A IMPORTÂNCIA DO FARMACÊUTICO CLÍNICO: RASTREAMENTO EM SAÚDE A PACIENTES HIPERTENSOS E/OU DIABÉTICOS NA PREVENÇÃO DA DOENÇA RENAL CRÔNICA.

THE IMPORTANCE OF THE CLINICAL PHARMACIST IN HEALTH SCREENING IN HYPERTENSIVE AND / OR DIABETIC PATIENTS IN THE PREVENTION OF CHRONIC KIDNEY DISEASE.

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10304525


Andreza Souza MIRANDA1;
Bruna Maryane MANFREDI1;
Maria Nazaré Oliveira FREITAS1;
Jose Eduardo Arruda GOMES2.


RESUMO

A Doença Renal Crônica é considerada um importante problema de saúde pública. Suas principais causas são as doenças crônicas não transmissíveis que acometem a população: hipertensão arterial e Diabetes melittus. Este estudo discorre sobre a importância do farmacêutico clínico no Rastreamento em saúde aos pacientes hipertensos e/ou diabéticos que estão inseridos no grupo de risco para auxiliar na prevenção da DRC, apresentando como objetivos específicos avaliar a influência da idade desses pacientes, sexo, amostra populacional em relação a possível chance de desenvolver DRC e orientá-los quanto ao risco. O estudo trata-se de uma pesquisa descritiva de abordagem quantitativa, constituída de 120 pacientes hipertensos e/ou diabéticos, onde se obteve informações relevantes a partir da aplicação da ficha de registro dos parâmetros clínicos da fase de rastreamento da DRC. Observou- se que 92 (76,6 %) da amostra populacional analisada apresentou 20% de risco de desenvolvimento da DRC. O grupo que mais obteve quantitativamente pontuação de risco foram mulheres com idade de 50 a 59 anos 29 (47,5%) e que eram portadoras da hipertensão e diabetes associadas 33 (54,0%). A detecção precoce da DRC é de suma importância, pois se trata de uma doença complexa e assintomática, porém prevenível e tratável. O profissional farmacêutico através de suas competências clínicas pode auxiliar no rastreamento da DRC através de ações de rastreamento em saúde, baseadas em evidências técnico-científicas.

Palavras Chaves: Rastreamento em saúde. Hipertensão. Diabetes melittus. Prevenção. Doença renal crônica.

ABSTRACT

The Chronic Kidney Disease is considered an important public health problem. Its main causes are chronic non-communicable diseases that most affect the population: hypertension and Diabetes melittus. This study discusses the importance of the clinical pharmacist in Health screening in hypertensive and / or diabetic patients who belong to the risk group in order to help with the prevention of CKD, presenting as specific aims the assessment of the influence of their age, gender, populational sample concerning the probability to have CKD. This study is a descriptive research and has a quantitative approach and it is made of 120 hypertensive and/or diabetic patients from where relevant information were got by applying the registration report of the clinical parameters of the CKD tracing stage. It was observed that 92 (76, 6 %) of the analyzed populational sample presented a 20% risk of developing the CKD. The group which had a higher chance to get it was of women in the age of 50 to 59, 29 (47, 5%) and they were both hypertensive and diabetic patients 33 (63,5%). The early diagnoses of  CKD play an important role because it is an asymptomatic and complex disease despite being preventable and treatable. Pharmaceuticals, through their clinical competences, may help with the CKD tracing through health tracing actions which are based on scientific and technical evidences.

Keywords: Health screening. Hypertension. Diabetes melittus. Prevention. Chronic kidney disease.

INTRODUÇÃO

Como forma de reafirmar a importância do farmacêutico perante a sociedade e aos outros profissionais, o Brasil vem realizando mudanças positivas no contexto desta profissão. Podendo ser destacadas a Resolução do Conselho Federal de Farmácia Nº 585, de 29 de agosto de 2013, que dispôs sobre as atribuições clínicas do farmacêutico. O Art. 6º ressalta o dever deste profissional na contribuição para a geração, difusão e aplicação de novos conhecimentos que promovam a saúde e o bem-estar do paciente, da família e da comunidade (BRASIL, 2013).

