuidado eficaz quando a mulher chega em uma unidade de saúde são: falta de suprimentos, equipamentos e pessoal treinado; competência e disponibilidade de pessoal e qualidade do atendimento.
Em concordância, Prudêncio, Mamede (2015) e Moura et al. (2018) enfatizam acerca das falhas na assistência, tais como: demora no atendimento pré-natal, longo tempo de permanência no serviço de saúde, demora para conseguir uma consulta, condições físicas inadequadas do serviço e demora na marcação e remarcação de consultas.
3.4 Complicações maternas associados a falta do pré-natal
Se tratando dos riscos da falta do pré-natal, 10 artigos mencionam sobre o assunto. A maioria fala sobre as síndromes hipertensivas, que abrangem a hipertensão gestacional, pré-eclâmpsia e eclâmpsia com 40% (n=4); seguido de diabetes gestacional com 30% (n=3); hemorragia no parto ou pós-parto com 20% (n=2); e aborto com 10% (n=1).
Rosendo, Roncalli (2016) e Loureiro et al. (2017) evidenciam que as complicações maternas estão ligadas a: idade materna, cor da pele, exclusão social, hipertensão, antecedente de aborto, fatores obstétricos (hemorragia pós- parto, indução de parto e realização de cesariana) e a não realização do mínimo de consultas pré-natal que são recomendadas pelo Ministério da Saúde. Sendo assim, favorecem, também, para os agravos maternos: sedentarismo, tabagismo e sobrecarga de responsabilidades, contribuindo para o surgimento de doenças crônicas.
Nesse contexto, Loureiro et al. (2017) relata que as principais causas de morbidade materna foram: pré-eclâmpsia, eclampsia, hemorragia no período pós-parto, sepse puerperal, aborto e trabalho de parto obstruído. Destacando que as primeiras causas de morbidade materna grave são as síndromes hipertensivas, os profissionais de saúde devem fornecer recursos que permitam o monitoramento da atenção à saúde da mulher no ciclo gravídico-puerperal, a promoção de iniciativas, a educação e a qualificação da melhoria dos cuidados de saúde que as usuárias recebem. Nesse sentido, os distúrbios hipertensivos quando identificados precocemente e tratados adequadamente durante o pré- natal, reduzem o risco de complicações graves durante o ciclo gravídico- puerperal. Portanto, altas taxas de hipertensão grave e pré-eclâmpsia podem destacar a necessidade de melhorar o rastreamento de complicações hipertensivas durante o pré-natal.
Moura et al. (2018) destaca que mulheres com nível de escolaridade baixo têm dificuldades em seguir e entender orientações/informações repassadas pelos profissionais de saúde. Pode-se mencionar, por exemplo, os sinais de perigo: sangramento vaginal grave, febre, redução do movimento fetal, edema e dor de cabeça intensa/visão turva (pode ocorrer durante a gravidez, no parto e pós-parto). Eles são importantes e devem estar esclarecidos para as gestantes. Sendo assim, o sinal de perigo obstétrico descrito no estudo e o que as mulheres mais têm consciência é o sangramento vaginal, por ser visível.
3.5 A relevância do acompanhamento e assistência pré-natal
No que diz respeito a relevância do pré-natal, todos os 13 artigos descrevem essa importância. Em geral, eles abordam sobre os procedimentos e exames realizados nesse período; a importância de a gestante seguir corretamente as orientações profissionais; a importância de uma atenção de qualidade, mencionando a Rede Cegonha; e as normas do Programa de Humanização do Parto e do Nascimento.
A atenção pré-natal pode ajudar a detectar e tratar os fatores de risco que causam complicações à gestação, além de controlar esses fatores (Moraes et al., 2019). A participação no pré-natal deve começar imediatamente após a confirmação de gravidez positiva, ter cobertura universal, ser marcado regularmente e fazer pelo menos seis consultas, e o profissional de saúde deve realizar ações preventivas e curativas. O período que se iniciou o acompanhamento, o número de atendimentos realizados e os problemas de saúde enfrentados pela gestante são alguns dos elementos cruciais que determinam o sucesso da assistência (Pereira et al., 2018). Segundo Vega, Soares e Nasr (2017) os cuidados pré-natal têm sido uma ferramenta essencial na diminuição das mortes maternas.
Segundo Viellas et al. (2014) a assistência pré-natal é indispensável para a saúde das mulheres no período gravídico-puerperal. A melhoria dos estágios perinatais está ligada aos procedimentos realizados com frequência durante essa assistência de acordo com as recomendações do Ministério da Saúde. A assistência ao pré-natal deve ser feita por meio de comportamentos acolhedores; educação preventiva e ações preventivas sem intervenções desnecessárias; detecção precoce de doenças e situações de risco gestacional; estabelecimento de uma conexão entre o pré-natal e o local do parto; e acesso fácil a serviços de saúde de alta qualidade, desde atendimento ambulatorial básico ao atendimento de alto risco.