Com isso, as atribuições clínicas deste profissional colaboram com o quadro atual do país, as quais as doenças crônicas não transmissíveis – DCNT estão crescendo cada vez mais. As DCNT constituem um problema de saúde com grande magnitude e estão relacionadas com mais de 70% das causas de mortes no Brasil. As DCNT que apresentam maior prevalência no país são a hipertensão arterial e Diabetes mellitus, constituindo as principais causas de perda da função renal no Brasil, sendo a hipertensão arterial, correspondente a 35% das causas, seguida da Diabetes mellitus com 28,5%. O monitoramento e rastreamento destas principais causas da doença renal crônica são primordiais para definição de políticas de saúde voltadas para prevenção desta complicação relacionada a estas DCNT (BRASIL, 2014).

Rastreamento em saúde é descrito como a identificação provável de doença ou condição de saúde não identificada, pela aplicação de testes, exames ou outros procedimentos que possam ser realizados rapidamente, com subsequente orientação e encaminhamento do paciente a outro profissional ou serviço de saúde para diagnóstico e tratamento (BRASIL, 2013).

A importância do reconhecimento da doença renal crônica – DRC nos estágios iniciais e o encaminhamento precoce ao nefrologista são fundamentais para o retardo na evolução da doença e para diminuição do aporte de indivíduos às terapias renais de substituição (BASTOS et. al, 2010). 

O Rastreamento entra como uma ferramenta fundamental ao farmacêutico clínico que pode auxiliar na possível detecção precoce. Esse mecanismo aborda a aplicação de fichas, testes em populações ou pessoas assintomáticas, com a finalidade de diagnóstico precoce (prevenção secundária) ou de identificação e controle de riscos, tendo como objetivo final reduzir a morbidade e mortalidade da doença, agravo ou risco rastreado (GATES, 2016). 

Diante da problemática decorrente das complicações e aos problemas de saúde causados pelas principais DCNT que mais acometem a população, é de fundamental importância o rastreamento em saúde voltado a prevenção destes pacientes, contribuindo assim, na melhoria da qualidade de vida destes, já que os portadores destas doenças estão inseridos dentro de um grupo de risco para o desenvolvimento da doença renal (BASTOS et al., 2010). Com isso, é de grande relevância social proporcionar orientação a estes pacientes, no que se refere à prevenção da doença renal crônica, pois o acesso à informação também é visto como um fator de proteção (POSTAL BRASIL, 2014).

Nesse contexto, o presente estudo tem como objetivo realizar o rastreamento em saúde aos pacientes hipertensos e/ou diabéticos, que são atendidos em ações de saúde promovidas por uma rede de drogarias para auxiliar na prevenção da doença renal crônica. Tendo como objetivos específicos: verificar a influência da idade desses pacientes em relação a possível chance de desenvolver a doença renal; Analisar qual sexo apresenta maior índice de chance para o possível desenvolvimento da doença renal crônica; Avaliar o risco de doença renal crônica em uma amostra de pacientes hipertensos e /ou diabéticos e com isso orientar estes, conscientizando-os quanto ao risco para a doença renal crônica.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo trata de uma pesquisa aplicada, prospectiva, de natureza descritiva e abordagem quantitativa, baseada e adaptada do Método Dáder onde objetivou- se realizar o rastreamento em saúde á pacientes hipertensos e/ou diabéticos que participavam de ações de saúde promovidas por uma Rede de Drogarias de Belém- PA, quanto à prevenção da doença renal crônica. Para coleta das informações, foi aplicada a ficha de registro dos parâmetros clínicos da fase de rastreamento da DRC, utilizada na literatura como ferramenta de auxílio no rastreamento da Doença Renal Oculta (VUPPUTRI et. al, 2007 BASTOS et. al, 2007 MARGACHO et. al, 2012).

A ficha de registro da fase de rastreamento da DRC foi utilizada como instrumento de coleta de dados e apresenta uma abordagem que constam de dados sociodemográficos, antecedentes pessoais e hábitos do paciente, a segunda parte é composta de parâmetros clínicos que corroboram para o rastreamento da doença renal crônica – DRC. Este questionário foi elaborado com o objetivo de predizer a chance de o indivíduo apresentar DRC. Para avaliar a presença de risco da DRC, cada fator de risco apresentavam uma pontuação, ao final da entrevista foi realizado a somatória desses valores, obtendo posteriormente a pontuação final. A aglomeração dos fatores de risco foi utilizada como um escore que variou de 0 a 3 ou valores ≥ 4. Foi considerado nenhum quando não houve a exposição aos fatores e quando houve exposição a um fator ou mais se obtinha uma determinada pontuação (MARGACHO et al., 2012).

As chances de uma pessoa possuir doença renal crônica são avaliadas por meio de parâmetros que estão associados ao sexo, sendo que, nas mulheres o risco é considerado maior; ser diabético e/ou hipertenso; ter tido Acidente vascular cerebral- AVC, anemia, entre outros fatores. A cada resposta positiva é conferida uma pontuação, e valores ≥ 4,  indicam que há  20% de chances da pessoa ter doença renal.  Essa ferramenta é considerada de simples compreensão e pode ser aplicada em diversos contextos como em campanhas de prevenção da DRC (LEITE, 2016).

O estudo foi realizado em ações de saúde promovidas na frente das drogarias, as quais eram prestados serviços farmacêuticos tais como verificação da pressão arterial e realização de teste de glicemia e orientação farmacêutica à população de forma geral.  As fichas foram preenchidas após a prestação dos serviços e somente as pessoas que no ato de tal ação quando se era questionado se era hipertenso e/ou diabético, e obtínhamos ao questionamento uma resposta positiva, assim então realizava-se a aplicação da ficha de registro da fase de rastreamento da DRC (ANEXO). Com isso, a amostra da pesquisa constituiu-se de 120 pacientes hipertensos e/ou diabéticos, voluntários, residentes do município de Belém do Pará. O recolhimento dos dados foi realizado após autorização dos entrevistados, onde os pacientes foram esclarecidos da importância da pesquisa. As ações foram executadas 1 (uma) vez por semana, sendo realizada a aplicação dos questionários em 6 (seis) drogarias, no período de Agosto a Setembro de 2016. Após tomar ciência do objetivo do trabalho os pacientes assinavam um termo de consentimento e livre esclarecimento, a fim de assegurar está a veracidade de suas informações e firmar sua livre e espontânea vontade, para a realização deste trabalho.

Com isso, estabeleceram-se como critérios de inclusão os pacientes portadores de hipertensão e/ou diabetes já diagnosticados, com idade maior ou igual a 19 anos de ambos os sexos, com interesse em participar do estudo voluntariamente, realizando posteriormente o preenchimento do questionário.

Assim, foram excluídos os sujeitos que não sabiam se tinham hipertensão e/ou diabetes, que não apresentavam idade superior ou igual a 19 anos ou que não aceitaram participar da pesquisa.

Ressalta-se que a coleta das informações destes pacientes foi realizada apenas pela pesquisadora do trabalho. Cessou-se a coleta quando se alcançou a quantidade de questionários proposta a serem aplicados correspondendo a 120 instrumentos de coleta devidamente preenchidos e avaliados posteriormente. As informações coletadas através do questionário foram trabalhadas de maneira estatística a partir da frequência absoluta (quantidade observada) e relativa (em percentual), sendo demonstrado e organizado desta forma os dados na forma de tabelas, através do programa Microsoft Office Excel 2010.