Pereira et al. (2018) confirma que, durante as consultas de pré-natal na Atenção Primária à Saúde (APS) devem ser repassadas orientações sobre o período gravídico-puerperal. Portanto, uma atenção de qualidade, onde os riscos gestacionais são identificados na anamnese e no exame clínico, é essencial. Foi retratado, ainda, que uma assistência de boa qualidade, reflete na satisfação da mãe e familiares e consequentemente previne eventos indesejáveis no decorrer da gestação, parto e puerpério.
Pereira et al. (2017) expõe que, outros estudos descobriram que a inadequação da participação no pré-natal geralmente está ligada a vários fatores indicativos de desigualdade social, evidenciando que as pessoas socialmente mais vulneráveis recebem uma assistência falha. Isso mostra a lei da inversão do cuidado a ser prestado, na quais os recursos para atenção à saúde são distribuídos contrariamente às necessidades.
Souza et al. (2021) afirma que, em 2011 a Rede Cegonha foi fundada com a finalidade de assegurar às mulheres o direito ao planejamento reprodutivo e à atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério, garantindo acesso, acolhimento e resolutividade dos problemas relacionados à saúde materna no Brasil. Seus objetivos são organizar o atendimento com classificação de risco, melhorar o acesso e a qualidade do pré-natal, conectar a gestante à unidade de referência, promover boas práticas e segurança na assistência ao parto e nascimento e aumentar o acesso ao planejamento reprodutivo. Essas diretrizes são organizadas em quatro partes: cuidado pré-natal, o parto, puerpério e atenção integral à saúde infantil e o sistema logístico.
Souza et al. (2021) afirma também que, no cronograma da Rede Cegonha, é fundamental a realização de pelo menos seis consultas pré-natal para proporcionar ao feto e à gestante um acompanhamento eficaz durante todo o período e, por sua vez, aumentar a probabilidade de diagnóstico e tratamento precoces para reduzir a taxa de mortalidade materna, fetal e infantil. O recomendado mínimo de seis consultas não está na realidade de muitas gestantes ao redor do mundo, sendo necessária a implementação de estratégias destinadas a aumentar a rede de cuidados, bem como incentivar as gestantes a procurarem cuidados. Mendes et al. (2022) destaca que a assistência pré-natal no Brasil tem menor adesão na região Amazônica, e isso ocorre devido as barreiras de acesso e condições socioeconômicas.
Amaral et al. (2016) e Rorig, Silva (2022) destacam o Programa de Humanização do Parto e do Nascimento (PHPN/2000), que propõe as seguintes normas para a assistência pré-natal: efetuação de seis consultas de pré-natal para gestações a termo, a primeira ocorrendo no primeiro trimestre, juntamente com as vacinas necessárias, exames laboratoriais básicos, procedimentos clínico-obstétricos (englobam anamnese, exame físico completo e avaliação de exames laboratoriais requisitados) e consulta puerperal (42 dias pós-parto).
Rorig, Silva (2022) expõem que na primeira consulta ou durante o primeiro trimestre, as gestantes têm direito à realização de exames laboratoriais essenciais. São eles: hemograma completo (repete-se no 3º trimestre), tipagem sanguínea (fator Rh); coombs indireto (se Rh negativo, repetir no 2º e 3º trimestre); glicemia em jejum (repete-se no 3º trimestre); testes rápidos de Infecções Sexualmente Transmissíveis para diagnóstico de HIV, hepatite B, sífilis (repete-se no 3º trimestre); toxoplasmose IgM e IgG; urocultura e urina tipo I (repete-se no 3º trimestre); ultrassonografia; se necessário, citopatológico de colo de útero e exame da secreção vaginal; parasitológico de fezes; bacterioscopia da secreção vaginal a partir da 37º semana d gestação. Além disso, entre a 24ª e a 28ª semana, realiza-se o teste de tolerância à glicose com a ingestão de 75g de glicose. Se a glicemia estiver acima de 85 mg/dl ou se houver fator de risco é fundamental investigar diabetes gestacional.
4. CONCLUSÃO
Portanto, observou-se que, a realização do pré-natal em no mínimo 6 consultas aumenta a chance de detecção precoce de complicações maternas e, consequentemente, diminui os riscos de mortalidade. Dessa forma, o acompanhamento do profissional enfermeiro para com o paciente é indispensável, já que esse processo envolve uma série de medidas essenciais para uma gestação, parto e puerpério saudáveis para a mãe e para o bebê.