As orientações prestadas a estes grupos de risco (hipertensos e/ou diabéticos) apresentam caráter educativo e preventivo como forma de orientar e conscientizar esta população dos riscos de possível desenvolvimento da doença renal crônica. O repasse destas informações preventivas se deu de forma oral no momento da orientação prestada a esses pacientes, além da distribuição de folders informativos que tratam sobre a prevenção renal. 

Quanto aos aspectos éticos, o protocolo de pesquisa do projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Pará-UFPA.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos, de forma geral, tiveram significado estatístico relevante. São apresentados os valores da análise resultante entre a idade destes participantes de acordo com o gênero por pontuação obtida a partir da ficha de registro da fase de rastreamento da DRC, conforme dados demonstrados na Tabela 1. 

Tabela 1: Faixa Etária, estratificadas pela pontuação conforme o gênero. Belém, PA, Brasil 2016.

 IdadeFemininoMasculino
0 a 3≥4 0 a 3≥4 
(anos)F%F%F%F%
19-491191,758,2850,000
50-5918,32947,5743,8516,0
60-69001727,916,21858,0
≥ 70001016,400826,0
Total121006110016 10031100

Fonte: Pesquisa de Campo.

A amostra do presente estudo foi constituída de 120 pacientes hipertensos e/ou diabéticos caracterizada pela maioria ser composta pelo gênero feminino, apresentando 73 (60,8 %) mulheres e 47 (39,2 %) homens.  A pontuação obtida com valores correspondentes a ≥4, observa-se em 92 pessoas da amostra como um todo, isso representa que (76,6%) da população analisada apresenta 20% de chances de desenvolver DRC, sendo que o sexo feminino apresenta maior quantitativo desta pontuação de risco, correspondendo a 61 (83,5%) de mulheres com probabilidade de DRC. 

Com isso, a somatória desta pontuação é uma avaliação que demonstra a possibilidade de uma pessoa ter doença renal crônica e que esta abordagem auxilia no rastreamento da DRC. Com isso, a obtenção de valores iguais ou superiores a 4 indicam que há 20% de chances ou de 1 em 5 de ter DRC (MARGACHO et. al, 2012).

Quem pertence ao gênero feminino apresenta pontuação fixa, que confere 1 ponto automaticamente, para a somatória da pontuação final, aumentando desta forma as chances de obter valores ≥4.  Essa pontuação fixa para o sexo feminino, pode se justificar pela perda de proteção hormonal em decorrência do climatério que predispõe ao aumento de peso e ao maior risco às doenças cardiovasculares em função da defasagem de estrógenos podendo explicar a maior prevalência de HAS entre as mulheres e consequentemente maiores possibilidades de complicações renais (MENEZES et al., 2016).

A idade dos participantes da pesquisa variou de 19 a 70 anos ou mais. A prevalência da pontuação ≥4, considerando o gênero por idade observou-se que houve mais registros deste escore nas mulheres que apresentavam idade de 50 a 59 anos, correspondendo a 29 (47,5%), significando maior risco de desenvolvimento da DRC, em mulheres desta faixa etária. Em contrapartida, entre o sexo masculino a idade que mais apresentou riscos de obter DRC foi homens que tinham idade de 60 a 69 anos, com 18 (58,0%). Dados publicados em 2015 revelam que, a doença renal crônica atinge 10% da população mundial e afeta pessoas de todas as idades e raças. A estimativa é que a enfermidade afete um em cada cinco homens e uma em cada quatro mulheres, isso significa a predominância de mulheres com maiores risco de desenvolvimento da DRC, sendo que metade da população com 75 anos ou mais sofre algum grau da doença (PORTAL BRASIL, 2015).

É importante ressaltar que com relação ao grupo etário de 70 anos ou mais, estes apresentaram somente pontuação RDC ≥ 4. A idade igual ou superior a 70 anos confere automaticamente na ficha de registro dos parâmetros clínicos da fase de rastreamento da DRC 4 pontos. Pontos estes, suficientes para ser considerado como um fator de risco, significando desta forma, 20% ou 1 em 5 de ter DRC, apenas com a variável idade igual ou maior que 70 anos. Isso significa que este grupo etário já confere uma pontuação significativa, para o risco da DRC, porém não única, pois existem outros fatores que colaboram para seu surgimento.

No que se refere à faixa etária, esta por sua vez, apresenta grande significância na obtenção de pontos para o risco de ocorrência da DRC. Como demonstra a Figura 1.

         Figura 1: Pontuação RDC de acordo com a faixa etária

        Fonte: Adaptado de KIRSZTAJN & BASTOS (2007).

No que se refere somente a variável idade, todos os entrevistados pertencentes a faixa etária de 50 a 59 anos obtinham pontuação 2 (dois); 60 a 69 anos correspondia a 3 (três) pontos e ≥ 70 de idade obtinham pontuação de 4 (quatro) pontos. Com isso, observou-se que a idade é um fator que influencia na pontuação de risco. Os achados desta pesquisa também identificaram que o risco de ter ou desenvolver a DRC se torna mais prevalente com o avançar da idade. 

Estudos revelam que a proporção de idosos em geral é cada vez maior em todo mundo, com isso, o envelhecimento populacional apresenta implicações importantes para a sociedade em diversas áreas, incluindo os sistemas de saúde. A prevalência da doença renal crônica é maior em pessoas mais velhas e aumenta o risco com a idade, isto condiz com os resultados obtidos no presente estudo, onde se observa o risco de desenvolvimento da DRC com o avanço da idade dos entrevistados (TONNELLI & RIELLA, 2014).

 De acordo com a Sociedade Brasileira de Nefrologia (2016), o nível da Filtração Glomerular – FG varia com a idade. A FG diminui com a idade. Embora a diminuição da FG relacionada à idade possa estar relacionada ao processo de envelhecimento normal, a diminuição da FG no idoso é um preditor independente de evolução da doença. Como a FG diminui com a idade, a prevalência de DRC aumenta nos pacientes idosos. Os idosos apresentam a diminuição fisiológica da FG e, as lesões renais que ocorrem com a idade, secundárias a doenças crônicas comuns em pacientes de idade avançada, tornam os idosos susceptíveis a DRC.

Na tabela 2 são apresentados os valores das demais análises realizadas quantitativamente, no que se refere à amostra populacional por sexo e pontuação de risco. 

 Tabela 2: Amostra Populacional x Sexo e Pontuação RDC. Belém-PA, 2016.

Pontuação Obtida/SexoAmostra Populacional
HipertensosDiabéticosHipertensos e Diabéticos
 F%F%F%
Feminino 0 a 31020,8210,000
Feminino ≥41939,6945,03363,5
Masculino 0 a 3 918,825,0 23,8
Masculino ≥41020,8420,01732,7
Total481002010052100

  Fonte: Pesquisa de campo.

Do total da amostra populacional (120), 48 (40,0 %) apresenta hipertensão, 20 (16,7%) apresentavam diabetes e 52 (43,3 %)  hipertensão e diabetes associadas. Segundo Freitas & Garcia (2012), a prevalência de hipertensão é de, aproximadamente, o dobro entre os diabéticos. Sendo que a hipertensão afeta 40,0% ou mais dos indivíduos diabéticos (FREITAS & GARCIA, 2012). A maioria dos entrevistados apresentou as duas patologias associadas.

Referente à amostra populacional geral que apresenta pontuação ≥ 4, 92 (76,6%), sendo 29 (31,5 %) hipertensos, 13 (14,1 %) Diabéticos e 50 (54,3 %) hipertensos e diabéticos. Estudos ressaltam que o risco de acidente vascular cerebral e complicações renais apresentam o risco mais elevado entre os indivíduos que apresentam hipertensão e diabetes (FREITAS & GARCIA, 2012). Estas informações condizem com os achados desta pesquisa onde os entrevistados que apresentam as duas patologias associadas conferem maior risco de desenvolverem DRC, por apresentarem maior relevância na obtenção de pontos na ficha de registro da fase de rastreamento da DRC.