Nesse sentido, fica claro que quando o pré-natal não é realizado com a média necessária de consultas e exames, o enfermeiro não consegue avaliar criteriosamente o estado de saúde da mãe e de seu filho, e isso pode deixar muitos pontos importantes sem avaliação e pode comprometer a continuidade da assistência.
Sendo assim, observa-se a importância de um profissional capacitado e comprometido com o serviço que presta, que compreende como as gestantes se sentem em relação ao pré-natal que recebem, sempre atento ao quadro clínico que elas apresentam, orientando-as sobre a real necessidade de alcançar uma vida saudável para dar continuidade à gestação sem intercorrências.
Desse modo, há questões que influenciam a ocorrência de complicações nas gestantes relacionadas ao pré-natal, como condições de moradia, renda familiar, escolaridade das mulheres, urbanização, abastecimento de água e saneamento. Existem muitas ações governamentais que podem ser tomadas com o objetivo de melhorar as condições sociais das pessoas, sendo elas: reforçar a melhoria da educação social, educação em saúde, planejamento familiar, cuidados pré-natal, assistência hospitalar. Sendo assim, essas medidas causam impacto positivo na redução da morbidade e mortalidade materna em todo o país.
Cabe recomendar, também, a sensibilização de gerentes, gestores e profissionais de saúde, bem como de professores e estudantes de medicina e enfermagem, para que se envolvam ativamente na procura de estratégias para minimizar demoras nas oportunidades de cuidados de saúde e nos esforços para melhorar a qualidade e a segurança dos atendimentos obstétricos e de emergência a gestantes com complicações relacionadas a doenças maternas graves.
REFERÊNCIAS
AMARAL, F. E. et al. Qualidade do pré-natal: uma comparação entre gestantes atendidas na Faculdade de Medicina de Barbacena e na Universidade Federal de Juiz de Fora. Clinical and Biomedical Research, [S. l.], v. 36, n. 3, 2016. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/hcpa/article/view/64515. Acesso em: 18 jul 2023.
ANDRADE, M. S. et al. Fatores associados à morbidade materna grave em Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil: estudo de corte transversal. Cad. Saúde Pública 2022; 38(1):e00021821. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csp/a/c76XvDt5PJsxwTcQ7xvtxPF/?lang=pt Acesso em: 14 jul 2023.
ANDREUCCI, F. M. L.; CECATI, J. G. Desempenho de indicadores de processo do Programa de Humanização do Pré-natal e Nascimento no Brasil: uma revisão sistemática. Cad Saúde Pública [online], v.27, n.6, p. 1053-1064, 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csp/a/nCSZBSNNVfwz4vT8bzgBnVv/?format=pdf&lang= pt. Acesso em: 23 mai 2023.
ARRUDA, M. R.; FREITAS, M. E. G.; MACIEL, C. C. C.; A importância do pré-natal na detecção e acompanhamento de 4 importantes doenças que acometem o ciclo gravídico puerperal. Curitiba: Brazilian Journal of Health Review, 2021.
BRASIL. Ministério da Saúde. Gravidez. Pré-Natal. 27 out 2022. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/g/gravidez/pre- natal. Acesso em: 17 mai 2023.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de atenção à saúde. Departamento de atenção básica. Atenção ao pré-natal de baixio risco. Cadernos de Atenção Básica, n° 32 Brasília: Ministério da Saúde, 2013.19p.
CARDOSO, S. et al. Ações de promoção para saúde da gestante com ênfase no pré-natal. Revista Interfaces, v.7, n.1, p. 180-185. Ceará, 2019. DOI: https://doi.org/10.16891/654. Disponível em: https://interfaces.unileao.edu.br/index.php/revista- interfaces/article/view/654/pdf. Acesso em: 4 mai 2023.
LEAL, M. C. et al. Assistência pré-natal na rede pública do Brasil. Rev Saude Publica. 2020; 54:8. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rsp/a/ztLYnPcNFcszFNDrBCFRchq/?format=pdf&lang=pt Acesso em: 21 jul 2023.
LIMA, S. S. et al. Avaliação do impacto de programas de assistência pré-natal, parto e ao recém-nascido nas mortes neonatais evitáveis em Pernambuco, Brasil: estudo de adequação. Cad. Saúde Pública 2020; 36(2):e00039719 DOI: https://doi.org/10.1590/0102-311X00039719. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csp/a/xjBngQW39sVHzVBL4q9Zj3P/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 4 mai 2023.
LOUREIRO, C. M. et al. Aspectos sociodemográficos e obstétricos da morbidade materna grave. Cienc. enferm, v. 23, n. 2, p. 21–32, 2017. Disponível em: https://www.scielo.cl/pdf/cienf/v23n2/0717-9553-cienf-23-02- 00021.pdf. Acesso em: 22 de jul de 2022.