Quando relacionadas ao gênero, as mulheres apresentaram maior risco de desenvolvimento da DRC com escore ≥ 4 sendo, 19 (31,1 %) mulheres hipertensas, 9 (14,7 %) diabéticas e mulheres com hipertensão e diabetes 33 (54,0 %)  apresentaram maior risco para DRC, o que mostra maior quantitativo de risco quando a hipertensão e diabetes estão associadas. Quanto ao sexo masculino com pontuação 0 a 3, pode-se observar que 9 (56, 2%) homens apresentavam hipertensão,  5 (31,2%)  diabetes e 2 (12,5%) eram portadores das duas patologias. E os que obtiveram pontuação ≥ 4, correspondem a 10  (32, 2%)  hipertensos;  4 (13,0%) diabéticos e 17 ( 54,8,0%) tinham hipertensão e diabetes. É importante ressaltar que os homens apresentaram risco também, porém menor quando comparados com o sexo feminino. 

Resultado semelhante foi obtido por um estudo realizado nos estados brasileiros e Distrito Federal, em 2008, onde estimaram que a prevalência do diabetes e dessa modalidade associada à hipertensão arterial sistêmica, apresenta relação expressiva, além disso, destaca a região Norte com menor prevalência entre os homens que apresentavam hipertensão e diabetes associadas, prevalecendo estas patologias associadas no sexo feminino, com isso maior relação de acometimento da DRC em mulheres (FREITAS & GARCIA, 2012). É importante destacar uma pesquisa publicada no Portal Brasil (2014), que colaboram com os achados desta, onde ressaltam a hipertensão e diabetes como doenças crônicas de grande magnitude, sendo também as mais graves. A pesquisa revelou que a hipertensão atinge 31,3 milhões de pessoas acima de 18 anos, o que corresponde a 21,4% da população. Importante fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, a doença aparece mais no sexo feminino, com prevalência em 24,2% das mulheres e 18,3% dos homens.

CONCLUSÃO

Observou- se que 92 (76,6 %) da população de risco analisada apresentou 20% de risco de desenvolvimento da DRC. O grupo que mais obteve quantitativamente pontuação de risco foram mulheres com idade de 50 a 59 anos e que eram portadoras da hipertensão e diabetes associadas.

A importância de se rastrear a DRC e seus fatores de risco na população em geral e em grupos específicos são primordiais para auxiliar outros profissionais quanto ao risco no qual o paciente está inserido. Isso permite a identificação precoce, fatores agravantes, encaminhamento imediato, condutas de prevenção, pois na maioria das vezes esse diagnóstico é tardio.

O controle e acompanhamento destes pacientes têm um papel importante na prevenção, detecção precoce e progressão da DRC, que é uma doença complexa e assintomática, porém prevenível e tratável. O profissional farmacêutico através de suas competências clínicas pode auxiliar no rastreamento da DRC através de ações de rastreamento em saúde, baseadas em evidências técnico-científicas.

A distribuição dos panfletos juntamente com orientações sobre o risco da DRC, pequena exposição em linguagem popular sobre aspectos funcionais importância dos rins, e principais causas e formas de prevenção da doença renal à população de risco analisada foi oferecida a todos os participantes da pesquisa, pois eles já se encontram inseridos no grupo de risco para DRC, segundo a literatura. Além de que isto é uma forma de colaboração do profissional farmacêutico para conscientização destes pacientes. Vale ressaltar também, que os entrevistados que após a aplicação da ficha obtiveram pontuação maior ou igual a 4 significando ter 20% de chances de ter DRC, estes foram  orientados a procurar o mais rápido possível um atendimento médico especializado. Com isso, destaca-se a importância do farmacêutico clínico contribuindo assim, na promoção de saúde, prevenção de doenças e contribuindo desta forma para melhorar a qualidade de vida das pessoas.

REFERÊNCIAS 

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