MENDES, L. M. C. et al. Condições potencialmente ameaçadoras à vida no ciclo gravídico-puerperal. Cienc Cuid Saude. 2022;21:e57258. DOI: 10.4025/ciencuidsaude.v21i0.57258. Disponível em: http://www.revenf.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677- 38612022000100220 Acesso em: 10 jul. 2023
MORAES, M. M. S. et al. Classificação de risco gestacional baseada no perfil de óbitos maternos ocorridos de 2008 a 2013: relato de experiência no município de Porto Seguro, Bahia. Epidemiol. Servir. Saúde. Brasília, v. 3, e2018491, conjunto. 2019. Disponível em: http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679- 49742019000300049&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 22 jul 2023.
MOURA, B. L. A. et al. Internações por complicações obstétricas na gestação e desfechos maternos e perinatais, em uma coorte de gestantes no Sistema Único de Saúde no Município de São Paulo, Brasil. Cad. Saúde Pública 34 (1) • 2018 • https://doi.org/10.1590/0102-311X00188016. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csp/a/RNqVJ9KfR3GfsvjHTpFk3Yf/. Acesso em: 23 mai. 2023
OMS. Organização Mundial da Saúde. Saúde Materna. OPAS; 2015. Disponível em: https://www.paho.org/pt/node/63100. Acesso em: 17 mai 2023.
PEREIRA, D. O. et al. Avaliação das consultas de pré-natal: adesão do pré- natal e complicações na saúde materno-infantil. Revista Ciência Plural, [S. l.], v. 3, n. 3, p. 2–15, 2018. DOI: 10.21680/2446-7286.2017v3n3ID12891. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/rcp/article/view/12891. Acesso em: 18 jul. 2023.
PRUDÊNCIO P. S.; MAMEDE F. V. Satisfação com o cuidado pré-natal: contribuição para o quinto objetivo de desenvolvimento do milênio. Cult. cuid. enferm ; 12(1): 61-72, Jun. 2015. Disponivel em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-779293?lang=pt Acesso em: 15 jul 2023.
RORIG, M. R.; SILVA, H. C. G. Avaliação da adesão ao pré-natal das gestantes atendidas em um ambulatório de referência no sul de Santa Catarina. Revista da AMRIGS, Porto Alegre, 66 (3): 758-768, jul.-set. 2022. Disponível em: https://docs.bvsalud.org/biblioref/2023/04/1425038/17-2984- revista-amrigs.pdf. Acesso em: 10 jul 2023
ROSENDO, T. M. S. S.; RONCALLI, A. G. Near miss materno e iniquidades em saúde: análise de determinantes contextuais no Rio Grande do Norte, Brasil. Ciênc. saúde colet. 21 (1) • Jan 2016 • https://doi.org/10.1590/1413- 81232015211.20802014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/LKbrTyQyg9Ypj6d57kXF9SQ/abstract/?lang=pt. Acesso em: 27 mai. 2023.
SOUSA, L. et al. Metodologia de Revisão Integrativa da Literatura em Enfermagem. Revista Investigação Enfermagem. 2. 17-26. Maranhão, 2017. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/321319742_Metodologia_de_Revisao_Integrativa_da_Literatura_em_Enfermagem. Acesso em: 10 jun. 2013
SOUZA, D. R. S. et al. Maternal health indicators in Brazil: a time series study. Medicine 2021;100(44):e27118. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34871202/ Acesso em: 15 jul 2023.
VEGA, C. E. P.; SOARES V. M. N; NASR, M. L. F. N. Mortalidade materna tardia: comparação de dois comitês de mortalidade materna no Brasil. Cad. Saúde Pública 2017; 33(3):e00197315. doi: 10.1590/0102-311X00197315. Disponível em: https://www.scielosp.org/article/csp/2017.v33n3/e00197315/. Acesso em: 10 jun. 2023
VIELLAS, E. F. et al. Assistência pré-natal no Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 30 Sup:S85-S100, 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csp/a/CGMbDPr4FL5qYQCpPKSVQpC/?lang=pt# Acesso em: 18 de jul. de 2023
VILLALBA, J. P. G. et al. Processo assistencial às mulheres com morbidade materna grave: um estudo misto. Revista Gaúcha de Enfermagem, Porto Alegre, v. 43, 2022. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/rgenf/article/view/124636. Acesso em: 21 de jul. 2023.
¹Discente do Curso Superior de Enfermagem do Instituto de Educação Superior de Brasília Campus Liliane Barbosa e-mail: irisborges2@hotmail.com
1Discente do Curso Superior de Enfermagem do Instituto de Educação Superior de Brasília Campus Liliane Barbosa e-mail: brunaleeticia2@gmail.com
2Izabella Araújo Morais docente do Curso Superior de Enfermagem do Instituto de Educação Superior de Brasília Campus Liliane Barbosa e-mail: bellamoraisiza@gmail.com